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Problema 4: Intermediária Pro���m� 4 – In�e�m���ári� 2. Explanar sobre a hepatoesplenomegalia febril e seus possíveis diagnósticos sindrômicos diferenciais. VISÃO GERAL As doenças que serão abordadas são as principais e mais frequentes causadoras de hepatoesplenomegalia febril: HIV, tuberculose, leishmaniose, linfomas, malária, doença de Chagas, hepatite viral aguda. HIV PIOT, P. at al. Clinical Manifestations and the Natural History of HIV Infection in Adults. Western Journal of Medicine. 1998. QUINN, T. C. Global epidemiology of HIV infection. UpToDate. 2018. BRASIL. Boletim Epidemiológico: HIV/AIDS. Ministério da Saúde. 2020. O HIV-1 (M, N, O e P) e o HIV-2 fazem parte do gênero dos Lentivírus, que compõem os rotavírus. Os rotavírus são vírus de RNA, que produzem a enzima DNA polimerase RNA-dependente e assim, são capazes de copiar seu genoma de RNA em uma dupla fita de DNA, e de se ligarem ao genoma do hospedeiro. Aparentemente o HIV-2 tem infectividade e patogenicidade menor que o HIV-1. O HIV-2 foi encontrado no oeste da África. Além desses tipos, existem outros subtipos distribuídos pelo Brasil e pelo mundo A principal forma de transmissão é pela prática sexual. Estima-se que 75-85% das transmissões ocorram dessa forma. Acredita-se também que a chance de transmissão para o parceiro é maior quando o homem está infectado. O sexo anal receptivo desprotegido é a prática que apresenta maior risco para ambos os sexos. A transmissão também ocorre perinatal, transfusão de sangue e hemoderivados, compartilhamento de materiais de drogas injetáveis e leite materno. Além disso, a infecção depende muito da carga viral. Epidemiologia Embora inicialmente limitada, a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) explodiu literalmente nas últimas três décadas para se tornar a pior epidemia do século XX. Com mais de 35 milhões de mortes, a epidemia de AIDS agora está ao lado da pandemia de influenza do início de 1900 e da peste bubônica do século 14 em termos de mortes. A epidemia continua a se espalhar implacavelmente em novas áreas e se consolidar em muitos outros locais. Em alguns países da África Subsaariana, a epidemia de AIDS causou um declínio dramático na expectativa de vida que só agora pode estar se recuperando com o acesso aos anti-retrovirais. O HIV do Grupo M ("Principal") é considerado a cepa pandêmica e compreende a grande maioria das cepas de HIV, enquanto os outros grupos têm uma distribuição geográfica muito mais limitada. Estima-se que o HIV-2 cause aproximadamente cinco por cento das infecções globais por HIV. HIV-2 é relatado em todo o mundo. A disseminação da doença tem sido particularmente alarmante em países com recursos limitados, especialmente na África Subsaariana e no sudeste da Ásia, mas continua a ameaçar outras populações na Europa Oriental, América Latina e Caribe. Segundo dados mundiais de 2015, 36,7 milhões de adultos e crianças viviam com HIV / AIDS, 2,1 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV naquele ano, 1,1 milhão de pessoas morreram de AIDS naquele ano. No entanto, a incidência de novas infecções por HIV em 2015 representa um declínio de 38% em relação a 2001. Além disso, estima-se que 3,3 milhões de crianças vivem com HIV / AIDS em todo o mundo. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 6 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� Em todo o mundo, o HIV / AIDS foi uma das dez principais causas de morte em 2013, principalmente devido à mortalidade associada ao HIV na África Subsaariana, onde foi a principal causa de morte. No Brasil, em 2019, foram diagnosticados 41.909 novos casos de HIV e 37.308 casos de aids. De 2007 até junho de 2020, foram notificados no Sinan 342.459 casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo 152.029 (44,4%) na região Sudeste, 68.385 (20,0%) na região Sul, 65.106 (19,0%) na região Nordeste, 30.943 (9,0%) na região Norte e 25.966 (7,6%) na região Centro-Oeste. No período de 2007 a junho de 2020, no que se refere às faixas etárias, observou- se que a maioria dos casos de infecção pelo HIV encontra-se no grupo de 20 a 34 anos, com percentual de 52,7% dos casos. ⅔ dos casos ocorrem em homens. Com relação à escolaridade, no mesmo período, verificou-se um elevado percentual de casos com escolaridade ignorada (25,2%). 40,1% ocorreram entre brancos e 50,7% entre negros (pretos e pardos, sendo as proporções estratificadas 10,7% e 40,0%, respectivamente). HIV e tuberculose A coinfecção HIV e Mycobacterium tuberculosis representa um dos maiores desafios para saúde pública mundial na atualidade. O HIV aumenta a suscetibilidade à infecção primária e à reativação, produzindo um impacto notável na epidemiologia e história natural da tuberculose. Formas atípicas de apresentação clínica atrasam o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento. Manifestações mais graves, disseminadas, aumentam o tempo de hospitalização e o risco de transmissão hospitalar, além da maior mortalidade; ainda, esses pacientes têm menor tolerância aos tuberculostáticos, menor adesão, contribuindo para outro grande desafio da atualidade, o fantasma da tuberculose multidroga-resistente. Quadro clínico A expressão da infecção pelo HIV parece cada vez mais complexa. Isso porque, inclui manifestações derivadas de doenças oportunistas juntamente com manifestações do próprio HIV. A infecção pelo HIV pode ser subdividida em pelo menos 4 estágios, que não estão necessariamente presentes ou consecutivos. Esses estágios incluem: doenças agudas, fase de latência, linfadenopatia generalizada persistente e complexo relacionado a AIDS e AIDS. Uma compreensão precisa da história natural da infecção pelo HIV é essencial, não apenas para prever o curso posterior da epidemia de AIDS, mas também para o desenvolvimento e avaliação de intervenções para a prevenção e tratamento da infecção pelo HIV e AIDS. FA�� ��UD�: A doença pelo vírus da imunodeficiência humana pode ocorrer logo uma semana após a infecção e geralmente precede a soroconversão, que geralmente ocorre entre 6 e 12 semanas após a infecção, mas pode demorar até 8 meses. As principais manifestações são: febre, linfadenopatia, sudorese noturna, cefaléia e tosse foram todas significativamente associadas à soroconversão. De ⅓ a metade dos pacientes relatam pelo menos um desses sintomas. A soroconversão também pode estar associada a doença grave, particularmente encefalopatia aguda. O fígado é, com frequência, comprometido no curso da infecção pelo HIV. Trata-se provavelmente da interação multifatorial envolvendo o próprio HIV no parênquima, alterações da modulação imunitária e multiplicidade de agentes infecciosos ou não. A hepatomegalia é encontrada em 60% dos portadores do HIV e a UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 7 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� esplenomegalia pode estar presente em alguns casos, constituindo-se em hepatoesplenomegalia. Suas causas principais são: histoplasmose, leishmaniose visceral, tuberculose disseminada, linfoma e pneumocistose. FA�� ��SI���MÁTI��: Na infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática, o estado clínico básico é mínimo ou inexistente. Alguns pacientes podem apresentar uma linfoadenopatia generalizada persistente, "flutuante" e indolor. Portanto, a abordagem clínica nestes indivíduos no início de seu seguimento prende-se a uma história clínica prévia, investigando condições de base como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, DPOC, doenças hepáticas, renais, pulmonares, intestinais, doenças sexualmente transmissíveis, tuberculose e outras doenças endêmicas, doenças psiquiátricas, uso prévio ou atual de medicamentos, enfim, situações que podem complicar ou serem agravantes em alguma fase de desenvolvimento da doença pelo HIV. A história familiar, hábitos de vida, como também uma avaliação do perfil emocional e psicossocial do paciente, seu nível de entendimento e orientação sobre a doença são extremamente importantes. No quediz respeito à avaliação laboratorial nesta fase, uma ampla variedade de alterações podem estar presentes. LI���D��O��T�A GE����LI���� PE���S���TE E CO��L��� RE����ON��� À A�D�: A linfadenopatia generalizada persistente (PGL) é definida quando um paciente com infecção por HIV tem linfonodos maiores que 1 cm de diâmetro, envolvendo dois ou mais locais extra inguinais com pelo menos três meses de duração e na ausência de qualquer dose atual ou uso de drogas conhecido. Nesse estágio, ⅓ dos pacientes são assintomáticos. A linfadenopatia pode regredir lentamente durante o curso da doença. Pacientes com complexo relacionado à AIDS (ARC) apresentam sintomas, sinais e defeitos imunológicos semelhantes aos de pacientes com AIDS, mas seus sintomas e anormalidades imunológicas são menos graves. Em contraste com os pacientes com AIDS, nem a infecção oportunista nem as lesões malignas podem ser diagnosticadas em pacientes com ARC. Os sinais e sintomas em pacientes com ARC incluem perda de peso, mal-estar, fadiga e letargia, anorexia, desconforto abdominal forte, diarréia, febre, sudorese noturna, dor de cabeça, coceira, amenorreia, linfadenopatia e esplenomegalia. Esses sintomas e os sinais são frequentemente intermitentes. A perda de peso é encontrada em todos os pacientes e geralmente é progressiva. A trombocitopenia (<50.000) se desenvolve em aproximadamente 10% dos pacientes e também costuma ser transitória. Muitos pacientes com ARC têm lesões mucocutâneas e o reconhecimento dessas manifestações cutâneas pode levar a um diagnóstico precoce de AIDS ou ARC. As manifestações cutâneas incluem principalmente varicela zóster, dermatite seborreica, herpes orolabial e genital recorrente e persistente, molusco contagioso, candidíase oral. Uma erupção papular pruriginosa generalizada é encontrada em aproximadamente 20% dos pacientes africanos com infecção por HIV e frequentemente começa em um estágio inicial da doença. A causa é desconhecida. A diarreia persistente é uma das principais queixas em pacientes com ARC ou AIDS. Embora parasitas intestinais como as de Cryptosporidium e Isospora beli possam ser identificados em 5% a 25% dos pacientes infectados pelo HIV com diarreia crônica, na maioria dos pacientes não há causa específica. A�D�: A AIDS representa o estágio mais grave do espectro clínico da infecção pelo HIV. É caracterizada pela presença de infecções oportunistas e tumores como resultado de uma profunda imunodeficiência celular. Os tipos de infecções oportunistas é bem variado. Uma infecção comum é a do sarcoma de Kaposi. Os mesmos sinais e sintomas descritos para pacientes com ARC ocorrem em pacientes com AIDS, mas as manifestações se tornam mais pronunciadas. Além disso, são encontrados sintomas causados por infecções oportunistas e lesões malignas. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 8 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� Um número crescente de anormalidades neurológicas está sendo documentado em pacientes com infecções por HIV. Esses sintomas neurológicos podem ser a manifestação inicial da doença por HIV e costumam ser de apresentação atípica. Cefaleia prolongada em uma pessoa com infecção pelo HIV sempre deve ser uma indicação para uma investigação neurológica completa. O envolvimento do SNC pode ser pelo próprio vírus ou infecção oportunista. Os distúrbios neurológicos que são provavelmente causados pelo próprio HIV incluem encefalite com demência pré-senil progressiva, meningite aguda e crônica, mielopatia vacuolar, neuropatia periférica e polimiosite. Diagnóstico Logo após a descoberta do HIV, foram desenvolvidos imunoensaios (IE) para o diagnóstico da infecção. Nas últimas décadas, quatro gerações de IE foram desenvolvidas. O ensaio de primeira geração tem o formato indireto ou seja, a presença de anticorpos específicos é detectada por um conjugado constituído por um anticorpo anti-IgG humana, geralmente ELISA. Esses exames são pouco específicos e menos sensíveis que as gerações posteriores. O ensaio de segunda geração também tem formato indireto; porém, utiliza antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados de proteínas do HIV. Em comparação com os ensaios de primeira geração, os de segunda geração são mais sensíveis e específicos, por conter uma maior concentração de proteínas. O ensaio de terceira geração tem o formato “sanduíche” (ou imunométrico). A característica desse ensaio é utilizar antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos tanto na fase sólida quanto sob a forma de conjugado. Esse formato permite a detecção simultânea de anticorpos anti-HIV IgM e IgG. O ensaio de quarta geração detecta simultaneamente o antígeno p24 e anticorpos específicos anti-HIV. O componente de detecção de anticorpo tem o formato de “sanduíche”; portanto, detecta todas as classes de imunoglobulinas contra proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados das glicoproteínas gp41 e gp120/160. O componente de detecção de antígeno p24 é constituído por um anticorpo monoclonal na fase sólida (para capturar o antígeno p24 presente no soro) e de um conjugado constituído por um antissoro (anticorpo) poliespecífico contra a proteína p24. Os Testes Rápidos (TR) são imunoensaios (IE) simples, que podem ser realizados em até 30 minutos. Existem vários formatos de TR, e os mais frequentemente utilizados são: dispositivos (ou tiras) de Imunocromatografia (ou fluxo lateral), Imunocromatografia de dupla migração (DPP), dispositivos de imunoconcentração e fase sólida. Testes rápidos são primariamente recomendados para testagens presenciais. Podem ser realizados com fluido oral, soro, plasma ou sangue total. Como tem vários tipos de testes rápidos, foi criado um parâmetro de qualidade para fazer uma homogenização: Os testes para detecção da infecção pelo HIV podem ser divididos basicamente em quatro grupos: ● detecção de anticorpos (ELISA, Western-blot, Imunofluorescência indireta, Radioimunoprecipitação); ● detecção de antígenos (ELISA - antígeno p24); ● cultura viral (Cultura de células mononucleares de sangue periférico para isolamento do HIV, Cultura quantitativa de células, Cultura quantitativa de plasma); ● amplificação do genoma do vírus (PCR). UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 9 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� TUBERCULOSE SHARMA, S. K.; MOHAN, A.; SHARMA, A. Miliary tuberculosis: A new look at an old foe. Journal of Clinical Tuberculosis and Other Mycobacterial Diseases. 2016. A tuberculose ainda é um problema de saúde pública global. Essa doença não afeta apenas os pulmões, ela pode se estender para tecido extrapulmonares.A tuberculose miliar é uma forma fatal de tuberculose disseminada que resulta de uma disseminação linfo-hematogênica maciça de um foco carregado de Mycobacterium tuberculosis. Radiologicamente, o padrão miliar foi definido como “uma coleção de minúsculas opacidades pulmonares discretas que são geralmente uniformes em tamanho e ampla distribuição, cada uma medindo 2 mm ou menos de diâmetro”. A tuberculose miliar é fatal se não for tratada. Devido às manifestações clínicas variadas, achados radiográficos atípicos e dificuldades em estabelecer a TB como diagnóstico etiológico, ainda hoje a TB miliar permanece complicada de ser identificada. Epidemiologia Em 2014, cerca de 9,6 milhões de pessoas desenvolveram TB e 1,5 milhões morreram da doença em todo o mundo. Os dados epidemiológicos sobre a tuberculose miliar não são confiáveis. Em vários estudos clínicos entre adultos imunocompetentes, a TB miliar representa menos de 2% de todos os casos de TB e até 20% de todos os casos de TB extrapulmonar. Na infecção tardia por HIV, a EPTB é responsável por mais de 50% de todos os casos de TB e a TB miliar é mais frequentemente encontrada. Tempos atrás a TB miliar era vista predominantemente como uma doença de bebês e crianças. No entanto, desde a década de 1980, uma tendência epidemiológica de mudança tem sido observada e aTB miliar está sendo cada vez mais reconhecida em adultos também. Dois picos são evidentes, um envolvendo adolescentes, adultos jovens e outro mais tarde na vida entre indivíduos idosos. Tanto em séries pediátricas quanto em adultos, o gênero masculino parece ser mais frequentemente afetado pela TB miliar. Predisponentes Algumas condições estão mais ligadas a maiores chances de desenvolvimento de tuberculose miliar. Dentre elas podemos citar: ➔ Infecções infantis; ➔ Desnutrição; ➔ Infecção por HIV/AIDS; ➔ Alcoolismo; ➔ Doença renal crônica; ➔ Diálise; ➔ Transplante de órgãos; ➔ Uso de drogas imunossupressoras (todos aqueles que estudamos); ➔ Gravidez; ➔ Silicose; ➔ DM; ➔ Tabagismo. Quadro clínico As manifestações clínicas da TB miliar em adultos são inespecíficas. Classicamente, febre com aumento noturno da temperatura com várias semanas de duração, anorexia, perda de peso, fraqueza e tosse são evidentes. A ocorrência de picos diários de febre matinal também foi relatada. Calafrios e calafrios, semelhantes aos descritos em pacientes com malária e bacteremia, têm sido frequentemente descritos em pacientes adultos com TB miliar. Suores noturnos são comuns; o suor grava a silhueta do paciente na cama, semelhante à sombra de um corpo (sinal de sombra úmida) foi descrito na tuberculose miliar. Em alguns pacientes, a febre pode estar ausente e os pacientes podem apresentar uma debilidade progressiva que imita fortemente um UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 10 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� carcinoma metastático. Essa apresentação, denominada “TB miliar críptica”, está cada vez mais sendo relatado em pacientes mais velhos. Consistente com a natureza sistêmica da doença, os pacientes com TB miliar apresentam sintomas e sinais referidos a vários sistemas de órgãos. A gente consegue ver esse envolvimento através das modalidades de imagens. Tosse seca, escarro escasso e dispneia são frequentemente evidentes. Raramente pode ocorrer hemoptise. Lesões de pele, a saber, máculas e pápulas oculares (tuberculose miliária cutis), podem oferecer uma pista valiosa para o diagnóstico. Tubérculos coróides são lesões bilaterais, pálidas, cinza-esbranquiçadas ou amareladas, geralmente menores que um quarto do tamanho do disco óptico e estão localizadas a 2cm do nervo óptico. Quando presentes, os tubérculos coroidais são considerados patognomônicos da TB miliar. A TB miliar que se apresenta com SDRA, síndromes de vazamento de ar, lesão renal aguda (IRA), manifestações hepáticas e gastrointestinais está sendo cada vez mais relatada no departamento de emergência e na unidade de terapia intensiva. Certas diferenças importantes foram observadas na apresentação clínica da TB miliar em crianças em comparação com adultos. A TB miliar desenvolve-se com menos frequência em crianças que receberam a vacinação BCG. Em crianças com TB miliar, calafrios e suores noturnos, hemoptise e tosse produtiva são menos comuns; linfadenopatia periférica e hepatoesplenomegalia são mais frequentes em comparação com adultos. Diagnóstico O diagnóstico da TB miliar pode ser difícil, pois as manifestações clínicas podem ser atípicas e inespecíficas, as radiografias de tórax nem sempre revelam o padrão miliar clássico no momento da apresentação inicial. Portanto, um alto índice de suspeita clínica e uma abordagem sistemática para testes diagnósticos são necessários para estabelecer um diagnóstico precoce de TB miliar. Os critérios a seguir são úteis para o diagnóstico de TB miliar no ambiente clínico: (i) apresentação clínica consistente com um diagnóstico de TB, como pirexia com aumento noturno de temperatura, perda de peso, anorexia, taquicardia e sudorese noturna de mais de seis semanas duração da resposta ao tratamento anti-TB; (ii) padrão miliar clássico na radiografia de tórax; (iii) lesões pulmonares reticulonodulares difusas bilaterais em um fundo de sombras miliares demonstráveis em radiografia simples de tórax ou tomografia computadorizada de alta resolução (TCAR); e (iv) evidências microbiológicas, histopatológicas e / ou moleculares de TB. Com os exames laboratoriais podemos encontrar pancitopenia (pois há infiltração da medula), anemia hipoplásica, hipercalcemia, hiponatremia (preditor de mortalidade), liberação desregulada do ADH, enzimas hepáticas alteradas. Com a radiografia de tórax conseguimos ver o padrão miliar na maioria dos pacientes O padrão miliar clássico na radiografia de tórax representa a soma das densidades dos tubérculos que estão perfeitamente alinhados e os tubérculos alinhados imperfeitamente resultam em densidades curvilíneas e um padrão reticulonodular. Também podem ser vistas quando os bronquíolos centrolobulares UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 11 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� estão dilatados ou cheios de muco, líquido ou pus e esse padrão representa disseminação endobrônquica. Em alguns pacientes, pode ser evidente a predominância de lesões em um lado. Mas nem sempre esses achados são vistos em todos os pacientes. A ultrassonografia facilita a detecção de ascite livre ou loculada, lesões focais no fígado ou baço, abscessos frios, linfadenopatia intra-abdominal mesentérica, retroperitoneal ou porta hepatis, envolvimento de outros órgãos abdominais e derrame (s) pleural. Procedimentos radiológicos guiados por imagem, como aspiração de fluidos, aspiração por agulha fina para exame citológico (FNAC) e biópsia sob orientação de TC ou RM, são úteis para a obtenção de tecido / fluidos corporais para testes diagnósticos. A confirmação bacteriológica (esfregaço e ou cultura microbiológica) é algumas vezes possível na expectoração, no LCR, na medula óssea, no fígado ou no sangue. LEISHMANIOSE Existem dois tipos: Tegumentar Americana (causa mais lesões cutâneo-mucosas) e Visceral (essa que causa hepatoesplenomegalia). Leishmaniose Visceral ou Calazar O calazar ou leishmaniose visceral é uma doença causada por protozoários do subgênero Leishmania, particularmente pela L. chagasi na América Latina. A Imagem acima resume o ciclo da infecção Epidemiologia Em 2019, no período avaliado, não foram registrados casos autóctones das leishmanioses. Ressalta-se aqui a importância da vigilância epidemiológica das leishmanioses, como componente fundamental para reduzir a taxa de letalidade e grau de morbidade, assim como diminuir os riscos de transmissão. Quadro Clínico O calazar clássico se manifesta em três fases, o período inicial, o período de estado e o estágio final. A doença se inicia com febre recorrente de 39-40°C, ou insidiosa com dois picos diários, às vezes com calafrio e mal-estar, instalando-se progressivamente esplenomegalia e hepatomegalia, diarréia e sensação indefinida de desconforto e cansaço. No período de estado a doença progride em sua cronicidade com anemia, leucopenia e pancitopenia, aumento progressivo do baço e do fígado, atingindo grandes proporções (Fig. 4). O paciente, se não tratado, evolui no seu emagrecimento até a caquexia, aparecendo manifestações hemorrágicas, queda de cabelo e sinais de profunda desnutrição. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 12 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� Devemos mencionar as formas hemorrágicas com púrpura trombocitopênica e hemorragias digestivas como acidente final da doença fatal. Devemos assinalar a associação do calazar com outras doenças, como a infecção pelo HIV, que muitas vezes faz brotar um calazar “dormente”. DIAGNÓSTICO: De acordo com quadro clínico, pelos dados epidemiológicos e confirmado pelo diagnóstico laboratorial. Diagnóstico parasitológico: encontro do parasito em material aspirado por punção da medula óssea, do baço ou do fígado Diagnóstico sorológico: reações de imunofluorescência e ELISA (alta sensibilidade). LINFOMAS Os linfomas englobam um grupo heterogêneo de doenças geradas por linfócitos malignos. Regularmente, esses leucócitos danosos acumulam-se nos linfonodos e eventualmente acometem o sangue periférico (fase leucêmica)ou infiltram outros órgãos externos ao tecido linfoide. Sendo assim, os linfomas são divididos em Hodgkin e Não-Hodgkin. Os linfomas possuem maior prevalência no sexo masculino, com dois picos de morbidade, entre os 20 e 30 e entre os 60 e 70 anos de idade. A OMS classifica os tumores em tumor originado de células B (86%), Células T (12%) ou células natural killer (NK) (2%). A principal diferença entre essas duas categorias de câncer linfático é o tipo de linfócito afetado. O linfoma de Hodgkin é marcado pela presença de células de Reed-Sternberg, que podemos identificar usando um microscópio. No linfoma não-Hodgkin, essas células não estão presentes. Além da presença ou ausência de células de Reed-Sternberg, outras diferenças entre o linfoma de Hodgkin e o não-Hodgkin incluem: ● O linfoma não-Hodgkin é mais comum que o linfoma de Hodgkin; ● A maioria dos pacientes não-Hodgkin tem mais de 55 anos quando diagnosticada pela primeira vez, enquanto a idade mediana para o diagnóstico de linfoma de Hodgkin é de 39 anos; ● O linfoma não-Hodgkin pode surgir nos gânglios linfáticos em qualquer parte do corpo, enquanto o linfoma de Hodgkin geralmente começa na parte superior do corpo, como pescoço, tórax ou axilas; ● O linfoma de Hodgkin é frequentemente diagnosticado em um estágio inicial e, portanto, é considerado um dos cânceres mais tratáveis e curáveis. O linfoma não-Hodgkin geralmente não é diagnosticado até que tenha atingido um estágio mais avançado. LINFOMA DE HODGKIN (LH) UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 13 https://drmarcelbrunetto.com.br/estadiamento-linfomas-nao-hodgkin/ https://drmarcelbrunetto.com.br/linfoma-de-hodgkin/ https://drmarcelbrunetto.com.br/linfoma-de-hodgkin/ https://drmarcelbrunetto.com.br/linfoma-de-hodgkin/ https://drmarcelbrunetto.com.br/classificacao-e-estadiamento-dos-linfomas-nao-hodgkin/ https://drmarcelbrunetto.com.br/classificacao-e-estadiamento-dos-linfomas-nao-hodgkin/ https://drmarcelbrunetto.com.br/classificacao-e-estadiamento-dos-linfomas-nao-hodgkin/ https://drmarcelbrunetto.com.br/classificacao-e-estadiamento-dos-linfomas-nao-hodgkin/ Pro���m� 4 – In�e�m���ári� O linfoma de Hodgkin tem a característica de se espalhar de forma ordenada, de um grupo de linfonodos para outro grupo, por meio dos vasos linfáticos. A doença surge quando um linfócito, mais frequentemente um do tipo B, se transforma em uma célula maligna, capaz de multiplicar-se descontroladamente e disseminar-se. A célula maligna começa a produzir, nos linfonodos, cópias idênticas, também chamadas de clones. Com o passar do tempo, essas células malignas podem se disseminar para tecidos próximos, e, se não tratadas, podem atingir outras partes do corpo. A doença origina-se com maior frequência na região do pescoço e na região do tórax denominada mediastino. EPIDEMIOLOGIA A doença pode ocorrer em qualquer faixa etária; porém é mais comum entre adolescentes e adultos jovens (15 a 29 anos), adultos (30 a 39 anos) e idosos (75 anos ou mais). Os homens têm maior propensão a desenvolver o linfoma de Hodgkin do que as mulheres. QUADRO CLÍNICO O linfoma de Hodgkin pode surgir em qualquer parte do corpo, e os sintomas dependem da sua localização. Caso se desenvolva em linfonodos superficiais do pescoço, axilas e virilha, formam-se ínguas (linfonodos inchados) indolores nesses locais. Se a doença ocorre na região do tórax podem surgir tosse, falta de ar e dor torácica. Quando se apresenta na pelve ou no abdômen, os sintomas são desconforto e distensão abdominal. Outros sinais de alerta são febre, cansaço, suor noturno, perda de peso sem motivo aparente e coceira no corpo. Sintomas clássicos: ● febre ● suores noturnos ● perda ponderal (cerca de 25% dos doentes). A febre geralmente é baixa e irregular. Está, no entanto, descrito um padrão de febre, o Padrão de Pel-Ebstein, que sendo raro, é virtualmente diagnóstico. Trata-se de um padrão cíclico de febre alta, que persiste durante uma a duas semanas, que alterna com períodos de apirexia de igual duração. Podem ocorrer outros sintomas, como o prurido, que tem pouco significado clínico; a clássica dor ganglionar após ingestão de álcool, apesar de estar presente em menos de 10% dos doentes, é muito característico. Podemos ainda encontrar queixas de dor óssea associada a fenómenos compressivos e, no caso de doença torácica muito extensa, queixas respiratórias. O achado mais comum é a presença de adenomegalias não dolorosas, com localização característica nas cadeias ganglionares do pescoço, supraclaviculares e axilares. Pode ocorrer síndrome da veia cava superior por compressão por adenomegalias mediastínicas. O tórax pode revelar sinais de derrame pleural. Podemos também encontrar hepato ou esplenomegalia. As manifestações cutâneas são raras. Destas, a mais frequente é o eritema nodoso. DIAGNÓSTICO Com bases na anamnese/exame físico e com auxílio de exames adicionais. Laboratorialmente, no hemograma, podemos encontrar citopenias, particularmente em doença avançada e na histologia de depleção linfocitária, podendo inclusivamente ocorrer por fenómenos auto-imunes. Pelo contrário, também podemos encontrar granulocitose ou trombocitose. Aumentos da VSE e/ou LDH associam-se a doença avançada e sintomática. Numa fase limitada pode existir uma elevação inespecífica da fosfatase alcalina, mas esse aumento também pode ser resultado de doença avançada com atingimento hepático, ósseo ou medular. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 14 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� Note-se que podemos encontrar um padrão de colestase não só por colestase intra-hepática, mas também por obstrução biliar por adenomegalias porto-hepáticas. Alterações laboratoriais mais raras são a hipercalcemia ou a hipoglicemia, esta última mediada por anticorpos anti receptores de insulina. Relativamente aos exames imagiológicos, na radiografia de tórax é frequente encontrarmos alargamentos do mediastino. Na TC torácica, além de adenomegalias mediastínicas, podemos encontrar derrames pleural e/ou pericárdico. Mais raramente, existem lesões do parênquima pulmonar. Deve ser feita TC abdominopélvica, no sentido de detectar adenomegalias e hepato-esplenomegalia. A RM tem interesse apenas para avaliar situações específicas, a saber: atingimento ósseo ou compressão da medula espinhal. O principal interesse da cintigrafia com gálio-67 e da tomografia de emissão de protões (PET) reside na avaliação de massas residuais após tratamento. LINFOMA DE NÃO HODGKIN (LNH) Os LNH são neoplasias que atingem os linfócitos B, T e NK e têm a clínica dependente do subtipo do linfoma que leva em consideração a classificação e estadiamento. Incialmente são neoplasias sólidas que acomete certos pontos do sistema linfático. EPIDEMIOLOGIA Estimativa de novos casos: 12.030, sendo 6.580 homens e 5.450 mulheres (2020 - INCA). Número de mortes: 4.923, 2.695 sendo homens e 2.228 mulheres (2019 - Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM) QUADRO CLÍNICO Geralmente, os pacientes com a linfadenopatia têm os seguintes sintomas: ● Febre, sudorese noturna e emagrecimento ● Massa mediastinal ● Síndrome de veia cava superior. A doença pode passar de localizada para disseminada em 10 a 35% dos casos e muitas vezes acometem mais o sistema digestório. Os linfomas indolentes acabam tendo um grande percentual de infiltração medular. O LNH também pode ser caracterizado como uma neoplasia pouco diferenciada tendo um sítio primário desconhecido. Os pacientes com LNH que chegam aos setores de emergência com: ● síndrome de lise tumoral, compressão medular e hipercalcemia. ● Esses sinais e sintomas são fatais e devem ser reconhecidos e tratados. DIAGNÓSTICO Anos atrás, a morfologia celular e imunohistoquímica eram cruciais para o diagnóstico das neoplasias linfoides. Atualmente, a imunofenotipagem, dentre elas a citometria de fluxo, a genética molecular. ● PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA (PAAF): A técnica de aspiração por agulha fina é indicado para qualquer massa visívelou palpável, mas pode ser aplicada para lesões profundas. A técnica dá um diagnóstico seguro, rápido e não invasivo ● CITOMETRIA DE FLUXO: A técnica de imunofenotipagem avalia informações importantes das células, como: dimensão, complexidade e morfologia, antígenos de superfícies e intracelulares, monoclonalidade (que é importantíssimo para o diagnóstico de uma neoplasia clonal). É importante também realizar exames de imagem. Mas para confirmar se é linfoma não-Hodgkin, será necessária uma apuração UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 15 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� mais precisa. Uma vez encontrado o aumento de gânglio (linfonodomegalia), o médico solicitará a biópsia do linfonodo – o linfonodo será retirado cirurgicamente e encaminhado para análise no laboratório. É este exame que confirma se é ou não um linfoma. Poderá ser solicitada uma biópsia da medula óssea, quando por meio de uma agulha é removido um pequeno fragmento do osso na região lombar (pra saber se órgão também foi afetado pela doença). Os métodos de imagem possíveis são: ● RX: Este exame é realizado para verificar a presença de linfonodos aumentados nessa região. ● TC: Muitas vezes a tomografia é utilizada para guiar com precisão o posicionamento de uma agulha de biópsia em uma área suspeita de ter uma lesão cancerígena. ● RM: não é um procedimento utilizado com tanta frequência como a tomografia computadorizada para o linfoma, a menos que o médico esteja preocupado com a disseminação da doença para a medula ou cérebro. ● USG: O ultrassom pode ajudar a avaliar os linfonodos próximos à superfície do corpo, os gânglios linfáticos aumentados no abdome, ou órgãos como o fígado e o baço. Assim como pode ser para guiar com precisão o posicionamento de uma agulha de biópsia em uma área suspeita ● PET SCAN: pode ajudar a mostrar se um gânglio linfático aumentado é potencialmente linfoma ou é uma alteração benigna, além de permitir identificar se pequenas áreas contém a doença, ou ainda se o linfoma está respondendo ao tratamento. Se a quimioterapia está funcionando, os linfonodos não absorverão a glicose. A tomografia por emissão de pósitrons também pode ser utilizada após o término do tratamento para ajudar a decidir se um gânglio linfático aumentado ainda contém linfoma ou se é simplesmente um tecido cicatricial. Not�: Pet Scan é um exame que mede variações nos processos bioquímicos. Para realizá-lo, o paciente deve receber uma injeção de glicose ligada a um elemento radioativo, e ao se submeter a uma tomografia computadorizada, os sinais da radiação, emitidos pelo elemento radioativo, poderão determinar qual a região em que a glicose está metabolizada em excesso. ● CINTILOGRAFIA ÓSSEA: A cintilografia óssea consiste na injeção de uma pequena quantidade de material radioativo na veia do paciente, após algumas horas esse material é atraído pelo tecido ósseo com doença. Este exame só é realizado se o paciente apresenta dores ósseas ou tem resultados de exames de sangue que sugerem que o linfoma possa ter atingido os ossos. HEPATITE VIRAL AGUDA FONTE: Livro - Veronesi. As hepatites agudas podem evoluir de forma benigna, prolongada (benigna, porém com longo curso de doença) e grave (fulminante). Há formas intermediárias de hepatites agudas com insuficiência hepática transitória. Epidemiologia A distribuição das hepatites virais é universal, sendo que a magnitude dos diferentes tipos varia de região para região. As hepatites virais têm grande importância pelo número de indivíduos atingidos e pela possibilidade de complicações das formas agudas e crônicas. A principal via de contágio do vírus da hepatite A é a fecal-oral; por contato inter-humano ou através de água e alimentos contaminados. Menos de 1% dos casos pode evoluir para hepatite fulminante. Este percentual é maior em pacientes acima dos 65 anos. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 16 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� História Natural 1. período de incubação; 2. fase prodrômica ou pré-ictérica; 3. fase ictérica; 4. fase convalescente. → PERÍODO DE INCUBAÇÃO O tempo entre a penetração do vírus no organismo e o início dos sintomas, em geral, não é: ● Hepatite A (HAV): 2 a 6 semanas (média de três semanas). ● Hepatite B (HBV): 2 a 6 meses (média de 70 dias). ● Hepatite C (HCV): 2 semanas a 5 meses (média de 50 dias). ● Hepatite delta (HDV): ainda não esclarecida totalmente, porém semelhante à HBV. ● Hepatite E (HEV): 2 a 8 semanas (média de 40 dias). → FASE PRODRÔMICA OU PRÉ-ICTÉRICA Compreende um conjunto de sintomas não específicos que antecede o aparecimento de icterícia. Esta fase poderá não existir, surgindo a icterícia como o primeiro sintoma. Alguns pacientes apresentam apenas sintomas “gripe-símile”. Entre os sintomas mais frequentes nesta fase, predominam aqueles de ordem gastrointestinal, como anorexia, náuseas e, às vezes, vômitos, diarreia (ou obstipação, raramente). Associados ou isoladamente, há febre baixa; cefaleia; mal-estar; astenia e fadiga; perversões do paladar (sabor), com aversão a cigarro; coriza com ou sem manifestações respiratórias; perversões do olfato; mialgia; e fotofobia. O quadro persiste entre 3 e 10 dias. Também podem surgir urticária, artralgia ou artrite e febre alta; → FASE ICTÉRICA O aparecimento de icterícia marca o início desta fase, em geral com diminuição dos sintomas prodrômicos. O paciente volta a se sentir bem disposto, tendo às vezes a sensação de que a síndrome ictérica instalada possa tratar-se de outra doença. Em contraste, alguns pacientes tomam-se emocionalmente tensos. Existe hepatomegalia dolorosa e discreta, com ocasional esplenomegalia. Icterícias intensas podem produzir bradicardia. → FASE CONVALESCENTE Período que se segue ao desaparecimento de icterícia, quando o paciente retoma progressivamente a sensação de bem-estar. A recuperação completa ocorre após algumas semanas, mas uma certa sensação de fraqueza pode persistir por vários meses. Particularidades → HAV Tem início súbito, com febre baixa, sintomas e sinais clínicos, que, associados aos achados bioquímicos sanguíneos, tornam-na indistinguível das hepatites virais de outras etiologias. Quando comparados aos da HBV, seus sintomas são mais leves. Em mais de 95% dos casos, entretanto, a infecção cursa de forma anictérica. → HBV Tem início insidioso, geralmente afebril, com pródromos mais prolongados que a HAV. Não raro, a HBV apresenta manifestações extra-hepáticas nos pródromos: artralgias ou artrites; exantemas; púrpuras, entre os mais frequentes. A icterícia pode ser prolongada, com valores de bilirrubinas mais elevados do que nas demais hepatites. Nos casos ictéricos, a elevação das bilirrubinas ocorre em 2 a 4 semanas após o início das alterações das transaminases. Pode atingir todos os grupos etários. Em cerca de 50% dos casos, a HBV aguda é subclínica. → HCV UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 17 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� De evolução “silenciosa”, ou oligosintomática. Mais de 95% dos casos são anictéricos, com pico de ALT menor que 300 UI/L. Em 80% das vezes, a infecção se cronifica. Outra característica da HCV são as flutuações dos níveis de transaminases séricas. → HEV É assintomática. Entretanto, gestantes que adquirem a infecção pelo vírus da hepatite E podem evoluir para uma forma ictérica aguda grave. Evolução Cada tipo de hepatite viral tem um curso clínico diferente, dependente da virulência da cepa viral e da resposta imunitária de cada indivíduo. Nas hepatites agudas benignas, a evolução é para a cura. Sinais e Sintomas da Hepatite Viral Importante ressaltar que os cinco tipos de hepatites virais são clinicamente indistinguíveis, requerendo avaliação diagnóstica laboratorial específica para definir o agente etiológico. As hepatites virais, em geral, se manifestam clinicamente em cenários muito semelhantes. Com frequência, são assintomáticas ou oligossintomáticas. → COLÚRIA O excesso de urobilinogênio urinário atribui coloraçãoescura à urina, a qual surge precocemente no período de estado da fase aguda da infecção, constituindo-se em um dos primeiros sintomas a ser percebido pelo paciente. → FADIGA Um dos sintomas mais comuns da doença hepática viral crônica e de causa ainda desconhecida, a fadiga é encontrada nos pródromos da fase aguda. → ICTERÍCIA Instala-se em cerca de 1% das hepatites A (HAV), em 30 a 50% das hepatites B (HBV), em cerca de 0,1% das hepatites C (HCV), excepcionalmente na hepatite E (HEV) e, na hepatite D (HDV), depende das circunstâncias da coinfecção ou superinfecção com o vírus da hepatite B. A icterícia demonstra alteração no metabolismo da bilirrubina tanto na captação como conjugação e sua excreção. → ACOLIA FECAL A falta de estercobilinogênio nas fezes devido a processos colestáticos acarreta, nas fases mais agudas e iniciais, a sua descoloração. → PRURIDO O prurido, resultante da colestase, e a fadiga podem preceder o diagnóstico da doença hepática. Assim, a deficiência da secreção de bile pode se acumular na pele e mucosas. → DIMINUIÇÃO DO APETITE E PERDA PONDERAL A diminuição do apetite (hiporexia) pode estar presente tanto nas hepatites agudas como crônicas, muitas das vezes acompanhada de perda de peso e de massa muscular. → ALTERAÇÃO DO PALADAR E DO OLFATO Pacientes com doença hepática aguda ou crônica apresentam alteração do paladar (hipogeusia ou disgeusia), provavelmente, de mediação central. Alterações na concentração de certos elementos, como magnésio, zinco e vitamina A em cirróticos, têm tido relação com a perda do paladar. → DISTÚRBIOS DO SONO, ALTERAÇÕES COGNITIVAS, DEPRESSÃO MENTAL, CANSAÇO → DISPNEIA Complicações da doença hepática avançada podem resultar do envolvimento pulmonar como síndrome hepato -pulmonar devido a shunts porto-pulmonares. → SANGRAMENTO Nas fases iniciais, é comum o paciente apresentar epistaxe ou sangramento gengival. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 18 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� → DISTÚRBIO DA VISÃO Uma das fontes de vitamina A são as células de Ito do parênquima hepático que, nos pacientes cirróticos, podem estar comprometidas e cuja deficiência pode se manifestar na forma de má acomodação visual ao escuro, um sintoma que pode não ser notado pelo paciente. → CALAFRIOS E TREMORES Podem se constituir em um dos primeiros indícios de peritonite bacteriana espontânea em pacientes cirróticos, decorrente da translocação bacteriana intestinal ou de focos infecciosos a distância. → IMPOTÊNCIA E PERDA DA LIBIDO A cirrose hepática compromete a função testicular, ensejando a ginecomastia, a atrofia testicular e a impotência. Em pelo menos 50% dos pacientes, há diminuição da espermatogênese com fibrose peritubular. → CÂIMBRAS Muitos fatores contribuem para o sintoma: hipóxia devido à anemia; alterações hidreletrolíticas, especialmente a hipocalcemia; hipomagnesemia; desidratação por uso de diuréticos; falta de condicionamento físico adequado. Exame Físico Quando a forma aguda benigna sintomática se exterioriza clinicamente, o que predomina no quadro é a icterícia e dolorimento à palpação do hipocôndrio direito. Apesar de o fígado não apresentar dor, a inflamação do órgão distende a cápsula de Glisson que o envolve, sendo esta inervada por ramos nervosos sensitivos. → ICTERÍCIA Geralmente conjuntival apenas. Quando muito intensa, é vista no freio da língua e na pele. → ANGIOMAS ESTELARES (SPIDERS OU ARANHAS VASCULARES) Consistem em arteríolas serpiginantes superficiais que ficam esbranquiçadas à digitopressão e, ao contrário das telangiectasias, enchem-se tipicamente do centro para a periferia. Localizam-se, principalmente nos braços, na face e na parte superior do tronco. → HEPATOMETRIA A avaliação clínica volumétrica e morfológica do fígado por palpação e percussão é dificultada, muitas vezes, pelos obstáculos físicos. É necessário, durante o exame físico, que o paciente se mantenha em inspiração, dessa forma, um grande volume hepático estará presente a alguns centímetros da borda costal, facilitando a respectiva análise. A cuidadosa avaliação da borda hepática pode demonstrar uma consistência firme aumentada (fígado endurecido), irregularidade de superfície ou nódulos francos. O desconforto ao toque ou à pressão deve ser cuidadosamente investigado com percussão dos quadrantes superiores direito e esquerdo para comparação. → ESPLENOMEGALIA A avaliação física do baço, é feito com o paciente em decúbito lateral direito, com a perna esquerda em flexão e o braço esquerdo em adução para trás da cabeça. → ASCITE O abdome pode mostrar-se mais ou menos flácido ou, então, tenso, caracterizando a chamada ascite hipertensa. O aumento da ascite provoca abaulamento e convexidade para os flancos e região anteroposterior, até a genitália. Pode, então, comprimir o diafragma, elevando as cúpulas diafragmáticas e causando dispneia. → ENCEFALOPATIA HEPÁTICA Os achados físicos incluem flapping e tremor adjacente do corpo e da língua. O hálito hepático refere-se ao odor levemente adocicado e amoniacal comum em pacientes com insuficiência hepática, particularmente se houver derivação porto-venosa na vasculatura hepática. Outras causas de coma e confusão mental devem ser excluídas, principalmente desequilíbrios hidreletrolíticos, uso de sedativos e insuficiência renal ou respiratória. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 19 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� Os pacientes com cirrose de longa duração e hipertensão portal tendem a manifestar a síndrome hepatopulmonar, definida pela tríade de hepatopatia, hiporexia e shunt arteriovenoso pulmonar. → RASH CUTÂNEO Diversas alterações e distúrbios cutâneos são comuns nas hepatites na forma aguda e crônica. Nas hepatites virais agudas, pode surgir rash cutâneo, muitas das vezes antecedendo o período de estado. Na crioglobulinemia mista, a púrpura palpável, principalmente nos membros inferiores, é detectada. FONTE: Artigo - Hepatites virais agudas (2008). Diagnóstico O diagnóstico diferencial entre elas se dá através de marcadores sorológicos mais específicos para cada agente viral. Os exames específicos para o diagnóstico laboratorial da infecção pelo VHA são os sorológicos, dosagem de anticorpos anti-HVA (IgM), que é o marcador mais precoce na fase aguda e os de biologia molecular, pela detecção do RNA viral (quantitativo ou qualitativo), por diversos métodos (PCR, hibridização, seqüenciamento) (Figura 1). Na suspeita de hepatite pelo VHB, solicita-se sorologia para anti-HBc total e HBsAg. - O HBsAg está presente em infecções agudas ou crônicas – é o primeiro marcador a aparecer. Em infecções agudas, desaparece até a vigésima quarta semana após a infectividade inicial. O anti-HBc IgM é marcador de infecção, nos últimos seis meses. A positividade de ambos os testes confirma a infecção aguda. - O marcador de infecção pelo VCH é a determinação do HCV-RNA, detectável em uma ou duas semanas, por reação em cadeia da polimerase (PCR), e os anticorpos anti-HCV surgem apenas 4 a 20 semanas após o contágio. - Na infecção pelo VHD, o diagnóstico é feito pela clínica de hepatite aguda com demonstração de HBsAg, anti-VHD e IgM anti-Hbc positivas no soro. Em paciente com suspeita de hepatite D, é indicado o teste repetido de anti-VHD. MALÁRIA FONTE: Livro - Veronesi. É uma doença aguda ou crônica causada pela presença de parasitos do gênero. Plasmodium nos glóbulos vermelhos do sangue; é transmitida de pessoa infectada a pessoa não infectada pela mordida de mosquitos do gênero. Anopheles e caracteriza-se por acessos periódicos de calafrios e febre que coincidem com a destruição maciça de hemácias. Epidemiologia UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 20 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), referentes a 2012, cerca de 2,2 bilhões de pessoas, o equivalente a 42% da população mundial, vivem em áreas onde há risco de transmissão da malária, abrangendo cerca de 100 países. A malária, noBrasil, incide fundamentalmente na região da bacia amazônica, incluindo os estados do Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Rondônia, Pará, Mato Grosso, Tocantins e o Maranhão. Neste último estado, a área endêmica compreende apenas sua região ocidental. Quadro Clínico Varia de um indivíduo para outro, na dependência básica de dois fatores: a espécie do plasmódio e o grau de imunidade, natural ou adquirida do hospedeiro. → INFECÇÕES POR P. VIVAX (FEBRE TERÇà BENIGNA) O período de incubação da malária vivax varia de 12 a 16 dias e é doença essencialmente benigna. Esse hematozoário ataca quase exclusivamente os reticulócitos e, ao que parece, não infecta hemácias amadurecidas, limitando, com isso, a magnitude da parasitemia. Caracteristicamente, o acesso malárico inicia-se com calafrios violentos e de curta duração, e a febre, subsequentemente, eleva-se rapidamente e dura de 4 a 8 horas; o período posterior de sudorese prolonga-se por várias horas. Inúmeros outros sintomas, como cefaleia, náuseas, vômitos, mialgias e hipotensão, acompanham esse quadro e, ao exame físico, pode-se observar palidez cutaneomucosa, icterícia discreta e hepatoesplenomegalia. O quadro clínico dos pacientes nas recidivas é idêntico ao do ataque primário, mas a anemia e a esplenomegalia são mais acentuadas quanto mais tempo persistir a infecção ativa. → INFECÇÕES POR P. FALCIPARUM (FEBRE TERÇà MALIGNA) O período de incubação, nessa forma de malária, é de 8 a 12 dias. Ao contrário das infecções por P. vivax, as infecções por P. falciparum são graves e, geralmente, acompanhadas de elevada parasitemia. Esse protozoário tem a capacidade de invadir qualquer hemácia, independentemente da idade, não havendo, portanto, fator limitante ao seu crescimento progressivo na circulação sanguínea. Em geral, é aceito que a atividade desse parasita no hospedeiro humano não dura mais do que 12 meses; entretanto, existem ocasionais relatos de períodos de latência maiores que um ano, em particular, ocorrendo em indivíduos com doenças imunossupressoras ou que recebiam quimioprofilaxia para malária ou, ainda, que tiveram prolongada exposição em áreas endêmicas, tomando-se semi-imunes à doença. → MALÁRIA CEREBRAL O início dessa forma pode ser gradual ou súbito, e os sintomas consistem em cefaleia, delírio, desorientação, manifestações psíquicas, convulsões e coma. Desde que estes sinais e sintomas não são específicos para a malária, outras doenças, como meningites, encefalites a vírus e acidentes vasculares cerebrais, devem ser excluídas por meio de propedêutica adequada. O exame neurológico, nesses pacientes, revela hiper-reflexia e sinal de Babinsky bilateral. Sinais focais são raramente vistos. → INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA A atuação de diversos fatores sobre o rim, como hipovolemia, vasoconstrição, hemoglobinúria, deposição de imunocomplexos em nível glomerular e coagulação intravascular intraparenquimatosa, resulta em insuficiência renal grave com oligúria progressiva (< 0,4 mL/kg/h de urina), raramente anúria. → MALÁRIA ÁLGIDA As formas álgidas da malária por P. falciparum acompanham-se, na maioria das vezes, de extenso comprometimento do trato gastrointestinal. Diarreia profusa, às vezes UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 21 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� sanguinolenta, pode, com frequência, acompanhar esse quadro. → MALÁRIA PULMONAR Em um pequeno número de pacientes com malária falciparum, pode surgir uma complicação extremamente grave: o edema pulmonar, cujo desenvolvimento está geralmente associado à hiperparasitemia, à insuficiência renal, à gravidez e à reposição hídrica parenteral excessiva. Nos pacientes acometidos, as trocas gasosas apresentam comprometimento importante, e a hipóxia e a cianose podem ser evidentes; essa complicação pode surgir em qualquer fase da infecção pelo P. falciparum e, raramente, na evolução da malária vivax. Hiperventilação, dispneia, tosse seca e crepitações difusas à ausculta dos pulmões estão usualmente presentes. → FORMA BILIOSA REMITENTE A icterícia é sempre um sinal clínico proeminente, de mau prognóstico, nas formas graves de malária por P. falciparum, nas quais o acometimento hepático é evidente, e uma verdadeira “hepatite malárica”, com necrose centrolobular, pode ser evidenciada histologicamente, constituindo, por si só, a causa maior da icterícia. Outros sintomas, como náuseas, vômitos, diarreia e desconforto epigástrico, frequentemente acompanham este quadro ictérico. → COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA (CID) A ativação da cascata do complemento na malária grave pode iniciar a CID. A importância dessa complicação tem sido exagerada na literatura, e vários autores consideram que ela não representa um problema comum em áreas endêmicas, exceto como um evento terminal. → FORMA COLÉRICA Vômitos persistentes, às vezes hemorrágicos, acompanhados de profusa diarreia ou disenteria e dor abdominal, podem, ocasionalmente, ser vistos nas formas perniciosas de malária. Extensa trombose nos capilares da mucosa, com hemorragia para a luz intestinal, pode ser evidenciada em necrópsias desses pacientes. O sangue obtido das fezes frequentemente contém um número muito acentuado de parasitas. À semelhança da cólera, choque circulatório e insuficiência renal podem, eventualmente, desenvolver-se e conduzir o doente rapidamente ao óbito. → HIPERPIREXIA Elevadas temperaturas, com picos de 41 a 41,5°C podem aparecer durante o curso de um acesso malárico aparentemente benigno. Nesses pacientes, a pele é quente e seca, e algum grau de cianose pode ser visto nas extremidades. A hiperpirexia não é mais considerada sinal de gravidade nessa infecção. → SÍNDROME DA ESPLENOMEGALIA TROPICAL (SÍNDROME DA MALÁRIA HIPER-REATIVA/SMH) Esta entidade nosológica, frequente em alguns países da África e da América, era conhecida desde as primeiras décadas do século XX, contudo, se identificar uma etiologia definida para tal patologia. Constituía, portanto, um diagnóstico de exclusão, desde que fossem afastadas todas as causas mais habituais de esplenomegalia nos trópicos (esquistossomose mansônica, calazar, linfoma etc.). Atualmente, após a SMH ter sido exaustivamente estudada, aceitam-se como parâmetros para o diagnóstico: ■ Esplenomegalia volumosa de evolução crônica. ■ Hipergamaglobulinemia acentuada (níveis de IgM elevados). ■ Altos títulos de anticorpos circulantes contra os plasmódios da malária. ■ Infiltração linfocitária sinusoidal hepática. ■ Hiperesplenismo acentuado. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 22 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� ■ Regressão do quadro clinicolaboratorial após a terapêutica antimalárica prolongada. Sua frequência é variável nos diversos países tropicais. Em análise recente feita por Lowenthal e colaboradores, na Zâmbia, em 344 casos de hepatoesplenomegalias, a SMH contribuiu com 40% dos casos. Outras publicações mostram frequências variáveis de 11 a 45% de SMH em hepatoesplenomegalias analisadas em diversos países africanos. Também na Índia, na China, no Oriente Médio e na Amazônia brasileira, numerosos casos dessa entidade já foram identificados. A doença acomete preferencialmente o adulto jovem, constituindo quase um apanágio da raça negra, embora permaneça inexplicada a suscetibilidade desta à SMH. Vários argumentos sugerem etiologia malárica para essa curiosa entidade. Alguns deles são citados a seguir: ■ A SMH só é encontrada em regiões palúdicas, estando ausente nas zonas onde essa infecção não existe ou foi erradicada. ■ A grande maioria dos indivíduos com a síndrome apresenta altos títulos de anticorpos contra os parasitas da malária. ■ Uma porcentagem variável dos doentes apresenta parasitemia por uma das espécies de plasmódios humanos (45% dos pacientes). ■ Terapêutica antimalárica prolongada pode levar à regressão completa do quadro. Clinicamente, os indivíduos com SMH apresentam-se com volumosa hepatoesplenomegalia, mucosas hipocoradas e sintomas gerais. Alguns deles podem apresentar sinais de hemólisee, às vezes, síndrome nefrótica. Laboratorialmente, além do hiperesplenismo, evidente em alguns casos, anemia, leucopenia e trombocitopenia, são marcantes a hipoalbuminemia e o aumento acentuado das gamaglobulinas à eletroforese proteica. Diagnóstico Laboratorial → EXAMES ESPECÍFICOS Plasmodium falciparum ■ Parasitemia elevada; 10% ou mais das hemácias encontram-se parasitadas. ■ Infecção múltipla dos eritrócitos é comum. ■ Na maior parte das vezes, apenas trofozoítos são vistos no sangue periférico. ■ Granulações ditas de “Maurer” podem ser visualizadas no interior das hemácias contendo parasitas. ■ O eritrócito parasitado não aumenta de volume. ■ Gametócitos em crescente (meia-lua) podem ser vistos alguns dias após a infecção aguda ter sido iniciada (10 a 12 dias). Plasmodium vivax ■ Parasitemia moderada; 2% ou menos das hemácias estão parasitadas. ■ Todos os estágios (trofozoítos, esquizontes, merozoítos e gametócitos) são vistos no sangue periférico. ■ Os eritrócitos parasitados são aumentados de tamanho e contêm, no seu interior, granulações ditas de “Schuffner”. ■ Os trofozoítos são mais largos e maiores que os do P. falciparum. ■ Os gametócitos aparecem precocemennte e permanecem por curto período no sangue periférico. Plasmodium malariae ■ Parasitemia leve. Poucos parasitas no esfregaço sanguíneo. ■ Todas as formas evolutivas são encontradas no sangue periférico. ■ Os trofozoítos jovens e ameboides tendem a formar faixas largas atravessando a hemácia, sendo esta sua característica mais marcante. ■ Gametócitos semelhantes aos do P. vivax e, em geral, pouco numerosos. → EXAMES COMPLEMENTARES UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 23 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� Hemograma A anemia normocítica e normocrômica é uma eventualidade comum na malária, particularmente nas formas graves, com hemólise intensa, e nos pacientes crônicos. Bilirrubinemia Nas formas benignas causadas pelo P. vivax ou mesmo pelo P. falciparum, a icterícia é discreta e, geralmente, há predomínio, em virtude da hemólise, da fração não conjugada da bilirrubina. Entretanto, nas formas graves, a elevação da bilirrubina com predomínio da fração conjugada, expressão do comprometimento hepático, é quase uma constante. Aminotransferases O aumento dessas enzimas hepáticas na malária é geralmente moderado e, em especial, ocorre nas formas graves causadas pelo P. falciparum. Coagulação As manifestações hemorrágicas complicam a malária perniciosa em um pequeno número de casos. Nessas formas, além da plaquetopenia, pode haver prolongamento do tempo de protrombina (TP) e queda de outros fatores da coagulação, consequentes à diminuição da síntese hepática e à coagulação intravascular disseminada. Ureia e creatinina Nas fases iniciais da infecção, pode haver aumentos discretos dessas duas substâncias, provavelmente em decorrência da desidratação secundária, da sudorese profusa e dos vômitos. Nas formas perniciosas, é possível a ocorrência de uma verdadeira insuficiência renal com necrose tubular, e os níveis de ureia, creatinina e potássio podem elevar-se consideravelmente, exigindo, como visto anteriormente, o uso de métodos dialíticos até que haja recuperação da função renal. Proteínas de fase aguda do soro A proteína C reativa, a alfa-1-glicoproteína ácida, a procalcitonina e os níveis de imunoglobulinas se elevam e a albumina sérica cai. Diagnóstico Diferencial A malária aguda pode simular várias doenças infecciosas e parasitárias que cursam com febre e esplenomegalia; os sintomas iniciais podem ser confundidos com a influenza ou outra virose autolimitada, bastante comuns em zonas endêmicas de malária. No período de estado, a malária deve ser diferenciada da leishmaniose visceral, da toxoplasmose aguda, da febre tifoide, da endocardite infecciosa, da doença de Chagas aguda, da tuberculose miliar, da brucelose e de várias arboviroses. Quando a icterícia está presente, principalmente nas formas complicadas do P. falciparum, o diagnóstico diferencial deve ser feito com as hepatites graves, com a leptospirose íctero-hemorrágica, com a febre amarela e com as septicemias e colangites. Nas formas crônicas, nas quais predominam grandes esplenomegalias com pancitopenia periférica, várias patologias devem ser lembradas no diagnóstico clínico, como: hepatopatias crônicas virais (cirrose hepática pelos vírus B e C das hepatites); trombose da veia porta; hipertensão portal idiopática; calazar; doenças linfoproliferativas (linfomas); e anemias hemolíticas crônicas. Em áreas endêmicas, o diagnóstico deve se basear em dados de exames físicos, laboratoriais, sorológicos, radiológicos e histopatológicos. DOENÇA DE CHAGAS Doença de Chagas ou tripanossomíase americana é uma enfermidade produzida pelo Trypanosoma cruzi, que se transmite ao homem por triatomíneos dos gêneros Triatoma, Rhodnius ou Panstrongylus, por transfusão de sangue, por via oral através de alimentos contaminados, por via congênita ou no canal do UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 24 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� parto, por acidentes de laboratório e, mais raramente, pelo leite materno e por via sexual através do esperma ou do líquido menstrual quando há ferimentos no pênis ou na vagina. A imagem acima resume o ciclo da infecção EPIDEMIOLOGIA É doença prevalente em populações rurais, onde encontram-se milhares de insetos vetores nas moradias de adobe. Estima-se que haja cerca de 12 a 14 milhões de pessoas infectadas na América Latina. QUADRO CLÍNICO No quadro clínico da doença de Chagas devemos distinguir duas fases bem distintas: a fase aguda e a fase crônica. ➔ Fase Aguda Há presença do T cruzi no sangue periférico pelo exame direto. Tem a duração aproximada de dois a três meses. A fase aguda ou inicial é, na maioria das vezes, assintomática. Quando sintomática moderada, apresenta: ● febre ● adenomegalia generalizada ● hepatoesplenomegalia ● edema elástico generalizado e rash cutâneo, ou grave, com miocardite aguda, insuficiência cardíaca e meningoencefalite, com alto percentual de casos fatais. Os sinais de porta de entrada, chagoma de inoculação ou sinal de Romana (conjuntivite, edema palpebral unilateral, adenopatia satélite) são pouco frequentes. ➔ Fase Crônica Define-se como fase crônica o período após a fase aguda, quando já não se encontra o I cruzi no exame direto do sangue. Esta fase se divide arbitrariamente em crônica recente, com dez a doze anos da fase aguda, quando o tratamento específico costuma ser eficaz, e crônica tardia, com quinze ou mais anos da fase aguda, quando a resposta ao tratamento específico é pouco eficaz. A fase crônica pode se apresentar nas formas indeterminada, cardíaca, digestiva ou mista (cardíaca e digestiva). Alguns autores sugerem ainda uma forma neurológica. ● Forma Cardíaca: arritmias cardíacas, extra-sístoles ventriculares uni ou polimórficas, fibrilação auricular, bloqueios AV e de ramos. ● Forma Digestiva: desregulação do peristaltismo (aperistalse) e, por pressão alimentar, à dilatação do esôfago (megaesôfago), com dificuldade progressiva da deglutição, e à dilatação dos cólons (megacólon), com dificuldade de evacuação, fecalomas e torção dos cólons (volvo) com obstrução intestinal. ● Formas Mistas: cardíaca + digestiva ● Formas congênita: aborto, prematuridade e a lesões orgânicas no feto, morte neonatal. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da infecção chagásica deve ser considerado na fase aguda e na fase crônica, levando-se sempre em conta as evidências epidemiológicas, clínicas e laboratoriais. ➔ Fase aguda O diagnóstico na fase aguda é feito pela presença do T cruzi no exame direto do sangue a fresco, ao microscópio. A presença de IgM é UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 25 Pro���m� 4 – In�e�m���ári� um forte indício da fase aguda, mas não exclusivo, e a de IgG, na criança após seis meses de nascida, pode indicar uma forma congênita. ➔ Fase crônica O diagnóstico laboratorial da infecção chagásica na fasecrônica é feito por técnicas sorológicas, parasitológica e anatomopatológicas. ● Técnicas sorológicas: ELISA, imunofluorescência indireta, Westernblot, o hemaglutinação, testes rápidos de aglutinação etc. ● Técnicas parasitológicas: xenodiagnóstico ● Reação em cadeia da polimerase (PCR): A PCR baseia-se na extração do DNA do parasita do sangue do paciente ● Biópsias de tecidos: exame histopatológico que busca encontrar formas amastigotas, infiltrados monohistiocitários, dissociação de fibras musculares e fibrose, sugestivos da patologia chagásica. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 26
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