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USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO DA SEGURANÇA E DA SAÚDE EM OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Vítor Magno Pereira de Góes Telles Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Prof. Jorge dos Santos Rio de Janeiro Março de 2019 USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO DA SEGURANÇA E DA SAÚDE EM OBRAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL VÍTOR MAGNO PEREIRA DE GÓES TELLES PROJETO DE GRADUAÇÃO APRESENTADO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL. Examinado por: _________________________________ Prof. Gilberto Olympio Mota Fialho _________________________________ Prof. Jorge dos Santos (orientador) _________________________________ Prof. Wilson Wanderley da Silva Rio de Janeiro Março de 2019 ii Telles, Vítor Magno Pereira de Góes. Uso dos requisitos da norma NBR ISO 45001 como ferramenta para a gestão da segurança e da saúde em obras da construção civil / Vítor Magno Pereira de Góes Telles – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2019. 98 p. Orientador: Jorge dos Santos Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica / Curso de Engenharia Civil, 2019. Referências bibliográficas: p. 94-98. 1. Considerações Iniciais. 2. Revisão Bibliográfica. 3. Discussão e Resultados. 4. Considerações Finais. 5. I. Jorge dos Santos. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Uso dos requisitos da norma NBR ISO 45001 como ferramenta para a gestão da segurança e saúde em obras da construção civil iii AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos meus pais, Rodolfo e Isabel, e minha irmã, Vitória, que sempre me apoiaram ao longo de toda a essa caminhada e que, mesmo com dificuldades, nunca deixaram faltar carinho e atenção. Agradeço por todas as oportunidades que me proporcionaram e pelo suporte incondicional em minhas decisões. Com vocês aprendi que mais do que conhecimento, é importante ter caráter, ética e fazer sempre o meu melhor, independente das circunstâncias. Aos meus amigos, agradeço pela atenção, carinho e companheirismo pois, mesmo que muitas vezes estivessem fisicamente distantes, sempre se fizeram presentes em todos os momentos importantes de minha vida. Agradeço e dedico este trabalho, especialmente, ao meu grande amigo Gustavo Barud, que me mostrou o verdadeiro sentido de coragem e perseverança mas que, infelizmente, não está mais entre nós. Agradeço aos professores e colegas de trabalho por todos os conhecimentos passados, pelas experiências profissionais e acadêmicas proporcionadas e pelo compromisso com o aprendizado ao longo desta graduação. Em especial, agradeço ao meu orientador, Jorge dos Santos, pela paciência, dedicação e por me guiar durante todo o trabalho. iv Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. Uso dos requisitos da norma NBR ISO 45001 como ferramenta para a gestão da segurança e da saúde na construção civil Vítor Magno Pereira de Góes Telles Março/2019 Orientador: Jorge dos Santos Curso: Engenharia Civil Este trabalho apresenta um conjunto de ferramentas e boas práticas baseadas nos requisitos da ISO 45001 para o apoio da gestão da segurança e saúde ocupacional. A elaboração do trabalho se deu através de pesquisa bibliográfica, dividida em três etapas. Inicialmente, foram identificados os conceitos, as legislações, decretos e normas de segurança vigentes relativas às atividades da construção civil e as práticas usadas pelo setor para seu atendimento. Em seguida apresentam-se as certificações e modelos de conformidade para a SSO, introduzindo a norma OHSAS 18001, seu impacto na indústria, evolução e posterior substituição. Subsequentemente, apresenta-se a norma NBR ISO 45001, sua metodologia e objetivos, as principais mudanças à certificação anterior, processo de certificação, seus requisitos e formas de atendimento e seu panorama de aplicação. São apresentadas 19 ferramentas de gestão e, para cada uma, são descritas as definições, objetivos, áreas de aplicação e as instruções para implementação, exemplificando seu uso nas atividades da construção civil e sugerindo modelos de formatação e modificações para sua adequação a organizações de diferentes portes. A análise mostra que devido ao alto nível de integração da ISO 45001 com os outros sistemas ISO, a aplicação de ferramentas de gestão da qualidade e meio ambiente é viável e pode ser tão feita de forma tão simplificada ou complexa quanto necessário, e que devido às particularidades da indústria da construção o processo de planejamento, monitoramento e melhoria contínua é essencial para o sucesso dos SGSSO. Palavras-chave: Ferramentas de Gestão; Construção Civil; Segurança e Saúde Ocupacional. v Abstract of Undergraduate Thesis presented do the Polytechnic School/ UFRJ as part of the requisites for the degree of Civil Engineer Use of NBR ISO 45001 standard’s requisites as an occupational health and safety management tool in the construction industry Vítor Magno Pereira de Góes Telles Março/2019 Academic Advisor: Jorge dos Santos Course: Civil Engineering This work aims presents a set of tools and good practices based on ISO 45001 requisites that can support occupational health and safety management. This work was developed in a three-part literature research. Initially, the concepts, laws, ordinances and safety standards related to construction industry activities were identified, as well as current practices of the sector. Next, OHS certification and conformity standards are presented, introducing the OHSAS 18001 standard, its industry impacts, evolution and later substitution. Subsequently, the ISO 45001 safety standard is introduced, as well as its methodology, objectives, the main changes from the previous standard, the certification process, requisites, compliance forms and application context. A total of 19 management tools are presented, each individually defined, with described objectives, areas of application and implementation instructions, as well as examples of their use in the construction industry, structure formatting suggestions and possible modifications for use in organizations of different sizes. The analysis shows that due to the high integration level between the ISO 45001 and other ISO standards, the application of quality and environment management tools is viable and can be as simplified or complex as necessary, and that because of the construction industry’s characteristics, the planning, monitoring and continuous improvement processes are essential do the success of the safety management systems. Keywords: Management Tools; Construction Industry; Occupational Health and Safety. vi SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ viii LISTA DE QUADROS ................................................................................................ ix LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ..................................................................... x 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................. 1 1.1. Apresentação do trabalho ..........................................................................................1 1.2. Objetivo do trabalho ................................................................................................... 2 1.3. Justificativa do trabalho .............................................................................................. 2 1.4. Metodologia Empregada ............................................................................................ 2 1.5. Conteúdo dos capítulos .............................................................................................. 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 4 2.1 Segurança e saúde do trabalho na construção civil – Aspectos gerais ........................ 4 2.1.1. Conceituação ............................................................................................ 4 2.1.2. Legislação ................................................................................................. 4 2.1.3. Normas Técnicas .................................................................................... 11 2.1.4. Acidentes do trabalho ............................................................................. 11 2.2 Norma OHSAS 18001 como base para a edição da ISO 45001 ................................ 13 2.3 Norma NBR ISO 45001 – Contextualização .............................................................. 16 2.3.1. Aspectos gerais ...................................................................................... 16 2.3.2. Principais mudanças ............................................................................... 17 2.3.3. Processo de certificação ......................................................................... 19 2.3.4. Panorama de aplicação .......................................................................... 21 2.4 Norma NBR ISO 45001 – Requisitos ......................................................................... 22 2.4.1. Seção 4 – Contexto da Organização ...................................................... 22 2.4.2. Seção 5 – Liderança e Participação dos Trabalhadores ......................... 23 2.4.3. Seção 6 – Planejamento ......................................................................... 24 2.4.4. Seção 7 – Suporte .................................................................................. 26 2.4.5. Seção 8 – Operação ............................................................................... 27 2.4.6. Seção 9 – Avaliação de desempenho ..................................................... 29 2.4.7. Seção 10 – Melhoria ............................................................................... 30 3. DISCUSSÃO E RESULTADOS ............................................................................ 32 3.1 Ferramentas e técnicas desenvolvidas para atender a ISO 45001 ............................ 32 3.1.1. Generalidades ......................................................................................... 32 3.1.2. Análise SWOT ........................................................................................ 32 3.1.3. Diagrama de Fluxo .................................................................................. 36 3.1.4. Análise de Árvore de Falhas (AAF) ......................................................... 37 3.1.5. Análise Preliminar de Risco (APR) ......................................................... 39 3.1.6. Quadro de Prioridades ............................................................................ 42 3.1.7. Análise de Modos e Efeitos de Falha (FMEA) ........................................ 44 vii 3.1.8. Planilha de Requisitos Legais ................................................................. 46 3.1.9. Quadro de Responsabilidades ................................................................ 48 3.1.10. Planilha de Treinamentos ..................................................................... 49 3.1.11. Quadro de Aquisições (QA) .................................................................. 51 3.1.12. Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) ......................... 53 3.1.13. Planilha de Documentos ....................................................................... 56 3.1.14. Plano de Atendimento a Emergência (PAE) ......................................... 58 3.1.15. Auditoria Interna .................................................................................... 60 3.1.16. Auditoria Comportamental .................................................................... 65 3.1.17. Quadro de Incidentes ............................................................................ 67 3.1.18. Mapa de Riscos .................................................................................... 69 3.1.19. Quadro de Auditorias ............................................................................ 72 3.1.20. Ficha de Verificação (FV) ...................................................................... 74 3.2 Análise e resultados obtidos na gestão de SST na construção civil........................... 76 3.2.1. Generalidades ......................................................................................... 76 3.2.2. Análise SWOT ........................................................................................ 76 3.2.3. Diagrama de Fluxo .................................................................................. 77 3.2.4. Análise de Árvore de Falhas (AAF) ......................................................... 77 3.2.5. Análise Preliminar de Risco (APR) ......................................................... 78 3.2.6. Quadro de Prioridades ............................................................................ 79 3.2.7. Análise de Modos e Efeitos de Falha (FMEA) ........................................ 80 3.2.8. Planilha de Requisitos Legais ................................................................. 80 3.2.9. Quadro de Responsabilidades ................................................................ 81 3.2.10. Planilha de Treinamentos ..................................................................... 82 3.2.11. Quadro de Aquisições (QA) .................................................................. 83 3.2.12. Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) ......................... 83 3.2.13. Planilha de Documentos ....................................................................... 85 3.2.14. Plano de Atendimento a Emergência (PAE) ......................................... 85 3.2.15. Auditoria Interna .................................................................................... 86 3.2.16. Auditoria Comportamental .................................................................... 87 3.2.17. Quadro de Incidentes ............................................................................ 88 3.2.18. Mapa de Riscos .................................................................................... 88 3.2.19. Quadro de Auditorias ............................................................................ 90 3.2.20. Ficha de Verificação (FV) ...................................................................... 90 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 92 4.1. Críticas e Comentários ............................................................................................. 92 4.2. Recomendações para Futuros Trabalhos. ................................................................ 93 5. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 94 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Modelo de SGSSO para a OHSAS 18001..............................................................15 Figura 2: Ciclo PDCA aplicado à ISO 45001..........................................................................17 Figura 3: Matriz SWOT...........................................................................................................32Figura 4: Aplicação de Matriz SWOT.....................................................................................34 Figura 5: Fluxograma de acidente de trabalho.......................................................................36 Figura 6: Árvore de Falhas simplificada de um incêndio........................................................38 Figura 7: Escala de urgência..................................................................................................43 Figura 8: PAE de vazamento de substância inflamável.........................................................60 Figura 9: Definição do processo de Auditoria Interna.............................................................62 Figura 10: Execução da Auditoria Comportamental...............................................................66 Figura 11: Ficha de Verificação para Auditoria Comportamental...........................................67 Figura 12: Processo de elaboração do mapa de riscos tradicional........................................70 Figura 13: Mapa de riscos tradicional.....................................................................................70 Figura 14: Processo de elaboração do mapa de riscos temporal..........................................71 Figura 15: Mapa de riscos temporal.......................................................................................72 Figura 16: Modelo de Ficha de Verificação de requisitos da NR-18......................................75 ix LISTA DE QUADROS Quadro 1: Normas técnicas de Saúde e Segurança Ocupacional.........................................11 Quadro 2: Aplicação do Quadro de Responsabilidades à Análise SWOT.............................35 Quadro 3: Planilha de Análise Preliminar de Riscos..............................................................40 Quadro 4: Aplicação da Análise Preliminar de Riscos...........................................................41 Quadro 5: Quadro de Prioridades...........................................................................................42 Quadro 6: Aplicação do Quadro de Prioridades.....................................................................44 Quadro 7: Análise de Modos e Efeitos de Falha....................................................................44 Quadro 8: Aplicação da Análise de Modos e Efeitos de Falha...............................................45 Quadro 9: Planilha de Requisitos Legais................................................................................46 Quadro 10: Aplicação da Planilha de Requisitos Legais........................................................47 Quadro 11: Quadro de Responsabilidades............................................................................48 Quadro 12: Aplicação do Quadro de Responsabilidades.......................................................49 Quadro 13: Planilha de Treinamentos....................................................................................50 Quadro 14: Aplicação da Planilha de Treinamentos..............................................................50 Quadro 15: Quadro de Aquisições.........................................................................................51 Quadro 16: Aplicação do Quadro de Aquisições....................................................................52 Quadro 17: Relação das subatividades da ICC......................................................................55 Quadro 18: Número de membros da CIPA por atividade e número de empregados.............55 Quadro 19: Planilha de Documentos......................................................................................56 Quadro 20: Aplicação da Planilha de Documentos................................................................57 Quadro 21: Quadro de Incidentes..........................................................................................67 Quadro 22: Aplicação do Quadro de Incidentes.....................................................................68 Quadro 23: Quadro de Auditorias...........................................................................................72 Quadro 24: Aplicação do Quadro de Auditorias.....................................................................73 x LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas APR – Análise Preliminar de Risco BSI – British Standards Institute CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes DDS – Dialogo Diário de Segurança FMEA – Failure Mode and Effect Analysis FV – Ficha de Verificação HLS –High Level Structure IAF –International Accreditation Forum ICC – Indústria da Construção Civil INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia ISO –International Organization for Standardization MTE – Ministério do Trabalho e do Emprego NBR – Norma Brasileira NR – Norma Regulamentadora OHSAS – Occupational Health and Safety Assessment Series PAE – Programa de Atendimento à Emergência PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção PPRA – Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional SBC – Sistema Brasileiro de Certificação SESMT – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho SINDUSCON – Sindicato da Indústria da Construção SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade SGSSO – Sistema de Gestão da Saúde e Segurança Ocupacional SSO – Segurança e Saúde Ocupacional SWOT –Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats TST – Tribunal Superior do Trabalho 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.1. Apresentação do trabalho O crescente número de artigos e trabalhos publicados e legislações cada vez mais restritivas mostra que a importância que a Saúde e Segurança Ocupacional (SSO) tem ganhado no cenário mundial. Segundo Benite (2004), cada vez mais é necessário que as empresas demonstrem, não só competitividade econômica, mas sua ética e responsabilidade com a segurança de seus empregados, do entorno e do meio ambiente. Para Choe e Leite (2017a), a melhor forma de realizar a gestão de SSO é atuar preventivamente, no entanto, a construção civil apresenta um dos piores históricos de SSO dentre todos os setores da indústria (BENITE, 2004; CHOE; LEITE, 2017a). Diversos autores atribuem esse comportamento a um conjunto de características específicas da construção civil. Contrário aos outros setores da indústria, a ICC não possui locais de trabalho fixos e seus processos raramente são padronizados, sendo comum encontrar grandes variações de empresa para empresa. Além disso, os projetos e especificações são únicos à cada empreendimento realizado, sendo necessário que os métodos construtivos sejam adaptados não só às particularidades do empreendimento, mas também à tecnologia e mão de obra disponíveis e às condições físicas do local onde o canteiro de obras é instalado. Tem-se como exemplo dessas variáveis as diferenças de prazo e orçamentos entre projetos, as características climáticas, meteorológicas, e do solo local, disponibilidade de maquinário, facilidade de acesso, entre outros (ARAUJO, 2002; BENITE, 2004; CHOE; LEITE, 2017a; COSTELLA et al, 2014). Além destes, Santiago (2018) aponta também para um número de problemas relacionados às pessoas empregadas pela indústria. De um lado da hierarquia, observa-se os gestores em uma constante busca por eficiência e redução de gastos que, por conta disso, acabam por contratar serviços em função dos menores custos, comumente resultando no emprego de profissionais pouco qualificados que emitem documentos apenas para fins legais. Já no outro extremo da hierarquia tem-se a mão de obra de baixo nível de instrução que desconhece a legislação e, frequentemente devido a fatores culturais e socioeconômicos, não dão a devida importânciaàs medidas preventivas e de segurança. Assim observa-se o cenário atual vivido pelo setor, principalmente no Brasil, onde frequentemente são empregadas medidas de prevenção e controle de riscos ineficientes que aliados aos escassos treinamentos e sensibilizações resultam no grande número de acidentes noticiados pelos meios de comunicação e apresentados na literatura publicada. 2 1.2. Objetivo do trabalho Este trabalho visa apresentar um conjunto de ferramentas baseadas nos requisitos da norma NBR ISO 45001, nas práticas utilizadas pelo mercado para atendimento de requisitos legais e normativos, na literatura publicada, bem como nas práticas utilizadas nas demais áreas da gestão que possam auxiliar no gerenciamento da saúde e segurança ocupacional na construção civil. Cada ferramenta listada será definida, sendo apresentados os objetivos e aplicabilidade, bem como exemplos específicos à construção civil, destacando as características, vantagens e desafios associados ao seu uso. 1.3. Justificativa do trabalho Apesar de jovem, datando de 1977, a legislação brasileira de SSO apresenta um grande número de regulamentos e requisitos de segurança. No entanto, a indústria da construção brasileira ainda é vista como um dos setores mais perigosos, marcado por acidentes de trabalho e liderando o ranking de acidentes com morte. Segundo o Tribunal Superior do Trabalho (2018), somente em 2010 o número de acidentes foi de 54.664, dos quais 66% são considerados “acidentes típicos”, como quedas em altura (apontada como a causa mais comum de lesões e morte). Apesar desses dados e da construção civil empregar um modelo produtivo centrado em pessoas, o tema ainda é pouco discutido nas instituições de ensino, sendo comum encontrar no mercado profissionais gerenciais pouco fluentes e sensibilizados quanto ao assunto. Estes agravantes puderam ser observados durante as obras de infraestrutura realizadas no país para a Copa do Mundo de futebol e Olimpíada, marcadas por acidentes de trabalho, no rompimento da barragem na cidade de Mariana e, mais recentemente, em Brumadinho (PASSARINHO, 2019). Tais acontecimentos demonstram o despreparo dos profissionais e do setor como um todo com relação ao gerenciamento de riscos e da segurança dos seus empregados, da população e do meio ambiente. Devido a este panorama, escolheu-se o tema buscando obter um conjunto de boas práticas que possa auxiliar na gestão da segurança ocupacional, visando a prevenção de riscos e mitigação de seus impactos. 1.4. Metodologia Empregada Para que os objetivos almejados pudessem ser alcançados, em um primeiro momento o tema de segurança ocupacional foi estudado de maneira mais abrangente, visando um melhor entendimento sobre o assunto e sua disseminação na indústria. Consolidadas as informações principais, deu-se início à pesquisa bibliográfica, onde foram identificados os conceitos, as legislações, decretos e normas de segurança vigentes 3 relativas às atividades da construção civil e as práticas usadas pelo setor para seu atendimento. Em seguida foram estudados os modelos de conformidade, sua aplicação no cenário brasileiro e evolução até o padrão atual das certificações e sistemas de gestão utilizados, analisando seus requisitos, desafios e benefícios associados. Por fim, de posse dessas informações desenvolveu-se, a partir da literatura publicada, das práticas de mercado e dos requisitos normativos, um conjunto de ferramentas para auxiliar na gestão da saúde e segurança ocupacional 1.5. Conteúdo dos capítulos O primeiro capítulo tem caráter introdutório, trazendo a importância do tema, as dificuldades no gerenciamento da saúde e segurança ocupacional enfrentadas pela indústria da construção civil e o panorama nacional de acidentes. São apresentados a metodologia empregada e os objetivos do trabalho. O segundo capítulo apresenta a revisão bibliográfica dos conceitos e definições necessários ao desenvolvimento deste estudo, discorrendo sobre a legislação de segurança e requisitos normativos vigentes no Brasil que regulam as atividades da construção civil. Introduz-se o conceito de modelo de conformidade, a certificação OHSAS 18001, sua evolução e posterior substituição. Em seguida, apresenta-se a norma ISO 45001 e sua metodologia, descrevendo as principais mudanças em relação à certificação anterior, o processo de certificação e panorama de aplicação, seus requisitos e formas de cumprimento. A partir das informações levantadas, o terceiro capítulo traz um conjunto de ferramentas, técnicas e boas práticas que podem auxiliar nos sistemas e na gestão da saúde e segurança ocupacional da construção civil, apresentando individualmente suas definições, objetivos, aplicações, metodologia para implantação e benefícios associados. Para cada ferramenta listada são sugeridos modelos de formatação e elaboração, exemplos aplicados à construção civil e possíveis modificações que possam auxiliar sua utilização em organizações com diferentes características. Finalmente, no quarto capítulo são apresentadas as críticas e comentários relacionados ao trabalho, as lições aprendidas quando da elaboração do mesmo e recomendações para estudos futuros. 4 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Segurança e saúde do trabalho na construção civil – Aspectos gerais 2.1.1. Conceituação Define-se segurança no trabalho como um conjunto de medidas empregadas para a prevenção de acidentes, sejam elas médicas, psicológicas, técnicas ou educacionais, visando a eliminação das condições inseguras e a instrução das pessoas para sua implantação no ambiente de trabalho (ZÓCCHIO, 2002). A Organização Mundial da Saúde (1946, p. 1) define como saúde o “Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não a simples ausência de doença e enfermidade”. A integração entre os estados social, físico e mental permite uma análise mais abrangente sobre as condições de saúde e trabalho, permitindo a associação de doenças psicológicas e psicossomáticas aos fatores sociais e estresse (SANTIAGO, 2018). A legislação brasileira faz uso do termo Saúde e Segurança no Trabalho (SST) nas diversas normas, leis, decretos e outros instrumentos afins. No entanto, exceto quando da citação de texto legislativo, será adotado o conceito equivalente de Saúde e Segurança Ocupacional (SSO) utilizado pelas normas ISO para os objetivos deste trabalho, a fim de facilitar a associação com os requisitos da certificação. 2.1.2. Legislação A lei 8.080/1990 (BRASIL, 1990) regulamenta as condições da promoção, proteção e recuperação da saúde às pessoas que exercem atividades de caráter permanente ou eventual, posteriormente modificada em 2013 pela lei de número 12.864/2013. A alteração do art. 3º torna formal o caráter condicionante e decisório da atividade física na saúde. “Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais” (BRASIL, 2013, p. 1) No Brasil, a saúde e segurança ocupacional é regida por um conjunto de trinta e seis Normas Regulamentadoras (NR) que, em conjunto, abrangem as diferentes áreas da indústria e do trabalho, assim como situações específicas (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018a). As NRs são de caráter mandatório, devendo ser atendidas pelas diversas instituições públicas e privadas, pelos órgãos da administração pública e dos Poderes Legislativo e Judiciário que empreguem pessoas em regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). 5 NR-1 - Disposições Gerais NR-2 - Inspeção Prévia NR-3 - Embargo e Interdição NR-4 - Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT NR-5 - Comissão Interna de Prevençãode Acidentes- CIPA NR-6 - Equipamento de Proteção Individual - EPI NR-7 - Exames Médicos NR-8 - Edificações NR-9 - Riscos Ambientais NR-10 - Instalações e Serviços de Eletricidade NR-11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais NR-12 - Máquinas e Equipamentos NR-13 - Vasos Sob Pressão NR-14 - Fornos NR-15 - Atividades e Operações Insalubres NR-16 - Atividades e Operações Perigosas NR-17 - Ergonomia NR-18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção NR-19 - Explosivos NR-20 - Combustíveis Líquidos e Inflamáveis NR-21 - Trabalhos a Céu Aberto NR-22- Trabalhos Subterrâneos NR-23 - Proteção Contra Incêndios NR-24 - Condições Sanitárias dos Locais de Trabalho NR-25 - Resíduos Industriais NR-26 - Sinalização de Segurança NR-27 - Registro de Profissionais NR-28 - Fiscalização e Penalidades 6 NR-29 - Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário NR-30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário NR-31 - Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura NR-32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde NR-33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados NR-34 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Reparação Naval NR-35 - Trabalho em Altura NR-36 – Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados A indústria da construção tem suas atividades regidas, inicialmente, pela NR-18, que apresenta diversas diretrizes de caráter administrativo, organizacional e de planejamento para a implantação de sistemas e medidas preventivas e de controle da SSO no ambiente de trabalho, suas condições e processos produtivos associados (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b). Segundo o item 18.1.2 da NR-18, são consideradas como atividades da ICC: “as constantes do Quadro I, Código da Atividade Específica, da NR 4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho e as atividades e serviços de demolição, reparo, pintura, limpeza e manutenção de edifícios em geral, de qualquer número de pavimentos ou tipo de construção, inclusive manutenção de obras de urbanização e paisagismo.” O Quadro I da NR-4 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2016a), mencionado no segmento anterior, apresenta os serviços e atividades dos diferentes setores da indústria e comércio. As entradas referentes à construção civil são encontrados no item F do quadro, sendo: Construção de Edifícios: a) Incorporação de empreendimentos imobiliários b) Construção de edifícios Obras de Infraestrutura: c) Construção de rodovias e ferrovias d) Construção de obras-de-arte especiais 7 e) Obras de urbanização - ruas, praças e calçadas f) Obras para geração e distribuição de energia elétrica e para telecomunicações g) Construção de redes de abastecimento de água, coleta de esgoto e construções correlatas h) Construção de redes de transportes por dutos, exceto para água e esgoto i) Obras portuárias, marítimas e fluviais j) Montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas k) Obras de engenharia civil não especificadas anteriormente Serviços Especializados para Construção: l) Demolição e preparação de canteiros de obras m) Perfurações e sondagens n) Obras de terraplenagem o) Serviços de preparação do terreno não especificados anteriormente p) Instalações elétricas q) Instalações hidráulicas, de sistemas de ventilação e refrigeração r) Obras de instalações em construções não especificadas anteriormente s) Obras de acabamento t) Obras de fundações u) Serviços especializados para construção não especificados anteriormente Deve-se devotar especial atenção para os casos em que a NR-18 faz referência a outras NRs, quando a atividade em questão abrange outras áreas, tornando mandatórias as exigências dessas outras normas. Por exemplo, o item 18.6.16, referente à execução de fundações e escavações sob ar comprimido remete à NR-15 (Atividades e Operações Insalubres), já o item 18.14.11, que trata do levantamento manual de cargas, cita a NR-17 (Ergonomia). Devem também ser observadas as instâncias em que a NR-18 modifica os requisitos de outras normas regulamentadoras, como no item 18.33, que altera e apresenta condições adicionais às previstas na NR-5 (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) no âmbito da construção civil (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b). As diretrizes da NR-18 tratam não só das instalações físicas dos canteiros de obras, mas também das documentações, e seus respectivos prazos e validades, e dos 8 treinamentos de mão de obra. Deve-se atentar também para os casos em que a atividade a ser executada se enquadra em outra NR, mesmo que estas não sejam citadas diretamente no corpo da NR-18 – por exemplo, quando da execução de serviços em altura ou da utilização de maquinário ou equipamento mecânico, regidos pela NR-35 e NR-12, respectivamente. As disposições da NR-18 devem ser implementados através do Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), de elaboração compulsória para os estabelecimentos com 20 ou mais trabalhadores. O PCMAT pode ser visto como um conjunto de medidas preventivas de SSO cuja função é a preservação da integridade física dos trabalhadores da construção civil (DA SILVA, 2015). O PCMAT deve ser elaborado por profissional legalmente qualificado na área de segurança e mantido no estabelecimento ao qual é referente. De acordo com o item 18.3.4 da NR-18 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b), o Programa deve conter: a) Memorial sobre condições e meio ambiente de trabalho nas atividades e operações, levando-se em consideração riscos de acidentes e de doenças do trabalho e suas respectivas medidas preventivas; b) Projeto de execução das proteções coletivas em conformidade com as etapas de execução da obra; c) Especificação técnica das proteções coletivas e individuais a serem utilizadas; d) Cronograma de implantação das medidas preventivas definidas no PCMAT em conformidade com as etapas de execução da obra; e) Layout inicial e atualizado do canteiro de obras e/ou frente de trabalho, contemplando, inclusive, previsão de dimensionamento das áreas de vivência; f) Programa educativo contemplando a temática de prevenção de acidentes e doenças do trabalho, com sua carga horária. De acordo com da Silva (2015), o PCMAT é formulado em cinco etapas. A primeira consiste da análise dos projetos referentes ao empreendimento, e visa identificar os processos produtivos a serem utilizados durante a construção, englobando os métodos, instalações, equipamentos e outros elementos necessários para tal. Em seguida, deve-se vistoriar o local de instalação do empreendimento, analisando as condições presentes e complementando a análise realizada – a etapa se mostra importante pois permite identificar situações específicas ao local, como a necessidade de escavações ou outros condicionantes ambientais. 9 De posse destes dados, deve-se identificar as condições de trabalho associadas e realizar a análise de riscos, que por sua vez provém as informações necessárias para o traçado e implantação das medidas de controle necessárias. Durante a quarta etapa elabora-se o documento base do PCMAT. As informações coletadas devem ser registradas, definindo as fases do processo construtivo e as instalações e medidas necessárias ao controle, mitigação e eliminação dos riscos identificados. Finalmente, implementam-se o PCMAT e as medidas nele descritas. O Programa deve ser atualizado e detalhado para refletir as atividades a serem executadas e as mudanças que podem ocorrer ao longo do processo construtivo. Fica disposto no item 18.3.1.1 da NR-18 que o PCMAT deve seguir às disposições contidas na NR-9, que trata do Programade Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), cuja função é, segundo o item 9.1 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2017): “preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.” Nele são detalhados os setores de trabalho da organização, as instalações, maquinas presentes e ferramental utilizado, descritas as atividades e funções desempenhadas pelos colaboradores expostos aos riscos, bem como as medidas preventivas e controladoras de riscos existentes, o reconhecimento e avaliações dos riscos ambientais existentes (DA SILVA, 2015). A NR-9, no item 9.1.5, define como riscos ambientais “os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador” (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2017). São considerados como agentes físicos os ruídos, vibrações, temperaturas extremas, vibrações anormais, radiações (ionizantes ou não), infrassom e ultrassom. Como agentes químicos, consideram-se as substâncias, compostos ou produtos passíveis de absorção por via respiratória, tais como poeiras, fumos, neblinas, névoas, vapores ou gases, ou ainda aquelas que, devido o tipo de exposição, possam ser absorvidas pela pele ou ingestão. Finalmente, como agentes biológicos são listados os bacilos, fungos, bactérias, vírus parasitas, protozoários e outras formas afins (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2017). 10 Na NR-18 também são apresentados requisitos relativos à formação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Estes requisitos possuem caráter compulsório para as organizações da ICC, complementando aquilo descrito na NR-5. O requisito torna obrigatória a formação de CIPA para as organizações do setor que possuam, na mesma cidade, um ou mais canteiros de obra (ou frentes de trabalho), devendo ser centralizada quando empregarem menos de 70 trabalhadoras ou uma Comissão para cada frente, caso este limite for excedido. Ficam isentos de formar a Comissão os canteiros cuja duração das operações não excedam 180 dias, exceto quando enquadrados na situação anterior (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b). Segundo o item 5.1 da NR-5 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2011) a CIPA tem por finalidade “a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador”. A formação da Comissão e os benefícios associados são descritos em detalhe nos itens 3.1.11 e 3.2.11 deste trabalho, respectivamente. Destaca-se que quando do estudo legislativo, deve ser devotada especial atenção para as atividades que serão desempenhadas pela organização no empreendimento ou projeto, pois é possível que um conjunto de normas regulamentadoras sejam aplicáveis. Por exemplo, a NR-35 – Trabalho em Altura, que fixa “os requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a organização e a execução, de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou indiretamente com esta atividade” (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2016b, item 35.1.1), é de especial importância para a ICC (SANTIAGO, 2018), uma vez que grande parte das atividades do setor são englobadas por ela – segundo o item 35.1.2, são considerados trabalhos em altura as atividades exercidas a mais de 2,00m do nível inferior, passível de risco de queda (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2016b). Também ficam definidas na NR-18 as obrigações dos empregadores e empregados. Cabe ao primeiro elaborar as análises de risco dos serviços e atividades a serem desempenhados e emitir as permissões de trabalho (conforme necessário), bem como traçar e implementar os procedimentos e dispositivos de segurança, incluindo a aprovação, supervisão e suspensão dos serviços, visando a segurança de todos. Já os trabalhadores devem com as determinações estabelecidas pelo empregador e pela legislação vigente, zelar pela própria segurança e pela de terceiros que possam ser impactados por suas ações, incluindo a interrupção das atividades caso as condições locais ponham em risco a sua saúde ou a de outros (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2016b). 11 2.1.3. Normas Técnicas As atividades da construção civil também são regulamentadas pelas Normas Brasileiras (NBR), publicadas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). O estudo realizado por Santiago (2018) apresenta um conjunto de NBRs pertinentes à ICC, conforme publicação no Catálogo de Normas Técnicas de Edificações do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (SINDUSCON-MG, 2017). O estudo destaca, no entanto, que em contraste às NRs e leis, que tem caráter mandatório e são cabíveis de multa, quando do seu descumprimento, as NBRs funcionam como um conjunto mínimo de recomendações ou boas práticas – a exceção se dá quando uma NBR é citada em leis, decretos ou em NRs, tendo, neste caso, caráter compulsório sujeito às mesmas penalidades citadas. O Quadro 1 apresenta algumas das normas brasileiras inerentes a saúde e segurança ocupacional. Norma Título Ano NBR 6469 Segurança nos Andaimes 1990 NBR 7195 Cores para Segurança 1995 NBR 7678 Segurança na execução de obras e serviços de contrução 1983 NBR 12284 Áreas de Vivência em Canteiros de Obras - Procedimento 1991 NBR 12543 Equipamentos de Proteção Respiratória - Terminologia 1999 NBR 14280 Cadastro de Acidente do Trabalho 2001 NBR NM 213-2 Segurança de Máquinas - Conceitos fundamentais, princípios gerais de projeto - Princípios técnicos e especificações 2000 NBR 15595 Acesso por corda - Procedimento para aplicação do método 2016 NBR 16577 Espaço Confinado - Prevenção de acidentes, procedimentos e medidas de proteção 2017 Quadro 1: Normas técnicas de Saúde e Segurança Ocupacional Fonte: Autor 2.1.4. Acidentes do trabalho A lei 8.213/1991 – lei geral da Previdência Social (BRASIL, 1991), define acidente de trabalho, em seu artigo 19, como aquele: “que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.” Segundo o Ministério do Trabalho (2015), também são considerados acidentes de trabalho aqueles ocorridos ao longo do trajeto entre a residência e local de trabalho do 12 segurado, as doenças de trabalho provocadas ou adquiridas pela realização do trabalho ou atividade ou ainda aquelas desencadeadas por condições específicas intrínsecas à atividade ou diretamente relacionadas a ela. Entretanto, não são consideradas doenças de trabalho as doenças específicas a determinado grupo etário, doenças degenerativas, aquelas que não comprometam a capacidade laboral do segurado e as de caráter endêmico – salvo quando comprovado que a contração é resultante da exposição ou contato direto devido à natureza do trabalho. São equiparados aos acidentes de trabalho aqueles ligados ao trabalho que, mesmo não sendo causa única, tenham contribuído diretamente à morte do segurado, à redução ou perda de sua capacidade laboral, ou causado danos que exijam tratamento médico para recuperação; os sofridos no horário e local de trabalho por conta de atos de terrorismo, agressão ou sabotagem cometidos por outros profissionais ou terceiros, ofensas físicas intencionais devido a disputas de trabalho, atos imprudentes, de imperícia ou negligentes de profissionais ou terceiros, bem como atos de pessoas privadas do usoda razão, inundações, desabamentos, incêndios ou eventos fortuitos de força maior; as doenças oriundas de contaminação acidental do segurado durante o exercício da profissão; e ainda aqueles sofridos fora do horário e local de trabalho, quando da realização de atividades para ou sob autoridade da empresa, cumprimento de ordem ou prestação de serviço para benefício para frutos da empresa, e também durante viagens e cursos de capacitação financiados pela empresa (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2015). A NBR ISO 45001 (ISO, 2018a) estabelece um conjunto de termos importantes para a definição de acidente de trabalho, sendo: a) Lesões e problemas de saúde: “efeito adverso sobre a condição física, mental ou cognitiva de uma pessoa (...) incluindo doença ocupacional, problema de saúde e morte” (ISO, 2018a, p. 5). b) Perigo: “fonte com potencial para causar lesões e problemas de saúde (...) danos ou situações perigosas, ou circunstâncias com potencial de exposição” (ISO, 2018a, p. 5) c) Incidente: “ocorrência decorrente, ou no decorrer, de um trabalho, que pode resultar em lesões e problemas de saúde” (ISO, 2018a, p. 8). A partir desses termos, a ISO 45001 define como acidente os incidentes em que ocorrem lesões e problemas de saúde, e como quase acidente (também referidos como quase perda ou ocorrência perigosa) aqueles onde não ocorrem lesões e problemas de saúde, mas existe potencial de ocorrência (ISO, 2018a). 13 Fica prevista, conforme a legislação previdenciária (lei 8.213/1991), a emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) quando da ocorrência de acidentes ou da comprovação de doença de trabalho. A não notificação do acidente ou doença constitui crime segundo o art. 269 do Código Penal (BRASIL, 1940, 1991). No estudo desenvolvido por Silva e Mendonça (2012) foram identificadas as práticas de SSO empregadas no tratamento de incidentes e acidentes de trabalho por uma empresa de construção de edifícios de grande porte, situada na cidade de Maceió. Segundo o estudo, a empresa já possui metodologia de ação estabelecida para eventuais acidentes. Quando da ocorrência de acidentes, paralisa-se a produção e acionam-se a CIPA e os trabalhadores próximos ao local do acidente para identificar as possíveis causas e fatores agravantes, produzindo um plano de prevenção para o mesmo quando necessário. Os danos causados pelo acidente são classificados em leves ou graves. No primeiro caso, os acidentados são conduzidos a uma empresa terceirizada responsável pelo monitoramento da saúde dos trabalhadores, já no segundo, estes são encaminhados para hospitais públicos de emergência ou conveniados (SILVA e MENDONÇA, 2012). Durante o estudo foi constatado que a maior parte dos acidentes relatados ocorreram por falha humana, por isso, logo após a ocorrência, o técnico de segurança presente no local entrevista, de forma simples e particular, o funcionário acidentado – o diálogo busca obter informações mais precisas sobre as causas do acidente, abordando não só as questões intrínsecas ao entorno como também possíveis fatores socioeconômicos que possam ter influenciado o trabalhador a se expor ao risco. O estudo de Silva e Mendonça (2012) concluiu que a etapa da execução da estrutura concentra o maior número de acidentes identificados nas obras. 2.2 Norma OHSAS 18001 como base para a edição da ISO 45001 De acordo com o INMETRO (2017), as certificações funcionam como um indicador ao público alvo de que o processo, produto, serviço ou sistema fornecido pela empresa atende a um grupo de requisitos mínimos de qualidade. As certificações e modelos conformidade incentivam a busca por melhoria contínua, através de benefícios associados ao aumento da qualidade dos serviços e produtos, melhoria da produtividade e competitividade. A certificação da OHSAS 18001 não é acreditada pelo INMETRO, em contraste às certificações ISO, mas é reconhecida internacionalmente como referência para SGSSO (FERNÁNDEZ-MUÑIZ et al, 2012). As certificações de conformidade são segmentadas em dois tipos pelo INMETRO (2017). O primeiro corresponde às certificações compulsórias, que são um tipo de serviço prestado aos órgãos regulamentadores oficiais da união pelo SBC, englobando questões de 14 segurança e de interesse da população, proteção da saúde, animais, vegetais, meio ambiente e afins. O segundo grupo trata das certificações voluntárias, cujo objetivo é atestar que os processos, serviços, produtos ou sistemas do solicitante estão em conformidade com os requisitos de normas reconhecidas pelo SINMETRO (Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). A Série de Avaliação da Saúde e Segurança no Trabalho (OHSAS) compreende as normas OHSAS 18001 e 18002, que trazem os requisitos e diretrizes de implantação, respectivamente, e é uma certificação voluntária internacionalmente reconhecida (BSI, 2007). O objetivo primário da norma é oferecer às organizações um conjunto compreensivo de elementos de um SGSSO eficaz que possa ser integrado a outros requisitos e sistemas de gestão existentes ou planejados, através da especificação de “requisitos para um sistema de gestão da SST que permita à organização desenvolver e implementar uma política e objetivos, tendo em consideração requisitos legais e informação sobre riscos para a SST” (BSI, 2007, p. v). As seções da norma podem ser descritas de forma simplificada de acordo com as quatro etapas do ciclo PDCA (Planejar-Executar-Verificar-Agir) no qual sua metodologia é baseada, conforme ilustrado na Figura 1. A etapa de planejamento trata do traçado dos processos, objetivos e ferramentas necessários em conjunto com a política de SSO da organização, para que os resultados pretendidos possam ser alcançados. Durante a fase de execução, deve-se implementar os elementos definidos anteriormente, coletando dados e informações sobre os processos executados. Na etapa de verificação os dados coletados devem ser avaliados de acordo com as metodologias, métricas e objetivos estabelecidos para os processos e com a política de SSO e requisitos legais aplicáveis, apresentando os resultados encontrados – através destes, devem ser propostas as medidas corretivas e potencializadoras pertinentes. Finalmente, na etapa de ação, devem ser implantadas as ações e medidas definidas durante a análise crítica pela direção visando a melhoria contínua do SGSSO. 15 Figura 1. Modelo de SGSSO para a OHSAS 18.001 Fonte: MOREIRA e PACHECHO (2017, p. 3) De acordo com Conde (2003) o SGSSO proposto pela norma contém os elementos essenciais ao gerenciamento dos processos e atividades da organização e, por isso, permite sua aplicação em qualquer atividade industrial ou de serviços. Conde (2003) aponta, adicionalmente, para a equivalência do modelo de gestão OHSAS para aquele proposto na ISO 14001 – a única diferença sendo no seu enfoque. Enquanto a norma de segurança atua nos efeitos internos à organização (acidentes, ocorrências perigosas, etc.), modelo da norma ISO age nos efeitos externos das atividades da organização, como impactos ambientais. Oficialmente publicada em 1999 pelo BSI (British Standards Institution), a OHSAS 18001 foi elaborada por um conjunto de organizações internacionais que somavam, à época, 80% dos organismos certificadores do mercado (ARAUJO, 2002). A certificação foi concebida como forma de atender à crescente demanda por uma norma regente aos SGSSO, perante a qual as organizações pudessem ser avaliadas e certificadas (BSI, 2007). O código foi desenvolvido em conformidade com os sistemas de gestão ISO 9001 e 14001, para facilitar a integração entre os três modelos, caso desejado (BSI, 2007). Os requisitos trazidos pela norma permitem o controle efetivo dos riscos da organização, associando a política de segurança à definição de responsabilidades e realização de extensostreinamentos e monitoramento das ações (COSTELLA, 2008). A atualização da norma, trazida em 2007, apresentou mudanças para o texto original, enfatizando as ações voltadas à saúde do trabalhador e empregando medidas para melhorar o alinhamento e compatibilidade com as normas ISO 14001:2004 e ISO 9001:2000. Uma das principais mudanças identificadas foi em sua titulação. A primeira 16 versão da OHSAS apresentava o modelo de conformidade como documento ou especificação, no entanto, devido à sua grande disseminação no mercado e citação de seus elementos em outros códigos internacionais, a OHSAS 18001:2007 passou a ser referida como norma. A revisão trouxe modificações aos conceitos já empregados– como dano, incidente, acidente, perigo e local de trabalho – e à estruturação do texto, reorganizando e agrupando suas cláusulas de forma mais similar à vista na certificação ambiental ISO (BSI, 2007). Durante sua vigência, a OHSAS 18001 foi o modelo de conformidade mais buscado pelas organizações do mercado, segundo Lo et al. (2014), pois o processo de certificação requer auditoria por uma organização independente. Atualmente a certificação foi substituída pela ISO 45001, publicada em Março de 2018. 2.3 Norma NBR ISO 45001 – Contextualização 2.3.1. Aspectos gerais Publicada em Março de 2018, a ISO 45001 é o novo padrão internacional de certificação dos SGSSO, e foi desenvolvido pelo Comitê de Projeto ISO/PC 283. A nova norma substitui o padrão anterior proposto pela OHSAS 18001, sendo assim, as empresas e organizações já certificadas na norma antiga possuem um prazo máximo de três anos para se adequar à ISO 45001 (ISO, 2018a). A ISO 45001 foi desenvolvida utilizando os conceitos e diretrizes empregados pelas outras normas e certificações ISO, chamadas de Estruturas de Alto Nível (HLS), também conhecido como Anexo SL, que permite “manter a consistência, alinha diferentes normas de sistema de gestão, oferece sub-cláusulas correspondentes em relação à estrutura de alto nível e aplica uma linguagem comum a todas as normas” (BSI, 2018b, p. 4). A norma é dividida em dez seções, sendo 1 – Escopo, 2 – Referências Normativas, 3 – Termos e Definições, 4 – Contexto da Organização, 5 – Liderança e Participação dos Trabalhadores, 6 – Planejamento, 7 – Suporte, 8 – Operação, 9 – Avaliação de Desempenho e 10 – Melhoria. Apesar dessa divisão, assim como as outras normas ISO, as seções não devem ser avaliadas isoladamente, mas sim como um ciclo interativo, uma vez que a norma é estruturada com base na metodologia de melhoria contínua, conforme ilustrado na Figura 2 (os números entre parênteses apresentados na figura correspondem às seções da norma englobadas em cada etapa do ciclo PDCA). 17 Figura 2: Ciclo PDCA aplicado à ISO 45001 Fonte: BSI (2018b, p. 4) 2.3.2. Principais mudanças Como a nova publicação trouxe consigo um conjunto significativo de mudanças em relação à OHSAS 18001, não só em sua estruturação e subdivisão, mas também no seu enfoque. Sendo assim, as principais alterações serão abordadas de acordo com as dez seções da ISO 45001, sendo seus respectivos requisitos discutidos mais especificamente na seção 2.4 deste trabalho. A terceira seção, relativa aos Termos e Definições, apresenta os diversos conceitos e terminologia utilizados no corpo da norma e seus requisitos. Por ter sido elaborada de acordo com o Anexo SL comum às normas ISO, diversos conceitos anteriormente definidos pela OHSAS foram modificados ou refinados, bem como foram incluídos novos termos. Dentre tais, destacam-se, mas não limitados, os conceitos de organização, local de trabalho, parte interessada, participação e consulta, risco e oportunidade de SSO (BSI, 2018b). A seção 4, Contexto da Organização, confere um caráter mais estratégico à norma, sendo necessária a identificação de todas as partes interessadas (internas e externas), suas necessidades e expectativas, bem como o âmbito em que a organização está inserida e seus possíveis impactos no traçado do SGSSO (BSI, 2018b). 18 A quinta seção da ISO 45001 (Liderança e Participação dos Trabalhadores) destaca a importância da participação ativa da liderança na disseminação da cultura de prevenção, e na instalação de políticas, processos e meios de consulta aos trabalhadores. Não só referente à consulta sobre mudanças e identificação de riscos e perigos, a norma prescreve como responsabilidade da organização a quebra de quaisquer barreiras associadas ao aprendizado e adequação – como tempo, meios de treinamento, escolaridade, etc. (CICCO, 2018). A cláusula de Planejamento da ISO 45001 (seção 6) enfatiza a importância da visão estratégica e conhecimento organizacional, uma vez que é necessário identificar não só os riscos e perigos à SST relativos às situações internas e externas, mas também associadas às relações interpessoais entre funcionários, bem como oportunidades de melhoria do sistema. Dessa forma, é fundamental que a etapa de planejamento seja realizada em concordância com os resultados obtidos na seção 4, conforme ilustrado na Figura 3 do item 2.3.1 (CICCO, 2018). A seção 7, Suporte, não sofreu grandes modificações no que diz respeito à disponibilidade de recursos e competência dos profissionais. No entanto, apresenta informações mais detalhados no que diz respeito à comunicação interna e externa. Também é introduzido o conceito de informação documentada (englobando também mídias digitais, nuvem, etc.), substituindo “documentos” e “registros” utilizados pela OHSAS, apesar dos requisitos serem similares (BSI, 2018b). A oitava seção, Controle, trata da aplicação e execução daquilo que foi planejado, sendo, segundo Cicco (2018), significativamente aprimorada em relação à certificação anterior, chamando atenção para a utilização do conceito de hierarquia de controles (detalhado no item 2.4.5 deste trabalho), bem como subitens específicos relativos à aquisições e gestão de mudanças. Essa adição implanta no estabelecimento de processos de avaliação de riscos relativos à cadeia de suprimentos da organização, desde equipamentos até contratações e subcontratações, bem como os impactos (positivos e negativos) das modificações associadas e previstas. A seção relativa à Avaliação de Desempenho (seção 9) foi atualizada, apresentando um caráter mais congruente com o observado nos sistemas de gestão da qualidade, dando maior ênfase aos processos monitoramento, análise e avaliação, bem como a determinação de informação relevante (BSI, 2018b). Os requisitos de ações preventivas anteriormente presentes na antiga certificação foram removidos da seção 10 (Melhoria), dado o caráter preventivo da ISO 45001 e sua estrutura focada em risco (como por exemplo a hierarquia de controles mencionada na 19 seção 8 da norma). Os requisitos relativos à melhoria contínua também foram detalhados, similarmente ao feito na seção 9 (BSI, 2018b). Darabont et al. (2016) destaca que a gestão de riscos é frequentemente uma das dificuldades de implantação dos sistemas devido ao conhecimento incompleto sobre suas potenciais consequências. Apesar dos profissionais de segurança serem capacitados na identificação de tais problemas e consequências, a introdução de uma visão mais estratégica no sistema proposto pela norma pode agravar essa dificuldade, pois necessita que os gestores identifiquem também os riscos externos à organização (comum nos sistemas de gestão da qualidade) e também aqueles associados às partes interessadas. No entanto, realizar a análise baseado em um cenário estratégico pode ser também uma vantagem, pois permite endereçar não só situações de risco à SSO, mas também aqueles relacionados à qualidade e meio ambiente – congruente com a proposta da ISO 45001 de facilitar a integração com os demais sistemas (BSI, 2018b; DARABONT et al., 2016). 2.3.3. Processo de certificaçãoDe acordo com Moreira e Pacheco (2017), pode-se definir a certificação como um processo onde é verificado, atestado e declarado por uma terceira parte acreditada – através de um certificado – que o sistema de gestão de uma organização auditada cumpre com um conjunto de requisitos especificados em um determinado padrão normativo estabelecido. No Sistema Brasileiro de Certificação (SBC), organizações acreditadas são aquelas reconhecidas formalmente pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) como tecnicamente competentes para a realização de serviços específicos, denominadas OAC – Organismo de Avaliação da Conformidade (INMETRO, 2017). Como a ISO 45001 foi publicada recentemente, em Março de 2018, existem duas formas de as organizações interessadas obterem a certificação. Fica estabelecido pelo Fórum Internacional de Acreditação (IAF), em conjunto com o OHSAS Project Group e Comitê ISO que as organizações já certificadas na OHSAS 18001 têm um prazo de 3 anos, a partir da data de publicação da ISO 45001, para fazer a migração de seus sistemas para o novo padrão. Já aquelas não certificadas podem buscar diretamente a certificação ISO 45001 (IAF, 2018). Segundo o IAF, o processo de migração possui seis etapas fundamentais. As organizações interessadas devem obter uma cópia válida da norma ISO 45001 e identificar 20 as possíveis pendências e lacunas presentes no SGSSO que devem ser sanadas para o atendimento dos requisitos. Em seguida, devem ser traçados os planos e medidas necessários para tais. As organizações devem garantir que os profissionais e colaboradores envolvidos possuam as competências necessárias para o bom funcionamento do SGSSO, provendo os treinamentos e recursos necessários para sua capacitação sempre que necessário, bem como sensibilizar as partes interessadas sobre tais (IAF, 2018). De posse dos conhecimentos sobre as mudanças e dos recursos necessários (humanos, técnicos, financeiros, etc.), as organizações devem implementar as ações definidas e atualizar seus SGSSO, comprovando sua efetividade e o atendimento dos requisitos faltantes (através de documentação, auditorias, e outros meios necessários). As organizações devem trabalhar em conjunto com seus respectivos OAC (no caso do Brasil), de forma a obter os auxílios e informações relativas a quaisquer procedimentos específicos além dos descritos pelo Fórum (IAF, 2018). Já para aquelas organizações não certificadas, o processo é realizado da mesma forma que as demais do grupo ISO. De maneira geral, o processo é muito similar ao anteriormente empregado na OHSAS 18001, a maior diferença sendo que as certificações ISO emitidas pelos OAC possuem acreditação pelo INMETRO – por conta dessa grande similaridade, fez-se uso da bibliografia referente à certificação da OHSAS em pontos específicos para auxiliar na sua descrição e dos benefícios decorrentes de sua obtenção. O processo de obtenção da certificação é feito por meio de auditorias externas realizadas por um OAC, durante o qual é avaliada a conformidade do sistema quanto ao modelo estabelecido pela norma e o atendimento de seus requisitos. O processo pode ser feito com o auxílio de consultoria especializada (BSI, 2018a). A organização deve analisar os requisitos da norma e traçar o plano de ações para atendê-los, definindo o escopo de seu SGSSO, os processos e procedimentos necessários (incluindo treinamentos e capacitações) e implementá-los. É comum que as organizações façam uso de consultorias especializadas nesta etapa (muitas vezes os próprios organismos avaliadores fornecem este tipo de serviço), de forma a evitar erros e auxiliar na eficácia de implementação das medidas (BSI, 2018a; ISO, 2018a). A descrição dos requisitos da ISO 45001 e seus objetivos é feita no item 2.4 deste trabalho. A organização deve operar seu sistema, coletando e documentando as informações necessárias sobre o funcionamento e eficácia dos processos implementados e do SGSSO, conforme os requisitos da norma, e realizar auditorias internas a fim de identificar lacunas no sistema e tomar as ações necessárias para saná-los. De posse das informações e registros 21 necessários, o processo de auditoria de certificação é iniciado, sendo composto de duas etapas (BSI, 2018a; ISO, 2018a). A primeira consiste de uma avaliação documental pelos auditores, a fim de verificar o cumprimento dos requisitos da ISO 45001, e produz um relatório de conformidades e não- conformidades – de posse deste, o auditado deve corrigir todas as pendências identificadas. Feito isso, inicia-se a segunda etapa, onde os auditores avaliarão todas as informações documentadas recolhidas durante a operação do SGSSO, inclusive relatórios das auditorias internas e correções conforme os resultados da primeira etapa. Ao final desta é emitido o parecer sobre o sistema e sua eficácia e, comprovado o cumprimento dos requisitos da norma e das recomendações anteriores, a certificação é recomendada pelo OAC (BSI, 2018a; ISO, 2018a). Diversos autores apontam um número de benefícios associados à certificação do SGSSO, dentre os quais podem ser citados o aumento da credibilidade da organização frente às partes interessadas e ao mercado, melhoria da segurança operacional, do ambiente de trabalho, aumento da produtividade e redução de custos com passivos trabalhistas e indenizações (BEVILACQUA et al, 2016; COSTELLA, 2008; MOREIRA; PACHECHO, 2017). No entanto, a grande quantidade de recursos técnicos, financeiros humanos e tempo necessários à implantação completa do SGSSO podem tornar o processo exaustivo, principalmente devido ao desgaste e falta de colaboração das equipes por conta das mudanças nos procedimentos e cultura de trabalho – estas, inclusive, são consideradas uma das maiores causas de falhas na implantação dos sistemas (BEVILACQUA et al, 2016; CHEN et al., 2009; MOREIRA; PACHECHO, 2017). Dessa forma, Fernández-Muñiz et al. (2012) apontam as medidas de conscientização e sensibilização, engajamento da gestão e a eficácia dos processos de comunicação interna como os fatores decisivos ao sucesso do SGSSO. 2.3.4. Panorama de aplicação Como a ISO 45001 substituiu a certificação OHSAS, conforme descrito no item 2.3.3 deste trabalho, as organizações ainda estão em processo de transição e adequação de seus sistemas para o modelo novo, dessa forma ainda não existem dados publicados sobre o número de certificações da ISO 45001. Como o prazo de migração da certificação OHSAS para ISO 45001 ainda está em vigor, conforme descrito no item 2.3.3 deste trabalho, ainda não existem dados publicados sobre o número de empresas e organizações certificadas no novo padrão. Assim sendo, neste item são apresentados os dados relativos à certificação OHSAS, uma vez que é 22 esperado que as organizações certificadas acatem o novo padrão internacional, bem como sua contextualização perante as certificações ISO 9001 e ISO 14001. De acordo com Lo et al. (2014), o panorama de certificação dos SGSSO vem crescendo mundialmente desde a publicação original da OHSAS em 1999. As pesquisas conduzidas pelo OHSAS Project Group indicam que o número de empresas certificadas no padrão cresceu de 8.399 em 2003 para 56.254 em 2009, chegando a 104.480 em 2011 (OHSAS PROJECT GROUP, 2011, 2012). No mesmo período as certificações na ISO 14001 cresceram de 34.996 para 22.974, enquanto as dos modelos de qualidade da ISO 9001 somavam, globalmente, 1.106.356 em 2016. No Brasil, o número de organizações certificadas na OHSAS 18001 cresceu de 217 para 834 entre 2004 e 2013, apontando para um aumento da preocupação e interesse das empresas nacionais com a SSO e os benefícios que estes trazem. A publicação destaca, no entanto, que o resultado da pesquisa é parcial, pois apenas 8 dos 10 organismos certificadores participaramdo estudo (REVISTA PROTEÇÃO, 2014). Já sobre a ISO 9001, estudos apontam que o número de empresas certificadas cresceu de 6.952 em 2010, sendo 777 atuantes na ICC, para 20.908 em 2016 (ALBUQUERQUE, 2010; QUALYTEAM, 2017). Durante a pesquisa não foram identificados os quantitativos das certificações de SGSSO por setor da indústria e, consequentemente, da ICC. Entretanto, publicações isoladas de revistas e empresas da construção civil que divulgam suas certificações apontam para uma maior incidência dessas certificações em construtoras e indústrias de materiais de construção de grande porte (ANDRADE GUTIERREZ, 2018; CIMENTO ITAMBÉ, 2018; CONSTRUTORA ELOS, 2018). 2.4 Norma NBR ISO 45001 – Requisitos 2.4.1. Seção 4 – Contexto da Organização Requisito 4.1 – Compreensão da organização e seu contexto: O primeiro requisito incumbe à organização de determinar quais questões (internas e externas) são relevantes ao seu âmbito de atuação. Além dos problemas primários e potenciais diretamente ligados à SSO, esta cláusula deve englobar também elementos mais estratégicos, como busca por outras certificações, requisitos legais, possibilidades de mudanças, ou seja, todos aqueles temas que possam impactar os objetivos de SSO (ISO, 2018a). Requisito 4.2 – Compreensão das necessidades e expectativas dos trabalhadores e outras partes interessadas: 23 As partes interessadas, ou stakeholders, são indivíduos ou organizações, internas ou externas, que possuem influência sobre ou são impactadas pelas atividades da organização, além dos trabalhadores (como acionistas, residentes do entorno, clientes, etc.). A organização deve determinar quem são os stakeholders relevantes ao SGSSO, suas expectativas e necessidades relevantes, e quais dessas necessidades são, ou tem potencial para se tornar, requisitos legais ou que a organização deva cumprir (ISO, 2018a). Requisito 4.3 – Determinação do escopo do sistema de gestão de SSO: Com base nas saídas cláusulas 4.1 e 4.2, a organização deve traçar seu SGSSO, considerando também as atividades já planejadas e relacionadas ao trabalho, incluindo todos os elementos que a organização influencia ou controla (como serviços, atividades, produtos, etc.) que sejam relevantes à implantação e desempenho do sistema (ISO, 2018a). Requisito 4.4 – Sistema de gestão de SSO: O último requisito da seção 4 requer que a organização planeje, implemente, mantenha e aperfeiçoe o SGSSO e todos os processos e procedimentos necessários ao seu sucesso e bom funcionamento (ISO, 2018a). 2.4.2. Seção 5 – Liderança e Participação dos Trabalhadores Requisito 5.1 Liderança e comprometimento: A alta direção deve demonstrar comprometimento com a implantação e sucesso do SGSSO, assumindo responsabilidade geral e pela segurança, atuando na prevenção de acidentes, lesões e danos associados às suas atividades (ISO, 2018a). Cabe à ela desempenhar papel ativo, definindo políticas e objetivos de SSO compatíveis com as características e direção estratégica da organização, integrando os requisitos do sistema nos seus processos, disponibilizando todos os recursos necessários para o funcionamento, monitoramento, medição e melhoria contínua do sistema, visando atingir os objetivos traçados (ISO, 2018a). Deve também atuar na comunicação e conscientização de todos os envolvidos quanto à importância do sistema e da gestão de SSO eficaz e seus requisitos, estabelecendo uma cultura de prevenção e segurança congruente com os objetivos e resultados esperados do SGSSO, definindo e assegurando processos de consulta e participação dos trabalhadores, protegendo-os contra possíveis retaliações ao comunicar problemas e desvios (ISO, 2018a). Requisito 5.2 – Política de SSO: A definição e implantação da política de SSO deve estar em conformidade com os objetivos, natureza, características, riscos e oportunidades específicos da organização. 24 Ela deve demonstrar o comprometimento com locais e condições de trabalho seguras e saudáveis, o cumprimento de requisitos legais e opcionais pertinentes, a eliminação, prevenção e redução de riscos de SSO, a melhoria contínua e a participação e consulta dos trabalhadores e seus representantes ao longo de toda a hierarquia. A política de SSO deve ser documentada, comunicada e disponibilizada dentro da organização, bem como às partes interessadas, conforme apropriado (ISO, 2018a). Requisito 5.3 – Funções, responsabilidades e autoridades organizacionais: A delegação de responsabilidades tem por objetivo assegurar a conformidade do SGSSO com os requisitos da ISO 45001 e comunicar à alta direção as informações sobre o desempenho do mesmo. Cabe à direção assegurar que tais atribuições sejam comunicadas ao longo de toda a hierarquia da empresa e devidamente documentadas (ISO, 2018a). Ao passo que a alta direção é encarregada pelo funcionamento do sistema como um todo, os trabalhadores e colaboradores ao longo da hierarquia são responsáveis pelos aspectos do sistema que controlam – por exemplo, uso de EPIs, fiscalização de equipes, inspeção de materiais, etc. (ISO, 2018a). Requisito 5.4 – Consulta e participação de trabalhadores: Os processos de comunicação, consulta e participação dos trabalhadores devem ser desenvolvidos e implantados ao longo de toda a hierarquia e durante as diferentes etapas de concepção e aplicação do SGSSO (planejamento, avaliação de riscos, traçado de medidas e objetivos, definição da política, investigação e controle de incidentes e todas as demais). A organização deve disponibilizar os mecanismos e recursos necessários para tal, promovendo o acesso às informações relevantes de forma oportuna, clara e adequada, assegurando a eliminação de possíveis obstáculos à participação, como linguagem, grau de instrução, tempo ou mesmo represálias. Isso pode ser feito, por exemplo, através de um indivíduo ou entidade que represente os trabalhadores, como a CIPA (ISO, 2018a). 2.4.3. Seção 6 – Planejamento Requisito 6.1 – Ações para abordar riscos e oportunidades O requisito 6.1 é composto de 4 subitens. O primeiro, 6.1.1, define os aspectos gerais necessários à etapa de planejamento. Fica definido que a organização deve identificar e avaliar os riscos e oportunidades relevantes ao SGSSO, seus resultados, à redução de efeitos indesejáveis e a melhoria contínua do mesmo, de acordo com aquilo abordado e identificado nos requisitos 4.1, 4.2 e 4.3. Da mesma forma, devem ser avaliadas as 25 mudanças previstas, sejam temporárias ou permanentes, antes de sua implementação. Tais dados devem ser disponibilizados como informação documentada (BSI, 2018b). O subitem 6.1.2 apresenta definições específicas sobre a identificação e análise de oportunidades e riscos. Nele é descrito que a organização deve definir e implementar processos contínuos e proativos para apontar e analisar tais fatores, levando em consideração as atividades realizadas, rotineiras ou não, os insumos e procedimentos envolvidos, fatores humanos e sociais (carga e horário de trabalho, vitimização, discriminação, etc.), histórico de incidentes, situações de emergência, bem como presença de visitantes, acontecimentos nos arredores da organização que impactem a SSO dos colaboradores e a eficácia dos controles existentes, visando, sempre que possível, a eliminação dos riscos (ISO, 2018a). O terceiro subitem (6.1.3) trata do estabelecimento de processos relativos à determinação de requisitos legais e outros requisitos pertinentes, seu acesso, a aplicabilidade e relevância para as atividades da organização. É necessário que os requisitos identificados sejam mantidos como informação documentada, atualizada e comunicada aos colaboradores e partes interessadas relevantes (pois podem resultar em riscos para a organização), assim como considerados na implementação e melhora do sistema. (ISO, 2018a). O subitem 6.1.4 aborda
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