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FÁRMACOS TIREOIDIANOS E ANTITIREOIDEANOS - São fármacos que vão modular ou vão atuar sobre síntese, liberação ou combater patologias relacionadas a esses hormônios - Visam deixar os níveis plasmáticos dos hormônios tireoidianos dentro de uma faixa de normalidade • Tireoide - Patologias: hipotireoidismo (↓ da função da tireoide) e hipertireoidismo (↑ função) - Anatomia: no pescoço, abaixo da laringe, na superfície ventral da traquéia; forma de borboleta - Histologia Células foliculares ou acinos: responsáveis pela síntese de Triiodotiroxina (T3); Tetraiodotiroxina ou tiroxina (T4) Uma camada de células foliculares cúbicas formam o folículo, tendo em seu interior uma cavidade com colóide Células parafoliculares ou célula C: Calcitonina (atua no metabolismo do cálcio) Localizadas ao lado dos folículos • Síntese dos hormônios - Iodo: provém da dieta; principal elemento para a síntese de HT. Não tem só no sal, vários alimentos têm. O iodo ingerido é reduzido a iodeto no trato digestivo e absorvido pelo intestino delgado - O iodeto, por meio da circulação, chega a porção basal das células foliculares, onde tem o transportador Na-I por meio de simporte (dependente de ATP) → o iodeto passa para o meio intracelular das células foliculares - Dentro das células foliculares os íons iodeto irão migrar para o interior da cavidade folicular. E dentro dessa cavidade haverá interação do iodeto com a glicoproteína tireoglobulina (670kDa) - A tireoglobulina é expressa apenas na tireoide e é responsável por cerca de 80% do conteúdo proteico presente na cavidade folicular. - A tireoglobulina apresenta até 150 residuos de tirosina que é a base para formar os hormônios tireoidianos - A interação entre tireoglobulina e iodeto não é espontânea, é preciso que o iodeto passe por um processo de oxidação que é intermediada pela enzima tireoperoxidase (utiliza peróxido de hidrogênio para fazer essa oxidação). Então, o iodeto oxidado pode acoplar-se aos resíduos de tirosina - Quando um iodeto é acoplado ao resíduo de tirosina irá se formar a monoiodotirosina – MIT; ou pode haver interação de dois iodetos com um resíduo de tirosina formando diiodotirosina – DIT. PROCESSO DE ORGANIFICAÇÃO. - Ainda na cavidade, catalisado pela tireoperoxidase: MIT + DIT = T3; DIT + DIT = T4 . PROCESSO DE ACOPLAMENTO. - Na sequência ocorre endocitose da tireoglobulina iodada com as interações MIT/DIT e DIT/DIT → endossomo se funde à membrana do lisossomo → proteases clivam a tireoglobulina, liberando T3, T4, MIT e DIT - T3 e T4 ganham a circulação e distribuem-se pelo organismo; dentro da celula a MIT e a DIT podem sofrer deionização para que o iodo seja reciclado. T4 É 90% DO LIBERADO E 9% T3 E 1%T3r. Tem mais T4 por que T4 tem meia vida maior 6-7 dias, e T3 é 4x mais potente (age rápido de meia vida curta 1 dia); T4 (menos potente, meia vida longa, funciona como uma reserva) - Ainda dentro das células foliculares o T4 pode ser convertido em T3. O T4 é o que está em grande quantidade circulando pelo plasma, contudo o que tem maior ação é o T3. Então nas células foliculares ou nos tecidos onde esses hormônios irão atuar, há necessidade de conversão desse hormônio T4 em T3, e as desiodinases (iodotironina 5’-desiodinase do tipo I, II e III) que são responsáveis por essa conversão. Enzimas estão presentes na placenta que transformam em T3r, não atuam o hormônio tireoidiano no feto. Se produz em excesso, diminui 5’-DII, e vice-versa. Por isso se administra T4 e não T3, pq T4 pode ser convertido. A desiodinase também regula os hormônios, quando produz pouco HT, ela aumenta atividade e compensa. • Conversão periférica, transporte e eliminação dos hormônios tireoidianos - Tipos de 5’-desiodinase Tipo I: fígado, rim e tireoide Tipo II: cérebro, hipófise e BAT 5D: placenta, pele e cérebro (essa enzima irá formar um T3reverso, que é inativo, como uma forma de eliminar T3 do organismo) - Na corrente sanguínea esses hormônios são transportados ligados a proteínas plasmáticas, globulinas que se ligam predominantemente em T4 - Porção ativa: a que circula livre - Ligação a proteínas: retarda a eliminação do hormônio - T4: meia vida de 6-7 dias - T3: meia vida de 1 dia - Degradação hepática Hipotireoidismo (pode causar mixedema) Hipertireoidismo (pode causar tireotoxicose) • Regulação dos hormônios tireoideanos - Síntese e liberação de T3 e T4 estimulada pelo TSH (hormonio tireo-estimulante) que é liberado pela adenohipófise - O TRH (hormônio de liberação) é liberado pelo hipotálamo, ganha a circulação do sistema porta- hipofisário e estimula adenohipofise a liberar TSH - T3 e T4: feed-back negativo sobre a adeno-hipófise e o hipotálamo → manter a homeostase do sistema • Mecanismo de ação - Homeostase metabólica - Crescimento e desenvolvimento (usou exemplo do girino que se desenvolve sobre estimulo de HT) - Sítios intranucleares: HT se ligam a receptores intracelulares o qual se liga à uma região promotora (que promove a transcrição de determinados genes), esse receptor pode estar ligado a um outro receptor formando dímeros (forma um homodimero) ou a um receptor retnoide (formando um heterodimero), esses receptores não conseguem desencadear a transcrição dos genes porque é necessário a presença do hormônio para deslocar o correpressor; desta forma o complexo, receptor-hormonio-coativador pode estimular - A maioria dos tecidos tem desiodinase, que converte T4 em T3, com isso em sua maior parte é o T3 que ativa o receptor - Sítios extracelulares: receptor de membrana é ligado à proteína Gs ou Gi, com aumento ou diminuição de AMPc respectivamente, leva aumento ou diminuição as PKA respectivamente, facilita contração do miocardio. • Efeitos dos hormônios tireoidianos - Sobre o metabolismo Aumento da lipólise – tem um efeito na homeostase metabólica Hiperglicemia (glicogenólise e gliconeogênese) Colesterol → sais biliares Efeito calorigênico: produção de calor com aumento do consumo de o2 – especialmente no coração, com aumento da taxa metabólica (coração, rim, fígado e músculo - Estimulo do desenvolvimento cerebral: ausência de HT durante a neurogênese ativa (até 6 meses pós-parto) → cretinismo (no hipotireoidismo) - Amplifica ação das catecolaminas nos receptores beta-adrenergico – o HT sensibiliza o miocárdio a ação das catecolaminas, por isso o taquicardia Mais evidente em indivíduos que tem hipertireoidismo; pode ser acompanhado de aumento da força de contração - Ação cronotrópica e ionotropica positiva - Aumenta motilidade intestinal: o individuo que tem hipotireoidismo apresenta constipação • Anormalidades da função tireoidiana - Função normal: eutireoidismo - Redução da função: hipotireoidismo - Aumento da função: hipertireoidismo - Consistem em patologias que manifestam-se por alterações qualitativas e quantitativas na secreção hormonal ou por aumento da glândula - Maior incidência em mulheres - Hipotireoidismo: mixedema ↔ acúmulo de glicosaminoglicanos na região cutânea → lábios mais espessos, unhas mais grossas. - Hipertireoidismo (tireotoxicose = níveis plasmáticos elevados desses hormônios) Obs: a questão da exoftalmia observada no hipertireoidismo (síndrome de Graves), esses hormônios acabam estimulando o processo inflamatório ao redor do globo ocular, fazendo com que haja essa exoftalmia FARMACOLOGIA DO HIPOTIREOIDISMO • Reposição de iodeto: voltado para as áreas endêmicas (deficiência na ingestão de iodo) • Reposição dos hormônios tireoidianos: terapia farmacológica que mimetiza T3 e T4 - Não se faz estimulo a produção por que algumas causas de hipotireoidismo não se deve a deficiência de iodo, mas pode ser por doenças autoimunes (doença de Hashimoto); doença imune que atacam a tireoperoxidase e/ou outras enzimas envolvidas na produção dos hormônios T3/T4, com isso não adiantaestimular - Tireoidite de Hashimoto: doença auto imune contra enzimas tireoperoxidases que estão envolvidas na produção de HT; também tem uma doença autoimune que agem nos receptores de TRH, com isso não tem como estimular a adeno-hipófise a produzir TSH - Doses individualizadas - Uso crônico: por ser geralmente causado por doença auto-imune • Levotiroxina sódica (T4) - Euthyrox; Puran-T4; Syntroid; Tetroid Nome comercial Laboratório Apresentação EUTHYROX® Merck Comp. 25-50-75-100-125-150- 200-225 μg PURAN-T4® Sanofi Comp. 25-50-75-100-125-150 μg SYNTROID® Knoll Comp. 25-50-75-100-125-150 μg TETROID® Aché Comp. 50-100 μg Está no RENAME: levotiroxina sódica 25, 50 e 100 mcg. Ruim, pois tratamento é individualizado. Não prescrever de laboratório diferentes. NÃO FRACIONAR - Doses VO adulto: 50-100 μg/dia VO criança: 25-50 μg/dia Administração por VO, em jejum. Melhor absorvida em ambiente ácido, se pessoa usar inibidor de bomba de prótons de uso crônico, assim, diminui absorção do fármaco. ➢Ajustar a dose em usuários de IBP (inibidor de bomba de proton) ➢ Liga-se fortemente às proteínas plasmáticas (99,9%) tem mesma cinética dos hormônios naturais. Atentar para para pacientes com baixa proteína. - Observações Iniciar rapidamente tratamento em crianças, para evitar o cretinismo (desenvolvimento físico e intelectual devido diminuição da atividade tireoidiana), por isso a triagem no teste do pezinho é tão importante Liga-se a proteínas plasmática mesmo sendo sintéticos→ A administração se dá em jejum Pode ser administrado em gestantes, por não haver evidencias de riscos (FDA) • Liotironina (T3) – Cynomel; VO - Somente em casos de coma mixedematoso (início rápido e duração menor 1 dia). Se só aumentar a dose de T4, tem efeito intenso mas menor pois é menos potente, e 1 semana de dose excessiva de HT. - Muito importante em emergência quando o paciente está grave com hipotireoidismo, isso porque tem inicio de ação rápido. Porém não é sinônimo de resolução, pois quando o paciente tem um quadro de hipotireoidismo muito severo há grande chance dele não sobreviver • Liotrix (T3 + T4) – Tyroplus ; VO - Não há evidência de risco em gestantes (mas melhor não usar. Dose maior de T4 pode não funcionar, pela baixa atividade de desiodinase. • Efeitos adversos: isso principalmente quando eu administro doses além do necessário → indução de hipertireoidismo. Mais frequentes no inicio do tratamento ou quando usadas altas doses - Aumento da FC e da PA - TGI: cólicas, vômitos e diarréia - Fadiga, fraquesa muscular - SNC: insônia, cefaleia, ansiedade, irritabilidade - Dificuldades na respiração e falta de ar - Intolerância ao calor, transpiração excessiva - Queda de cabelo • Precauções - Criança - DM, HAS - Insuficiência hepática: isso porque para a eliminação do hormônio ele é associado ao glicuronídeos nos hepatócitos, e esta etapa pode ser prejudicada com a insuficiência hepática - Mulher em fase de lactação - Distúrbio do ritmo cardíaco - Hipertireoidismo - Insuficiência coronariana e IC * Fármaco de primeira escolha: Levotiroxina sódica (T4), porque tenta reproduzir o que acontece em nosso organismo FARMACOS DO HIPERTIREOIDISMO Terapêutica do hipertireoidismo: ➢ Tireoidectomia ➢ Iodo radioativo ➢ Fármacos antitireoideanos - Adenomas, carcinomas de tireoide ou Sindrome de Grave (quando o sujeito tem doença auto- imune, pois eu tenho um anticorpo que se liga aos receptores de TSF na tireoide, promovendo assim uma estimulação constante, o que desencadeia maior produção de HT) • Tireodectomia: indicado para carcinoma de tireoide - Remove-se parte da glândula - Fármacos entram como adjuvantes • Iodo radioativo: isótopo 131 – combate essas células - VO: única dose → persiste por longos períodos (1-2 meses) nas células foliculares, destruindo-as (ação citotóxica) - É processado na tireóide como iodeto → emite radiações beta e gama Beta: ação citotóxica → destrói células foliculares Gama: sem ação citotóxica, mas consegue atravessar aquelas células → útil com diagnóstico (identificação através de cintilografia → vê a quantidade que se acumulou nessas células) V.O.: processado na tireóide como o iodeto - emite radiações β e γ - destruição do parênquima da tireóide e necrose epitelial Indicações: - Indicações Carcinomas após tireoidectomia Idosos e cardiopatas Doença de graves Recidivas após tireodectomia subtotal ou com tratamento prolongado com antitireoideanos Para garantir que ele vai se concentrar na tireoide, tem que tireoide estar sedenta por iodo. 2 formas de esvaziar tireoide: dieta de restrição total de iodo ou administrar TSH recombinante (muito caro). Não faz com drogas antitireoidanas pois ela não retira iodo da tireoide, só inibe síntese. - Administrado em dose única: efeito citotóxico dura de 1 a 2 meses - NÃO deve ser administrado em crianças nem em gravidas. Este fármaco atravessa a barreira placentária e pode destruir células foliculares do feto, fazendo com que ela tenha hipotireoidismo e consequentemente cretinismo FARMACOS ANTITIREOIDIANOS • Tionamidas - Propiltiouracil (PTU). É O DO RENAME; Tiamazol (MMI) Mecanismo de ação (proposta) - Inibição da enzima peroxidase tireoidiana (POT): inibição das reações de oxidação e inibição da iodação dos resíduos de tirosina. Inibem a síntese de T3 e T4 por interferência na ação da peroxidase tireoidiana (POT ou TPO): inibição das reações de oxidação e inibição da iodação dos resíduos de tirosina e da reação de acoplamento - Inicio de ação é lento (3 - 4 semanas) Propiltiouracil (PTU). DO SUS - Mais indicada - Dose: VO adulto: 300 mg/dia VO criança: 50-100 mg/dia - Efeito adicional: além de inibir a peroxidade tireoidiana, inibe 5’-DII → ↓ conversão periférica de T4 em T3. Isso não significa que ele seja mais potente, pelo contrário, metimazol é mais potente. ➢ Administração por VO, a cada 8 horas ➢ Rapidamente absorvido ➢ Biodisponibilidade: 50-80% ➢ Durante as refeições, mesmo horário. Pois causam irritação, melhor tomar de barriga cheia. ➢ Exames de sangue periódicos Não há evidências de risco de teratogenia (FDA). A maioria dos pacientes alcança o eutireoidismo após 6-8 semanas de tratamento Tiamazol (metimazol) (Tapazol®) - Dose (menor, pois meia-vida é maior) VO adulto: 15-60 mg/dia VO criança: 0,4 mg/kg/dia - 10x mais potente que o PTU - Evidências de risco de teratogenia, mas isso é controverso. Descartar no 1º trimestre. Obs: gestantes podem desenvolver hipertireoidismo, e entre o uso de iodo radioativo e fármacos antitireoideanos, é preferível utilizar fármacos antitireoideanos, dentre eles o propiltiouracil. A maioria dos pacientes alcança o eutireoidismo após 6-8 semanas de tratamento Reações adversas das tionamidas - Icterícia e distúrbios hepáticos - Agranulocitosee leucopenia - Artralgias e artrite - Síndrome lupus-símile - Prurido e exantema A aplasia de medula é rara (0,1% dos pacientes), mas deve ser suspeitada se o paciente em uso desta medicação apresentar febre e dor de garganta. Interações -Medicamentos com iodo (amiodarona) - Anticoagulantes orais (ajustar as doses pelo tempo de protrombina) - Depressores da medula óssea - O PTU pode diminuir a resposta à terapia com iodo radiotivo - Medicamentos com iodo (amiodarona) diminuem o efeito RISCO com esses fármacos: Fenômeno de Jod-Basedow ppte em pacientes com bócio: hipertireoidismo decorrente da administração de iodo ou iodeto ou Efeito Wolff–Chaikoff ppte em pacientes com doença de Graves: hipotireoidismo transitório FÁRMACOS ANTITIREOIDEANOS NA GESTAÇÃO Propiltiouracil (PTU) – droga de escolha para o primeiro trimestre. Cuidado: risco de hepatotoxicidade Metimazol – não deve ser utilizado no primeiro trimestre devido risco de aplasiacutis e embriopatias. É a melhor opção a partir do segundo trimestre Atravessam BP e podem bloquear a tireóide fetal: prescrever a dose mínima necessária. Não indicar nos casos de hipertireoidismo transitório da gestação. O neonato, filho de mulher que fez uso de droga antitireoidiana, pode apresentar hipotireoidismo transitório e deve ser acompanhado nos primeiros meses após o nascimento. ADJUVANTES NA TERAPIA Isso porque enquanto eu estou fazendo uso das antiteroidianos, que tem inicio de ação lenta (3-5 semanas), o paciente está sofrendo com as consequência dos níveis elevados de HT. Com isso, pode administrar: - Betabloqueadores: para diminuir frequência cardíaca → evitar taquicardia - Glicocorticoides: redução dos níveis séricos dos HT (inibição da secreção de TSH e redução da ligação à TBG (ptn carrreadora), assim são secretados mais rápidos) + ↓ exoftalmia (processo inflamatório). Ex.: propranolol - Iodeto de potássio: administrado de forma aguda em doses elevados → bloqueia a ligação orgânica e as reações de acoplamento. Feed back negativo agudo. Uso é momentâneo, tanto dele, quanto da dexametasona. Não é tanto a liberação, é mais a síntese. - A dexametasona em associação com o iodeto pode efetuar uma rápida redução no grau de tireotoxicose. Glicocorticoide faz efeito negativo do eixo hipotalâmico hipofisario. Diminuem secreção de TSH. 2 - Pode ocorrer tolerância com os fármacos antitireoidianos. Daí a necessidade de outras alternativas.