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Cardiopatias isquêmicas 1 Cardiopatias isquêmicas Introdução Múltiplas síndromes relacionadas à isquemia miocárdica. ISQUEMIA MIOCÁRDICA → incompatibilidade entre a demanda metabólica e o suprimento vascular de sangue oxigenado para o músculo cardíaco. CONSEQUÊNCIAS: Insuficiência de oxigênio (hipóxia, anoxia); Suprimento inadequado de nutrientes; Diminuição da remoção de metabólitos. Epidemiologia Responsável por mais de 400.00 mortes anualmente nos EUA e aproximadamente 7 mi por ano em países desenvolvidos. PRINCIPAL CAUSA → ateroclerose; hipertensão, doença cardíaca congênita, endocardite bacteriana, cardítes reumáticas, cardiopatias, outras. A incidência atinge o pico em homens 60 anos e em mulheres 70 anos. FATORES DE RISCO: IDADE → homens 45anos e mulheres 55 anos; HISTÓRIA FAMILIAR DE DOENÇA CORONARIANA PRECOCE OU AVE; DISLIPIDEMIA → LDL160mg/dl, HDL40mg/dl, aumento da lipoproteína A; TABAGISMO, HAS, DM. Anatomia PRINCIPAIS RAMOS VASCULARES: A. CORONÁRIA ESQUERDA → corre lateral e ventralmente entre a raiz do tronco pulmonar e o AE; AA. DESCENTE ANTERIOR DA → irriga a parede anterior do VE, 2/3 anteriores do septo IV, ápice; A. CIRCUNFLEXA CE → irriga a parede lateral do VE. A. CORONÁRIA DIREITA → geralmente, dominantes, irriga o NSA, toda a parede do VD, região póstero-basal do VE, 1/3 posterior do septo IV; RAMOS MARGINAIS VV. CARDÍACAS Cardiopatias isquêmicas 2 VALVAS → tricúspide, bicúspide/mitral, pulmonar e aórtica. Fisiologia 2 TIPOS DE CÉLULAS MUSCULARES NO CORAÇÃO: CÉLULAS CONTRÁTEIS → miócitos - fazem a função mecânica do coração; CÉLULAS CONDUTORAS → distribuem rapidamente os PA; células musculares modificadas; NÓ SINOATRIAL → gera PA espontaneamente (marca-passo); exceto pelo NSA, a capacidade de todos os outros tecidos de gerar PA é suprimida; Cardiopatias isquêmicas 3 NÓ ATRIOVENTRICULAR → diminui a velocidade de condução; garante que os ventrículos tenham tempo suficiente para relaxar e se encher de sangue antes de nova contração; conduções rápidas do nó AV podem levar à diminuição para relaxar do volume sistólico e do DC (síndrome de pré-excitação = Lown Ganong Levine, Wolff Parkinson White) TRATOS INTERMODAIS ATRIAIS; SISTEMA HISPURKINJE → vias de baixa resistência e condução rápida; essencial para contração eficiente. SENTIDO: NSA → tratos intermodais atriais → átrios → NAV → feixes de His → sistema de Purkinje → ventrículos VELOCIDADES feixes de His e Purkinje > feixes atriais > feixes ventriculares > NAV. Histologia As 3 túnicas são homólogas às dos vasos sanguíneos - endocárdio = túnica íntima, miocárdio = túnica média, epicárdio = túnica adventícia (vasa vasorum = coronárias). O pericárdio é composto por 2 camadas, pericárdio parietal (externo) e pericárdio visceral (em contato com o coração e as raízes dos grandes vasos). Fibras transversais e longitudinais, com junções comunicantes, vasos e nervos. Cardiopatias isquêmicas 4 Mecanismos de isquemia cardíaca FLUXO SANGUÍNEO CORONARIANO REDUZIDO → 90% dos casos são devidos a aterosclerose coronariana, vasoespasmo e/ou trombose; pode ser por - dano direto vascular ou causa sistêmica; A aterosclerose causa estreitamento progressivo crônico dos lúmens coronários, um processo que pode ser agravado por ruptura aguda da placa e trombose; Causas incomuns do fluxo comprometido incluem arterite, êmbolos e hipotensão (choque). AUMENTO DA DEMANDA MIOCÁRDIA → taquicardia e hipertrofia (hipertensão); HIPÓXIA DEVIDO AO TRANSPORTE DIMINUÍDO DE OXIGÊNIO SUPRIMENTO DE NUTRIENTES E REMOÇÃO DE METABÓLITOS PRESERVADO → anemia, doença pulmonar, envenenamento por CO ou tabagismo. Síndromes isquêmicas ANGINAS PECTORES → estável (típica), prinzmetal, Cardiopatias isquêmicas 5 instável (atípica); INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO; MORTE SÚBITA CARDÍCA; CARDIOPATIA ISQUÊMICA CRÔNICA. Angina pectoris Dor precordial ou subesternal paroxística (aperto, facada) que ocorre quando a demanda cardíaca excede o suprimento vascular (processos isquêmicos coronarianos). Quando a duração e gravidade da isquemia não são suficientes para causar infarto. A dor é atribuída à liberação de adenosina, bradicinina e outras moléculas que estimulam os nervos aferentes simpáticos e vagais. Processo inflamatório que demanda mais ainda. A isquemia silenciosa é comum na neuropatia diabética em pacientes geriátricos. Epidemiologia Mais comum em homens de meia-idade e mais velhos. As mulheres geralmente são afetas após a menopausa. Dentro de 1 ano após o diagnóstico de angina estável, 10% a 20% das pessoas desenvolverão um IAM ou angina instável. SINAL DE LEVINE → paciente com a mão no peito e tronco inclinado para frente. Classificação DOR TIPO A → definitivamente anginosa; DOR TIPO B → provavelmente anginosa; DOR TIPO C → provavelmente não anginosa; DOR TIPO D → definitivamente não anginosa; DOR DE IAM; DOR DE NÃO IAM. Cardiopatias isquêmicas 6 Angina estável (crônica) Variante anginosa mais comum. CAUSAS Doença coronariana aterosclerótia estável; Um ou mais vasos obstruídos; Gravidade da estenosa é geralmente 70%; Estenose da valva aórtica; Cardiomiopatia hipertrópica (alta demanda); Vasoconstrição induzida por cocaína (verificar em pacientes jovens); Reserva de fluxo coronariano inadequada causada por disfunção endotelial (insuficiente resposta vasodilatadora durante o exercício ou estresse); Ocorre de forma crescente com o nível de esforço e diminui com o repouso. Dor no peito só acontece quando há aumento de demanda sanguínea, mas obstrução impede que isso ocorra adequadamente. Duração aproximada de 30s a 30min. Associada a estenose estável crônica 70% (só depois disso que começa dor). ALÍVIO → nitroglicerina (vasodilatação coronariana). INFRA ST → 1,0mm em testes de stress. Angina de Prinzmetal Vasoespasmo transitório da artéria coronária (com ou sem doença aterosclerótica). Os sintomas não estão relacionados ao esforço e respondem prontamente a nitroglicerina e bloqueador de canal de cálcio. Cardiopatias isquêmicas 7 Pode ser causada por um aumento de TXA2, proveniente de plaquetas dentro de um trombo que recobre uma placa aterosclerótica, ou secreção de endotelina (vasoconstritor). SUPRA ST → isquemia transmural. Angina instável A angina instável (em crescendo) é um padrão de dor que ocorre com quantidades sucessivamente menores de esforço ou mesmo em repouso. Trombo obstrui o vaso e causa dor - se não resolver, pode causar infarto. Frequentemente, é prolongada 20min) e é causada por ruptura da placa aterosclerótica, geralmente sem obstrução trombótica completa ao vaso. Placa maior, com pouco revestimento fibroso, muito instável. É um prenúncio preocupante do IM iminente ("princípio de infarto"). INFRA ST ou SUPRA ST. DIAGNÓSTICO: Ecocardiografia de estresse; Cardiopatias isquêmicas 8 Score de cálcio na TC → scores altos 75% estão associadas a um risco aumentado de IM e morte; se o score de cálcio for intermediário ou alto, deve-se fazer uma angiotomografia coronariana para confirmação da lesão e, logo, um stent ou bypass; Angioressonância e PET → útil para demonstrar anormalidades contráteis e podem diferenciar um miocárdio "atordoado" de miocárdio inviável. Infarto do miocárdio Também conhecido como "ataque cardíaco" consiste na morte do músculo cardíaco, resultante de isquemia grave prolongada. Cerca de 10% dos infartos do miocárdio ocorrem em pessoas com menos de 40 anos e 45% ocorrem em pessoas com menos de 65 anos. Negros e brancos são igualmente afetados. Homens>mulheres (proteção durante a vida reprodutora). Patogênese OCLUSÃO ARTERIAL CORONARIANA CAUSAS: Hemorragia intraplaca ou erosão da placa ou ruptura com trombose sobreposta. Vasoespasmo (fatores liberados por plaquetas); Embolização da circulação coronária FA, endocardite); Isquemia sem aterosclerose e trombose coronariana detectáveis → desordens de pequenos vasos intramurais coronariana (vasculites, anormalidades,doença falciforme, deposição de amiloide nas paredes vasculares - parede rígida - e dissecção vascular). Mudança do endotélio → estreitamento do vaso por placa aterosclerótica → rompimento da placa → trombos e obstrução → isquemia, lesão, infarto na região subendocárdica → remodelamento ventricular (se sobreviver) → cardiopatia crônica. RESPOSTA DA MIOCÁRDIO Isquemia grave gera depleção de ATP e perda da função contrátil em 60 segundos, a qual promove insuficiência miocárdica e tumefação celular (reversível); A privação completa do fluxo sanguíneo por 2030min leva a lesão miocárdica irreversível; O comprometimento grave (mas não o bloqueio completo) do fluxo por períodos prolongados 24h) também causará danos irreversíveis; A necrose (coagulativa) é geralmente completa dentro de 6h de isquemia severa → com extensa circulação colateral coronária, a necrose pode ocorrer em um curso mais prolongado 12h - idosos tem mais colaterais). Cardiopatias isquêmicas 9 Por aproximadamente 30min após o início até a isquemia mais grave, a lesão do miocárdio é potencialmente reversível. Após esse período, ocorre perda progressiva de viabilidade que se completa em 612h. obs.: os benefícios proporcionados pela reperfusão são maiores quando ela se instala precocemente e diminuem progressivamente à medida que ela é atrasada "TEMPO É MÚSCULO" → deve-se tomar condutas precocemente para preservar miocárdio e evitar lesões por reperfusão. A localização precisa, tamanho e características morfológicas específicas dependem: Do local, intensidade e taxa de desenvolvimento das obstruções ateroscleróticas coronarianas devido à aterosclerose e trombose; Do tamanho do leito vascular irrigado pelos vasos obstruídos; Da duração da oclusão; Das necessidades metabólicas e de oxigênio do miocárdio em risco; Da quantidade de vasos sanguíneos colaterais; Da presença, local e intensidade de espasmo arterial coronariano; De outros fatores, tais como FC, ritmo cardíaco e oxigenação sanguínea. FREQUÊNCIA DA CORONÁRIA AFETADA E LOCAL DA LESÃO: A. DESCENDENTE ANTERIOR ESQUERDA 4050% → a área de infarto envolve a parede anterior do VE, próximo ao ápice; a parte anterior do septo IV e o ápice de modo circular; Cardiopatias isquêmicas 10 A. CORONÁRIA DIREITA 3040% → a área de infarto envolve a parede inferior/posterior do VE, parte posterior do septo IV e parede livre inferior/posterior do VD em alguns casos; A. CIRCUNFLEXA ESQUERDA 1520% → a área de infarto envolve a parede lateral do VE, com exceção do ápice. Padrões de infarto TRANSMURAIS → a espessura total da parede ventricular é acometida. A maioria ocorre dentro da distribuição de uma única artéria coronária. São devidos a aterosclerose e alteração aguda de placa com trombose. Mostram supra ST no ECG; SUBENDOCÁRDICOS → limitam-se a 3050% da parede interna do ventrículo. Podem envolver mais território do que perfundido por uma única coronária. Não mostram elevação do segmento ST no ECG - infra ST. Causados por lise de uma oclusão trombótica antes do infarto de espessura total (transmural); MICROINFARTO MULTIFOCAL → ocorre com microembolização de pequenos vasos, vasculite ou espasmo vascular (epinefrina endógena ou drogas como cocaína). Dependendo da extensão e localização do envolvimento vascular, os microinfartos apresentam alterações inespecíficas ou podem até ser eletrocardiograficamente silenciosos. Cardiopatias isquêmicas 11 Repercussões eletrocardiográficas Anatomia morfológica LESÃO REVERSÍVEL → sem alteração, apenas no ME (perda de glicogênio, relaxamento das miofibrilas, tumefação mitocondrial); LESÃO IRREVERSÍVEL → MO apresenta alterações de acordo com o tempo de lesão; ME apresenta ruptura do sarcolema e mitocôndrias com densidades amorfas. Cardiopatias isquêmicas 12 Cardiopatias isquêmicas 13 Normal Lesão reversível, com picnose nuclear, cariólise e polimorfonucleares Fibras musculares separadas por neutrófilos e material granuloso Achado para necrose Cardiopatias isquêmicas 14 Reperfusão Reestabelecimento do fluxo pode restaurar a viabilidade, mas deixa as células fracamente contráteis (miocárdio atordoado) por 12 dias - para recuperar. O miocárdio de reperfusão geralmente é hemorrágico, devido à lesão vascular isquêmica. Miócitos irreversivelmente lesados que são reperfundidos também mostram necrose de banda de contração, devido à sobrecarga de cálcio. Lesão de reperfusão pelo aumento do recrutamento de células inflamatória e lesão microvascular. Progressão do IM Fibras que restaram do IM sofrem hipertrofia compensatória Cardiopatias isquêmicas 15 Após a oclusão da artérias, a função contrátil é perdida primeiro e depois a viabilidade. Se a perfusão não for estabelecida, quase todo o miocárdio da região afetada morrerá. Se o fluxo por reestabelecido, algum necrose poderá ser evitada e o miocárdio será salvo e, pelo menos, alguma função retornará. Quanto antes a reperfusão for estabelecida, maior o grau de salvamento. Entretanto, o processo de reperfusão por si só pode provocar algum dano (injúria por reperfusão) e o retorno da função do miocárdio salvo pode ser retardado por horas a dias (disfunção ventricular pós-isquêmica) - "tempo é músculo". INJÚRIA POR REPERFUSÃO - CAUSAS: Hipercontratura do miócito (aumento do influxo de cálcio e reoxigenação) Disfunção mitocondrial (diminuição da concentração de cálcio mitocondrial e diminuição de ATP e apoptose) Miocárdio isquêmico reperfundido - hemácias fora dos vasos indicam destruição vascular e necrose consolidada, que sofreu reperfusão (piora inicialmente) Cardiopatias isquêmicas 16 EROs (altera proteínas de membrana e fosfolipídios, aumenta o estresse oxidativo e aumenta a inflamação; ativação e agregação leucocitária); Ativação da coagulação (ativação plaquetária, ativação do complemento, levando a disfunção endotelial e microvascular) Metabolismo aeróbico interrompido → acúmulo de metabólitos → oxigênio disponível da reperfusão → geração de EROs → sistema de antioxidação sobrecarregado → danos oxidativos nas células → dano celular gera síntese de citocinas inflamatórias → síntese de IL8 e adesão molecular → neutrófilos e macrófagos atacam tecido reperfundido → lesão tecidual. Marcadores de lesão Enzimas cardíacas → troponina I, LDH, CKMB, mioglobina. Exames de sangue. Depende do tempo após infarto. Definir se há reinfarto. obs.: mioglobina não é específica. Cardiopatias isquêmicas 17 Complicações PROBLEMAS DE CONTRATILIDADE → estase sanguínea que pode levar a êmbolos, AVC, embolia; hipotensão, diminuição da perfusão coronariana e aumento da isquemia, com choque cardiogênico (taxa de mortalidade alta); falha cardíaca congestiva; hipotensão sistêmica e edema pulmonar; NECROSE TECIDUAL → infarto de mm. papilares (infarto de papila) e regurgitamento mitral - falha cardíaca congestiva (aparecimento súbito de sobro); ruptura da parede ventricular (tipicamente nos primeiros 10 dias; ruptura da parede livre causa tamponamento pericárdico; a ruptura do septo provoca um shut esquerda → direta com sobrecarga de volume no lado direito) - tamponamento cardíaco; INSTABILIDADE ELÉTRICA → arritmias; INFLAMAÇÃO PERICÁRDICA → pericardite fibrinosa (síndrome de Dressler - comum após 23 dias de um IM; deposição de material fibrinoso na cavidade do pericárdio); A trombose mural adjacente a uma área não contrátil pode causar embolização periférica; Alongamento de uma grande área de infarto transmural (expansão) pode ocasionar aneurisma ventricular; Hipertrofia e dilatação (remodelação ventricular) do miocárdio adjacente → inicialmente benéfico hemodinamicamente - podem se tornar substrato para aneurismas ou para áreas de isquemia secundária e arritmia Tratamento MONITORAÇÃO → oxigênio para evitar hipóxia, aspirina, nitratos, opiodes para dor; Cardiopatias isquêmicas 18 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO → anticoagulantes, antiplaquetário; TERAPIA DE REPERFUSÃO → fibrinolítico ou angiografia comintervenção coronária percutânea ou ponte de safena coronária; REABILITAÇÃO E MANEJO DO PACIENTE CRÔNICO. TEMPO PARA MANEJO = 90 min - mandar rápido para reperfusão e stent. Prognóstico Quase todos os IMs transmurais que afetam o VE, 15% também envolvem o VD, particularmente em infarto do VE postero-inferior. O infarto do VD isolado ocorre em 13% dos casos. Metade dos óbitos associados ao IM ocorre na primeira hora, a maioria antes de chegar ao hospital. A mortalidade geral é de 30% noprimeiro ano após uminfarto do miocárdio, com 3%4% de mortalidade por ano a partir de então O prognóstico a longo prazo depende, sobretudo, da função ventricular esquerda residual e da extensão de quaisquer obstruções vasculares nos vasos que perfundem o miocárdio viável restante. Progressão da cardiopatia isquêmica Cardiopatias isquêmicas 19
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