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1 2 3 P R E S E N T E D E D E U S 4 5 Dedico esta obra para os adolescentes que precisam de alguma forma se encontrar no mundo. 6 7 Sumário Capítulo I – Primeiro dia............................................................... 10 Capítulo II – O amigo .................................................................... 16 Capítulo III – Nome ...................................................................... 21 Capítulo IV – O amor chegou ....................................................... 25 Capítulo V – São João ................................................................... 28 Capítulo VI – Feira de ciências ..................................................... 33 Capítulo VII – A segunda festa ..................................................... 37 Capítulo VIII – Festival de talentos ............................................... 49 Capítulo IX – Fim do 2° ano .......................................................... 57 Capítulo X – Primeiro dia (parte dois) ......................................... 61 Capítulo XI – A mensagem ........................................................... 67 Capítulo XII – Quarentena ............................................................ 77 Capítulo XIII – Prisão .................................................................... 81 Capítulo XIV – Liberdade .............................................................. 84 8 Capítulo XV – Nathan ................................................................... 90 Capítulo XVI – Cinema .................................................................. 98 Capítulo XVII – Sonho ................................................................. 101 Capítulo XVIII – Rio de Janeiro ................................................... 107 Capítulo XIX – Fernando de Noronha......................................... 112 Capítulo XX – Bahamas .............................................................. 118 Capítulo XXI – Miami .................................................................. 124 Capítulo XXII – Paris ................................................................... 128 Capítulo XXIII – Regresso............................................................ 139 Capítulo XXIV – O fim da jornada ............................................... 145 9 10 Capítulo I – Primeiro dia 11 ra uma segunda-feira. Poderia ser considerada normal, mas não era. Não era pelo fato de que as férias terem se findado. A luz do dia invadiu meu quarto. O cantar dos canários me deram motivação para levantar-me. Sempre fui um dos melhores alunos, mas por algum motivo, não gostava de ir á escola. Talvez pelo fato de ter sido tão ―zuado‖ em minha infância, tenha acarretado essa minha fobia social. Mas como era obrigado levantei-me. Tomei minha ducha matinal e tomei meu café da manhã. Em questão de meia hora eu estava pronto para pegar o ônibus. Andar de ônibus não era algo que eu podia dizer ser meu passatempo favorito. Ficar ouvido algazarra de crianças e vozes insuportáveis me dava dor de cabeça. Por isso eu odiava estar rodeado daquelas pessoas. Depois de trinta e cinco minutos, o ônibus chegava à escola. Para não entrar sozinho, eu esperava no ponto de ônibus, até que minha melhor amiga chegasse com outro E 12 ônibus. Depois de dez minutos ela chegou. Linda como sempre. Na verdade o único motivo pelo qual eu ia para escola, era ela. Ela não tinha outros amigos, assim como eu também não tinha ninguém. Mas não era como se nós fossemos os coitados, sem amigos e isolados da escola. Ao contrário, éramos muito felizes só nós dois. Faltava dez minutos para bater o sinal. Maldito sinal. Aquele que dizia: faltam apenas mil aulas para terminarmos o ano letivo. Entramos na escola. Estava repleta de alunos novatos se sentindo especial por estar estudando na única escola da cidade que tinha ensino médio. Aquilo me dava ânsia de vômito, pois todos, sem exceção, eram ridiculamente feios. Bateu o sinal. Fomos para a nossa sala. Nossa primeira aula era com o professor de matemática, que tinha a fama de não perdoar nada. O primeiro dia era o pior de todos, pois ele gostava de por medo nos alunos para respeitarem ele o resto do ano letivo. Durante uma hora e meia foram explicados 13 ―as regras de conduta do aluno‖. Tocou o sinal do intervalo. Fomos correndo para a fila. A decepção de saber que tinha quatro bolachas para comer, não dava de disfarçar. Pegamos nossa comida e fomos nos sentar. Era a hora de ver os alunos novatos. Deparei-me com um grupo de adolescentes. Logo já percebi que eram novos na escola. Havia duas garotas loiras, um garoto alto e muito magro que usava fones de ouvido, uma morena, e um garoto raquítico, que não acreditei que ia mesmo no ensino médio. Olhei para o lado e vi um garoto de cabelos negros, com o rosto repleto de acne e que andava de um jeito muito esquisito. Ele então, se sentou com o grupo de amigos. Então desviei meu olhar e minha mente para algo mais importante. Tocou o sinal, e voltamos para sala de aula. Resolvi tentar falar com meu melhor amigo. Nós havíamos nos afastado muito no fim de ano. Ele parecia estar diferente, tanto na aparência, tanto no agir. A primeira pessoa que descobriu que eu era gay 14 depois da minha amiga foi ele. Aliás descobriu não, eu contei. Eu era apaixonado por ele na época, por isso tive de contar à ele. Mas nossa amizade permaneceu, aparentemente. Convenci minha melhor amiga, Luana, a ir conversar com ele. Fomos até sua carteira, e eu disse: — Oi. — Oi. — ele respondeu. E foi isso. Começou a ficar um clima estranho. Parecia que nunca tínhamos sido amigos. Luana sussurrou: — Vamos. Eu fui me sentar em meu lugar. No resto daquela manhã, fiquei me perguntando o que eu tinha feito a ele. Não consegui encontrar uma resposta. Lamentei, pois éramos tão amigos no outro ano. Tão amigos que cantamos juntos no Festival de Talentos da escola. Ambos tinham o sonho de se 15 tornarem cantores. Eu tinha feito tanto por ele no outro ano. Ele só foi aprovado, pois durante todo o ano letivo eu o ajudei passando cola e todos os trabalhos eu fazia sozinho. E ele sempre tão mal agradecido e grosso. Mas mesmo assim fiz de tudo para nossa amizade ser forte e ele nunca deixou de ser o meu melhor amigo. E o porquê agora do nada iria virar a cara? 16 Capítulo II – O amigo E 17 sol na janela anunciava o início de um novo dia. A jornada se repetiria mais uma vez. Não havia dormido bem aquela noite, pois havia pensado na pessoa, que um dia talvez tenha sido minha grande paixão durante a noite toda. Na escola tudo estava normal como o de sempre. A não ser é claro, a aula de sociologia com a professora Samira. A melhor aula que alguém poderia ter. Era uma das mulheres mais lindas que eu conhecia. Seu carisma encantava qualquer pessoa. Se você precisasse de algo, podia contar com ela. Ela me ajudou quando eu ia no 1º ano com um problema emocional que eu tive. No recreio tudo era como o de sempre. Eu sempre ficava olhando as pessoas no intervalo. E não podia deixar de reparar no rapaz que tinha um andar engraçado. Ele tinha algo estranho que chamava a atenção de quem o olhava. Voltamos para sala após o curto intervalo. Pensei em dar mais uma tentativa em tentar O 18 despertar a minha amizade com o Jefferson. Passei por sua carteira para tentar ver se ele tinha mudado. Mas ao passar por ele, já me dei conta que não. Ele me viu e rapidamente abaixou a cabeça. Percebi que não era o melhor momento para tentar conversar com ele. Então passei por elesem falar uma palavra, sentei-me em minha carteira e esperei próximo professor chegar. Novamente não prestei atenção em nenhuma palavra das aulas já que fiquei o resto do dia a pensar no Jefferson. Eu não era mais apaixonado por ele, mas de alguma forma ele ainda mexia comigo. Eu ainda sentia algo por ele. Amizade confusa talvez, ou algo mais forte. Uma pergunta que nem mesmo eu podia responder. Eu havia prometido a mim mesmo que não ia mais me apaixonar por ele. Eu sofri muito gostando dele. Teve momentos felizes que irei lembrar para o resto da vida. Mas muitas vezes eu tive de passar noites chorando. Eu era tão apaixonado. Ouvíamos música juntos e na escola repartíamos o lanche. Nós 19 passamos por tantas coisas. Meu coração não parava de chorar por eu não falar com ele. Na noite do mesmo dia cheguei extremamente exausto em casa. Um banho e minha cama eram tudo o que eu precisava. Mas mesmo tão cheio da vida eu realmente precisava esclarecer aquilo. Nem que acabaria com qualquer chance de sermos amigos, mas eu precisava de respostas, eu precisava saber. Resolvi mandar uma mensagem no Whatsapp a ele: Ele não respondeu. Então naquela noite fui dormir sem respostas. Oi Por que está me evitando e virando a cara pra mim? 20 Acordei com o despertador anunciando o dia. Como o habitual, peguei meu celular para ver minhas notificações. Havia uma mensagem no Whatsapp. O meu dedo clicou automaticamente. A mensagem dizia: Ver aquela mensagem me deu certa raiva, pois era evidente que era ao contrário do que ele estava falando. Mas como sempre na vida eu pensei algo e falei outra coisa. Quem está virando a cara é você, e fica só me esnobando. Se eu fiz algo que parecesse que tava esnobando você, foi mal, mas eu tava tentando te esquecer. Você ainda é e sempre será meu amigo 21 Capítulo III – Nome 22 lgumas semanas depois, tudo estava igual. Eu ia à escola, ia para o trabalho e então voltava para casa. No outro dia tudo se repetira novamente. Estava quase tocando o sinal do intervalo. Eu e minha amiga nos preparávamos para correr para a fila do lanche. Quando tocou o sinal, Luana saiu em disparada. Eu acabei ficando para trás, já que havia ficado atrás de umas pessoas lerdas. Quando consegui chegar à fila, ela já estava enorme. Então procurei pela Luana. Ela estava no meio da fila. Aproximei-me e furei a fila dela, já que ela sempre furava a minha. — Não! Se quiser vai atrás de mim. Olhei para trás dela, para ver quem era. Era o menino do cabelo preto e que andava estranho. Fiquei com vergonha de pedir pra ele ceder um furo. — E se o coleguinha deixar. — disse Luana. — Ele deixa, ele é gente boa né — falei olhando para ele. A 23 Ele com vergonha e muita timidez, fez sinal com a cabeça, dizendo sim. Ele ficou tão envergonhado que sua face ficou vermelha. Naquele dia me peguei olhando para ele no intervalo. Eu não o considerava feio. Mas por que eu estava olhando tanto para ele? No intervalo do outro dia, eu estava louco para saber o nome do menino do andar engraçado. Eu não queria pedir a Luana, pois ela iria querer saber o porquê de eu querer saber. Então para não ser tão óbvio falei: — Por que não damos um furo para aquele menino que me deu um furo ontem. — Vamos. — disse ela. — Como é o nome dele? — David Então ela o chamou gritando seu nome e fazendo sinal com a mão que ele podia vir na nossa frente. Ele fez sinal com a cabeça dizendo não. Mas só de eu saber o nome dele já bastava. Agora eu não via a hora de ir para casa para pesquisá-lo no Facebook. 24 Cheguei em casa á noite. Fui direto pegar meu celular e logar no Facebook. Encontrei várias pessoas com o nome David. Então dessa vez pesquisei como David Salete, que era a cidade em que morávamos. Dessa vez pela foto consegui achá- lo. Espionei-o, vi coisas da sua vida, as fotos dele – que não eram muitas – e vi fotos de sua família. Para minha surpresa éramos amigos no Facebook desde 2017, e eu nem sabia. Naquela noite minha cabeça teve uma revira volta. Ao invés de eu pensar no Jeff como em todas as noites, eu pensei no David. Era tão bom pensar nele. 25 Capítulo IV – O amor chegou 26 or uns três meses, guardei tudo aquilo para mim. Não contei nada a ninguém. Nem para a Luana, que era a pessoa que eu contava tudo, minha confidente. Não tinha um dia que eu não pensava nele. Ele era meu porto seguro. As minhas pernas não paravam de tremer só de ver ele. Até que um dia eu decidi que precisava contar a Luana. Contei durante o recreio. Estávamos falando sobre a turma do 1° ano. Então no meio da conversa eu contei que amava o garoto do andar estranho. Ela deu uma risada sem jeito e perguntou meio espantada: — Sério? — Sim. — respondi. — Puts Victor eu acho que ele não curte caras. Eu sei disso porque uma vez, ele pediu pra mim ficar com ele. — Sério? — Sim. P 27 Aquilo foi uma facada no coração. Mas de algum modo não abalou o que eu sentia por ele, mesmo agora sabendo que não tinha jeito de eu conseguir ter meu amor correspondido. 28 Capítulo V – São João 29 ra a semana da Festa de São João. Todas as turmas preparavam uma apresentação para o dia da festa, que haveria na escola. O 2º ano – no qual eu estudava –, era responsável pelo pau-de-fita, pelo segundo ano consecutivo. Eu não era muito fã do pau-de-fita, mas aceitei participar. Era um “chá de tentativas e mais tentativas”, pois por incrível que pareça, tem pessoas que não tem capacidade de seguir uma simples regra: por cima, por baixo. A direção da escola e o Grêmio Estudantil se empenhavam nos preparativos da festa. Naquele ano haveria uma barraca diferente na festa, um correio do amor. Parece meio clichê essa coisa de amor de escola e felizes para sempre, mas eu verdadeiramente acreditava que um dia eu ia encontrar o amor. Por isso senti certa empolgação ao saber da barraca. Planejei por alguns dias, mais precisamente por duas semanas, uma carta ao David. Na véspera da festa eu escrevi-a. Palavras, meras palavras, mas E 30 que podiam mudar minha vida, tanto para melhor, tanto para pior. Querido David Escrevo esta carta para te dizer que sou muito apaixonado por você. Não tenho coragem de falar pessoalmente e nem de me apresentar, por isso te escrevo por trás desta, e te envio anonimamente. P.S. Você não sabe, mas saberá um dia. Chegou o grande dia. Foi difícil apresentar o pau-de-fita na frente da escola inteira. Mas por um lado era bom. Eu estava usando uma camisa xadrez – novidade nenhuma, já que era uma festa junina –, uma calça jeans que eu tive de rasgar só para a festa e um coturno preto. Após as apresentações era a hora do intervalo. 31 E eu com uma carta no bolso, prestes a ser entregue. Foi quando eu vi o David pela primeira vez no dia, ele estava lindo. Eu e meus amigos comemos. Então para manter o sigilo, Luana comprou um correio do amor, já que eu não podia me expor. Para você que talvez não faça a menor ideia do que é um correio do amor, são bilhetes pré-escritos com uma mensagem melosa, e o bilhete vem acompanhado de um chocolate. Tenho uma critica até hoje para aquele correio do amor, já que com a palavra correio as pessoas esperam que os bilhetes sejam entregues aos seus destinatários. E naquele dia parece que o conceito de correio mudou, e na verdade não bastava de uma barraca de venda de bilhetes, já que se você quisesse que a carta fosse entregue, você mesmo entregava. Novamente meu anjo da guarda me ajudou. Luana entregou o bilhete e a carta que eu havia escrito. Eu acredito até hoje queela roubou o chocolate, mas não era o chocolate que importava e sim a carta. 32 As semanas passaram. A vida tocou em frente. Eu não o esquecia. Alias nem fazia questão. Ele me pegou olhando para ele algumas vezes. Então supus que ele já devia imaginar. 33 Capítulo VI – Feira de ciências 34 urante várias semanas, tudo em minha vida permaneceu normal. Eu ia para a escola, voltava da escola, ia para o trabalho, voltava do trabalho. Uma rotina tediosa. Mas nesse meio tempo, tive a oportunidade de fazer uma amizade nova. Ele era amigo de uma amiga. Seu nome era Nicolas, e sim, ele era homossexual. Mas o fato de ter a mesma sexualidade que a minha, não me fazia sentir atraído por ele. A minha amizade por ele substituiu a minha amizade pelo Jefferson. Já que ele havia mudado de turno na escola, o que nos fez ficarmos tão distantes. Eu sentia uma enorme falta da nossa amizade. Certo dia, recebemos a notícia de que haveria em nossa escola, a Feira Estadual de Matemática, Ciências e Tecnologia. Com isso várias escolas iriam vir até a nossa, para prestigiar a Feira. Inclusive a escola em que o Nicolas estudava. Então era o dia que eu conheceria meu amigo virtual. D 35 Alguns dias depois recebi a mensagem de minha amiga – a que me apresentou o Nicolas –. Ela queria me dizer que o Nicolas me achara muito bonito e que queria ficar comigo. Eu fiquei em choque, um choque no qual quase não me consegui recuperar. Eu não queria ficar com o Nicolas. Mas para não dizer não de cara, eu disse que eu iria pensar, e responderia no próximo dia. Aquilo me fazia sentir mal, pois eu amava o David. Dava-me uma sensação de traição, mesmo eu não tendo nada com o David, mesmo ele nem se quer saber os meus sentimentos por ele e nem se quer nunca ter trocado uma palavra. Cheguei no outro dia na escola. Logo que a Luana chegou eu contei a ela. Ela me pediu para ver uma foto dele. E então como era o esperado eu mostrei sua foto de perfil a ela. Ela disse que ele não era feio e que eu ia ficar com ele e ponto final. Minhas amigas tinham o hábito de querer me ajudar na minha vida social. Ela falou de um jeito como se fosse ela que escolhesse por mim. 36 Chegado o grande dia, o dia da Feira. Eu estava muito ansioso para conhecer o garoto. Eu não o achava feio, mas eu não queria ficar com ele. Sentia de alguma forma que eu estava traindo ao David. Parece meio maluco isso, mas eu estava mal por isso. Você provavelmente conhece o ditado: “Siga o seu coração”, então, foi exatamente o que eu não fiz. O primeiro beijo, nós sempre esperamos ser especial, mas o meu primeiro beijo não foi. Porque beijar num cemitério, no sol e o seu parceiro ter gosto de sabonete na boca, em minha opinião não é considerado muito romântico e nada especial. E no meio do beijo ele ainda disse: — Tenho que ir pegar meu ônibus. E foi isso. A história do meu primeiro beijo. Eu nunca mais o vi e nunca mais falei com ele. E então foi o fim de uma amizade. Agora eu podia dizer que já havia beijado alguém. Não era mais o completo esquisitão. Mas o que ter beijado ou não alguém quer dizer. Isso não deveria importar. 37 Capítulo VII – A segunda festa 38 ra junho ainda. Estava para acontecer em nossa cidade uma das festas mais tradicionais. A Festa Junina de Santa Margarida. Eu odiava festas. Então era obvio que eu não iria, pois não estava nem um pouco afim. Mas como o coração da gente adora iludir a gente, para ferir a ele mesmo. Comecei a pensar na probabilidade, que agora subira de 0% para 1%. Eu realmente queria me enturmar um pouco mais, queria me sentir cheio de amigos e esquecer meus problemas. E é claro também, o David iria estar lá. Era mais uma oportunidade de ver o seu rosto mais uma vez. Eu realmente achava que a gente podia ficar junto algum dia, mesmo o óbvio me dizendo o contrário. Mas é aquilo que eu já disse, o coração adora pregar peças. Porque se eu tivesse ouvido a voz da razão, eu nunca teria ido até aquela festa. Porque eu mal imaginava o que a noite me guardava. Mas para mim tudo ia bem. Minha amiga Rainara iria estar lá, então o que de tão ruim podia acontecer? E 39 Após chegar à festa, eu fiquei lá, parado, esperando minha amiga aparecer. Eu esperei, e esperei, e esperei. Devia dar uma hora que eu já tinha esperado e nada de ela aparecer. Então decidi que ia dar uma rodada pelo salão, e com sorte eu a encontrasse. No meio da caçada por ela, avistei um de meus professores da escola. Nós éramos um pouco chegados, então resolvi perguntar se acaso ele não havia visto Rainara. Ele estava com sua namorada. Então assim que perguntei, ele se afastou um pouco dela, que estava ocupada conversando com outra mulher. — Ela passou aqui antes. Ela tava arrebentando. Naquele momento, eu pude ver o tamanho canalha que ele era, pois acho que falar da ex perto da atual não é muito ético. É isso mesmo que você leu, ex – que foi, que não é mais, que foi um dia – mas é uma longa história. Um cara que levasse uma garota muito mais nova para flertar na casa da avó, é um digno canalha com C maiúsculo. 40 Resolvi ir para o lado de fora do salão para ver se tinha mais sorte. Quando eu estava chegando à porta de saída, eu o vi no meio da euforia, sim, é exatamente quem você está pensando. Era ele, o motivo pelo qual um antissocial havia decidido ir a uma festa. Ele estava tão lindo. Ele vestia uma camiseta branca e uma calça escura. Estava a conversar com alguns amigos, inclusive um cara que eu havia estudado no 1º ano, que no qual era amigo do Jefferson, e eu podia botar a minha mão no fogo afirmando que o Jefferson contou à ele sobre, você sabe, sobre tudo. Minha vontade era ficar ali o resto da noite olhando ele, admirando o lindo rapaz que ele era, mas tive que seguir o plano, continuar procurando pela Rainara. Sentia-me um peixe fora da água. Todos aqueles adolescentes completamente sociáveis, interagindo uns com os outros. E eu estava lá, no meio da multidão me sentindo desconfortável e inseguro. Eu só pensava qual o motivo de eu estar ali. Andei um pouco pelo lado de fora do salão na 41 dita fé e esperança de que eu ia encontrá-la. E então finalmente depois de quase duas horas de procura, eu a encontrei. Ela estava andando com uma garota, que por coincidência, era a garota que a Luana já havia brigado na escola. Inclusive a Luana ainda tem a lembrança da briga, e sempre vai ter, porque a lembrança é a cicatriz de uma mordida que ela deu na coxa da Luana. Rainara estava vestindo um camisete xadrez, uma calça legging preta com renda transparente na lateral, o que dava um toque sensual, e calçava uma bota de cano alto. Conversamos um pouco e então ela disse: — Vem conhecer alguns amigos meus. Ela andou em direção á um pequeno grupo de adolescentes e tive de ir de atrás. Dentre os amigos dela, eu conhecia um garoto que havia estudado vários anos da infância comigo. Por um instante lembrei que um dia havíamos sido amigos, ou não faço ideia do que éramos. Mas tivemos vários momentos de aventuras quando crianças. Ela nos apresentou e um deles tomou a palavra: 42 — Tu não quer dar uma tragada? Sim eles estavam fumando cigarro, mas o que ele havia me oferecido tenho certeza de que não era cigarro. — Não, obrigado. — respondi. — Ei para! Ele não gosta dessas coisas. — disse Rainara. Eles começaram a rir, supus que era de mim. Então Rainara disse: — Vamos dar uma volta. Andamos e quando chegamos em frente a porta do salão. Ficamos conversando. — Eu vou ficar com o Ricardo hoje! — Ele pediu? — perguntei. — Não, eu vou pedir daqui a pouco. — E como você sabe que ele vai querer? — Eu sei. Eleera o segundo garoto mais lindo da nossa sala qualquer um queria ficar com ele. Mas ele não ficava com qualquer uma. Então um ex da Rainara chegou perto dela. Começou a implorar para ela ficar com ele. E ele 43 estava namorando a irmã de Rainara. Ou seja, outro canalha. — Eu não vou ficar contigo Ronaldo. Quando eu era apaixonada por você, tu nem me dava bola, então agora não vou ficar com você. O mundo da voltas querido! Mesmo assim, depois de levar o maior fora, ele ainda não se cansara de rachar a cara. Ficou ali perturbando por mais uns quarenta minutos. Quando finalmente ele se cansou de perturbar e foi embora, Rainara disse: — Até que enfim foi. Agora eu vou ficar com o Ricardo. Então ela foi em direção a ele, que se encontrava de pé, perto da entrada do salão. Ela me deixou ali sozinho. Ela chegou nele e falou: — Oi. Não tenho certeza se ele respondeu. — Tu tá solteiro? — Não. — respondeu ele. Ela reparou que no dedo dele não havia nenhuma aliança, ou seja, para um bom 44 entendedor, isso é um fora. Tive de rir por dentro, não me aguentei. Ela voltou igual um cãozinho deprimido. Se você pensa que um fora abala a Rainara, você está muito enganado. Ela tinha um espírito festivo que poucos têm. Ela disse então: — Vamos atrás da igreja dançar um pouco. Eu não estava nem um pouco afim de ir, pois já sabia que tipo de dança se tratava. Era exatamente o que eu tinha imaginado. Carros com som automotivo, meninas com short curto em pleno mês de junho e dançando até o chão, bebidas e bem provável que todos eles já tinham feito uso de algo ilícito. Se antes eu já me sentia um peixe fora da água, você não pode imaginar como eu me sentia agora. Eu simplesmente travei e fiquei lá feito um poste. Eu não conseguia me mexer, eu tentava me agitar ao menos um pouco, mas quanto mais eu tentava, mais travado eu ficava. Fiquei um bom tempo lá de pé, só desejando nunca ter saído de casa. A única coisa que eu consegui dizer foi: 45 — Eu vou sair daqui. Rainara foi de atrás de mim insistindo para que eu ficasse. — Eu não volto pra lá! Vamos pra dentro do salão. — Ta bom. Mas depois a gente volta. Assim que entrei no salão, avistei o David perto da entrada. Por um segundo imaginei como seria minha vida se nós dois estivéssemos juntos, apaixonados, de mãos dadas, dando motivo para toda a festa falar. Mas num piscar de olhos a realidade apareceu. Fomos até o caixa comprar um refrigerante. Quando estávamos perto do caixa, alguém apareceu, um alguém que eu reconheceria no meio de mil pessoas. Vestia calça preta e um casaco alaranjado. Era ele, a pessoa que no passado eu daria minha vida por ele, era o Jefferson, o garoto que eu mais havia amado em minha vida. Fazia meses que eu não o via. Se um aparelho medisse minha ansiedade naquele momento, ele iria explodir. 46 Ele caminhava em minha direção. Quando chegou perto ele e Rainara se cumprimentaram com as bochechas batendo uma na outra. Então ele virou-se para mim e disse: — Oi. Falou isso abrindo os braços para me dar um abraço falando: — Ahhhhhhhh! Como se estivesse emocionado de me ver. E então me abraçou. Eu daria tudo para ativar o replay ou o pause daquele momento. Não foi um simples abraço daqueles em que se da um tapinha nas costas, foi um abraço sincero. — Que saudade mano! — eu disse enquanto continuávamos abraçados. O melhor abraço que eu tive em minha vida e um dos melhores momentos que tive em minha vida. Após terminar o abraço, ele foi embora. Eu e Rainara compramos o refrigerante, ela me fez ir em direção de trás da igreja. Mas quando estávamos chegando eu falei: 47 — Eu não vou. Pode ir se você quer, eu vou ficar aqui. — Mesmo? — ela pediu. — Sim. Minha boca falou para ela ir, mas parte de mim gritava pedindo socorro. Então ela foi embora, e eu novamente fiquei sozinho, ali, no escuro. Sentei-me na escadaria da igreja. Comecei a pensar em tudo, no que havia levado a minha vida chegar aquele ponto. Por que o Jefferson depois de eu achar que não existisse mais amizade entre nós, veio me abraçar? Coisa que nunca pensaria que acontecesse. Senti-me como se estivesse diante de um grande precipício com ninguém para me puxar dele, sem ninguém que ligasse, nem que ao menos notasse. Resolvi depois de muito tempo sentado naquela escada de concreto gelada, que eu não iria esperar pela Rainara. Caminhei até os fundos da igreja e disse a ela: — Eu vou pra casa. 48 — Beleza. — ela disse. Tranquei-me em meu quarto e não sai dele. Não leve ao pé da letra. Eu só ficava em paz comigo mesmo em meu quarto. Minha vontade era ficar na cama para sempre. Mas agora, nem em meu quarto eu tinha paz, pois agora, uma tsunami de pesadelos começou a perturbar meu sono. Monstros, cobras, assassinos e muitas outras coisas, agora eram os personagens horripilantes dos meus pesadelos. Eles eram os responsáveis por fazer minhas pernas travarem, sem que eu conseguisse fugir deles. Será que eu nunca ia conseguir fugir de meus problemas? Eles iriam me corroer para sempre? 49 Capítulo VIII – Festival de talentos 50 inha mente agora era dividida em duas pessoas. Tudo o que eu conseguia pensar era neles, nos dois garotos que mais mexeram comigo, David e Jefferson. Eu bloqueei as lembranças ruins que eu tinha do Jefferson, e tentei recomeçar nossa amizade. Naqueles dias resolvi falar com ele através de mensagens. O melhor jeito de eu começar uma conversa com ele era marcando um horário para cortar o cabelo, já que ele era barbeiro. Mal eu sabia que o destino estava prestes a pregar uma peça em mim, e que novamente meu coração estava prestes a ser despedaçado mais um pouco. Ele disse que me aguardava. Fui para a barbearia com o coração na mão, com frio na barriga e com as pernas tremendo. Cheguei à barbearia. Ele já estava me esperando. Fez-me um sinal indicando para eu sentar-me na cadeira. Sentei-me e ele disse: — Casaco show. Era um casaco de moletom do Gusttavo Lima. Posso contar um segredo a você? É nosso segredo M 51 viu. Eu comprei aquele casaco só para impressionar o Jefferson, junto com outra camiseta que é replica de uma que o Gusttavo Lima usou em um DVD. — Como vai querer o corte? — ele perguntou. Mostrei-o uma foto de um modelo. Ele observou por alguns segundos e disse: — Beleza. Era maravilhoso estar ali, com o garoto que eu mais tinha amado na vida. Sentir o toque dele na minha cabeça fazia-me sentir especial. Conversamos um pouco não me lembro de todos os assuntos, mas lembro de pedir: — Como tá na escola? — Mal. Não estou ligando pros estudos. Faltando bastante. Acho que vou parar de estudar. Eu pensei em falar: ―Não desista, você chegou até aqui, agora vai desistir?‖, mas lembrei-me de que ele odeia qualquer um que diga a ele o que fazer. Então fiz o que devia fazer, ou o que eu achava que era o certo, fiquei quieto. Hoje eu penso, será que se eu tivesse o incentivado, talvez as coisas fossem diferentes para ele. Mas eu já havia o ajudado tanto. 52 Levei-o nas costas o 1º ano inteiro, fiz tudo o que pude para ajuda-lo. Hoje vejo que passar cola ou fazer o trabalho sozinho, não é ajudar, é folgar. Ele só passou no 1° ano porque eu fiz incansavelmente meu trabalho como amigo. Talvez ele tivesse problemas que eu jamais iria entender. A dificuldade de ele se abrir para mim era incalculável. No 1° ano ele sofria de algum problema com ansiedade ou estresse. Sofria ataques constantes. Problemas na gastro-digestão começaram a aparecer. Eu só queria ajudá-lo. Mas parecia que ele se abriria para a primeira pessoa que aparecesse em sua frente, mas não para mim. Na verdade não parecia,era a verdade. Pois eu o vi desabafando para uma garota de minha sala na época. Mas eu nunca o julguei por isso, eu só gostaria de saber o porquê. — Você podia tocar violão para mim no Festival de Talentos desse ano? Ele fez uma cara pensativa e permaneceu calado alguns segundos, e disse: — Tá bom. 53 Nas próximas semanas começou o trabalho incansável de escolher o repertório e ensaios. Ensaiei muito. Tanto que quase enjoei da música. Decidi que ia cantar duas musicas da Naiara Azevedo, que era minha cantora favorita. A rotina diária de estudo para o trabalho o dia todo e a noite ensaio era maçante, mas o objetivo era simples, estar preparadíssimo para o grande dia. Aquecimento vocal, exercícios de dicção, de respiração, de ressonância, vocalizes, o repertório e por último o desaquecimento vocal, levavam em torno de uma hora e meia a duas horas, por dia. Estava muito preocupado de ir me apresentar sem ensaiar com o violão, chegar no dia e não atingir o tom e tivesse uma quebra vocal na frente da escola inteira. Então comecei a insistir para que ensaiássemos pelo menos uma vez. Eu estava certo em pedir isso, mas parecia que ele não estava se importando nem um pouco. No começo achei ser normal, pois em nossa apresentação do 1° ano, ele ficou do mesmo jeito, desinteressado. Então decidi parar de insistir. Chegando o dia do Festival eu 54 tinha de decidir a roupa que eu usaria. Comprei uma calça bege e usaria uma camisa azul, que eu nunca havia usado. Um dia antes do Festival eu já estava totalmente preocupado, pois não havia nem um sinal do Jefferson. Informei-me do horário que seria o Festival para avisar ao Jefferson. Quando cheguei em casa, avisei a ele que seria após o intervalo. Então recebi uma mensagem de volta. Aquilo foi o mesmo que levar um choque em alta voltagem. Por que ele havia feito àquilo comigo? O Festival era um dos dias mais importantes da minha vida. Agora estava tudo arruinado. Eu tinha de fazer o impossível para conseguir fazer um playback para conseguir me apresentar, pois eu não podia chegar no dia e dizer que eu não Não vou poder ir Não tô em Salete 55 iria mais cantar. Todo o meu trabalho havia sido jogado no lixo. Tive de procurar outro repertório em algumas horas. Por fim graças a aplicativos de internet consegui diminuir o tom de uma música. Já passava de meia noite quando acabei. Pedi ajuda a varias pessoas que tocavam violão, mas ninguém iria gravar um playback àquela hora para ficar pronto para o outro dia. Quando finalmente acabei, me lembrei de que tinha de levar a música em pen drive. Eu não tinha nem pen drive nem computador. Luana disse que me emprestava o pen drive dela. O computador, usamos o da professora de história. Somente quando eu colei a musica para o pen drive eu pude respirar tranquilo, quer dizer, mais ou menos tranquilo. Foi a pior noite de sono da minha vida. Como em todas as vezes que eu me apresentava na escola, eu ficava muito nervoso no dia. Meu corpo chegava a arder de tão quente. Fui anunciado pela diretora. Agora não tinha mais volta. Andei pelo corredor no meio da plateia, 56 subi no palco, e cantei. Não foi a melhor apresentação do mundo, mas pelo menos me apresentei, não precisei desistir. Naquela noite Luana me enviou uma mensagem. Acho que nunca havia me sentido daquele jeito. Não sabia explicar se era raiva ou se eu estava chateado. Só sei que nunca mais haveria amizade entre nós dois. Eu passei pela barbearia hoje de tarde e o Jeff tava lá 57 Capítulo IX – Fim do 2° ano 58 udo havia passado tão depressa. Quando nos deparamos estávamos em reta final. O natal se aproximando, as festas de fim de ano chegando, viagem da turma, provas finais e muitos outros episódios. Tudo estava tão intenso e estressante. Eu tinha tanta coisa para fazer. No meu trabalho as coisas estavam tão angustiantes. Eu estava pensando em largar ele. No começo eu adorava meu trabalho. Eu me sentia valorizado. Eu me apeguei muito à família de meus patrões. Mas embora o salario não fosse o mais merecido do mundo, eu gostava de trabalhar lá. Mas chegou num ponto em que eu não queria mais ficar lá, eu estava exausto. Eu voltava para casa todas as noites chorando. Só Deus sabe o tamanho sofrimento que eu passei. Eu não me importava mais com nada. Minha mente era um hospício. Mas eu não sofria pelo trabalho, eu sofria pelo cansaço, eu não sei, mas trabalhar e estudar ao mesmo tempo é um pouco complicado. Minhas notas estavam caindo. Por fim eu não aguentava mais, eu precisava seguir outro caminho. T 59 Resolvi então, prestar concurso para menor aprendiz em uma empresa da minha cidade. A vida melhorou bastante, minhas notas subiram novamente. Eu, junto de quatro pessoas tiramos a melhor nota no concurso. Junto com a nota da prova os recursos humanos da empresa analisaram o histórico escolar de cada candidato. Por isso estudar é tão valioso, às vezes nos desanimamos, mas se você se esforçar, um dia alguém enxergará o seu esforço. Foi o que aconteceu no meu caso. No dia da admissão a gestora dos recursos humanos já disse que com certeza eu iria conseguir uma vaga no escritório. Fui selecionado para trabalhar justamente no setor de recursos humanos. Sem falar que agora eu tinha um contrato formal de trabalho, com direitos. No fim do ano nossa turma viajou para Florianópolis. Fizemos um passeio de escuna pelas ilhas e suas fortalezas da capital de Santa Catarina. Foi um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida. 60 Eu continuava a amar o David. Cada vez mais eu gostava dele. 61 Capítulo X – Primeiro dia (parte dois) 62 ra uma segunda-feira. Poderia ser considerada normal, mas não era. Não era pelo fato de que as férias terem se findado. Acho que você já deve ter ouvido essa frase. É a frase que eu iniciei este livro. Sabe o porquê eu a usei novamente, pois tudo se iniciava de novo. Agora o último ano do colegial. Daqui um ano provavelmente eu estaria na faculdade, embora ainda não fizesse ideia do que eu queria da vida. O ano de fazer dezoito anos, ano de fazer minha carteira de motorista, ano de alistamento militar e eleitoral, visitas nas faculdades, formatura, camisetas e casacos da turma, baile de formatura, terno, emprego novo. Iria ser um ano daqueles. O primeiro dia de aula é como todos os anos, você fica meio ansioso, acha que vai ter algo de diferente, mas no final é igual todo ano. No meio de uma rotina turbulenta que eu teria agora, havia um motivo bom, eu iria poder ver o David novamente. Agora eu só tinha uma amiga na escola, somente a Luana. Lembra da Rainara, da festa de E 63 São João, então, ela foi embora com a família morar em uma casa do litoral. Fiquei muito triste por ela ter ido embora. Mas eu estava feliz por ela ter tido a oportunidade de ir morar em uma cidade grande. Luana havia terminado um namoro. Ela havia conseguido um emprego em um salão de beleza. Ela começou a fazer um curso da área, no qual ela adorava. Eu torcia muito para ela ser feliz. Sempre a incentivei a fazer um curso de enfermagem, pois sempre a imaginei em uma roupa de enfermeira, ela ficaria linda. Mas eu a incentivaria no que quer que ela escolhesse. Chegando à escola, comecei a rotina diária. Levar minha bolsa na sala de aula, ir ao banheiro, encher a garrafa de água, comprar umas balas e ir até o ponto de ônibus esperar a Luana. Assim que ela chegou, nos damos um abraço para matar a saudade de ficarmos longe durante as férias de verão. — Novidades? — perguntei. — Sim! Tenho uma coisa pra te contar. — O quê?64 — Eu comecei a ficar com um garoto nas férias. Ele trabalha no salão também. Ele é irmão do André. André é o barbeiro que cortava meu cabelo depois que eu parei de cortar o cabelo com o Jefferson. — Sério? Que bom. — falei. — E ele vai estudar com a gente. — Sério? — Sim. Ele é tão lindo Victor, tu não tem noção. — Como é o nome dele? — Mateus. — Vamos, vai bater o sinal da primeira aula. Nossa professora de história entrou na sala e disse: — Todos para a assembleia, a diretora quer dar umas palavras. Era aquele negócio de todo primeiro dia de aula. Os professores se apresentam e a diretora deseja as boas vindas, principalmente para os 65 alunos novatos. É aquela ladainha repetida todo ano: aproveitem o ano para se dedicar nos estudos e blá blá blá. Voltamos para a sala. Todos estavam sentados. Então a professora de história que iria ser nossa professora regente aquele ano, explicou a dinâmica que iriamos fazer. Então ela foi interrompida por um assessor da escola: — Com licença professora, vim trazer um aluno novo pra essa turma. Então apareceu na porta um garoto. — É esse Victor! — sussurrou Luana. Ele era moreno, tinha cabelos negros e não era muito alto. — Qual é o seu nome? — perguntou a professora. — Mateus. — Venho da onde Mateus? — Blumenau. — Tem um lugar aqui. — ela falou apontando para uma carteira da janela. 66 Mateus começou a andar com a Luana e comigo. Luana estava apaixonada, dava de ver de longe. Ela tinha um jeito meio durona, mas era muito sensível. Igual a mim. Deve ser porque nascemos no mesmo dia, como irmãos gêmeos, mas de mães diferentes. Um escorpiano não demonstra as suas fraquezas para qualquer pessoa. Ele só irá se mostrar para aquele que é digno de sua confiança. São muito intensos, ou amam, ou odeiam, não existe meio termo. E bem lá no fundo são uma manteiga. Mas não ouse trair a confiança de um escorpiano, eles são muito conhecidos por serem vingativos. Naquele dia eu consegui ver o David no intervalo, fiquei muito feliz, pois já fazia dois meses e alguns dias que eu não o via. Ele não havia mudado nada. 67 Capítulo XI – A mensagem 68 ntão tudo continuou. Luana e Mateus começaram a namorar. Eu continuei sem saber o que eu queria da vida. A escola continuava a mesma e o trabalho também. E eu ainda amava o David. Todos dizem que só o tempo cura a dor. Mas eu nunca o esqueci, depois de mais de um ano amando-o. Será que não estava na hora de eu revelar o que eu sentia por ele. Talvez não fosse mudar nada em minha vida, mas talvez mudasse. Não quero dizer que ele correria para meus braços, não, quero dizer que talvez revelando a ele, eu entenderia o que eu precisava e encontrasse a chave da minha felicidade e assim conseguiria esquecê-lo. Trabalhei muito em um pequeno texto de amor que contasse tudo o que eu senti gostando dele, e como estava sendo difícil esquecê-lo. Perdi a conta de quantas vezes eu colei a mensagem no chat do Whatsapp dele, mas eu sempre amarelava. Até que um dia eu pensei que nada importava mais, e que fosse o que Deus queria. E 69 David Não aguento mais ficar com essa angústia eu tenho que te dizer. Eu sou apaixonado por você, você não sai da minha cabeça. Não tem um dia se quer que eu não pense em você, ou que eu acorde e a primeira coisa que eu faça é ir olhar seu perfil pra ver suas publicações. Sério desde o primeiro dia de aula quando você veio pra nossa escola eu fiquei te olhando já, e com o tempo eu fui percebendo que não adianta dizer pra mim mesmo que eu não te 70 amava, por que não existe ninguém no mundo que pode fazer meu coração bater tão descompassado, que faça minhas pernas tremerem, que faça eu pensar nela antes de em mim mesmo, eu faço tudo por você. A carta que foi entregue a você na festa de São João era minha. Na sua educação física eu ainda aproveitava para subir em cima do vaso sanitário do banheiro para ficar te olhando jogar 71 kkkkkkkkkkkkkj, aliás você é um fenômeno. A melhor coisa do mundo pra mim é poder olhar esse seu rosto, olhar esse sorriso mesmo com aparelho sendo tão lindo, esses olhos que cativam só de olhar pra eles, o som da sua voz que é como música para os meus ouvidos. Eu odeio festas, mas eu fui pra santa margarida só pra poder ver mais uma vez esse rosto, que 72 é a razão de eu levantar todo dia e ir dormir pensando no outro dia. Cara é muito importante pra mim estar te contando isso, todos diziam, deixa quieto você vai esquecer ele, mas eu nunca esqueci. Eu não estaria te contando isso se eu não confiasse em você então, por favor, não me zoa e nem conta pra ninguém, eles não 73 Esperei bastante tempo, e nada de ele visualizar minha mensagem. Eu fiquei muito ansioso. Quando eram sete horas da noite, ele visualizou e não falou nada. Comecei a ficar nervoso e preocupado. Então resolvi contar a Luana. entenderiam. Se um dia precisar mim eu sempre vou estar disposto a te ajudar. Espero que entenda. Só queria que você soubesse, pois não aguentava mais ficar calado. Sempre conte com minha amizade. Eu te amo muito❤ 74 Oi Eu contei pro David Mas ele visualizou não falou nada O quê? Tu não fez isso né? Mds, eu falei pra vc não falar Mas calma Talvez ele não pode falar agr Tá ocupado as vzs Tá bom, obg 75 Eram onze horas da noite e nada dele responder. Até que recebi uma mensagem. Era a Luana. Oi Oi Ele respondeu? Não Tenho que te contar uma coisa Fala O David postou um print do que vc falou no twitter 76 E as pessoas tão zuando Não fica triste, ele é um babaca 77 Capítulo XII – Quarentena 78 ntão foi assim que minha começou a dar errado. Só quem já sofreu bullying sabe o quanto isso te corrói por dentro. Por que existem pessoas que acham engraçado ser malvado com pessoas inocentes? As pessoas diferentes não precisam ser criticadas por causa disso. É muito difícil suportar isso, mas provavelmente vai melhorar um dia. Não ouça o que as outras pessoas falam, por mais difícil que seja, apenas seja você mesmo. O pior de tudo foi voltar para a escola na segunda-feira. Entrei no ônibus comecei a me sentir paranoico. Parecia que todos estavam me olhando ou falando de mim. Senti-me inseguro nos primeiros minutos do dia. Cheguei à escola. Dessa vez não fui levar minha bolsa na sala de aula como sempre fazia. Sentei-me no ponto de ônibus. Ali era mais isolado. As pessoas que ali passavam, não faziam questão de disfarçar que falavam de mim. E 79 O ônibus da Luana chegou. Ela desceu e foi até o ponto. — Oi. — Oi. — Tudo bem? — Sim. — Nem da bola, fingi que não é com você que eles tão falando. — falou Luana. Então ela me deu um chocolate. — Sei que isso não muda as coisas, mas eu me sinto melhor quando como um chocolate. — Obrigado. — agradeci. Quando entrei na sala de aula, todos me olharam. Sentei-me em minha carteira e abaixei a cabeça. Luana conversou um pouco com o Mateus. O sinal tocou, e logo a professora chegou. Era aula de sociologia. — Bom, galera, antes de começar a aula, a diretora quer dar um recado para vocês na assembleia. 80 Fomos ate a assembleia, onde estava toda a escola, inclusive o David cercado com os amigos dele, que, por sorte não me viram. Esperamos um pouco e logo a diretora subiu no palco e começou a falar:— Galera, como vocês já devem ter ouvido nas redes sociais, o mundo está presenciando o inicio de uma pandemia. Ontem a tarde foi promulgado o decreto da suspensão das aulas por um mês, a princípio. É um momento muito delicado este que estamos vivendo. Eu peço agora que em respeito, rezamos um pai nosso pedindo a Deus que ele rogue por nós. — rezamos — Então a partir de amanhã vocês não precisam vir à escola. Não agradeci por ter ocorrido uma quarentena, pois isso só ocorre quando as coisas são sérias mesmo. Mas aquele foi o momento certo para mim ficar sozinho. Talvez com sorte depois da quarentena, todos avessem esquecido. No meu trabalho ganhamos férias e as aulas foram canceladas. 81 Capítulo XIII – Prisão 82 udo mudou drasticamente em minha vida. Eu que era acostumado a viver o dia inteiro cercado de pessoas, agora ficava o dia inteiro sozinho sem ver ninguém. Todos nós em algum momento de nossas vidas, temos a necessidade de ficarmos sozinhos por um tempo, mas quando somos obrigados a viver em completo e absoluto isolamento social, isso mexe conosco. Doenças podem surgir nessas condições. Eu acordava cansado todas as manhãs. Comecei a ficar tão quieto, eu não tinha vontade de sair da cama, nem de falar com ninguém e nem de comer. Eu me irritava facilmente, algumas vezes eu tinha vontade de quebrar tudo que estava ao meu redor. Nos últimos anos perdi muito o interesse em coisas que antes eu gostava de fazer, mas sempre pensava que era a puberdade, eu estava amadurecendo. Fiquei tão deprimido, eu só queria entrar em meu quarto, colocar meu fone de ouvido com minhas músicas e ficar lá fingindo que eu não existia. A dor de ser torturado pela sua própria mente é uma das piores T 83 que existe. Aos poucos você percebe que de fato você esta morrendo por dentro. A dor te consome e por mais que eu tentasse chorar para aliviar essa dor, nenhuma lágrima saía. Parecia quer a única escolha para sair daquela situação era o suicídio. Eu nunca quis morrer, mas eu queria acabar com aquela dor. Senti muita vontade de procurar ajuda, ou de falar com minha mãe, mas acho que ela não iria acreditar. Quando eu tinha uns 12 anos, procurei-a e disse que eu não estava bem, quem eu me sentia mal, meio estressado. Só faltou ela rir da minha cara, na verdade ela ainda ficou meio brava. Sei que é difícil acreditar que um adolescente de 12 anos tem problemas psicológicos, mas a gente, só a gente sabe quando tem algo de errado conosco. Eu sabia que algo não estava certo comigo. Tomei alguns remédios naturais de ansiedade, mas eles não ajudaram em nada, parecia que eles só pioraram. Comecei a ficar preocupado com o que poderia acontecer da minha vida caso algo não mudasse logo. 84 Capítulo XIV – Liberdade 85 epois de vários meses confinado, enfim o Governo decretou o fim da quarentena. Talvez aquilo me levantasse novamente. Em três dias as aulas presenciais voltariam e junto delas, talvez, meu humor. Preparei-me para que na segunda-feira tudo estivesse pronto. Uniforme lavado e passado, mochila limpa e organizada, sapatos limpos, tudo estava no devido lugar. Era uma segunda-feira. Poderia ser considerada normal, mas não era. Não era pelo fato de que a quarentena ter se findado. Aposto que você não aguenta mais ouvir essa frase, mas prometo que foi a última vez que a escrevo. O sol ainda estava escondido atrás das montanhas e a luz do dia começava a nascer. O vento fazia a temperatura parecer mais baixa, o seu murmúrio anunciava que seria um dia frio. A relva ainda se encontrava coberta de orvalho que com os primeiros raios de sol, já se resplandecia. Então de D 86 trás do morro pude ouvir o barulho do ônibus chegando. A caminho da escola eu sempre ouvia música com meus fones de ouvido e ficava admirando as pastagens e lavouras pelo caminho. Chegando à escola, fui realizar minha rotina matinal. Dessa vez as pessoas não ficaram me encarando, talvez tivessem esquecido, talvez tudo tivesse acabado, embora eu ainda me sentisse inseguro. O sinal da primeira aula tocou. Então eu, Luana e Mateus fomos para a sala de aula. Era aula de história. — Bom dia pessoal. — disse a professora. — Como todos sabem nós perdemos muito tempo, e isso nos atrasou muito então agora mais do que nunca é essencial a dedicação... Então ela parou de falar. — Olá. — disse ela com o olhar direcionado à porta, mas sem que ninguém pudesse ver para quem ela havia dito. 87 Então entrou um garoto dentro da sala. Ele carregava uma bolsa lateral com tiras que ele as tinha no ombro contrário. — Olá. — disse o garoto. — Aqui é o terceiro ano? — Sim, é aqui. — Eu sou novo nessa escola. — falou entregando uma folha à professora. — Esta bem, agora temos de ver um lugar para você. Hummm. — ela fez uma cara pensativa. — Como antes da quarentena recebi algumas reclamações de que o Guilherme e o Jonathan estão perturbando a classe com suas conversas, vou aproveitar para fazer uma mudança. Jonathan vai para a carteira do lado dele – ele se sentava ao meu lado – e então o aluno novo senta onde o Jonathan estava sentado. O novato iria se sentar ao meu lado. Ele tinha uma estatura normal e tinha cara de ser gentil. Assim que ele se sentou e tirou o caderno da bolsa a professora continuou: 88 — Como eu falava, agora mais do que nunca é hora de dedicação total aos estudos para garantir boas notas nos vestibulares. Hoje como vocês ficaram tanto tempo longe uns dos outros, nós vamos fazer um trabalho em dupla. Odiava trabalho em dupla, pois eu ou o Mateus sempre ficávamos sozinhos – mas geralmente era eu –. Luana foi até minha carteira e disse: — O Mateus não quer ir sozinho. — Pode ir com ele, de boa. — falei. Então ela chegou perto de mim e sussurrou: — Por que tu não vai com o novato? Ele não tem ninguém pra ir. — Eu não vou pedir se ele quer fazer dupla comigo! — Eu peço. Então ela virou-se para o garoto e perguntou: — Oi! Você quer fazer o trabalho com o meu amigo? — Pode ser. — ele respondeu. 89 Então ele arrastou sua carteira até juntar com a minha. — Até depois Victor. — disse Luana. Então ele estendeu a mão e disse: — É um prazer Victor. Dei a mão a ele e disse: — Prazer. — Sou o Nathan. Nathan significa “Presente de Deus” em hebraico. — Certo, legal. Naquela noite, diferente das outras, não dormi deprimido, mas, normal. 90 Capítulo XV – Nathan 91 epois da chegada de Nathan, eu parei de fazer os trabalhos sozinho. Começamos a fazer os trabalhos sempre juntos, assim Luana sempre fazia com seu namorado e eu não tinha mais de ficar sozinho. — O que você fez? — perguntou ele. — O que? — perguntei. — Esse cabelo todo revirado. — falou ele passando a mão no meu cabelo para arrumá-lo. — Para. — Usou gel demais. — falou ainda passando a mão no meu cabelo. — Eu não uso gel, uso pomada, mas deixa assim. Olhei para o lado e vi que dois garotos da sala assistiam a cena e ainda tiravam sarro. Então um deles ainda passou a mão no cabelo do outro tentando nos imitar. — Nathan para! Por favor. — Agora ficou gato. D 92 O sinal tocou para o intervalo. Nathan sempre ficava sozinho. Sentamo-nos na mesa da cantina e Luana perguntou: — Então, O Nathan é legal? — Sim, ele é bem inteligente. — Por que você não convida ele pra sentar aqui com a gente. — Amanhã eu convido. — Convida hoje. — Eu não vou ir até lá convidar. — retruquei. — Olha lá, ele tá sozinho coitado, e ele é tão querido. — Tá bom eu convido. Andei pelo pátio de concreto onde Nathanse encontrava sentado em um dos quiosques no centro do pátio. Ele estava pegando sol. — Oi. — Oi. — ele respondeu. — Você não quer sentar com a gente? — Se não for incomodar. — Não, você não incomoda. 93 Então andamos juntos até a mesa e nos sentamos. Depois de um minuto de silêncio, Luana quebrou o gelo. — Onde você mora Nathan? — Eu moro na rua da prefeitura. — Sério? Eu trabalho num salão de beleza daquela rua, meu namorado também. Então o sinal tocou o sinal anunciando o fim do intervalo. Era aula de física. Estávamos estudando campo elétrico. — Então, sabemos que a constante da proporcionalidade é igual á: nove vezes base dez na nona potência e que... — Professora! — chamou Nathan. — Sim? — Não estou me sentindo muito bem, será que eu poderia ir tomar uma água? — Pode sim. — Será que o Victor poderia ir comigo? As vezes minha pressão abaixa e eu desmaio. 94 — Sim, vá e voltem só quando você estiver bem. Então me levantei e acompanhei Nathan até a porta. Assim que eu fechei a porta ele disse: — Estamos livres! — O que? Era mentira? Escuta, eu não sou de matar aula, matei uma vez, mas me arrependi muito. — Fica tranquilo, eu estudei isso na minha outra escola, eu te ensino, é fácil de aprender, é só fórmulas. — O que nós vamos fazer? — Ah, vamos dar uma volta ao redor da escola sempre quis conhecer o jardim dos fundos da escola. — Quinze minutos e voltamos para sala. — Tá bom. Caminhamos pelo gramado até chegar ao jardim dos fundos. Estávamos andando quando, de repente avistei o zelador. Puxei o braço de Nathan e corremos para trás de um enorme carvalho. Olhei para traz e vi o zelador indo embora, então disse: — Ufa! 95 Nathan se sentou no chão e eu sentei-me também. — Você não tem muitos amigos né? — perguntou ele. — Tenho. — Te observo há semanas, e vejo que você só tem a Luana de amiga. — Tenho o Mateus também. — Ele não conta, ele vem de brinde com a Luana. — Há dois anos eu tive um grande amigo, mas ele foi embora da escola e nos afastamos. — Qual era o nome dele? — Jefferson. — Ficou bravo por que ele te deixou? — Não — Estava apaixonado. — Para. — Está chateado porque ele te largou. — falou rindo. — Não precisa ter vergonha, tudo bem gostar de caras. — Temos que ir! 96 Então ele aproximou seu rosto perto do meu rapidamente e me beijou. Ele colocou sua mão macia como algodão em minha nuca e eu encostei a palma de minha mão em sua face. Então o sinal tocou. — Merda. — disse ele. — Temos que ir Nathan. No outro dia, cheguei à escola mais cedo do que o habitual. Levei minha bolsa na sala de aula, e fui para o gramado ao lado da escola onde havia sinal de internet. Surpreendi-me por ver Nathan. Ele estava sentado sob uma pedra, sozinho. Ele admirava o nascer do sol. Usava casacos de inverno grossos. Aproximei-me e sentei-me ao lado dele. — E aí? Falou com sua mãe se você pode ir ao cinema comigo? — perguntou ele. — Ela está pensando. — Como assim? — ele perguntou. — Minha mãe quer falar com a sua mãe. Então ouvimos alguém falar: — Hummmm, ai amor. 97 — Me beija gostosão. Olhei para trás e eram os mesmos dois garotos que riram do Nathan arrumando meu cabelo. Minha mãe ligou para a mãe de Nathan: — Nós o levamos, não se preocupe. — disse minha mãe. — Está bem, obrigada, tchau. — Tudo bem então? — perguntei. — A mãe do Nathan é muito legal, acho que não tem problema. 98 Capítulo XVI – Cinema 99 inha mãe me levou até a casa de Nathan, para nós dois irmos ao cinema á noite. — Que casa linda! — disse minha mãe. — Tem até piscina. Nathan que estava mergulhando, saiu e pegou uma toalha. Ele se sentou nas cadeiras de sol junto comigo e minha mãe. — Querem beber algo ou comer? — pediu a mãe de Nathan. — Não, obrigado. — respondeu minha mãe. — Fico feliz de conhecer você, nossos filhos se adoram. — Que bom que aceitamos isso, muitos pais não entenderiam. — Eu já vou indo. Até amanhã. Se comporta né Victor. Qualquer coisa passa o chinelo. Minha mãe me fazia passar cada vergonha, mas eu a amava mais do que ninguém. — Divirtam-se. Durante a tarde nadamos na piscina. Dei meu primeiro beijo debaixo da água, e confesso que me M 100 afoguei. No fim da tarde, fomos para o quarto de Nathan nos prepararmos e tomarmos banho para dali algumas horas assistir o filme P.S. Eu te amo. Sentamo-nos nas poltronas do cinema. As luzes ainda estavam acesas e o filme ainda não havia começado. Comemos pipoca e conversamos até que então as luzes se apagaram. Eu notei que ele ficou me encarando, mesmo após o filme ter começado. Olhei para ele, e dessa vez, eu beijei-o. Então me encostei de volta na poltrona, e por mais que eu gostasse do filme – que inclusive eu havia escolhido – fiquei tão cansado que acabei dormindo, talvez tenha sido a piscina que gastou todas as minhas energias. 101 Capítulo XVII – Sonho 102 nos haviam se passado e a cada dia desses anos eu amei Nathan incondicionalmente. Formei-me na faculdade, cursei moda. Abri meu próprio negócio, um atelier de vestidos. O nome de minha marca era Loucas pra Casar. Nem sei como, mas meus negócios decolaram. Todos amavam minhas roupas, me tornei muito conhecido no Brasil e até fora do país. Minha empresa importava vestidos para os Estados Unidos para a Inglaterra – principalmente – Espanha, França, Dinamarca, Austrália, Nova Zelândia e muitos outros lugares. Nunca iria dizer que aquele menino solitário se tornaria um empresário tão bem sucedido e famoso. Algumas empresas e revistas, diziam que meus vestidos de noivas eram os mais lindos do mundo. E por falar em casamento, eu e Nathan iríamos nos casar. O casamento seria dali uma semana. Estava muito ansioso com toda aquela correria de salão, Buffet, convidados. Era tanta coisa para organizar, mas iria ser o dia mais importante de minha vida. A 103 Era véspera do casamento. Eu e Nathan resolvemos fazer um jantar para nossos pais, avós, padrinhos e alguns amigos. Minha madrinha seria a Luana, sim nossa amizade permanecera todos os sete anos depois do fim do colegial. O jantar havia saído como planejado, unir as famílias e amigos com muito carinho. Foi um dia memorável. Era um sábado. Poderia ser considerado normal, mas não era, não era pelo fato de que era o dia do meu casamento. Prometi que não ia mais usar essa frase novamente, mas não pude resistir. Iria ser o dia mais importante da minha vida. Selar meu compromisso com Nathan mostrava o quanto nosso amor era inabalável através das turbulências dos quase seis anos de namoro e dos quase dois anos de noivado. Depois do nosso baile de formatura, o dia que eu entreguei de corpo e alma á Nathan, eu soube que eu queria viver o resto da minha vida ao lado dele. 104 Tudo Parecia um sonho. Não dava nem de acreditar que eu estava me arrumando para o meu próprio casamento. Iria realizar o casamento que sempre havia planejado. Eu estava vestindo um terno branco com botões, bolsos e gravata dourada. Às dezoito horas, bem no pôr do sol seria cerimônia. Havia chegado a hora. Quando desce a hora marcada, nós sairíamos um de cada casa, pois eu acreditava que ver o noivo antes do casamento dava azar. Abri a porta e comecei a caminhar pelo gramado cheio de folhas de outono espalhadas pelo chão. Nathan saiu da outra casa e caminhamos um em direção ao outro. Quando chegamos uma frente do outro, nos damos às mãos e caminhamos até o local da cerimônia. Estavam todos em pé nos olhando emocionados, sabendo tudo que havíamos passado para chegar atéali. Caminhamos até o altar pelo tapete branco, enquanto a Marcha Nupcial tocava. Atrás do altar havia um pequeno lago. Nas árvores, estavam penduradas fotos em tamanho grande de todos os 105 nossos passos juntos. O mestre de cerimônias começou a nos casar. Então chegou a hora dos votos. Nathan começou primeiro. Ele estava lindo, havia deixado a barba crescer. Ele vestia um terno preto com detalhes prateados. — Victor, você é a pessoa mais irritada, mais teimosa e mais mandona desse mundo. E foi por isso que eu me apaixonei por você. No passar dos anos percebi sua bondade, o seu ótimo senso de humor e a sua descendência. Você é maravilhoso Victor e vai ser um orgulho poder te chamar de esposo. A cada palavra que ele dizia eu me emocionava mais, e no fim comecei a chorar. — Seus votos Victor. — disse o M.C.. — Nathan quando conheci você, você tinha muita cara de ser mulherengo, preguiçoso e bobo. Mas a cada dia que eu vivi com você, eu encontrei e vi o que realmente você era, e vi coisas que eu amei em você, como o quanto você é inteligente ou como se importa comigo e com sua família. Eu não sabia o quanto uma pessoa podia ser amorosa até te 106 conhecer. Em todos esses anos não teve um dia em que eu não te amei incondicionalmente, sem nunca brigarmos ou sequer discutirmos. Nunca pensei que iria encontrar alguém que me completasse como você me completa. Nathan eu te amo. Acendemos a vela de compromisso. Trocamos as alianças douradas com o nome dos dois gravados. — Podem se beijar. — disse o mestre de cerimônias. Damos um beijo e nos abraçamos enquanto todos batiam palmas. Eu não parava de chorar de emoção. Fomos para o quintal da festa. Eu e Nathan subimos até a sacada da casa para fazer o brinde. Nathan estourou a garrafa de champanhe. Ele encheu nossas taças e fizemos o brinde – igual nos filmes, sabe, onde os noivos cruzam os braços para poder beber o champanhe – então após brindarmos, nós nos beijamos novamente. Então do nada uma chuva de fogos de artifícios começou a estourar sobre nós. Foi o dia mais lindo da minha vida. 107 Capítulo XVIII – Rio de Janeiro 108 ossa lua de mel iria ser viagens para os lugares que sempre sonhei em ir. O primeiro destino seria o Rio de Janeiro ou como também é chamada, Cidade Maravilhosa. Embarcamos em um voo em Florianópolis. Em duas horas chegamos ao aeroporto do Rio. Do avião já pudemos dar uma olhada nas praias maravilhosas do Rio de Janeiro, Botafogo, Flamengo, Copacabana e Itapema. Estávamos loucos para conhecer as praias mais famosas do país. Nosso hotel foi o Copacabana Palace, um dos hotéis mais famosos do país, muito conhecido por ser a pousada das celebridades internacionais. Quando desfizemos as malas, fomos logo para a rua, dar nossa primeira volta pelas ruas beira-mar do Rio de Janeiro. O calçadão de Copacabana era lindo, sempre era meu sonho conhecê-lo. Enquanto caminhávamos por ele admirávamos a bela vista do mar e da praia de Copacabana. Tudo era tão lindo, as pessoas passeando, artistas fazendo esculturas de areia nas praias, os prédios, etc. Foi uma boa experiência. À N 109 tarde iríamos conhecer o ponto mais famoso do Rio, o Cristo Redentor. A combinação de Mata Atlântica com a cidade tornava o Rio uma cidade inigualável. Subimos pelo Morro do Corcovado por um trem construído na época da monarquia do Brasil. Durante a viagem do trem, pudemos ver a Floresta da Tijuca. Chegar ao topo do Corcovado, ao lado de uma das sete maravilhas do mundo, é o mesmo que uma vitória. É impossível descrever a sensação de poder ver toda a Metrópole carioca de cima do morro, por isso que a chamam de cidade maravilhosa. Na próxima metade da tarde fomos ao morro do Pão de Açúcar. Você chega ao morro através do Bondinho. Deixamos nossas assinaturas no mural do Pão de Açúcar. Chegamos a tempo de poder ver o pôr do sol que embelezou ainda mais a cidade. Descemos do Bondinho aproveitando para ver o Rio de Janeiro à noite. 110 Eu e Nathan nunca estivemos tão felizes, agora casados, desfrutando da beleza de uma cidade Centenária. Jantamos num dos melhores restaurantes da cidade. Ele servia o que o Brasil tem de melhor, a feijoada. Voltamos ao hotel. Subimos pelo exprimido elevador, que estava lotado, até chegar ao nosso andar. Entramos no quarto. Ambos foram para o banheiro, para tomar uma ducha depois um dia tão empolgante. Entrei no Box. Estendi minha mão á Nathan convidando-o para entrar. Vagarosamente ele pegou minha mão e entrou também no Box. Peguei uma esponja de banho e comecei a esfregar Nathan. Beijamo-nos. Então ele começou a beijar minha face, indo para o pescoço. Enquanto sentia os lábios quentes dele meu pescoço eu abracei-o e puxei-o para debaixo da água do chuveiro. A água estava quente, mas ao bater em minha face, eu a senti resfriando-a como se estivesse gelada. A água corria pelos nossos corpos, enquanto Nathan 111 acariciava minhas costas durante um abraço. Então eu sussurrei: — Nathan eu te amo. — Te amo mais, meu amor. Depois de quatro dias curtindo bom do Rio de Janeiro, embarcamos para nosso próximo destino romântico. Em duas horas e quarenta e nove minutos chegaríamos até ele, ou melhor quase ele. 112 Capítulo XIX – Fernando de Noronha 113 pós aterrissar no aeroporto de Recife-PE, precisamos pegar um voo até Fernando de Noronha ou também conhecido como Noronha. É o único jeito de voar até a ilha. Somente de Recife saem voos para Noronha. O voo dura uma hora, por ser um avião menos moderno. Chegamos a um dos destinos mais famosos do Brasil, mais desejados e mais bonitos. Iríamos ficar sete dias na ilha. Deu para aproveitar muito. Como todo turista, desfizemos as malas, e é claro e já fomos apreciar as belezas do lugar. À vista do quarto era linda seria um sonho viver ali. O vento era forte e dava efeito lindo á natureza. Pagamos um pacote de viagem que incluíam um tour pela ilha. Andamos de micro ônibus até a Praia do Leão. Embora não fosse recomendada para mergulho ela era linda. O nome da praia é porque tem uma pedra que parece um leão marinho. Vista maravilhosa e única. A 114 Fomos até a praia do Sueste, onde era permitido mergulho. Seria a primeira vez que eu iria mergulhar. Entramos na água. E posso dizer com todas as palavras: mergulhar é incrível. Nathan e eu nadamos de mãos dadas. A vida marinha é fantástica. Tinha muitos peixes. Nadei com uma tartaruga, elas são bem medrosas. Vi pela primeira vez um tubarão, e eu nunca me esqueci do medo que eu passei. Eles não atacam, pelo menos nunca houve um ataque em Fernando de Noronha. Fomos para outra praia. Onde está o Morro dos Dois Irmãos. Caminhamos por uma trilha até a Baía dos Porcos, uma área muito calma da Ilha. Após isso fomos para a Praia do Sancho, a qual já foi eleita uma das mais lindas do mundo. O tour foi muito legal. Visitamos vários lugares, mas mesmo assim deu tempo para curtir cada um deles, e até pudemos mergulhar. E assim se encerrou o primeiro dia em Noronha. No segundo dia tivemos um passeio de barco. O barco rodava toda a ilha e tinha direito a parada 115 para mergulho. O passeio era conhecido por poder ver golfinhos. E verdadeiramente, tinha muitos golfinhos. Foi incrível. Na parada em frente à praia do Sancho onde era a parada de mergulho, mergulhamos e pudemos ver bastante vida marinha, corais, cardumes lindos e muitos outros. O pôr do sol de Fernando de Noronha é algo que não tem preço para ver. E assim encerrou-se o segundo dia em Noronha. Fomos para o hotel para podermos descansar para o próximo grande dia na ilha, que com certeza também seria incrível. O silêncio e a solidão de Fernando de Noronhaeram essenciais. Como no ditado: “é no silêncio e na solidão que se encontra o essencial”. Ele transmitia uma paz e tranquilidade. Para completar nossa experiência na ilha mais maravilhosa do Brasil, fizemos um passeio de canoa no terceiro dia. 116 À tarde visitamos as piscinas naturais nos rochedos da Ilha. Fizemos uma trilha na mata para o morro, onde se tem a vista para grande parte da ilha. Cansativo mas a vista lá em cima compensa. Esperamos até o sol se pôr para admirar ele lá do alto. No último dia na ilha visitamos os nossos lugares favoritos. Então na manhã voamos de volta para Recife-PE. Após isso voar para Vitória-ES, onde se encontrava o aeroporto internacional mais próximo. Nosso próximo destino não seria no Brasil. 117 118 Capítulo XX – Bahamas 119 terceiro destino romântico que Nathan e eu faríamos era as Bahamas. É claro que uma lua-de-mel não podia faltar as praias do Caribe. Aterrissamos nas Bahamas sete horas de voo depois. Estávamos literalmente exaustos. Fomos para o Resort para podermos descansar um pouco. Perto da noite resolvemos ir à praia assistir ao pôr do sol, que por uma lástima, não se punha no mar, mas sim do outro lado da Ilha. Mas as nuvens deram efeito mágico no céu. Voltamos para o hotel não pudemos aproveitar a praia nem as piscinas, mas aproveitamos para tomar um banho de banheira no quarto do hotel. A água era quentinha, eu me abracei á Nathan e queria que tudo pausasse e que ficássemos ali para sempre. — Vi que existem umas grutas ao redor do hotel, a gente tem que dar uma olhada. E também precisamos fazer aquele mergulho de alimentar os tubarões e as arraias, deve ser muito legal. — falei. O 120 — Chega, não diga mais nada. — falou isso colocando seus lábios sobre os meus fazendo-os parar de falar. — Vamos sair daqui ele. — ele falou. Nós saímos da banheira e nos secamos com toalhas brancas que tinham sobre as pias do banheiro. Então me vesti com um roupão de banho. Nathan foi até a cama sem roupas e após secar o seu cabelo com a toalha, se deitou. — Será que eu fecho as cortinas? Está uma noite tão linda. — perguntei. — Não fecha, deixa assim. Então apaguei a luz. O quarto continuou iluminado pela luz da lua que era refletida pelo mar. Sentei-me inclinado ao corpo de Nathan, e devagar, fui me aproximando meus lábios dos dele. Lentamente nos beijamos. Olhamo-nos e eu disse: — Eu te amo tanto. — Eu também te amo meu amor. Levantei-me para tirar meu roupão. Então me deitei ao lado dele. 121 Devagar, silencioso e sem dor. Não quebramos a cama e nem gritamos. Eu me deitei sobre seu peito e fiquei ouvindo seu coração bater. Então comecei a ouvir sua respiração ficando cada vez mais calma. Olhei para ele, e ele já estava dormindo. — Boa noite meu amor. — sussurrei no seu ouvido, mesmo ele já não tendo mais consciência. Deitei-me sobre o travesseiro e após tantos pensamentos dormi. O café da manhã do hotel era um dos maiores que já havia visto. Então fomos curtir hotel. Tiramos fotos e mergulhamos na piscina, que era aquecida, por isso a água era uma delícia. Visitamos a gruta que ficava atrás das piscinas. Dentro da gruta havia um aquário muito legal com tartarugas e peixes. Fomos até o píer no fim da tarde para tirar umas fotos no pôr do sol. 122 Fizemos um passeio de barco pela manhã. À tarde fomos para outra ilha das Bahamas que também era incrível. E a noite, jantamos em um restaurante chinês do hotel. No hotel havia de tudo, a comida era incrível. Naquela noite dormimos cedo, pois seria nossa última noite nas Bahamas. Iríamos embora pela tarde do próximo dia. Na manhã seguinte curtimos um pouco as praias. E então no fim da tarde fomos embora. 123 124 Capítulo XXI – Miami 125 ara viajarmos das Bahamas até Miami e percorrer os 290 km de um país até o outro, fomos num cruzeiro. Foram sete horas e meia de navegação para chegar a uma das principais entradas dos Estados Unidos. Praticamente toda a população fala além da língua inglesa, o espanhol. Escuta-se espanhol por aonde você vai, português também, mas não é tanto. Isso porque existe uma descendência muito grande de Cuba, Porto Rico e muitos brasileiros. Miami é um berço de culturas diferentes. Os maiores prédios que já vi estão em Miami. Como qualquer turista o nosso sonho era ir para a melhor parte de Miami, que é Miami Beach. Caminhamos por South-Beach ponto mais famoso de Miami Beach. Ali é cheio de bares, boates, motos, atletas, carros de luxo e todos os tipos de pessoas. Anoiteceu em Miami Beach. Dava de ver a cidade de Miami, uma vista Urbana maravilhosa. Voltamos para Miami e depois para Hotel. Todos os dias que ficamos em Miami, fomos para Miami Beach. Nós adorávamos Praias, e Miami P 126 Beach, além de todas as restrições, era uma escolha perfeita. Caminhamos pela Ocean Drive, a rua mais famosa de Miami Beach. Eu adorava ver o Nathan falando – quer dizer, tentando falar – em inglês, eu ria tanto dele. Tinha muitos bares nessa rua. Vimos Mid-Beach depois de ficar bastante tempo em South-Beach. Caminhamos pela praia. Fomos caminhando e quando vimos já estávamos em North-Beach, uma área menos aglomerada. Ventava muito na praia, perdemos nossos chapéus muitas vezes. Anoiteceu e pude ver o lindo pôr do sol que faz em North-Beach. Eu e meu marido não aguentávamos mais de dor nos pés. Ficamos caminhando o dia todo. Então pegamos um táxi até South-Beach onde jantamos em um restaurante bem simples, mas que servia uma comida muito saborosa. Depois de jantarmos fomos de Uber até Miami, onde estava o nosso hotel. 127 Na manhã seguinte, nosso voo para o próximo destino começava. Iríamos dar tchau para América e olá para Europa. 128 Capítulo XXII – Paris 129 epois de onze horas de voo chegamos á tão estimada a Paris. De todos os meus sonhos, visitar a cidade mais romântica do mundo, era o principal. No começo você nem acredita que está mesmo indo para cidade mais famosa do mundo, você só se dá conta quando você voa por cima da cidade e vê pela primeira vez, o monumento mais conhecido do mundo a Torre Eiffel. Chegamos a capital francesa em pleno inverno. Não seria novidade se víssemos neve em meio ao nosso passeio. Já era noite. Desembarcamos do avião já agasalhados, porque fazia 3°C. Estava muito frio. Pegamos a nossa bagagem no setor de desembarque. Saímos do aeroporto sem acreditar que estávamos em uma das ruas de Paris. Mal conseguia me mexer de tantos casacos. Pegamos um táxi, e pude ver pela primeira vez Paris à noite, e posso afirmar que é um dos cenários mais incríveis que já vi. As ruas repletas de árvores desfolhadas D 130 por causa do inverno. Nas árvores eram pendurados muitos e muitos piscas de Led, que faziam com que as árvores parecem árvores de natal. Não é a toa que chamam Paris de Cidade Luz. Chegamos ao hotel. Mesmo mortos da viagem, fomos jantar em um restaurante depois de largarmos nossas malas no quarto. Os restaurantes estavam todos lotados. As ruas eram cheias de parisienses e turistas de todos os cantos do mundo. Experimentamos pela primeira vez um ratatouille, seguido de um vinho muito saboroso. Paris parece ser uma cidade que não dorme. Era tarde e tudo ainda estava a todo vapor. Nathan e eu caminhamos sem rumo pela cidade, sem se importar com o amanhã. As ruas iluminadas pelas suas luzes majestosas, as calçadas lindas e cheias de gente, o trânsito uma loucura e a cidade já fazendo seus primeiros preparativos para o Natal. No meio da caminhada eu disse: 131 — Vamos nos perder. Eu nem lembro mais como se volta para o hotel. — Então vamos continuar,