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PRESENTE DE DEUS


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P R E S E N T E D E D E U S 
 
 
 
 
4 
 
 
5 
 
 
Dedico esta obra para os 
adolescentes que precisam 
de alguma forma se 
encontrar no mundo. 
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7 
 
Sumário 
Capítulo I – Primeiro dia............................................................... 10 
Capítulo II – O amigo .................................................................... 16 
Capítulo III – Nome ...................................................................... 21 
Capítulo IV – O amor chegou ....................................................... 25 
Capítulo V – São João ................................................................... 28 
Capítulo VI – Feira de ciências ..................................................... 33 
Capítulo VII – A segunda festa ..................................................... 37 
Capítulo VIII – Festival de talentos ............................................... 49 
Capítulo IX – Fim do 2° ano .......................................................... 57 
Capítulo X – Primeiro dia (parte dois) ......................................... 61 
Capítulo XI – A mensagem ........................................................... 67 
Capítulo XII – Quarentena ............................................................ 77 
Capítulo XIII – Prisão .................................................................... 81 
Capítulo XIV – Liberdade .............................................................. 84 
8 
 
Capítulo XV – Nathan ................................................................... 90 
Capítulo XVI – Cinema .................................................................. 98 
Capítulo XVII – Sonho ................................................................. 101 
Capítulo XVIII – Rio de Janeiro ................................................... 107 
Capítulo XIX – Fernando de Noronha......................................... 112 
Capítulo XX – Bahamas .............................................................. 118 
Capítulo XXI – Miami .................................................................. 124 
Capítulo XXII – Paris ................................................................... 128 
Capítulo XXIII – Regresso............................................................ 139 
Capítulo XXIV – O fim da jornada ............................................... 145 
 
9 
 
 
10 
 
Capítulo I – Primeiro dia 
 
 
 
 
11 
 
ra uma segunda-feira. Poderia ser 
considerada normal, mas não era. Não 
era pelo fato de que as férias terem se 
findado. A luz do dia invadiu meu 
quarto. O cantar dos canários me deram motivação 
para levantar-me. Sempre fui um dos melhores 
alunos, mas por algum motivo, não gostava de ir á 
escola. Talvez pelo fato de ter sido tão ―zuado‖ em 
minha infância, tenha acarretado essa minha fobia 
social. Mas como 
era obrigado levantei-me. Tomei minha ducha 
matinal e tomei meu café da manhã. Em questão de 
meia hora eu estava pronto para pegar o ônibus.
 Andar de 
ônibus não era algo que eu podia dizer ser meu 
passatempo favorito. Ficar ouvido algazarra de 
crianças e vozes insuportáveis me dava dor de 
cabeça. Por isso eu odiava estar rodeado daquelas 
pessoas. Depois de trinta 
e cinco minutos, o ônibus chegava à escola. Para 
não entrar sozinho, eu esperava no ponto de ônibus, 
até que minha melhor amiga chegasse com outro 
E 
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ônibus. Depois de dez minutos 
ela chegou. Linda como sempre. Na verdade o único 
motivo pelo qual eu ia para escola, era ela. Ela não 
tinha outros amigos, assim como eu também não 
tinha ninguém. Mas não era como se nós fossemos 
os coitados, sem amigos e isolados da escola. Ao 
contrário, éramos muito felizes só nós dois. 
 Faltava dez minutos para 
bater o sinal. Maldito sinal. Aquele que dizia: faltam 
apenas mil aulas para terminarmos o ano letivo. 
 Entramos na escola. Estava repleta de alunos 
novatos se sentindo especial por estar estudando na 
única escola da cidade que tinha ensino médio. 
Aquilo me dava ânsia de vômito, pois todos, sem 
exceção, eram ridiculamente feios. 
 Bateu o sinal. Fomos para a nossa sala. Nossa 
primeira aula era com o professor de matemática, 
que tinha a fama de não perdoar nada. O primeiro 
dia era o pior de todos, pois ele gostava de por medo 
nos alunos para respeitarem ele o resto do ano 
letivo. Durante uma hora e meia foram explicados 
13 
 
―as regras de conduta do aluno‖. 
 Tocou o sinal do intervalo. Fomos correndo 
para a fila. A decepção de saber que tinha quatro 
bolachas para comer, não dava de disfarçar. 
Pegamos nossa comida e fomos nos sentar. Era a 
hora de ver os alunos novatos. Deparei-me com um 
grupo de adolescentes. Logo já percebi que eram 
novos na escola. Havia duas garotas loiras, um 
garoto alto e muito magro que usava fones de 
ouvido, uma morena, e um garoto raquítico, que não 
acreditei que ia mesmo no ensino médio. Olhei para 
o lado e vi um garoto de cabelos negros, com o rosto 
repleto de acne e que andava de um jeito muito 
esquisito. Ele então, se sentou com o grupo de 
amigos. Então desviei meu olhar e minha mente 
para algo mais importante. 
 Tocou o sinal, e voltamos para sala de aula. 
Resolvi tentar falar com meu melhor amigo. Nós 
havíamos nos afastado muito no fim de ano. Ele 
parecia estar diferente, tanto na aparência, tanto no 
agir. A primeira pessoa que descobriu que eu era gay 
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depois da minha amiga foi ele. Aliás descobriu não, 
eu contei. Eu era apaixonado por ele na época, por 
isso tive de contar à ele. Mas nossa amizade 
permaneceu, aparentemente. 
 Convenci minha melhor amiga, Luana, a ir 
conversar com ele. Fomos até sua carteira, e eu 
disse: 
 — Oi. 
 — Oi. — ele respondeu. 
 E foi isso. Começou a ficar um clima estranho. 
Parecia que nunca tínhamos sido amigos. Luana 
sussurrou: 
 — Vamos. 
 Eu fui me sentar em meu lugar. No resto 
daquela manhã, fiquei me perguntando o que eu 
tinha feito a ele. Não consegui encontrar uma 
resposta. Lamentei, pois éramos tão amigos no outro 
ano. Tão amigos que cantamos juntos no Festival de 
Talentos da escola. Ambos tinham o sonho de se 
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tornarem cantores. Eu tinha feito tanto por ele no 
outro ano. Ele só foi aprovado, pois durante todo o 
ano letivo eu o ajudei passando cola e todos os 
trabalhos eu fazia sozinho. E ele sempre tão mal 
agradecido e grosso. Mas mesmo assim fiz de tudo 
para nossa amizade ser forte e ele nunca deixou de 
ser o meu melhor amigo. E o porquê agora do nada 
iria virar a cara? 
 
16 
 
Capítulo II – O amigo 
 
 
 
 
E 
17 
 
 sol na janela anunciava o início de 
um novo dia. A jornada se repetiria 
mais uma vez. Não havia dormido 
bem aquela noite, pois havia 
pensado na pessoa, que um dia talvez tenha sido 
minha grande paixão durante a noite toda. 
 Na escola tudo estava normal como o de 
sempre. A não ser é claro, a aula de sociologia com a 
professora Samira. A melhor aula que alguém 
poderia ter. Era uma das mulheres mais lindas que 
eu conhecia. Seu carisma encantava qualquer 
pessoa. Se você precisasse de algo, podia contar com 
ela. Ela me ajudou quando eu ia no 1º ano com um 
problema emocional que eu tive. 
 No recreio tudo era como o de sempre. Eu 
sempre ficava olhando as pessoas no intervalo. E 
não podia deixar de reparar no rapaz que tinha um 
andar engraçado. Ele tinha algo estranho que 
chamava a atenção de quem o olhava. 
 Voltamos para sala após o curto intervalo. 
Pensei em dar mais uma tentativa em tentar 
O 
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despertar a minha amizade com o Jefferson. Passei 
por sua carteira para tentar ver se ele tinha mudado. 
Mas ao passar por ele, já me dei conta que não. Ele 
me viu e rapidamente abaixou a cabeça. Percebi que 
não era o melhor momento para tentar conversar 
com ele. Então passei por elesem falar uma palavra, 
sentei-me em minha carteira e esperei próximo 
professor chegar. 
 Novamente não prestei atenção em nenhuma 
palavra das aulas já que fiquei o resto do dia a 
pensar no Jefferson. Eu não era mais apaixonado 
por ele, mas de alguma forma ele ainda mexia 
comigo. Eu ainda sentia algo por ele. Amizade 
confusa talvez, ou algo mais forte. Uma pergunta 
que nem mesmo eu podia responder. Eu havia 
prometido a mim mesmo que não ia mais me 
apaixonar por ele. Eu sofri muito gostando dele. 
Teve momentos felizes que irei lembrar para o resto 
da vida. Mas muitas vezes eu tive de passar noites 
chorando. Eu era tão apaixonado. Ouvíamos música 
juntos e na escola repartíamos o lanche. Nós 
19 
 
passamos por tantas coisas. Meu coração não 
parava de chorar por eu não falar com ele. 
 Na noite do mesmo dia cheguei extremamente 
exausto em casa. Um banho e minha cama eram 
tudo o que eu precisava. Mas mesmo tão cheio da 
vida eu realmente precisava esclarecer aquilo. Nem 
que acabaria com qualquer chance de sermos 
amigos, mas eu precisava de respostas, eu precisava 
saber. 
 Resolvi mandar uma mensagem no Whatsapp 
a ele: 
 
 
 
 
 Ele não respondeu. Então naquela noite fui 
dormir sem respostas. 
Oi 
Por que está me 
evitando e virando a cara 
pra mim? 
20 
 
 Acordei com o despertador anunciando o dia. 
Como o habitual, peguei meu celular para ver 
minhas notificações. Havia uma mensagem no 
Whatsapp. O meu dedo clicou automaticamente. A 
mensagem dizia: 
 
 
 
Ver aquela mensagem me deu certa raiva, pois 
era evidente que era ao contrário do que ele estava 
falando. Mas como sempre na vida eu pensei algo e 
falei outra coisa. 
 
 
 
Quem está virando a 
cara é você, e fica só me 
esnobando. 
 
Se eu fiz algo que 
parecesse que tava 
esnobando você, foi mal, 
mas eu tava tentando te 
esquecer. 
Você ainda é e sempre 
será meu amigo 
21 
 
 
Capítulo III – Nome 
 
 
 
 
 
22 
 
lgumas semanas depois, tudo estava 
igual. Eu ia à escola, ia para o 
trabalho e então voltava para casa. No 
outro dia tudo se repetira novamente. 
 
 Estava quase tocando o sinal do intervalo. Eu 
e minha amiga nos preparávamos para correr para a 
fila do lanche. Quando tocou o sinal, Luana saiu em 
disparada. Eu acabei ficando para trás, já que havia 
ficado atrás de umas pessoas lerdas. Quando 
consegui chegar à fila, ela já estava enorme. Então 
procurei pela Luana. Ela estava no meio da fila. 
Aproximei-me e furei a fila dela, já que ela sempre 
furava a minha. 
 — Não! Se quiser vai atrás de mim. 
 Olhei para trás dela, para ver quem era. Era o 
menino do cabelo preto e que andava estranho. 
Fiquei com vergonha de pedir pra ele ceder um furo. 
 — E se o coleguinha deixar. — disse Luana. 
 — Ele deixa, ele é gente boa né — falei olhando 
para ele. 
A 
23 
 
 Ele com vergonha e muita timidez, fez sinal 
com a cabeça, dizendo sim. Ele ficou tão 
envergonhado que sua face ficou vermelha. 
 Naquele dia me peguei olhando para ele no 
intervalo. Eu não o considerava feio. Mas por que eu 
estava olhando tanto para ele? 
 No intervalo do outro dia, eu estava louco para 
saber o nome do menino do andar engraçado. Eu 
não queria pedir a Luana, pois ela iria querer saber 
o porquê de eu querer saber. Então para não ser tão 
óbvio falei: 
 — Por que não damos um furo para aquele 
menino que me deu um furo ontem. 
 — Vamos. — disse ela. 
 — Como é o nome dele? 
 — David 
 Então ela o chamou gritando seu nome e 
fazendo sinal com a mão que ele podia vir na nossa 
frente. Ele fez sinal com a cabeça dizendo não. Mas 
só de eu saber o nome dele já bastava. Agora eu não 
via a hora de ir para casa para pesquisá-lo no 
Facebook. 
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 Cheguei em casa á noite. Fui direto pegar meu 
celular e logar no Facebook. Encontrei várias 
pessoas com o nome David. Então dessa vez 
pesquisei como David Salete, que era a cidade em 
que morávamos. Dessa vez pela foto consegui achá-
lo. Espionei-o, vi coisas da sua vida, as fotos dele – 
que não eram muitas – e vi fotos de sua família. Para 
minha surpresa éramos amigos no Facebook desde 
2017, e eu nem sabia. 
 Naquela noite minha cabeça teve uma revira 
volta. Ao invés de eu pensar no Jeff como em todas 
as noites, eu pensei no David. Era tão bom pensar 
nele. 
 
25 
 
Capítulo IV – O amor 
chegou 
 
26 
 
or uns três meses, guardei tudo aquilo 
para mim. Não contei nada a ninguém. 
Nem para a Luana, que era a pessoa que 
eu contava tudo, minha confidente. Não tinha um 
dia que eu não pensava nele. Ele era meu porto 
seguro. As minhas pernas não paravam de tremer só 
de ver ele. 
 Até que um dia eu decidi que precisava contar 
a Luana. Contei durante o recreio. Estávamos 
falando sobre a turma do 1° ano. Então no meio da 
conversa eu contei que amava o garoto do andar 
estranho. Ela deu uma risada sem jeito e perguntou 
meio espantada: 
 — Sério? 
 — Sim. — respondi. 
 — Puts Victor eu acho que ele não curte caras. 
Eu sei disso porque uma vez, ele pediu pra mim ficar 
com ele. 
 — Sério? 
 — Sim. 
 
P 
27 
 
 Aquilo foi uma facada no coração. Mas de 
algum modo não abalou o que eu sentia por ele, 
mesmo agora sabendo que não tinha jeito de eu 
conseguir ter meu amor correspondido. 
 
28 
 
Capítulo V – São João 
 
29 
 
ra a semana da Festa de São João. 
Todas as turmas preparavam uma 
apresentação para o dia da festa, que 
haveria na escola. O 2º ano – no qual 
eu estudava –, era responsável pelo pau-de-fita, pelo 
segundo ano consecutivo. Eu não era muito fã do 
pau-de-fita, mas aceitei participar. Era um “chá de 
tentativas e mais tentativas”, pois por incrível que 
pareça, tem pessoas que não tem capacidade de 
seguir uma simples regra: por cima, por baixo. 
 A direção da escola e o Grêmio Estudantil se 
empenhavam nos preparativos da festa. Naquele ano 
haveria uma barraca diferente na festa, um correio 
do amor. Parece meio clichê essa coisa de amor de 
escola e felizes para sempre, mas eu 
verdadeiramente acreditava que um dia eu ia 
encontrar o amor. Por isso senti certa empolgação ao 
saber da barraca. 
 Planejei por alguns dias, mais precisamente 
por duas semanas, uma carta ao David. Na véspera 
da festa eu escrevi-a. Palavras, meras palavras, mas 
E 
30 
 
que podiam mudar minha vida, tanto para melhor, 
tanto para pior. 
Querido David 
Escrevo esta carta para te dizer que sou 
muito apaixonado por você. Não tenho 
coragem de falar pessoalmente e nem 
de me apresentar, por isso te escrevo 
por trás desta, e te envio 
anonimamente. 
P.S. Você não sabe, mas saberá um dia. 
 Chegou o grande dia. Foi difícil apresentar o 
pau-de-fita na frente da escola inteira. Mas por um 
lado era bom. Eu estava usando uma camisa xadrez 
– novidade nenhuma, já que era uma festa junina –, 
uma calça jeans que eu tive de rasgar só para a festa 
e um coturno preto. 
 Após as apresentações era a hora do intervalo. 
31 
 
E eu com uma carta no bolso, prestes a ser 
entregue. 
 Foi quando eu vi o David pela primeira vez no 
dia, ele estava lindo. Eu e meus amigos comemos. 
Então para manter o sigilo, Luana comprou um 
correio do amor, já que eu não podia me expor. Para 
você que talvez não faça a menor ideia do que é um 
correio do amor, são bilhetes pré-escritos com uma 
mensagem melosa, e o bilhete vem acompanhado de 
um chocolate. Tenho uma critica até hoje para 
aquele correio do amor, já que com a palavra correio 
as pessoas esperam que os bilhetes sejam entregues 
aos seus destinatários. E naquele dia parece que o 
conceito de correio mudou, e na verdade não 
bastava de uma barraca de venda de bilhetes, já que 
se você quisesse que a carta fosse entregue, você 
mesmo entregava. Novamente meu anjo da guarda 
me ajudou. Luana entregou o bilhete e a carta que 
eu havia escrito. Eu acredito até hoje queela roubou 
o chocolate, mas não era o chocolate que importava 
e sim a carta. 
32 
 
 As semanas passaram. A vida tocou em frente. 
Eu não o esquecia. Alias nem fazia questão. 
 Ele me pegou olhando para ele algumas vezes. 
Então supus que ele já devia imaginar. 
 
33 
 
Capítulo VI – Feira de 
ciências 
 
34 
 
urante várias semanas, tudo em minha 
vida permaneceu normal. Eu ia para a 
escola, voltava da escola, ia para o 
trabalho, voltava do trabalho. Uma rotina tediosa. 
Mas nesse meio tempo, tive a oportunidade de fazer 
uma amizade nova. Ele era amigo de uma amiga. 
Seu nome era Nicolas, e sim, ele era homossexual. 
Mas o fato de ter a mesma sexualidade que a minha, 
não me fazia sentir atraído por ele. A minha amizade 
por ele substituiu a minha amizade pelo Jefferson. 
Já que ele havia mudado de turno na escola, o que 
nos fez ficarmos tão distantes. Eu sentia uma 
enorme falta da nossa amizade. 
 
 Certo dia, recebemos a notícia de que haveria 
em nossa escola, a Feira Estadual de Matemática, 
Ciências e Tecnologia. Com isso várias escolas iriam 
vir até a nossa, para prestigiar a Feira. Inclusive a 
escola em que o Nicolas estudava. Então era o dia 
que eu conheceria meu amigo virtual. 
 
D 
35 
 
 Alguns dias depois recebi a mensagem de 
minha amiga – a que me apresentou o Nicolas –. Ela 
queria me dizer que o Nicolas me achara muito 
bonito e que queria ficar comigo. Eu fiquei em 
choque, um choque no qual quase não me consegui 
recuperar. Eu não queria ficar com o Nicolas. Mas 
para não dizer não de cara, eu disse que eu iria 
pensar, e responderia no próximo dia. 
 Aquilo me fazia sentir mal, pois eu amava o 
David. Dava-me uma sensação de traição, mesmo eu 
não tendo nada com o David, mesmo ele nem se 
quer saber os meus sentimentos por ele e nem se 
quer nunca ter trocado uma palavra. 
 Cheguei no outro dia na escola. Logo que a 
Luana chegou eu contei a ela. Ela me pediu para ver 
uma foto dele. E então como era o esperado eu 
mostrei sua foto de perfil a ela. Ela disse que ele não 
era feio e que eu ia ficar com ele e ponto final. 
Minhas amigas tinham o hábito de querer me ajudar 
na minha vida social. Ela falou de um jeito como se 
fosse ela que escolhesse por mim. 
 
36 
 
 Chegado o grande dia, o dia da Feira. Eu 
estava muito ansioso para conhecer o garoto. Eu não 
o achava feio, mas eu não queria ficar com ele. 
Sentia de alguma forma que eu estava traindo ao 
David. Parece meio maluco isso, mas eu estava mal 
por isso. 
 Você provavelmente conhece o ditado: “Siga o 
seu coração”, então, foi exatamente o que eu não fiz. 
O primeiro beijo, nós sempre esperamos ser especial, 
mas o meu primeiro beijo não foi. Porque beijar num 
cemitério, no sol e o seu parceiro ter gosto de 
sabonete na boca, em minha opinião não é 
considerado muito romântico e nada especial. E no 
meio do beijo ele ainda disse: 
 — Tenho que ir pegar meu ônibus. 
 E foi isso. A história do meu primeiro beijo. Eu 
nunca mais o vi e nunca mais falei com ele. E então 
foi o fim de uma amizade. Agora eu podia dizer que 
já havia beijado alguém. Não era mais o completo 
esquisitão. Mas o que ter beijado ou não alguém 
quer dizer. Isso não deveria importar. 
 
37 
 
Capítulo VII – A segunda 
festa 
 
38 
 
ra junho ainda. Estava para acontecer em 
nossa cidade uma das festas mais 
tradicionais. A Festa Junina de Santa 
Margarida. Eu odiava festas. Então era 
obvio que eu não iria, pois não estava nem um 
pouco afim. Mas como o coração da gente adora 
iludir a gente, para ferir a ele mesmo. Comecei a 
pensar na probabilidade, que agora subira de 0% 
para 1%. Eu realmente queria me enturmar um 
pouco mais, queria me sentir cheio de amigos e 
esquecer meus problemas. E é claro também, o 
David iria estar lá. Era mais uma oportunidade de 
ver o seu rosto mais uma vez. Eu realmente achava 
que a gente podia ficar junto algum dia, mesmo o 
óbvio me dizendo o contrário. Mas é aquilo que eu já 
disse, o coração adora pregar peças. Porque se eu 
tivesse ouvido a voz da razão, eu nunca teria ido até 
aquela festa. Porque eu mal imaginava o que a noite 
me guardava. 
 Mas para mim tudo ia bem. Minha amiga 
Rainara iria estar lá, então o que de tão ruim podia 
acontecer? 
E 
39 
 
 Após chegar à festa, eu fiquei lá, parado, 
esperando minha amiga aparecer. Eu esperei, e 
esperei, e esperei. Devia dar uma hora que eu já 
tinha esperado e nada de ela aparecer. Então decidi 
que ia dar uma rodada pelo salão, e com sorte eu a 
encontrasse. 
 No meio da caçada por ela, avistei um de meus 
professores da escola. Nós éramos um pouco 
chegados, então resolvi perguntar se acaso ele não 
havia visto Rainara. Ele estava com sua namorada. 
Então assim que perguntei, ele se afastou um pouco 
dela, que estava ocupada conversando com outra 
mulher. 
— Ela passou aqui antes. Ela tava 
arrebentando. 
Naquele momento, eu pude ver o tamanho 
canalha que ele era, pois acho que falar da ex perto 
da atual não é muito ético. É isso mesmo que você 
leu, ex – que foi, que não é mais, que foi um dia – 
mas é uma longa história. Um cara que levasse uma 
garota muito mais nova para flertar na casa da avó, 
é um digno canalha com C maiúsculo. 
40 
 
 Resolvi ir para o lado de fora do salão para ver 
se tinha mais sorte. Quando eu estava chegando à 
porta de saída, eu o vi no meio da euforia, sim, é 
exatamente quem você está pensando. Era ele, o 
motivo pelo qual um antissocial havia decidido ir a 
uma festa. Ele estava tão lindo. Ele vestia uma 
camiseta branca e uma calça escura. Estava a 
conversar com alguns amigos, inclusive um cara que 
eu havia estudado no 1º ano, que no qual era amigo 
do Jefferson, e eu podia botar a minha mão no fogo 
afirmando que o Jefferson contou à ele sobre, você 
sabe, sobre tudo. 
 Minha vontade era ficar ali o resto da noite 
olhando ele, admirando o lindo rapaz que ele era, 
mas tive que seguir o plano, continuar procurando 
pela Rainara. 
 Sentia-me um peixe fora da água. Todos 
aqueles adolescentes completamente sociáveis, 
interagindo uns com os outros. E eu estava lá, no 
meio da multidão me sentindo desconfortável e 
inseguro. Eu só pensava qual o motivo de eu estar 
ali. Andei um pouco pelo lado de fora do salão na 
41 
 
dita fé e esperança de que eu ia encontrá-la. E então 
finalmente depois de quase duas horas de procura, 
eu a encontrei. Ela estava andando com uma garota, 
que por coincidência, era a garota que a Luana já 
havia brigado na escola. Inclusive a Luana ainda 
tem a lembrança da briga, e sempre vai ter, porque a 
lembrança é a cicatriz de uma mordida que ela deu 
na coxa da Luana. 
 Rainara estava vestindo um camisete xadrez, 
uma calça legging preta com renda transparente na 
lateral, o que dava um toque sensual, e calçava uma 
bota de cano alto. Conversamos um pouco e então 
ela disse: 
 — Vem conhecer alguns amigos meus. 
 Ela andou em direção á um pequeno grupo de 
adolescentes e tive de ir de atrás. Dentre os amigos 
dela, eu conhecia um garoto que havia estudado 
vários anos da infância comigo. Por um instante 
lembrei que um dia havíamos sido amigos, ou não 
faço ideia do que éramos. Mas tivemos vários 
momentos de aventuras quando crianças. Ela nos 
apresentou e um deles tomou a palavra: 
42 
 
 — Tu não quer dar uma tragada? 
 Sim eles estavam fumando cigarro, mas o que 
ele havia me oferecido tenho certeza de que não era 
cigarro. 
 — Não, obrigado. — respondi. 
 — Ei para! Ele não gosta dessas coisas. — 
disse Rainara. 
 Eles começaram a rir, supus que era de mim. 
Então Rainara disse: 
 — Vamos dar uma volta. 
 Andamos e quando chegamos em frente a 
porta do salão. Ficamos conversando. 
 — Eu vou ficar com o Ricardo hoje! 
 — Ele pediu? — perguntei. 
 — Não, eu vou pedir daqui a pouco. 
 — E como você sabe que ele vai querer? 
 — Eu sei. 
 Eleera o segundo garoto mais lindo da nossa 
sala qualquer um queria ficar com ele. Mas ele não 
ficava com qualquer uma. 
 Então um ex da Rainara chegou perto dela. 
Começou a implorar para ela ficar com ele. E ele 
43 
 
estava namorando a irmã de Rainara. Ou seja, outro 
canalha. 
 — Eu não vou ficar contigo Ronaldo. Quando 
eu era apaixonada por você, tu nem me dava bola, 
então agora não vou ficar com você. O mundo da 
voltas querido! 
 Mesmo assim, depois de levar o maior fora, ele 
ainda não se cansara de rachar a cara. Ficou ali 
perturbando por mais uns quarenta minutos. 
 Quando finalmente ele se cansou de perturbar 
e foi embora, Rainara disse: 
 — Até que enfim foi. Agora eu vou ficar com o 
Ricardo. 
 Então ela foi em direção a ele, que se 
encontrava de pé, perto da entrada do salão. Ela me 
deixou ali sozinho. Ela chegou nele e falou: 
 — Oi. 
 Não tenho certeza se ele respondeu. 
 — Tu tá solteiro? 
 — Não. — respondeu ele. 
 Ela reparou que no dedo dele não havia 
nenhuma aliança, ou seja, para um bom 
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entendedor, isso é um fora. Tive de rir por dentro, 
não me aguentei. Ela voltou igual um cãozinho 
deprimido. 
 Se você pensa que um fora abala a Rainara, 
você está muito enganado. Ela tinha um espírito 
festivo que poucos têm. Ela disse então: 
 — Vamos atrás da igreja dançar um pouco. 
 Eu não estava nem um pouco afim de ir, pois 
já sabia que tipo de dança se tratava. 
 
 Era exatamente o que eu tinha imaginado. 
Carros com som automotivo, meninas com short 
curto em pleno mês de junho e dançando até o chão, 
bebidas e bem provável que todos eles já tinham 
feito uso de algo ilícito. Se antes eu já me sentia um 
peixe fora da água, você não pode imaginar como eu 
me sentia agora. Eu simplesmente travei e fiquei lá 
feito um poste. Eu não conseguia me mexer, eu 
tentava me agitar ao menos um pouco, mas quanto 
mais eu tentava, mais travado eu ficava. Fiquei um 
bom tempo lá de pé, só desejando nunca ter saído de 
casa. A única coisa que eu consegui dizer foi: 
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 — Eu vou sair daqui. 
 Rainara foi de atrás de mim insistindo para 
que eu ficasse. 
 — Eu não volto pra lá! Vamos pra dentro do 
salão. 
 — Ta bom. Mas depois a gente volta. 
 
 Assim que entrei no salão, avistei o David 
perto da entrada. Por um segundo imaginei como 
seria minha vida se nós dois estivéssemos juntos, 
apaixonados, de mãos dadas, dando motivo para 
toda a festa falar. Mas num piscar de olhos a 
realidade apareceu. 
 Fomos até o caixa comprar um refrigerante. 
Quando estávamos perto do caixa, alguém apareceu, 
um alguém que eu reconheceria no meio de mil 
pessoas. Vestia calça preta e um casaco alaranjado. 
Era ele, a pessoa que no passado eu daria minha 
vida por ele, era o Jefferson, o garoto que eu mais 
havia amado em minha vida. Fazia meses que eu 
não o via. Se um aparelho medisse minha ansiedade 
naquele momento, ele iria explodir. 
46 
 
 Ele caminhava em minha direção. Quando 
chegou perto ele e Rainara se cumprimentaram com 
as bochechas batendo uma na outra. Então ele 
virou-se para mim e disse: 
 — Oi. 
 Falou isso abrindo os braços para me dar um 
abraço falando: 
 — Ahhhhhhhh! 
 Como se estivesse emocionado de me ver. E 
então me abraçou. Eu daria tudo para ativar o 
replay ou o pause daquele momento. Não foi um 
simples abraço daqueles em que se da um tapinha 
nas costas, foi um abraço sincero. 
 — Que saudade mano! — eu disse enquanto 
continuávamos abraçados. 
 O melhor abraço que eu tive em minha vida e 
um dos melhores momentos que tive em minha vida. 
 Após terminar o abraço, ele foi embora. Eu e 
Rainara compramos o refrigerante, ela me fez ir em 
direção de trás da igreja. Mas quando estávamos 
chegando eu falei: 
47 
 
— Eu não vou. Pode ir se você quer, eu vou 
ficar aqui. 
— Mesmo? — ela pediu. 
— Sim. 
Minha boca falou para ela ir, mas parte de 
mim gritava pedindo socorro. 
 Então ela foi embora, e eu novamente fiquei 
sozinho, ali, no escuro. Sentei-me na escadaria da 
igreja. Comecei a pensar em tudo, no que havia 
levado a minha vida chegar aquele ponto. Por que o 
Jefferson depois de eu achar que não existisse mais 
amizade entre nós, veio me abraçar? Coisa que 
nunca pensaria que acontecesse. 
 Senti-me como se estivesse diante de um 
grande precipício com ninguém para me puxar dele, 
sem ninguém que ligasse, nem que ao menos 
notasse. 
 Resolvi depois de muito tempo sentado 
naquela escada de concreto gelada, que eu não iria 
esperar pela Rainara. Caminhei até os fundos da 
igreja e disse a ela: 
 — Eu vou pra casa. 
48 
 
 — Beleza. — ela disse. 
 
 Tranquei-me em meu quarto e não sai dele. 
Não leve ao pé da letra. Eu só ficava em paz comigo 
mesmo em meu quarto. Minha vontade era ficar na 
cama para sempre. Mas agora, nem em meu quarto 
eu tinha paz, pois agora, uma tsunami de pesadelos 
começou a perturbar meu sono. Monstros, cobras, 
assassinos e muitas outras coisas, agora eram os 
personagens horripilantes dos meus pesadelos. Eles 
eram os responsáveis por fazer minhas pernas 
travarem, sem que eu conseguisse fugir deles. 
 Será que eu nunca ia conseguir fugir de meus 
problemas? Eles iriam me corroer para sempre? 
 
49 
 
Capítulo VIII – Festival de 
talentos 
 
 
50 
 
inha mente agora era dividida em duas 
pessoas. Tudo o que eu conseguia 
pensar era neles, nos dois garotos que 
mais mexeram comigo, David e Jefferson. Eu 
bloqueei as lembranças ruins que eu tinha do 
Jefferson, e tentei recomeçar nossa amizade. 
 Naqueles dias resolvi falar com ele através de 
mensagens. O melhor jeito de eu começar uma 
conversa com ele era marcando um horário para 
cortar o cabelo, já que ele era barbeiro. 
 Mal eu sabia que o destino estava prestes a 
pregar uma peça em mim, e que novamente meu 
coração estava prestes a ser despedaçado mais um 
pouco. 
 Ele disse que me aguardava. Fui para a 
barbearia com o coração na mão, com frio na barriga 
e com as pernas tremendo. Cheguei à barbearia. Ele 
já estava me esperando. Fez-me um sinal indicando 
para eu sentar-me na cadeira. Sentei-me e ele disse: 
 — Casaco show. 
 Era um casaco de moletom do Gusttavo Lima. 
Posso contar um segredo a você? É nosso segredo 
M 
51 
 
viu. Eu comprei aquele casaco só para impressionar 
o Jefferson, junto com outra camiseta que é replica 
de uma que o Gusttavo Lima usou em um DVD. 
 — Como vai querer o corte? — ele perguntou. 
 Mostrei-o uma foto de um modelo. Ele 
observou por alguns segundos e disse: 
 — Beleza. 
 Era maravilhoso estar ali, com o garoto que eu 
mais tinha amado na vida. Sentir o toque dele na 
minha cabeça fazia-me sentir especial. Conversamos 
um pouco não me lembro de todos os assuntos, mas 
lembro de pedir: 
 — Como tá na escola? 
 — Mal. Não estou ligando pros estudos. 
Faltando bastante. Acho que vou parar de estudar. 
 Eu pensei em falar: ―Não desista, você chegou 
até aqui, agora vai desistir?‖, mas lembrei-me de que 
ele odeia qualquer um que diga a ele o que fazer. 
Então fiz o que devia fazer, ou o que eu achava que 
era o certo, fiquei quieto. Hoje eu penso, será que se 
eu tivesse o incentivado, talvez as coisas fossem 
diferentes para ele. Mas eu já havia o ajudado tanto. 
52 
 
Levei-o nas costas o 1º ano inteiro, fiz tudo o que 
pude para ajuda-lo. Hoje vejo que passar cola ou 
fazer o trabalho sozinho, não é ajudar, é folgar. Ele 
só passou no 1° ano porque eu fiz incansavelmente 
meu trabalho como amigo. Talvez ele tivesse 
problemas que eu jamais iria entender. A dificuldade 
de ele se abrir para mim era incalculável. No 1° ano 
ele sofria de algum problema com ansiedade ou 
estresse. Sofria ataques constantes. Problemas na 
gastro-digestão começaram a aparecer. Eu só queria 
ajudá-lo. Mas parecia que ele se abriria para a 
primeira pessoa que aparecesse em sua frente, mas 
não para mim. Na verdade não parecia,era a 
verdade. Pois eu o vi desabafando para uma garota 
de minha sala na época. Mas eu nunca o julguei por 
isso, eu só gostaria de saber o porquê. 
 — Você podia tocar violão para mim no 
Festival de Talentos desse ano? 
 Ele fez uma cara pensativa e permaneceu 
calado alguns segundos, e disse: 
 — Tá bom. 
 
53 
 
 Nas próximas semanas começou o trabalho 
incansável de escolher o repertório e ensaios. 
 Ensaiei muito. Tanto que quase enjoei da 
música. Decidi que ia cantar duas musicas da 
Naiara Azevedo, que era minha cantora favorita. 
 A rotina diária de estudo para o trabalho o dia 
todo e a noite ensaio era maçante, mas o objetivo era 
simples, estar preparadíssimo para o grande dia. 
 Aquecimento vocal, exercícios de dicção, de 
respiração, de ressonância, vocalizes, o repertório e 
por último o desaquecimento vocal, levavam em 
torno de uma hora e meia a duas horas, por dia. 
 Estava muito preocupado de ir me apresentar 
sem ensaiar com o violão, chegar no dia e não 
atingir o tom e tivesse uma quebra vocal na frente 
da escola inteira. Então comecei a insistir para que 
ensaiássemos pelo menos uma vez. Eu estava certo 
em pedir isso, mas parecia que ele não estava se 
importando nem um pouco. No começo achei ser 
normal, pois em nossa apresentação do 1° ano, ele 
ficou do mesmo jeito, desinteressado. Então decidi 
parar de insistir. Chegando o dia do Festival eu 
54 
 
tinha de decidir a roupa que eu usaria. Comprei 
uma calça bege e usaria uma camisa azul, que eu 
nunca havia usado. 
 Um dia antes do Festival eu já estava 
totalmente preocupado, pois não havia nem um 
sinal do Jefferson. 
 Informei-me do horário que seria o Festival 
para avisar ao Jefferson. Quando cheguei em casa, 
avisei a ele que seria após o intervalo. Então recebi 
uma mensagem de volta. 
 
 
 
 
 
 Aquilo foi o mesmo que levar um choque em 
alta voltagem. Por que ele havia feito àquilo comigo? 
O Festival era um dos dias mais importantes da 
minha vida. Agora estava tudo arruinado. 
 Eu tinha de fazer o impossível para conseguir 
fazer um playback para conseguir me apresentar, 
pois eu não podia chegar no dia e dizer que eu não 
Não vou poder ir 
Não tô em Salete 
55 
 
iria mais cantar. Todo o meu trabalho havia sido 
jogado no lixo. 
 Tive de procurar outro repertório em algumas 
horas. Por fim graças a aplicativos de internet 
consegui diminuir o tom de uma música. Já passava 
de meia noite quando acabei. Pedi ajuda a varias 
pessoas que tocavam violão, mas ninguém iria 
gravar um playback àquela hora para ficar pronto 
para o outro dia. Quando finalmente acabei, me 
lembrei de que tinha de levar a música em pen drive. 
Eu não tinha nem pen drive nem computador. 
Luana disse que me emprestava o pen drive dela. O 
computador, usamos o da professora de história. 
Somente quando eu colei a musica para o pen drive 
eu pude respirar tranquilo, quer dizer, mais ou 
menos tranquilo. Foi a pior noite de sono da minha 
vida. 
 Como em todas as vezes que eu me 
apresentava na escola, eu ficava muito nervoso no 
dia. Meu corpo chegava a arder de tão quente. 
 Fui anunciado pela diretora. Agora não tinha 
mais volta. Andei pelo corredor no meio da plateia, 
56 
 
subi no palco, e cantei. Não foi a melhor 
apresentação do mundo, mas pelo menos me 
apresentei, não precisei desistir. 
 
 Naquela noite Luana me enviou uma 
mensagem. 
 
 
 
 
 Acho que nunca havia me sentido daquele 
jeito. Não sabia explicar se era raiva ou se eu estava 
chateado. Só sei que nunca mais haveria amizade 
entre nós dois. 
 
Eu passei pela barbearia hoje 
de tarde e o Jeff tava lá 
57 
 
Capítulo IX – Fim do 2° ano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
58 
 
udo havia passado tão depressa. Quando 
nos deparamos estávamos em reta final. 
O natal se aproximando, as festas de fim 
de ano chegando, viagem da turma, provas finais e 
muitos outros episódios. 
 Tudo estava tão intenso e estressante. Eu 
tinha tanta coisa para fazer. No meu trabalho as 
coisas estavam tão angustiantes. Eu estava 
pensando em largar ele. No começo eu adorava meu 
trabalho. Eu me sentia valorizado. Eu me apeguei 
muito à família de meus patrões. Mas embora o 
salario não fosse o mais merecido do mundo, eu 
gostava de trabalhar lá. Mas chegou num ponto em 
que eu não queria mais ficar lá, eu estava exausto. 
Eu voltava para casa todas as noites chorando. Só 
Deus sabe o tamanho sofrimento que eu passei. Eu 
não me importava mais com nada. Minha mente era 
um hospício. Mas eu não sofria pelo trabalho, eu 
sofria pelo cansaço, eu não sei, mas trabalhar e 
estudar ao mesmo tempo é um pouco complicado. 
Minhas notas estavam caindo. Por fim eu não 
aguentava mais, eu precisava seguir outro caminho. 
T 
59 
 
 Resolvi então, prestar concurso para menor 
aprendiz em uma empresa da minha cidade. A vida 
melhorou bastante, minhas notas subiram 
novamente. Eu, junto de quatro pessoas tiramos a 
melhor nota no concurso. Junto com a nota da 
prova os recursos humanos da empresa analisaram 
o histórico escolar de cada candidato. Por isso 
estudar é tão valioso, às vezes nos desanimamos, 
mas se você se esforçar, um dia alguém enxergará o 
seu esforço. Foi o que aconteceu no meu caso. No 
dia da admissão a gestora dos recursos humanos já 
disse que com certeza eu iria conseguir uma vaga no 
escritório. Fui selecionado para trabalhar 
justamente no setor de recursos humanos. Sem falar 
que agora eu tinha um contrato formal de trabalho, 
com direitos. 
 
 No fim do ano nossa turma viajou para 
Florianópolis. Fizemos um passeio de escuna pelas 
ilhas e suas fortalezas da capital de Santa Catarina. 
Foi um dos momentos mais inesquecíveis da minha 
vida. 
60 
 
 
 Eu continuava a amar o David. Cada vez mais 
eu gostava dele. 
 
61 
 
Capítulo X – Primeiro dia 
(parte dois) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
62 
 
ra uma segunda-feira. Poderia ser 
considerada normal, mas não era. Não 
era pelo fato de que as férias terem se 
findado. Acho que você já deve ter ouvido essa frase. 
É a frase que eu iniciei este livro. Sabe o porquê eu a 
usei novamente, pois tudo se iniciava de novo. 
 Agora o último ano do colegial. Daqui um ano 
provavelmente eu estaria na faculdade, embora 
ainda não fizesse ideia do que eu queria da vida. 
 O ano de fazer dezoito anos, ano de fazer 
minha carteira de motorista, ano de alistamento 
militar e eleitoral, visitas nas faculdades, formatura, 
camisetas e casacos da turma, baile de formatura, 
terno, emprego novo. Iria ser um ano daqueles. 
 O primeiro dia de aula é como todos os anos, 
você fica meio ansioso, acha que vai ter algo de 
diferente, mas no final é igual todo ano. 
 No meio de uma rotina turbulenta que eu 
teria agora, havia um motivo bom, eu iria poder ver 
o David novamente. 
 Agora eu só tinha uma amiga na escola, 
somente a Luana. Lembra da Rainara, da festa de 
E 
63 
 
São João, então, ela foi embora com a família morar 
em uma casa do litoral. Fiquei muito triste por ela 
ter ido embora. Mas eu estava feliz por ela ter tido a 
oportunidade de ir morar em uma cidade grande. 
 Luana havia terminado um namoro. Ela havia 
conseguido um emprego em um salão de beleza. Ela 
começou a fazer um curso da área, no qual ela 
adorava. Eu torcia muito para ela ser feliz. Sempre a 
incentivei a fazer um curso de enfermagem, pois 
sempre a imaginei em uma roupa de enfermeira, ela 
ficaria linda. Mas eu a incentivaria no que quer que 
ela escolhesse. 
 Chegando à escola, comecei a rotina diária. 
Levar minha bolsa na sala de aula, ir ao banheiro, 
encher a garrafa de água, comprar umas balas e ir 
até o ponto de ônibus esperar a Luana. 
 Assim que ela chegou, nos damos um abraço 
para matar a saudade de ficarmos longe durante as 
férias de verão. 
 — Novidades? — perguntei. 
 — Sim! Tenho uma coisa pra te contar. 
 — O quê?64 
 
 — Eu comecei a ficar com um garoto nas 
férias. Ele trabalha no salão também. Ele é irmão do 
André. 
 André é o barbeiro que cortava meu cabelo 
depois que eu parei de cortar o cabelo com o 
Jefferson. 
 — Sério? Que bom. — falei. 
 — E ele vai estudar com a gente. 
 — Sério? 
 — Sim. Ele é tão lindo Victor, tu não tem 
noção. 
 — Como é o nome dele? 
 — Mateus. 
 — Vamos, vai bater o sinal da primeira aula. 
 
Nossa professora de história entrou na sala e 
disse: 
 — Todos para a assembleia, a diretora quer 
dar umas palavras. 
 Era aquele negócio de todo primeiro dia de 
aula. Os professores se apresentam e a diretora 
deseja as boas vindas, principalmente para os 
65 
 
alunos novatos. É aquela ladainha repetida todo 
ano: aproveitem o ano para se dedicar nos estudos e 
blá blá blá. 
 Voltamos para a sala. Todos estavam 
sentados. Então a professora de história que iria ser 
nossa professora regente aquele ano, explicou a 
dinâmica que iriamos fazer. Então ela foi 
interrompida por um assessor da escola: 
 — Com licença professora, vim trazer um 
aluno novo pra essa turma. 
 Então apareceu na porta um garoto. 
 — É esse Victor! — sussurrou Luana. 
 Ele era moreno, tinha cabelos negros e não era 
muito alto. 
 — Qual é o seu nome? — perguntou a 
professora. 
 — Mateus. 
 — Venho da onde Mateus? 
 — Blumenau. 
 — Tem um lugar aqui. — ela falou apontando 
para uma carteira da janela. 
 
66 
 
 Mateus começou a andar com a Luana e 
comigo. Luana estava apaixonada, dava de ver de 
longe. Ela tinha um jeito meio durona, mas era 
muito sensível. Igual a mim. Deve ser porque 
nascemos no mesmo dia, como irmãos gêmeos, mas 
de mães diferentes. 
 Um escorpiano não demonstra as suas 
fraquezas para qualquer pessoa. Ele só irá se 
mostrar para aquele que é digno de sua confiança. 
São muito intensos, ou amam, ou odeiam, não existe 
meio termo. E bem lá no fundo são uma manteiga. 
Mas não ouse trair a confiança de um escorpiano, 
eles são muito conhecidos por serem vingativos. 
 Naquele dia eu consegui ver o David no 
intervalo, fiquei muito feliz, pois já fazia dois meses e 
alguns dias que eu não o via. Ele não havia mudado 
nada. 
 
67 
 
Capítulo XI – A mensagem 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
68 
 
ntão tudo continuou. Luana e Mateus 
começaram a namorar. Eu continuei sem 
saber o que eu queria da vida. A escola 
continuava a mesma e o trabalho também. E eu 
ainda amava o David. Todos dizem que só o tempo 
cura a dor. Mas eu nunca o esqueci, depois de mais 
de um ano amando-o. Será que não estava na hora 
de eu revelar o que eu sentia por ele. Talvez não 
fosse mudar nada em minha vida, mas talvez 
mudasse. Não quero dizer que ele correria para 
meus braços, não, quero dizer que talvez revelando a 
ele, eu entenderia o que eu precisava e encontrasse 
a chave da minha felicidade e assim conseguiria 
esquecê-lo. 
 Trabalhei muito em um pequeno texto de amor 
que contasse tudo o que eu senti gostando dele, e 
como estava sendo difícil esquecê-lo. 
 Perdi a conta de quantas vezes eu colei a 
mensagem no chat do Whatsapp dele, mas eu 
sempre amarelava. Até que um dia eu pensei que 
nada importava mais, e que fosse o que Deus queria. 
 
E 
69 
 
 David 
Não aguento mais ficar 
com essa angústia eu 
tenho que te dizer. Eu 
sou apaixonado por 
você, você não sai da 
minha cabeça. Não tem 
um dia se quer que eu 
não pense em você, ou 
que eu acorde e a 
primeira coisa que eu 
faça é ir olhar seu perfil 
pra ver suas 
publicações. Sério 
desde o primeiro dia de 
aula quando você veio 
pra nossa escola eu 
fiquei te olhando já, e 
com o tempo eu fui 
percebendo que não 
adianta dizer pra mim 
mesmo que eu não te 
70 
 
 
amava, por que não 
existe ninguém no 
mundo que pode 
fazer meu coração 
bater tão 
descompassado, que 
faça minhas pernas 
tremerem, que faça 
eu pensar nela antes 
de em mim mesmo, 
eu faço tudo por 
você. A carta que foi 
entregue a você na 
festa de São João era 
minha. Na sua 
educação física eu 
ainda aproveitava 
para subir em cima 
do vaso sanitário do 
banheiro para ficar te 
olhando jogar 
 
71 
 
 
kkkkkkkkkkkkkj, 
aliás você é um 
fenômeno. A 
melhor coisa do 
mundo pra mim é 
poder olhar esse 
seu rosto, olhar 
esse sorriso 
mesmo com 
aparelho sendo 
tão lindo, esses 
olhos que cativam 
só de olhar pra 
eles, o som da sua 
voz que é como 
música para os 
meus ouvidos. Eu 
odeio festas, mas 
eu fui pra santa 
margarida só pra 
poder ver mais 
uma vez esse 
rosto, que 
72 
 
 
é a razão de eu 
levantar todo dia e 
ir dormir 
pensando no outro 
dia. Cara é muito 
importante pra 
mim estar te 
contando isso, 
todos diziam, 
deixa quieto você 
vai esquecer ele, 
mas eu nunca 
esqueci. Eu não 
estaria te 
contando isso se 
eu não confiasse 
em você então, 
por favor, não me 
zoa e nem conta 
pra ninguém, eles 
não 
73 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Esperei bastante tempo, e nada de ele 
visualizar minha mensagem. Eu fiquei muito 
ansioso. Quando eram sete horas da noite, ele 
visualizou e não falou nada. Comecei a ficar nervoso 
e preocupado. Então resolvi contar a Luana. 
 
 
entenderiam. Se 
um dia precisar 
mim eu sempre vou 
estar disposto a te 
ajudar. Espero que 
entenda. Só queria 
que você soubesse, 
pois não aguentava 
mais ficar calado. 
Sempre conte com 
minha amizade. 
Eu te amo muito❤ 
 
74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Oi 
Eu contei pro David 
Mas ele visualizou não falou nada 
O quê? 
Tu não fez isso né? 
Mds, eu falei pra vc não falar 
Mas calma 
Talvez ele não pode falar agr 
Tá ocupado as vzs 
Tá bom, obg 
75 
 
 Eram onze horas da noite e nada dele 
responder. Até que recebi uma mensagem. 
 
 Era a Luana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oi 
Oi 
Ele respondeu? 
Não 
Tenho que te contar uma coisa 
Fala 
O David postou um print do que vc falou 
no twitter 
76 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E as pessoas tão zuando 
 
Não fica triste, ele é um babaca 
77 
 
Capítulo XII – Quarentena 
 
78 
 
ntão foi assim que minha começou a dar 
errado. Só quem já sofreu bullying sabe 
o quanto isso te corrói por dentro. Por 
que existem pessoas que acham engraçado ser 
malvado com pessoas inocentes? As pessoas 
diferentes não precisam ser criticadas por causa 
disso. É muito difícil suportar isso, mas 
provavelmente vai melhorar um dia. Não ouça o que 
as outras pessoas falam, por mais difícil que seja, 
apenas seja você mesmo. 
 O pior de tudo foi voltar para a escola na 
segunda-feira. 
 Entrei no ônibus comecei a me sentir 
paranoico. Parecia que todos estavam me olhando 
ou falando de mim. Senti-me inseguro nos primeiros 
minutos do dia. 
 Cheguei à escola. Dessa vez não fui levar 
minha bolsa na sala de aula como sempre fazia. 
Sentei-me no ponto de ônibus. Ali era mais isolado. 
As pessoas que ali passavam, não faziam questão de 
disfarçar que falavam de mim. 
E 
79 
 
 O ônibus da Luana chegou. Ela desceu e foi 
até o ponto. 
 — Oi. 
 — Oi. 
 — Tudo bem? 
 — Sim. 
 — Nem da bola, fingi que não é com você que 
eles tão falando. — falou Luana. 
 Então ela me deu um chocolate. 
 — Sei que isso não muda as coisas, mas eu 
me sinto melhor quando como um chocolate. 
 — Obrigado. — agradeci. 
 
 Quando entrei na sala de aula, todos me 
olharam. Sentei-me em minha carteira e abaixei a 
cabeça. Luana conversou um pouco com o Mateus. 
O sinal tocou, e logo a professora chegou. Era aula 
de sociologia. 
 — Bom, galera, antes de começar a aula, a 
diretora quer dar um recado para vocês na 
assembleia. 
80 
 
 Fomos ate a assembleia, onde estava toda a 
escola, inclusive o David cercado com os amigos 
dele, que, por sorte não me viram. 
 Esperamos um pouco e logo a diretora subiu 
no palco e começou a falar:— Galera, como vocês já devem ter ouvido nas 
redes sociais, o mundo está presenciando o inicio de 
uma pandemia. Ontem a tarde foi promulgado o 
decreto da suspensão das aulas por um mês, a 
princípio. É um momento muito delicado este que 
estamos vivendo. Eu peço agora que em respeito, 
rezamos um pai nosso pedindo a Deus que ele rogue 
por nós. — rezamos — Então a partir de amanhã 
vocês não precisam vir à escola. 
 Não agradeci por ter ocorrido uma quarentena, 
pois isso só ocorre quando as coisas são sérias 
mesmo. Mas aquele foi o momento certo para mim 
ficar sozinho. Talvez com sorte depois da 
quarentena, todos avessem esquecido. 
 No meu trabalho ganhamos férias e as aulas 
foram canceladas. 
 
81 
 
Capítulo XIII – Prisão 
 
 
 
 
82 
 
udo mudou drasticamente em minha vida. 
Eu que era acostumado a viver o dia inteiro 
cercado de pessoas, agora ficava o dia inteiro 
sozinho sem ver ninguém. 
 Todos nós em algum momento de nossas 
vidas, temos a necessidade de ficarmos sozinhos por 
um tempo, mas quando somos obrigados a viver em 
completo e absoluto isolamento social, isso mexe 
conosco. 
 Doenças podem surgir nessas condições. Eu 
acordava cansado todas as manhãs. Comecei a ficar 
tão quieto, eu não tinha vontade de sair da cama, 
nem de falar com ninguém e nem de comer. Eu me 
irritava facilmente, algumas vezes eu tinha vontade 
de quebrar tudo que estava ao meu redor. Nos 
últimos anos perdi muito o interesse em coisas que 
antes eu gostava de fazer, mas sempre pensava que 
era a puberdade, eu estava amadurecendo. Fiquei 
tão deprimido, eu só queria entrar em meu quarto, 
colocar meu fone de ouvido com minhas músicas e 
ficar lá fingindo que eu não existia. A dor de ser 
torturado pela sua própria mente é uma das piores 
T 
83 
 
que existe. Aos poucos você percebe que de fato você 
esta morrendo por dentro. A dor te consome e por 
mais que eu tentasse chorar para aliviar essa dor, 
nenhuma lágrima saía. Parecia quer a única escolha 
para sair daquela situação era o suicídio. Eu nunca 
quis morrer, mas eu queria acabar com aquela dor. 
 Senti muita vontade de procurar ajuda, ou de 
falar com minha mãe, mas acho que ela não iria 
acreditar. Quando eu tinha uns 12 anos, procurei-a 
e disse que eu não estava bem, quem eu me sentia 
mal, meio estressado. Só faltou ela rir da minha 
cara, na verdade ela ainda ficou meio brava. Sei que 
é difícil acreditar que um adolescente de 12 anos 
tem problemas psicológicos, mas a gente, só a gente 
sabe quando tem algo de errado conosco. 
 Eu sabia que algo não estava certo comigo. 
Tomei alguns remédios naturais de ansiedade, mas 
eles não ajudaram em nada, parecia que eles só 
pioraram. 
 Comecei a ficar preocupado com o que poderia 
acontecer da minha vida caso algo não mudasse 
logo. 
84 
 
Capítulo XIV – Liberdade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
85 
 
epois de vários meses confinado, enfim o 
Governo decretou o fim da quarentena. 
Talvez aquilo me levantasse novamente. 
Em três dias as aulas presenciais voltariam e junto 
delas, talvez, meu humor. 
 Preparei-me para que na segunda-feira tudo 
estivesse pronto. Uniforme lavado e passado, 
mochila limpa e organizada, sapatos limpos, tudo 
estava no devido lugar. 
 
 Era uma segunda-feira. Poderia ser 
considerada normal, mas não era. Não era pelo fato 
de que a quarentena ter se findado. Aposto que você 
não aguenta mais ouvir essa frase, mas prometo que 
foi a última vez que a escrevo. 
 O sol ainda estava escondido atrás das 
montanhas e a luz do dia começava a nascer. O 
vento fazia a temperatura parecer mais baixa, o seu 
murmúrio anunciava que seria um dia frio. A relva 
ainda se encontrava coberta de orvalho que com os 
primeiros raios de sol, já se resplandecia. Então de 
D 
86 
 
trás do morro pude ouvir o barulho do ônibus 
chegando. 
 A caminho da escola eu sempre ouvia música 
com meus fones de ouvido e ficava admirando as 
pastagens e lavouras pelo caminho. 
 Chegando à escola, fui realizar minha rotina 
matinal. Dessa vez as pessoas não ficaram me 
encarando, talvez tivessem esquecido, talvez tudo 
tivesse acabado, embora eu ainda me sentisse 
inseguro. 
 O sinal da primeira aula tocou. Então eu, 
Luana e Mateus fomos para a sala de aula. Era aula 
de história. 
 — Bom dia pessoal. — disse a professora. — 
Como todos sabem nós perdemos muito tempo, e 
isso nos atrasou muito então agora mais do que 
nunca é essencial a dedicação... 
 Então ela parou de falar. 
 — Olá. — disse ela com o olhar direcionado à 
porta, mas sem que ninguém pudesse ver para quem 
ela havia dito. 
87 
 
 Então entrou um garoto dentro da sala. Ele 
carregava uma bolsa lateral com tiras que ele as 
tinha no ombro contrário. 
 — Olá. — disse o garoto. — Aqui é o terceiro 
ano? 
 — Sim, é aqui. 
 — Eu sou novo nessa escola. — falou 
entregando uma folha à professora. 
 — Esta bem, agora temos de ver um lugar 
para você. Hummm. — ela fez uma cara pensativa. 
— Como antes da quarentena recebi algumas 
reclamações de que o Guilherme e o Jonathan estão 
perturbando a classe com suas conversas, vou 
aproveitar para fazer uma mudança. Jonathan vai 
para a carteira do lado dele – ele se sentava ao meu 
lado – e então o aluno novo senta onde o Jonathan 
estava sentado. 
 O novato iria se sentar ao meu lado. Ele tinha 
uma estatura normal e tinha cara de ser gentil. 
 Assim que ele se sentou e tirou o caderno da 
bolsa a professora continuou: 
88 
 
 — Como eu falava, agora mais do que nunca é 
hora de dedicação total aos estudos para garantir 
boas notas nos vestibulares. Hoje como vocês 
ficaram tanto tempo longe uns dos outros, nós 
vamos fazer um trabalho em dupla. 
 Odiava trabalho em dupla, pois eu ou o 
Mateus sempre ficávamos sozinhos – mas 
geralmente era eu –. 
 Luana foi até minha carteira e disse: 
 — O Mateus não quer ir sozinho. 
 — Pode ir com ele, de boa. — falei. 
 Então ela chegou perto de mim e sussurrou: 
 — Por que tu não vai com o novato? Ele não 
tem ninguém pra ir. 
 — Eu não vou pedir se ele quer fazer dupla 
comigo! 
 — Eu peço. 
 Então ela virou-se para o garoto e perguntou: 
 — Oi! Você quer fazer o trabalho com o meu 
amigo? 
 — Pode ser. — ele respondeu. 
89 
 
 Então ele arrastou sua carteira até juntar com 
a minha. 
 — Até depois Victor. — disse Luana. 
 Então ele estendeu a mão e disse: 
 — É um prazer Victor. 
 Dei a mão a ele e disse: 
 — Prazer. 
 — Sou o Nathan. Nathan significa “Presente de 
Deus” em hebraico. 
 — Certo, legal. 
 
 Naquela noite, diferente das outras, não dormi 
deprimido, mas, normal. 
 
90 
 
Capítulo XV – Nathan 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
91 
 
epois da chegada de Nathan, eu parei de 
fazer os trabalhos sozinho. Começamos a 
fazer os trabalhos sempre juntos, assim 
Luana sempre fazia com seu namorado e eu não 
tinha mais de ficar sozinho. 
 
 — O que você fez? — perguntou ele. 
 — O que? — perguntei. 
 — Esse cabelo todo revirado. — falou ele 
passando a mão no meu cabelo para arrumá-lo. 
 — Para. 
 — Usou gel demais. — falou ainda passando a 
mão no meu cabelo. 
 — Eu não uso gel, uso pomada, mas deixa 
assim. 
 Olhei para o lado e vi que dois garotos da sala 
assistiam a cena e ainda tiravam sarro. Então um 
deles ainda passou a mão no cabelo do outro 
tentando nos imitar. 
 — Nathan para! Por favor. 
 — Agora ficou gato. 
 
D 
92 
 
 O sinal tocou para o intervalo. Nathan sempre 
ficava sozinho. Sentamo-nos na mesa da cantina e 
Luana perguntou: 
 — Então, O Nathan é legal? 
 — Sim, ele é bem inteligente. 
 — Por que você não convida ele pra sentar 
aqui com a gente. 
 — Amanhã eu convido. 
 — Convida hoje. 
 — Eu não vou ir até lá convidar. — retruquei. 
 — Olha lá, ele tá sozinho coitado, e ele é tão 
querido. 
 — Tá bom eu convido. 
 Andei pelo pátio de concreto onde Nathanse 
encontrava sentado em um dos quiosques no centro 
do pátio. Ele estava pegando sol. 
 — Oi. 
 — Oi. — ele respondeu. 
 — Você não quer sentar com a gente? 
 — Se não for incomodar. 
 — Não, você não incomoda. 
93 
 
 Então andamos juntos até a mesa e nos 
sentamos. Depois de um minuto de silêncio, Luana 
quebrou o gelo. 
 — Onde você mora Nathan? 
 — Eu moro na rua da prefeitura. 
 — Sério? Eu trabalho num salão de beleza 
daquela rua, meu namorado também. 
 Então o sinal tocou o sinal anunciando o fim 
do intervalo. Era aula de física. Estávamos 
estudando campo elétrico. 
 
— Então, sabemos que a constante da 
proporcionalidade é igual á: nove vezes base dez na 
nona potência e que... 
 — Professora! — chamou Nathan. 
 — Sim? 
 — Não estou me sentindo muito bem, será que 
eu poderia ir tomar uma água? 
 — Pode sim. 
 — Será que o Victor poderia ir comigo? As 
vezes minha pressão abaixa e eu desmaio. 
94 
 
 — Sim, vá e voltem só quando você estiver 
bem. 
 Então me levantei e acompanhei Nathan até a 
porta. Assim que eu fechei a porta ele disse: 
 — Estamos livres! 
 — O que? Era mentira? Escuta, eu não sou de 
matar aula, matei uma vez, mas me arrependi 
muito. 
 — Fica tranquilo, eu estudei isso na minha 
outra escola, eu te ensino, é fácil de aprender, é só 
fórmulas. 
 — O que nós vamos fazer? 
 — Ah, vamos dar uma volta ao redor da escola 
sempre quis conhecer o jardim dos fundos da escola. 
 — Quinze minutos e voltamos para sala. 
 — Tá bom. 
 Caminhamos pelo gramado até chegar ao 
jardim dos fundos. Estávamos andando quando, de 
repente avistei o zelador. Puxei o braço de Nathan e 
corremos para trás de um enorme carvalho. Olhei 
para traz e vi o zelador indo embora, então disse: 
 — Ufa! 
95 
 
 Nathan se sentou no chão e eu sentei-me 
também. 
 — Você não tem muitos amigos né? — 
perguntou ele. 
 — Tenho. 
 — Te observo há semanas, e vejo que você só 
tem a Luana de amiga. 
 — Tenho o Mateus também. 
 — Ele não conta, ele vem de brinde com a 
Luana. 
 — Há dois anos eu tive um grande amigo, mas 
ele foi embora da escola e nos afastamos. 
 — Qual era o nome dele? 
 — Jefferson. 
 — Ficou bravo por que ele te deixou? 
 — Não 
 — Estava apaixonado. 
 — Para. 
 — Está chateado porque ele te largou. — falou 
rindo. — Não precisa ter vergonha, tudo bem gostar 
de caras. 
 — Temos que ir! 
96 
 
 Então ele aproximou seu rosto perto do meu 
rapidamente e me beijou. Ele colocou sua mão 
macia como algodão em minha nuca e eu encostei a 
palma de minha mão em sua face. Então o sinal 
tocou. 
 — Merda. — disse ele. 
 — Temos que ir Nathan. 
 
 No outro dia, cheguei à escola mais cedo do 
que o habitual. Levei minha bolsa na sala de aula, e 
fui para o gramado ao lado da escola onde havia 
sinal de internet. Surpreendi-me por ver Nathan. 
Ele estava sentado sob uma pedra, sozinho. Ele 
admirava o nascer do sol. Usava casacos de inverno 
grossos. Aproximei-me e sentei-me ao lado dele. 
 — E aí? Falou com sua mãe se você pode ir ao 
cinema comigo? — perguntou ele. 
 — Ela está pensando. 
 — Como assim? — ele perguntou. 
 — Minha mãe quer falar com a sua mãe. 
 Então ouvimos alguém falar: 
 — Hummmm, ai amor. 
97 
 
 — Me beija gostosão. 
 Olhei para trás e eram os mesmos dois garotos 
que riram do Nathan arrumando meu cabelo. 
 
 Minha mãe ligou para a mãe de Nathan: 
 — Nós o levamos, não se preocupe. — disse 
minha mãe. — Está bem, obrigada, tchau. 
 — Tudo bem então? — perguntei. 
 — A mãe do Nathan é muito legal, acho que 
não tem problema. 
 
98 
 
Capítulo XVI – Cinema 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
99 
 
inha mãe me levou até a casa de Nathan, 
para nós dois irmos ao cinema á noite. 
 
— Que casa linda! — disse minha mãe. — Tem 
até piscina. 
Nathan que estava mergulhando, saiu e pegou 
uma toalha. Ele se sentou nas cadeiras de sol junto 
comigo e minha mãe. 
— Querem beber algo ou comer? — pediu a 
mãe de Nathan. 
— Não, obrigado. — respondeu minha mãe. — 
Fico feliz de conhecer você, nossos filhos se adoram. 
— Que bom que aceitamos isso, muitos pais 
não entenderiam. 
— Eu já vou indo. Até amanhã. Se comporta 
né Victor. Qualquer coisa passa o chinelo. 
Minha mãe me fazia passar cada vergonha, 
mas eu a amava mais do que ninguém. 
— Divirtam-se. 
 
Durante a tarde nadamos na piscina. Dei meu 
primeiro beijo debaixo da água, e confesso que me 
M 
100 
 
afoguei. No fim da tarde, fomos para o quarto de 
Nathan nos prepararmos e tomarmos banho para 
dali algumas horas assistir o filme P.S. Eu te amo. 
 
 Sentamo-nos nas poltronas do cinema. As 
luzes ainda estavam acesas e o filme ainda não 
havia começado. Comemos pipoca e conversamos 
até que então as luzes se apagaram. Eu notei que ele 
ficou me encarando, mesmo após o filme ter 
começado. Olhei para ele, e dessa vez, eu beijei-o. 
Então me encostei de volta na poltrona, e por mais 
que eu gostasse do filme – que inclusive eu havia 
escolhido – fiquei tão cansado que acabei dormindo, 
talvez tenha sido a piscina que gastou todas as 
minhas energias. 
 
101 
 
Capítulo XVII – Sonho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
102 
 
nos haviam se passado e a cada dia desses 
anos eu amei Nathan incondicionalmente. 
Formei-me na faculdade, cursei moda. Abri 
meu próprio negócio, um atelier de vestidos. O nome 
de minha marca era Loucas pra Casar. 
Nem sei como, mas meus negócios decolaram. 
Todos amavam minhas roupas, me tornei muito 
conhecido no Brasil e até fora do país. Minha 
empresa importava vestidos para os Estados Unidos 
para a Inglaterra – principalmente – Espanha, 
França, Dinamarca, Austrália, Nova Zelândia e 
muitos outros lugares. Nunca iria dizer que aquele 
menino solitário se tornaria um empresário tão bem 
sucedido e famoso. Algumas empresas e revistas, 
diziam que meus vestidos de noivas eram os mais 
lindos do mundo. E por falar em casamento, eu e 
Nathan iríamos nos casar. O casamento seria dali 
uma semana. Estava muito ansioso com toda aquela 
correria de salão, Buffet, convidados. Era tanta coisa 
para organizar, mas iria ser o dia mais importante 
de minha vida. 
 
A 
103 
 
Era véspera do casamento. Eu e Nathan 
resolvemos fazer um jantar para nossos pais, avós, 
padrinhos e alguns amigos. Minha madrinha seria a 
Luana, sim nossa amizade permanecera todos os 
sete anos depois do fim do colegial. 
 O jantar havia saído como planejado, unir as 
famílias e amigos com muito carinho. Foi um dia 
memorável. 
 
Era um sábado. Poderia ser considerado 
normal, mas não era, não era pelo fato de que era o 
dia do meu casamento. Prometi que não ia mais 
usar essa frase novamente, mas não pude resistir. 
Iria ser o dia mais importante da minha vida. 
Selar meu compromisso com Nathan mostrava o 
quanto nosso amor era inabalável através das 
turbulências dos quase seis anos de namoro e dos 
quase dois anos de noivado. Depois do nosso baile 
de formatura, o dia que eu entreguei de corpo e alma 
á Nathan, eu soube que eu queria viver o resto da 
minha vida ao lado dele. 
104 
 
Tudo Parecia um sonho. Não dava nem de 
acreditar que eu estava me arrumando para o meu 
próprio casamento. Iria realizar o casamento que 
sempre havia planejado. Eu estava vestindo um 
terno branco com botões, bolsos e gravata dourada. 
Às dezoito horas, bem no pôr do sol seria 
cerimônia. 
Havia chegado a hora. Quando desce a hora 
marcada, nós sairíamos um de cada casa, pois eu 
acreditava que ver o noivo antes do casamento dava 
azar. Abri a porta e comecei a caminhar pelo 
gramado cheio de folhas de outono espalhadas pelo 
chão. Nathan saiu da outra casa e caminhamos um 
em direção ao outro. Quando chegamos uma frente 
do outro, nos damos às mãos e caminhamos até o 
local da cerimônia. Estavam todos em pé nos 
olhando emocionados, sabendo tudo que havíamos 
passado para chegar atéali. 
Caminhamos até o altar pelo tapete branco, 
enquanto a Marcha Nupcial tocava. Atrás do altar 
havia um pequeno lago. Nas árvores, estavam 
penduradas fotos em tamanho grande de todos os 
105 
 
nossos passos juntos. O mestre de cerimônias 
começou a nos casar. Então chegou a hora dos 
votos. Nathan começou primeiro. Ele estava lindo, 
havia deixado a barba crescer. Ele vestia um terno 
preto com detalhes prateados. 
— Victor, você é a pessoa mais irritada, mais 
teimosa e mais mandona desse mundo. E foi por 
isso que eu me apaixonei por você. No passar dos 
anos percebi sua bondade, o seu ótimo senso de 
humor e a sua descendência. Você é maravilhoso 
Victor e vai ser um orgulho poder te chamar de 
esposo. 
A cada palavra que ele dizia eu me emocionava 
mais, e no fim comecei a chorar. 
— Seus votos Victor. — disse o M.C.. 
— Nathan quando conheci você, você tinha 
muita cara de ser mulherengo, preguiçoso e bobo. 
Mas a cada dia que eu vivi com você, eu encontrei e 
vi o que realmente você era, e vi coisas que eu amei 
em você, como o quanto você é inteligente ou como 
se importa comigo e com sua família. Eu não sabia o 
quanto uma pessoa podia ser amorosa até te 
106 
 
conhecer. Em todos esses anos não teve um dia em 
que eu não te amei incondicionalmente, sem nunca 
brigarmos ou sequer discutirmos. Nunca pensei que 
iria encontrar alguém que me completasse como 
você me completa. 
Nathan eu te amo. 
Acendemos a vela de compromisso. Trocamos 
as alianças douradas com o nome dos dois gravados. 
— Podem se beijar. — disse o mestre de 
cerimônias. 
Damos um beijo e nos abraçamos enquanto 
todos batiam palmas. Eu não parava de chorar de 
emoção. 
 Fomos para o quintal da festa. Eu e Nathan 
subimos até a sacada da casa para fazer o brinde. 
Nathan estourou a garrafa de champanhe. Ele 
encheu nossas taças e fizemos o brinde – igual nos 
filmes, sabe, onde os noivos cruzam os braços para 
poder beber o champanhe – então após brindarmos, 
nós nos beijamos novamente. Então do nada uma 
chuva de fogos de artifícios começou a estourar 
sobre nós. Foi o dia mais lindo da minha vida. 
107 
 
Capítulo XVIII – Rio de 
Janeiro 
 
108 
 
ossa lua de mel iria ser viagens para os 
lugares que sempre sonhei em ir. O 
primeiro destino seria o Rio de Janeiro ou 
como também é chamada, Cidade Maravilhosa. 
Embarcamos em um voo em Florianópolis. Em 
duas horas chegamos ao aeroporto do Rio. Do avião 
já pudemos dar uma olhada nas praias 
maravilhosas do Rio de Janeiro, Botafogo, Flamengo, 
Copacabana e Itapema. Estávamos loucos para 
conhecer as praias mais famosas do país. Nosso 
hotel foi o Copacabana Palace, um dos hotéis mais 
famosos do país, muito conhecido por ser a pousada 
das celebridades internacionais. Quando desfizemos 
as malas, fomos logo para a rua, dar nossa primeira 
volta pelas ruas beira-mar do Rio de Janeiro. O 
calçadão de Copacabana era lindo, sempre era meu 
sonho conhecê-lo. Enquanto caminhávamos por ele 
admirávamos a bela vista do mar e da praia de 
Copacabana. Tudo era tão lindo, as pessoas 
passeando, artistas fazendo esculturas de areia nas 
praias, os prédios, etc. Foi uma boa experiência. À 
N 
109 
 
tarde iríamos conhecer o ponto mais famoso do Rio, 
o Cristo Redentor. 
A combinação de Mata Atlântica com a cidade 
tornava o Rio uma cidade inigualável. 
Subimos pelo Morro do Corcovado por um 
trem construído na época da monarquia do Brasil. 
Durante a viagem do trem, pudemos ver a Floresta 
da Tijuca. 
Chegar ao topo do Corcovado, ao lado de uma 
das sete maravilhas do mundo, é o mesmo que uma 
vitória. É impossível descrever a sensação de poder 
ver toda a Metrópole carioca de cima do morro, por 
isso que a chamam de cidade maravilhosa. 
Na próxima metade da tarde fomos ao morro 
do Pão de Açúcar. Você chega ao morro através do 
Bondinho. Deixamos nossas assinaturas no mural 
do Pão de Açúcar. 
Chegamos a tempo de poder ver o pôr do sol 
que embelezou ainda mais a cidade. Descemos do 
Bondinho aproveitando para ver o Rio de Janeiro à 
noite. 
110 
 
Eu e Nathan nunca estivemos tão felizes, 
agora casados, desfrutando da beleza de uma cidade 
Centenária. 
Jantamos num dos melhores restaurantes da 
cidade. Ele servia o que o Brasil tem de melhor, a 
feijoada. 
Voltamos ao hotel. Subimos pelo exprimido 
elevador, que estava lotado, até chegar ao nosso 
andar. Entramos no quarto. Ambos foram para o 
banheiro, para tomar uma ducha depois um dia tão 
empolgante. Entrei no Box. Estendi minha mão á 
Nathan convidando-o para entrar. Vagarosamente 
ele pegou minha mão e entrou também no Box. 
Peguei uma esponja de banho e comecei a esfregar 
Nathan. Beijamo-nos. Então ele começou a beijar 
minha face, indo para o pescoço. Enquanto sentia os 
lábios quentes dele meu pescoço eu abracei-o e 
puxei-o para debaixo da água do chuveiro. A água 
estava quente, mas ao bater em minha face, eu a 
senti resfriando-a como se estivesse gelada. A água 
corria pelos nossos corpos, enquanto Nathan 
111 
 
acariciava minhas costas durante um abraço. Então 
eu sussurrei: 
— Nathan eu te amo. 
— Te amo mais, meu amor. 
 
Depois de quatro dias curtindo bom do Rio de 
Janeiro, embarcamos para nosso próximo destino 
romântico. Em duas horas e quarenta e nove 
minutos chegaríamos até ele, ou melhor quase ele. 
 
112 
 
Capítulo XIX – Fernando 
de Noronha 
 
113 
 
pós aterrissar no aeroporto de Recife-PE, 
precisamos pegar um voo até Fernando de 
Noronha ou também conhecido como 
Noronha. É o único jeito de voar até a ilha. Somente 
de Recife saem voos para Noronha. O voo dura uma 
hora, por ser um avião menos moderno. 
Chegamos a um dos destinos mais famosos do 
Brasil, mais desejados e mais bonitos. Iríamos ficar 
sete dias na ilha. Deu para aproveitar muito. 
Como todo turista, desfizemos as malas, e é 
claro e já fomos apreciar as belezas do lugar. À vista 
do quarto era linda seria um sonho viver ali. O vento 
era forte e dava efeito lindo á natureza. 
 
Pagamos um pacote de viagem que incluíam 
um tour pela ilha. 
Andamos de micro ônibus até a Praia do Leão. 
Embora não fosse recomendada para mergulho ela 
era linda. O nome da praia é porque tem uma pedra 
que parece um leão marinho. Vista maravilhosa e 
única. 
A 
114 
 
Fomos até a praia do Sueste, onde era 
permitido mergulho. Seria a primeira vez que eu iria 
mergulhar. Entramos na água. E posso dizer com 
todas as palavras: mergulhar é incrível. 
Nathan e eu nadamos de mãos dadas. A vida 
marinha é fantástica. Tinha muitos peixes. Nadei 
com uma tartaruga, elas são bem medrosas. Vi pela 
primeira vez um tubarão, e eu nunca me esqueci do 
medo que eu passei. Eles não atacam, pelo menos 
nunca houve um ataque em Fernando de Noronha. 
Fomos para outra praia. Onde está o Morro 
dos Dois Irmãos. Caminhamos por uma trilha até a 
Baía dos Porcos, uma área muito calma da Ilha. 
Após isso fomos para a Praia do Sancho, a qual já foi 
eleita uma das mais lindas do mundo. 
O tour foi muito legal. Visitamos vários 
lugares, mas mesmo assim deu tempo para curtir 
cada um deles, e até pudemos mergulhar. E assim 
se encerrou o primeiro dia em Noronha. 
 
No segundo dia tivemos um passeio de barco. 
O barco rodava toda a ilha e tinha direito a parada 
115 
 
para mergulho. O passeio era conhecido por poder 
ver golfinhos. E verdadeiramente, tinha muitos 
golfinhos. Foi incrível. Na parada em frente à praia 
do Sancho onde era a parada de mergulho, 
mergulhamos e pudemos ver bastante vida marinha, 
corais, cardumes lindos e muitos outros. 
O pôr do sol de Fernando de Noronha é algo 
que não tem preço para ver. 
E assim encerrou-se o segundo dia em 
Noronha. Fomos para o hotel para podermos 
descansar para o próximo grande dia na ilha, que 
com certeza também seria incrível. 
 
O silêncio e a solidão de Fernando de Noronhaeram essenciais. Como no ditado: “é no silêncio e na 
solidão que se encontra o essencial”. Ele transmitia 
uma paz e tranquilidade. 
 
Para completar nossa experiência na ilha mais 
maravilhosa do Brasil, fizemos um passeio de canoa 
no terceiro dia. 
116 
 
À tarde visitamos as piscinas naturais nos 
rochedos da Ilha. 
Fizemos uma trilha na mata para o morro, 
onde se tem a vista para grande parte da ilha. 
Cansativo mas a vista lá em cima compensa. 
Esperamos até o sol se pôr para admirar ele lá do 
alto. 
 
No último dia na ilha visitamos os nossos 
lugares favoritos. Então na manhã voamos de volta 
para Recife-PE. Após isso voar para Vitória-ES, onde 
se encontrava o aeroporto internacional mais 
próximo. 
Nosso próximo destino não seria no Brasil. 
 
117 
 
 
118 
 
Capítulo XX – Bahamas 
 
119 
 
 terceiro destino romântico que Nathan 
e eu faríamos era as Bahamas. É claro 
que uma lua-de-mel não podia faltar as 
praias do Caribe. Aterrissamos nas Bahamas sete 
horas de voo depois. Estávamos literalmente 
exaustos. 
 Fomos para o Resort para podermos descansar 
um pouco. Perto da noite resolvemos ir à praia 
assistir ao pôr do sol, que por uma lástima, não se 
punha no mar, mas sim do outro lado da Ilha. Mas 
as nuvens deram efeito mágico no céu. 
Voltamos para o hotel não pudemos aproveitar 
a praia nem as piscinas, mas aproveitamos para 
tomar um banho de banheira no quarto do hotel. 
A água era quentinha, eu me abracei á Nathan 
e queria que tudo pausasse e que ficássemos ali 
para sempre. 
— Vi que existem umas grutas ao redor do 
hotel, a gente tem que dar uma olhada. E também 
precisamos fazer aquele mergulho de alimentar os 
tubarões e as arraias, deve ser muito legal. — falei. 
O 
120 
 
— Chega, não diga mais nada. — falou isso 
colocando seus lábios sobre os meus fazendo-os 
parar de falar. 
— Vamos sair daqui ele. — ele falou. 
Nós saímos da banheira e nos secamos com 
toalhas brancas que tinham sobre as pias do 
banheiro. Então me vesti com um roupão de banho. 
Nathan foi até a cama sem roupas e após secar o 
seu cabelo com a toalha, se deitou. 
— Será que eu fecho as cortinas? Está uma 
noite tão linda. — perguntei. 
— Não fecha, deixa assim. 
Então apaguei a luz. O quarto continuou 
iluminado pela luz da lua que era refletida pelo mar. 
Sentei-me inclinado ao corpo de Nathan, e devagar, 
fui me aproximando meus lábios dos dele. 
Lentamente nos beijamos. Olhamo-nos e eu disse: 
— Eu te amo tanto. 
— Eu também te amo meu amor. 
Levantei-me para tirar meu roupão. Então me 
deitei ao lado dele. 
 
121 
 
Devagar, silencioso e sem dor. Não quebramos 
a cama e nem gritamos. 
Eu me deitei sobre seu peito e fiquei ouvindo 
seu coração bater. Então comecei a ouvir sua 
respiração ficando cada vez mais calma. Olhei para 
ele, e ele já estava dormindo. 
— Boa noite meu amor. — sussurrei no seu 
ouvido, mesmo ele já não tendo mais consciência. 
Deitei-me sobre o travesseiro e após tantos 
pensamentos dormi. 
 
O café da manhã do hotel era um dos maiores 
que já havia visto. 
Então fomos curtir hotel. Tiramos fotos e 
mergulhamos na piscina, que era aquecida, por isso 
a água era uma delícia. 
Visitamos a gruta que ficava atrás das 
piscinas. Dentro da gruta havia um aquário muito 
legal com tartarugas e peixes. 
Fomos até o píer no fim da tarde para tirar 
umas fotos no pôr do sol. 
 
122 
 
Fizemos um passeio de barco pela manhã. À 
tarde fomos para outra ilha das Bahamas que 
também era incrível. E a noite, jantamos em um 
restaurante chinês do hotel. No hotel havia de tudo, 
a comida era incrível. Naquela noite dormimos cedo, 
pois seria nossa última noite nas Bahamas. 
Iríamos embora pela tarde do próximo dia. 
 
Na manhã seguinte curtimos um pouco as 
praias. E então no fim da tarde fomos embora. 
123 
 
 
124 
 
Capítulo XXI – Miami 
 
125 
 
ara viajarmos das Bahamas até Miami e 
percorrer os 290 km de um país até o 
outro, fomos num cruzeiro. Foram sete 
horas e meia de navegação para chegar a uma das 
principais entradas dos Estados Unidos. 
Praticamente toda a população fala além da 
língua inglesa, o espanhol. Escuta-se espanhol por 
aonde você vai, português também, mas não é tanto. 
Isso porque existe uma descendência muito grande 
de Cuba, Porto Rico e muitos brasileiros. Miami é 
um berço de culturas diferentes. 
Os maiores prédios que já vi estão em Miami. 
Como qualquer turista o nosso sonho era ir 
para a melhor parte de Miami, que é Miami Beach. 
Caminhamos por South-Beach ponto mais 
famoso de Miami Beach. Ali é cheio de bares, boates, 
motos, atletas, carros de luxo e todos os tipos de 
pessoas. Anoiteceu em Miami Beach. Dava de ver a 
cidade de Miami, uma vista Urbana maravilhosa. 
Voltamos para Miami e depois para Hotel. 
Todos os dias que ficamos em Miami, fomos 
para Miami Beach. Nós adorávamos Praias, e Miami 
P 
126 
 
Beach, além de todas as restrições, era uma escolha 
perfeita. 
 
Caminhamos pela Ocean Drive, a rua mais 
famosa de Miami Beach. Eu adorava ver o Nathan 
falando – quer dizer, tentando falar – em inglês, eu 
ria tanto dele. Tinha muitos bares nessa rua. Vimos 
Mid-Beach depois de ficar bastante tempo em 
South-Beach. Caminhamos pela praia. Fomos 
caminhando e quando vimos já estávamos em 
North-Beach, uma área menos aglomerada. Ventava 
muito na praia, perdemos nossos chapéus muitas 
vezes. Anoiteceu e pude ver o lindo pôr do sol que 
faz em North-Beach. 
Eu e meu marido não aguentávamos mais de 
dor nos pés. Ficamos caminhando o dia todo. Então 
pegamos um táxi até South-Beach onde jantamos 
em um restaurante bem simples, mas que servia 
uma comida muito saborosa. Depois de jantarmos 
fomos de Uber até Miami, onde estava o nosso hotel. 
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Na manhã seguinte, nosso voo para o próximo 
destino começava. Iríamos dar tchau para América e 
olá para Europa. 
 
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Capítulo XXII – Paris 
 
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epois de onze horas de voo chegamos á 
tão estimada a Paris. De todos os meus 
sonhos, visitar a cidade mais 
romântica do mundo, era o principal. No começo 
você nem acredita que está mesmo indo para cidade 
mais famosa do mundo, você só se dá conta quando 
você voa por cima da cidade e vê pela primeira vez, o 
monumento mais conhecido do mundo a Torre 
Eiffel. 
 Chegamos a capital francesa em pleno 
inverno. Não seria novidade se víssemos neve em 
meio ao nosso passeio. 
 
 Já era noite. Desembarcamos do avião já 
agasalhados, porque fazia 3°C. Estava muito frio. 
 Pegamos a nossa bagagem no setor de 
desembarque. Saímos do aeroporto sem acreditar 
que estávamos em uma das ruas de Paris. Mal 
conseguia me mexer de tantos casacos. Pegamos um 
táxi, e pude ver pela primeira vez Paris à noite, e 
posso afirmar que é um dos cenários mais incríveis 
que já vi. As ruas repletas de árvores desfolhadas 
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por causa do inverno. Nas árvores eram pendurados 
muitos e muitos piscas de Led, que faziam com que 
as árvores parecem árvores de natal. Não é a toa que 
chamam Paris de Cidade Luz. 
 Chegamos ao hotel. Mesmo mortos da viagem, 
fomos jantar em um restaurante depois de 
largarmos nossas malas no quarto. 
 Os restaurantes estavam todos lotados. As 
ruas eram cheias de parisienses e turistas de todos 
os cantos do mundo. Experimentamos pela primeira 
vez um ratatouille, seguido de um vinho muito 
saboroso. 
 Paris parece ser uma cidade que não dorme. 
Era tarde e tudo ainda estava a todo vapor. 
 Nathan e eu caminhamos sem rumo pela 
cidade, sem se importar com o amanhã. As ruas 
iluminadas pelas suas luzes majestosas, as calçadas 
lindas e cheias de gente, o trânsito uma loucura e a 
cidade já fazendo seus primeiros preparativos para o 
Natal. 
 No meio da caminhada eu disse: 
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 — Vamos nos perder. Eu nem lembro mais 
como se volta para o hotel. 
 — Então vamos continuar,