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ELETRÔNICA I Fabricio Ströher da Silva Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a estrutura básica de um JFET. Descrever as regiões das curvas de dreno e transcondutância de um JFET. Analisar as aplicações para o JFET (chaveamento, resistências variáveis e choppers). Introdução Transistores de efeito de campo possuem esse nome devido à forma como controlam a corrente. A camada de depleção que vai proporcionar maior ou menor corrente entre os terminais de dreno e fonte será diretamente influenciada pela tensão fornecida no terminal denominado porta. Assim como nos transistores bipolares, o JFET (do inglês junction field efect transistor, ou seja, transistor de junção por efeito de campo) possui dois modos básicos de construção, denominados canal N e canal P. Esse tipo de transistor apresenta benefícios especialmente para circuitos de chaveamento em alta frequência e redução de potência consumida para a operação, já que o terminal porta consome idealmente zero. A frequência, por sua vez, atinge valores maiores do que outros tipos de transistores, devido à não existência de portadores minoritários. As aplicações são diversas, desde conversores de tensão CC/CC (corrente contínua) até portas lógicas e resistência variável. Neste capítulo, você vai estudar a estrutura básica de um JFET, verifi- cando as regiões das curvas de dreno e transcondutância e analisando as aplicações para o JFET (chaveamento, resistências variáveis e choppers). Estrutura básica Similar ao transistor de junção bipolar, o transistor de efeito de campo (FET, do inglês fi eld-eff ect transistor) também possui três terminais, além de as aplicações serem, em geral, muito parecidas. A principal diferença entre os dois dispositivos é a forma de controlar a variação do sinal de saída a partir de um sinal de entrada. Enquanto nos transistores de junção bipolar o controle se dá pela corrente, nos FETs, o controle é feito pela tensão, conforme lecionam Boylestad e Nashelsky (2013). Internamente, essa diferença também se reflete nos portadores. Enquanto o transistor bipolar é assim chamado devido à existência de portadores ma- joritários e minoritários, sendo elétrons livres ou lacunas, a depender do tipo — NPN ou PNP —, os transistores FET possuem apenas portadores majoritários, conforme apontam Malvino e Bates (2016). O JFET é um tipo de FET; assim, FET e JFET são comumente usados como sinônimos, ainda conforme os autores. Na Figura 1, é possível ver a estrutura básica de um JFET. Observe que não há uma interposição de junções, como era o caso dos transistores bipolares, apesar de ainda coexistirem regiões N e P de diferentes dopagens. Figura 1. Estrutura de um JFET. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 416). A tensão no terminal denominado porta controla a corrente entre os demais terminais. O FET também possui dois tipos de dopagem, canal N e canal P, Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas2 similar ao que ocorria com transistores de junção com os tipos NPN e PNP. Para o canal P, haverá condução de lacunas e, para o canal N, haverá condução de elétrons, conforme apontam Boylestad e Nashelsky (2013). A região do canal, em contato com a região conectada ao pino porta, fornecerá elétrons livres ou lacunas, a depender do transistor, de forma a criar uma camada de depleção. Essa camada, no entanto, aumentará de tamanho à medida que aumenta a tensão fornecida no pino porta, até que a camada de depleção seja grande o suficiente para impedir a corrente pelo canal. O com- portamento é controlado de forma diferente de como ocorria nos transistores bipolares. Nos FETs, a tensão deve aumentar na porta para que o sinal do canal seja interrompido, enquanto, nos bipolares, a corrente — seu mecanismo de controle — deveria diminuir. As regiões tipo P (ou N, para o canal P) são ambas conectadas ao pino porta; assim, a diferença de tensão vai produzir uma variação na camada de depleção em ambos os lados do transistor. Quanto maior a diferença de potencial, mais a camada de depleção crescerá em direção à outra. No entanto, apesar do controle invertido — motivo pelo qual o JFET é dito um componente normalmente em condução, em que deve haver uma tensão para interromper a corrente, e não o contrário —, o FET possui a vantagem de o pino de controle — o pino porta — ser polarizado reversamente. A diferença de dopagem entre o canal e a região próxima ao pino porta criam uma espécie de diodo, assim como ocorria nos transistores bipolares, o que idealmente resultaria em corrente nula por esse terminal e também equivale a dizer que a impedância de entrada é infinita, conforme lecionam Malvino e Bates (2016). Na prática, no entanto, existe uma pequena corrente, e a impe- dância de entrada passa de 1 MΩ, podendo ir além de centenas de megaohms, conforme apontam Boylestad e Nashelsky (2013). Além da maior impedância de entrada, natural aos transistores FET, há outras vantagens sobre os transistores bipolares, como a maior estabilidade para variações de temperatura e o menor volume físico (o que permite maior uso em circuitos integrados). A principal desvantagem fica por conta do menor ganho de tensão CA, mas também há prejuízos quanto à sensibilidade física do componente. Os transistores FET podem ser danificados com mais facilidade no manuseio, o que implica indiretamente nos custos de produção e manutenção, como afirmam Boylestad e Nashelsky (2013). Na Figura 2, é possível ver a camada de depleção entre o canal e a porta. Essa camada aparece bem larga, devido à correta polarização do transistor, com o terminal de dreno polarizado de forma direta e o terminal da porta polarizado de forma reversa. 3Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas Figura 2. Polarização de um JFET. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 416). Apesar da simetria da imagem, na realidade, a camada de depleção será maior quanto mais próxima do dreno; isso porque a corrente vai produzir uma queda de tensão no sentido do dreno. Haverá, então, uma diferença de potencial maior entre o pino da porta, polarizado reversamente, na área mais próximo ao pino do dreno, conforme lecionam Malvino e Bates (2016). A representação do JFET pode ser vista na Figura 3. Como nos transistores bipolares, há uma forma diferente de representar os tipos de dopagem. Na primeira imagem é apresentada a simbologia do canal N; ao contrário da última imagem, em que aparece o canal P, na primeira a seta do terminal porta está apontada para dentro do componente. Figura 3. Simbologia do JFET: a) canal N; b) canal N deslocado; c) canal P. Fonte: Adaptada de Malvino e Bates (2016, p. 417). Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas4 O segundo símbolo de JFET canal N que aparece na Figura 3 não consiste em outro componente, é apenas uma adaptação para facilitar o desenvolvimento e a leitura de projetos. Estando a seta mais próxima do dreno, um circuito com muitos transistores pode ser demasiadamente com- plexo de identificar com a seta centralizada, conforme lecionam Malvino e Bates (2016). Nos transistores bipolares, não era possível inverter os terminais de coletor e emissor sem alterar o funcionamento do transistor. Já para os transistores JFET, essa mudança é possível, mas, na maioria dos casos, apenas para baixas frequências. Lembre-se de que, apesar de a camada de depleção aumentar ao longo de todo o canal, próximo ao dreno há maior diferença de potencial, o que resulta em uma camada de depleção mais larga. Além do mais, os fabricantes costumam diminuir a capacitância no terminal do dreno, o que mudará seu comportamento em altas frequências. Por fim, para compreender o funcionamento de um transistor, seja ele qual for, pode-se recorrer à analogia de circuito hidráulico, em que a fontede tensão é representada por uma grande massa de água ou uma bomba de água, e o canal do transistor FET, pelo cano de uma torneira, enquanto a porta é representada pela manopla da torneira. Não se pode fazer uma analogia perfeita entre ambos os casos; há limitadores, como a forma de operar a manopla da torneira ser de outra natureza se comparada ao elemento que fornece energia ao sistema, enquanto, no transistor, dreno e porta são ambos operados eletricamente. Curvas de comportamento O comportamento de um transistor JFET pode ser representado por meio de um gráfi co de cruzamento entre tensão e corrente. Porém, diferentemente dos transistores bipolares, em que havia uma curva para corrente de saturação e tensão de corte, no JFET duas curvas deverão ser avaliadas: a curva do dreno e a curva de transcondutância. 5Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas Curva do dreno A curva que demonstra o comportamento do dreno de um FET é apresentada na Figura 4. A curva é desenhada de forma similar aos transistores bipolares. Trata-se de um gráfi co em que o eixo das abcissas (horizontal) representa a queda de tensão entre os terminais de dreno e fonte do transistor. Essa queda acontece devido ao aumento da camada de depleção da porta, impedindo a passagem de corrente. Já o eixo das ordenadas (vertical) apresenta a corrente no dreno, ou seja, a corrente que atravessa o canal. Figura 4. Curva de dreno do JFET. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 428). A tensão VDS(máx) é a tensão fornecida pelo circuito ao terminal do dreno e corresponde ao ponto em que a corrente não possui limitação teórica. A corrente IDSS é constante, não havendo mudança de tensão no terminal da porta, e se manterá assim por toda a região ativa. VP consiste na tensão de estrangulamento e representa o limite a partir do qual a resistência do canal cresce na mesma proporção que a tensão entre dreno e fonte, e, por isso, a corrente se mantém constante. A região ativa é, portanto, compreendida entre a tensão de estrangulamento VP e a tensão de ruptura VDS(máx), conforme lecionam Malvino e Bates (2016). Sendo a corrente constante dentro da região ativa, mantendo-se essas condições, o JFET vai se comportar como uma fonte de corrente. Indepen- dentemente de variações na tensão do dreno, a corrente ainda será a mesma. A região anterior à tensão de estrangulamento é chamada de região ôhmica, já que a resistência do elemento nesse ponto obedece à simples lei de Ohm: Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas6 (1) A Figura 5 é um exemplo de curva para diferentes valores de VGS, a tensão no terminal da porta. Repare que à medida que a tensão nesse terminal diminui, o mesmo ocorre com a corrente no canal ID. A partir de determinada tensão negativa na porta, a corrente de dreno é interrompida, ponto este determinado de corte. Nesse ponto, as camadas de depleção das regiões conectadas à porta se ampliaram tanto que já tocam uma à outra e impossibilitam qualquer corrente, conforme lecionam Malvino e Bates (2016). Figura 5. Exemplo de curva de dreno do JFET. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 419) Outra característica que deve ser destacada é a igualdade entre a tensão de corte VGS(corte) e a tensão de estrangulamento VP: (2) São duas tensões que traduzem o mesmo fenômeno — o comportamento da camada de depleção próxima ao dreno —, porém em sentidos inversos; sendo assim, uma será o inverso da outra. Curva de transcondutância A curva de transcondutância (Figura 6) representa o cruzamento entre a corrente de dreno e a tensão de porta. Não se trata de uma curva linear: 7Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas (3) Figura 6. Curva de transcondutância do JFET. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 421). A Equação 3 é chamada de equação de Shockley, em homenagem a um dos inventores do primeiro transistor, que desenvolveu a teoria de efeito de campo que daria origem aos transistores tipo FET, segundo apontam Boylestad e Nashelsky (2013). A curva de transcondutância não tem relação direta com o circuito utilizado para polarizar o transistor, diferentemente da curva de dreno e da reta de carga, no caso dos transistores bipolares, conforme explicam Malvino e Bates (2016). Aplicações Há diversas vantagens apresentadas pelo FET, se comparado ao modelo bipolar, como o menor volume do componente, melhor tempo de resposta, permitindo seu uso em aplicações com frequência elevada, e corrente Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas8 praticamente nula de controle, o que reduz em muito a potência necessária para sua utilização. Em contrapartida, aplicações que demandam elevado nível de ganho tendem a ser melhor aproveitadas por transistores bipolares. Assim, os componentes FET, permitindo um chaveamento em circuitos reduzidos e em alta velocidade, serão de grande serventia para circuitos di- gitais. A combinação de vários transistores pode ser utilizada para a criação de operações lógicas — e, ou e não —, assim como a combinação destas pode resultar em operações lógicas ainda mais complexas, que podem ser memórias, multiplexadores, codificadores, entre outras. A Figura 7 apresenta um esquema elétrico para criar um multiplexador de sinal. O multiplexador consiste na seleção de uma entrada dentre várias para direcioná-la para uma mesma saída. No caso do circuito apresentado, pode-se direcionar três tipos de sinais diferentes para a saída vout, a depender das entradas v1, v2 e v3, conforme apontam Malvino e Bates (2016). Figura 7. Operações de multiplexação de sinal. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 447). No caso de sistemas digitais, o transistor é utilizado apenas como chave, já que atende apenas a dois estados: corte ou saturado. Como já foi elencado anteriormente, os transistores FET não possuem portadores minoritários, o que permite que retornem à região de corte com maior velocidade. Não só isso; dentre outras vantagens para seu funcionamento como chave estão a baixa 9Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas resistência quando saturado e a possibilidade de utilizar tensão positiva ou negativa entre os terminais do canal. É, portanto, uma chave bidirecional, como apontam Malvino e Bates (2016). Esse chaveamento também é aproveitado para fazer recortes de um sinal CC (circuito denominado de chopper), transformando uma tensão de entrada em um sinal quadrado com períodos nulos e períodos de máximo, a depender do chaveamento do transistor. Em conjunto com esse recorte, pode-se utilizar elementos de filtro para a criação de circuitos de conversão CC/CC, fazendo variações de tensão contínua a partir de uma fonte maior. Utilizando um circuito de filtro capacitivo e/ou indutivo que anteceda a carga, pode-se criar uma tensão contínua menor do que a tensão de entrada, normalizando a tensão média resultante do tempo de chaveamento. Em outras palavras, para um sinal de entrada contínuo qualquer, caso o FET alterne entre corte e saturação 50% do tempo, considerando uma frequência elevada o suficiente para que seja normalizada pelo circuito capacitivo ou indutivo, existirá na saída uma tensão contínua de 50%. Para os conversores, dois casos são possíveis: um transistor como chave conectado em série ou em paralelo. Ambos são apresentados na Figura 8. Figura 8. Aplicação como chave: a) em série; b) equivalente em série; c) em paralelo; d) equivalente em paralelo. Fonte: Adaptada de Malvino e Bates (2016, p. 444). Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas10 Outra aplicação possível é o seu uso como resistência variável — uma resistência que será controlada pela tensão na porta se operada dentro da região ôhmica, abaixo da tensão de estrangulamento. A fórmula obedece à lei de Ohm e é a mesma apresentada na Equação 1. Também se pode utilizar o FET como amplificador, sendo o caso mais comumo de seguidor de fonte. A ideia é a mesma dos amplificadores que utilizavam transistores bipolares, exceto pelo fato de que o cálculo de ganho se dá com base na tensão de entrada, e não mais na corrente. Um transistor JFET possui uma tensão de corte de –5 V e corrente de dreno de saturação de 10 mA. Quais deverão ser os valores de tensão de porta e corrente no dreno no ponto de meio corte? Se VGS = −5 V, então: A corrente de dreno, no entanto, obedecerá à fórmula quadrática: BOYLESTAD, R. L.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. MALVINO, A.; BATES, D. J. Eletrônica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. v.1. 11Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas Leituras recomendadas MALVINO, A.; BATES, D. J. Eletrônica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2007. NAHVI, M.; EDMINISTER, J. A. Circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. (Coleção schaum). SCHULER, C. Eletrônica I. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. SEDRA, A. S.; SMITH, K. C. Microeletrônica. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. Transistor de efeito de campo de junção (JFET): características físicas12 Conteúdo:
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