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José Eduardo Palacio Soares – Bloco Gestação – GT4 Alterações Fisiológicas na Gravidez Durante a gravidez, o corpo da grávida passa por uma série de modificações na fisiologia da grávida para acomodar o bebê e dar o suporte necessário para seu desenvolvimento e crescimento. Essas alterações abrangem desde o sistema locomotor, ao cardíaco, respiratório e etc POSTURA E DEAMBULAÇÃO Mesmo antes da expansão de volume do útero, há alteração postural. O centro de gravidade desvia para frente, fazendo com que o corpo, em compensação, projete-se para trás. Em pé, para manter o equilíbrio, a gestante empina o ventre, provocando lordose da coluna lombar. Amplia-se a base do polígono de sustentação, os pés se afastam e as espáduas projetam-se para trás. A gestante anda com passos oscilantes e curtos. Suas articulações apresentam maior mobilidade durante a gestação, notadamente as sacroilíacas e a sínfise púbica. A frouxidão dos ligamentos se atribui à relaxina. SISTEMA CARDIOVASCULAR As principais mudanças incluem o aumento do débito cardíaco e do volume sanguíneo (volume plasmático), e a redução da resistência vascular periférica e da pressão sanguínea. Elas alcançam seu máximo no 3º trimestre e contribuem para o ótimo crescimento do feto e protegem a mãe das perda fisiológicas de sangue no parto. O início da gravidez é caracterizado por vasodilatação periférica, por consequência do aumento de NO. A frequência cardíaca também aumenta, de 10 a 15 bpm (10 a 20%), o que contribui para a elevação do débito cardíaco que aumenta de, em média, 5 l/min para 7 l/min, além da elevação do volume sistólico é observada apenas várias semanas depois, pela expansão do volume plasmático. Mesmo com o aumento do débito cardíaco e do volume, a pressão arterial estão diminuídas de 5 a 10 mmHg no 2º semestre, atingindo valores de 105/60 mmHg. No 3º trimestre a pressão eleva-se e normaliza-se no termo. Essa diminuição é decorrente do decréscimo da resistência vascular periférica. A pressão venosa aumenta cerca de 3x, em virtude da compressão que o útero determina nas veias pélvicas, em particular na posição de pé, parada, quando há maior aprisionamento de sangue nas pernas nas coxas. As alterações mais relevantes são: ● Aumento da frequência cardíaca (10 a 20%) ● Aumento do volume sistólico (10%) ● Aumento do débito cardíaco (40 a 50%) ● Diminuição da PA média (10%) ● Diminuição da resistência vascular periférica (35%) SISTEMA SANGUÍNEO A alteração no volume plasmático causa diluição da maioria dos fatores circulantes. Ponto interesse é a hemodiluição das hemácias. A produção de hemácias é ofuscada pela elevação de 40% do volume plasmático. Assim, os índices hematológicos que dependem do volume plasmático tendem a decrescer: contagem de hemácias, hematócrito, concentração de hemoglobina. A concentração de hemoglobina reduz de 13 g/dl, para 11 g/dl no 1º trimestre e 10,5 g/dl no 2º/3º trimestres. è a clássica anemia fisiológica, confundida com anemia ferropriva. É de interesse aumentar a ingestão de ferro para o acréscimo da eritropoese materna e a prevenção da anemia consequente às perdas hemorrágicas do parto. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Gestação – GT4 Ao contrário das hemácias, os leucócitos têm a sua concentração ampliada, podendo alcançar, no termo, até 20 mil/mm³. Também ocorrem alterações importantes na coagulação sanguínea durante a gravidez, caracterizando o estado de hipercoagulabilidade. Há aumento de diversos fatores da coagulação, como o fibrinogênio e redução da atividade fibrinolítica. ● Diminuição do número de hemácias, da concentração de hemoglobina e de hematócrito ● Aumento de leucócitos e da concentração de fibrinogênio SISTEMA URINÁRIO ➔ Modificações anatômicas Rins deslocam-se para cima do volume uterino e aumentam em tamanha cerca de 1 cm. Uma significante alteração é a dilatação da sua porção superior que ocorre a partir de 7 semanas em até 90% das gestantes e pode persistir até 6 semanas do pós parto. O útero expandido diretamente comprime os ureteres, enquanto a progesterona inibe a musculatura lisa ureteral. A dilatação ureteral é mais pronunciada à direita. A dilatação do sistema urinário superior pode aumentar a estase urinária, predispondo a gestante a infecções urinárias, pielonefrite. No sistema urinário inferior, a anatomia da bexiga está distorcida pela compressão do útero. A bexiga é deslocada anteriormente, com expansão lateral, pari passu com a compressão do útero aumentado na cúpula vesical. Há também alterações que elevam a incontinência urinária. ➔ Fisiológicas Com aumento do débito cardíaco e diminuição da resistência vascular sistêmica observados na gestação, há concomitante aumento do fluxo plasmático renal e da TFG, que podem estar aumentados, respectivamente, de 50 a 85% e 40 a 65%. A elevação da TFG resulta em diminuição da creatinina plasmática, que alcança em média valores de 0,5 a 0,8 mg/dl. Isso causa repercussões importantes, uma vez que a excreção renal de determinados medicamentos pode estar alterada e os valores de creatinina no soro indicativos de insuficiência renal podem estar mais baixos. A concentração de ácido úrico cai para ≤ 3 mg/dl no 1º trimestre, mas que leva-se depois, a partir do 3º trimestre, até atingir 4 a 5 mg/dl. Pode ocorrer hipercalciúria, glicosúria e proteinúria fisiológicas. Entretanto, o volume urinário são está maior. A maior frequência urinária decorre da compressão do útero na bexiga. SISTEMA RESPIRATÓRIO A expansão do volume sanguíneo e a vasodilatação resultam em hiperemia e edema da mucosa no sistema respiratório superior, o que predispõe a gestante a congestão nasal e epistaxe. Também há alterações marcantes na caixa torácica e no diafragma. Com o relaxamento dos ligamentos das costelas, o ângulo subcostal aumenta de 68 para 103º. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Gestação – GT4 Os diâmetros ântero posterior e transverso do tórax aumentam 2 cm cada um, resultando na expansão da circunferência torácica de 5 a 7 cm. Embora o diafragma eleva-se aprox. 4 cm pelo aumento do útero, sua função não se mostra comprometida; na verdade, sua excursão está incrementada de 1 a 2 cm. A complacência da parede torácica, todavia, diminui, aumentando o trabalho da respiração. O volume-minuto, produto do volume corrente (tidal volume) pela frequência respiratória, aumenta 30 a 40%, refletindo a elevação do volume-corrente, pois a frequência respiratória não se altera. O volume-corrente elevado é criado pela expansão da caixa torácica e o aumento do estímulo respiratório (progesterona) Volume residual funcional diminui em 20%. A hiperventilação da gravidez facilita as trocas gasosas nos pulmões. Tanto o PO 2 no ar alveolar quanto no sangue arterial elevam-se. O consumo de O 2 aumenta de 15 a 20%. A hiperventilação na gravidez ocasiona alcalose respiratória, com diminuição de Pco 2 para menos de 30 mmHg, embora haja modesto aumento de Po 2 (101 a 104 mmHg). A diminuição de Pco 2 é compensada pelo aumento da excreção urinária de bicarbonato, cuja concentração diminui no plasma; por isso, o pH arterial não sofre alteração significativa. Cerca de 60 a 70% das gestantes experimentam dispneia. Ela parece decorrer da percepção da paciente à hiperventilação da gravidez. ● Frequência respiratória inalterada ● Volume-corrente e volume-minuto aumentados cerca de 30 a 40% ● Capacidade residual funcional diminuída em 20% ● Hiperventilação fisiológica ● Dispneia (em 60 a 70% das gestantes) SISTEMA DIGESTÓRIO No 1º trimestre é frequente a ocorrência de náuseas e vômitos (50 a 90% das gestantes), levando, em geral, à anorexia. A base fisiológica das náuseas, que tendem a ocorrer pela manhã, parece estar relacionada com níveis crescentes de hCG e de estrogênios. A gengivite é consequente ao acúmulo da placa bacteriana na margem gengival, e se apresenta com eritema,sangramento e intumescimento da zona afetada, bem como extremo desconforto para a paciente. Tais alterações periodontais podem deflagrar parto pré-termo. Durante os dois primeiros trimestres há redução na secreção gástrica de ácidos, explicando a incidência reduzida de úlcera péptica e a remissão das preexistentes. SISTEMA ENDÓCRINO Especialmente na tireóide, seu volume chega a aumentar 30% no 3º trimestre, em decorrência da hiperplasia e maior vascularidade. Os níveis de T4 aumentam 1,5 vez, até 16 semanas da gravidez, momento que se estabiliza devido à elevação da TBG estimulada pelos estrogênios, com 99,7% do t4 ligados à TGB, O TSH apresenta níveis diminuídos nas primeiras 12 semanas de gravidez em virtude da menor estimulação dos receptores de TSH causada pela substancial quantidade de hCG. Após o 1º trimestre, os níveis de TSH retornam ao seus valores basais. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Gestação – GT4 O hCG elevado no 1º trimestre tem ação tirotrófica e estimula a produção materna de T4 L (tireoxina livre) que, por sua vez, inibe a secreção do TSH. No 2º trimestre, e em especial no 3º, os níveis de T4 L são significamente mais baixos. O aumento da TBG concorre também para a diminuição dos hormônios tireoidianos livres. T4 L é importante para o desenvolvimento normal do cérebro fetal. Ele é especialmente importante antes que a tireóide fetal comece a concentrar iodo e sintetizar o hormônio da tireóide. PELE E FÂNEROS Cerca de 50% das gestantes exibem estrias no abdome no decurso do último trimestre, por vezes encontradas também nos seios. Inicialmente vermelhas, mais tarde tornam-se brancas ou nacaradas, persistindo indelevelmente. Há o aparecimento da linha nigra, com aumento na pigmentação da vulva, das aréolas mamárias e da face. É comum o aparecimento de telangiectasias, relacionadas com os altos níveis estrogênicos. A hipertricose é um fenômeno fisiológico durante a gravidez, com unhas muito quebradiças e surgimento de eritema palmar e hipertrofia das glândulas sudoríparas e sebáceas. MODIFICAÇÕES DOS ÓRGÃOS GENITAIS VULVA E VAGINA Sob influência dos estrogênios, o epitélio vaginal se espessa durante a gravidez, bem como aumenta seu descamamento, resultando em maior secreção vaginal. A secreção apresenta pH mais ácido que o normal (3,8 a 4,0) para proteger contra infecção ascendente. Também há o aumento da vascularização. A vulva e a vagina tumefazem-se, experimentam amolecimento e têm sua coloração alterada. A vulva pigmenta-se e a região limítrofe com a extremidade inferior da vagina perde seu característico tom róseo, tornando-se vermelho- vinhosa, com ninfas e grandes lábios entreabertos (sinal de Jacquemier) ÚTERO Durante a gravidez o útero aumenta de tamanho e, consequentemente, de peso. A massa do miométrio aumenta nos primeiros meses, devido a hipertrofia e hiperplasia das células musculares e aumento do tecido conectivo. Nos meses seguintes a camada muscular diminui, possibilitando a palpação do feto. Nos três primeiros meses o volume do útero aumenta devido à ação estrogênica. Após tal expansão, o aumento se deve à pressão exercida pelo feto. Com 12 semanas, o útero se torna muito grande para permanecer dentro da pelve, assim ascendendo para o abdome. O colo uterino aumenta devido a congestão, edema, hipertrofia, hiperplasia e acúmulo de secreções. Quando ocorre a insinuação da cabeça fetal, o colo desce e centraliza-se. Próximo ao termo ele se amolece e seu comprimento é reduzido
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