Buscar

FICHA-09-OBRIGAÇÕES

Prévia do material em texto

FICHA Nº 09
DO PAGAMENTO INDIRETO
DO PAGAMENTO POR CONSIGNAÇÃO:
1) Generalidades:
O vocábulo consignação advém do latim CUM SIGNARE, que remete a uma forma de pagamento em que exibia-se a soma devida, sendo posteriormente entregue ao devedor num saco lacrado. 
O pagamento por consignação, não é outra coisa senão o depósito judicial da coisa devida, realizada pelo devedor com causa legal. 
Representa meio especial concedido ao devedor para liberar-se da obrigação. 
O pagamento por consignação, importa lembrar, não se resume apenas a quantias em dinheiro, podendo abarcar bens móveis ou mesmo imóveis. 
Porém, não há falar em pagamento por consignação em obrigações de fazer ou não-fazer já que, apenas é compatível tal forma de pagamento com a prestação de coisas. 
2) Casos de Consignação:
Sabe-se que muitas vezes ocorrem fatos ou circunstâncias que impedem o pagamento direto ao credor. Casos há ainda em que o próprio credor, acompanhado de suas razões, recusa a prestação oferecida pelo devedor. 
Possibilita-se pois a possibilidade de pagamento por consignação. 
Considera-se pagamento e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais. *Vide Art. 334 do Código Civil.
 A Consignação tem lugar: *Vide Art.334 do Código Civil.
I- Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II- Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidos; 
III- Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente ou residir em lugar incerto, ou de acesso perigoso ou difícil; 
IV- Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; 
V- Se pender litígio sobre o objeto do pagamento. 
Trata-se de enumeração não taxativa, podendo ser encontrada em muitas outras hipóteses de depósito judicial a partir de legislação esparsa. 
Urge doravante, discriminar:
I- Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
Trata-se de hipótese mais frequente, onde faculta-se ao devedor para fins de evitar o ônus pela inadimplência, depositar o valor devido em conta bancária judicial. 
II- Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidos; 
Aqui, aplica-se às dividas em que o pagamento se efetua fora do domicilio o credor. Ante a inércia deste, o devedor não é obrigado a suportar indefinidamente as consequências da mora CREDITORIS. Pode pois depositar o valor devido em conta bancária judicial. 
III- Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, estiver declarado ausente ou residir em lugar incerto, ou de acesso perigoso ou difícil; 
Tal dispositivo se aplica ante o caso de obrigação contraída com pessoa conhecida e certa, mas que posteriormente tonar-se desconhecido, em virtude de sucessão do credor originário, ou ainda quando o credor se ausenta de seu domicílio e retira-se para lugar ignorado, ou quando se afasta para ponto de difícil ou perigoso acesso, ou ainda quando se torna ignorado o seu paradeiro. 
IV - Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; 
Em surgindo dois ou mais credores, não pode o devedor da preferência a qualquer dos pretendentes, sob pena de acabar pagando errado. Justifica-se aqui a opção pelo pagamento pela via consignatória. 
V- Se pender litígio sobre o objeto do pagamento. 
Pode-se dizer que o litígio que a lei remonta é o que se observa entre credor e terceiro e não entre credor e devedor. Ante a contenda, age com culpa o devedor que se antecipa ao pronunciamento judicial e paga a um dos litigantes. Seu dever é pois, consignar a coisa em juízo. 
Imperioso asseverar que a consignação se restringe apenas aos casos de pagamento, restando excluída de sua apreciação qualquer matéria de outra natureza como, infração contratual ou legal, controvérsias sobre a substância da obrigação, etc. 
3) Seus requisitos:
“Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento”. *Vide Art. 336 do Código Civil. 
Não é possível por exemplo, questionar-se sobre o quantum devido. O meio é de todo impróprio sempre que se trate de débito ilíquido e incerto. 
Porém, quando a iliquidez do montante for resultado da recusa do credor a um simples acertamento e quando não houver outra ação específica para sua liquidação, então caberá a consignatória de débito com o montante estimado pelo devedor. 
“O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos salvo se for julgado improcedente”. *Vide Art.337 do Código Civil. 
Nem o credor pode ser compelido a vir receber em local diferente nem o devedor tem a obrigação de deslocar-se para solver. Daí acordarem os autores em que competente para a ação de consignação é o foro do pagamento.
Uma vez depositada a RES DEBITA, livra-se o devedor dos juros da dívida, porque a consignação tem efeito equivalente ao próprio pagamento, e, desta sorte, não correm juros contra ele. 
Como se sabe, os riscos da coisa devida são suportados pelo devedor até o momento da tradição. No entanto, consignada a coisa, ocorre a inversão dos riscos. 
A cargo do credor estão a sua deterioração e perecimento. Julgado procedente o pedido, o credor terá de promover o levantamento da coisa, no estado em que estiver, salvo se a deterioração for precedente ao depósito. 
Se for julgado improcedente, o devedor estará sujeito aos juros, sofrerá os riscos ocorridos na pendência da lide, e, vinculada que seja a prestação depositada, a qualquer contrato, suportará as consequências da ausência do pagamento. 
4) Levantamento do Depósito:
“Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito”. *Vide Art.338 do Código Civil. 
Duas serão, contudo, as consequências. Uma de cunho meramente processual: Pagar as despesas judiciais. A outra, de natureza substancial: Suportar todas as consequências do não pagamento, uma vez que assume os riscos da coisa, suporta os juros e enfrenta as condições da falta ou mora de pagar. 
“Julgando procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores”. *Vide Art.339 do Código Civil. 
Liberados, em consequência, os codevedores e fiadores, têm legítimo interesse em que prevaleça o julgado. Nestas condições, terão de ser ouvidos sobre o pedido de levantamento, feito pelo devedor. 
O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento perderá a preferência e garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os codevedores e fiadores que não tenham anuído. *Vide Art.340 do Código Civil. 
5) Demais Preceitos:
“Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada”. *Vide Art.341 do Código Civil.
Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo, ou porque era o único originariamente devido, ou por ter o credor perdido o direito de escolha, o devedor antes de consignar fará citar o credor para que venha recebê-la no local em que se encontrar ou naquele que seja o lugar de pagamento, conforme disponha instrumento. Não comparecendo o credor, pessoalmente ou por preposto, será consignada a coisa em mãos do depositário público ou de quem suas vezes faça.
“Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher. Feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente”. *Art. 342 do Código Civil. 
Quando a coisa devidaé indeterminada, e a escolha compete ao credor, será ele citado para este fim, sob a cominação de perder este direito e ser a opção devolvida ao devedor. Não comparecendo para exercitar o seu direito, o devedor fará o depósito da coisa que escolher. Se desde o princípio o direito de escolha competir ao devedor, não tem lugar a providência inicial, porém a oferta daquela que o devedor eleger. 
“As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor” Art.343 do Código Civil. 
Aqui, compreende-se também restar incluída a despesa de honorários advocatícios. 
O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento. *Vide Art.344 do Código Civil. 
Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação. *Vide Art.345 o Código Civil. 
DO PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO:
1) Generalidades:
Sub-rogar é colocar uma coisa em lugar de outra, uma pessoa em lugar de outra. Duas, portanto, as espécies de sub-rogação: A sub-rogação real e a pessoal, conforme se trate de sub-rogação de coisas ou de pessoas. 
a) Sub-rogação Real:
Na sub-rogação real, verifica-se a substituição de uma coisa por outra, ficando a segunda em lugar da primeira, com os mesmos ônus e atributos. 
b) Sub-rogação Pessoal:
Ocorre a substituição de uma pessoa por outra, ressalvando-se a esta os mesmos direitos e ações que àquela competiam. 
2) Primórdios da sub-rogação no Direito Romano:
Os Romanos não chegaram a delinear com a precisão atual a teoria da sub-rogação. Haviam institutos que se equivaliam como por exemplo o BENEFICIUM CEDENDARUM ACTIONUM. 
Pretendia-se tutelar o terceiro que viesse a solver a dívida alheia. 
3) Natureza Jurídica:
Trata-se de instituto autônomo, através do qual o cumprimento pelo terceiro atua sobre o direito do credor, mas deixa sobreviver a respectiva obrigação, mediante substituição do credor. 
4) Definição:
Sub-rogação é a transferência dos direitos do credor para aquele que solveu a obrigação, ou emprestou o necessário para solvê-la. 
Nos casos comuns, em que o próprio devedor efetua o pagamento, no exato instante em que o credor recebe a prestação devida, aquele se libera e a obrigação se extingue. No pagamento com sub-rogação, todavia, embora satisfeito o credor, não se verifica a liberação do devedor nem a extinção da obrigação, porquanto todos os direitos creditórios se transferem para aquele que satisfez a prestação. 
5) Diferenças entre Sub-rogação e Cessão de Crédito:
a) Cessão de Crédito:
Diferencia-se da cessão de crédito pois cessão é alienação de crédito. O principal escopo da cessão é transferir ao cessionário o crédito o direito ou a ação.
Com a cessão, vale lembrar, não se extingue a dívida. O direito do credor, sem solução, passa de um titular para outro.
No mais, a cessão constitui sempre obra do credor. Não se concebe aquela sem um ato deste.
Por fim, conforme Art. 295 do Código Civil, na cessão por título oneroso, o cedente fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu. 
b) Sub-rogação:
 Na sub-rogação, o escopo fundamental visado é a liberação do devedor quanto ao primitivo credor. 
Com a sub-rogação, extingue-se a dívida relativamente ao credor originário. 
A sub-rogação pode realizar-se à revelia do credor, até mesmo contra a sua vontade. 
Na sub-rogação, não há responsabilidade por parte do credor ante o sub-rogado. 
6) Espécies de Sub-rogação:
A sub-rogação, vale dizer, pode ser legal ou convencional. 
a) Sub-rogação Legal: 
A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: 
I- Do credor que paga a dívida do devedor comum;
II- Do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecado, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; 
III- Do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. *Vide Art. 346 do Código Civil. 
Importante analisar cada um a parte. 
I - Do credor que paga a dívida do devedor comum;
Aqui, o legislador supõe que tal obrigação em que o devedor tenha mais de um credor. 
II- Do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecado, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; 
Tal caso é o do adquirente do imóvel hipotecado que paga ao credor hipotecário. Trata da situação onde o preço pago pelo adquirente do imóvel não basta para saldar as dívidas contraídas com todos os credores por hipotecas inscritas. Aqueles que não fossem atendidos poderiam, portanto, excutir o imóvel hipotecado. Levado à praça e arrematado por terceiro, ficaria o adquirente privado de sua propriedade. Ressalva-lhe então a lei, nessa eventualidade, direito ao reembolso do preço que havia pago aos credores hipotecários, podendo apresentar-se como sub-rogado deles no concurso que se instaure sobre o produto da arrematação. 
III- Do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. 
Sabe-se que qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la. A par disso, em virtude da sub-rogação, embora extinta para o credor originário, a dívida subsiste em relação ao devedor, que passa a ter por credor, investido nos mesmos direitos e nas mesmas garantias, aquele que pagou a dívida. O cumprimento pelo terceiro atua apenas quanto ao direito do credor, não quanto à obrigação do devedor. 
Imperioso afirmar que a sub-rogação legal corresponde a situação excepcional. Só tem lugar nos expressos casos previstos em lei. 
Por fim, vale lembrar que terceiro não interessado que venha a pagar, não se sub-roga nos direitos do credor, conforme Art.305 do Código Civil. 
b) Sub-rogação Convencional:
A sub-rogação é convencional: 
I – Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; 
II- Quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito; *Vide Art.347 do Código Civil.
Vale observar: 
I – Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; 
Trata-se de sub-rogação do credor, EX PARTE CREDITORIS, onde resulta de contrato entre o credor e um terceiro que paga a dívida e a quem transfere aquele, expressamente todos os seus direitos. 
 II- Quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito; *Vide Art. 347 do Código Civil. 
Trata-se de sub-rogação do devedor, EX PARTE DEBITORIS, onde o devedor satisfaz a dívida mediante numerário que lhe fornece terceira pessoa, a quem transfere os direitos do credor. Trata-se de sub-rogação convencional por excelência.
 
7) Demais Disposições:
 	A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. *Vide Art. 349 do Código Civil. 
Trata-se de disposição que se aplica às duas modalidades, tanto legal como convencional, porém, na hipótese convencional, podem as partes restringir os direitos do sub-rogado. 
Ademais, na sub-rogação legal, o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até a soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. *Vide Art. 350 do Código Civil. 
Por outro lado, acaso se trate de sub-rogação convencional do devedor, cumpre que este, ao convencionar a sub-rogação com a pessoa que lhe empresta o dinheiro, atenda a que, se não houver limitação ao direito do sub-rogado, ficará este com direitos totais, embora não tenha desembolsado integralmente as quantias necessárias à satisfação do credor primitivo. 
Por fim, “o credor originário, só em parte reembolsado, terá preferênciaao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever”. *Vide Art. 351 do Código Civil. 
Como exemplo pode-se tomar o seguinte caso: 
Suponha-se que havia dívida de R$ 20.000,00 O terceiro pagou R$ 10.000,00 e sub-rogou-se em tal quantia. Executado o devedor e seus bens produziram apenas R$ 15.000,00. O credor primitivo embolsará ainda os R$ 10.000,00 que faltavam para completar o respectivo pagamento. 
Ao sub-rogado caberá apenas o remanescente, dado não dispor da preferência no crédito. 
É dizer, na cobrança do remanescente, se insuficientes dos bens do devedor, terá ele preferência sobre o sub-rogado, inclusive para reembolso da parte que este havia pago. 
DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO:
1) Definição:
Diz-se imputação do pagamento, a operação por via da qual, dentre vários débitos do mesmo devedor para com o mesmo credor, se determina em qual deles se deve aplicar o pagamento. 
“A pessoa obrigada, por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos” *Vide Art.352 do Código Civil. 
A imputação portanto, pressupõe cinco elementos: 
a) Dualidade ou multiplicidade de débitos;
b) Identidade de credor e de devedor;
c) Os débitos devem ser da mesma natureza;
d) Devem estes ser ainda líquidos e vencidos;
e) O pagamento deve cobrir qualquer desses débitos
Imputação do pagamento portanto supõe a existência de dois ou mais débitos. Sem dualidade ou multiplicidade de dívidas não há falar em imputação do pagamento. 
Como exceção, admite-se esta no caso de uma única dívida, se esta vence juros, onde se imputará o pagamento primeiro aos juros vencidos e depois no capital. 
Tratam-se de dois ou mais débitos que se dará diante de um único credor. Em se tratando de obrigação solidária ativa, ainda assim poder-se-á falar em imputação do pagamento. 
No mais, a imputação requer que as dívidas sejam da mesma natureza, ou seja, tenham por objeto coisas fungíveis de idêntica espécie e qualidade. Não é possível, assim, imputação do pagamento quando os débitos não compartilham da mesma natureza. 
Como exemplo de débitos possíveis para imputação, pode-se tomar em consideração o pagamento de um dos vários empréstimos convencionados entre credor e devedor. 
Diz-se líquida a obrigação certa quanto à sua existência e determinada quanto ao seu objeto. Por outro lado, diz-se vencida a obrigação exigível, dada a superação do termo prefixado para o vencimento. 
Por último, requer-se que o pagamento se mostre suficiente para extinguir pelo menos uma dívida ou outra, na qual pretenda o devedor imputá-lo. É dizer, se o pagamento não basta para extinguir ao menos uma das dívidas, descabe a imputação, porquanto, do contrário, se constrangeria o credor a receber pagamento parcial, ao que evidentemente se não acha obrigado, conforme Art. 314 do Código Civil. 
No mais, oferecido pagamento pelo devedor, para imputação numa das dívidas, líquidas e vencidas, não pode o credor recusá-lo; se o fizer, incorrerá em MORA ACCIPIENDI, possuindo o devedor o direito de requerer o pagamento em consignação. 
2) Imputação do Devedor:
A imputação realizar-se-á por indicação do devedor, ou do credor, e ainda em virtude de lei. Existem, dessa forma, três espécies de imputação: Do devedor, do credor e legal.
Na imputação do devedor a regra fundamental é a de que o devedor que paga tem direito de declarar qual o débito que almeja resgatar. Porém a imputação comporta exceções: 
a) Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no Capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. *Vide Art. 354 do Código Civil .
É dizer, não pode o devedor pagando certa quantia ao credor, pretender que ela seja imputada no capital, quando se acha a dever juros deste. Ressalva-se, todavia, pacto em contrário, ou se o credor concorda com a aplicação no capital. 
O devedor também não pode imputar pagamento numa dívida não vencida se convencionado o prazo em proveito do credor. Diz-se em proveito do credor porque, acaso o prazo se desse em proveito do devedor, poderia então este renunciar o prazo e ter a dívida imediatamente vencida. 
3) Imputação do Credor:
Quando o devedor não declara qual das dívidas quer pagar, ao credor compete efetuar a imputação. Eis a imputação do credor. 
“Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo” *Art. 353 do Código Civil. 
4) Imputação Legal:
“Se o devedor não fizer a indicação do Art.352 do Código Civil de 2002, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dividas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa”. *Vide Art. 355 do Código Civil. 
Trata-se da imputação legal, cujas regras, preconizadas pela doutrina são as seguintes: a) na dívida vencida, de preferência à não vencida; b) na dívida líquida, em concorrência com a ilíquida. c) Sendo todas líquidas, na mais onerosa; d) em igualdade de ônus na mais antiga; e) nos juros vencidos, de preferência ao capital; f) Na dívida existente no próprio nome do devedor, isoladamente, de preferência àquela por ele solidariamente devida; g) nas comerciais, de preferência às civis. 
Por dívida mais onerosa, sabe-se é aquela que:
a) A que produz juros;
b) A que produz juros mais elevados;
c) A que for garantida por hipoteca ou direito real;
Dentre outras hipóteses. 
DA DAÇÃO EM PAGAMENTO:
1) Generalidades:
Em regra, sabe-se que o devedor somente se desobriga prestando a própria coisa devida. O credor portanto, deve ser pago exatamente com aquilo que constitui objeto da prestação. 
Porém, se o credor concorda com o recebimento de uma coisa por outra, possível se tornará o pagamento mediante a entrega da prestação diferente. 
Ora, conforme o Art. 313 do Código Civil, o credor não é obrigado a receber uma coisa por outra, ainda que mais valiosa. Porém, acaso o credor aceite receber uma coisa por outra, então estará aclarada a dação em pagamento. 
Era portanto prevista no Direito Romano, sendo conhecida como DATIO IN SOLUTUM.
2) Definição:
A dação em pagamento é um acordo convencionado entre credor e devedor, por via do qual aquiesce o primeiro em receber do segundo, para desobrigá-lo de uma dívida, objeto diferente do que constituíra a obrigação. 
São os elementos da dação em pagamento:
· Pagamento feito pelo devedor ao credor.
· Acordo do credor.
· Diversidade da prestação oferecida.
3) Objeto:
A DATIO IN SOLUTUM pode ter por objeto prestação de qualquer natureza. Pode então se dar das seguintes formas: 
· REM PRO PECUNIA (coisa por dinheiro).
· REM PRO RE (coisa por coisa).
· REM PRO FACTO (coisa por fato).
· FACTUM PRO RE (fato por coisa).
· FACTUM PRO PECUNIA (fato por dinheiro).
4) Pontuações Legais:
Urge abalizar que “se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão” *Vide Art. 358 do Código Civil. 
Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros. *Art. 359 do Código Civil.
DA NOVAÇÃO:
1) Definição:
A Novação corresponde a meio liberatório singular, a modo especial de extinguir-se a obrigação. Define-se como a conversão de uma dívida em outra para extinguir a primeira. 
É portanto a substituição de uma dívida por outra, eliminando-se a precedente. Seu conteúdo é de fato duplo:
· Extintivo: Referente à obrigação antiga.
· Gerador: Referente à obrigação nova.
Não há uma transformação, mas sim a criação de uma nova obrigação que substitui à antiga. 
Divide-se a novação em:
a) Novação Objetiva (Real).
Consistena mutação do objeto devido entre as mesmas partes. 
b) Novação Subjetiva (Pessoal).
Consiste na mudança de um ou de ambos os sujeitos da obrigação, ativo ou passivo. 
Três são portanto, os modos por que se opera a novação: 
· Mudança de objeto da prestação (novação objetiva).
· Mudança do devedor (novação subjetiva).
· Mudança do credor. (novação subjetiva).
Conforme o Código Civil dá-se a novação: 
I – Quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; (novação pela mudança do objeto);
II- Quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; (novação pela mudança do devedor);
III- Quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este (novação pela mudança do credor). *Vide Art.360 do Código Civil. 
Importante observar que existirá novação objetiva quando também se modifica a natureza da prestação, como por exemplo uma obrigação de dar substituída por uma obrigação de fazer ou vice versa.
Verifica-se novação objetiva sempre que haja transformação contratual entre as mesmas partes anteriormente vinculadas, de uma obrigação em outra. 
No tocante as modalidades de novação subjetiva: 
a) Mudança de Devedor:
· Delegação:
Aqui a substituição do devedor opera-se com o consentimento dele. 
Ex: A deve a B a quantia de R$ 100.000,00 O primeiro entende-se com o segundo, propondo-lhe que C fique como seu devedor, extinguindo-se a dívida de A. Aceita a proposta perfaz-se a delegação. 
Aqui, a dívida se extingue e A passa a ser credor de C em outra obrigação. Urge não confundir com Assunção de Dívida, onde a obrigação continua e só mudam as partes naquele vínculo jurídico. 
Vale dizer ainda que a delegação só importa novação se houver extinção da primitiva obrigação; se não houver liberação do primeiro devedor, inexistirá novação. 
· Expromissão:
Ocorre esta se a substituição do devedor se efetua sem o seu consentimento. 
O novo devedor contrai com o credor nova dívida, com o objetivo de extinguir-se o débito do primitivo devedor. 
Ex: A deve a B R$ 100.000,0. C, que é amigo de A e sabe da existência do débito, pede ao credor, libere A, ficando C como devedor. 
Trata-se de ajuste exclusivo entre o credor e o terceiro que assume a dívida. Prescinde-se nela o consentimento do devedor. 
É dizer, “A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente do consentimento deste” *Vide Art. 362 do Código Civil. 
Pode ainda haver a novação subjetiva pela mudança do credor, onde verifica-se quando, em virtude de obrigação nova, outro credor se substitui ao antigo, ficando o devedor quite com este. 
2) Requisitos:
Para que se dê novação, exigem-se os seguintes requisitos: 
a) Existência de obrigação anterior, que se extingue com a constituição de nova, que a substitui (OBLIGATIO NOVANDA); 
b) Criação dessa nova obrigação, em substituição à anterior, que se extingue (ALIQUID NOVI); 
c) Intenção de novar (ANIMUS NOVANDI); 
Não se pode novar o que não existe. Assim versa a legislação que “Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas” *Vide Art.367 do Código Civil.
No mais, a nova obrigação deve tomar o lugar da antiga. Se assim não acontece, se apenas ocorre eliminação da dívida antiga, haverá mera remissão, isto é, liberação graciosa por parte do credor. 
A intenção de novar ressalve-se, não se presume. Deve ser expressa ou tacitamente declarada pelas partes ou resultar, de modo inequívoco, da natureza das obrigações, inconciliáveis entre si. 
3) Efeitos da Novação:
O mais importante efeito da novação é a extinção da dívida antiga, substituída por nova, que lhe toma o lugar. 
“A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação” *Art. 364 do Código Civil.
Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados”. * Art. 365 do Código Civil. 
“Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal”. *Art. 366 do Código Civil.
Se a obrigação novada for a fiança, inalterada se conservará a obrigação principal. 
No mais, se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição. * Art. 363 do Código Civil. 
DA COMPENSAÇÃO:
1) Definição:
Define-se a compensação como a extinção de duas obrigações, cujos credores são ao mesmo tempo devedores um do outro. 
Poderá ser total ou parcial. 
a) Total:
Se de valores iguais as duas obrigações. 
b) Parcial:
Sendo de valores desiguais, a extinção se processa até a concorrência dos respectivos valores. 
Pode-se dizer que “Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem” *Vide Art.368 do Código Civil. 
Torna-se mais cômodo e prático o encontro de ambas as obrigações, que mutuamente se extinguem até a concorrência de seus valores. 
Resulta pois vantagem para as partes, que se desobrigam desde logo, sem desperdício de tempo e dinheiro e sem o inconveniente da multiplicação de demandas. 
2) Pressupostos:
Para que se possa observar a compensação devem ser observados os seguintes requisitos:
· Reciprocidade das dívidas.
· Que elas sejam líquidas.
· Que sejam vencidas.
· Que sejam homogêneas.
“A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis”. *Vide Art.369 do Código Civil. 
Para que haja compensação, as dívidas devem ser fungíveis entre si. Dívidas em dinheiro só se compensam com dívidas em dinheiro. 
No mais, “embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificadas no contrato”. * Art. 370 do Código Civil. 
3) Espécies de Compensação:
A compensação pode ser legal, convencional ou judicial. 
4) Casos de exclusão da compensação:
Dispõe a legislação civil que “A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:
 I – se provier de esbulho, furto ou roubo;
 II – Se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; 
III - Se uma for de coisa não suscetível de penhora”. *Vide Art.373 do Código Civil. 
Dívidas ilícitas por óbvio, não comportam compensação. 
No tocante ao inciso II, vê-se o pagamento só se efetua mediante restituição da própria coisa emprestada ou depositada. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa, conforme o Art. 313 do Código Civil.
No tocante às dívidas alimentares, sabe-se que pela sua índole, não comportam compensação. Destinam-se os alimentos à subsistência do alimentado, que não tem recursos para viver, nem pode prover às suas necessidades pelo trabalho. Permitir compensação seria privar o alimentado dos recursos indispensáveis à própria mantença, condenando-o assim a inevitável perecimento. 
Não pode também a compensação realizar-se havendo renúncia prévia de um dos devedores. *Vide Art. 375 do Código Civil. 
Não se admite compensação em prejuízo do direito de terceiro. O devedor que se torne credo do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exequente a compensação, de que contra o próprio credor disporia. *Vide Art.380 do Código Civil. 
Como modo abreviado de efetuar pagamento, a compensação não pode prejudicar terceiros estranhos à operação. 
5) Demais Pontuações:
O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado. *Art. 371 do Código Civil.
No caso do crédito garantido por fiança, o devedor principal não pode compensar seu débito com o débito do credor para como fiador; mas este pode opor ao credor, em compensação, o que o mesmo deva ao devedor principal.
No mais, obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever. * Vide Art. 376 do Código Civil. 
Quem se obriga em favor de terceiro não se exime de sua obrigação, pretendendo compensar-se com o que lhe deve o credor. Aquele que se obriga em favor de terceiro não pode eximir-se de realizar a prestação pretendendo compensá-la com o estipulante. A lei exclui a possibilidade de compensação a fim de que o terceiro não seja privado do prometido pelo devedor ao estipulante. 
Por outro lado, “o devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiro dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se porém a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente”. *Vide Art.377 do Código Civil. 
Ademais de tudo, “quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação”. *Vide Art.378 do Código Civil. 
Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação de pagamento. *Art. 379 do Código Civil. 
 	Quer dizer, ao intentar a compensação, indicará o devedor a dívida que pretende seja compensada. Se omitir a indicação, a escolha far-se-á pelo credor, que consignará na quitação a dívida pela qual optou. 
“Não se admite compensação em prejuízo do direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exequente a compensação de que contra o próprio credor disporia”. *Vide Art. 380 do Código Civil. 
DA CONFUSÃO:
1) Conceito:
Conforme a legislação civil, “extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor”. *Art.381 do Código Civil. 
 	O direito creditório pressupõe irredutivelmente a coexistência de um sujeito ativo e de um sujeito passivo, credor e devedor. Essas qualidades devem recair forçosamente em pessoas diferentes. Se, por qualquer circunstância, vem a desparecer esse dualismo, fundindo-se numa só as duas posições opostas, extingue-se a obrigação, porque ninguém pode ser juridicamente obrigado para consigo mesmo, ninguém pode ser devedor de si próprio ou ter demanda contra si mesmo. 
2) Compensação x Confusão:
a) Compensação:
Aqui há dualidade de sujeitos, juridicamente postados em pontos antagônicos; As mútuas obrigações entre eles existentes extinguem-se reciprocamente pelo menos até a concorrência dos respectivos valores. 
b) Confusão:
Numa só pessoa, aglutinam-se as duas qualidades opostas, e dessa aglutinação resulta a completa extinção da obrigação. 
Ex: Credor herdeiro de devedor. 
3) Espécies de Confusão:
A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. Duas portanto, as espécies de confusão: Total e Parcial. 
Parcial: Como a própria palavra indica, quando o credor não recebe a totalidade da dívida, por não ser o único herdeiro do devedor, ou não lhe ter sido a dívida transferida integralmente.
Total: Quando se verificar a respeito de toda a dívida. 
“A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até à concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade”. *Art. 383 do Código Civil. 
4) Seus Efeitos:
“Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior”. *Vide Art. 384 do Código Civil.
A confusão pode realmente desfazer-se, restabelecendo-se em pessoas diferentes as qualidades de credor e devedor. 
A confusão extingue não só a obrigação principal como também as acessórias. Mas a recíproca não é verdadeira. Assim, se a confusão se opera nas pessoas do credor e do fiador, extingue-se a acessória, permanecendo a principal, porque ninguém pode ser fiador de si próprio. 
____________x_____________

Continue navegando