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Avaliação do Estado Nutricional Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Vanessa Fracaro Menck Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Calorimetria, Bioimpedância e Ultrassom para Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético Calorimetria, Bioimpedância e Ultrassom para Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético • Compreender como funcionam, quais as aplicações e como utilizar a calorimetria, a bioim pedância e o equipamento de ultrassom para avaliação da composição corporal e do gasto energético. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Outros Métodos de Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético; • Bioimpedância; • Calorimetria Indireta; • Ultrassonografia. UNIDADE Calorimetria, Bioimpedância e Ultrassom para Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético Outros Métodos de Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético Já vimos anteriormente sobre os quais são os métodos de avalição de composição corporal. Aqui, nesta unidade, vamos nos aprofundar em três que são possíveis de serem utilizados no consultório. Veremos como escolher os equipamentos e as vantagens e desvantagens na hora de escolher entre uma bioimpedância, um equipamento de ultrassom e como utilizar a calorimetria indireta. Na aula gravada, você terá uma demonstração de como utilizar cada um deles e, na aula prática, você poderá treinar o uso dos equipamentos para ver com qual deles você tem mais afinidade. Existem muitos aspectos que envolvem a avaliação da composição corporal. O público e o objetivo são fatores determinantes na hora da escolha. Por exemplo, em estudos populacionais e científicos, equipamentos validados cientificamente e considerados padrão-ouro são interessantes. Porém, nem sempre é possível por conta do custo. Já no dia a dia do consultório, temos a opção de direcionar o paciente para o laboratório ou de realizar a avaliação na nossa própria clínica. O método não precisa necessariamente ser padrãoouro, mas é importante que a comparação da composição corporal seja feita sempre com o mesmo equipamento. Comparando o antes e depois do paciente. Nesses casos, o adipômetro é um equipamento preciso e de custo acessível. Porém, a precisão também depende de um avaliador bem treinado. Uma avaliação pode mos- trar resultados errados se o nutricionista não tiver praticado bastante. Existem pessoas também que não gostam de ser tocadas e sentem que o adipô- metro é um método “invasivo”, por terem vergonha ou porque têm dor ou alguma limitação física. Isso é comum em caso de transtornos alimentares e de obesidade. Pessoas de algumas religiões também, às vezes, preferem não realizar o exame. Nesta hora, a bioimpedância é uma boa opção, pois a chance de erro depende apenas de um bom equipamento, e uma avaliação rápida não necessita muito do toque (apenas para colocar os eletrodos ou para posicionar o paciente). O resultado, porém, sofre influência de outros fatores, como veremos adiante. Bioimpedância A bioimpedância é um método simples, seguro, não invasivo e rápido que estima clinicamente a composição corporal do organismo de forma relativamente precisa (ABRAN, 2009). 8 9 Consiste na passagem pelo corpo de uma corrente elétrica de baixa amplitude e alta frequência, isso permite mensurar a resistência (R) e a reactância (Xc); a partir dos valores de R e Xc, são calculados a impedância (Z) e o ângulo de fase (PhA), es- timada a água corporal total (TBW), além da quantidade de água extracelular (ECW) e intracelular (ICW) (ABRAN, 2009). Como funciona? Os componentes corporais oferecem resistências diferentes à passagem da corrente elétrica. Os ossos e a gordura contêm pouca quantidade de água, portanto, possuem baixa conectividade, ou seja, alta resistência à corrente elétrica. A corrente elétrica gerada pelo equipamento passa mais lentamente (ABRAN, 2009). Já a massa muscular e outros tecidos ricos em água e eletrólitos são bons condu- tores de energia, a corrente elétrica tem uma passagem mais rápida (ABRAN, 2009). Através da velocidade da passagem pela corrente, o equipamento é capaz de mensurar a quantidade de água (hidratação), massa muscular, massa óssea e tecido adiposo do indivíduo. As fórmulas utilizadas no cálculo da bioimpedância devem ser validadas para diferentes etnias, vivendo em condições climáticas e alimentares diferentes (ABRAN, 2009). A bioimpedância não é apropriada para situações de: • Edemas; • Ascites; • Balanço iônico alterado; • Desnutrição grave (IMC< 16kg/m²); • Gestação; • Obesidade mórbida; • Marcapasso; • Febre. No caso da gestação e utilização de marcapasso, a utilização da bioimpedância é contraindicada peso (MAHAN, 2010). Obesidade e Obesidade Mórbida A análise bioimpedância em pacientes com sobrepeso e obesidade deve ser cau- telosa, pois tende a subestimar a porcentagem de gordura do corpo quando esta é maior do que 25% em homens e 33% em mulheres (ABRAN, 2009). A bioimpedância tem se demonstrado válida para pacientes com IMC até 34. Em obesos mórbidos, a maioria das equações não consegue predizer confiavelmente a composição corporal e não são reprodutíveis nos indivíduos durante seu seguimento. 9 UNIDADE Calorimetria, Bioimpedância e Ultrassom para Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético A desproporção entre massa corporal e condutividade corporal diminui a acurácia da bioimpedância na obesidade (SUN G. et al., 2005; KYLE UG et al.,2004). O mes- mo acontece com a utilização do adipômetro. Em casos de obesidade mórbida, é recomendado utilizar as medidas de peso, altura e circunferências, ou os métodos padrão-ouro. A bioimpedância requer um protocolo anterior de preparação para que o exame seja corretamente aplicado no paciente. É importante explicar para o pa- ciente que irá realizar o exame com antecedência qual o preparo que deve ser feito. Orientações para a bioimpedância (para o paciente): • Jejum de 10 horas; • Não ingerir bebidas alcoólicas nas 24 horas anteriores; • Não realizar atividade física 12 horas antes; • Retirar todos os objetos de metal; • O paciente deve suspender o uso de medicamentos diuréticos no mínimo 24 horas antes da realização do teste; • O paciente deve urinar pelo menos 30 minutos antes; • O consumo de alimentos e bebidas deve ser evitado até 4 horas antes de se realizar o teste; • Medicamentos que cursem com retenção hídrica, se possível, devem ser retira- dos para a realização do exame; • Não estar no período menstrual; • Não estar febril; • O paciente deve estar descalço (ABRAN, 2009). Importante! É interessante realizar o exame pela manhã, por conta de ser mais fácil de o paciente seguir o protocolo. Existem diversos equipamentos de bioimpedância. Alguns mais e outros menos precisos. Já vimos acima que o protocolo para seguir antes de realizar o exame não é simples, e depende muito do paciente (ABRAN, 2009). Como a bioimpedância sofre grande influência da hidratação, é um exame de fácil de perder a sua precisão. Sua acurácia também depende da fórmula que o equipamento utiliza para realizar o cálculo validado para a população específica que está avaliando. As equações variam de acordo com a idade, sexo, etnia, condições climáticas e alimentares diferentes. 10 11 Tipos de Bioimpedância • Quais os tipos? • Quais as diferenças? • Como escolher? Os aparelhos são classificados de acordo com a região do corpo que analisam e pela frequência utilizada. Quanto à região, pode ser a região superior do corpo, região inferior do corpo ou ambas (ABRAN, 2009). Quanto ao tipo de frequência utilizada, a bioimpedância pode ser considerada de frequência única (50 kHz) ou multifrequencial (frequências de 5 a 1000 kHz). As bioimpedâncias bipolares analisam por meio de uma corrente elétrica trans- mitida por sensores metálicos em regiões específicas do corpo, normalmente, ava- liando apenas membros superiores ou membros inferiores. As bioimpedânciastetrapolares avaliam toda a lateral direita do corpo, trazendo informações mais completas, diferenciando, inclusive, a hidratação intra e extracelular. Figura 1 – Modelos de bioimpedância bipolar Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons | Getty Images Em ambos os casos, existe pouca precisão nas análises por avaliarem apenas um quadrante do corpo. Na bioimpedância 1, a corrente elétrica passa apenas pe- los membros superiores. E na bioimpedância 2, apenas pelos membros inferiores. Portanto, se o indivíduo tem maior acúmulo em uma das regiões, o resultado pode ser super ou subestimado. No caso de mulheres, por exemplo, em diversos biótipos, o acúmulo de gordura na região dos quadris é maior. Se ela realizar a análise com o segundo equipamento, a resultado pode ser superestimado na porcentagem de gordura corporal. No modelo do link a seguir, o viés de apenas analisar um quadrante do corpo dei- xa de existir. Abaixo, tem um dos modelos mais acessíveis de bioimpedância. Neste caso, os resultados devem ser passados por pen drive para o computador. Existem modelos que geram a impressão automática. Porém, são mais caros e não necessa- riamente são mais precisos. Pesquisar as marcas e equipamentos antes de realizar uma compra é importante. 11 UNIDADE Calorimetria, Bioimpedância e Ultrassom para Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético Modelo da EWFA70, Matsushita Electric. Disponível em: https://bit.ly/2SxlK8I O modelo abaixo, de bioimpedância tetrapolar, é o único com validação cientí- fica. Pode ser utilizado para estudos científicos devido à sua acurácia. Para a análise, a pessoa deve estar deitada, e são utilizados eletrodos nos quatro pontos específicos, como exemplificado na imagem. Figura 2 – Exemplo dos eletrodos e modelo de bioimpedância portátil Fonte: Getty Images Calorimetria Indireta Calorimetria é a medida do calor produzido pelos processos metabólicos do corpo, para quantificar o gasto energético total (GET) de indivíduos. A calorimetria direta mede o calor corporal total, utilizando uma sala, uma câmara termicamente selada (método científico e mais utilizado na pesquisa). Já a calorimetria indireta (CI) determina as necessidades nutricionais e a taxa de utilização dos substratos energéticos a partir do consumo de oxigênio e da produção de gás carbônico obtidos por análise do ar inspirado e expirado pelos pulmões, sendo con- siderado como padrão-ouro para medição do GER na prática clínica (ABRAN, 2015). Como funciona? O princípio de funcionamento do calorímetro é que todo o oxigênio consumido pelo nosso organismo é utilizado para oxidar substratos energéticos, da mesma maneira que o gás carbônico produzido é eliminado pela respiração. 12 13 Sendo assim, o equipamento calcula a quantidade total de energia necessária pelo organismo através da quantidade total de energia produzida, ou seja, a conversão da energia química armazenada nos nutrientes em energia química armazenada no ATP, somado à energia dissipada como calor durante o processo de oxidação. Os equipamentos de circuito fechado medem a variação de volume de oxigênio consumido (VO2) e gás carbônico produzido (VCO2) dentro do reservatório. O indivíduo respira o gás contido no espirômetro, que funciona com válvulas que vão determinar o consumo de oxigênio durante o período de exame. Os sensores que realizam a análise são conectados em um computador que analisa os resultados. A análise dos gases é realizada por meio de sensores ligados a um computador. CI mede o volume do oxigênio consumido (VO2) e do volume do gás carbônico produzido (VCO2) durante o ciclo respiratório, e a partir desses dados calcula o GER e o quociente respiratório (QR). GER = [3,941(VO2) + 1,106(VCO2)] × 1440 A relação entre VO2 e VCO2 é referida como quociente respiratório (QR). Tradicionalmente, o QR é utilizado para se determinar o substrato energético utilizado. Como avaliar o QR? • QR menor que 0,85 sugere subnutrição; • QR entre 0,85 e 0,9 sugere a utilização mista de substratos, sugerindo um regime nutricional adequado. Tabela 1 – Interpretação do QR Substrato utilizado QR Etanol 0,67 Oxidação lipídica 0,71 Oxidação proteica 0,82 Oxidação mista de substratos 0,85 Oxidação de carboidratos 1,0 Lipogênese 1,0 – 1,2 Calorímetros portáteis São equipamentos que utilizam apenas um filtro de VO2 para medição do gasto energético. Tais calorímetros são apropriados apenas para pacientes em ventila ção espontânea e em ambiente ambulatorial, uma vez que ele assume um QR (por exemplo, de 0,8) constante para todos os pacientes (ABRAN, 2015). 13 UNIDADE Calorimetria, Bioimpedância e Ultrassom para Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético Ultrassonografia A ultrassonografia tem sido amplamente usada para avaliação do estado nutricio- nal e composição corporal em clínicas, ambientes hospitalares e ambulatoriais. Seus benefícios: • Método relativamente econômico; • Não invasivo; • Não gera desconfortos; • Pode ser realizado no paciente deitado; • Não sofre interferência de hidratação, utilização de cafeína ou diuréticos; • Não sofre interferência de prática de atividade física. É um método que pode ser utilizado por profis- sionais que não sejam da área de saúde, contanto que com treinamento adequado. A interpretação e avaliação do estado nutricional deve ser realizada pelo nutricionista, preparador físico ou médico trei- nado para utilizar o equipamento. Força e quantidade muscular podem ser estima- das pela espessura da musculatura. Por ser um equi- pamento preciso, o ultrassom detecta pequenas mu- danças na espessura muscular. No caso de atletas e pacientes com doenças que levam à perda muscular, é possível utilizar o equipamento para avaliações minuciosas (SOUZA, 2018). O equipamento também mostra a porcentagem de gordura corporal subcutânea nas regiões especí- ficas onde são realizadas as avaliações. Os locais comumente avaliados com o equipamento são: tríceps braquial, quadrí- ceps e gastrocnêmio medial, sempre no lado direito do corpo. É necessário o programa de avaliação de ultrassom para visualizar e realizar a análise das imagens. Existem equipamentos portáteis e que possibilitam visualizar a análise no compu- tador, celular ou tablet. Como realizar o exame? • O paciente se deita de costas, mantendo o membro a ser examinado estendido e relaxado, ou permanece de pé com a musculatura que será avaliada relaxada; • São identificados os pontos anatômicos; Figura 3 Fonte: Getty Images 14 15 • Com pouca pressão, é passado o gel na área que será avaliada com os compas- sos do equipamento de ultrassom; • A análise dos resultados é realizada utilizando software específico para essa análise (normalmente adquirido juto com o equipamento). O que o exame mostra? Mostra a espessura do tecido adiposo subcutâneo e, dos limites do tecido ósseo marcados, a espessura muscular (distância entre esses limites). As imagens ultrassono- gráficas da gordura subcutânea são medidas entre a pele e a espessura muscular. Como aparecem os resultados? Abaixo, há um exemplo de um equipamento e das camadas para exemplificar como elas são mensuradas e localizadas no corpo. Para a interpretação e análise dos resultados, o avaliador deve realizar um curso prático, normalmente ministrado pela própria empresa que vendeu o equipamento. Existem muitas opções de equipamentos. Avalie a sua realidade e o público que irá atender para realizar investimentos que vão ajudar no diagnóstico nutricional e trata- mento clínico com uma avaliação efetiva da composição corporal dos seus pacientes. 15 UNIDADE Calorimetria, Bioimpedância e Ultrassom para Avaliação da Composição Corporal e Gasto Energético Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Comparação dos métodos de bioimpedância e equação de Faulkner para avaliação da composição corporal em desportistas TIRAPEGUI, J. Comparação dos métodosde bioimpedância e equação de Faulkner para avaliação da composição corporal em desportistas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences vol. 37, n. 2, maio/ago., 2001 https://bit.ly/3dhrXxq Bioimpedanciometria tetrapolar segmentada vertical para a avaliação do excesso de gordura corporal em adolescentes COSTA, R. F.; CYRINO, E. S. Bioimpedanciometria tetrapolar segmentada vertical para a avaliação do excesso de gordura corporal em adolescentes. J. Pediatr. (Rio J.) vol. 92 nº. 3 Porto Alegre May./June 2016 https://bit.ly/3cfEpxi Estimativa da gordura corporal através de equipamentos de bioimpedância, dobras cutâneas e pesagem hidrostática RODRIGUES, M. e col. Estimativa da gordura corporal através de equipamentos de bioimpedância, dobras cutâneas e pesagem hidrostática. Rev Bras Med Esporte Vol. 7, Nº 4 – Jul/Ago, 2001. https://bit.ly/2SA2O9c Position Stand AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM). Position Stand. Med Sci Sports Exerc., v. 33, p. 2145-2156, 1993. 16 17 Referências ABRAN, Associação Brasileira de Nutrologia Sociedade Brasileira de Nutrição Paren- teral e Enteral. Projeto Diretrizes. Utilização da Bioimpedância para Avaliação da Massa Corpórea, 2009. Disponível em: <https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAn- tiga/utilizacao-da-bioimpedancia-pa++++++++ra-avaliacao-da-massa-corporea.pdf>. ABRAN. Associação Brasileira de Nutrologia. Curso Nacional de Nutrologia. Antropometria, 2015. MAHAN, L. K.; RAYMOND, J. L. Krause – Alimentos, nutrição e dietoterapia. 13ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 1227 p. ROSSI, L; CARUSO, L; GALANTE, P. A. Avaliação nutricional: novas perspectivas. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. SOUZA, R. e col. O uso da ultrassonografia para avaliar a espessura muscular e gordura subcutânea na fibrose cística. Rev Paul Pediatr. 2018;36(4):457-465. Dispo- nível em: <http://www.scielo.br/pdf/rpp/v36n4/0103-0582-rpp-36-04-457.pdf>. 17
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