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ENSINAMENTOS DE MEISHU-SAMA COLETÂNEA Alicerce do Paraíso 4 ORGANIZAÇÃO E TRADUÇÃO: SECRETARIA DE TRADUÇÃO DA IMMB FUNDAÇÃO MOKITI OKADA São Paulo 6 ª edição revisada - 2019 Copyright by Sekai Kyussei Kyo - Atami M 456e Meishu-Sama, 1882-1955. Ensinamentos de Meishu-Sama/Organização e tradução IMMB, 6.ed. - São Paulo: Fundação Mokiti Okada, 2019. 200 p. – (Coletânea - Alicerce do Paraíso, v. 4) Título original: Tengoku no Ishizue Obra em 5 v. ISBN 978-85-8355-057-0 (Obra Completa) ISBN 978-85-8355-145-4 1. Fé no cotidiano 2. Aprimoramento 3. Pragmatismo religioso 4. Apego 5. Dívidas I. Título II. Série CDD-299.5631 Catalogação na publicação: Zilda Soledade – CRB 8/9909. Índices para catálogo sistemático: 1. Igreja Messiânica Mundial : Filosofia espiritualista de origem japonesa FUNDAÇÃO MOKITI OKADA EDIÇÃO: FUNDAÇÃO MOKITI OKADA Edição de Arte Setor de Comunicação e Marketing Projeto gráfico e diagramação: Rogério Luiz da Camara Impressão e acabamento: Ipsis Gráfica e Editora S/A IMMB: Divisão de Comunicação - Secretaria de Tradução da IMMB Revisão: Ivna Maia Fuchigami 6 ª edição – julho de 2019 Endereço para correspondência: Rua Morgado de Mateus, 77 – 3º andar – Setor Comunicação V. Mariana – São Paulo – SP – CEP 04015-050 Tel.: 11 5087-5000 Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra. Sumário Apresentação da reedição ...........................................................7 Capítulo 1 A FÉ NO COTIDIANO Pragmatismo ............................................................................11 O pragmatismo religioso (Título anterior: “Religião pragmática”) .............13 Fé é confiança ..........................................................................15 Fé é retidão e justiça (Título anterior: “Fé é justiça”) ............................. 16 Fé correta (Título anterior: “Verdadeira fé”) ............................................18 Liberdade na fé ........................................................................22 A respeito da incorporação espiritual (Título anterior: “Incorporação e encosto”) ..................................................25 A bebida e a religião ................................................................32 Tipos de fé ...............................................................................34 Os pecados e as impurezas e sua relação com a doença (Título anterior: “O pecado e a doença”) ............................................................................... 38 Johrei por meio das letras (Título anterior: “Johrei através das letras”) .........41 Leiam o mais possível os Escritos Divinos (Título anterior: “Leia o mais possível os meus Ensinamentos”) .............................................................43 Fisiognomia das casas e sua posição em relação aos pontos cardeais (Título anterior: “Fisiognomonia das casas e sua posição em relação aos pontos cardeais”) ....46 Capítulo 2 PENSAMENTO E SENTIMENTO O ser humano depende de seu pensamento [sonen] (Título anterior: “O homem depende de seu pensamento”) ..................................53 Mistério do Mundo Espiritual ................................................53 Makoto [Sinceridade] (Título anterior: “Sinceridade”) ............................56 É possível mudar o destino livremente (Título anterior: “Nós é que traçamos o destino”) ............................................57 Práticas de humildade (Título anterior: “Treino de humildade”) .................59 Satisfação e insatisfação ..........................................................60 Liberte-se do ga (Título anterior: “Domine o “ga””) .................................62 O ego e o apego (Título anterior: “Egoísmo e apego”) ..............................63 A entrega a Deus (Título anterior: “Entregue-se a Deus”) .........................66 Sabor da fé ...............................................................................69 Capítulo 3 AÇÃO Filosofia da intuição ................................................................73 Novamente a respeito de Bergson ............................................76 Ter ou não ter makoto [sinceridade] (Título anterior: “Sinceridade”) .......79 Aura e ondas espirituais (Título anterior: “Aura”) ...............................80 Bondade e cortesia ...................................................................86 Pessoa simpática ......................................................................88 Teoria sobre os efeitos contrários .............................................90 Capítulo 4 RELACIONAMENTO Não fique irado (Título anterior: “Não se irrite”) ....................................95 Vencer a ira ..............................................................................99 Não julgue o próximo (Título anterior: “Não julgueis”) ........................101 Outras formas de vaidade (Título anterior: “Presunção”) .....................102 Não julgueis ...........................................................................105 Reputação e emoções (Título anterior: “Sentimento e reputação”) .............109 Não seja odiado .....................................................................110 Não transgrida a ordem (Título anterior: “Respeite a ordem”) ................112 Ordem ...................................................................................117 Amor benévolo e amor malévolo (Título anterior: “Amor correto e amor incorreto”) ........................................119 Pessoas medrosas ...................................................................122 A irresponsabilidade dos suicidas ..........................................123 Capítulo 5 TEMPO Aguardar o tempo certo ........................................................129 O deus do Tempo (Título anterior: “Tempo é Deus”) ............................132 Capítulo 6 APRIMORAMENTO A parábola da espada .............................................................137 Beco sem saída .......................................................................138 Dúvida ...................................................................................139 Libertação ..............................................................................140 Instinto e abstinência .............................................................142 Abstinência ............................................................................145 Apreciar o bem (Título anterior: “Apreciação das virtudes”) ......................148 Subjetivismo e objetivismo ....................................................150 Alicerce do Paraíso S Capítulo 7 VERDADE E MENTIRA Verdade e mentira (Título anterior: “Honestidade e mentira”) ...................155 A superstição da mentira (Título anterior: “O hábito da mentira”) ...........156 Ambiciosos sem ambição (Título anterior: “Gananciosos sem ganância”) ....160 Como distinguir a pessoa má (Título anterior: “Como identificar o homem mau”) .......................................162 Capítulo 8 A RESPEITO DAS DÍVIDAS A causa da pobreza ................................................................165 A respeito das dívidas ............................................................169 Devemos ou não fazer dívidas? (Título anterior: “Devemos ou não devemos fazer dívidas?”) ..............................171 Dinheiro mal ganho, dinheiro mal gasto ..............................177 Capítulo 9 ENSINAMENTOS EM FORMA DE PALESTRAS O pensamento daijo e o pensamento shojo em relação à dedicação (Título anterior: “A atitude ‘Daijo’ versus a atitude ‘Shojo’ nas doações”) .................183A forte vontade de crescer (Título anterior: “Atitude mental”) ...............185 A respeito do espírito da palavra ............................................186 A luta entre o bem e o mal (Título anterior: “O conflito entre o Bem e o Mal”) ...188 Ceda para conquistar .............................................................189 Seja um bom ouvinte .............................................................193 A alegria, o tempo e a ordem .................................................194 Utilizar o dinheiro corretamente (Título anterior: “O dinheiro deve ser usado de maneira correta”) ........................198 Fontes dos Ensinamentos e respectiva tradução em japonês .......200 APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO ob a proteção do Supremo Deus, temos a alegria de entregar aos leitores a edição revisada do volume 4 da coletânea Alicerce do Paraíso. A divisão em capítulos é uma tentativa de apresentar os Ensinamentos de Meishu-Sama de forma minimamente sistematizada para fins didáticos. No entanto, tenhamos sempre em mente que os Ensinamentos são Escritos de Deus para que acessemos a Verdade com vistas à concretização do Mundo da Luz. Observa-se que a temática “fé”, de alguma maneira, permeia vários textos e é como um fio condutor de nossa reflexão. Leitores de diferentes faixas etárias e trajetórias de vida admiram a visão abrangente de Meishu-Sama. Para o Fundador, fé não é apenas um sentimento humano de veneração a Deus. Fé messiânica significa justamente a arte de entrosar fé e vida cotidiana. Meishu-Sama não foi um religioso comum. Até a meia-idade, não professava fé alguma. Por outro lado, era apreciador da filosofia e, ao se iniciar no mundo da fé, passou a aplicar a religião ao cotidiano, o que denominou de “Pragmatismo Religioso”. Ele acreditava que a introdução do espírito religioso nos vários campos da atividade humana seria a chave para a melhoria do destino do indivíduo e, por conseguinte, do aumento do bem-estar social. Conforme entramos em contato com os Ensinamentos, nossa mente se purifica e, por meio da sua prática, nossa compreensão da vida e comportamento se transformam. Surgem em nós muitas reflexões: “Deus confia em mim?”; “Sou capaz de viver o cotidiano com retidão e justiça?”; “Pratico uma fé cega ou uma fé lúcida?”; “Sou vaidoso e exclusivista ou contribuo para a criação de uma vida civilizada?”, entre outras. 6 7 Alicerce do Paraíso Aprendemos que fé não combina com preocupação. Se- gundo Meishu-Sama, “a pessoa de fé é diferente dos demais: tão logo lhe surge uma preocupação, lembra-se de entregá-la a Deus e sente grande alívio.” E mais: “Os praticantes da fé precisam ter uma correta percepção sobre o amor.” Por meio de vários exemplos, somos levados a compreender a devida ordem existente entre espírito e matéria. Ordem é lei, é caminho. Antes das leis humanas, existe a Lei de Deus. Em se tratando de questões de fé e vida cotidiana, vemos que Meishu-Sama se fundamentou na Grande Natureza e nos apresentou sua filosofia sobre as dívidas, que desencoraja a contração de dívidas e recomenda que qualquer projeto seja iniciado de forma modesta, assim como uma pequenina planta que cresce e se torna uma frondosa árvore. Tudo a seu tempo. Quanto às modificações em relação às edições anteriores deste volume, destacam-se: a) inclusão da fonte em que o Ensinamento foi publicado pela primeira vez, seguido de sua data de publicação (Vide relação na página 200); b) deslocamento do Ensinamento “Fisiognomia das casas e sua posição em relação aos pontos cardeais” para o capítulo 1 deste mesmo volume; c) retirada do Ensinamento “A higiênica e agradável agricultura natural nas hortas caseiras”, que será publicado no volume 5 da coletânea Alicerce do Paraíso; d) criação de um capítulo que reúne apenas os Ensinamentos em forma de palestras. As alterações nos títulos estão indicadas no sumário. Com exceção dos textos do capítulo 9, os demais Ensinamentos constam na coletânea Tengoku no Ishizue (Alicerce do Paraíso), publicada no Japão. A data do Ensinamento é, via de regra, aquela que consta nesta mesma coletânea. 8 A fé no cotidiano A FÉ NO COTIDIANO Alicerce do Paraíso Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano PRAGMATISMO a mocidade, apreciei muito a filosofia. Entre as várias teorias filosóficas, a que mais me atraiu foi o prag- matismo, do renomado norte-americano William James1. Pragmatismo poderia ser traduzido como “filosofia em ação”. Segundo James, a mera explicação de teorias filosóficas não passa de uma espécie de diversão. Para ele, a filosofia só tem valor quando manifestada por meio da ação. Acho essa teoria interessante por levar em conta a realidade, o que mostra uma característica dos filósofos norte- americanos. Naquela época, simpatizei-me, portanto, com seu pensamento e me esforcei para incorporar a filosofia ao meu trabalho e até mesmo à vida cotidiana. Dessa forma, o benefício que o pragmatismo me proporcionou não foi pequeno. Mais tarde, ao professar a fé, comecei a considerar a neces- sidade de estender o pragmatismo à Religião, ou seja, aplicar a religião ao dia a dia. Podemos imaginar quão grandes benefícios nos proporcionaria a introdução do espírito religioso em todas as atividades. Por exemplo, o político, livre dos próprios interesses, não cometeria desonestidades e, uma vez que visaria à felicidade do povo, obteria a confiança de todos, e a política fluiria bem. O empresário realizaria suas atividades honestamente, o que lhe proporcionaria ampla 1 William James (1842–1910): foi um psicólogo e filósofo estadunidense, com formação em medicina. Escreveu livros sobre a ciência da psicologia, incluindo temas como a educação e a psicologia da experiência religiosa. James foi um dos formuladores e defensores da filosofia do pragmatismo. N A fé no cotidiano credibilidade, e seus negócios progrediriam com solidez, porque ele trataria seus funcionários com amor, e estes trabalhariam com dedicação. 10 11 Por realizar seu trabalho com sólida fé, o educador seria respeitado pelos alunos, exercendo sobre eles notável influência. Por agirem com base na fé, os funcionários públicos e os de empresas privadas realizariam bons trabalhos e seriam promovidos. Por meio de suas obras, o artista expressaria refinamento e emitiria elevada vibração espiritual, exercendo boa influência sobre o público. O ator, por estar centralizado na fé, manifestaria uma arte refinada; com isso, os espectadores seriam influenciados positivamente e cultivariam uma sensibilidade e consciência elevadas. Entretanto, tudo isso deve ocorrer sem rigidez didática, de forma bastante divertida e interessante, sempre com bom humor. Ademais, é fácil imaginar que, pelo fato de manifestar a fé por meio de ações, a pessoa, sem distinção de profissão ou situação social, melhoraria seu destino e prestaria relevantes serviços à sociedade. Gostaria de chamar a atenção para um fato: ao se aplicar a religião ao cotidiano, não se deve ostentar a fé, pois isso causa repúdio. Principalmente, os fiéis fervorosos em demasia devem ter esse cuidado. Existem indivíduos que fazem questão de exibir sua fé, mas isso é desagradável para as pessoas ao redor. O ideal é não aparentar ser religioso e portar-se como uma pessoa comum. Devem apenas ser mais gentis com as pessoas, causar-lhes impressão agradável e manifestar mais nobreza em suas palavras e atos. Em suma, que a fé não seja nem agressiva nem grosseira. Na sociedade, vemos certos adeptos que se mostram exageradamente fervorosos e chegamos a suspeitar que sejam psicopatas. São extremamente subjetivos, tornam seu lar sombrio, de maneira alguma se incomodam em causar transtornos ao próximo e, consequentemente, acabam suscitando dúvidas sobre o nível da religião que seguem.A responsabilidade, no entanto, é de quem os orienta e isso exige muita atenção. Coletânea Assuntos sobre fé, 5 de setembro de 1948 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano O PRAGMATISMO RELIGIOSO pragmatismo, apresentado inicialmente pelo conhecido filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce 2 , tornou-se uma filosofia de âmbito mundial propagada por William James que, hoje, chega a ser considerado seu criador. No Japão, o termo pragmatismo é comumente traduzido como utilitarismo ou praticismo; no entanto, parece-me mais adequado chamá-lo de “teoria em ação”. Penso ser desnecessário falar minuciosamente a esse respei- to, porque se trata de uma teoria que todos que se interessam por filosofia já conhecem. No momento, desejo discorrer sobre o pragmatismo religioso. Já me referi anteriormente a seu respeito, mas torno a abordá-lo, para uma compreensão mais aprofundada. Quando se menciona pragmatismo religioso, temos a im- 12 13 2 Charles Sanders Peirce (1839–1914): licenciou-se em Ciências e doutorou-se em Química na Universidade Harvard. Ensinou filosofia nesta universidade e na Universidade Johns Hopkins. Foi o fundador do Pragmatismo e da ciência dos signos, a Semiótica. O Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano pressão de que todas as religiões tradicionais o estejam adotando. Sabemos que elas realizam, por exemplo, a divulgação por meio de textos, sermões, orações, rituais, abstinências e práticas ascéticas. Lamentavelmente, não chegam a influenciar o cotidiano, que é o mais importante. Falando francamente, elas não passam de uma espécie de aprimoramento espiritual, distante da vida real. Já o pragmatismo filosófico busca introduzir a filosofia na vida prática, objetivando torná-la útil, o que demonstra claramente o estilo americano. Pretendo fazer algo semelhante; porém, mais do que introduzir a religião na vida prática, desejo estabelecer entre ambas uma relação indissociável. Ao contrário dos religiosos tradicionais, deixemos de ser intolerantes, isolados ou idealistas. Abandonemos a visão de distanciamento do mundo e sejamos iguais às pessoas comuns, buscando eliminar qualquer indício de fé que cheire a mofo. Ajamos sempre de acordo com o senso comum em todos os aspectos, tornando nossa fé imperceptível aos outros. Creio que a fé deva ser incorporada a esse ponto. Ou seja, trata-se de agir com flexibilidade e adequação3. Com essa explicação, creio que puderam entender, em linhas gerais, o que vem a ser o pragmatismo religioso. Jornal Eiko nº 106, 30 de maio de 1951 FÉ É CONFIANÇA 3 A expressão utilizada por Meishu-Sama foi oshin no hataraki, “a atuação de oshin”, que significa agir de forma flexível, adequando-se a cada nova situação. Baseada no termo budista oshin, origina-se do sânscrito Nirmanakaya, normalmente grafado xistem muitas pessoas que seguem uma religião ou crença, mas é raro o homem de verdadeira fé. Vou descrevê-lo. O fato de alguém se achar um religioso exemplar nada significa, pois isso é uma constatação subjetiva. Só poderá ser considerado como tal aquele que assim for reconhecido objetivamente. Como devemos agir para nos tornarmos autênticas pessoas de fé? Teoricamente é simples: ser alguém que mereça a confiança do próximo. Por exemplo, que as pessoas possam comentar a seu respeito: “Não há erro no que ela diz”; “Aquela é uma pessoa magnífica!”; “Posso me relacionar com ela sem nenhum receio”. E como devemos proceder para obter tal confiança? Isso não é difícil. O essencial é não mentir e favorecer primeiramente o próximo, deixando os próprios interesses em segundo plano. Ou seja, se a pessoa for alvo de comentários como: “Ela me ajudou muito!”; “Sua amizade só me traz coisas boas”; “É uma pessoa realmente gentil...”; “Sinto-me bem sempre que me encontro com ela”, certamente, terá o respeito e a estima de todos. Se encontrássemos alguém assim, desejaríamos cultivar sua amizade, conversar tranquilamente sobre qualquer assunto e, em pouco tempo, nos tornaríamos amigos próximos. Se vocês pensarem a respeito de si próprios, compreenderão, de imediato, o que quero dizer. em japonês como ojin. É uma das três manifestações do Buda e refere-se ao Buda encarnado, à manifestação de Buda no mundo material. E 14 15 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano Gostaria de ressaltar, entretanto, que essa conduta não pode ter caráter passageiro. Exemplifiquemos com o arroz: quanto mais o mastigamos, mais saboroso ele se torna. Costumo dizer que o ser humano deve ser como o arroz, que nos é imprescindível. Quando observamos o mundo, notamos que existem, em demasia, pessoas que, sem nenhum receio, agem de forma que as faz perder a confiança do próximo. Em primeiro lugar, mentem de tal maneira, que podem ser desmascaradas a qualquer momento. Mesmo que possuam outras qualidades, uma única mentira põe a confiança a perder, de uma só vez. Realmente, é o cúmulo da estupidez. Se averiguarmos por que certas pessoas não melhoram de situação, apesar de serem esforçadas e assíduas no trabalho, veremos que, sem exceção, elas perdem a confiança devido às suas mentiras. A confiança é realmente um tesouro. Quem a merece, jamais passará por dificuldades financeiras, pois todos terão prazer em lhe fazer empréstimos. Até aqui vinha me referindo à confiança entre os seres humanos. Indo além, digo-lhes que obter a confiança de Deus é o que há de mais precioso. Se a conseguirmos, tudo correrá bem e teremos uma vida repleta de alegrias. Jornal Hikari nº 13, 18 de junho de 1949 FÉ É RETIDÃO E JUSTIÇA que é religião? Ela, evidentemente, não tem como finalidade ensinar teorias e filosofias da religião de forma complicada. Em última análise, seu único objetivo é formar pessoas corretas. Isso, expresso em palavras, parece algo extremamente fácil, embora seja muito difícil alcançá-lo na prática. É exatamente como diz o provérbio: “Falar é fácil; fazer é difícil.” Vou explicar o porquê da dificuldade. A realidade é que as pessoas estão convencidas de que nin- guém alcança o poder, acumula riqueza ou progride na vida apenas agindo corretamente. Elas acreditam que, para isso, certa dose de mal é inevitável. Até mesmo em relação ao lazer, consideram os maus divertimentos mais interessantes que as diversões sadias. Essa visão prevaleceu durante milhares de anos e acabou se transformando em senso comum. Embora houvesse esforço para reverter a situação por meio da lei e da educação moral, os resultados foram inexpressivos. Assim sendo, nem é preciso dizer que o último recurso seriam as religiões. Entretanto, devemos analisar a força de atuação de cada uma, pois isso faz toda a diferença. Não se consegue derrotar o mal por meio de religiões de pouca força. Esta é a razão pela qual os fiéis de algumas delas falham em vencer o próprio mal. Em qualquer religião, são poucos aqueles que realmente agem com justiça e retidão. Conclui-se, pois, que se torna necessário o aparecimento de uma religião capaz de vencer o mal. Somente assim surgirá uma sociedade permeada pelo bem e um mundo de paz e felicidade. Este é o significado da expressão “Fé é retidão e justiça”, que proclamamos. O Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano Jornal Kyusei nº 65, 3 de junho de 1950 FÉ CORRETA hu Xi4, sábio chinês, afirma que a dúvida é o princípio da fé. Realmente, são palavras sábias. Digo sempre que, em se tratando de fé, devemos duvidar o máximo possível. Na sociedade, existem diversos tipos de fé5 mas, de modo geral, ou são cheios de falsidades ou, mesmo que não cheguem a tanto, muitos adoram divindades de nível inferior ou animais como raposa, tanuki6, tengu7, ryujin8 etc. Pouquíssimas dirigem sua adoração a divindades corretas. Por esse motivo, quando observamos as religiões detalha- damente, vemos que a maioria delasapresenta algum ponto fraco. Assim sendo, em caso de ingresso em uma religião, em primeiro lugar, deve-se questioná-la bastante, sem se prender, de forma alguma, a ideias preconcebidas. Se, a despeito de todas as dúvidas, tratar-se de uma fé que não 4 Zhu Xi ou Chu Hsi (1130–1200): sábio neoconfuciano da Dinastia Sung. Contribuiu para a síntese de todos os conceitos fundamentais de Confúcio. 5 Quando Meishu-Sama comenta sobre os diferentes tipos de fé, é importante levar em consideração o politeísmo do Japão, no qual é muito comum haver divindades protetoras de localidades, divindades para objetivos específicos ou mesmo animais que são mensageiros de divindades. 6 Tanuki: cão-guaxinim japonês, conhecido também como um personagem do folclore japonês muito travesso e alegre. 7 Tengu: ser mitológico, tem a missão de proteger as montanhas. O que ele mais aprecia é uma discussão; quando sai vencedor, sua posição espiritual se eleva. É apresente imperfeições, não haverá alternativa senão segui- la. Existem religiões que pregam a necessidade de, primeiramente, crer para depois alcançar graças, o que é um grande erro. Ora, acreditar antes de receber qualquer graça é o mesmo que enganar a si próprio. Por esse motivo, deve-se, inicialmente, apenas procurar entrar em contato com ela e analisá-la com atenção, duvidando o máximo possível. Se, de fato, sua doutrina e teorias religiosas forem racionais e isentas de críticas e, ainda, se a proteção divina for evidenciada por meio de milagres no cotidiano, valerá a pena filiar-se a tal notável religião. Sabemos de religiões que abominam radicalmente o fato de seus seguidores entrarem em contato com outras, mas isso também é um equívoco, pois revela que possuem lacunas ou força insuficiente. Se for uma religião elevada, certamente não haverá nenhuma melhor que ela. Sendo assim, ao invés de temerem o contato de seus fiéis com outras religiões, deveriam, isto sim, alegrar-se, pois a excelência da religião orgulhoso, ambicioso, amante do jogo e também da pintura e da poesia. Seu maior prazer é a bebida. Nas pinturas e nas máscaras, ele é representado com nariz muito longo e com o rosto vermelho. 8 Ryujin: seres mitológicos conhecidos como dragões, que estão em constante atividade para o cumprimento de suas missões. Fenômenos naturais como o vento, a chuva, o relâmpago e outros são atribuídos aos dragões cujo objetivo é a purificação do espaço entre o Céu e a Terra. Os dragões grandes, médios e pequenos residem nos oceanos, nos mares, nos lagos, nos pântanos, nos rios, nos poços e até mesmo nos lagos artificiais, protegendo-os. 16 17 Z Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano professada passa a ser reconhecida, e a fé se fortalece ainda mais. É bom, contudo, estar atento aos casos em que as manifestações de graças e milagres são consideráveis. Entre as divindades corretas, também existem diferenças de força e de nível: superior, intermediário e inferior. Mesmo as de segunda categoria ou inferiores conseguem manifestar considerável poder e, até certo ponto, promovem graças e milagres; por esse motivo, a maioria das pessoas acaba sentindo-se grata. A longo prazo, é possível que essas divindades sejam derrotadas por seres malignos, e isso faz com que seus seguidores sejam envoltos por dificuldades e infortúnios. Por outro lado, visto que eles creem nelas, além de darem justificativas e não perceberem a insuficiência de força, interpretam as dificuldades como provações divinas ou purificação dos pecados e eliminação das impurezas de seus espíritos. Até aqueles que têm fé podem ser temporariamente aco- metidos por doenças e infortúnios, mas, passada essa fase, a situação melhora, o que comprova a atuação de divindades de grau superior. Em outras palavras, isso se deve à elevação espiritual decorrente da redução de pecados e impurezas após a ocorrência de doenças e adversidades. Ao contrário disso, caso o infortúnio se agrave e perdure por longo tempo, a situação torna-se desesperadora devido à falta de força de divindades inferiores que foram derrotadas pelos seres malignos. Na sociedade, muitas vezes, as graças não ocorrem con- forme o desejado mesmo que se faça todo tipo de sacrifício ou súplica. Isso se dá porque o pedido está além dos poderes das divindades. Mesmo que elas queiram conceder a graça, não conseguem. Nesses casos, a pessoa se lamenta: “Por mais que eu tenha rezado fervorosamente, até agora, meu pedido não foi atendido. Será que os deuses me abandonaram?” Ela passa a duvidar da existência de divindades, chegando a abandonar a fé ou a cair em desespero total, o que a leva a um destino ainda mais infeliz. Vemos muitos exemplos assim. Justamente esse tipo de fé recomenda o jejum, uma centena de orações e peregrinações a um templo ou a abstinência de alimentos que a pessoa mais aprecia ou consome diariamente, o que constitui um grande erro. Por mais que, individualmente, esses sacrifícios sejam realizados com devoção, se eles não se reverterem em um mínimo de benefício em prol da sociedade, todo esforço da pessoa terá sido em vão. Se houver divindades que se contentam com tais práticas, só podem ser de segunda categoria ou inferiores, ou então, espíritos de raposa, tanuki, tengu etc. Por outro lado, se forem divindades corretas, concederão graças como forma de recompensa pelo esforço humano em favor da promoção do bem-estar da humanidade. Aproveito o ensejo para alertar o leitor sobre algo que se diz desde antigamente: “Ter fé até em cabeça de sardinha”. Isso é um erro grave. O objetivo de qualquer fé devem ser as divindades superiores. Isto porque, quanto mais elevadas 18 19 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano estas forem, se as preces a elas dirigidas não tiverem um objetivo correto, tais divindades simplesmente não concederão graças. Além disso, uma vez que o ser humano as reverencia e ora a elas, recebe sua luz purificadora e tem seus pecados e impurezas eliminados gradativamente. Por mais que a fé seja dirigida a uma “cabeça de sardinha” ou a espíritos de baixo nível, o que se recebe desses espíritos não passa de energia negativa, que macula a consciência e acaba transformando facilmente o ser humano em um praticante do mal. As pessoas em geral não têm conhecimento dessas coisas e pensam que todas as divindades são louváveis e atendem aos seus pedidos. Não é para menos, porque desde a antiguidade, ninguém recebe uma formação que lhe permita distinguir se as divindades são superiores ou inferiores, corretas ou incorretas. Ao mesmo tempo, há níveis entre seres como raposa, tanuki, tengu, ryujin etc., que podem ser corretos ou incorretos e possuir diferentes graus de força. Em se tratando dos chefes dessas divindades, há casos em que manifestam surpreendente poder e concedem até mesmo significativas graças; motivo pelo qual seus seguidores continuam lhes devotando ardente fé. No entanto, a maioria dessas manifestações é passageira e, por fim, graças e infortúnios começam a se alternar, sem que a prosperidade eterna seja alcançada. Por meio dessa explicação, apresentei minha honesta opinião a respeito da fé a fim de que não se enganem em seu 9 A Constituição do Japão foi promulgada em 3 de maio de 1947. discernimento e não se iludam diante de graças temporárias. Coletânea Assuntos sobre fé, 5 de setembro de 1948 LIBERDADE NA FÉ o Japão, a liberdade religiosa foi estabelecida após a promulgação da nova constituição9 e, por essa razão, é desnecessário escrever sobre o assunto. Pretendo discorrer sobre a liberdade no âmbito da própria fé. No mundo inteiro, há inúmeras organizações religiosas – grandes, médias e pequenas –, e como é do conhecimento de todos, cada fiel, sem exceção, considera sua religião superior, e as demais, obviamente, inferiores. Por esse motivo, advertem veementementepara não se ter contato com outras religiões. Dizem que elas são falsas, que o castigo que virá do Deus da sua religião é terrível e que não se poderá obter a salvação seguindo a dois senhores. Há religiões que são muito rígidas nesse aspecto. Existem missionários que tentam intimidar seus fiéis dizendo-lhes, por exemplo, que, se mudarem de fé, sofrerão grandes infortúnios, doenças graves, perda da própria vida ou da família inteira etc. Trata- se exatamente de recursos típicos de falsas religiões. 20 21 N Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano Obviamente, tomando-se por base o senso comum, tais afirmações são absurdas, mas as pessoas, ao contrário do esperado, acreditam nelas e não conseguem tomar a decisão de abandoná-las. Isso não se restringe às novas religiões; já que mesmo nas antigas e respeitadas, ocorrem, frequentemente, situações semelhantes, o que é incompreensível. Analisando com atenção, veremos que a polêmica do livre pensamento não se restringe ao campo político ou social, pois parece que os grilhões do feudalismo persistem também no terreno das religiões. A partir desta realidade, gostaria de falar-lhes sobre a liber- dade na religião. Promover vantagens para a entidade religiosa em detrimento dos fiéis, cerceando sua vontade, é um absurdo. Aliás, proferir palavras de intimidação com esse objetivo constitui uma ameaça condenável cometida em nome da fé. Como ilustração, citarei algo que ouvi de uma pessoa: “Há muito tempo sou adepto fervoroso de uma religião, mas estamos sempre doentes sem nos livrar da pobreza. Por esse motivo, fui perdendo a fé e resolvi abandoná-la. Entretanto, o missionário que me atendeu, disse coisas aterrorizantes. Sem saber como agir, venho pedir um conselho ao senhor.” Respondi-lhe que aquela religião, sem sombra de dúvida, não era verdadeira e que o melhor seria deixá-la o quanto antes. No entanto, parece que religiões como essa são numerosas na sociedade. Qual seria a razão dessas palavras de intimidação? Natu- ralmente, pode tratar-se de um recurso extremo para evitar a 22 23 A fé no cotidiano Alicerce do Paraíso diminuição do número de fiéis. Há, ainda, outro motivo. Desde eras remotas, quando uma religião se sobressai, observa-se a tendência para o aparecimento de imitações. Eventualmente, isso ocorre até mesmo com a nossa Igreja. Então, eu explico que a situação é semelhante à dos cosméticos: quando são bem aceitos, surgem falsificações. Ora, se isto ocorre, é uma prova de ter sido bem recebida pelas pessoas e, achando graça, digo que não há qualquer problema. Parece que fato semelhante tem se passado no cristianis- mo, mas de forma diferente. Trata-se da advertência sobre a vinda do anticristo, do falso salvador10, algo que pode ser tanto positivo como negativo. Isso porque, mesmo que surja o verdadeiro Salvador, poderá ser tomado como falso, e as pessoas deixarão de ser salvas. O mais problemático é o grande número de pessoas que pro- fessam a fé de forma intensa, convencidas de que sua religião é superior às demais. Uma vez que de fato acreditam nisso, apenas elas próprias se contentam com sua salvação espiritual, mas essa salvação não é verdadeira. Isso porque, se elas não se salvarem também materialmente e não se tornarem pessoas que levam, material e espiritualmente, uma vida paradisíaca, não obterão a verdadeira felicidade. No entanto, percebe-se que são muitos os indivíduos que professam uma fé cega e desconhecem essa realidade. Por 10 A este respeito, é possível verificar em Mateus 24:4,5 o trecho: “E ele lhes respondeu: vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo! e enganarão a muitos.” E ainda em Mateus 24:23,24: conseguinte, mesmo sendo ativos na fé, a maioria deles não consegue libertar-se da infelicidade. A propósito, quero fazer mais uma advertência. O motivo pelo qual uma religião proíbe seus fiéis de terem contato com outras talvez se deva ao receio de que eles encontrem uma religião superior à sua e isso significa que existem fragilidades nessa religião; logo, é necessário muita cautela. Sinto-me constrangido por parecer autoelogio mas, nesse ponto, a religião messiânica é, de fato, livre. Como nossos fiéis bem sabem, digo sempre que tenham bastante contato com quaisquer outras religiões. Naturalmente, é bom pesquisá-las, pois suas experiências se ampliarão proporcionalmente. Nessas circunstâncias, se encontrarem algo superior à religião messiânica, não há problemas em mudar de religião a qualquer momento, e isso jamais constituirá um pecado. Para o verdadeiro Deus, basta que a pessoa se salve e se torne feliz. Jornal Eiko nº 177, 8 de outubro de 1952 “Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.” (Bíblia de Estudo Almeida) Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano A RESPEITO DA INCORPORAÇÃO ESPIRITUAL mbora eu venha alertando constantemente sobre os perigos da incorporação espiritual, ainda há pessoas que continuam a praticá-la. É preciso que parem de uma vez por todas. Vou explicar detalhadamente porque é algo inadequado. De oitenta a noventa por cento dos casos, as incorporações são de espíritos de raposa11, sendo que noventa e nove por cento desses espíritos são malignos. Por esse motivo, é do seu instinto enganar as pessoas, não se importar em levá-las à prática do mal e, mais do que isso, divertir-se com a situação. Assim sendo, dentre os espíritos malignos, os mais “qualificados” passam a se anunciar como divindades, Nyorai, Bossatsu, Dragão 12 etc. Ao incorporarem em alguém, ao mesmo tempo que fazem com que a própria pessoa pense que é uma divindade, empenham-se para que outras também acreditem. Por fim, a pessoa incorporada acaba se convencendo completamente. Passa a querer ser idolatrada como um deus vivo e respeitada por muitas pessoas, sendo comum entregar-se a uma vida de luxos. Eis a verdadeira natureza do espírito de raposa. Entre os espíritos de raposa, os mais experientes possuem considerável poder sobrenatural. Ao incorporar em uma 11 Espírito de raposa: as raposas, em japonês kitsune, são seres presentes na mitologia japonesa. As histórias as descrevem como seres inteligentes e com capacidades mágicas que aumentam com a idade e sabedoria. Entre estes poderes mágicos, a habilidade de assumir a forma humana — normalmente na forma de uma mulher. pessoa, eles conseguem saber tudo o que esta pensa e, assim, passam a elaborar artimanhas de acordo com sua intenção. Por exemplo, se a pessoa tiver o pensamento de ser venerada tal qual uma divindade, esses espíritos incorporam nela e, sorrateiramente, começam a trabalhar nesse sentido. Como se sabe, a pessoa incorporada passa a proclamar que é a reencarnação de alguma magnífica divindade, sendo que o caso mais frequente é denominar-se Amaterassu-Oomikami. Ao mesmo tempo, os referidos espíritos procuram estabelecer uma afinidade com a pessoa visada de maneira extremamente astuta, até mesmo manifestando alguns milagres. É assim que homens e mulheres de bem acabam caindo em ciladas. Isso tem ocorrido com frequência, na sociedade. Todos os “deuses da moda” que têm surgido em vários lugares são desse tipo. Evidentemente, trata-se de espíritos de raposa bastante hábeis que acabam enganando pessoas ingênuas. Há, ainda, casos de pessoas que querem enriquecer a todo custo, e quando o espírito de raposa incorpora, já conhecendo tal desejo, ativa a inteligência ardilosa delas, fazendo-as ganhar muito dinheiro. Uma vez que esse espírito não escolhe os meios, na maioria das vezes, as induz a cometer delitos. Por essa razão, apesar de obterem sucesso 12 Nyorai, Bossatsu, Dragão: são qualificaçõesatribuídas às divindades, por exemplo: Komyo-Nyorai, Kanzeon-Bossatsu, Dragão Dourado. E 24 25 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano temporário, acabam fracassando, havendo aquelas que vão até parar na prisão. No caso daqueles que querem seduzir mulheres, o espírito de raposa emprega métodos muito bem elaborados e faz com que eles se aproximem da mulher desejada e despertem-lhe o interesse, por meio de atitudes e palavras sedutoras. Há casos em que podem até mesmo ser violentos, o que é perigoso. Por serem espíritos de animal, não têm noção de bem e mal. Para eles, basta manipular o ser humano livremente, a seu bel-prazer, como um bobo. Nesses termos, o espírito de raposa se coloca em um nível acima do indivíduo. Trata-se de uma completa lástima para o ser humano, tido como o senhor de todas as criaturas. Uma vez constatada essa realidade, creio que ele não possa se orgulhar nem um pouco dessa condição. Além dos espíritos de raposa, os de texugo, de dragão, de tengu maligno, entre outros, podem incorporar e enganar o ser humano. O espírito de dragão maligno é o mais temível. Por natureza, ele possui um poder extraordinário e muita inteligência. Portanto, para ele é fácil manipular livremente o homem e, conforme o caso, não se importa em ferir pessoas ou tirar-lhes a vida. Conforme me referi anteriormente, por ocasião do incidente ocorrido no ano passado 13 , houve a atuação de muitos espíritos de dragão maligno que agiram com extrema crueldade, a sangue frio. Diferentemente dos espíritos de raposas, os dragões, que são dotados de capacidade intelectiva, e uma vez que sua inteligência 13 Segundo o livro Luz do Oriente, vol. 2, em 29 de maio de 1950, Meishu-Sama foi detido sob a suspeita de um caso de suborno envolvendo a Igreja Messiânica maligna atua, conseguem manipular livremente o pensamento humano. Esta é a causa da maioria dos crimes hediondos, cometidos friamente em nome desta ou daquela ideologia, e também dos males causados à sociedade. Comparados aos espíritos de dragão, os espíritos do te- xugo e os do tengu são até insignificantes. No entanto, entre a maioria dos tengus, uns possuem força espiritual e outros, erudição. Pessoas com essas qualificações são manejadas livremente pelos tengus mais ambiciosos, que se empenham em fazer com que elas se tornem famosas, prosperem e levem uma vida de ostentação. Assim sendo, casos de incorporação de tengu são, desde a antiguidade, bastante comuns entre os monges zen-budistas, estudiosos e fundadores de religião, mas são poucos aqueles cujo sucesso se prolongue por muito tempo. Até aqui abordei vários aspectos concernentes à incorpo- ração, mas é importante que os leitores estejam cientes que, mesmo as divindades malignas não praticam o mal por força própria. Por trás delas, há um chefe que as controla. Este, sim, é o mais temível. Perante sua força, a maior parte das divindades fica praticamente sem ação. Ostensiva ou ocultamente, esse chefe das divindades malignas obstrui continuamente as atividades da nossa Igreja. Principalmente, por representarmos uma grande ameaça para tais divindades, quem está à frente dessa batalha contra nós é o próprio chefe dos chefes. Esta é, de fato, a grande luta entre o bem e o mal. Há um fator muito importante ao qual devemos ficar aten- Mundial. Foi libertado em 19 de junho do mesmo ano, após ter sido duramente interrogado pelas autoridades. 26 27 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano tos. Trata-se do descuido no qual incorrem os fiéis da nossa Igreja: eles ficam tranquilos, julgando que são amplamente protegidos e que as divindades malignas não conseguem influenciá-los tão facilmente. Essa forma de pensar abre uma brecha e permite que sejam possuídos pelas mesmas. E o que é pior: caso haja, entre esses fiéis, pessoas de fé shojo, quanto mais fervorosas elas forem, mais facilmente serão influenciadas. É por essa razão que estou sempre advertindo para esse tipo de fé. Enfim, quando a divindade maligna atua, ela apresenta argumentos lógicos totalmente de acordo com o bem shojo, enganando com muita astúcia. Desta forma, a maioria das pessoas não mede esforços, acreditando plenamente que se trata de um bem. No entanto, já que a premissa está errada, quanto mais elas trabalham, piores se mostram os resultados. Então, elas se precipitam cada vez mais. Chegando a esse ponto, sem dar ouvidos aos conselhos recebidos, vão-se afundando cada vez mais. Existem pessoas que, diante desse beco sem saída, acabam fracassando. Não haveria problema se elas despertassem logo, mas quando isso não ocorre, ficam completamente desorientadas e perdem até mesmo a proteção divina. Creio que assim podem entender como é temerária a prática do bem de shojo. Eis o porquê da minha habitual afirmação: “O bem de shojo é o mal de daijo.” O que melhor revela uma pessoa de bem de shojo é o fato de ela sempre adotar atitudes excêntricas. Isso é o que os espíritos malignos esperam que ocorra. Por essa razão, seja no que for, jamais incorreremos em erro quando agimos de acordo com o bom senso. O que as divindades malignas temem é o bom senso e, consequentemente, eu sempre aconselho as pessoas a respeitá-lo. O número de exemplos na sociedade para ilustrar o que digo é muito grande. Enquadram-se nesse grupo, crenças, teorias e ideologias excêntricas, além de religiões mediúnicas. Com frequência, são veiculadas notícias de problemas e transtornos causados à sociedade por parte desses segmentos. Do ponto de vista espiritual, podemos compreender cla- ramente a razão de tais ocorrências. Os espíritos de raposa, texugo etc., evidentemente são de animais e estes se encontram abaixo do nível humano. Por conseguinte, se um indivíduo dirige orações a espíritos de animais que vivem na terra, significa que sua posição está abaixo da terra. Essa situação corresponde, em termos espirituais, ao fato de o ser humano ter decaído ao mundo espiritual animal. Uma vez que todas as coisas do Mundo Espiritual se projetam no Mundo Material, essa pessoa caiu ao Inferno. O mesmo ocorre com a incorporação espiritual. Como a pessoa se torna um “depositário” de animais, naturalmente desce ao mundo espiritual dos animais e acaba vivendo em circunstâncias infelizes. Mesmo em se tratando de espíritos de raposa, nem todos são malignos: alguns são benignos e denominados espíritos de raposa branca. Após se regenerarem, esses espíritos trabalham como mensageiros da divindade que protege o local onde a pessoa nasceu, e são muito prestativos. Espiritualmente, as raposas possuem peculiaridades diversas e, semelhantemente às que trabalham para o mal, as que 28 29 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano H pertencem ao bem, possuem força considerável e realizam bons trabalhos. Contudo, há exceções no caso de possessão por divinda- des14. Quando o antepassado ou o espírito protetor guardião desejam comunicar algo importante, atuam na pessoa temporariamente, dizendo apenas o estritamente necessário, limitando o tempo e as palavras sem estender-se. Aproveitando a oportunidade, vou ensinar a maneira de distinguir se a divindade é benigna ou maligna. As palavras corretas ligadas às divindades jamais são prolixas. É dito somente o essencial de forma simples e clara. No entanto, em se tratando de espírito maligno, fatalmente se expressam mais do que o necessário e ininterruptamente. Neste caso, não haverá dúvida que se trata de espírito de raposa. Às vezes, poderá ocorrer o seguinte. O espírito protetor guardião, desejando comunicar-se verbalmente com a pessoa, atua por meio do espírito da raposa por saber que este tem facilidade de incorporar e falar a linguagem humana. Em tais casos, o espírito de raposa poderá se expor além da conta, revelando sua verdadeira natureza. Por esse motivo, devem acautelar-seao máximo. Jornal Eiko nº 133, 5 de dezembro de 1951 A BEBIDA E A RELIGIÃO á uma estreita relação entre o consumo de bebidas alcoólicas e a religião, mas parece que poucos têm conhecimento disso. Passarei a tecer considerações sobre o assunto. 14 Vide Ensinamento “Possessão por divindades” – Alicerce do Paraíso, vol. 2. A bebida, quando consumida em quantidade normal, dispensa comentários. Contudo, o vício em bebida tem uma causa espiritual. Em outras palavras, dentro do ventre do bêbado alojam-se espíritos que apreciam a bebida como o de tengu, texugo e, mais raramente, de dragão. Eles absorvem a energia da bebida cuja quantidade se reduz a uma fração da que foi ingerida. É por essa razão que se diz que ninguém consegue beber um garrafão de água, mas de saquê, sim. É como se houvesse esponjas que absorvem o álcool na barriga do bêbado. Quando um indivíduo embriagado se põe a discutir ou argumentar, tornando-se arrogante, o espírito dominador é o de tengu. Quando fica bem-humorado e alegre, dando gargalhadas e, logo a seguir, mostra-se sonolento, é por influência do espírito de texugo. O espírito de dragão, por sua vez, costuma fazer com que a pessoa fique de olhar parado e se torne obstinadamente insistente e provocador. De maneira geral, o estado de embriaguez resume-se a esses três tipos. Basta observar a fisionomia dos bêbados. É possível notar que estes apresentam feições ou rosto de um texugo. Tratando-se do espírito de dragão, sua aparência é tal qual esse animal aparece em desenhos e esculturas: magros com testa angulada e ossos da face salientes, além de olhos fundos e brilhantes. Há, ainda, os bêbados violentos que, em estado de em- briaguez, perdem totalmente a lucidez e passam a agir com brutalidade. Geralmente, são encostos de espíritos de pessoas falecidas que, em outra vida, tiveram suas células cerebrais 30 31 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano danificadas pelo excesso de bebida e, por estarem, ao mesmo tempo, possuídas por espíritos de animais, tornam-se violentas e causam problemas aos que estão à sua volta. Assim, o vício em bebida precisa ser inteiramente corri- gido pois, como todos sabem, além de o bêbado prejudicar a si mesmo, causa desarmonia no lar, transtorno à sociedade e constante sofrimento aos familiares. Por fim, o indivíduo acaba tendo um destino infeliz. Por mais que busque corrigir a si próprio, seus esforços são infrutíferos. Isso porque, conforme dito anteriormente, a causa está no “hóspede” invisível que habita seu ventre. Assim sendo, torna-se evidente que, para corrigir o vício da bebida, é preciso recorrer ao método espiritual. Ou seja, somente por meio da religião esse objetivo será alcançado. Entretanto, parece que são raras as religiões que têm esse poder. Apenas uma ou outra o consegue, empregando a abstinência por meio do autocontrole, o que não é bom, pois acarreta sofrimentos. Pode até parecer um autoelogio, mas nossa instituição não recomenda, em absoluto, nem a abstinência nem a redução da bebida. Simplesmente afirmamos que, se a pessoa quiser beber, pode fazê-lo à vontade. A princípio, os que têm esse vício ficam contentes. Com o passar do tempo, dizem que o sabor da bebida foi-se tornando desagradável, e eles se embriagavam mesmo com doses pequenas. No final, não conseguem beber mais do que a quantidade considerada normal. Em nossa Igreja, existem muitas pessoas que passaram por experiências semelhantes. O motivo é que, ao receber continuamente a Luz de Deus, o espírito que se encontra alojado no ventre da pessoa se enfraquece e, proporcionalmente, a quantidade de bebida consumida diminui. Assim, seja qual for a religião, se ela possuir o poder da Luz Divina, conseguirá eliminar os beberrões do seu quadro de fiéis. Coletânea Assuntos sobre fé, 5 de setembro de 1948 TIPOS DE FÉ esmo em se tratando de fé, existem vários tipos. Em linhas gerais, temos: 1º - Fé que visa à graça; 2º - Fé exibicionista; 3º - Fé pró-forma; 4º - Fé interesseira; 5º - Fé mediúnica; 6º - Fé egoísta; 7º - Fé ostensiva; 8º - Fé ocasional; 9º - Fé volúvel; 10º - Fé inconstante; 11º - Fé aproveitadora; 12º - Fé falsa. Analisemos cada uma delas. 1º - Fé que visa à graça Para os seus praticantes basta receber graças: ser útil a Deus ou à sociedade fica em segundo plano. É uma espécie de fé egoísta que visa somente ao próprio bem e muito comum entre pessoas acima da classe média. Sabem aproveitar-se da fé religiosa, mas não sabem agradecer e retribuir as graças que recebem de Deus. Aproveitar-se da fé religiosa significa colocar o ser humano acima de Deus. Visto que é adorando e servindo a Deus que se recebem 32 33 M Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano bênçãos, a fé que visa à graça, ao contrário, faz com que aquelas desapareçam e, por isso, não é duradoura. 2 º - Fé exibicionista Esta fé é seguida por pessoas que se mostram indiferentes à sua religião enquanto esta é desconhecida na sociedade. No momento em que ela se torna famosa e alvo de comentários, aqueles que têm esse tipo de fé, repentinamente, se lembram de Deus e se aproximam, querendo aparecer de alguma maneira. 3º - Fé pró-forma Observando seus praticantes, estes se mostram agradecidos e aparentam ser fervorosos mas, na realidade, são destituídos de pensamento amplo, como o de salvação da humanidade – objetivo maior de Deus. Por ser uma fé extremamente shojo, eles não têm nenhuma atuação. Por essa razão, trata-se de uma fé de pura formalidade. 4º - Fé interesseira Esta fé é professada por pessoas bastante astutas que pro- curam obter vantagens financeiras ou que acalentam alguma ambição, aproveitando-se da religião. Quando constatam a impossibilidade de tirar tais proveitos, elas abandonam rapidamente a crença. 5 º - Fé na possessão por divindades É o tipo de fé professada pelas pessoas que apreciam os fenômenos de possessão por divindades e, aprovando sua prática, querem conhecer a respeito do Mundo Espiritual. Esse desejo não é de todo condenável, mas não é o rumo ideal, embora seja o trabalho de associações que desenvolvem pesquisas espirituais. Além de aquelas pessoas acreditarem facilmente nas pro- fecias dos espíritos de nível inferior, demonstram gratidão por suas absurdas e descabidas predições. É, antes de mais nada, um tipo de fé que se desvia do caminho. 6º - Fé egoísta Trata-se da fé que visa unicamente satisfazer à ganância. É seguida pelas criaturas extremamente egoístas, que fazem romarias e oferendas, inclusive monetárias, em favor de divindades, com a única finalidade de obter graças apenas para si. São pessoas totalmente indiferentes aos infortúnios que assolam seus semelhantes. É o tipo de fé mais difundido na sociedade. 7º - Fé ostensiva É a fé manifestada por aqueles que gostam de se mostrar importantes, de se beneficiar, de ser benquistos, reconhecidos, elogiados etc. Trata-se de uma fé superficial, deplorável, que não consegue se desvincular do egoísmo. Também pode ser classificada como uma fé de baixo nível. 8º - Fé ocasional É a fé das pessoas que comparecem à Igreja quando ninguém se lembra mais delas. Pela sua longa ausência, dão- nos a impressão de terem abandonado a fé. Todavia, semelhantes a fantasmas, repentinamente, elas aparecem na Igreja meio atordoadas. É preferível que tais pessoas deixem de seguir a fé. 34 35 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano 9 º - Fé volúvel Seus praticantes não conseguem seguir uma única fé. São como as plantas aquáticas, que brotam a cada dia em uma margem diferente, isto é, jamais alcançam verdadeiramente as graças. Se não professarem alguma fé, sentem-se desolados e perdidos. Ao ouvirem falar sobre alguma crença, querem aderir a ela de imediato. São pessoas realmente infelizes. 10 º - Fé inconstante É a fé expressa daspessoas inconstantes e, tal qual as de fé volúvel, vivem mudando de crença e não conseguem permanecer e devotar-se a uma só fé religiosa. Isto significa que são andarilhas da religião. Em sua maioria, os que manifestam este tipo de fé são os intelectuais. 11º - Fé aproveitadora15 Os adeptos querem tirar proveito das divindades e da fé para satisfazerem a própria ambição. Assemelha-se à fé egoísta e é muito comum nas instituições religiosas. Entre as pessoas importantes, como líderes e intelectuais, é grande o número daqueles que professam esse tipo de fé. 12º - Fé falsa 15 A expressão utilizada por Meishu-Sama foi katsuobushi shinjin. Katsuobushi é a carne seca de atum, que é aproveitada para conferir sabor a vários pratos da culinária japonesa. Presume-se que Meishu-Sama tenha lançado mão dessa imagem para ilustrar o tipo de fé de pessoas que tiram proveito das divindades para satisfazer seus desejos. 16 Pecados e impurezas: Tsumikegare em japonês. O termo tsumikegare pode ser dividido em duas palavras: tsumi, que, no âmbito legal, se refere aos crimes, delitos Nesta espécie de fé, os adeptos mostram-se fervorosos; mas, no fundo, não reconhecem, em absoluto, a existência de Deus. Os que possuem esse tipo de fé são muito eloquentes e, no início, conseguem enganar facilmente as pessoas. Todavia, como Deus não permite isso por muito tempo, chega o momento em que são desmascarados e acabam fugindo. Diremos que a fé religiosa é verdadeira quando não cor- responde a nenhum dos tipos que foram citados. Coletânea Série Jikan, vol. 12, 30 de janeiro de 1950 OS PECADOS E AS IMPUREZAS16 E SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA relação entre o pecado e a doença já veio sendo bastante divulgada no âmbito religioso. Essa relação é real, mas vou abordar o assunto sob o ponto de vista da Medicina Espiritualista. e infrações e, no aspecto religioso, significa “pecado” e descreve qualquer desobediência à Vontade de Deus, em especial, qualquer desconsideração deliberada das Leis Divinas. Já a palavra kegare significa “impureza” e é utilizada particularmente no xintoísmo como termo religioso. São causas típicas de kegare o contato com qualquer forma de morte, parto, doença, menstruação, cuja condição pode ser remediada por meio de rituais de purificação. 36 37 A Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano Conforme me referi anteriormente, à medida que a pessoa acumula maus pensamentos e más ações, suas nuvens espirituais vão aumentando. Quando estas atingem certo grau de densidade, tem início um processo natural de purificação a fim de eliminá-las. Sendo essa regra uma lei inviolável do Mundo Espiritual, evidentemente ninguém consegue escapar dela. Essa purificação, na maioria das vezes, manifesta-se em forma de doença, mas há casos em que ela ocorre de outras maneiras, como as diversas calamidades e desastres naturais. O acúmulo de sangue tóxico e pus são as manifestações físicas dessas nuvens espirituais. Entretanto, o que se origina dos pecados e impurezas, não oriundos da parte material, ou seja, as enfermidades de origem espiritual são difíceis de curar e exigem muito tempo. Doenças como a tuberculose, a osteomielite, o câncer etc., que apresentam sintomas persistentes, na maioria contam-se entre esses casos. Há dois meios para se redimir o pecado: passar por sofrimentos ou praticar o bem. Escolher o último parece ser o modo mais fácil. Como exemplo, vou contar um fato ocorrido na época em que eu estava pesquisando a Igreja Tenrikyo. Um rapaz que sofria de tuberculose pulmonar e fora desenganado, ingressou na referida religião. Pensando na prática de uma boa ação, decidiu fazer a limpeza do escarro expectorado por outras pessoas pelas ruas da cidade. Decorridos três anos, durante os quais fez isso todos os dias, 17 Chogoro Yamamoto (1820–1893): foi um bem-sucedido comerciante de arroz. Após a Restauração Meiji, torna-se empresário na área de transporte marítimo. o rapaz estava completamente curado; a doença tinha desaparecido sem deixar o menor vestígio. A história que se segue é muito conhecida. O Sr. Chogoro Yamamoto17, mais conhecido pela alcunha de Shimizu-no-Jirocho, encontrou-se, certo dia, com um ilustre monge budista que lhe disse: “Sua face está marcada pelo estigma da morte. Será difícil o senhor viver mais de um ano.” Jirocho, preparando-se para morrer, doou todos os seus bens a obras filantrópicas e passou a viver em um templo budista, aguardando a chegada da morte. Passou-se um ano, dois anos, mas nada de extraordinário lhe sucedera, o que o deixou muito zangado. Coincidentemente, surgiu a oportunidade de encontrar-se com aquele monge e Jirocho pensou em repreendê-lo severamente. Entretanto, quando se encontraram, foi o religioso quem falou primeiro, revertendo a situação: “Que coisa estranha... O estigma da morte que havia em sua face quando eu o encontrei naquele dia, desapareceu completamente. Deve haver alguma razão profunda para isso, não?” Jirocho, surpreso, contou o que fizera, ao que o monge disse: “O ato de caridade que o senhor praticou transformou sua morte em vida.” Ampliando essa lógica, o sofrimento de praticamente todo o povo japonês devido à derrota na guerra nada mais é que o processo de purificação dos pecados decorrentes do 38 39 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano longo período em que o Japão invadia outros países e explorava ou dizimava outras etnias. Evangelho do Paraíso, 5 de fevereiro de 1947 JOHREI POR MEIO DAS LETRAS endo o título acima, talvez os leitores nem façam ideia do que se trata. Entretanto, com o que escreverei a seguir, creio que poderão compreender perfeitamente o que pretendo dizer: ler o que eu escrevo é receber Johrei pelos olhos. A razão está no fato de que todo texto reflete fielmente o pensamento [sonen18] da pessoa que o escreveu. É preciso que tenham pleno conhecimento disso. Em termos espirituais, significa que, por meio das letras, o espírito do escritor se transmite ao espírito do leitor. Da mesma forma, uma vez que os textos que escrevo são a própria Vontade Divina, o espírito de quem os lê se purifica. Dessa maneira, a leitura poderá influenciar a alma do leitor positiva ou negativamente. Portanto, evidencia-se quão grande é a influência que a personalidade do escritor exerce sobre as pessoas. Quer se trate de um romance ou de um artigo de jornal, gostaria de pedir aos escritores e também aos 18 Sonen: palavra japonesa comumente traduzida como “pensamento”, a qual não se limita ao ato de pensar racionalmente. Seu significado abrange o sentimento, a vontade e a razão. jornalistas que pensem seriamente no assunto. Ao mesmo tempo, isso não significa que sermões sejam recomendáveis. Evidentemente, se a reportagem ou a obra não forem realmente interessantes, elas não serão lidas com prazer e não cumprirão seu papel, pois, afinal de contas, o mais importante é que a obra tenha o encanto que cativa os leitores. Quando eu analiso a literatura atual, percebo que a maioria dos autores têm como objetivo principal a venda e parece que só querem despertar o interesse geral, ganhar fama, comercializar mais livros e, finalmente, ter a obra adaptada para o cinema. Dessa maneira, os textos não passam de um amontoado de palavras e, terminada a leitura, sentimos que deles nada se aproveita. Esses escritores não são autênticos romancistas, mas meros fabricantes de romances e novelas que podem ser comparados às pessoas vazias de conteúdo. Mesmo que se tornem famosos temporariamente, todos sabem que chegará o dia em que cairão no esquecimento. Observando a sociedade atual, ficamos surpresos ao constatar que esta apresenta inúmeras falhas. Se os escritores quiserem tomá-las por tema, não faltará assunto. Gosto muito de cinema, do qual sou frequentador assíduo. Às vezes, L 40 41Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano quando vejo filmes que apontam as falhas da sociedade, fico entusiasmado e, como se tivesse encontrado velhos companheiros de causa, sinto vontade de reverenciar seus roteiristas e produtores. Obras desse tipo sempre se tornam famosas e nunca deixam de ser reconhecidas pelo público, dando lucro tanto às livrarias quanto às empresas cinematográficas. Escrevi o texto acima, conforme meu pensamento foi fluindo. Jornal Eiko nº 184, 26 de novembro de 1952 LEIAM O MAIS POSSÍVEL OS ESCRITOS DIVINOS19 omo todos sabem, até agora viemos nos valendo do Johrei e das publicações para divulgar nossa religião. Daqui em diante, vamos difundi-la também em diversas localidades por meio de simpósios, palestras etc., ou seja, por meio da audição. Até agora, tínhamos a difusão por meio da cura de doenças e da visão. Daqui em diante, acrescentaremos a difusão por meio da audição. Esperamos 19 Meishu-Sama referia-se aos seus Ensinamentos com a palavra goshinsho ou shinsho, que pode ser traduzida como “Escritos Divinos”. obter resultados significativos com esse método “três em um.” Naturalmente, a difusão por meio da audição significa que explicaremos tudo sobre nossa religião por meio da palavra, demonstrando que se trata de uma religião extraordinária. Entretanto, para conduzirmos as pessoas a tal compreensão, é necessário que nós mesmos tenhamos vasto conhecimento sobre a fé. Afinal de contas, precisamos despertar-lhes o sentimento de desejar ingressar na fé messiânica por sentir que é realmente boa e maravilhosa. Muitos dizem que não sabem falar bem e que são péssimos oradores. Todavia, esse é um pensamento equivocado, pois não é com belas palavras que conseguimos tocar o coração do próximo. Como sempre digo, o que move as pessoas é o nosso makoto20. É com ele que tocamos a alma do ouvinte, ou seja, nós a despertamos e a movemos. É só isso. Logo, falar bem ou não é uma questão de segunda ordem. Mesmo para sensibilizar as pessoas com nosso fervor e makoto, precisamos ter entendimento suficiente para tal. 20 Makoto: palavra japonesa que possui significado amplo, podendo ser compreendida como: sentimento sincero e verdadeiro, comprometimento, devoção, amor, fé, lealdade, dedicação, fidelidade, cordialidade, verdade, coerência, lisura, constância etc. C 42 43 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano Assim sendo, faz-se necessário aprimorar o próprio conhecimento e, acima de tudo, ler os Escritos Divinos. Haverá muitas oportunidades em que as pessoas nos fa- rão perguntas e, obviamente, elas não ficarão satisfeitas se as respostas não forem convincentes. Por conseguinte, por mais difíceis que sejam essas perguntas, precisamos dar-lhes respostas convincentes. Devemos nos acautelar o máximo, pois há pessoas que, sob pressão, respondem com mentiras. Às vezes, diante de perguntas difíceis, há quem se esquive por meio de respostas evasivas, mas isso não deve ocorrer de maneira nenhuma. Aos seguidores de Deus mentir é imperdoável. Caso não souberem responder, deverão dizê-lo francamente. No entanto, pelo receio de que, agindo assim, serão desprezados, costumam fingir que sabem. Procedendo dessa forma, o efeito será sempre o oposto. Por outro lado, quando se admite desconhecimento, a confiança se estabelece graças à sinceridade do outro. Por mais inteligente que alguém seja, ninguém sabe tudo. Portanto, desconhecer algo não é nenhuma vergonha. Às vezes, as pessoas me fazem perguntas sobre assuntos que já estão publicados nos Escritos Divinos. Isso se verifica porque elas estão faltando com sua leitura no cotidiano. Portanto, os Escritos Divinos devem ser lidos tanto quanto possível. Quanto mais os fiéis o lerem, mais aprofundarão sua fé e mais polida se tornará sua alma. Aqueles que negligenciam sua leitura, vão perdendo a força gradativamente. À medida que a fé se aprofunda, mais a pessoa terá vontade de ler. É bom que o faça repetidas vezes, 21 Fisiognomia das casas: em japonês kaso, é um método de prever o futuro do morador pela posição dos cômodos de sua residência ou do terreno. até que os escritos se tornem parte do seu ser. Evidentemente, quanto mais leitura realizar, mais nítida será a compreensão da Vontade Divina. Gostaria de aproveitar a oportunidade para acrescentar outro ponto. Muitas vezes, no caso do Johrei, há ministrantes que, embora não saibam a causa da doença, fazem ares de quem a conhece, o que é o mais repreensível. Tais pessoas, em especial, tendem a usar o subterfúgio de dizer que algo é espiritual quando não ocorre a cura esperada. Na verdade, é difícil determinar se a causa de uma doença é material ou espiritual. Originariamente, o homem é uma unidade espírito-matéria; logo, não há tal distinção no caso do Johrei. Isto porque, se o espírito se cura, o mesmo ocorre com a matéria, e vice-versa. Por outro lado, quando o praticante de Johrei vê que há recuperação rápida através deste, acha que se trata de uma purificação comum; se ocorre o contrário, pensa que a causa é espiritual, mas isso é um grande erro. Tal postura assemelha-se à do médico que atribui características de tuberculose a uma doença de difícil cura. Jornal Eiko nº 80, 29 de novembro de 1950 FISIOGNOMIA DAS CASAS E SUA POSIÇÃO EM RELAÇÃO AOS PONTOS CARDEAIS uitos me perguntam sobre a fisiognomia das casas21. Por essa razão, resolvi escrever resumidamente sobre o assunto. 44 45 M Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano Assim como existe fisiognomia dos seres humanos, existe a das casas. A fisiognomia boa ou má do homem se relaciona intimamente com a sua boa ou má sorte. O mesmo ocorre com a casa. A orientação que vou apresentar é muito diferente daquela utilizada, por exemplo, pelos adivinhos. Quero deixar bem claro que o que estou expondo aqui, se baseia exclusivamente no resultado de minhas experiências e percepções espirituais. Tal como os fisiognomistas em geral, dou importância ao Nordeste; só que minha interpretação é diferente. O ponto cardeal Nordeste [kimon22], que se diz ser agourento, está situado entre o Norte e o Leste. É uma direção muito importante, pois dela vem uma energia espiritual puríssima. Daí a razão de os antigos dizerem que não se deve macular o Nordeste. Se construirmos nessa direção, por exemplo, o banheiro, a sala de banho, a cozinha, a porta, a energia espiritual impura proveniente dessas partes da casa contamina a que vem do Nordeste e, como consequência, facilita a atuação de espíritos malignos, que são os causadores de doenças e desgraças. Em decorrência disso, devemos procurar manter a energia espiritual que vem daquela direção, a mais pura possível. Nesse sentido, o ideal é construir, se possível, um pequeno jardim na direção nordeste plantando um pinheiro macho e outro fêmea. 22 Kimon: direção nordeste. Pode ser traduzido literalmente como “portal do demônio”. Uma corrente diz que a origem do termo vem da China, onde havia Em seguida, vou referir-me ao Sudoeste [urakimon23], que se opõe ao Nordeste, e como o nome indica fica entre o Sul e o Oeste. Dizem que do Sudoeste provém uma energia que traz muita riqueza material, portanto, no que diz respeito à obtenção de riquezas, é muito importante. Para isso, é bom dispor de água e pedra; por exemplo, um lago, ainda que pequeno, ornamentado com pedras. Quanto ao portão da casa, convém que este fique direciona- do para o Sudeste, isto é, entre o Sul e o Leste. Será excelente se o caminho do portão até a entrada tiver uma elevação gradativa. No que concerne à localização, não é bom que a casa esteja no meio de uma ladeira ou no sopé da mesma, ou ainda, num nível abaixo da rua. Não é interessante morar por muito tempo em casas que têm essa localização. Quando afirmamos que é bom que a casa fique em lugares altos, referimo-nosà situação da construção em relação aos arredores sem que haja a necessidade de nos preocuparmos com as montanhas altas ou baixas que se localizam longe da moradia. A entrada da casa deve estar em posição tal que, transpondo o portão, não tenhamos de recuar para alcançá- la. Convém que a mesma fique localizada à direita ou à esquerda do portão e também que, do lado oposto da entrada, não haja nenhuma saída; caso contrário, significa que a sorte vem, mas não permanece. Também é muito bom que o uma montanha habitada por um demônio e, na sua direção nordeste, havia um portal. 23 Urakimon: direção sudoeste, igualmente considerada agourenta. 46 47 Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano aposento do chefe da casa esteja dois ou três degraus acima dos demais compartimentos. Para determinarmos a fisiognomia da casa com base nos pontos cardeais, a bússola deve ser posicionada no local certo. A maioria dos fisiognomistas toma como ponto de referência o centro da casa e marca as direções a partir daí, o que é um grande erro. O ser humano não foi criado para a casa; esta é que foi criada para o ser humano. Ele é o principal, e ela, secundária: sua construção ou destruição dependem da vontade do dono. Por conseguinte, como o chefe da casa é o centro, o local em que ele dorme deve ser considerado o centro a partir do qual devem ser estabelecidas as direções. No que se refere ao formato, devem ser evitadas as que possuem reentrâncias, mas é bom que haja algumas proeminências. Do mesmo modo, é muito boa a casa que, da entrada, estenda-se para ambos os lados, como uma ave abrindo as asas. Com relação ao número de tatami24, é apropriado para o quarto do chefe da casa, o cômodo com dez tatami, que é denominado “aposento da união do fogo e da água”. É igualmente adequado o aposento com oito tatami, que é denominado aposento do fogo, porque este ocupa posição superior. Os de seis tatami se chamam aposentos da água, sendo adequados à esposa. Para a quantidade de tatami, os números pares são bons, sendo que quatro e meio, sete, nove 24 Tatami: esteira de 1,80 x 0,90m feita de pé de arroz, que cobre o chão, como fazem os assoalhos. 25 Tokonoma: nas casas japonesas, é considerado o local nobre de um cômodo, com uma reentrância que fica ligeiramente mais elevada que o assoalho e que geralmente toma toda uma parede. No tokonoma, penduram-se quadros ou panôs etc. não são recomendáveis. Nesses casos, deve-se completá- los com um piso de madeira para que se tornem pares. De acordo com a regra geral, o tokonoma25 deve ficar à direita, e as duas prateleiras estilo tigaidana26 à esquerda de quem se posiciona de frente para o fundo da sala. Entretanto, dependendo da entrada, não tem importância que seja o inverso. Se não houver tokonoma, a melhor posição na sala será o local mais distante da entrada. Não é bom que ele esteja próximo desta ou que, adentrando o recinto, a pessoa tenha de retroceder para chegar em frente a ele. É desaconselhável que a sala de estilo ocidental fique situada no andar superior (no caso de sobrado). Isto porque as pessoas entram no referido aposento com sapatos e, assim, com a inversão de posições, ela se iguala à rua. No tocante à localização da casa, não há muita relação entre os pontos cardeais e a idade das pessoas. Costumam dizer que a mudança em direção ao Nordeste não é boa; mas é justamente o contrário, pois, conforme expus anteriormente, dali vem uma energia espiritual puríssima. Existe, porém, um problema: quando alguém se muda para uma casa com essa localização, seu comportamento e trabalho devem ser corretos. Isto porque, aquela energia possui uma grande força purificadora e, por sua causa, quando os pensamentos são negativos e os atos são impuros, os sofrimentos purificadores sobrevêm mais rapidamente. e colocam-se vivificações florais. Costumeiramente recebem-se as visitas na sala onde fica o tokonoma. 26 Tigaidana: prateleira própria para tokonoma. É formada de duas tábuas, uma do lado esquerdo e outra do lado direito, em níveis diferentes uma da outra e ligadas nas pontas por outra tábua. Alicerce do Paraíso A fé no cotidiano Até hoje, por terem pensamento e trabalho incorretos, muitas pessoas, temendo a ocorrência das purificações, detestam o Nordeste. Coletânea Assuntos sobre fé, 25 de janeiro de 1949 48 49 Alicerce do Paraíso Elevação da Espiritualidade PENSAMENTO E SENTIMENTO 50 51 Alicerce do Paraíso Alicerce do Paraíso Pensamento e sentimento O SER HUMANO DEPENDE DO SEU PENSAMENTO [SONEN] realmente verdade que gratidão gera gratidão e lamúria atrai lamúria. Isto ocorre porque o coração agradecido comunica-se com as forças divinas, e o queixoso, com as forças malignas. Assim, quem vive agradecendo, torna-se naturalmente feliz e quem vive lamuriando, torna-se infeliz. O ensinamento da religião Oomoto: “Alegrem-se que virão coisas alegres” é, realmente, uma sábia afirmação. Jornal Hikari nº 25, 3 de setembro de 1949 MISTÉRIO DO MUNDO ESPIRITUAL Mundo Espiritual é realmente extraordinário e misterioso e, pelo senso comum do homem contemporâneo, é difícil compreendê-lo. Escreverei sobre como o pensamento [sonen] do ser humano influencia o Mundo Espiritual. Uma vez que o Mundo Espiritual é o mundo do sonen, o Nada gera a existência e a existência volta ao Nada, o que resulta em infinitas variações. Imaginemos, por exemplo, que uma divindade seja retratada em forma de uma pintura ou escultura. O espírito da divindade ou buda que assentará nessa imagem se diferenciará naturalmente de acordo com a personalidade do artista que produziu a obra. Se a personalidade deste for elevada, assentará um espírito de divindade de alto nível correspondente. 52 53 No entanto, se a personalidade do artista for de baixo nível, mesmo que outra obra tenha forma idêntica, assentará, É O Pensamento e sentimento correspondentemente, um espírito representante daquela divindade ou uma divisão sua, em conformidade com o caráter do artista. Outro exemplo da influência do sonen é a manifestação plena da força da divindade quando a pessoa ora perante uma imagem com toda sinceridade. Caso a pessoa expresse seu sonen apenas formalmente, sem o devido respeito e makoto, a força manifestada pela divindade ficará reduzida. Outra observação é que quanto maior o número de pessoas que oram diante dessa imagem, mais intensa será a manifestação da Luz e da força desse espírito de divindade. Há um antigo provérbio que diz: “Ter fé até em cabeça de sardinha.” Qual será o sentido dessas palavras? Suponhamos que uma pessoa qualquer produza uma imagem de divindade e passe a divulgá-la, utilizando-se de hábeis métodos de propaganda. Se muitas pessoas cultuarem a imagem durante algum tempo, por força do sonen dessas pessoas, cria-se a forma dessa divindade no Mundo Espiritual. Assim, ela passará a manifestar considerável poder e até a conceder graças aos seus seguidores. Trata-se de uma materialização resultante do sonen do ser humano, o que é de fato um mistério. Por um período, apresentam-se resultados, mas que não são verdadeiros. Por serem produtos da imaginação temporária, em algum momento desaparecem. Todos sabem que tais casos ocorrem com frequência. Os conhecidos deuses da moda são desse tipo. Acima referi-me aos espíritos de divindades, mas gostaria de falar também sobre os demônios. É realmente grande o número de perversos que, por ambição, causam aborrecimentos e sofrimentos às pessoas, levando-as à infelicidade. Conforme tenho dito sempre, é claro que isso é consequência do pensamento materialista, que não acredita no invisível. Do ponto de vista espiritual, trata-se de algo bizarro e realmente assustador. Como fazem os outros sofrer, os prejudicados infalivelmente sentem raiva, rancor, ódio
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