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Tópicos Especiais em Engenharia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcio Nunes Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos A História da Engenharia • Introdução • A Engenharia na Antiguidade • A Engenharia na Revolução Industrial • A Engenharia Moderna · O objetivo desta unidade é estabelecer uma relação entre a enge- nharia do passado e a dos tempos atuais, visando tentar entender a motivação do engenheiro anterior e compará-la com a atual. · Esperamos que com isso o aluno de engenharia possa tirar suas próprias conclusões acerca da evolução histórica da engenharia e procurar entender o pensamento do engenheiro. · Esperamos que após ler o texto desta unidade você possa ter uma ideia da real capacidade dos engenheiros de solucionarem problemas e também de criá-los. · Você vai notar também que a engenharia ultrapassou os limites da técnica e acabou se envolvendo intimamente com a política, tornando- se, em muitas oportunidades, um instrumento de distribuição. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante tema: “A História da Engenharia”. Então, procure ler com atenção o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Não esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a Videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado; por favor, estude todos com atenção. ORIENTAÇÕES A História da Engenharia UNIDADE A História da Engenharia Contextualização A evolução histórica da engenharia não é apenas um retorno ao passado; é mais do que isso. Trata-se de estabelecer uma relação entre a engenharia antiga e a atual para balizar nossas decisões. Várias soluções de engenharia atuais são ba- seadas em fatos do passado. Não somente por questões tradicionais, mas porque funcionam. Várias tecnologias anteriores foram superadas, como, por exemplo, a luz elétrica. Durante mais de um século a lâmpada de filamento de Edison reinou absoluta na iluminação de edifícios; hoje se tornou peça de museu em função das novas tecnologias de luz halógena, e agora mais recentemente, a luz de LED. O mesmo sucedeu com o sistema de gravação de músicas: o disco de vinil foi substi- tuído pelo CD e agora pelas mídias digitais. Mas há muitas outras coisas que não mudaram. O motor de combustão interna dos automóveis é um exemplo. Pouco tempo depois que foi inventado por Nicolaus Otto, em 1867, vem equipando nossos automóveis até hoje. As tesouras também são dispositivos milenares. To- dos nós temos tesouras em nossas casas e elas funcionam muito bem. E por que não falar da roda? Essa invenção vai demorar a deixar de ser utilizada. Assim, o conhecimento histórico tem uma importância fundamental no desen- volvimento de novos métodos e de novos produtos. Vale a pena ler atentamente o que fizeram nossos precursores e daí tirarmos nossas conclusões. 6 7 Introdução O objetivo deste tópico é estabelecer uma relação entre o que foi realizado no passado e o que está sendo realizado no presente, no campo da engenharia. No decorrer do texto, você notará que houve uma forte evolução nos métodos utilizados na engenharia; porém a percepção das coisas, o desejo de aprimorar o modo de vida e a determinação em realizar e atingir um objetivo permaneceram quase os mesmos. O homem sempre buscou atingir patamares intelectuais além daqueles vigentes em sua sociedade; essa sede de conhecimento tornou a engenharia um campo fértil de ideias. Como exemplo, podem-se citar as missões Apollo da NASA, que colocaram doze homens na superfície da Lua numa época de grande concorrência entre os Estados Unidos e a União Soviética nos campos político e científico. Após a invenção da escrita, o homem passou a transferir para as futuras gerações as suas ideias e feitos, em um processo de constante evolução, até chegar aos nossos dias. Atualmente grande parte da população mundial vive em ambientes criados pela engenharia. A maioria de nós está cercada por dispositivos tecnológicos que afetam significativamente o modo como vivemos nossas vidas. Hoje vivemos em casas cujos sistemas estruturais, elétricos, hidráulicos e de comunicações foram concebidos por engenheiros. Não é difícil imaginar a vida sem esses avanços. Lamentavelmente, ainda existem pessoas no mundo que não têm acesso aos mesmos benefícios que temos, tais como água potável, sistemas de saneamento, alimentos e conveniências eletrônicas. A maior parte da história da engenharia tem sido dirigida para tais problemas, e nós somos os beneficiários dessas soluções, bem como somos vítimas dos novos problemas que as soluções de engenharia criaram, como já foi discutido na Unidade I. A maioria das definições modernas de engenharia procura enfatizar a aplicação dos conhecimentos das ciências físicas e da matemática no desenvolvimento de produtos, processos, e assim por diante. Não deixa de ser verdade para a engenharia moderna, mas é notório que a prática da engenharia historicamente tem ultrapassado os limites do uso da ciência e da matemática. Muitos feitos de engenharia do passado são ainda mais impressionantes, porque eles foram alcançados sem uma compreensão adequada de princípios científicos importantes. Assim, por exemplo, os construtores de catedrais medievais podem ser considerados como engenheiros, embora a sua compreensão científica das forças e cargas em estruturas tenha sido muito limitada. Observando a linha do tempo, nunca se viu antes uma evolução tão rápida das ciências de um modo geral como observado nesses dois últimos séculos. No início do século XX, por exemplo, uma invenção que chegava ao mercado possuía um tempo de duração bastante significativo; ultimamente as invenções passam como relâmpagos. Quem não se lembra dos aparelhos de videocassete VHS? Quando surgiram, nos anos 70, representaram uma revolução na arte de armazenar vídeos para uso doméstico. Porém, desapareceram 20 anos depois, sendo substituídos 7 UNIDADE A História da Engenharia pelos sistemas digitais. Mesmo com esses avanços rápidos do conhecimento nos dias de hoje, a prática da engenharia moderna envolve a resolução de problemas que não são necessariamente baseados na matemática ou nas ciências. A história da palavra “engenheiro” dá alguma compreensão do que os engenheiros foram no passado. O termo deriva da palavra inglesa engine, originária da época em que os militares se preocupavam em construir dispositivos de guerra, tais como catapultas, fortificações, estradas e pontes. Esse significado foi expandido posteriormente para designar aquele que inventa ou projeta. O significado de “engenheiro” como sendo aquele que planeja e executa obras públicas foi estabelecido no início dos anos 1.600. Nesta unidade, será apresentada apenas uma pequena parcela de todos os eventos históricos relacionados com a engenharia. Ao longo da história, a sociedade tem sido afetada pelos avanços tecnológicos criados por engenheiros e pela tecnologia, e ambos foram grandemente afetados pelas sociedades em que ocorreram. Assim, uma história completa da engenharia exigiria uma história completa da sociedade, que é claramente além do escopo deste tópico. Além disso, este texto se concentra principalmente na engenharia dentro do mundo ocidental, incluindo o Império Romano, a Europa e a América do Norte. A engenharia da antiguidade Não se poderiainiciar um estudo histórico da evolução da engenharia sem passar pelas pirâmides do Egito antigo. Com certeza, elas foram e continuam sendo uma das maiores realizações da engenharia do mundo antigo, e certamente uma das mais conhecidas. As pirâmides egípcias foram construídas no período de cerca de 2.700-2.200 AC. A Figura 1 apresenta a pirâmide de Gizé. Figura 1 – Pirâmide egípcia de Gizé Fonte: Wikimedia Commons 8 dougm Realce dougm Realce 9 Três fatores foram importantes para a engenharia egípcia. O primeiro era que os faraós egípcios estavam dispostos a dedicar tempo e recursos quase ilimitados para a construção de seus túmulos suntuosos. Houve quase disponibilidade ilimitada de trabalho humano qualificado, inclusive trabalho escravo; os animais forneceram pouco trabalho na construção das pirâmides. O segundo foi a capacidade de organizar todos esses trabalhadores de uma forma muito eficiente. Os trabalhadores egípcios trabalharam sob o controle absoluto de um único engenheiro-chefe e de seus subordinados. O terceiro foi que havia fontes de arenito, calcário e granito em locais muito próximos aos das pirâmides. Estas provavelmente foram construídas usando rampas de terra ou areia para levar as pedras até o nível necessário; essas rampas foram mais tarde removidas. Os engenheiros egípcios trabalharam a partir de planos elaborados em papiros. Eles tinham um excelente conhecimento da geometria e da medição de distância, que resultaram na precisão com que as pirâmides foram construídas. Além das pirâmides, os engenheiros egípcios construíram muitos outros templos e edifícios. Os romanos também são conhecidos por suas obras de engenharia monumentais. Essas obras incluem estradas, sistemas de fornecimento de água potável, monumentos e edifícios. Por volta do ano 200 D.C., os romanos haviam construído aproximadamente 70.000 quilômetros de estradas de boa qualidade. As estradas romanas tendiam a seguir uma linha reta, mesmo quando tinham que atravessar colinas e vales, ao invés de seguirem os contornos de nível. Isso se deve ao fato de as estradas terem sido projetadas principalmente para uso militar. Os aquedutos romanos são realizações de engenharia famosas também. Os romanos construíram aquedutos para transportar a água de nascentes ou rios para as cidades romanas. Eram as famosas pontes em arco que continham os aquedutos, conforme pode ser visto na Figura 2. Figura 2 – Aqueduto romano Fonte: Wikimedia Commons 9 dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE A História da Engenharia Um ponto comum que une essas realizações das engenharias egípcia e romana é a grandiosidade desses projetos, especialmente para as civilizações da época. Os períodos medieval e renascentista na Europa abrangeram o intervalo de tempo de aproximadamente 500 D.C. a 1.600 D.C.. A vida na Europa medieval é muitas vezes caracterizada pelos historiadores como a “Idade Média”, o que causa a impressão de que não havia qualquer avanço tecnológico ou na engenharia. Em alguns aspectos, essa caracterização está correta. Por exemplo, as obras para o fornecimento de água potável criadas pelos romanos para abastecer suas cidades não foram aproveitadas em outras cidades europeias medievais, nem tampouco as instalações sanitárias por eles inventadas. Assim, doenças transmitidas pela água constituíam um problema recorrente em muitas dessas cidades. No entanto, em outros aspectos, essa caracterização não é correta. Vários conceitos e técnicas de engenharia importantes foram desenvolvidos durante esse tempo, de forma que acabaram lançando as bases para o rápido avanço tecnológico observado durante a Revolução Industrial. Os engenheiros desenvolveram técnicas surpreendentes para a construção de edifícios, incluindo catedrais e castelos. A engenharia também aperfeiçoou os navios, tornando possível a exploração europeia do resto do mundo; tornou possível o desenvolvimento da máquina de impressão; aperfeiçoou as técnicas de perspectiva e do desenho linear de engenharia; possibilitou a alfabetização e a difusão da informação, etc. Um setor em que a engenharia fez avanços significativos foi na construção de catedrais, castelos e outras grandes estruturas. Catedrais foram construídas em toda a Europa a partir do século IV e continua até os dias de hoje. Dentro da Europa medieval, catedrais foram construídas em estilo românico (nos séculos X e XI) e mais tarde no estilo gótico (na décima segunda através do século XVI). Os edifícios românicos são caracterizados por paredes espessas, arcos redondos e grandes torres. Já os edifícios góticos são caracterizados por paredes mais finas, com grandes janelas em forma de arcos pontudos e paredes suportadas por pilares. Alguns avanços tecnológicos tornaram a construção da catedral gótica possível: o uso de pilares externos permitiu a construção de paredes mais finas e com grandes janelas. A Figura 3 mostra a fachada oeste da catedral de Notre Dame de Paris. Podem- se notar os arcos pontiagudos e as grandes janelas. A construção da catedral foi iniciada em 1.163, e ficou inacabada até 1.345. Na época surgiram os chamados mestres de obra, que dirigiram a construção dessas catedrais e outros edifícios. Os mestres de obra supervisionavam grandes grupos de trabalhadores. Eles eram os engenheiros estruturais da época e, quando eles trabalharam em projetos militares, foram, então, chamados de engenheiros. Eles tinham um bom entendimento da geometria e da aritmética da época. No entanto, eles não tinham a teoria de engenharia usada pelos engenheiros estruturais dos dias de hoje. Em vez disso, eles muitas vezes utilizavam a regra “testar para ver”, que tinha sido desenvolvida a partir da experiência adquirida pelas gerações anteriores. Muitas vezes, essa metodologia conduzia a erros, fazendo com que os projetos fossem frequentemente modificados. 10 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 11 Figura 3 – Catedral de Notre Dame, em Paris Fonte: Wikimedia Commons Outro aspecto em que a engenharia fez progressos Figura 4 – Caravela portuguesa Fonte: Wikimedia Commons significativos na Europa medieval foi a concepção e a construção de embarcações à vela. Na Escandinávia, o navio viking atingiu o auge de seu desenvolvimento durante a Idade Média. Esses navios eram muito rápidos; eles foram usados para transportar carga, bem como no transporte cada vez mais distante das expedições de invasão dos vikings. Esses navios possuíam uma única vela de formato quadrado. O progresso em embarcações à vela na Europa medieval, especialmente aquelas utilizadas pela Espanha e Portugal, preparou o palco para a exploração europeia e para a colonização das Américas do Sul e do Norte e também da África. Os dois tipos de embarcações à vela que tiveram o maior impacto sobre essa explo- ração foram a caravela e a nau. A caravela é um navio pequeno, altamente manobrável, dotada de dois ou três mastros, como mostrado na Figura 4. Uma nau é um navio maior, com três ou quatro mastros, e velas quadradas; era grande o suficiente para levar uma quantidade significativa de carga e ser estável em viagens longas através dos oceanos. A Figura 5 mostra uma gravura que retrata a nau Santa Maria, utilizada por Cristóvão Colombo (1451-1506) em sua expedição para as Américas. Um terceiro avanço ocorrido na Idade Média, que à primeira vista pode não ser reconhecido como um feito da engenharia, foi o desenvolvimento de um sistema de impressão que utilizou o tipo (caractere) móvel. Com esse sistema, os tipos 11 dougm Realce UNIDADE A História da Engenharia utilizados para imprimir uma página são reaproveitados para imprimir outras, possibilitando o seu reuso e assim poupando muito tempo durante a impressão. A tecnologiapara imprimir livros mais baratos e torná-los disponíveis a um preço acessível à maioria das pessoas foi um dos avanços mais significativos da história. Esse invento foi, sem dúvida, extremamente importante para o desenvolvimento e difusão do conhecimento através dos tempos. Johannes Gutenberg (por volta de 1.400 a 1.468) é tido como o inventor do tipo móvel. No entanto, esse desenvolvimento, semelhantemente a muitos outros avanços da engenharia, não foi feito por uma única pessoa trabalhando isoladamente; ao contrário, Gutenberg utilizou vários processos que já haviam sido desenvolvidos anteriormente e os combinou, surgindo uma nova maneira para imprimir livros. Seus métodos também foram aperfeiçoados por aqueles que o seguiram. Seu mérito está na combinação do tipo fundido, da tinta, do papel e de uma prensa em um sistema que podia imprimir livros em massa. Antes do desenvolvimento dos tipos móveis, no século XV, quase todos os livros eram copiados à mão. Um escriba trabalhava arduamente para criar uma cópia de um livro, chegando muitas vezes a um ano de trabalho. Esses livros escritos à mão eram tão caros que somente os muito ricos podiam comprar. A figura 6 mostra o sistema de impressão de Gutenberg. Figura 5 – Réplica da nau Santa Maria Fonte: Wikimedia Commons Figura 6 – Blocos de impressão formando as linhas de um texto Fonte: Wikimedia Commons 12 dougm Realce 13 Em 1455, Gutenberg utilizou esse sistema para imprimir a Bíblia. Acredita-se que ele imprimiu cerca de 180 cópias. Os métodos de Gutenberg foram imensamente bem sucedidos, e foram amplamente copiados e melhorados. Por volta de 1480, quase todas as grandes cidades europeias tiveram pelo menos uma máquina de impressão. Veneza ficou conhecida como a capital de impressão da Europa. Essas primeiras impressoras conceberam muitas fontes de caracteres que são muito semelhantes às utilizadas nos dias de hoje. A evolução da engenharia passa também pelo desenvolvimento da perspectiva linear e a invenção de vários métodos de desenho técnico, incluindo desenhos em corte, vistas explodidas e rotação de desenhos. Essas técnicas de desenho tornaram possível aos engenheiros estudarem sistemas mecânicos e edifícios sem a necessidade de construir modelos tridimensionais em escala; uma vez que um desenho bidimensional pode tipicamente ser criado muito mais rapidamente do que a imagem de um modelo tridimensional, os novos recursos de desenho aceleraram bastante o ritmo em que o trabalho de engenharia poderia ser realizado. Esses recursos também melhoraram a capacidade dos engenheiros e cientistas de armazenar ideias e conceitos. Assim, esses desenhos ajudaram a impulsionar a transformação da engenharia, fazendo-a passar do estágio da experimentação e do uso da experiência acumulada a um estágio mais disciplinado baseado em princípios científicos e teoria. Vários artistas-engenheiros renascentistas podem ser citados como protagonistas do desenvolvimento da perspectiva e técnicas de desenho técnico. Destes, destaca-se Leonardo da Vinci (1452-1519), o mais conhecido desses engenheiros-artistas renascentistas. Ele usou desenho e texto em conjunto para executar experimentos mentais em muitas áreas da engenharia e da ciência. Esses experimentos mentais incluem o desenho de uma máquina de voo semelhante ao helicóptero, um tanque militar e uma ponte. Da Vinci desenvolveu um novo formato para a engenharia, um repositório de ideias científicas, cujo modelo atualmente é usado para apoiar o projeto de engenharia ou de investigação científica. A Figura 7 mostra o desenho de uma besta gigante que Leonardo da Vinci criou. Figura 7 – Desenho da besta gigante criada por Leonardo da Vinci Fonte: Wikimedia Commons 13 dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE A História da Engenharia A engenharia na Revolução Industrial A história da engenharia não poderia deixar de passar pela Revolução Industrial, que aconteceu nos séculos XVIII e XIX. Foi um momento importantíssimo da existência humana, uma época de grandes contribuições tecnológicas e científicas, a maioria sendo protagonizada pelos engenheiros. Um aspecto importante da Revolução Industrial foi a substituição do trabalho humano e animal pela máquina. Por exemplo, o desenvolvimento dos motores a vapor substituiu as rodas d´água e a tração humana e animal no acionamento dos teares. Além disso, durante a Revolução Industrial, houve progresso no processo de transição entre a engenharia experimental para a engenharia científica, por meio do uso cada vez maior do conhecimento científico e da matemática. Foi durante a Revolução Industrial que surgiram especializações dentro do campo da engenharia, surgindo as engenharias civil e mecânica. Houve muitos avanços técnicos durante a Revolução Industrial. Além da máquina a vapor, destacam-se um relógio preciso para medir a longitude, as máquinas têxteis automáticas, a máquina de impressão mecânica e os sistemas de transporte movidos a vapor. Embora houvesse muitos outros avanços tecnológicos durante esse período, esses cinco fornecem uma visão geral dos diferentes processos e tecnologias que foram aprimorados nesta época. A navegação marítima realizada antes dos anos 1700 era baseada em instrumentos arcaicos e imprecisos, tais como o astrolábio e o sextante. Para o governo inglês, esse fato era de extrema importância para a expansão de seu império. Nesse sentido, o Parlamento Britânico aprovou em 1714 uma legislação que criou o Ato da Longitude, visando buscar novas soluções para a determinação mais precisa da longitude, visando ao aumento da precisão nas suas navegações. Foi oferecido um prêmio de 20.000 libras esterlinas (uma fortuna significativa para a época) para quem desenvolvesse um método preciso para determinar a longitude. O relojoeiro britânico John Harrison (1693-1776) desenvolveu um relógio preciso nessa época e acabou ganhando o Prêmio Longitude (embora o valor total do prêmio na verdade nunca foi concedido a ele). O objetivo desse relógio era manter o tempo exato em longas viagens marítimas em que a temperatura, pressão atmosférica e umidade variavam significativamente. Ele acabou desenvolvendo o mecanismo que foi a base da construção de relógios mecânicos até os dias de hoje. Tratava-se de um dispositivo em que a oscilação de um pêndulo ocasionava a liberação de uma parcela de movimento de uma engrenagem em cada oscilação; a engrenagem, por sua vez, impulsionava o mecanismo que movia os ponteiros do relógio. Essa invenção revolucionou a técnica da medição de tempo. O desenvolvimento do relógio de John Harrison foi motivado pelo Prêmio Longitude. Porém, o Conselho de Longitude atribuiu a precisão do relógio de Harrison mais à sorte do que ao conhecimento, e por isso ele não recebeu o prêmio na íntegra. 14 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 15 O desenvolvimento do relógio marítimo por John Harrison é um exemplo em que um único indivíduo, trabalhando de forma independente, foi capaz de desenvolver a tecnologia necessária para resolver um problema social significativo. Embora suas realizações técnicas tenham sido feitas individualmente, o seu trabalho foi significativamente influenciado pela sociedade em que vivia. O desejo de deter a supremacia tecnológica avançava nessa época. Ao longo do tempo, vários prêmios foram oferecidos para motivar o progresso científico. No início de 1900, o jornal britânico Daily Mail anunciou numerosos prêmios para os primeiros eventos na aviação; entre eles está o primeiro voo sobre o Canal da Mancha em 1909 e o primeiro voo sobre o Oceano Atlântico em 1919. Mais recentemente, uma entidade denominada X Prize Foundation (http://goo.gl/5UpuhJ) ofereceu US$ 10 milhões para a primeira organização não governamental que lançasse uma nave espacial tripulada ao espaço; esse prêmio foi ganhoem 4 de outubro de 2004, pela empresa norte-americana SpaceShipOne (http://goo.gl/IiYlR1). Mas a grande vedete da Revolução Industrial foi a máquina a vapor. Essa maravilha tecnológica substituiu a água, o vento e principalmente os trabalhos humano e animal na execução de tarefas motoras. O motor a vapor foi originalmente desenvolvido para bombear água para fora das minas de carvão e de metais; a água bombeada provinha de lençóis freáticos que eram atingidos durante as escavações. O bombeamento mecânico de água poderia remover muito mais água de uma mina quando comparado ao bombeamento manual feito por seres humanos ou animais, o que permitiu uma escavação mais profunda nessas minas. Os motores a vapor também foram utilizados para movimentar a indústria de um modo geral. Sua utilização permitiu que moinhos fossem instalados nas proximidades das fontes de matéria-prima, em vez de serem localizados junto a córregos e rios. O primeiro motor a vapor comercialmente bem Figura 8 – Desenho do motor a vapor de Newcomen Fonte: Wikimedia Commons sucedido foi desenvolvido por Thomas Newcomen (1664-1729) na Inglaterra. Seu motor era dotado de um grande cilindro em que um pistão se movia para cima e para baixo, gerando movimento oscilatório para acionar uma bomba hidráulica. A Figura 8 mostra um desenho em corte do motor. Newcomen e seu parceiro John Calley tiveram que chegar a um acordo com Thomas Savery (cerca de 1650-1715), que tinha anteriormente patenteado quase todas as aplicações imagináveis de utilização da energia proveniente do vapor, antes de serem capazes de comercializarem sua invenção. O primeiro motor comercial de Newcomen foi instalado em 1712. 15 dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE A História da Engenharia Quando as patentes expiraram, em 1733, cerca de 100 de seus motores a vapor haviam sido construídos e instalados. Durante esse tempo, o seu projeto foi aperfeiçoado, introduzindo mais automatismos. Porém, seu projeto era muito ineficiente e consumia uma quantidade considerável de combustível. Além disso, sua capacidade de bombear água era muito limitada. Apesar desses inconvenientes, a invenção foi considerada um sucesso e foi amplamente adotada, principalmente devido à sua simplicidade mecânica. James Watt (1736-1819) desenvolveu uma versão melhorada do motor a vapor. O motor era muito mais eficiente do que aquele de Newcomen, necessitando apenas de um quarto do combustível gasto e, portanto, apresentava um custo operacional mais reduzido. Ele desenvolveu um modelo funcional do motor em 1765, mas exigiu muito tempo até torná-lo bem sucedido comercialmente. Ele fez uma parceria com Michael Boulton (1728-1809), o proprietário de uma fábrica de artefatos de ferro de sucesso, que forneceu o apoio financeiro necessário para desenvolver e comercializar o seu motor. O seu primeiro motor comercial foi instalado em 1776. Em 1781, ele desenvolveu uma versão do motor que fornecia movimento de rotação em vez de oscilatório, que novamente revolucionou a maneira de movimentar as máquinas. Em outras palavras, essa invenção mais do que duplicou a velocidade com que as pessoas se movimentavam (pela invenção do navio e da locomotiva a vapor), assim como a velocidade das máquinas. Outro grande benefício foi a fabricação de produtos têxteis. Antes da Revolução Industrial, a indústria têxtil era uma indústria caseira; os tecidos eram feitos artesanalmente por pessoas que trabalhavam em suas casas ou em pequenos grupos. Após a Revolução Industrial, os tecidos passaram a ser produzidos em grandes fábricas que utilizavam máquinas com motores a vapor ou movidas por rodas d’água. Essas invenções ocorreram tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos. Deve-se ressaltar que as descobertas científicas e tecnológicas nas décadas de 1770 e 1780 causaram uma corrida entre essas duas nações. O governo britânico protegeu a indústria têxtil, proibindo as exportações de máquinas têxteis e impedindo que os trabalhadores têxteis trocassem informações ou deixassem a Grã- Bretanha; na época os Estados Unidos estavam pagando por informações sobre a produção têxtil. Foi nessa época que a espionagem industrial se aperfeiçoou. O desenvolvimento da máquina a vapor teve um efeito revolucionário na mineração e na manufatura. Como os trabalhos humano e animal foram substituídos pela força do vapor, recursos e bens manufaturados puderam ser produzidos de forma mais eficiente. No final do século XVIII, os motores a vapor tornaram-se viáveis para movimentarem barcos e trens. Robert Fulton (1765-1815) foi o primeiro a desenvolver com sucesso um navio a vapor nos Estados Unidos. Em 1807 ele completou a construção de um barco a vapor de quase 50 metros de comprimento. O barco era impulsionado por um motor Boulton & Watt de 24 cavalos de potência, utilizando madeira como combustível. Nessa época não havia muita preocupação com a segurança. Explosões de caldeiras e incêndios eram ocorrências bastante comuns em barcos a vapor, o que os tornava um modo um 16 dougm Realce dougm Realce 17 tanto perigoso de transporte, e isso acabou levando o governo dos EUA a elaborar normas de segurança. Tão importante quanto o desenvolvimento de navios a vapor foi o desenvolvimento dos trens a vapor. Esse setor teve uma influência muito grande na economia dos Estados Unidos na segunda metade do século XIX. Os trens passaram a ser o principal meio de transporte nessa época. A primeira locomotiva ferroviária foi construída em 1803 na Inglaterra, por Richard Trevithick (1771-1833). A primeira estrada de ferro em Inglaterra, no entanto, não entrou em serviço até 1825. Em 1829, Robert Stevenson (1803-1859) projetou uma locomotiva chamada de “Rocket”, que tinha muitas das características de locomotivas a vapor posteriores; essas características incluíam a caldeira multitubular e as rodas impulsionadas diretamente por pistões horizontais. Nos Estados Unidos, a primeira estrada de ferro comercial foi implantada em 1830. Em 1860 já havia mais de 45.000 km de trilhos em operação. Os motores americanos eram maiores e mais potentes do que os motores britânicos porque as ferrovias americanas possuíam rotas mais íngremes e curvas mais acentuadas. Os trilhos dos trens norte-americanos não eram cercados e por isso os engenheiros instalaram dispositivos limpa-trilhos na frente da locomotiva. Novas técnicas de engenharia também foram desenvolvidas para a construção das linhas ferroviárias, pontes e túneis. Um dos maiores feitos de engenharia da Revolução Industrial foi a construção da primeira estrada de ferro transcontinental nos Estados Unidos. Essa ferrovia ligava Omaha, no Nebraska, a Sacramento, na Califórnia. Sua construção demorou sete anos e mudou significativamente o modo de viajar para o oeste dos Estados Unidos: antes de sua conclusão eram utilizados carros de boi e carruagens, e a viagem chegava a durar meses. Após a sua conclusão, o percurso passou a ser feito em uma semana. A engenharia moderna O ritmo de desenvolvimento de tecnologia aumentou de forma constante na última metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Novas tecnologias foram envolvidas na criação e no crescimento das empresas; grandes fortunas foram realizadas por meio desses novos desenvolvimentos tecnológicos. Uma grande mudança na engenharia ocorrida nessa época foi que a ciência começou a influenciar diretamente os engenheiros envolvidos em áreas como a siderurgia, geração e distribuição de energia elétrica e química. Novas disciplinas foram agregadas aos cursos de engenharia, ocasionando o aparecimento de novas modalidades, como as engenharias Elétrica e Química. A eletricidade também teve o seu desenvolvimento iniciado nessa época. Em 1870, cientistas como Michael Faraday (1791-1867) e James Maxwell (1831-1879) dominavam os conceitos teóricos daeletricidade. A eletricidade 17 dougm Realce dougm Realce UNIDADE A História da Engenharia foi amplamente utilizada nas comunicações de telégrafo a longa distância. Antes, a produção de eletricidade era realizada apenas por baterias ou por geradores ineficientes denominados dínamos, o que tornava as comunicações muito caras. Thomas Edison (1847-1931) é tido como o Figura 9 – Uma das lâmpadas originais de Thomas Edison Fonte: Wikimedia Commons inventor da lâmpada, levada a público em 1878. Ele foi um prolífico inventor, um desenvolvedor de dispositivos, tais como o fonógrafo, que gravava e reproduzia sons, e um projetor de imagem em movimento. A ele é atribuída a frase “gênio é um por cento de inspiração e noventa e nove por cento transpiração.”. Edison não era um inventor solitário, pois conduziu um laboratório de pesquisa grande, com mais de 30 cientistas, engenheiros e artesãos. Essa prática do uso de um laboratório de pesquisa organizado para desenvolver novas invenções foi logo adotada por muitos outros cientistas, o que acabou formando a base da grande produção industrial. Edison iniciou os trabalhos de desenvolvimento da lâmpada para fornecer um método de iluminação de lares e empresas durante a noite. Seu objetivo era, na verdade, fazer dinheiro. As tecnologias concorrentes da época eram a iluminação a gás e lâmpadas elétricas de arco voltaico. Estas últimas emitiam uma luz muito brilhante, dura, que não era adequada para a iluminação interna. Assim, um dos objetivos do desenvolvimento de Edison foi a criação de uma fonte de luz que fornecesse índices de iluminação mais baixos que aqueles emitidos pelas lâmpadas de arco voltaico. Para ser economicamente competitiva, a iluminação elétrica teve que ser mais segura e mais barata do que luzes de gás; isso impôs restrições sobre o design da lâmpada. Edison não inventou a lâmpada a partir do zero. Ao contrário, ele adaptou e melhorou tecnologias existentes, em particular relacionadas com o filamento de fibra de carbono e a criação de vácuo no interior da ampola, para impedir que o filamento se queimasse. Além da lâmpada, o seu laboratório de pesquisa criou um sistema de dínamos capaz de fornecer eletricidade para acender suas lâmpadas nas residências e nas empresas. Nessa época foram desenvolvidos diversos dispositivos que ainda hoje são utilizados em sistemas modernos, tais como os fusíveis, os medidores de energia e interruptores para acender e apagar as luzes. O primeiro sistema de iluminação de Edison foi instalado em Nova York em 1881. A Figura 9 mostra uma das lâmpadas originais de Edison. Apesar de ser um grande inventor, não foi o sistema de corrente contínua de Edison que acabou vingando. Pouco depois que Edison instalou o seu primeiro sistema elétrico, George Westinghouse (1846-1914) desenvolveu um sistema concorrente que utilizava corrente alternada (AC). O primeiro sistema funcional AC foi instalado em 1886, e muitos mais nos anos seguintes. A competição entre 18 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce 19 Westinghouse e Edison para dominar a geração de energia elétrica e os negócios de distribuição foi intitulado de “A Guerra das Correntes.” Sistemas de corrente alternada levavam vantagens técnicas significativas sobre os sistemas de corrente contínua, mas Edison montou uma agressiva campanha publicitária em que dizia que a corrente alternada era mortal. Em um caso particularmente preocupante, o estado de Nova York instalou uma cadeira elétrica para executar criminosos; essa cadeira operava com corrente alternada, por recomendação do próprio Edison. Mas essa campanha não deu resultado: em 1892 a corrente alternada se tornou o principal método de distribuição de energia elétrica, e até mesmo a empresa de Edison começou a operar equipamentos AC. A evolução da engenharia passa também pelo domínio dos ares. Aos irmãos Orville Wright (1871-1948) e Wilbur Wright (1867-1912) é creditada a invenção do voo tripulado utilizando um dispositivo mais pesado que o ar. Aproveitando o trabalho anterior de muitos engenheiros pioneiros, incluindo Otto Lilienthal (1848-1896) e Samuel Langley (1834-1906), eles construíram um dispositivo que voava utilizando um motor. Começaram seus experimentos em 1899. A morte de Otto Lilienthal em um acidente de planador em 1896, bem como outros acidentes envolvendo planadores experimentais, demonstrou que um aspecto extremamente importante do desenvolvimento de uma máquina de voar mais pesada que o ar é entender como controlá-la em voo. A essa altura, eles já haviam resolvido questões tais como a potência do motor e o formato das asas. Assim, ao contrário de outros investigadores de voo, eles realizaram cuidadosos experimentos com pipas e planadores para entender como criar modelos de avião controláveis. Entre 1900 e 1903, eles combinaram teoria científica com experiências cuidadosas para refinar a equação que previa o perfil das asas. Nesse processo, eles descobriram que asas mais compridas e estreitas forneceram maior sustentação do que asas mais curtas e mais largas. Em 1902, eles fizeram entre 700 e 1.000 voos em planadores para confirmar que eles poderiam ser devidamente controlados. Na década de 1890, a indústria automobilística nascente tinha desenvolvido o motor de combustão interna a gasolina e isso levou os irmãos Wright a instalá-lo em seu futuro avião. Em 17 de Dezembro de 1903, os irmãos Wright fizeram quatro voos com motor, sendo que a maior distância alcançada foi de 300 metros. A Figura 10 mostra esse primeiro voo motorizado. Figura 10 – Um dos irmãos Wright e sua máquina voadora Fonte: Wikimedia Commons 19 dougm Realce dougm Realce UNIDADE A História da Engenharia Nenhum dos irmãos Wright teve uma educação formal em engenharia ou ciências. Sua experiência como fabricantes de bicicletas não lhes dava expertise necessária ao desenvolvimento de uma máquina de voar. Eles acabaram usando o método científico para desenvolver as estruturas de controle que tornaram o seu avião viável e bem sucedido. A engenharia tomou forma como uma profissão moderna na metade do século XIX. A maioria dos engenheiros recebeu treinamento por meio de estágios e a partir da própria experiência no trabalho. Mesmo levando em consideração que muitas das grandes obras de engenharia na virada do século foram feitas por artesãos sem um ensino formal de engenharia, os laboratórios de pesquisa corporativos recém-criados começaram a contratar trabalhadores com formação universitária em engenharia. Na segunda metade do século XIX, os engenheiros começaram a formar organizações comerciais com o objetivo de aumentar o estabelecimento da profissão de engenharia. Essas organizações desenvolveram padrões para distinguir engenheiros com as qualificações necessárias de outros técnicos sem essas qualificações. A primeira dessas organizações comerciais foi a AMCE – American Society of Civil Engineers, fundada em 1852. O AIME – American Institute of Mining and Metallurgical Engineeers foi fundado em 1871, a ASME – American Society of Mechanical Engineers foi fundada em 1880, e a AIEE – American Institute of Electrical and Electronics Engineers foi fundada em 1884. Essas organizações mantinham ligações estreitas com faculdades e universidades, o que permitiu definir os aspectos teóricos práticos de uma boa educação em engenharia. No início do século XX, a vida das pessoas começou a ser afetada mais rapidamente do que antes. Surgiram grandes obras de engenharia civil, tais como viadutos e pontes, e o automóvel. Henry Ford (1863-1947) trabalhava na Companhia Edison de Iluminação quando começou a fazer experiências com o motor a gasolina. Em 1903, após deixara companhia Edison, ele fundou a Ford Motor Company. Seu objetivo era produzir um carro acessível e confiável, que pudesse ser adquirido por um agricultor médio americano ou por um trabalhador comum. Após vários anos de experimentação e design, a Ford Motor Company introduziu o modelo T em 1908. É conveniente notar que Henry Ford não desenvolveu pessoalmente o projeto detalhado do modelo T; isso foi feito por uma equipe de engenheiros com as habilidades e conhecimentos necessários para o projeto. A produção de um automóvel barato só foi possível porque a produção deixou de ser artesanal, como era até então, e passou a ser feita em etapas, onde um operário realizava sempre a mesma tarefa. Esse procedimento permitiu aumentar a produção de forma exponencial. Assim surgiu o conceito de padronização de peças, tornando também mais fácil a manutenção dos veículos. Em 1909, em seu primeiro ano de produção, foram construídos 18.000 veículos; em 1915, foram vendidos meio milhão de automóveis e, em 1920, a produção ultrapassou a marca de um milhão. 20 dougm Realce dougm Realce dougm Realce 21 O advento do rádio, que forneceu transmissão ao vivo para milhões de ouvintes ao mesmo tempo, foi um fator significativo na criação de uma identidade nacional nos Estados Unidos e também conduziu a uma mudança na cultura popular. Sua descoberta se deve a pesquisadores tais como os físicos James Maxwell (1831-1879) e Heinrich Hertz (1857-1894), que desenvolveram a teoria da propagação de ondas eletromagnéticas e também fizeram alguns experimentos, porém puramente científicos. Mas foi Guglielmo Marconi (1874-1937), um inventor italiano, que em 1894 começou a fazer testes com transmissores e receptores de rádio com o objetivo de criar um sistema de “telegrafia sem fio”, um sistema que pudesse transmitir informações da mesma forma que o telégrafo tradicional fazia. Sua ideia era criar um sistema que pudesse promover a comunicação entre os navios e as estações em terra. Em 1903, ele havia demonstrado com sucesso a transmissão de sinais através do Oceano Atlântico. O sistema de Marconi permitiu a transmissão do código Morse, que era utilizado nas comunicações com fio. Não deve passar despercebido que em 1912 os sobreviventes do Titanic foram salvos devido ao pedido de socorro emitido pelo telegrafista do Titanic antes do navio afundar. Na virada do século, vários outros pesquisadores acreditavam que a transmissão de voz e outros sons também poderiam ser transmitidos. A invenção da válvula eletrônica permitiu uma série de desenvolvimentos eletrônicos, incluindo radar, computadores e televisão. A válvula eletrônica denominada tríodo foi patenteada em 1906 por Lee De Forest (1873-1961). Em 1910, De Forest usando um transmissor e receptores construídos com tríodos, transmitiu duas óperas; esta foi considerada a primeira transmissão pública de rádio. O desenvolvimento do rádio, ao contrário da maioria dos demais desenvolvimentos de engenharia anteriores, reflete a mudança do trabalho individual de inventores para trabalho de equipe de engenheiros, que trabalhavam dentro das corporações existentes. No rádio, muitos dos desenvolvimentos técnicos iniciais foram feitos por inventores individuais ou pequenas empresas. Porém, uma vez que os conceitos foram dominados, as grandes corporações se envolveram e dominaram o crescimento dos mercados e da tecnologia. Esperamos que você tenha tido uma boa ideia da evolução e do progresso da engenharia através dos tempos ao término desta unidade. Neste texto, você ficou sabendo que a engenharia teve um desempenho importante na construção das sociedades; mas também ficou ciente de que a engenharia também foi utilizada com finalidades militares, com o objetivo de destruir. A engenharia foi utilizada também para caracterizar a soberania de um povo sobre os demais. Enfim, pode- se dizer que a engenharia foi uma atividade de extrema importância e que sem ela hoje estaríamos ainda acendendo fogo por meio do atrito de um graveto em uma pedra. 21 dougm Realce dougm Realce dougm Realce dougm Realce UNIDADE A História da Engenharia Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites AIME – American Institute of Mining, Metallurgical and Petrolium Engineers. Disponível em: http://www.aimehq.org ASCE – American Society of Civil Engineers. Disponível em: http://www.asce.org ASME – American Society of Mechanical Engineers. Disponível em: https://www.asme.org IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers Disponível em: http://goo.gl/yrUKra Defining the contribuition of the engineering to the society Disponível em: http://goo.gl/EDWxDG 22
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