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SENTENÇA 6 caso

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MARIVALDO ANDERSON DOS SANTOS 
01630003983 
SENTENÇA
3000863-80.2019.8.06.0167
Resumo Fatídico:
Alega a Autora- Em março de 2019 a autora, que é aposentada pelo Regime Geral (INSS),verificou num de seus extratos bancários o desconto automático no importe de R$ 36,99 (trinta e seis reais e noventa e nove centavos) no valor atinente ao seu benefício previdenciário. No extrato, apenas aparecia a informação “DB AT FONE”.
Assustada e surpresa com a situação, a reclamante buscou contato com sua agência bancária da Caixa Econômica Federal - CEF, onde verificou que se tratava de descontos automáticos realizados pela empresa requerida, Claro S.A.
No momento em que verificou os descontos, a autora solicitou de pronto que fosse feito o cancelamento dos descontos pela empresa requerida diretamente em seu benefício previdenciário, o que foi atendido pela instituição financeira.
Neste sentido, a autora buscou angariar informações acerca do período no qual foram efetuados os descontos, tendo verificado que os descontos iniciaram em setembro de 2018, tendo perdurado até março de 2019.
Necessário esclarecer, Excelência, que a autora não possui qualquer
vinculação com a empresa requerida, não tendo celebrado qualquer tipo de contrato de prestação de serviços ou qualquer outro que seja com a empresa ora requerida.
Denota-se, portanto, que houve alguns descontos no benefício previdenciário da autora, o qual possui em sua essência caráter alimentar. Embora tenham iniciado no mês de setembro de 2018, a autora somente os percebeu no mês de março de 2019, ao retirar o extrato de sua conta, algo que a mesma não faz com tanta frequência.
A autora foi intimamente perturbada com tal fato, bem como financeiramente, caracterizando-se, portanto, os danos anímicos e materiais.
Neste sentido, deve-se considerar que foram realizados descontos no valor de R$ 36,99/mês, do mês de outubro/2018 ao mês de janeiro/2019, e no mês de março/2019 num total de 05 meses com descontos em tal valor. No mês de setembro/2018 foi efetuado o desconto no valor de R$ 0,73 (setenta e três centavos), e no mês de fevereiro/2019 foi efetuado o desconto no valor de R$ 37,20 (trinta e sete reais e vinte centavos), perfazendo um montante final de descontos no importe de R$ 222,88 (duzentos e vinte e dois reais e oitenta e oito centavos).
Assim, demonstrados os danos materiais que sofrera, além dos danos morais que lhe acometeram, faz jus a demandante à devolução em dobro dos valores descontados pela requerida, e mais uma indenização pelos danos morais.
DA RELAÇÃO DE CONSUMO
O Art. 29 do CDC estabelece que, em se tratando de práticas comerciais, equiparam-se a consumidor todas as pessoas determináveis ou não, expostas às praticas previstas no Capítulo V, do Título I, do CDC (Arts. 29 a 44, CDC).
O referido capítulo regula várias práticas comerciais, especialmente sobre a oferta de produtos, a publicidade, as práticas abusivas, a cobrança de dívidas e os bancos de dados de cadastros de inadimplentes. Destarte, ainda que a parte demandante não tenha firmado nenhum contrato com a parte demandada, aplicam-se ao presente caso as diretrizes do Código Consumerista.
Ademais, é pacífico o entendimento jurisprudencial acerca da aplicação das regras do CDC aos contratos bancários.
Por sua parte, o Art. 42, parágrafo único do CDC, estabelece que:
(...)
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
Considerando que esta demanda baseia-se em relação de consumo, impõe-se a observância do Art. 6o, incisos III, VII e VIII, do CDC, que estabelece como direitos básicos do consumidor:
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; 
DOS DANOS MATERIAIS – REPETIÇÃO DE INDÉBITO:
Um exemplo comum é quando um indivíduo contrata um cartão de crédito, pagando R$20,00 de taxa de anuidade, cujo pagamento da fatura está em débito automático. No entanto, em um determinado mês, é cobrado o valor de R$ 60,00 sem que haja qualquer amparo contratual para o aumento. 
O consumidor tem o direito a ser restituído pela quantia que pagou a mais indevidamente. A expressão “repetição do indébito” não é uma nomenclatura criada pela lei, então, não encontramos disposições legais se buscarmos por essa expressão.
O direito à repetição do indébito está previsto no Código Civil, no título de Responsabilidade Civil, no primeiro capítulo: Da obrigação de indenizar. E o art. 940 específica quando pode ocorrer:
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.”
De acordo com a lei, o credor que cobrar por uma dívida que já foi paga fica responsável por indenizar, mesmo que a cobrança tenha sido somente de uma ou mais parcelas da dívida ou que tenha sido cobrado a mais do que o combinado como pagamento.
É também previsto no Código Civil que, quem recebe o que não lhe é adequado ou antes que lhe seja devido, tem obrigação de devolver:
Art. 876. Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição.”
Repetição do indébito no Novo CPC
Além de ser o direito, a repetição do indébito é também a medida processual pela qual o indivíduo pode requerer a devolução da quantia paga sem necessidade.
O fundamento da ação de repetição do indébito também é previsto no Código Civil como enriquecimento sem causa, já que não existia a dívida que gerasse o pagamento do valor:
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.
A restituição também é devida quando o objeto da dívida deixa de existir. Por exemplo, num negócio de compra e venda de um veículo que é furtado antes de ser entregue. O veiculo deixa de existir, logo a causa do enriquecimento do credor também deixou.
Art. 885. A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas também se esta deixou de existir.”
É uma ação de indenização ou de responsabilidade civil, portanto, enquadra-se nos art. 927, 186 e 187 do Código Civil.
O objetivo da responsabilidade civil é reparar qualquer dano que venha a diminuir o bem jurídico da vítima. Neste caso, o bem jurídico é o dinheiro. Ou seja, aquele credor que causa prejuízo pecuniário ao devedor, cobrando a mais ou cobrando por algo que ele já pagou, fica com o ônus de indenizá-lo:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”
DOS DANOS MORAIS – MERO DISSABOR
Trata-se de um mero dissabor da vida cotidiana da parte autora ter passado pela presente situação, portanto não háa aplicação de danos morais ao presente caso. 
RECURSO INOMINADO. INSURGÊNCIA PELA REJEIÇÃO DO PEDIDO DE DANO MORAL. INEXISTÊNCIA DE CONTRATAÇÃO. CARTAS ENVIADAS AO ENDEREÇO DO RECORRENTE COM FATURA DE COBRANÇA E LIGAÇÕES TELEFÔNICAS QUE POR SÍ SÓ NÃO GERAM ABALOS AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. DANO NÃO CONFIGURADO. DEVER DE INDENIZAR INEXISTENTE. SENTENÇA MANTIDA. "RECURSO INOMINADO - AÇÃO DECLARATÓRIA E CONDENATÓRIA - COBRANÇAINDEVIDA - INEXISTÊNCIA DE CONTRATUALIDADE - REVELIA QUE NÃO INDUZ AO JULGAMENTO DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO - CONSUMIDOR QUE COLACIONOU AOS AUTOS APENAS UMA CARTA DE COBRANÇA - MERO DISSABOR - ALEGAÇÃO DE COBRANÇA REITERADA E DESARRAZOADA SOMENTE EM SEDE RECURSAL - INOVAÇÃO - INVIABILIDADE DE CONHECIMENTO DESSA ALEGAÇÃO SOB PENA DE CARACTERIZAR SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - RECURSO DESPROVIDO.".
(TJ-SC - RI: 20161001071 Garopaba 2016.100107-1, Relator: Cláudio Eduardo Regis de Figueiredo e Silva, Data de Julgamento: 11/05/2017, Primeira Turma de Recursos - Capital)
Portanto, não caberiam Danos Morais. 
Posto isto, passo ao Mérito. 
1- condenar a acionada na devolução em DOBRO do que indevidamente for descontado do benefício da demandante, descontos estes aquilatados em R$ 222,88 (duzentos e vinte e dois reais e oitenta e oito centavos), devendo ser condenada em Danos Materiais (Repetição de Indébito) no importe de R$ 445,76 (quatrocentos e quarenta e cinco reais e setenta e seis centavos);
2- Seja a parte ré condenada ao pagamento de custas processuais e honorários sucumbenciais ao advogado da parte autora, em caso de eventual recurso.
3- SÃO INDEVIDOS OS DANOS MORAIS.

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