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Ciências Sociais - Av1 - Estácio

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::CULTURA::
A palavra cultura frequentemente é associada a acúmulo de conhecimento. Portanto, escutamos, diversas vezes, expressões que reforçam esta percepção.
Não é correto relacionar cultura com acesso à educação formal, ao conhecimento científico ou à familiaridade com as chamadas belas-artes. É falso associar cultura com acúmulo de conhecimento erudito, já que qualquer indivíduo que faça parte de uma determinada sociedade e que compartilhe com os demais membros desta mesma sociedade valores, crenças, costumes, hábitos alimentares, gostos musicais, etc. possui cultura.
Ao ser praticante de uma religião, gostar de determinado prato, ter como meu esporte preferido o futebol, ter uma noção moral do que é o bem e o mal, participo ativamente da cultura de uma sociedade. Neste sentido, a cultura está presente nos mais variados aspectos de um determinado grupo social. Edward Tylor, ao formular uma definição do que seria cultura, traduziu a sua amplitude: “Cultura é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, direito, costume e outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.(Dias apud Tylor)
Dias acrescenta mais detalhes em sua definição ao afirmar que cultura: “(...) compreende a totalidade das criações humanas. Inclui idéias, valores, manifestações artísticas de todo tipo, crenças, instituições sociais, conhecimentos científicos e técnicos, instrumentos de trabalho, tipos de vestuário, alimentação, construções, animais domésticos, plantas desenvolvidas e aperfeiçoadas pelo homem etc.
Tylor, ao afirmar que este complexo é adquirido pelos indivíduos como membros da sociedade, leva a uma reflexão: como adquirimos cultura? Como herdamos estes hábitos culturais?
Professamos determinada religião, falamos uma língua, temos uma moral que nos faz ter uma visão do que é considerado certo e errado em nossa sociedade, comemos feijão com arroz e nos espantamos quando vemos um chinês se alimentar de insetos, gostamos de um determinado estilo musical, julgamos o que é belo e feio segundo uma visão estética etc. Tudo isso, como adquirimos? Já nascemos com esses hábitos? Filho de peixe, peixinho é?
Não, nós não nascemos com esses hábitos: eles nos foram passados através do processo de socialização. A cultura é transmitida por herança social. Portanto, ela não é transmitida por genética, não é determinada biologicamente. No entanto, as explicações biológicas para os comportamentos humanos estão presentes tanto no senso comum compartilhado por um número expressivo de pessoas, como no campo da ciência, principalmente na psicologia evolucionista e na sociobiologia.
Na pesquisa “identidades de gênero e determinismo biológico: percepções de estudantes de graduação da UFBA”, de 2006, a pesquisadora Ângela Maria abordou as diferenças entre homens e mulheres sob a ótica de 80 estudantes de ambos os sexos dos Cursos de Ciências Biológicas e Pedagogia na Universidade. Os resultados mostraram o quanto a explicação biológica para os comportamentos sociais está presente nas visões ou percepções dos indivíduos: “Sobre o comportamento social, 65% dos estudantes de biologia e 53% dos estudantes de ambos os sexos, concordam que os homens são biologicamente programados para a luta pela sobrevivência enquanto as mulheres o são para a preservação da espécie.”
Para estes estudantes, os diferentes papéis desempenhados por homens e mulheres não seriam uma construção social, ou seja, fruto do processo de socialização, mas sim determinados biologicamente.
A maioria dos antropólogos considera que essas crenças nada têm de correto, pois uma das qualidades da espécie humana é a capacidade de romper as suas próprias limitações.
É pelo processo de socialização que herdamos, através do aprendizado, o patrimônio cultural de nossa sociedade. Somos socializados pela família, grupo de amigos, mídia, grupos de profissionais, religiosos e outros. Sou brasileiro, gosto de samba, meu prato preferido é feijoada, mas se, logo ao nascer, fosse levado para outros hábitos culturais e percepções. Minha herança biológica seria brasileira, mas culturalmente eu seria outra pessoa.
Vejam o caso dos brasileiros, descendentes de japoneses, que emigraram para o Japão em busca de melhores oportunidades e que até hoje têm sérios problemas de adaptação aos costumes culturais japoneses.
Laraia, citando Clifford Geertz, expõe: “... todos os homens são geneticamente aptos para receber um programa, e este programa é o que chamamos de cultura”. Este programa é instalado de forma progressiva pelo processo de socialização:
“(...) um dos mais significativos fatos sobre nós que pode ser finalmente a constatação de que todos nascemos com um equipamento para viver mil vidas, mas terminamos no fim tendo vivido uma só! Em outras palavras, a criança é apta ao nascer e ser socializada em qualquer cultura existente. Esta amplitude de possibilidades, entretanto, será limitado pelo contexto real e específico onde de fato ela crescer.
Portanto, a cultura determina a forma como os membros de uma determinada sociedade enxergam o mundo e, já que no mundo existem diferentes culturas, ou seja, uma grande diversidade cultural, teremos diferentes visões de mundo nas diferentes sociedades existentes. Imaginem o que um indiano sente quando presencia um ocidental comendo carne bovina, animal sagrado para eles; ou uma mulher ocidental, ao visitar um país islâmico, ter que usar um véu e não freqüentar certos lugares reservados apenas aos homens.
CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO
Como vimos anteriormente o mundo humano é marcado pela diversidade cultural. Portanto, a humanidade comporta diferentes visões de mundo dependendo da sociedade que analisamos. Porém, em vários períodos históricos esta diversidade não veio acompanhada de coexistência pacífica e nem tampouco da tolerância e respeito pelo diferente, ou seja, pelo outro, de outra cultura. Podemos citar vários fatos históricos, como o Nazismo, com sua idéia de superioridade ariana e a pregação do extermínio de inferiores, no caso os judeus e outros povos; Esta tendência de utilizar como referência padrões culturais da sua própria cultura para julgar outras normalmente consideradas inferiores é chamada de etnocentrismo. Esta postura nos legou genocídios e atrocidades como os campos de concentração, limpezas étnicas e preconceitos de toda a ordem. Mesmo no interior de uma determinada sociedade, o etnocentrismo está presente quando, por exemplo, comparamos diferentes regiões do país e seus aspectos culturais e percebemos a tendência de se considerar uma determinada área superior à outra, tanto do ponto de vista econômico quanto do cultural. As “brincadeiras” entre paulistas e cariocas são um exemplo disso.
Oposto ao etnocentrismo, temos o relativismo cultural ou, se preferirem, a relatividade cultural. A postura relativista defende que nenhuma sociedade e sua cultura podem servir de parâmetro para o julgamento de outras. Cada cultura deve ser julgada dentro de seu contexto cultural. Existem gêneros de cultura que são equivalentes a diferentes modos de sentir, celebrar, pensar e atuar sobre o mundo e esses gêneros podem estar associados a certos segmentos sociais. “O problema é que sempre que nos aproximamos de alguma forma de comportamento e de pensamento diferente, tendemos a classificar a diferença hierarquicamente, que é uma forma de excluí-la.”
As culturas são equivalentes. Portanto, é falso estabelecer hierarquias entre as diferentes culturas, julgando umas inferiores e outras superiores.
Tornar-se Humano
Lendas e mitos relatam histórias de heróis que, mesmo crescendo no isolamento, tornaram-se humanos – Rômulo e Remo, Tarzan, Mogli -, apresentando comportamentos compatíveis com os demais seres humanos. Entretanto, para se tornar humano, o homem tem de aprender com seus semelhantes uma série de atitudes que jamais poderia desenvolver no isolamento. Já entre as outras espécies animais, uma cria, mesmo separada de seu grupo de origem, apresentará, com o tempo, as mesmas atitudes de seus semelhantes,na medida em que estas decorrem, sobretudo, de sua bagagem genética e se desenvolvem de forma espontânea.
O cineasta alemão Werner Herzog trata justamente desse tema em seu filme O enigma de Kaspar Hauser, de 1974. Baseado no livro do austríaco Jacob, ele mostra como um homem criado longe de outros seres é incapaz de se humanizar, não conseguindo desenvolver aptidões e reações que lhe dêem identidade e possibilidade de interagir satisfatoriamente com seus semelhantes.
Portanto, para que um bebê humano se transforme em um homem propriamente dito, capaz de agir, viver e se reproduzir como tal, é necessário um longo aprendizado, em que as gerações mais velhas transmitem às mais novas suas experiências, e conhecimentos. Essa característica da humanidade dependeu, entretanto, da nossa capacidade de criar sistemas de símbolos que constituem as linguagens.
Dessa forma, o homem transmite suas experiências e visões de mundo utilizando a comunicação, estabelecendo-se uma íntima identidade entre linguagem, experiência e realidade, que é a base do imaginário e do conhecimento humano.
“Comparado aos outros animais, o homem que não vive apenas em uma realidade mais ampla, vive, pode-se dizer, em uma nova dimensão da realidade... o homem vive em um universo simbólico.”
Por isso, dizemos que o pensamento humano é único, pois demonstrou ser capaz de transformar a experiência vivida em um discurso com significado e de assim transmiti-la aos demais seres, de sua espécie e seus descendentes. Até onde sabemos, ele é o único a conceber acontecimentos, ações e reações sob forma de imagem, que, mesmo na ausência daquilo que lhe deu origem, é capaz de provocar sentimentos e de se fazer conhecer pela reflexão. Por meio do pensamento, o homem pode reviver as situações que o estimularam e que foram arquivadas na memória. 
O homem, portanto, é capaz de abstrair situações e emoções e de transformá-las em imagem, é capaz de simbolizar, de armazenar significados, de separar, agrupar, classificar o mundo que o cerca segundo determinadas características. Dessa habilidade provém a capacidade de projeção, a idéia de tempo e o esforço em preparar o futuro, características que permitem o desenvolvimento da ciência. Esse é o centro de sua capacidade e de sua humanidade.
Ao pensar, ao ser capaz de projetar, ordenar, prever e interpretar, o homem, sempre vivendo em grupos, começou a travar com o mundo ao seu redor uma relação dotada de significado e sentido. O conhecimento do mundo – organizado, comunicado e compartilhado com seus semelhantes e transmitido à descendência – transformou-se em um legado cumulativo fundamental para interpretar a realidade e agir sobre ela, ou seja, deu origem à cultura humana. 
Essa criação simbólica que organiza o mundo e lhe atribui sentido é marcada pelo espaço e tempo que a produz e pelos grupos com quais dividimos nossas experiências, gerando uma multiplicidade ilimitada de interpretações da realidade que nos cerca. É por isso que encontramos padrões de vida, de crenças e de pensamento tão diversos. Porque esses padrões não são apenas conseqüência de uma estrutura genética da espécie, mas do compartilhamento de experiências simbólicas por um determinado grupo humano.
Uma vez que cada cultura tem raízes, significados e características próprias, todas elas revelam, como processos cognitivos, a mesma complexidade. Como culturas, todas são igualmente simbólicas, frutos da capacidade criadora do homem e adaptações de uma vida comum situada em tempo e espaço determinados. Resultam de um incessante recriar, compartilhar e transmitir da experiência vivida e aprendida.
As culturas humanas como processos
Essa capacidade de pensar o mundo, de atribuir significado à realidade e de transmiti-lo aos seus descendentes assegurou ao homem um conjunto de informações e sentidos que é denominado conhecimento. Desde os primeiros vestígios arqueológicos do homem sobre a terra, percebemos que os problemas por ele enfrentados – de sobrevivência, defesa e perpetuação da espécie – apresentaram-se como obstáculos para os quais buscou explicações indagando sobre si mesmo e sobre o mundo onde vive. Esses obstáculos estimularam o desenvolvimento de idéias e seu compartilhamento.
Os mais antigos “cemitérios” humanos, onde se encontram ossadas dispostas em certa posição acompanhadas ou não de alguns objetos, mostram que mesmo o ato de enterrar os mortos respondia questões relativas à vida e à morte e implicava uma escolha da “melhor forma” de ação. Aceita pelo grupo, essa “melhor forma” tendia a se repetir, transformando-se em ritual – uma ação revivida em grupo e explicada em função da resposta coletiva dada ao “para que” e ao “por que” da existência humana.
Tais formas de interpretação da vida tendem a se perpetuar por meio dos ritos e mitos. Ao mesmo tempo, porém, é esse conhecimento acumulado nas tradições que possibilita operar transformações na cultura e na sociedade que as criou. Quando novos obstáculos se apresentam, exigindo a busca de diferentes formas de pensar o mundo, o conhecimento existente evita que se parta do zero para buscar novas fórmulas a serem aplicadas aos problemas, permitindo, assim, a elaboração de propostas mais adequadas e úteis às soluções das dificuldades enfrentadas.
A idéia da relação existente entre as culturas humanas e as condições de vida de cada agrupamento mostra que as diferenças entre elas não são de qualidade nem de nível: as diferenças culturais devem-se às circunstâncias que as cercam, plenas de necessidades e obstáculos a serem ultrapassados e de tradições herdadas do passado. Os diferentes hábitos alimentares, a presença ou não da escrita, ou o desenvolvimento tecnológico são aspectos da cultura que só se explicam em função de sua história e das necessidades enfrentadas. Cada elemento da vida social – tecnologia, linguagens – está ligado a um conjunto de padrões sociais e uma modificação em qualquer um deles altera todo o conjunto. Por isso a adoção de traços culturais, hábitos e novas tecnologias são incorporados ou rechaçados pela cultura sem que os membros se dêem conta, dependendo das condições dadas, do peso das tradições e das necessidades emergentes. Em razão disso, as culturas se tornam muito diversificadas e complexas, invalidando quaisquer comparações que tomem por base um único aspecto de vida social, seja ele qual for, para análise e avaliação das diferentes sociedades. As culturas são conjuntos de crenças, relações, formas de poder, linguagens cuja inter-relação tem sua história.
A respeito disso nos diz Ernst Cassirer: “O que caracteriza o homem é a riqueza e a sutileza, a variedade e a versatilidade de sua natureza.”
A ciência como ramo do conhecimento
Mas, se é o pensamento simbólico uma das principais características da humanidade, os modelos de conhecimento que o homem desenvolveu não foram sempre os mesmos. Dependendo de fatores sociais, da tradição, da influência de outros grupos, da maior ou menor resistência da cultura, os povos desenvolvem diferentes formas de explicação a respeito da vida e da natureza. No Ocidente, durante a Antiguidade, predominou o pensamento mítico e religioso que concebia o mundo com tudo o que rodeia como uma obra divina submetida aos desígnos do criador. Essa mentalidade mítica, que não trata o mundo em suas bases materiais e objetivas, fez com que o desenvolvimento do espírito especulativo fosse preterido em favor de uma reflexão metafísica da natureza. Isso não significa, entretanto, que explicações de base científica não fossem possíveis, mas que se lhes dava menor importância.
ALIENAÇÃO POLITICA: Incapacidade de um povo em se orientar politicamente conforme seus próprios interesses. Ou seja, a não interação do ser humano nas ações que norteiam o contexto político e social, sendo que, muitos não se reconhecem como alienados, por fazerem parte de uma sociedade dogmática.
ALIENAÇÃO ECONÔMICA: Marx define a alienação econômica como exploração do trabalho. O trabalhador produz, mas não recebe o valor merecido pela sua produção. O trabalhadoré, dessa forma, desumanizado e transformado na condição de produto. O homem se aliena da sua humanidade quando é transformado pelas relações de produção em mercadoria.
ALIENAÇÃO FILOSOFICA: 
CAPITAL SIMBÓLICO: Uma medida do prestígio e/ou do carisma que um indivíduo ou instituição possui em determinado campo
INDÚSTRIA CULTURAL: É o nome dado a empresas e instituições que trabalham com a produção de projetos, canais, jornais, rádios, revistas e outras formas de descontração, baseadas na cultura, visando o lucro.
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O DARWINISMO SOCIAL
A expansão da indústria, resultante das Revoluções Burguesas que atingiram os países europeus durante o século XIX, trouxe consigo a destruição da velha ordem feudal e a consolidação da nova sociedade – a capitalista – estruturada no lucro e na produção ampliada de bens. Mas, no final desse século, amadurecido o capitalismo e estabelecidas as bases industriais de produção, a economia européia passa por novo choque: o crescimento do mercado não obedece ao ritmo de implantação da indústria, gerando crises de superprodução que levam à falência milhares de pequenas indústrias e negócios – há um excedente de oferta sobre a demanda, gerando uma guerra concorrencial que, por sua vez, provoca uma queda acentuada da taxa de lucro. Como consequência, as empresas sobreviventes se unem, disputando entre elas o mercado existente e a livre concorrência, que parecia ser a condição geral de funcionamento da sociedade capitalista, foi sendo substituída pela concentração das atividades produtivas nas mãos de um pequeno número de produtores. Começam a se formar grandes monopólios e oligopólios associados a poderosos bancos, que passam a financiar a produção por meio do capital financeiro, gerando dívidas crescentes que só poderiam ser pagas com a expansão do mercado e da produção. Ultrapassar os limites da Europa era a única saída para garantir a sobrevivência dessas indústrias e os lucros desses bancos.
Da mesma forma, não podendo continuar investindo apenas no mercado europeu sem causar novas crises de superprodução, o capital financeiro exigia expansão e a conquista de novos mercados consumidores. A Europa se volta, mais uma vez, para a conquista de impérios além-mar, tendo como principais alvos, nessa época, a África e a Ásia. Nesses continentes podia-se obter matéria-prima bruta a baixíssimo custo, bem como mão-de-obra barata. Havia também pequenos mercados consumidores, além de áreas extensas ideais para investimentos em obras de infraestrutura. Porém, a exploração eficaz das novas colônias encontrava resistência nas estruturas sociais e produtivas vigentes nesses continentes que, de forma alguma, atendiam às necessidades do capitalismo europeu.
Os países europeus tiveram de lidar com civilizações organizadas sob princípios diferentes dos seus, como o politeísmo, a poligamia, formas de poder tradicionais, castas sociais sem qualquer tipo de mobilidade, economia baseada na agricultura de subsistência, no pequeno comércio local e no artesanato doméstico. Assim, tornava-se necessário organizar, sob novos moldes, as nações que conquistavam, estruturando-as segundo os princípios que regiam o capitalismo pois, de outra forma, seria impossível racionalizar a exploração da matéria-prima e da mão-de-obra de modo a permitir o consumo de produtos industrializados europeus e a aplicação rentável dos capitais excedentes nesses territórios.
Transformar esse mundo conquistado em colônias que se submetessem aos valores capitalistas requeria uma empresa de grande envergadura, pois dessa transformação dependiam a expansão e a sobrevivência do capitalismo industrial. A conquista, a dominação e a transformação da África e da Ásia pela Europa exigiam justificativas que ultrapassassem os interesses econômicos imediatos. Assim, a conquista européia revestiu-se de uma aparência humanitária que ocultava a violência da ação colonizadora e a transformava em “missão civilizadora”. Países como Inglaterra, França, Holanda, Alemanha, Itália se apoderavam de regiões do mundo cujo modo de vida era totalmente diferente do capitalismo europeu, buscando transformar radicalmente sua tradição, seus hábitos e costumes. A “civilização” era oferecida, mesmo contra a vontade dos dominados, como forma de “elevar” essas nações do seu estado primitivo a um nível mais desenvolvido. Tal argumento baseava-se no princípio inquestionável de que o mais alto grau de civilização a que um povo poderia chegar seria o já alcançado pelos europeus – a sociedade capitalista industrial do século XIX.
Essa forma de pensar apoiava-se em modelos teóricos desenvolvidos pelas ciências naturais, especialmente o proposto pelo cientista inglês Charles Darwin para explicar a evolução biológica das espécies animais. Muitos cientistas e políticos da época leram as teses de Darwin como se fossem uma explicação teleológica da formação das espécies. Segundo essa idéia, a seleção natural pressiona as espécies no sentido da sua adaptação ao ambiente, obrigando-as a se transformar continuamente com a finalidade de se aperfeiçoar e garantir a sobrevivência. Em consequência, os organismos tendem a se adaptar cada vez melhor ao ambiente, criando formas mais complexas e avançadas de vida, que possibilitam, pela competição natural, a sobrevivência dos seres mais aptos e evoluídos.
(...)
Tais ideias, transpostas para a análise da sociedade, resultaram no darwinismo social – o princípio a partir do qual as sociedades se modificam e se desenvolvem de forma semelhante. Segundo um mesmo modelo e que tais transformações representariam sempre a passagem de uma estágio inferior para outro superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adaptado e mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos – sociedades e indivíduos -, mais fortes e mais evoluídos.
Inspirados nessas concepções evolucionistas, os cientistas sociais estudaram as sociedades tradicionais encontradas na África, na Ásia, na América e na Oceania como “fósseis vivos”, exemplares de estágios anteriores, “primitivos”, do passado da humanidade. Assim, as sociedades mais simples e de tecnologia menos avançada deveriam evoluir em direção a níveis de maior complexidade e progresso na escala da evolução social, até atingir o estágio mais avançado ocupado pela sociedade industrial européia. Essa explicação aparentemente “científica” que justificava a intervenção européia em outros continentes era incapaz de explicar, entretanto, as dificuldades pelas quais passava a própria Europa. Naquela época, como hoje, os frutos do progresso não eram igualmente distribuídos e nem todos participavam das benesses da civilização, Inúmeros movimentos de reivindicação de camponeses e operários provam isso. Como o positivismo explicava essa distorção?

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