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Tratado de Pediatria, SBP (2018) e Diretrizes Brasileiras em PAC (2007) 1 Letícia Marques- P6 PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE (PAC) INTRODUÇÃO • Crianças- 4 a 6 IRAs por ano. Dessas, 2-3 % são pneumonias • 5 das principais causas de morte em crianças < 5 anos • Quanto menor a idade, maior a incidência da pneumonia (< 1 ano) • Pneumonia: infecção do parênquima pulmonar • Broncopneumonia: infecção da via aérea e parênquima. FATORES DE RISCO • Desnutrição, baixa idade, comorbidades, baixo peso ao nascer, permanência em creche, episódios prévios de sibilos e pneumonia, ausência de aleitamento materno, vacinação incompleta. ETIOLOGIA • O patógeno não é identificado em até 60% dos casos de pneumonia, mas o conhecimento do perfil etiológico das pneumonias é indispensável para orientar a terapêutica • Curso clinico semelhante nas diversas etiologias • Os vírus são os principais agentes de PAC em crianças até 5 anos em países desenvolvidos. Quanto mais nova a criança (> 2 meses), maior a chance de ser viral. O vírus sincicial respiratório (VSR) é o mais frequentemente encontrado, seguido dos vírus influenza, parainfluenza, adenovírus e rinovírus. Menos frequentemente, varicela-zóster, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, herpes simples, vírus da caxumba e do sarampo e hantavírus • Os agentes bacterianos, por outro lado, são os principais responsáveis pela maior gravidade e mortalidade por PAC na infância. O Streptococcus pneumoniae ou pneumococo é o principal agente bacteriano de PAC, tendo, ainda, a Haemophilus influenzae e Staphylococcus aureus • Nas pneumonias atípicas, o Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae são os agentes mais importantes e acarretam um quadro menos grave • Os derrames pleurais mais graves são, normalmente, por pneumococo • Algumas crianças apresentam alto risco para infecção pelo pneumococo: infectadas pelo vírus HIV, com imunodeficiências congênitas ou adquiridas, cardiopatas, nefropatas e pneumopatas crônicas • A frequência de coinfecção vírus-bactéria em pacientes com PAC tem variado de 23 a 32%. OBS: Pneumonia nosocomial- é a adquirida após a internação QUADRO CLÍNICO • O quadro clínico pode variar com a idade da criança, o estado nutricional, a presença de doença de base e o agente etiológico, podendo ser mais grave nas crianças mais jovens, desnutridas ou que apresentam comorbidades Tratado de Pediatria, SBP (2018) e Diretrizes Brasileiras em PAC (2007) 2 Letícia Marques- P6 • Costuma ser precedida por um quadro de infecção viral alta • Os principais sinais e sintomas da PAC são febre, tosse, frequência respiratória elevada sem sibilância (taquipneia), tiragem intercostal, estertores finos, dispneia e dor torácica. Sintomas gripais são comuns, bem como otite média. Algumas crianças apresentam dor abdominal, principalmente quando há envolvimento dos lobos pulmonares inferiores (dor referida) • Nas crianças pequenas, dificilmente se encontram alterações localizadas à ausculta respiratória. A sibilância ocorre com maior frequência nas crianças com infecções virais ou por M. pneumoniae ou C. pneumoniae • Os quadros virais podem apresentar febre superior a 39 °C, mas, após o uso de anti- térmicos ou banhos, apresenta uma grande melhora do estado geral, ao passo que nas infecções bacterianas a prostração se mantêm • Na ausência de sibilância, as crianças com tosse e FR elevada (taquipneia) devem ser classificadas como tendo PAC. Os seguintes pontos de corte para taquipneia são utilizados: < 2 meses: FR ≥ 60 irpm 2 a 11 meses: FR ≥ 50 irpm 1 a 4 anos: FR ≥40 irpm PNEUMONIA GRAVE • Crianças com PAC (taquipneia) tiragem subcostal. PNEUMONIA MUITO GRAVE/ COM OUTROS SINAIS SISTÊMICOS • Sinais de gravidade: recusa alimentar, convulsões, sonolência excessiva, estridor em repouso, desnutrição grave, batimento de asa do nariz, tiragem subcostal grave e cianose. PNEUMONIA AFEBRIL • Comum até 3 meses • Em lactentes: podem cursar com antecedentes de conjuntivite e parto vaginal, e sugerem infecção por C. trachomatis. • Em crianças maiores de 5 anos: é comum tosse coqueluchoide e história de contato com pacientes com quadro semelhante. Sugere PAC por Mycoplasma pneumoniae • Piodermites, lesões osteoarticulares antecedendo → empiema pleural – pneumonia estafilocócica). INTERNAÇÃO Sinais de alarme em crianças < 2 meses: • FR ≥60 irpm, saturação < 92 %, tiragem subcostal, febre alta, recusa do seio materno por mais de 3 mamadas, sibilância, estridor em repouso, sensório alterado com letargia, sonolência anormal ou irritabilidade excessiva, convulsão, desnutrição, sinais de hipoxemia, comorbidades (anemia, cardiopatias, pneumopatias) complicações radiológicas (derrame pleural, pneumatocele, abscesso pulmonar) • Qualquer pneumonia nessa faixa etária é considerada grave, por isso a internação. Sinais de alarme em crianças > 2 meses: • Tiragem subcostal, estridor em repouso, recusa de líquidos, convulsão, alteração do sensório e vômito de tudo que lhe é oferecido. • Sepse e insuficiência respiratória (PO2 <92%, taquipneia, taquicardia, dispneia, fadiga respiratória) • Falha da terapêutica ambulatorial • Doença grave concomitante Tratado de Pediatria, SBP (2018) e Diretrizes Brasileiras em PAC (2007) 3 Letícia Marques- P6 • Sinais radiológicos de gravidade (derrame pleural, pneumatoceles, abscesso). Outras situações: • Paciente com insuficiência respiratória aguda, suspeita de pneumonia estafilocócica ou por germe Gram-negativo, sarampo, varicela ou coqueluche precedendo a PAC, imunodepressão e pneumonia hospitalar. DIAGNÓSTICO • O diagnóstico de PAC é eminentemente clínico, RX apenas em casos especiais e laboratório só se necessário • Exame físico: o Observar a modificação do humor, a irritabilidade, a falta de atenção ao ambiente, a habilidade para mamar ou tomar líquidos, a movimentação, o sorriso e a vocalização da criança. o Taquidispneia, tiragem subcostal, batimento de asa de nariz, estridor expiratório continuo (tentativa de elevar a pressão expiratória final)- sinais de gravidade o Em crianças, é frequente o comprometimento brônquico com estertores finos médios e grossos. À ausculta, o murmúrio vesicular poderá estar diminuído na condensação o O frêmito tóraco-vocal estará aumentado nos casos de consolidação e diminuído nos derrames pleurais o A palpação e percussão são pouco reali- zadas o Identificação da clássica síndrome da condensação: frêmito tóraco-vocal aumentado, macicez e estertores crepitantes com sopro tubário • Quando solicitar radiografia de tórax: o Se há dúvida de diagnóstico, embora radiografia normal não exclua pneumonia e radiografia anormal pode ser interpretada como normal; o Pneumonia com hipoxemia, desconforto respiratório, entre outros sinais de gravidade; o Falha de resposta ao tratamento em 48 a 72h ou se piora progressiva, para verificar se há complicações (empiema, pneumotórax, escavação); o Paciente hospitalizado (PA e perfil); o Após 4 a 6 semanas de tratamento, se história de pneumonias recorrentes, sempre no mesmo lobo; suspeita de malformação ou aspiração de corpo estranho; o A radiografia de tórax não deve ser realizada após tratamento de pneumonia com boa resposta clínica. ❖ As pneumonias bacterianas apre- sentam-se com padrão alveolar segmentar ou lobar, broncograma aéreo, abscessos, pneumatoceles, espessamento ou derrame pleurais. As virais causam espessamentos brônquicos e peribrônquicos, infiltrados intersticiais, adenopatia hilar e parahilar, hiperinsuflação e atelectasia. ❖ O Mycoplasma pneumoniae determina alterações radiológicas mistas, ora assumindo padrão viral, orabacteriano, ou ambos. • O diagnóstico microbiológico (hemocultura) é indicado nos casos graves, em crianças internadas ou quando a evolução do paciente é desfavorável. • A pesquisa viral em secreções respiratórias é sensível para a investigação etiológica • O leucograma, nas PAC bacterianas, mostra leucocitose, neutrofilia e ocorrência de formas jovens. Eosinofilia é comum em PAC afebril por chlamydia • Proteína C reativa e VHS elevados para bacterianas • O conhecimento do padrão de resistência/ sensibilidade aos antimicrobianos, com destaque para o pneumococo, é indispensável • A cultura do escarro tem pouca utilidade prática, por não diferenciar infecção de colonização. Normalmente, só funcionam em pneumonias graves • Pode realizar, ainda, métodos sorológicos (mycoplasma e chlamydia) e PCR • Teste de aglutinação do látex para a pesquisa de antígenos do pneumococo e do H. infl uenzae tipo b no líquido pleural ou urina, inclusive até cerca de cinco dias após o início de antibiótico Tratado de Pediatria, SBP (2018) e Diretrizes Brasileiras em PAC (2007) 4 Letícia Marques- P6 • Nos casos hospitalizados, com má evolução, podemos utilizar métodos mais invasivos como broncoscopia, lavado broncoalveolar ou biópsia pulmonar. TRATAMENTO • O tratamento é geralmente empírico, pois é raro identificar sua etiologia antes da introdução da antibioticoterapia, preferencialmente por via oral • O uso de antitérmicos e analgésicos que tragam conforto ao paciente deve ser prescrito; o controle de temperatura deve ser realizado. • Amoxicilina para crianças > 2 meses • Devido à possibilidade de M.pneumoniae pode-se optar pela introdução de macrolídeos (pneumonia atípica), como eritromicina, claritromicina ou azitromicina • Toda criança com pneumonia, que tenha condições clínicas de ser tratada em seu domicílio deve ter uma consulta de reavaliação agendada após 48 a 72h do início do tratamento ou a qualquer momento se houver piora clínica. Caso apresente melhora, o tratamento deve ser mantido até completar sete dias. Por outro lado, se a criança estiver pior ou inalterada cabe avaliar internação hospitalar • Manter a alimentação da criança, particularmente o aleitamento materno, aumentar a oferta hídrica e manter as narinas desobstruídas • Internação: crianças < 2 meses e com sinais de gravidade, comorbidades, problemas sociais, complicações e falha no tratamento • A criança hospitalizada pode necessitar de uso de broncodilatadores, hidratação venosa, correção de distúrbios hidreletrolíticos, oxigenoterapia (quando a saturação de O2 < 92%) • Se a criança permanece com febre ou clini- camente instável após 48-72 h da admissão por pneumonia, deve-se procurar falha do antibiótico e pesquisar complicações, sendo a mais freqüente o derrame pleural • Fisioterapia não é benéfica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Síndrome infecciosa: criança apresenta-se com febre, prostração e sinais inespecíficos de infecção ou toxemia e o exame físico inicial não revela a causa, a pneumonia precisa ser investigada mesmo na ausência de taquipneia e tiragem subcostal • Insuficiência respiratória aguda: a presença de sibilância não é comum na PAC. COMPLICAÇÕES • Derrame pleural, abcesso, atelectasia, pneumatocele, pneumonia necrosante, pneumotórax, fístula broncopleural, hemoptise, septicemia, bronquiectasia, infecções associadas (otite, sinusite, conjuntivite, meningite, osteomielite). PREVENÇÃO • Atualmente, o Brasil dispõe das vacinas pneumocócicas e anti- Haemophilus influenzae tipo B. DESAFIOS • Diagnóstico clinico • Diagnóstico etiológico é raro • Diganóstico radiológico é controverso • A proçacitonina, PCR e IL6 são úteis não são tão uteis e específicos • USG de tórax em casos de derrame pleural • Tratar com penicilina e derivados não é arriscado nos dias atuais Tratado de Pediatria, SBP (2018) e Diretrizes Brasileiras em PAC (2007) 5 Letícia Marques- P6 Tratado de Pediatria, SBP (2018) e Diretrizes Brasileiras em PAC (2007) 6 Letícia Marques- P6 PREVENÇÃO • Hábitos saudáveis de alimentação e higiene, incluindo o saneamento adequado • Reconhecimento precoce e o tratamento adequado das pneumonias na infância • Calendário vacinal atualizado.
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