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É necessário colocar como ponto de partida a ideia de “homem natural” que Rousseau instaurou em sua obra- ideia essa que balizou o pensamento de gerações e até hoje se encontra entre nós. Rousseau explicita principalmente em obras como Emílio/Da Educação que o homem nasce bom, porém o convívio com a sociedade moralmente corrompida o corrompe também (ROUSSEAU, 1999). É digno de nota e crítica que Rousseau se refere à sociedade que ele mesmo estuda e aprimora teoricamente em sua obra O Contrato Social- sendo assim, em O Emilio ele diz que algo que ele mesmo pensou em relação à política e sociologia está fundamentalmente errado (ROUSSEAU, 1962). Essa imagem mítica de Rousseau permeou o imaginário romântico- me refiro aqui ao período cultural majoritariamente chamado de Romantismo- que até hoje é encontrado em algumas situações de mídia e cultura. Na época, por exemplo, inspirou no Brasil o retrato do “bom selvagem”, a mitologia que enaltecia nossos índios (caso clássico de Peri e Ceci do livro O Guarani, bem como Iracema). Além disso, não podemos entender que um adolescente ou uma criança é um indivíduo isolado de seu meio social, como teorizou Rousseau. Parto então dessas imagens que o texto-instigador promove para poder responder à questão.
Para Freud, a violência é a antítese da civilização e recrudescimento do sentimento de análise do outro (FREUD, 1974). Como diz a citação, a violência tem em seu bojo uma relação de poder (ou forças) assimétrica por essência. Sendo assim, assimetrias que sejam explicitadas por indivíduos caracterizam violência: explicitar a diferença de posses (uso da riqueza como fonte de poder), de potência física (“eu sou mais forte que você”), de acesso a meios de modificar a vida alheia (“estou armado, me entrega o dinheiro ou eu te mato”) entre outros matizes de violência. No exemplo anterior citei somente tipos verbais e físicos de violência, mas essa também pode se expressar de maneira psicológica, sexual, patrimonial e moral (MASCARENHAS E COLABORADORES, 2020). 
Sabemos que a adolescência é um período em que se necessita afirmação de si em vários sentidos, mas os mais prementes são a autoafirmação e como indivíduo presente em suas comunidades, atuante nelas, e não mais no papel infantil de dependência, necessidade de ajuda constante e ingenuidade (LEVISKY, 1998). Nessa ecótone, atividades de nível mais extremo são tidas como de alto impacto na afirmação dessa nova identidade. Em contextos em que violências existem de maneira constante, a necessidade de se impor é fundamental para sair da condição de subjugação (condição essa ligada ainda à infância)- e essa afirmação é dada com outra violência. Essa segunda pode não ser comparável diretamente à sofrida pela vítima, como muitas vezes vemos situações de violências urbanas físicas que são derivadas de violências psicológicas em casa). Obviamente o ambiente em que vivem podem influenciar em que tipo de violência será cometida, mas não de maneira positivista, como afirmando que toda criança que tiver acesso a uma arma de fogo se tornará assaltante.
Essa afirmação da nova identidade é tão típica desse momento de vida que na verdade é um sinal do que realmente está ocorrendo no corpo do adolescente. É descrito na literatura científica que na época do desenvolvimento que entendemos como adolescência nosso sistema nervoso central está em uma mudança imensa. As antigas sinapses- conexões neurais cerebrais- inicialmente geradas no cérebro infantil começam a sofrer uma “poda” neuroquímica, sendo eliminadas aquelas sinapses que não são tão estimuladas- ou seja, não recebem impulsos nervosos, não são estimuladas. As que continuam presentes começam a ser reforçadas com novas camadas de bainha de mielina nesses neurônios que formam aquela sinapse (GOGTAY E COLABORADORES, 2004; SPEAR, 2013; SAKAI, 2020). Sendo assim, neurologicamente o cérebro do adolescente está em processo de reforçamento, o que figurativamente também se dá em seus comportamentos de afirmação do que lhe faz sentido.
	Sendo assim, reforçar seu poder através de violências é um dos grandes motivos pelos quais os adolescentes garantem sua afirmação de maneira global- que é uma das partes mais profundas do período. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Gogtay N, Giedd JN, Lusk L, Hayashi KM, Greenstein D, Vaituzis AC, Nugent TF 3rd, Herman DH, Clasen LS, Toga AW, Rapoport JL, Thompson PM. Dynamic mapping of human cortical development during childhood through early adulthood. Proc Natl Acad Sci U S A. 2004 May 25;101(21):8174-9. doi: 10.1073/pnas.0402680101. Epub 2004 May 17. PMID: 15148381; PMCID: PMC419576.
SAKAI, J. Core Concept: How synaptic pruning shapes neural wiring during development and, possibly, in disease. Proceedings of the National Academy of Sciences Jul 2020, 117 (28) 16096-16099; DOI: 10.1073/pnas.2010281117
FREUD, S. O mal-estar na civilização (1929-1930). In:______. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1974. v. XI, p. 73-171. Edição Standard Brasileira.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Brasil das desigualdades: “questão social”, trabalho e relações sociais. SER social, Brasília, v.15, n. 33, p261-384, jul. / dez. 2013 Instituto De Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA - Relatório econômico. Brasília; 2014
LEVISKY, David Leo (org.). Adolescência: pelos caminhos da violência: a psicanálise na prática social. Casa do Psicólogo, São Paulo, 1998.
MASCARENHAS, Márcio Dênis Medeiros et al . Análise das notificações de violência por parceiro íntimo contra mulheres, Brasil, 2011-2017. Rev. bras. epidemiol.,  Rio de Janeiro ,  v. 23, supl. 1,  e200007.SUPL.1,    2020 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2020000200405&lng=en&nrm=iso>. access on  30  Apr.  2021.  Epub July 03, 2020.  https://doi.org/10.1590/1980-549720200007.supl.1.
Spear L. P. (2013). Adolescent neurodevelopment. The Journal of adolescent health : official publication of the Society for Adolescent Medicine, 52(2 Suppl 2), S7–S13. https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2012.05.006

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