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ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 1 ANATOMIA DO SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso é fortemente protegido de acidentes, impactos e infecções. Essa proteção se deve a presença de ossos e outras estruturas. Assim, mesmo que patógenos estejam circulando na corrente sanguínea, geralmente não conseguem entrar no cérebro e na medula espinhal devido a barreira hematoencefálica. Dura-máter (mais externa), aracnoide (intermediária) e pia-máter (mais interna) formam as meninges cranianas que revestem o cérebro e a medula espinal. Entre a pia-máter e aracnoide encontra-se o espaço subaracnóideo, no qual circula o liquor que protege o SNC e mantem a homeostasia. A composição do liquor tem algumas semelhanças com a do plasma, como a presença de íons. As concentrações de sódio, bicarbonato e o pH são semelhantes. Porém, as de potássio, cálcio, glicose, aminoácidos e proteínas são menores no liquor em relação ao plasma. Isso ajuda na identificação de prováveis meningites porque alterações nas concentrações de glicose e proteínas podem estar relacionadas as manifestações de meningites. LANGE: Estudos experimentais sugerem que receptores para patógenos bacterianos estão presentes em células do plexo corioide, o que pode facilitar o movimento desses patógenos para dentro do espaço subaracnóideo. O liquor na meningite bacteriana geralmente é caracterizado por elevações acentuadas na concentração de proteína, um nível de glicose extremamente baixo. Diversos microrganismos podem provocar meningites, tais como: bactérias, vírus, fungos e parasitas. Entres esses microrganismos podemos citar: • Bactérias: Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Mycobacterium tuberculosis, Trepanem palidum, Listeria spp., Enterobacterias, Staphylococcus spp.; • Vírus: Enterovirus (coxackie, poliovirus), arbovírus, vírus da caxumba, vírus do grupo herpes (simples, tipo 6, CMV, Epstein-Barr, varicela-zooster), sarampo, rubéola, HV, parvovírus, adenovírus, rotavírus, coronavirus, entre outros; • Fungos: Cryptococcus neoformans, Histoplasma capsulatum; • Parasitas: Acantamoebas, Naegleria, Toxoplasma gondii, Trypanosoma brucei (causador da doença do sono na África) e Taenia solium (neurocisticercose). BACTÉRIAS CAUSADORAS DE MENINGITES As principais bactérias são Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae. Cada uma possui um tipo de morfologia e por isso, a baciloscopia do liquor ajuda na identificação do patógeno. Algumas bactérias liberam toxinas que irritam as meninges. Poucas espécies de bactérias tem a capacidade de invadir a barreira hematoencefálica para invadir as meninges. Entres os patógenos extracelulares destacam- se: • No recém-nascido: Escherichia coli K1 e Streptococcus agalactiae; • Em crianças e adultos: Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae do tipo B e Streptococcus pneumoniae. Neisseria meningitidis É uma das causadoras de meningites adquiridas na comunidade. O nome Neisseria foi uma homenagem ao médico dermatologista e patologista, Albert Ludwig Sigesmund Neisser, que descreveu o microrganismo responsável pela gonorreia. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO GÊNERO • São diplococcus, gram negativo, achatados lateralmente; • Para identificação laboratorial: oxidase positivo, catalase positivo (exceto N.elongata) e fermentação de açucares; ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 2 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV TORTORA: Catalase: é liberada pelas bactérias como forma de sobrevivência, dificultando a resposta imune do hospedeiro. Degrada H2O2 liberada pelos neutrófilos no processo inflamatório. Oxidase: Quando as bactérias são colocadas em papel de filtro embebido com cloridrato de tetrametilparafenilenodiamina (oxidase), as neissérias rapidamente adquirem uma cor púrpura escura. • A classificação do gênero Neisseria engloba várias espécies. Muitas não causam infecções e estão presentes na microbiota normal como Neisseria mucosa e Neisseria elongata; • Duas espécies são patógenos humanos de grande importância clínica: → Neisseria gonorrhoaea (gonococo): causa a gonorreia (IST), pode causar ofltamia neonatal no recém-nascido (ao passar pelo canal do parto, ele adquire a bactéria da mãe contaminada) e infecções orais; → Neisseria meningitis (meningococo): causadora de meningites; Neisseria meningitidis pode colonizar orofaringe de indivíduos saudáveis (20-50%) e migrar para as meninges (fatores de virulência). Essa parcela de 20-50% portadora da bactéria pode ser assintomática e com isso, ocorre transmissão da bactéria para outros pacientes, por gotículas (fala, espirros e tosse) e contato direto. Essa espécie tem grande importância clinica devido sua rápida progressão e tendência em causar surtos, epidemias e ocasionar eventos invasivos como a doença meningocócica (meningite e/ou meningococcemia). Pode ainda provocar outras alterações em decorrência da disseminação hematogênica (osteomielite, artrite, pericardite e peritonite). Para o desenvolvimento da doença invasiva, há alguns fatores que devem ser considerados: 1. Fatores microbianos que influenciam a virulência das cepas: • Presença de capsula: enquanto se multiplica, a capsula protege a bactéria da fagocitose e do sistema complemento (formação do MAC); • Presença de pili e proteínas de adesão: facilitam a adesão, invasão e passagem da bactéria entre o epitélio; • Proteínas e fosfolipídios de membrana; • Lipo-oligossacarídeo (LOS): é uma endotoxina que tem efeitos tóxicos na doença meningocócica. Mimetiza estruturas da membrana celular, o que facilita a entrada da Neisseria nas células hospedeiras. Após a entrada, a resposta imunológica ocorre pela liberação de IL-6, TNF- alfa, espécies reativas de oxigênio e oxido nítrico, provocando dano endotelial e aumentando a permeabilidade vascular. Isso impacta na passagem da bactéria pela barreira hematoencefálica; JAWETZ: o lipopolissacarídeo (LPS) não apresenta cadeias laterais de antígeno O longas, sendo denominado lipo-oligossacarídeo (LOS). OBS: a diferença na sequência da capsula, das proteínas de membrana e da LOS possibilita a existência de 13 sorogrupos de bactérias (A,B,C,D,H,I,K,L,W135,X,Y,Z,29E). Esses sorotipos causam diferentes manifestações clinicas. Os mais frequentes são A,B,C,Y e W135 que são responsáveis por 90% dos casos de meningites/meningococcemia no mundo. Na Austrália, Europa e Canadá predominam o sorotipo B. Já na África, o sorogrupo A. Nos EUA, é distribuído entre B, C e Y. No Brasil, predomina o sorogrupo C. 2. Condições ambientais que facilitam a exposição e aquisição: maior incidência nos meses secos e frios; 3. Fatores de suscetibilidade do hospedeiro que favorecem a aquisição bacteriana, colonização, invasão e sobrevivência: imunossupressão, doenças crônicas. PATOGÊNESE – parte 1 1. Adesão e Colonização: após o contato com a bactéria por gotículas ou contato direto, a bactéria adere e coloniza o epitélio da nasofaringe mediada por várias adesinas. A Neisseria pode permanecer nesse epitélio por dias ou meses, tornando essa pessoa portador sintomático ou assintomático; LANGE: A bactéria secreta uma protease IgA que inativa anticorpos do hospedeiro e facilita aderência à mucosa. N. meningitidis prende-se a células epiteliais não ciliadas por projeções semelhantes a dedos conhecidas como pili. ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 3 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV 2. Endocitose bacteriana pelas células epiteliais: é a entrada da bactéria pela célula epitelial. Após adesão, as bactérias atravessam a mucosa nasal, atingindo o tecido subepitelial. Além da endocitose bacteriana, pode ocorrer a invasão via vacúolos fagocíticos. Apósessa invasão, a bactéria começa a se dividir por divisão binaria simples; 3. Adesão à camada submucosa; 4. Atinge a corrente sanguínea; LANGE: Uma vez que a barreira mucosa seja violada, as bactérias ganham acesso à corrente sanguínea, onde precisam superar os mecanismos de defesa do hospedeiro para sobreviver e invadir o SNC. A cápsula bacteriana, uma característica comum a N. meningitidis, H. influenzae e S. pneumoniae, é o fator de virulência mais importante nesse aspecto. 5. Resiste à fagocitose e à ação do sistema complemento: devido a presença da capsula, a bactéria escapa da fagocitose e do sistema complemento e desencadeia a reação inflamatória; LANGE: A ativação do complexo de ataque à membrana do sistema do complemento é um mecanismo de defesa do hospedeiro essencial contra doença invasiva por N. meningitidis, e pacientes com deficiências dos componentes tardios do complemento (CS a C9) têm um risco aumentado para meningite meningocócica. A invasão do líquido cerebrospinal por um patógeno meníngeo resulta em permeabilidade aumentada da barreira hematencefálica, onde mecanismos locais de defesa do hospedeiro são inadequados para controlar a infecção. Normalmente, os componentes do complemento são mínimos ou ausentes no líquido cerebrospinal. 6. Intensa reação inflamatória: devido a capsula, LOS e proteínas de adesão; OBS: a Neisseria meningitidis para escapar da resposta imune no sistema respiratório, além da capsula, ela apresenta o pili (adesão da bactéria ao epitélio), ácido siálico (mimetiza o ácido siálico das células hospedeiras) e IgA proteases que clivam a IgA. DEFESA DO TRATO RESPIRATÓRIO A mucosa respiratória tem uma reposta imune diferenciada que promove síntese e liberação de IgA. Além disso, há presença de grande quantidade de macrófagos alveolares prontos para fagocitar, vasos sanguíneos próximos aos alvéolos que facilitam a diapedese de neutrófilos prontos para fagocitar e liberar EROS e óxido nítrico. As células epiteliais que compõem o trato respiratório possuem cílios. O batimento ciliar junto com a liberação de muco promove o clearance, isto é, expulsa para fora o parasita preso ao muco. A presença de reativos de oxigênio ativa macrófagos. Já a presença de oxido nítrico ativa neutrófilos. MECANISMOS MOLECULARES ENVOLVIDOS NA PASSAGEM PELA BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA Existem pelo menos quatro estratégias para um patógeno cruzar uma monocamada de células endoteliais do cérebro (barreira hematoencefálica). 1. Transporte transcelular por transcitose passiva ou induzida por adesão (número 3 da imagem): o microrganismo sai da corrente sanguínea, adere a célula e consegue passar pelo interior das células epiteliais; 2. Passagem paracelular através das junções aderentes rompidas ou abertas (número 2 da imagem): passagem entre as células, através de junções aderentes destruídas pelo microrganismo na parte apical das células; ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 4 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV 3. Ruptura da barreira endotelial devido a um efeito citotóxico direto: microrganismo produz substância citotóxica que destrói a barreira hematoencefálica; 4. Transporte facilitado por leucócitos por fagócitos infectados (número 4 da imagem): denominado “cavalo de Troia”, é um processo comum para vírus. O vírus sobrevive dentro do fagócito, que infectado acaba por levar o vírus para o SNC. É provável que Neisseria meningitidis utilize os mecanismos 1 ou 2. É improvável que ela use o mecanismo 3 porque lesões no tecido e hemorragias no espaço subaracnóideo, decorrente de apoptose ou citotoxidade bacteriana, são incomuns durante meningite. O mecanismo 4 é improvável já que essa bactéria é patógeno extracelular e eles não usam leucócitos como veículos para cruzar a barreira. • Mecanismos na interação da Neisseria meningitidis com as células da barreira hematoencefálica humana 1. Fixação da bactéria na superfície, ligando-se nos receptores transmembranas principalmente o CD147. Essa ligação desencadeia uma sinalização no interior das células endoteliais da barreira. Essa sinalização complexa, provoca um rearranjo das proteínas do citoesqueleto; 2. Entres as células da barreira, há proteínas de junções de oclusão, de junções aderentes e desmossomos. A sinalização intracelular induz a clivagem da proteína ocludina da junção de oclusão, formando um poro entres as células, permitindo a passagem da bactéria para o SNC. OBS: a clivagem da ocludina também foi verificada nas bactérias S.pneumoniae, E.coli, S.agalactiae. PATOGÊNESE – parte 2 1. Ultrapassagem da barreira hematoencefálica e entrada no espaço subaracnóide; 2. Liberação da LOS: provoca intensa reação inflamatória local; 3. Ativação dos sistemas MONÓCITO-MACRÓFAGO; 4. Liberação de mediadores inflamatórios IL-1b, IL-6 e TNF-alfa: IL-1 induz a febre, IL-6 induz proteínas da fase aguda e TNF-alfa induz a inflamação; 5. Ativação da cascata de prostaglandinas (degradação ácido araquidônico); 6. Liberação de substancias ativas no processo inflamatório: liberação de leucotrienos (fator quimiotático para recrutamento leucocitário), prostaglandinas (responsável pela dor) e tromboxanos (responsável pela alteração plaquetária); 7. Morte celular: devido a lesão celular causada por grânulos do neutrófilos, presença do TNF, EROS e oxido nítrico; LANGE: apoptose, é causada tanto pela resposta inflamatória imune quanto por toxicidade direta de componentes bacterianos, e, clinicamente, pode estar associada com deficiência cognitiva como uma sequela de longo prazo da meningite. 8. Hipertensão intracraniana (histamina) associado com aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica: histamina é liberada pelos mastócitos e está associada com aumento da permeabilidade da barreira, aumentando a pressão intracraniana. LANGE: A liberação de citocinas e enzimas proteolíticas leva à perda de integridade da membrana, com resultante tumefação celular. O desenvolvimento de edema encefálico contribui para um aumento da pressão intracraniana, resultando potencialmente em herniação encefálica ameaçadora para a vida. Edema encefálico vasogênico é causado principalmente pelo aumento ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 5 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV da permeabilidade da barreira hematencefálica. Edema encefálico citotóxico resulta de tumefação dos elementos celulares do encéfalo devido a fatores tóxicos provenientes de bactérias ou de neutrófilos. Edema encefálico intersticial reflete obstrução do fluxo do líquido cerebrospinal, como na hidrocefalia. PATOGENICIDADE Os sorotipos da Neisseria meningitidis são responsáveis pelas manifestação de três formas clinicas distintas da doença. 1. Meningite meningocócica • Forma mais comum. Meningite sem meningococcemia (bacteremia que provoca alterações sistêmicas como problemas de coagulação, dano a suprarrenal e outros órgãos), ou seja, infecção restrita a meninge que apresenta a famosa tríade – cefaleia, febre e rigidez da nuca e vômitos em jato; • O início da febre é abrupto. A tríade pode estar acompanhada de náusea, vômitos, fotofobia e estado mental alterado; • Em crianças, os sintomas podem ter um inicio mais lento, os sinais podem ser inespecíficos e a rigidez da nuca pode estar ausente. Isso torna o diagnostico difícil. 2. Meningococcemia • É uma invasão sistêmica da bactéria, provocando: hipotensão, hemorragia suprarrenal aguda, insuficiência de múltiplos órgãos, choque e morte; • Não é frequente. As pessoas que sobrevivem a meningococcemia, cerca de 10-20% apresentam sequelas, como perda de membros, cicatrizes externas da pele, perda auditiva ou retardo mental;• A meningite associada a septicemia (meningococcemia) provoca o colapso circulatório com coagulação intracelular disseminada, formando hemorragias e petequeias (denominada de Síndrome Waterhouse-Friderichsen, caracterizada também por insuficiência da suprarrenal, retração de células endoteliais, ruptura capilar, hemorragias em diferentes órgãos, adesão de leucócitos tentando combater a infecção e formação de pequenos trombos); • Pela liberação de endotoxinas da Neisseria meningitidis, ocorre coagulação desregulada, diminuindo a quantidade de plaquetas (se ligam a vasos e órgãos), provocando coagulação intracelular disseminada e falência de órgãos; 3. Meningococcemia sem meningite • Ocorre infecção disseminada mas a Neisseria não atinge as meninges. Por isso, não é possível visualizar o microrganismo no liquor; • Os sintomas são relacionados a sepse: presença de purpura. 4. Outras manifestações • Pneumonia: relacionada a pacientes que já te uma doença pulmonar de base ou algum fator que contribui como fumantes. É a complicação menos grave da doença: após a nasofaringe, a bactéria não atinge a corrente sanguínea e migra para o trato respiratório inferior; • Endocardite; • Artrite; • Conjuntivite; • Faringite. EPIDEMIOLOGIA • O homem é o único hospedeiro natural; • Período de incubação é variável: pode variar de 2 a 10 dias, entretanto a média é de 3 a 4 dias após contato inicial. Então, é uma doença de progressão rápida; • Os neonatos raramente adoecem devido a proteção dos anticorpos maternos até os 3 primeiros meses de vida; • Transmissão: pessoa a pessoa (gotículas e aerossol) através de secreções da nasofaringe, que acaba sendo a porta de entrada do patógeno; • Sintomas: febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, vômitos em jato, confusão mental e alterações no liquor; • Incidência é maior em crianças < 5 anos (predomínio no Brasil), pacientes com deficiência dos componentes C5, C6, C7 ou C8 do sistema complemento (característica congênita que favorece a proliferação da bactéria), pacientes com imunodeficiências e pacientes com asplenia (ausência de baço); • Letalidade varia de 10 a 20% e até 20% poderão evoluir com sequelas como surdez e déficit neurológico; • Meningite e meningococcemia mais comumente relacionadas aos sorogrupos B e C; ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 6 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV • Algumas pessoas podem desenvolver imunidade cruzada devido contato com Neisseria não patogênicas, infecções com E.coli e alguns tipos de bacilos gram positivos; • Pneumonia mais relacionada aos sorogrupos Y e W135; • Sorogrupos A: doenças nos países subdesenvolvidos; • Doença é mais comum nos meses secos e frios do ano; DIAGNÓSTICO O principal material de analise é o liquor. Pode-se também analisar o sangue (hemocultura), secreção de nasofaringe e material das petéquias. Não se deve colocar o material na geladeira até semeadura porque a Neisseria é muito sensível a diminuição de temperatura. Realiza-se a baciloscopia e coloração de gram. O liquor recém coletado apresenta-se turvo e com aumento do número de leucócitos que é visível na baciloscopia. Predomina os leucócitos polimorfonucleares, concentração alta de proteínas e baixa de glicose. Pode-se realizar cultura do microrganismo em ágar chocolate a 37°C e atmosfera de 5% CO2 (utiliza a jarra de anaerobiose). Para a amostra de nasofaringe, utiliza-se o meio de cultura Tayer- Martin. Identificação: diplococos gram negativos, oxidase positiva, glicose +, maltose + e sacarose – Com modificação = amarelo Sem modificação = vermelho CARACTERÍSTICAS NA AVALIAÇÃO DO LIQUOR Na meningite bacteriana, há presença grande de células devido ao recrutamento leucocitário, com predomínio de polimorfonucleares e uma diminuição de linfócitos. Toda essa quantidade de células é que torna o liquor turvo. Esse aumento de proteínas está relacionado a albumina e imunoglobulinas devido aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica e produção de imunoglobulinas. Valores baixos de proteínas ocorrem quando há perda de fluido no SNC. Já valores aumentados, quando ocorrem infecções, hemorragias intracranianas, esclerose múltipla, Guillain-Barré, malignidade, algumas anormalidades endócrinas, uso de alguns fármacos e condições inflamatórias. Outro parâmetro importante é a quantidade de glicose. É usado para diferenciar meningite bacteriana de viral. A hipoglicemia no liquor é causada por alterações nos mecanismos de transporte de glicose através da barreira hematoencefálica (já está comprometida) e por sua grande utilização pelas células encefálicas frente a infecção. A bacterioscopia e a cultura são positivas porque têm o microrganismo no liquor. Deve-se coletar o liquor antes de realizar a administração de antibióticos. Se coletar depois, a bacterioscopia e cultura possivelmente serão negativas. Outro marcador que está sendo utilizado é o lactato. Níveis aumentados de lactato indicam destruição do tecido dentro do SNC, causado pela privação de oxigênio. OUTRA FORMAS DE DIAGNÓSTICOS LABORATORIAIS • Detecção direta dos antígenos por aglutinação em látex a partir do liquor coletado: as partículas de látex são sensibilizadas com anticorpos específicos, com metodologia baseada na reação de contato antígeno/anticorpo que permite uma visualização de aglutinação positiva na presença de antígenos específicos. Hoje, já é possível fazer identificação do patógeno por esse teste do látex (H.influenzae tipo b, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus grupo B, E.coli e sorogrupos de N.meningitidis); • Detecção molecular dos antígenos pelo teste de reação em cadeia da polimerase (PCR): após extração, realiza-se amplificação do material genético e a partir de 18-22 ciclos já começa a aparecer positivo. Alguns laboratórios já conseguem identificar qual patógeno está presente de acordo com a temperatura de amplificação e combinação de sequência de bases nitrogenadas. ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 7 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV SINAIS INDIRETOS DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA • Sinal de Kernig: fletir a coxa sob o quadril e realizar a extensão da perna. Se houver sinal de Kernig, no momento da extensão, haverá flexão do pescoço e paciente irá referir dor; • Sinal de Brudzinski: colocar a mão sob o tórax do paciente e realizar flexão do pescoço. Se o sinal de Brudzinski estiver presente, ao realizar essa manobra, o paciente flexiona as coxas e referi dor. TRATAMENTO O fármaco de escolha é a penicilina G. Pode ser usado cefalosporina (7 a 14 dias) e reposição de líquidos. A Neisseria meningitidis apresenta resistência cromossômica às sulfas. PROFILAXIA Evitar contato próximo ao doente de familiares, residentes do mesmo ambiente. Pode ser usado a rifampicina ou sulfonamidas. A imunoprofilaxia é realizada por vacinas para os sorogrupos A, C, Y E W135 para crianças com idade >2 anos. Estão disponíveis quatro tipos de vacinas baseadas em diferentes polissacarídeos capsulares purificados: A, C, A+C e A+C+W+Y. CALENDÁRIO NACIONAL DE VACINAÇÃO INFANTIL No calendário nacional de vacinação infantil está disponível a vacina BCG ao nascer. Essa vacina contém o bacilo de Calmette-Guérin, isto é, Mycobacterium bovis atenuado. Não confere 100% de imunização, mas previne as formas mais graves da meningite tuberculosa e a tuberculose miliar. A vacina DTP/DTPa (primeira dose aos 2 meses) é uma combinação de difteria (Corynebacterium diphiteria), tétano (Clostridium tetani) e pertussis (Bordela pertusis). Chamada de vacina tríplice bacteriana. A vacina Hib é uma combinação contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenza tipo B (conjugada).Em clinicas privadas, essa vacina é combinada com outros componentes. A vacina VIP é a vacina da pólio inativada e VOP é a vacina pólio oral atenuada para os tipos 1 e 3 do poliovírus. A vacina SCR que é a tríplice viral para imunização contra sarampo, caxumba e rubéola. Destaque para as vacinas pneumocócica conjugada (imunização contra o Streptococcus pneumoniae), meningocócica C e A,C,W,Y conjugadas e meningocócica B recombinante. IMUNIZAÇÃO CONTRA MENINGITES • Vacina contra difteria, tétano, coqueluche e H.influenza tipo B (DTP + Hib tetravalente); • Vacina contra H.influenzae tipo B (Hib); • Vacina polissacarídica contra Neisseria meningitidis dos sorotipos A, C,Y e W135 (tetravalente); • Vacina polissacarídica contra Neisseria meningitidis dos sorotipos A e C (bivalente); • Vacina polissacarídica contra Neisseria meningitidis do sorotipo B; • Vacina conjugada (proteína CRM 197 do Corybacterium diphteriae) contra o meningococo do sorogrupo C. Haemophilus influenzae Adquirida na comunidade. Possui vacina – Hib. Haemophilus influenzae, assim denominada devido a uma crença errônea, muito antiga, de que ela fosse a responsável pela influenza. São incapazes de sintetizar partes importantes do sistema de citocromo necessárias para a respiração, obtendo essas substâncias da fração heme, denominada fator X, da hemoglobina sanguínea. É causador de pneumonias e traqueobronquite. É o segundo agente etiológico mais importante causador de pneumonias adquiridas na comunidade em adultos (o primeiro é o S.pneumoniae). Pode causar meningite e sepse. É a causa mais comum de meningite em criança com idade entre 2 meses e 2 anos, sendo responsável por 95% dos casos, principalmente em crianças não vacinadas. Pode causar também otite media e sinusite em crianças entre 6 meses e 2 anos de idade. Sendo que 90% das cepas isoladas dos casos de otite media não são encapsuladas. Pode ainda causar epiglotite, podendo bloquear a traqueia e ser fatal. Além disso, há outras manifestações como pericardite, osteomielite, endocardite, infecção intra- abdominal e infecção do trato urinário. Essas infecções podem ocorrer através da disseminação do Haemophilus na corrente sanguínea. ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 8 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV Algumas espécies podem apresentar capsula polissacarídica e outras não. A diferença na sequência da capsula e de outras proteínas como a PRP (polirribose- ribitolfosfato) presentes na membrana, gerem 6 sorotipos (a-f). Sendo que 95% das doenças invasivas são causadas pelo sorotipo B. Principais fatores de virulência: • LPS (lipopolissacarídeos); • LOS (lipooligosacarídeos); • IgA protease: cliva a IgA da mucosa nasal; • Pili: adesão no epitélio. Haemophilus influenzae pode colonizar a mucosa nasal e a cavidade oral, provocando doença invasiva (presença de capsula) ou não invasiva (ausência de capsula). CARACTERÍSTICAS GERAIS DO GÊNERO • São cocobacilo, gram negativo, oxidase positivo e pleomórfico (podem se apresentar como bacilos curtos também); • Algumas cepas podem apresentar capsula e outras não. Isso é um fator de virulência relacionado ao Haemophilus influenzae e ativação da resposta imune; • Algumas espécies de Haemophilus estão associadas a conjuntivite, otites, sinusites e pneumonias; • Espécies de Haemophilus patogênicos de importância clínica: → Haemophilus influenzae: sorotipos B; → Haemophilus ducreyi: causa IST conhecida como cancro mole; → Haemophilus parainflenzae e Haemophilus aphrophilus: pneumonias e endocardite. • Outros Haemophilus fazem parte da microbiota natural da pele e dos olhos e podem causar doenças: → Haemophilus aegyptius: pode causar conjuntivite purulenta; • Algumas espécies requerem hemoglobina para o crescimento devido fator X e fator V (NAD). PATOGÊNESE – parte 1 1. Entrada do Haemophilus influenzae pela via respiratória: por gotículas e aerossóis, a bactéria adentra o corpo humano; 2. Adesão e colonização bacteriana na nasofaringe e orofaringe; 3. O LPS inibe a função ciliar e ocorre liberação de IgA protease: LPS e outras proteínas inibem a função ciliar das células epiteliais do trato respiratório superior para aumentar o tempo de contato da bactéria com o tecido; 4. Danos na mucosa respiratória; 5. Liberação de TNF-alfa: é importante para o recrutamento leucocitário e modificação da permeabilidade das membranas; TORTORA: A barreira enfraquecida permite a entrada de mais fagócitos, mas também permite que mais bactérias penetrem na região, vindas da corrente sanguínea. 6. Invasão da mucosa até atingir a corrente sanguínea. OBS: as ações dos anticorpos, do sistema complemento e dos fagócitos (principalmente macrófagos), juntamente com o movimento ciliar, produção de muco e presença de IgA, promovem um clearance bacteriano. Entretanto, isso ocorre com as formas não capsuladas. As formas capsuladas tem a capacidade para a corrente sanguínea, principalmente o sorotipo B. PATOGÊNESE – parte 2 1. Bactéria associada à maior virulência da cepa ocorre devido a presença de capsula, o que favorece a disseminação; 2. Dependendo do tipo da cepa do Haemophilus influenza do tipo B: • Capsulado: atinge vários sítios com graves manifestações clinicas (meninges, tecidos subcutâneos, pleura, pericárdio, etc.); • Sem capsula: pode desencadear sinusite e otite média. OBS: ausência de anticorpos anti-PRP (provocada pela falta de imunização) contribui para a infecção bacteriana. 3. Disseminação do Haemophilus influenzae tipo B pela barreira hematoencefálica: pode passar entre as células através das junções rompidas ou abertas (clivagem da ocludina) ou por meio de transporte facilitado por fagócitos infectados. • A liberação de TNF-alfa, desencadeado pela infecção pulmonar do Haemophilus influenzae tipo B capsulada, diminui as proteínas do citoesqueleto das células da barreira hematoencefálica (como a proteína zyxina que é essencial para a junção de oclusão). Isso aumenta a permeabilidade da barreira e facilita a invasão da bactéria. ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 9 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV EPIDEMIOLOGIA • É patógeno humano. A maioria das cepas são patógenos oportunistas e geralmente vivem no hospedeiro sem causar doença (formas sem capsula podem fazer parte da microbiota normal do trato respiratório superior); • Grupos de risco: crianças <5anos e não imunizadas, presença de doenças crônicas, anemia falciforme e asplenia (o baço é responsável pela produção de anticorpos, maturação de linfócitos B e remoção de partículas não desejadas); • A transmissão da bactéria se dá pelo contato com pessoas infectadas (aerossol, gotículas, secreção e contato); • O período de incubação é desconhecido. Alguns estudos apontam o período de 2 a 4 dias; • Cerca de 3 a 5% dos sobreviventes de meningite por Haemophilus influenzae possuem sequelas graves, tais como: déficit auditivo grave e lesões cerebrais permanentes; • Se não for tratada, possui alta mortalidade (cerca de 90%); • A vacinação é a única forma de se prevenir contra a doença e a sua eficácia é de 95-100% após a aplicação do esquema completo de imunização (2, 4 e 6 meses de vida). DIAGNÓSTICO Realiza-se a baciloscopia do liquor e identifica-se bacilos curtos ou cocobacilos gram negativos. Pode-se realizar a cultura de sangue quando há suspeita de disseminação da bactéria. Pode-se utilizar secreção da orofaringe e aspirado traqueal também. Há exames bioquímicos a partir da cultura do microrganismo: glicose +, xilose +, lactose -, sucrose -, manitol -. Essa espécie também reduz nitritos. Pode-se ainda realizar o teste de aglutinação em látex (pesquisa do antígeno PRP presentena capsula da bactéria). Além disso, realizar imunofluorescência para a detecção do agente etiológico: é um preparo de anticorpos específicos ligados a fluoróforo. Se houver a presença do antígeno, o anticorpo liga e ocorre a fluorescência. Pode-se realizar a reação em cadeia da polimerase (PCR). Alguns genes são amplamente pesquisados, tais como: gene lytA – produção de autolisina, gene ply – produção de pneumolisina, gene bexA – proteína envolvida no transporte de material capsular e gene cap b – especifico para o sorotipo B de Haemophilus. TRATAMENTO É recomendado a hospitalização e a utilização de cefalosporina de 3ª geração (ceftriaxone, azitromicina, cloranfenicol + ampicilina). Streptococcus pneumoniae Também esta associada as meningites adquiridas na comunidade. É conhecido como pneumococo, são cocos gram positivos aos pares ou em cadeias curtas. São alfa hemolíticos. Possuem capsula: fator de virulência que protege contra fagocitose e sistema complemento. Tem crescimento em meio de cultura enriquecido e colônias convexas. Com base na variação polissacarídica da capsula, são identificados mais de 90 sorotipos, além dos 20 sorotipos do devido o carboidrato C. São residentes do trato respiratório superior e podem causar: pneumonia, sinusite, otite, bronquite, meningite e bacteremia. Fatores de virulência: ajudam na proliferação e instalação da doença • Presença de neuraminidase, hialuronidase; Hialuronidase: degrada o ácido hialurônico da MEC, desintegrando o epitélio e facilitando a infecção. • Presença de capsula; • Presença de pneumolisina; • Ligantes de fibronectina. É o principal microrganismo causador de pneumonia, sendo responsável por 80% do casos. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO GÊNERO • São cocos em cadeias curtas ou pares, gram positivos e catalase negativos; • É um grupo heterogêneo: classificação sorológica de 20 grupos (A-H e K-V) de acordo com a classificação de Lancefield, baseada na modificação do carboidrato C, presente na parece celular; • As principais espécies são: S.pneumoniae, S.pyogenes, S.agalactiae e S.mutans. RESPOSTA IMUNOLÓGICA Está associada a resposta imune de mucosa: liberação de muco para capturar a bactéria, células ciliadas que fazem movimento ciliar para promover o clearance bacteriano e presença de IgA. ISABELA MATOS – T5 – UFMS CPTL 10 ALINE – MICROBIOLOGIA – BBPM IV PATOGÊNESE 1. Colonização: Streptococcus pneumoniae coloniza o epitélio nasal. Pode ocorrer sinergismo ou antagonismo com a microbiota natural ou com outros vírus, que podem favorecer a colonização bacteriana; 2. Atravessam o epitélio e atingem a corrente sanguínea; 3. Atravessam a barreira hematoencefálica: entre o endotélio ou dentro das células endoteliais. Pode passar pela barreira por transcitose passiva ou induzida por adesão ou através das junções rompidas e abertas; • Streptococcus pneumoniae se liga a receptores da barreira hematoencefálica: receptor do fator ativador de plaquetas, proteína A se liga ao receptor de laminina via adesina do pilus-1, provocando a transcitose da bactéria; • A presença da Streptococcus pneumoniae provoca um aumento dos marcadores pró- inflamatórios e da permeabilidade endotelial. 4. Replicação bacteriana no SNC: a liberação de produtos bacterianos causa toxicidade direta aos neurônios e estimulação da resposta imune inflamatória, o que contribui para uma neurotoxicidade adicional; DIAGNÓSTICO Realiza-se a baciloscopia do liquor. Pode-se realizar a hemocultura caso tenha-se suspeita de disseminação da doença. Pode-se também fazer cultura e analisar a secreção da orofaringe e aspirado traqueal. São utilizados o ágar chocolate e atmosfera de CO2 (utiliza-se jarra de anaerobiose). Tanto a baciloscopia, como a hemocultura devem ser realizadas antes da administração do antibiótico. Pode-se realizar a aglutinação em látex: os antígenos buscados são os da capsula, da pneumolisina e do pilus. Além disso, pode-se realizar a imunofluorescência para a detecção do agente etiológico. PROFILAXIA Vacinação: vacina polissacarídica para 23 sorotipos, para crianças acima de 2 anos. O SUS disponibiliza para os sorotipos 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F e 23F. A vacina é contraindicada em casos de linfomas e crianças abaixo de 2 anos. TRATAMENTO A penicilina é a droga de escolha. Mas algumas cepas podem apresentar resistência (cerca de 10-15%). Pode-se administrar também cefalosporinas, eritromicina, cloranfenicol e vancomicina (para cepas altamente resistentes).
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