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Cíntia Rosa Pereira de Lima VALIDADE E OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS DE ADESÃO ELETRÔNICOS (SHRINK-WRAP E CLICK-WRAP) E DOS TERMOS E CONDIÇÕES DE USO (BROWSE-WRAP): - Um estudo comparado entre Brasil e Canadá - Tese de Doutorado Orientador: Professor Titular Rui Geraldo Camargo Viana Co-Orientador: Professor Michael Geist Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo São Paulo, 2009 ii Cíntia Rosa Pereira de Lima VALIDADE E OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS DE ADESÃO ELETRÔNICOS (SHRINK-WRAP E CLICK-WRAP) E DOS TERMOS E CONDIÇÕES DE USO (BROWSE- WRAP): - Um estudo comparado entre Brasil e Canadá - Tese de Doutorado Direto com bolsa de estágio no Canadá (PDEE – Doutorado Sanduíche) financiada pela CAPES apresentada à Banca Examinadora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Direito. Área de Concentração: Direito Civil Orientador: Professor Titular Rui Geraldo Camargo Viana Co-orientador: Prof. Michael Geist (Professor e Chefe do Departamento de Pesquisa em Internet e Comércio Eletrônico da Faculdade de Direito da Universidade de Ottawa, Canadá) Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo São Paulo, 2009 iii FOLHA DE APROVAÇÃO Cíntia Rosa Pereira de Lima VALIDADE E OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS DE ADESÃO ELETRÔNICOS (SHRINK-WRAP E CLICK-WRAP) E DOS TERMOS E CONDIÇÕES DE USO (BROWSE-WRAP): um estudo comparado entre Brasil e Canadá. Banca Examinadora: 1) Professor Titular Rui Geraldo Camargo Viana (Orientador) 2) _____________________________________________ 3) _____________________________________________ 4) _____________________________________________ 5) _____________________________________________ iv A Deus (O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos os que lhe obedecem; o seu louvor permanece para sempre. Salmos 111:10). Aos meus pais, Izaias Pereira de Lima e Ely Damasceno de Lima. À minha amada avó Isolina Rosa Damasceno, in memoriam. v AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, eu louvo e agradeço a Deus todos os dias pelo rico dom da vida eterna que ele me oferece se for firme e fiel até ao fim e por ter me abençoado durante a execução desta pesquisa. A concretização deste Doutorado contou com o apoio de muitos amigos e colegas, sem os quais este trabalho ficaria inviável. Esta pesquisa contou com a relevante contribuição do Orientador, Professor Titular de Direito Civil da FDUSP, Dr. Rui Geraldo Camargo Viana, a quem agradeço pela valiosa oportunidade, além dos preciosos ensinamentos durante estes últimos cinco anos em que fui sua Monitora vinculada ao Programa de Aperfeiçoamento ao Ensino (PAE) e Assistente de Pesquisas. Outrossim, este trabalho contou com os ensinamentos técnicos do Professor Doutor Michael Geist, Chefe do Departamento de Pesquisa em Internet e Comércio Eletrônico da Faculdade de Direito da Universidade de Ottawa, que aceitou me orientar durante o estágio no exterior (PDEE). Esse apoio recebido durante a pesquisa e redação desta tese foi fundamental para que pudéssemos trazer novidades relevantes à comunidade jurídica brasileira sobre comércio eletrônico. Agradeço, igualmente, a minha família que tem me apoiado desde o início deste Doutorado até a parte final, auxiliando nas revisões e argüições contribuindo para a melhoria do trabalho. Não posso deixar de mencionar o meu sincero agradecimento a: meu pai, Izaias Pereira de Lima; meu irmão, Lucas Damasceno de Lima; a meu primo, Adriano Luiz S. Lima; a meus tios Ricardo Nogueira Damasceno e Kesia Breda Damasceno; a minha cunhada Rute Ester Fernandes Lima; a meus irmãos Priscila Damasceno de Lima e Izaias Pereira de Lima Júnior. À Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior – CAPES minha gratidão pelo fomento durante os 48 (quarenta e oito) meses, com bolsa de estágio no Canadá (PDEE – Doutorado Sanduíche – 2007) possibilitando a dedicação integral à pesquisa científica. Aproveito esta oportunidade para manifestar meu apreço e distinta consideração pela função desempenhada por este Órgão, cuja contribuição à produção acadêmica é de fundamental importância ao Brasil. Agradeço aos funcionários das bibliotecas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em nome do Sr. Jair Bauduíno Ferreira; igualmente, aos funcionários da biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de Ottawa, Brian vi Dickson Law Library, em nome do Sr. Richard J. Harkin, sempre dispostos a ajudar todos aqueles que estão em busca de material de pesquisa. Registro minha gratidão ao Professor Titular Antonio Junqueira de Azevedo, ao Professor Doutor Alcides Tomasetti Júnior e à Professora Giselda M. F. Novaes Hironaka, que se estende a todos os demais Professores do Departamento de Direito Civil pelas conversas jurídicas que muito contribuem para meu desempenho acadêmico. Agradeço, também, a Sra. Lúcia, secretária do DCV, cujo trabalho desenvolvido neste Departamento é fundamental para o exercício das funções de seus Professores e Monitores. As contribuições e críticas dos Professores Carlos Alberto Dabus Maluf e Fernando Scaff durante o exame de qualificação foram muito úteis como um guia para a melhoria dos raciocínios jurídicos, bem como outros aspectos formais. Agradeço, igualmente, as sugestões dadas pela Professora Cláudia Lima Marques, Professor Newton de Lucca e Professor Ian Kerr. Ao amigo especial, Professor Doutor Camilo Zufelato, recentemente aprovado no concurso de ingresso e provimento do cargo de Professor de Processo Civil da Faculdade de Direito da USP – Ribeirão Preto. Não poderia deixar de dedicar um agradecimento especial a este meu caro amigo, fonte de inspiração e em quem me espelho nesta trajetória acadêmica, desde a época da Graduação, evidenciada pela sua dedicação à pesquisa jurídica e à docência. Esse agradecimento é extensivo a minha grande amiga Roberta Masunari, importante colaboradora neste trabalho e aos amigos Eduardo Freitas Alvim e André Luis Tucci, que também contribuiu durante os anos em que fomos colegas de turma na Graduação e, depois, na Pós-Graduação. Outros amigos e pessoas especiais contribuíram para a finalização desta tese, a eles minha gratidão. Ao Antonio Augusto Machado de Campos Neto, por ter revisado cautelosamente este trabalho durante meses a fio; ao Cleber Roque da Silva, pelo companheirismo, por compartilhar a vida fora do mundo jurídico e pelo relevante auxílio na concretização material deste trabalho (impressão e encadernação); a Philippa e Lawrence Lawson, pela acolhida durante os onze meses em que residi na cidade de Ottawa (Canadá) período em que pude conhecer duas pessoas maravilhosas que não mediram esforços para me fazer sentir em casa e tornar o inverno canadense em calorosos jantares de confraternização e discussões jurídicas. A Maria das Graças Pereira Paravani, pelas palavras cotidianas de incentivo, carinho e conforto à luz da Palavra de Deus. vii À Universidade do Estado de São Paulo (UNESP) e a todos os seus funcionários e Professores, em nome do Professor Titular Artur Marques da Silva Filho, por ter me orientado nos primeiros passos da pesquisa jurídica científica. E aos colegas e amigos da XV Turma de Direito da UNESP, meus agradecimentos, tendo em vista o constante apoio desde 1998. Além de tantos outros que contribuiram, cada um a seu modo, para a concretização deste trabalho durante estes longos cinco anos o que impossibilita a identificação individual. A todos vocês: muito obrigada! viii RESUMO LIMA, C. R. P. de. Validade e obrigatoriedade dos contratos de adesão eletrônicos (shrink-wrape click-wrap) e dos termos e condições de uso (browse-wrap): um estudo comparado entre Brasil e Canadá. 2009. 673f Tese de Doutorado – Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Esta tese tem por objeto a investigação dos aspectos legais decorrentes do comércio eletrônico, com ênfase na validade e obrigatoriedade dos contratos de adesão eletrônicos e os denominados termos e condições de uso. Estes negócios jurídicos eletrônicos podem ser divididos em três espécies: a) licenças do tipo “shrink-wrap”, terminologia reservada às compras de software no estabelecimento físico do fornecedor, cujos termos contratuais que vincularão as partes não podem ser visualizados antes da compra do produto, mas tão- somente no decorrer da instalação do software, garantindo-se ao adquirente a possibilidade efetiva de devolução do produto se não concordar com os termos da licença; b) contratos do tipo “click-wrap”, contratos celebrados inteiramente em meio eletrônico, em que o consumidor tem a oportunidade de ler as cláusulas contratuais antes de manifestar, expressamente, sua anuência ou não, clicando em uma caixa de diálogo indicativa de expressões como “eu aceito”, ou outra semelhante; e, c) os termos e condições de uso, denominados pela doutrina estrangeira como “browse-wrap”, disponibilizados no canto inferior de uma página da internet em um hiperlink, vinculando toda e qualquer pessoa, que tão-somente acesse o respectivo site, sem ao menos chamar a atenção do usuário para a existência destes termos ou nem exigindo a manifestação da anuência a tais termos. Os tribunais estrangeiros têm enfrentado a problemática em torno da validade e obrigatoriedade destas práticas comerciais, em especial os “browse-wrap”, cujo formato em que são utilizados descaracteriza-nos com contratos ou condições gerais de contratação, pois o usuário nem ao menos tem consciência da existência de tais termos. Portanto, parte da doutrina e da jurisprudência entende que o “browse-wrap” não se encaixa na definição de contrato, mas são termos unilateralmente propostos por uma das partes sem que a outra possa ter efetivo conhecimento a respeito. Se, por um lado, há necessidade de reconhecer os efeitos obrigatórios dos contratos de adesão eletrônicos, fortalecendo o comércio eletrônico; por outro lado, a sociedade global exige a efetiva proteção dos consumidores e usuários contra abusos praticados por multinacionais, que operam sem fronteiras geográficas. Assim, juristas e doutrinadores enfrentam um enorme desafio: desenvolver um comércio eletrônico sustentável, equilibrando os interesses comerciais e os direitos dos consumidores. Este trabalho pretende determinar os requisitos jurídicos para a validade dos contratos eletrônicos de maneira científica, analisando o processo de formação contratual em meio eletrônico. Por fim, investiga-se a dúvida acerca da lei aplicável e da jurisdição na era digital, enfatizando a cláusula de eleição de foro, de escolha da lei aplicável e compromissória, bem como seu impacto no acesso à justiça do consumidor. Em suma, esta tese destaca a necessidade de uma legislação uniforme sobre comércio eletrônico e a proteção do consumidor, tendo em vista o alto nível de globalização, para que se possam tutelar os direitos dos consumidores aliados aos interesses econômicos do mercado. Palavras-chave: internet; comércio eletrônico; contrato de adesão; “click-wrap”; “shrink- wrap”; “browse-wrap”; obrigatoriedade; validade; cláusula de eleição de foro; arbitragem; Common Law; Civil Law. ix ABSTRACT LIMA, C. R. P. de. Validity and enforceability of shrink-wrap, click-wrap and browse- wrap: a comparative study of Brazil and Canada. 2009. 673f. Thesis (Doctoral) – Faculty of Law, São Paulo University, São Paulo, Brazil, 2009. This thesis intends to investigate some of the legal issues raised by e-commerce, specifically the validity and enforceability of the electronic adhesion contracts and the terms and conditions of use. Such electronic juridic acts can be grouped into three sub- species: a) the “shrink-wrap” licences, reserved for purchase in the store, but yet the consumer can not view the terms and conditions that she or he will be bound by, once the product (often a software) is installed; the consumer is granted with a period of time within she or he can return the product to the store if she or he does not agree with the terms and conditions; b) the “click-wrap” agreements are contracts presented to the consumer, when dealing on-line, stating the terms and conditions of the purchase, and then, once it’s read, she or he may “point and click” in a dialog box indicating her or his consent (such as “I agree” or some other synonymous expression); and c) the “browse-wrap”, composed by terms and conditions listed in a hyperlink on the bottom of a web page, which obliges the consumer only because she or he surfs on the Web, nevertheless it is not require that the consumer shows any kind of consent to the terms and conditions. Even though some courts have ruled in favor of the validity and enforceability of “browse-wrap”, it is very questionable to accept the fact of being bound by something that one never knew that it even existed. Thus, some other courts are of the view that “browse-wrap” is not technically a contract according to the legal doctrine. Instead it is a sort of private regulation of the disposal of products and services written by the supplier. On one hand, there is a need to enforce electronic commerce in order to stimulate and consolidate it by making electronic contracts binding on consumers. On the other hand, there is a need to protect consumers from the abuse of unequal bargaining power in such contractual relation, which may pit them against a multinational corporation, which operates throughout the world. Thus, jurists and academics must combine efforts to find a sustainable balance between these two sides. Besides there is a need for a uniform and scientific solution, given that a prerequisite to valid contract formation is the unequivocal “meeting of the minds” which may not happen in this means of contract formation, especially if the supplier does not require any clear and effective sign of assent from the consumer. The touchstone of e-commerce is the law and jurisdiction conflicts since such contracts often include a forum selection clause or a mandatory arbitration clause, which can deprive the consumers of their day in court. In short, it highlights the need for a uniform legislation and a strong consumer protection system to ensure the growth of e- commerce. This would foster a reliable electronic environment meeting the consumers’ expectations and the market standards. Keywords: Internet; e-commerce; adhesion contracts; “click-wrap” agreement; “shrink- wrap” licence; “browse-wrap”; enforceability; validity; forum selection clause; arbitration clause, Common Law, Civil Law. x RÉSUMÉ LIMA, C. R. P. de. La validité et le caractère obligatoire des contrats d’adhésion électroniques («shrink- wrap » et « click-wrap » et des conditions d’usage (« browse- wrap ») : une étude comparative entre le Brésil et le Canada. 2009. 673f Thèse de Doctorat – Faculté de Droit, Université de São Paulo, São Paulo, 2009. Cette thèse a l'intention d'examiner certaines questions légales suscitées par le commerce électronique, spécifiquement les contrats d’adhésion électroniques et les conditions d’usage. Ces actes juridiques sont souvent groupés dans trois (3) sous-catégories : a) le « Shrink-Wrap Licences », contrats célébrés lors de la vente de logiciel dans les magasins, dans lesquels le consommateur aura connaissance de ces termes et condition, qui seront obligatoires, au moment de l’installation du logiciel, pouvant restituer le produit s’il n’est pas d’accord avec les conditions générales d’utilisation; b) « Click-Wrap Agreements » , contrats dont les termes et conditionsde la vente, qui obligent le consommateur, sont exposés à l’avance à l’Internet, et le consommateur, après sa lecture, doit « pointer et cliquer » dans une boîte de dialogue indiquant son consentement (exemple : « J’accepte » ou tout autre expression synonyme); et c) « Browse-Wrap Agreements », composés par des conditions généralement inscrites dans un lien hypertexte sur le bas d'une page Web, qui oblige le consommateur qui fait l’utilisation de ce site Internet, sans appeler son attention à l’existence de ces termes ou même de l’exiger le consentement. Bien que certains Cours aient décidé favorablement à la validité et au caractère obligatoire des contrats « browse- wrap », cette thèse vise a démontrer que cette compréhension n’est pas correcte. Ainsi, quelques autres Cours affirment que le « browse-wrap » n’est pas un contrat à l’égard de la doctrine contractuelle et ne s’encadre pas à la définition de contrat. Au contraire, il s’agit plutôt d’une imposition unilatérale des termes par une des parties, de façon à ne permettre pas sa connaissance par l’autre. D’un côté, il faut reconnaître le caractères obligatoire des contrats d’adhésion électroniques, a fin de stimuler et consolider le commerce électroniques. D'autre part, il faut protéger les consommateurs contre les abus pratiqués par les entreprises dans ces types de contrats, surtout face à des sociétés multinationales. Ainsi les juristes doivent faire face à ce défis : faire développer le commerce électronique, de manière à équilibrer les intérêts commerciaux et les droits de consommateurs. Il faut trouver une solution uniforme et scientifique, qui démontre de façon précise l’intention des parties, condition que n’est remplie de façon satisfaisante par les contrats cités, notamment si le fournisseur n'exige pas du consommateur qu’il assure de façon claire et efficace son acceptation aux termes et conditions contractuelles. La problématique du commerce électronique repose sur les conflits de lois et des juridictions, car, dans ces contrats il y a souvent une clause d’élection de juridiction ou une clause d'arbitrage qui peuvent priver les consommateurs d’un accès à la justice. Pour résumer, il est impératif d'avoir une législation uniforme et un système de défense du consommateur fort pour assurer la croissance du commerce électronique, créant un environnement électronique fiable. Mots-clés: Internet ; commerce électronique; contrats d’adhésion; « click- wrap agreement »; « shrink-wrap license »; « browse-wrap »; caractère obligatoire; validité; clause de élection de juridiction ; clause d'arbitrage, Common Law, Civil Law. xi LISTAS DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES A AC – Autoridades Certificadoras AR – Autoridades de Registros Art(s). – artigo(s) ADPIC – Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio (vide TRIPS) ALADI – “Asociación Latino Americana de Integración” (Associação Latino Americana de Integração”) B BGB - Bürgerliches Gesetzbuch (Código Civil Alemão) C Câm. - Câmara Cap(s). – Capítulo(s) c/c – combinado com CC/02 – Código Civil de 2002 (Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002) CC/16 – Código Civil de 1916 (Lei n.º 3.071, de 1º de janeiro de 1916) cf. – conferir CCPL - Creative Commons Public License (Licenças Públicas “Creative Commons” – tradução livre) CDC – Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990) CE – Comunidade Européia CEE – Comunidade Econômica Européia CIDIP – Conferência Interamericana de Direito Internacional Privado CIPSGA - Comitê de Incentivo à Produção do Software GNU e Alternativo CF/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988 CNUDMI - Comissão das Nações Unidas para o Direito Mercantil Internacional, que corresponde à expressão inglessa “United Nations Commission on International Trade Law” (UNCITRAL) CPC – Código de Processo Civil (Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973) CT – Comitê Técnico D Des. – desembargador Dir. – Diretiva DIPr. – Direito Internacional Privado E EC – European Commission (tradução livre de Comissão Européia) ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990) EDI – Electronic Data Interchange, expressão inglesa correspondente à “Intercâmbio Eletrônico de Dados” (vide IED) EU – European Union (vide UE) F FMI – Fundo Monetário Internacional (vide IMF – International Monetary Fund) FSF – Free Software Foundation (Fundação do Software Livre – tradução livre) xii G GAAT – General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) GATS – General Agreement on Trade in Services (Acordo Geral sobre Serviços) GIIC – “Global Information Infrastructure Commission” GNU - General Public License (Licenças Públicas Genéricas – tradução livre) I ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Prestação de Serviços ICT – Information Communication Technology (Tecnologia de Comunicação de Informação, tradução livre) IED – Intercâmbio eletrônico de dados (vide EDI) IMF – International Monetary Fund (vide FMI) IN – Instrução Normativa IRC - Internet Relay Chats ISS – Imposto sobre Serviços de qualquer natureza IT – Information Tecnology (Tecnologia da Informação, tradução livre) J j. – data do julgamento L LICC – Lei de Introdução ao Código Civil (Lei n. 4.657/42) LSSICE - Ley de Servicios de la Sociedad de la Información y de Comercio Electrónico LOCM - Ordenación del Comercio Minorista M MERCOSUL – Mercado Comum do Sul (vide MERCOSUR) MERCOSUR – El Mercado Común del Sur (vide MERCOSUL) MIT - Massachusetts Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) N NAFTA – “North American Free Trade Agreement” ou Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (1º de janeiro de 1994) NCCUSL - The National Conference of Commissioners on Uniform State Laws (“Conferência Nacional dos Comissionários em Uniformização das Leis Estaduais”, tradução livre) O OAB/SP – Ordem dos Advogados do Brasil do Estado de São Paulo OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que corresponde à expressão inglesa Organization for Economic Co-operation and Development (cf. OECD) OECD – Organization for Economic Co-operation and Development (vide OCDE) OMC – Organização Mundial do Comércio (vide WTO) OMPI – Organização Mundial da Propriedade Intelectual ONU – Organização das Nações Unidas Op. cit. – opus citatum (obra citada) P PC – Personal computer (computador pessoal) xiii PIPEDA - Personal Information Protection and Electronic Documents Act (“Lei sobre Proteção da Informação Pessoal e dos Documentos Eletrônicos”) R RE – Recurso Extraordinário Rel. – Relator REsp – Recurso Especial S SME – Small and Medium Enterprise (pequena e média empresa, tradução livre) STJ – Superior Tribunal de Justiça STF – Supremo Tribunal Federal T TJ/SP – Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo TRIPS – Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights (vide ADPIC) U U.C.C. – Uniform Commercial Code (Código Uniforme de Comércio) U.C.C. – Sales – “Uniform Commercial Code – Sales” UCITA - Uniform Computer Information Transactions Act UE - União Européia (vide EU) UECA - Uniform Electronic Commerce Act (“Lei Uniforme sobre Comércio Eletrônico”) UETA – Uniform Electronic Transactions Act (“Lei Uniforme sobre Transações Eletrônicas”) ULCC - Uniform Law Conference of Canada (Lei Uniforme da Conferência de Uniformização da Lei do Canadá) UNCITRAL - United Nations Commission on International Trade Law (vide CNUDMI) UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento – tradução livre) Unidroit - “Institut international pour l’unification du droit privé” (Instituto internacional para a unificação do direito privado) [tradução livre] US – “United States of America” (Estados Unidos da América) U.S.C. –“United States Code” (Código dos Estados Unidos) W WTO – World Trade Organization (vide OMC) xiv VALIDADE E OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS DE ADESÃO ELETRÔNICOS (SHRINK-WRAP E CLICK-WRAP) E DOS TERMOS E CONDIÇÕES DE USO (BROWSE-WRAP): - UM ESTUDO COMPARADO ENTRE BRASIL E CANADÁ - SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ............................................................ p. v RESUMO .............................................................................. p. viii ABSTRACT .............................................................................. p. ix RÉSUMÉ .................................................................................. p. x LISTAS DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES ............................. p. xi INTRODUÇÃO I. Do tema .................................................................................. p. 01 II. Do título ................................................................................ p. 05 III. Do plano de desenvolvimento sistemático .......................... p. 06 NOTAS INTRODUTÓRIAS I - O impacto das novas tecnologias no direito e nos tribunais p. 10 II – A importância da análise comparativa do comércio xv eletrônico face à globalização .................................................... p. 20 III - O predomínio da língua inglesa na linguagem da era digital ......................................................................................... p. 26 IV - Esclarecimento prévio dos termos e expressões inglesas utilizados neste trabalho ............................................................ p. 32 V - Cibernética e Direito ............................................................ p. 35 VI - Software Livre como solução para inclusão digital ........... p. 41 VII - Base de dados disponibilizada online: socializando o conhecimento ............................................................................. p. 52 VIII - Influências do Direito do Autor nas licenças de uso de programa de computador (shrink-wrap licenses) ...................... p. 57 IX - Políticas públicas sobre a disponibilização da cultura, do conhecimento e da informação pela internet (Creative Commons Brasil) ....................................................................... p. 61 CAPÍTULO 1 ASPECTOS JURÍDICOS DO COMÉRCIO ELETRÔNICO 1.1 Os principais obstáculos em torno do comércio eletrônico . p. 69 1.1.1 Despersonalização ............................................................ p. 70 1.1.2 Desmaterialização ............................................................. p. 73 1.1.3 “Desterritorialização” ....................................................... p. 75 1.1.4 Desregulamentação ........................................................... p. 77 1.1.5 Atemporalidade ................................................................. p. 79 1.2 O enfoque dado pelo direito para superar tais obstáculos ... p. 82 1.2.1 Individualização e identificação pessoal .......................... p. 83 1.2.2 A imaterialidade dos produtos e serviços na era digital ... p. 85 xvi 1.2.3 Fronteiras na era digital .................................................... p. 89 1.2.4 Auto-regulação versus Proteção do consumidor no comércio eletrônico ................................................................... p. 90 1.3 Principais diretrizes e recomendações legislativas de caráter supranacional e intergovernamental sobre comércio eletrônico ................................................................................... p. 93 1.3.1 Organização das Nações Unidas (ONU) .......................... p. 94 1.3.1.1 Comissão das Nações Unidas para o Direito Mercantil Internacional (CNUDMI) .......................................................... p. 95 1.3.1.1.1 Recomendação sobre o valor jurídico dos documentos eletrônicos (1985) .................................................. p. 95 1.3.1.1.2 Lei modelo da CNUDMI sobre comércio eletrônico (1996) ......................................................................................... p. 98 1.3.1.1.3 Lei modelo da CNUDMI sobre assinatura eletrônica (2001) ......................................................................................... p. 113 1.3.1.2 Comissão das Nações Unidas sobre a utilização das comunicações eletrônicas nos contratos internacionais (2005) . p. 116 1.3.1.3 Conferência das Nações Unidas sobre comércio e desenvolvimento (UNCTAD) .................................................... p. 120 1.3.2 Organização Mundial do Comércio (OMC) ..................... p. 122 1.3.3 Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) ................................................................... p. 125 1.3.4 União Européia ………………………………………… p. 129 1.3.4.1 Diretiva do Conselho 93/13/EEC, de 05 de abril de 1993, sobre cláusulas abusivas .................................................. p. 131 1.3.4.2 Diretiva 97/7/CE do Parlamento e do Conselho Europeu, de 20 de maio de 1997, sobre a proteção dos consumidores na contratação à distância ................................... p. 135 xvii 1.3.4.3 Diretiva 1999/93/CE do Parlamento e do Conselho Europeu, de 13 de dezembro de 1999, sobre assinaturas eletrônicas .................................................................................. p. 138 1.3.4.4 Diretiva 2000/31/CE do Parlamento e do Conselho Europeu, de 08 de junho de 2000, para a padronização européia do comércio eletrônico ................................................ p. 139 1.3.5 Mercosul ........................................................................... p. 143 1.3.5.1 Resolução 126, de 16 de dezembro de 1994 sobre Defesa do Consumidor .............................................................. p. 147 1.3.5.2 Projeto de Protocolo de Defesa do Consumidor ............ p. 148 1.3.5.3 Protocolo de Buenos Aires ............................................ p. 150 1.3.5.4 Protocolo de Santa Maria ............................................... p. 153 1.4 Análise de algumas legislações estrangeiras sobre comércio eletrônico ................................................................... p. 155 1.4.1 Alguns países da União Européia .................................... p. 156 1.4.1.1 Alemanha ....................................................................... p. 157 1.4.1.2 Bélgica ........................................................................... p. 159 1.4.1.3 Dinamarca ..................................................................... p. 163 1.4.1.4 Espanha .......................................................................... p. 164 1.4.1.5 Finlândia ........................................................................ p. 170 1.4.1.6 França ............................................................................ p. 172 1.4.1.7 Itália ............................................................................... p. 175 1.4.1.8 Portugal .......................................................................... p. 179 1.4.1.9 Reino Unido ................................................................... p. 185 xviii 1.4.1.10 Conclusão sobre o quadro geral na União Européia acerca do comércio eletrônico e da proteção do consumidor .... p. 187 1.4.2 América Latina ................................................................. p. 189 1.4.2.1 Argentina ....................................................................... p. 190 1.4.2.2 Bolívia ............................................................................ p. 197 1.4.2.3Brasil .............................................................................. p. 203 1.4.2.4 Chile ............................................................................... p. 217 1.4.2.5 Colômbia ........................................................................ p. 219 1.4.2.6 Cuba ............................................................................... p. 223 1.4.2.7 Equador .......................................................................... p. 224 1.4.2.8 México ........................................................................... p. 230 1.4.2.9 Paraguai ......................................................................... p. 234 1.4.2.10 Peru .............................................................................. p. 236 1.4.2.11 Uruguai ........................................................................ p. 239 1.4.2.12 Venezuela .................................................................... p. 241 1.4.2.13 Conclusão sobre o quadro geral na América Latina acerca do comércio eletrônico e da proteção do consumidor .... p. 243 1.4.3 América do Norte: Canadá e Estados Unidos ................... p. 244 1.4.3.1 Canadá ........................................................................... p. 244 1.4.3.1.1 “Uniform Electronic Commerce Act” (UECA) ........... p. 245 1.4.3.1.2 “Personal Information Protection and Electronic Documents Act” (PIPEDA) …………………………………… p. 249 1.4.3.1.3 “Internet Sales Contract Harmonization Template” .. p. 251 xix 1.4.3.1.4 Legislações das províncias e dos territórios canadenses sobre comércio eletrônico e proteção do consumidor ................................................................................ p. 254 1.4.3.1.4.1 Alberta ..................................................................... p. 257 1.4.3.1.4.2 Colúmbia Britânica .................................................. p. 258 1.4.3.1.4.3 Ilha do Príncipe Eduardo ......................................... p. 260 1.4.3.1.4.4 Manitoba .................................................................. p. 261 1.4.3.1.4.5 Nova Brunswick ...................................................... p. 262 1.4.3.1.4.6 Nova Escócia ........................................................... p. 262 1.4.3.1.4.7 Nunavut .................................................................... p. 263 1.4.3.1.4.8 Ontário ..................................................................... p. 263 1.4.3.1.4.9 Québec ..................................................................... p. 266 1.4.3.1.4.10 Saskatchewan ......................................................... p. 269 1.4.3.1.4.11 Terra Nova e Labrador ........................................... p. 271 1.4.3.1.4.12 Territórios do Noroeste .......................................... p. 271 1.4.3.1.4.13 Yukon .................................................................... p. 272 1.4.3.2 Estados Unidos .............................................................. p. 272 1.4.3.2.1 “Millenium Digital Commerce Act” ........................... p. 273 1.4.3.2.2 “Electronic Signatures in Global and National Commerce Act” ……………………………………………… p. 275 1.4.3.2.3 “Uniform Computer Information Transactions Act” (UCITA) ……………………………………………………… p. 277 1.4.3.2.4 “Uniform Electronic Transactions Act” (UETA) ...…. p. 279 1.4.3.2.5 “Uniform Commercial Code and Restatements” …… p. 282 xx 1.4.3.2.6 Legislações relevantes de alguns dos Estados Norte- Americanos …………………………………………………… p. 284 1.4.3.2.6.1 “Utah Digital Signature Act”, de 1996 .................... p. 285 1.4.3.2.6.2 Código Civil do Estado da Califórnia ..................... p. 287 1.4.3.2.6.3 “Illinois Electronic Commerce Security Act”, de 1998 …………………………………………………………... p. 289 1.4.3.3 Conclusão sobre o quadro geral no Canadá e nos Estados Unidos, acerca do comércio eletrônico e da proteção do consumidor ........................................................................... p. 290 1.4.4 Legislações de outros países sobre comércio eletrônico .. p. 292 1.4.4.1 Austrália ......................................................................... p. 292 1.4.4.2 Cingapura ....................................................................... p. 296 1.4.4.3 Hong Kong ..................................................................... p. 298 1.4.4.4 Índia ............................................................................... p. 300 1.4.4.5 Malásia ........................................................................... p. 303 1.4.4.6 Rússia ............................................................................. p. 305 1.4.4.7 Conclusão sobre o quadro geral nestes países, acerca do comércio eletrônico e da proteção do consumidor .............. p. 306 CAPÍTULO 2 CONTRATOS E COMÉRCIO ELETRÔNICO: A NECESSÁRIA EVOLUÇÃO DA TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 2.1 Teoria contratual clássica .................................................... p. 311 2.1.1 Princípio da liberdade contratual ...................................... p. 312 2.1.2 Princípio do consensualismo ............................................ p. 316 xxi 2.1.3 Princípio da obrigatoriedade do contrato .......................... p. 317 2.1.4 Princípio da relatividade dos efeitos do contrato .............. p. 320 2.2 Teoria contratual social ........................................................ p. 323 2.2.1 Princípio da boa-fé objetiva .............................................. p. 325 2.2.2 Princípio do equilíbrio contratual ..................................... p. 331 2.2.3 Princípio da função social do contrato .............................. p. 333 2.2.4 Princípio da “Unconscionability” do Common Law ......... p. 338 2.2.5 Princípio da proteção da parte vulnerável ........................ p. 341 2.2.5.1 Princípio da vulnerabilidade do Código de Defesa do Consumidor ................................................................................ p. 344 2.2.5.1.1 Jurisprudência ............................................................. p. 348 2.3 Influência de novos princípios atinentes ao comércio eletrônico na dogmática contratual ............................................ p. 351 2.3.1 Princípio da liberdade de expressão ................................. p. 351 2.3.1.1 Reno versus Aclu ............................................................ p. 354 2.3.2 Princípio da proteção da privacidade ................................ p. 356 2.3.2.1 Cyber Promotions Inc. versus American On-line Inc. .. p. 358 2.3.3 Princípio da liberdade de informação e de autodeterminação ....................................................................... p. 359 2.3.4 Princípio da confiança ...................................................... p. 361 2.3.4.1 Jurisprudência brasileira ................................................ p. 365 2.3.4.2 Jurisprudência canadense (“case law”) ......................... p. 369 xxii CAPÍTULO 3 FORMAÇÃO, VALIDADE E OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS: ESTUDO COMPARADO ENTRE BRASIL E CANADÁ 3.1 Plano da existência .............................................................. p. 373 3.1.1 Civil Law: ......................................................................... p. 377 3.1.1.1 Proposta, oferta ao público e publicidade ...................... p. 378 3.1.1.2 Aceitação ....................................................................... p. 385 3.1.1.3 “Cause” no Código Civil de Québec ............................ p. 387 3.1.2 Common Law:………………………............................... p. 390 3.1.2.1 “Offer” e “invitation to treat” …………………...…... p. 390 3.1.2.2 “Acceptance” ................................................................ p. 396 3.1.2.3 “Consideration” ............................................................. p. 399 3.1.3 Silêncio como manifestação de vontade ........................... p. 401 3.1.4 Conduta como manifestação de vontade .......................... p. 403 3.2 Momento da conclusão do contrato ..................................... p. 404 3.2.1 Civil Law: ......................................................................... p. 405 3.2.1.1 Contrato entre ausentes: o impacto da Teoria da Expedição no comércio eletrônico ............................................. p. 406 3.2.1.2 Contrato entre presentes: o impacto da omissão do Código Civil brasileiro no comércio eletrônico ......................... p. 409 3.2.2 Common Law: o impacto do meio de comunicação ......... p. 410 3.2.2.1 Meio de comunicação instantânea ................................. p. 412 3.2.2.2 Meio de comunicação não-instantânea ......................... p. 414 xxiii 3.3 Local da formação do contrato ............................................ p. 415 3.3.1 Civil Law: ......................................................................... p. 416 3.3.2 Common Law: ................................................................... p. 417 3.4 Plano da validade: aspectos gerais ....................................... p. 418 3.4.1 Civil Law: ......................................................................... p. 419 3.4.2 Common Law: ................................................................... p. 421 3.5 Cláusulas e condições contratuais ....................................... p. 422 3.5.1 Civil Law: cláusulas abusivas e sua regulamentação pelo Código de Defesa do Consumidor ............................................. p. 424 3.5.2 Common Law: a previsão dos “unfair terms” em estatutos e impacto da doutrina da “unconscionability”............ p. 426 3.6 Linguagem contratual .......................................................... p. 428 3.6.1 Requisitos do Civil Law: .................................................. p. 429 3.6.2 Requisitos do Common Law: …………………................ p. 430 3.7 Interpretação contratual ....................................................... p. 431 3.7.1 Critérios do Civil Law ....................................................... p. 432 3.7.2 Critérios do Common Law ................................................ p. 436 3.8 Aspectos históricos, sociais, políticos e econômicos da codificação civil brasileira e do Canadá .................................... p. 438 3.9 Análise crítica e conclusão sobre a comparação entre os dois sistemas jurídicos ............................................................... p. 439 xxiv CAPÍTULO 4 DA PRÁTICA COMERCIAL ELETRÔNICA: ESPECIFICIDADES DOS CONTRATOS DE ADESÃO ELETRÔNICOS E DOS TERMOS E CONDIÇÕES DE USO 4.1 Definição de contrato eletrônico .......................................... p. 440 4.1.1 Contrato informático ......................................................... p. 445 4.1.2 Contrato telemático ........................................................... p. 451 4.2 Consentimento eletrônico .................................................... p. 454 4.2.1 Consentimento automatizado ............................................ p. 459 4.2.2 “Electronic Data Interchange” (EDI) .............................. p. 461 4.2.3 Vícios do consentimento no contexto do comércio eletrônico ................................................................................... p. 463 4.3 Oferta e aceitação eletrônicas .............................................. p. 473 4.3.1 Natureza jurídica da página na internet ............................ p. 477 4.3.2 Da eficácia da retratação da oferta e aceitação eletrônicas p. 482 4.4 Momento e local da celebração do contrato eletrônico ....... p. 484 4.5 Assinatura eletrônica ........................................................... p. 488 4.5.1 Do funcionamento da criptografia .................................... p. 493 4.5.2 Autoridades certificadoras ................................................ p. 496 4.6 Da validade dos documentos eletrônicos ............................. p. 499 4.7 Contratos de adesão eletrônicos e as condições gerais dos contratos ..................................................................................... p. 504 4.7.1 Licenças de uso do tipo “shrink-wrap” ............................ p. 510 4.7.1.1 Conceito ......................................................................... p. 512 xxv 4.7.1.2 Formação: consentimento .............................................. p. 514 4.7.1.3 Validade e obrigatoriedade ............................................ p. 515 4.7.1.4 “Case Law” contra a validade das licenças do tipo “shrink-wrap” ............................................................................ p. 517 4.7.1.4.1 Vault Corp. versus Quaid Software Ltd. ..................... p. 517 4.7.1.4.2 North American Systemshops Ltd. versus King ..…… p. 519 4.7.1.4.3 Step-Saver Data Systems, Inc. versus Wyse Technology ……………………………………………………. p. 520 4.7.1.5 “Case Law” a favor da validade das licenças do tipo “shrink-wrap” ............................................................................ p. 521 4.7.1.5.1 ProCD, Inc. versus Zeidenberg .................................. p. 522 4.7.2 Contratos do tipo “click-wrap” ........................................ p. 524 4.7.2.1 Conceito ......................................................................... p. 526 4.7.2.2 Formação: consentimento eletrônico ............................. p. 528 4.7.2.3 Validade e obrigatoriedade ............................................ p. 530 4.7.2.4 “Case Law” a favor da validade e obrigatoriedade dos contratos do tipo “click-wrap” .................................................. p. 535 4.7.2.4.1 Groff versus America Online Inc. ............................... p. 535 4.7.2.4.2 Caspi versus Microsoft Network, L.L.C. ……….....… p. 536 4.7.2.5 “Case Law” contra a validade e obrigatoriedade dos contratos do tipo “click-wrap” ................................................. p. 537 4.7.2.5.1 Comb versus PayPal, Inc. ........................................... p. 537 4.7.2.5.2 Williams versus America Online Inc. ......................... p. 538 4.7.3 Termos e condições de uso do tipo “browse-wrap” ......... p. 539 xxvi 4.7.3.1 Conceito ......................................................................... p. 541 4.7.3.1.1 Pollstar versus Gigmania Ltd. .................................... p. 544 4.7.3.2 Da inexistência do consentimento eletrônico ................ p. 546 4.7.3.3 “Case Law” a favor da validade e obrigatoriedade dos termos e condições de uso do tipo “browse-wrap” ................... p. 548 4.7.3.3.1 Register.com versus Verio, Inc. .................................. p. 549 4.7.3.3.2 Cairo, Inc. versus Crossmedia Services, Inc. ............. p. 550 4.7.3.4 “Case Law” contra a validade e obrigatoriedade dos termos e condições de uso do tipo “browse-wrap” ................... p. 551 4.7.3.4.1 Ticketmaster Corp. versus Tickets.Com, Inc. ………. p. 552 4.7.3.4.2 Specht versus Netscape Communications Corp. ........ p. 553 4.7.4 Cláusula de eleição de foro: problemática em torno de sua validade ............................................................................... p. 5544.7.4.1 “Case Law” sobre a validade da cláusula de eleição de foro ............................................................................................. p. 559 4.7.4.1.1 America Online, Inc. versus Superior Court (In re Mendoza) ……………………………………………………... p. 559 4.7.4.1.2 Barnett versus Network Solutions ............................... p. 560 4.7.4.1.3 Forrest versus Verizon Communications, Inc. ........... p. 561 4.7.4.1.4 Rudder versus Microsoft Corp. ................................... p. 562 4.7.4.1.5 Lawrence Feldman versus Google, Inc. ..................... p. 562 4.7.5 Cláusula de arbitragem: problemática em torno de sua validade ...................................................................................... p. 563 4.7.5.1 “Case Law” sobre a validade da cláusula de arbitragem p. 567 4.7.5.1.1 In re RealNetworks, Inc. ............................................. p. 567 xxvii 4.7.5.1.2 Lieschke versus RealNetworks Corp. ......................... p. 568 4.7.5.1.3 Hill versus Gateway 2000, Inc. ................................... p. 568 4.7.5.1.4 Licitra versus Gateway, Inc. ....................................... p. 569 4.7.5.1.5 Dell Computer Corp. versus Union des Consommateurs ......................................................................... p. 570 4.7.6 Cláusula de escolha da legislação aplicável (“choice-of- law clause”): problemática em torno de sua validade ............... p. 570 CAPÍTULO 5 DA DÚVIDA ACERCA DA LEI APLICÁVEL E JURISDIÇÃO NA ERA DIGITAL 5.1 Critérios utilizados pelos países do Common Law .............. p. 576 5.2 Critérios determinados pela legislação brasileira: Lei de Introdução ao Código Civil (Lei n. 4.657/1942) ....................... p. 580 5.3 Tendências do Direito Internacional Privado face às inovações do comércio eletrônico ............................................. p. 585 CAPÍTULO 6 DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ÀS RELAÇÕES JURÍDICAS DE CONSUMO ELETRÔNICAS 6.1 A figura jurídica do consumidor na era digital .................... p. 590 6.1.1 Extensão da proteção do Código de Defesa do Consumidor às pequenas e médias empresas ............................ p. 592 6.2 A figura jurídica do fornecedor na era digital ..................... p. 594 6.3 Conceito de bens e serviços na era digital ........................... p. 596 6.4 Direito de arrependimento nas transações eletrônicas ......... p. 597 xxviii CAPÍTULO 7 A BUSCA POR UMA LEGISLAÇÃO UNIFORME GLOBAL SOBRE PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR E COMÉRCIO ELETRÔNICO 7.1 Sugestão legislativa para o Brasil ........................................ p. 603 7.1.1 Projeto de Lei específico sobre comércio eletrônico ........ p. 603 7.1.2 Sugestões de alteração do CC/02 e CPC .......................... p. 604 7.1.3 Sugestões de alteração do CDC ........................................ p. 607 CONCLUSÃO .......................................................................... p. 610 BIBLIOGRAFIA ..................................................................... p. 632 I. Bibliografia referenciada ........................................................ p. 632 II. Bibliografia consultada ......................................................... p. 653 1 INTRODUÇÃO I. Do tema Devido ao intenso receio de ataques nucleares, em 1958, o Presidente norte- americano, Eisenhower, criou um projeto denominado “Advanced Research Projects Agency (ARPA)”, cujo principal objetivo era desenvolver uma tecnologia que permitisse a comunicação militar mesmo em hipótese de ataque nuclear. Esta tecnologia foi, primeiramente, idealizada para estabelecer conexões entre vários computadores interligados em uma espécie similar a uma rede de pescador (“fish net”) ou a uma teia de aranha (“spider web”), denominada ARPANET.1 Aí está a origem do que se conhece, hoje, por internet. Entretanto, a comunicação viabilizada pelo sistema ARPANET restringia a ambientes internos. Em 1972, iniciou-se a transmissão dos dados através do Protocolo de internet, mais especificamente, “Transmission Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP)”, viabilizando a transmissão externa também, o que foi universalmente adotado em 1983.2 No entanto, a possibilidade de transmissão externa (para além dos computadores conectados internamente) gerou certa insegurança, a saber: qualquer indivíduo poderia ter acesso a informações, mesmo as sigilosas. Daí iniciou-se a corrida pelo desenvolvimento de programas de computadores capazes de controlar o acesso, haja vista o “FINGER” desenvolvido no Laboratório de Inteligência Artificial da Universidade de Stanford (“Stanford’s Artificial Intelligence Lab”). A nova tecnologia empregada, que possibilitou a interconexão externa de computadores, viabilizou o uso da internet como um eficaz meio de comunicação. Não demorou muito para o mercado empregar esta tecnologia na realização de negócios. Contudo, o risco de interceptações indesejáveis às comunicações marca o comércio eletrônico. Para evitá-lo, surgiram tecnologias que garantem a identificação pessoal da pessoa que elabora e envia uma mensagem eletrônica, tais como a criptografia assimétrica. 1 GEIST, Michael. Internet Law in Canada. 3. ed. Ontário (CA): Captus Press Inc., 2002. p. 03. 2 Idem ibidem p. 04: “The transformation of ARPANET into today’s Internet began with the development of the Transmission Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP) networking protocol in 1972. Prior to TCP/IP, networks such as ARPANET could only comunicate internally. The TCP/IP protocol, universally adopted in 1983, enabled different networks to interchange data without making any internal changes to the network. The protocol used global addressing, which allowed computers to find network addresses by numeric address with no correlation to geographic location”. 2 Por isso, a doutrina3 aponta três critérios fundamentais para a segurança das informações que circulam na rede mundial de computadores, quais sejam: 1 - a integridade, ou seja, devem-se criar mecanismos que impossibilitem a alteração das informações na rede; 2 - a confidencialidade, para que seja desenvolvida uma estrutura a garantir o sigilo das informações; 3 - a disponibilidade, isto é, a informação deve estar acessível ao usuário desde que autorizado a consultá-la e tenha direito a fazê-lo. Outra questão tormentosa é a possibilidade de invasão à privacidade. A tecnologia empregada na internet possibilita algumas condutas dos empresários de marketing agressivo, cookies4 e spam.5 Para garantir o sistema de comunicação eletrônica contra estes inconvenientes passou-se a adotar, em vários países, o sistema de assinatura criptografada em sistema de chave pública (criptografia assimétrica), por ser uma tecnologia adequada a evitar os incômodos trazidos pela insegurança e ameaça à invasão de privacidade. Além destes empecilhos, o pleno desenvolvimento do comércio eletrônico enfrenta dificuldade referente ao acesso e domínio das novas tecnologias pelo público em geral. Por isso, os entraves tecnológicos e a dificuldade de operar os sistemas operacionais mais antigos, como o DOS, não colaboravam para a disseminação da internet como um meio de comunicação. Mas a partir de 1989, as empresas perceberam a necessidade de desenvolver software que permita ao usuário dialogar com o sistema operacional com maior facilidade, interagindo com a máquina. Neste sentido, a linguagem empregada passou a ser multimídia, um conjunto de cores, sons, telas que surgem com perguntas, que devem ser respondidas pelo usuário através de direcionamento e clique do mouse. Esta maior facilidade no manuseio desta nova tecnologiadeu uma guinada no uso deste meio de comunicação em massa, que passou a ser constantemente utilizado no mercado de consumo. Além disso, mais e mais pessoas passaram a utilizar a internet para pesquisas ou realização de negócios. 3 CONCERINO, Arthur José. Internet e segurança são compatíveis? In: LUCCA, Newton de; SIMÃO FILHO, Adalberto. (coord.). Direito & Internet: aspectos jurídicos relevantes. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 153 – 178. p. 155 - 156. 4 Cookies são programas que “permitem registrar os passos do internauta na rede” para que se obtenha os dados sobre seus costumes e preferências, representando um produto lucrativo e valioso para o marketing. Cf. LORENZETTI, Ricardo Luis. Comércio eletrônico. Tradução de Fabiano Menke. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 396. 5 Spam são correspondências eletrônicas (e-mails) enviados sem solicitação prévia, e “constitui um modo de publicidade que diminui sensivelmente os custos de transação com relação ao correio tradicional, já que, uma vez que se consiga uma lista de usuários, podem-se enviar quantidades enormes de mensagens com baixíssimos custos”. Idem ibidem, loc. cit. 3 Este software foi desenvolvido pelo cientista suíço Tim Berners-Lee, sendo conhecido pela expressão, Hyper-Text Markup Language (HTML), que significa a utilização de hiperlinks, através dos quais com um clique é apresentado ao usuário um novo documento. A utilização dos protocolos em hiperlinks na internet representou um grande avanço na medida em que facilitou o acesso dos usuários, sendo que diversos documentos na rede mundial de computadores podiam ser consultados com um simples clique, documentos localizados em computadores remotos, muitas vezes do outro lado do mundo. Em suma, esta tecnologia favoreceu a criação da rede mundial de computadores, denominada World Wide Web (WWW). 6 Até este ponto a internet era estruturada só em textos, sem figuras nem sons. A utilização da internet em forma multimídia foi possibilitada com o software denominado Mosaic (compatível com os sistemas operacionais UNIX, Windows e Macintosh). Este software espalhou-se com muita velocidade e é utilizado até os dias atuais.7 Atualmente, o desenvolvimento tecnológico acima descrito passou a dominar a maneira pela qual se realizam negócios online. Originariamente, as empresas passaram a distribuir programas de computadores mediante uma licença inserta dentro de um disquete, CD ou DVD, que continha todos os termos e condições de uso do software. O adquirente, ao instalar o produto, comunica com a máquina manifestando sua anuência ou recusa através de cliques sucessivos (“shrink-wrap”). Esta prática comercial foi objeto de análise doutrinária e jurisprudencial, notadamente, nos países do Common Law, que validaram este contrato de adesão condicionando à manifestação posterior de vontade do adquirente ao concordar ou recusar os termos da licença. Esta técnica contratual, por representar inúmeras facilidades referentes à economia de tempo e dinheiro, passou a ser empregada, também, na contratação celebrada por meio da internet, ou seja, em ambiente eletrônico. Assim, as empresas passaram a ofertar seus produtos e serviços online, em suas páginas na internet, em que, antes da 6 GEIST, Michael. Op. cit. p. 04: “The Internet might have remained the province of scientists and the academic community were it not for Tim Berners-Lee, a researcher at the CERN atomic research center in Switzerland. Weary of the trial and error process of finding information on the CERN network, in 1989, Berners-Lee proposed a series of software and network protocols that created the power to browse and navigate among documents by point-and-click commands of the mouse. The new protocol, called Hyper-Text Markup Language (HTML) used hyperlinks to enable users to click on highlighted text and immediately ‘jump’ to a new document. By applying the hyperlinks protocol to the Internet, users could transparently jump between documents on the same computer or on a computer located at the other end of the world – hence the label, World Wide Web”. 7 Idem ibidem p. 05. 4 conclusão do contrato, o adquirente tem a oportunidade de ler as cláusulas contratuais e manifestar sua total adesão ou não. Esta manifestação de vontade é exteriorizada através de cliques sucessivos em caixas de diálogo apresentadas na tela do computador (“click- wrap”). Esta técnica contratual é aceita com maior facilidade pela doutrina e jurisprudência anglo-saxã, porque o consentimento é manifestado após a possibilidade de ler o contrato. No entanto, a sociedade de informação pós-moderna busca, constantemente, a aceleração do tempo. Em outras palavras, na rede mundial de computadores, tudo deve acontecer muito rápido, sob pena de espantar os interessados. Neste contexto, insere-se uma nova prática contratual, em que o adquirente acessa a página na internet do fornecedor, vinculando-se aos termos e condições de uso fixadas discretamente em um hiperlink no canto inferior do site (“browse-wrap”). Diferentemente das figuras anteriores, esta técnica caiu em descrença, pois o fornecedor nem ao menos dá conhecimento da existência dos termos de forma clara e de fácil constatação, o que inviabiliza a real convergência das declarações de vontade (“meeting of the minds”). Esta constatação, feita pelos tribunais e doutrinadores norte- americanos e canadenses, acabou por enfraquecer o uso desta técnica contratual, tendo em vista o grande risco de o fornecedor sofrer a invalidação dos termos. Todas estas siglas designativas de diversas expressões demonstram a grande dificuldade em compreender as novas tecnologias e seu funcionamento. Inclusive, Ricardo Luis Lorenzetti8 critica que as inúmeras obras que versam sobre o tema direito e internet, que tratam as novas tecnologias e a globalização de maneira mistificada. Neste sentido, este trabalho é o resultado de anos de pesquisas, realizado com o intento de aproximar a sociedade brasileira de discussões e temas polêmicos, porém já consolidados na doutrina e jurisprudência norte-americana e canadense. Assim, é fundamental que este trabalho trate, preliminarmente, do impacto das novas tecnologias no direito e nos tribunais, os efeitos da globalização, a produção legislativa sobre o tema em vários países, a adequação do direito dos contratos a esta nova tecnologia, a dúvida acerca da lei aplicável e jurisdição competente para dirimir eventuais litígios decorrentes do comércio eletrônico e os direitos dos consumidores em face a este 8 Comércio Eletrônico. Op. cit., p. 23. 5 novel instrumento negocial, para que os desmistificando, a sociedade possa entender os fatos sociais da sociedade da informação pós-moderna. II. Do título Originariamente, esta tese teve como ênfase a influência das novas tecnologias nos meios de formação dos contratos (momento e lugar de formação dos contratos telemáticos). Nesta linha de pesquisa, deparou-se com um tema problemático e que tem chamado a atenção dos juristas, acadêmicos, do Judiciário e Legislativo dos países da Comunidade Européia, dos Estados Unidos e do Canadá: os contratos de adesão eletrônicos nas seguintes modalidades: as licenças do tipo “shrink-wrap”, os contratos na modalidade “click-wrap” e, mais recentemente, os termos e condições que regulamentam o acesso à determinada página na internet, denominados “browse-wrap”. Estas técnicas contratuais obrigaram a comunidade jurídica a repensar os critérios para a existência de um contrato, isto é, o consentimento expresso ou tácito (decorrente da análise de condutas sociais típicas); a validade deste contrato, bem como sua eficácia (“enforceability”). Portanto, o título extenso desta tese pretendeuser auto-explicativo, tendo em vista a utilização das expressões em inglês, pois sua tradução implica em abalo de seu significado. Destarte, o título indica a investigação de três práticas comerciais telemáticas, a saber: dois contratos de adesão (“shrink-wrap”) e (“click-wrap”); e os termos e condições de uso (“browse-wrap”), cuja natureza jurídica é muito discutida. As expressões, validade e obrigatoriedade, por sua vez, indicam que o estudo destas práticas contratuais recai na formação do vínculo entre as partes; ou seja, as hipóteses de validade, tendo em vista a manifestação do consentimento livre e consciente pelos contratantes e os seus efeitos obrigacionais. Esta discussão compreende a análise de algumas cláusulas contratuais, notadamente, a cláusula de eleição de foro, a cláusula compromissória e a cláusula de escolha da lei aplicável, para contextualizar às novas tecnologias, determinando as hipóteses em que são consideradas abusivas. 6 No desenvolvimento desta pesquisa, tomou-se por base o sistema do Common Law, em especial, o Canadá (Commonwealth), cuja farta jurisprudência e doutrina a respeito oferecem plenos subsídios ao estudo desta matéria. Por isso, o subtítulo desta tese evidencia que o método de análise é o comparativo entre o direito contratual canadense e o brasileiro. Tendo em vista o fato de os tribunais utilizarem os precedentes norte- americanos como argumento de autoridade, foi necessário estender a análise a julgados e, também, a doutrina norte-americana. III. Do plano de desenvolvimento sistemático Preliminarmente, ressaltam-se, nesta tese, alguns pontos importantes para a compreensão do tema (Notas Introdutórias), destacando-se o impacto das novas tecnologias no direito e nos tribunais. Além disso, o fenômeno da globalização é analisado como justificativa para a análise comparativa do comércio eletrônico. Nestes esclarecimentos prévios, trata-se, também, da influência da língua inglesa na era digital, tendo em vista a própria origem norte-americana da internet. E, por isso, é necessária a explicação dos termos e expressões inglesas utilizados no decorrer deste trabalho. Além destas questões preliminares, outros temas relevantes foram evidenciados, a saber: a análise da Cibernética, do Software Livre, da base de dados disponibilizadas online, da influência do direito autoral e das políticas públicas sobre a disponibilização da cultura, do conhecimento e da informação na rede mundial de computador. Constataram alguns fenômenos ou desafios de desconstrução da segurança jurídica, tais como: a despersonalização, desmaterialização, “desterritorialização”, desregulamentação e atemporalidade; para desenvolver o raciocínio dialético sobre a maneira pela qual o direito enfrenta tais obstáculos. Neste contexto, inserem-se os fenômenos ou desafios de reconstrução, quais sejam: as técnicas de individualização e identificação pessoal, a caracterização dos produtos e serviços imateriais, a ficção legal de fronteiras na era digital e a necessária intervenção estatal para regular o comércio eletrônico junto à proteção do consumidor (Capítulo 1). 7 Em seguida, investigam-se as principais diretrizes e recomendações legislativas supranacionais sobre comércio eletrônico (Supcapítulo 1.3) e a adoção destes diplomas por países europeus, latino-americanos, da América do Norte, da Ásia e Oceania (Supcapítulo 1.4), para demonstrar a busca pela uniformização das leis que regulam o comércio eletrônico. Quanto à contratação eletrônica, constata-se que a aplicação dos princípios contratuais tradicionais e sociais a esta nova realidade é conseqüência lógica do sistema (Capítulo 2). E, enquanto não se promulga uma lei específica sobre comércio eletrônico, estes princípios servem de fundamento ao intérprete. Além destes princípios, destacaram- se outros específicos sobre comércio eletrônico, em que se ressalta o princípio da liberdade de expressão, proteção da privacidade, da liberdade de informação e autodeterminação individual além do princípio da confiança. Este estudo irradia seus efeitos na aplicação das normas contratuais sobre a formação, validade e obrigatoriedade do contrato. Por isso, no Capítulo 3, apresenta-se um estudo comparado entre Brasil e Canadá, para demonstrar as semelhanças e diferenças destes sistemas, fundamentando a influência dos julgados e doutrinas sobre contrato telemático norte-americano e canadense no Direito pátrio. Neste ponto, investigam-se as regras sobre proposta, oferta ao público, publicidade, convite a fazer oferta, aceitação, formação do contrato, bem como seu momento e local, as regras sobre as cláusulas abusivas, linguagem e interpretação contratual. O método comparativo é empregado para demonstrar que, devido ao alto nível de globalização, há muitas semelhanças entre o sistema do Common Law e do Civil Law. Além disso, a doutrina e jurisprudência norte-americana e canadense sobre comércio eletrônico são fartas e consolidadas. Por isso, no Capítulo 4 desta tese, dá-se muita ênfase à doutrina e jurisprudência anglo-saxã, tornando imprescindível a análise comparativa deste sistema. As questões mais interessantes sobre comércio eletrônico estão delineadas no Capítulo 4, onde se analisam as características do comércio eletrônico para indicar a definição de contrato eletrônico, marcado pela contratação à distância, em que os contratantes utilizam a internet como meio de comunicação. Neste ponto, explica-se a questão terminológica, evidenciando que “contrato eletrônico” é o gênero, subdividindo-se em duas espécies, a saber: o contrato informático (subcapítulo 4.1.1) e contrato telemático (subcapítulo 4.1.2). Sendo que o 8 objeto de análise desta pesquisa é o contrato telemático, em que as partes utilizam o computador e a internet para manifestar seu consentimento. As formas de consentir na internet têm chamado a atenção dos acadêmicos, devendo-se distinguir dentre o gênero (“consentimento eletrônico”), o consentimento automatizado que é exteriorizado por um programa de computador previamente formatado pela parte para realizar negócios jurídicos telemáticos, em seu nome e por sua conta, conhecido por “agentes eletrônicos” (subcapítulo 4.2.1). Ainda com relação ao consentimento eletrônico, ressaltam-se os vícios do consentimento, notadamente o erro durante a contratação telemática, analisando diversos julgados brasileiros, que já pacificaram o entendimento que o erro na indicação de preço por falha técnica (informática) deve ser considerado invalidante, quando o preço que aparece na tela do computador for irrisório (distinguindo-se preço vil e irrisório). A análise da contratação telemática requer um estudo sobre a oferta e aceitação realizadas por meio eletrônico (subcapítulo 4.3), em que sobressai o questionamento acerca da natureza jurídica da página na internet (subcapítulo 4.3.1). Devido à velocidade das transações eletrônicas, em que o envio de uma mensagem torna-se cada vez mais imediato, a possibilidade de retratação dificulta-se cada vez mais, merecendo um estudo sobre o tema para dar completude à investigação acerca da oferta e aceitação eletrônicas (subcapítulo 4.3.2). Outra tormentosa polêmica em torno do contrato telemático é a fixação do momento e local da celebração do contrato, o que implica na competência do juízo quando algum litígio surgir. Isto se deve ao fato de que a internet, desconhecendo limites geográficos, possibilita a livre circulação de informação e dos bens imateriais. Assim, a possibilidade de atingir o mercado de consumo ilimitadamente é um dos atrativos que estimula o fornecedor a ter uma página na internet (subcapítulo 4.4). Quanto à prova do contrato, destacam-se os temas sobre a assinatura eletrônica, as tecnologias empregadas (criptografia assimétrica), as autoridades certificadoras e os requisitos legaispara atribuir validade jurídica ao documento eletrônico. Finalmente, parte-se para a análise dos contratos de adesão eletrônicos, “shrink-wrap” e “click-wrap” (subcapítulo 4.7), cujo estudo é fundamentado na doutrina e construção jurisprudencial norte-americana e canadense. Além destes contratos, é importante distingui-los do “browse-wrap”, termos e condições fixadas discretamente no canto inferior da página na internet, pretendendo vincular qualquer pessoa que tão-somente acesse o site. 9 Através da análise dos julgados e doutrina norte-americana e canadense, desenvolve-se o conceito destas figuras, analisam a maneira de consentir em cada uma delas, para então, justificar a validade ou invalidade de cada uma destas práticas comerciais eletrônicas. A análise casuística do “shrink-wrap”, “click-wrap” e “browse-wrap” demonstra que o ponto conflituoso é justamente a validade ou não da cláusula de eleição de foro, a cláusula compromissória e a cláusula de escolha da lei aplicável, consideradas em determinadas circunstâncias abusivas. A abusividade destas cláusulas ocorre, principalmente, nos contratos de adesão, cuja imposição é feita pelo estipulante sem deixar margens à discussão do aderente, que, muitas vezes, nem chega ter o conhecimento destas cláusulas, verificando falha no cumprimento do dever de informar do estipulante. Na verdade, a determinação do foro competente e da lei aplicável é muito comum no comércio eletrônico, pois diminui os riscos da parte vir a se submeter ao julgamento das mais diversas localidades. Além destas, a cláusula compromissória já foi muito utilizada, porque representa a maior celeridade no julgamento dos litígios. Hoje esta estipulação caiu em desuso devido à nulidade desta cláusula determinada em quase todas as legislações internacionais. Portanto, não se pode deixar de tratar, ainda que sucintamente, sobre a dúvida acerca da lei aplicável e jurisdição na era digital (Capítulo 5). Neste tema, destaca- se a evolução dos critérios aplicados pelos tribunais norte-americanos, indicando a tendência clara de fixar a lei e jurisdição do país em que se encontre o público alvo. Semelhantemente, os tratados internacionais e o direito comunitário fixaram a regra do domicílio do consumidor. Em seguida, o Capítulo 6 dá ênfase à proteção do consumidor nas tratativas realizadas online, questionando-se a adequação das normas do Código de Defesa do Consumidor brasileiro. Por fim, sugere-se a adoção de uma lei específica brasileira conjuntamente com algumas necessárias mudanças no Código Civil, no Código de Processo Civil e no Código de Defesa do Consumidor (Capítulo 7). 10 NOTAS INTRODUTÓRIAS “A globalização, como ultrapassagem pelos meios técnicos das fronteiras clássicas, fora já sentida na radiodifusão, particularmente por satélite. Mas hoje vai-se muito além.” ASCENSÃO, José Oliveira. Estudos sobre Direito da Internet e da Sociedade da Informação. Coimbra: Almedina, 2001. p. 131. I - O impacto das novas tecnologias no Direito e nos tribunais O Direito não é algo estático; antes, como uma ciência social aplicada, sofre constantes alterações, tendo em vista os elementos históricos, espaciais, econômicos, científicos e culturais de uma determinada sociedade, em determinada época.1 É inegável o impacto das novas tecnologias no mundo jurídico, pois elas influenciam a forma pela qual se cria, interpreta-se e se aplica o Direito. Neste sentido, a doutrina esclarece que “[e]m um mundo onde as fronteiras jurídicas são freqüentemente definidas por fronteiras físicas, os tribunais estão enfrentando desafios ao aplicar as normas tradicionais às novas tecnologias, repletas de especificidades.”2 A solução pode estar na adaptação das leis tradicionais já existentes à nova realidade tecnológica, na mera modificação das mesmas para adequá-las às especificidades deste novo meio de comunicação (e. g., a internet) ou na elaboração de leis específicas sobre o tema. A primeira solução não é a mais adequada, devido às insuficiências e deficiências das leis tradicionais incapazes de abarcar toda a casuística decorrente do 1 O dinamismo jurídico é ressaltado pela doutrina norte-americana, que afirma que o Direito não é um corpo estático composto de regras inflexíveis e tradições rígidas. KIDD Jr., Donnie L.; DAUGHTREY Jr., William H. Adapting contract law to accommodate electronic contracts: overview and suggestions. In: Rutgers Computer and Technology Law Review, vol. 26, p. 215 – 280, 2000. No mesmo sentido: BIANCA BITTAR, Eduardo Carlos. Linguagem jurídica. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 59: “De fato, o ‘Direito’ figura como sendo esse fenômeno de difícil apreensão, dinâmico ab origine, mutante, prenhe de práticas e sistemicamente estruturado”. 2 “In a world where legal boundaries are often defined by physical ones, courts are increasingly faced with the challenge of applying traditional rules to new and unique Technologies”. [tradução livre] ANGELOPOULOS, Tracey. Pavlovich v. Superior Court: Spinning a World Wide Web for California Personal Jurisdiction. In: San Diego Law Review, vol. 39, n. 3, p. 1019 – 1032, verão 2002. (versão eletrônica, sem paginação) 11 comércio eletrônico. A segunda e terceira, por sua vez, são preferíveis; mas não de forma excludente, isto é, não a ponto de excluir a aplicação das leis tradicionais, mas, tão- somente, para regulamentar algumas especificidades, como, por exemplo, a assinatura eletrônica, a validade dos contratos realizados por meios eletrônicos, etc. 3 Quanto à elaboração de leis específicas, estas aumentam em nível mundial a fim de regulamentar o comércio eletrônico. O marco para tanto é a Lei Modelo CNUDMI, cuja transposição foi feita por diversos países.4 Ressaltem-se, ainda, as modificações das legislações vigentes para inserir as fattispeci relacionadas à nova realidade tecnológica como, por exemplo, a alteração no Código Penal brasileiro para incluir crimes praticados por meio da internet; por exemplo, o art. 313-B.5 Em alguns países, como o Canadá, por exemplo, tais alterações aconteceram muito rápido. Em 2001, o Governo Federal propôs alterações ao Código Penal (“Criminal Code”). O projeto de reforma denominado “C-15a”, que entrou em vigor na primavera de 2002, inclui tipos penais relacionados à veiculação de pornografia infantil pela internet. Um destes crimes tipificados é o crime de “Acessar Pornografia Infantil” (“Accessing child pornography”) acrescentado pela subseção 4.1.6 Além disso, acrescentou-se, à seção 164, a subseção 164.17 (“Warrant of seizure”), autorizando, mediante prévia ordem judicial, a 3 KIDD Jr., Donnie L.; DAUGHTREY Jr., William H. Adapting contract law to accommodate electronic contracts…, op. cit. (versão eletrônica) 4 Austrália (1999), China (2004), Colômbia (1999), República Dominicana (2002), Equador (2002), França (2000), Índia (2000), Irlanda (2000), Jordão (2001), México (2000), Nova Zelândia (2002), Paquistão (2002), Panamá (2001), Filipinas (2000), Republica da Korea (1999), Singapura (1998), África do Sul (2002), Tailândia (2002), Venezuela (2001), em muitos Estados Norte-Americanos (1999), nas províncias e nos territórios Canadenses (1999) e Vietnã (2005). Status of 1996 - UNCITRAL Model Law on Electronic Commerce. Disponível em: < http://www.uncitral.org/uncitral/en/uncitral_texts/electronic_commerce/1996Model.html>. Acesso em 23 de maio de 2007. 5 “Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações. Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.” Caput acrescentado pela Lei n.º 9.983, de 14 de julho de 2000.
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