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Relações Privadas e Internet Aula n. 06 24.03.2021 Marcel Edvar Simões Procurador Federal Mestre e Doutor em Direito Civil pela Faculdade de Direito da USP Professor de Direito Digital e Direito Civil • E-mail: mam.simoes@uol.com.br • Grupo no Telegram: Direito Digital c/ Prof Marcel Simões (acesse e ingresse pelo link: t.me/direitodigitalprofmarcel) • Link para a pasta com material da disciplina no onedrive: https://unipead- my.sharepoint.com/:f:/g/personal/marcel_simoes_docente_unip_br/EtzMaFX6OU NNi1zwEMG1ZhEBnweZ99uplMM2K8XyYKwH6g mailto:mam.simoes@uol.com.br mailto:t.me/direitodigitalprofmarcel@uol.com.br https://unipead-my.sharepoint.com/:f:/g/personal/marcel_simoes_docente_unip_br/EtzMaFX6OUNNi1zwEMG1ZhEBnweZ99uplMM2K8XyYKwH6g Ponto II. Contratos eletrônicos 1. Conceitos introdutórios: 1.1. Conceito de contrato: contrato é o acordo entre duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial. (Esse é o conceito expresso no art. 1.321 do Código Civil italiano, igualmente aplicável ao Direito brasileiro). O contrato é uma espécie de negócio jurídico, que se caracteriza (i) por ser de formação no mínimo bilateral; e (ii) por se destinar à constituição, regulação ou extinção de relações jurídicas patrimoniais. ENZO ROPPO: O contrato é a formalização jurídica de uma operação econômica (= operação de circulação de riqueza). 1.2. Conceito de contrato eletrônico: contrato eletrônico é o contrato celebrado por meio de computadores (ou outros dispositivos eletrônicos equivalentes que utilizem software) interligados entre si, em rede local ou na internet, isto é, é o contrato celebrado pela forma eletrônica, em ambiente virtual. A palavra eletrônico está relacionado à eletrônica, que é a parte da Física que trata de circuitos elétricos - a comunicação de dados via computador se faz por meio de impulsos elétricos, o que a caracteriza como comunicação eletrônica. Expressões sinônimas ou quase-sinônimas encontradas na doutrina: contratos do comércio eletrônico (CLÁUDIA LIMA MARQUES), contratos por meio eletrônico (MAURICIO DE SOUZA MATTE), contratos telemáticos (denominação utilizada na França, a partir da ideia de que há, neles, uma conjugação da informática com as telecomunicações). Portanto, o conceito de contrato eletrônico se desenvolve, em primeiro lugar, ligado à forma de celebração do contrato, forma essa que envolve a transmissão eletrônica de dados (e sobre forma, consultem os artigos 104, 107 e 108 do Código Civil). A princípio, os demais elementos de existência e requisitos de validade dos contratos seriam os mesmos: mesmas regras quanto à capacidade dos agentes, a licitude do objeto. Assim estaríamos diante de contratos já conhecidos (como compra e venda, prestação de serviços, locação, doação etc.). Contudo, na medida em que o objeto do contrato celebrado por meio eletrônico passa a poder ser entregue pelo fornecedor não apenas fisicamente (quando se tratar, por exemplo, de um bem material), mas também, em alguns casos, eletronicamente (quando se tratar de um bem imaterial, como por exemplo um software, uma música ou um e-book que seja disponibilizado por meio de download de arquivos), passamos a ter, aí, uma categoria de objeto muito própria (pelo objeto, e não pela forma) dos contratos eletrônicos. Veja-se o livro de BRUNO ZAMPIER, Bens Digitais. RICARDO LUIS LORENZETTI, abordando outro ângulo do tema, afirma que a caracterização do contrato eletrônico pode se dar na forma empregada para a sua celebração, para o seu cumprimento ou para a sua execução. Pode ocorrer eletronicamente apenas uma das etapas, duas ou três, de modo parcial ou total. 1.3. Conceito de contrato informático (que não se confunde com o contrato eletrônico): contrato informático é o contrato que tem por objeto o equipamento ou o serviço de informática, incluindo o desenvolvimento, a venda e a distribuição de hardware, ou de software, ou de outros bens ou serviços relacionados. Três espécies fundamentais (segundo JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO): a) Contrato de hardware (tem por objeto um equipamento); b) Contrato de software (tem por objeto um programa de computador); c) Contrato de manutenção ou assistência (prestação de serviços). Caso prático: A compra de um microcomputador pelo site de uma loja é um contrato eletrônico ou um contrato informático? Caso prático: A compra de um microcomputador pelo site de uma loja é um contrato eletrônico ou um contrato informático? R: ambos! A forma é eletrônica (contrato eletrônico); e o objeto é um bem informático do tipo hardware (contrato informático). 2. Formação dos contratos em geral e formação dos contratos eletrônicos. → Existem três modelos quanto à formação dos contratos CONSENSUAIS. O acordo contratual se forma por três modos: 2.1. Modelo tradicional da proposta e aceitação (a marca é a sucessicividade das manifestações de vontade). Formação mediante conjugação de oferta (proposta) e aceitação. É o que mais acontece, é o modelo adotado pelos códigos, o modelo que é disciplinado preferencialmente pelo CC/2002 (arts. 427 a 435). Tal modelo vem do Common Law inglês. 2.1.1. Como subespécie do modelo baseado na proposta e na aceitação, temos o modelo da formação do contrato por adesão a cláusulas predeterminadas. Trata-se de uma invenção alemã. Caracteriza-se pela existência de cláusulas já predispostas pela contraparte, as quais não podem ser discutidas pelo aderente. Tem o objetivo de economizar tempo. Segundo A. TOMASETTTI, o contrato por adesão é um mal necessário, e esse é um dos motivos pelos quais a lei criou mecanismos de proteção ao aderente, como a interpretação contrária ao interesse daquele que as estipulou (art. 423 do Código Civil). O poder de predisposição das cláusulas é exercido por quem tem o poder contratual, que não se confunde com poder econômico, mas sim de mercado. * É importante ressaltar que grande parte dos contratos celebrados na internet são contratos de adesão (ou contratos por adesão), ou seja, aqueles em que uma das partes (o aderente) não tem poderes para discutir as cláusulas contratuais. É a regra no campo dos contratos para consumo (chamados, em Direito Digital, de B2C – business to consumer). Muitas vezes, a adesão se dá por meio de um clique no “aceito” os “termos de uso” do site (e/ou aplicativo) em que se está navegando. Importante examinar, aqui, a problemática dos contratos de adesão eletrônicos (shrink-wrap e click-wrap) e dos termos e condições de uso (browse-wrap) – estes últimos, aliás, muito contestados judicialmente, quando não haja efetivo conhecimento (ou garantia de conhecimento) pelo usuário. Nos contratos de adesão, celebrados na internet via termos de uso (e política de privacidade) ou não, sempre que houver relação de consumo, aplica-se a disciplina do art. 54 do CDC É imprescindível a elaboração de Termos de Uso e Política de Privacidade como primeiro passo na proteção jurídica de um site e/ou aplicativo de uma empresa, isto é, para obediência da atividade empresarial desempenhada às normas de Direito Digital Privado, inclusive à LGPD (esses dois documentos podem ser consolidados em um único arquivo/link): * Termos de uso: neles, deve-se descrever o conteúdo e finalidade do site ou aplicativo, informando as “regras internas” para uso. Deve-se incluir a proibição de postagens ofensivas ou imorais; e a vedação da reprodução de informações por pessoas não detentoras do direito autoral respectivo. * Política de privacidade: nela é preciso informar como são utilizadas as informações inseridas por usuários e se estas serão compartilhadas com outras pessoas ou empresas parceiras; ou ainda se as informações serão utilizadas para pesquisas que proporcionem melhorar o desempenho do site/aplicativo. Shrink-wrap, click-wrap e browse-wrap: (i) Shrink-wrap: diz respeito às compras de software no estabelecimento físico do fornecedor, cujos termos contratuais que vincularão as partes não podem ser visualizados antes da compra do produto,mas tão-somente no decorrer da instalação do software, garantindo-se ao adquirente a possibilidade efetiva (o direito) de devolução do produto se não concordar com os termos da licença. Note-se: parte do conteúdo do contrato só aparece na hora da instalação. Importância da ciência do aderente, para poder ser vinculado em um contrato. (ii) Click-wrap: diz respeito a contratos celebrados inteiramente em meio eletrônico, em que o consumidor tem a oportunidade de ler as cláusulas contratuais antes de manifestar, expressamente, o seu consentimento ou não, clicando em uma caixa de diálogo indicativa de expressões do tipo “eu aceito”, ou outras semelhantes. São considerados como contratos de adesão juridicamente vinculantes, desde que o texto acompanhando a caixa ou ícone indique claramente que ao ticar no box ou clicar no ícone de “aceito” o usuário está concordando com os termos do acordo. (iii) Browse-wrap: são os termos e condições de uso, disponibilizados habitualmente no canto inferior de uma página da internet em um hiperlink, (supostamente) vinculando toda e qualquer pessoa, que tão-somente acesse o respectivo site, sem ao menos chamar a atenção do usuário para a existência destes termos, ou nem exigindo a manifestação de anuência a tais termos. Note-se: se o usuário nem ao menos tem consciência da existência de tais termos, eles ficam descaracterizados como contratos ou condições gerais, não podem vincular os destinatários. * É claro que também existem casos de contratos eletrônicos que são amplamente negociados em ambiente virtual – esses são chamados de paritários, em oposição aos contratos de adesão. São paritários, geralmente, os contratos eletrônicos interempresariais (chamados em Direito Digital de B2B – business to business). Sua disciplina é dada pelo Código Civil. 2.2. Modelo da simultaneidade das declarações formativas do contrato (ocorre com frequência em sede dos contratos plurilaterais, como o contrato de sociedade. Não se consegue discernir aí o que seria proposta e o que seria aceitação). 2.3. Modelo das “punctações”, ou puntações, ou pontuações, ou negociação pormenorizada das cláusulas contratuais entre as partes (a despeito de se tratar de um modelo extremamente disseminado na atualidade, o CC/2002 perdeu a oportunidade de tratar dele). Troca conjugada entre oferta e aceitação. Ocorre quando as partes se reúnem e discutem cláusula por cláusula (ou trocam diversas versões e minutas do texto contratual ao longo do tempo, virtualmente ou não). É o modelo dos grandes contratos da atualidade. Cada cláusula equivale a um pequeno contrato, exigindo dos técnicos que intervêm nessa formação um grande trabalho. Forma-se quando há o consenso final sobre todas as cláusulas; contrato é, então, fruto do acordo.
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