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10/06/2020 1 Professora Cristiane Dupret Tipicidade Processual Inobservância Nulidade NULIDADE Espécie de sanção aplicada ao ato processual defeituoso, do que deriva a inaptidão para a produção de seus efeitos regulares. Há uma segunda corrente, minoritária, que define a nulidade como o defeito do ato 10/06/2020 2 Forma do ato processual Baseada em uma finalidade Atingida a finalidade, o ato é válido Em matéria de nulidade, aplica-se o princípio pas de nullité sans grief, segundo o qual não há nulidade sem que o ato tenha gerado prejuízo para a acusação ou para a defesa, o que, em alguns casos, pode ser evidente, por raciocínio lógico do julgador. Conclusão: Não se intenciona buscar um formalismo exarcebado. Vejamos o que dispõe o artigo 563 do CPP: Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa. 10/06/2020 3 Basicamente, devem ser analisados dois aspectos para se verificar se é caso de declarar a nulidade: 1. O ato atingiu a sua finalidade? 2. O ato causou prejuízo à parte? ESPÉCIES DE IRREGULARIDADES 1 – Irregularidades ou defeitos sem consequências 2 – Irregularidades ou defeitos que acarretam tão somente sanções extraprocessuais 3 – irregularidades ou defeitos que podem acarretar a invalidação do ato processual 4 – irregularidades ou defeitos que acarretam a inexistência jurídica Esta classificação também exige o conhecimento sobre outra, relativa aos atos processuais, que podem ser: 1. Atos perfeitos 2. Atos meramente irregulares 3. Atos nulos 4. Atos inexistentes (também denominado como não ato) 10/06/2020 4 Atos Irregulares Citação que indica apenas o dispositivo legal (súmula 366 do STF) Falta de outorga do recibo de entrega do preso ao condutor Ausência de qualificação dos peritos no laudo cadavérico Ausência do juízo de retratação no RESE Inobservância do artigo 226 em caso de reconhecimento pessoal Sem consequências ou que acarretam apenas sanções extreprocessuais Atos Nulos, que deixam de observar formalidade essencial para a prática do ato São passíveis de declaração de nulidade absoluta ou relativa Geram efeitos até a declaração de nulidade Exemplo: Sentença sem fundamentação – Ofensa ao artigo 93, IX da CF Atos inexistentes Não ato Defeito que antecede a análise de validade Sentença sem dispositivo Recurso interposto por advogado sem procuração Decisão por desembargad or cujo filho foi o promotor Sentença proferida por alguém não investido de jurisdição O ato inexistente jamais se convalida 10/06/2020 5 NULIDADE Absoluta O vício atenta contra o interesse público, com status constitucional, na existência de um processo penal justo Relativa O vício atenta contra norma infraconstitucional que tutela interesse preponderante das partes Características: Prejuízo presumido e arguição a qualquer tempo Por haver presunção, a parte que a alega não precisaria demonstrar prejuízo (Inversão do ônus previsto no artigo 156 do CPP) No entanto, o STF possui diversos julgados sustentando que mesmo na nulidade absoluta, é necessário demonstrar prejuízo. Características: Necessidade de comprovar prejuízo e Arguição oportuna (art. 571), sob pena de precusão e convalidação Em síntese, a presunção de prejuízo em caso de nulidade absoluta é uma presunção iuris tantum (relativa). Com isso, quem a alega não precisa demonstrar o prejuízo, mas a parte que quer ver o ato preservado pode demonstrar a inocorrência de prejuízo. Caso logre êxito, o vício processual não será declarado. A nulidade absoluta não é passível de preclusão temporal ou de preclusão lógica (caso em que a parte aceita os seus efeitos). 10/06/2020 6 Nulidade relativa pode ser arguida de ofício? O tema desafia controvérsia. Alguns, a exemplo de Renato Brasileiro, entendem que sim. Outros, a exemplo de Nucci entendem que não. Nulidade absoluta pode ser arguida após o trânsito em jugado? Em caso de sentença de absolvição própria, não. No entanto, em caso de sentença condenatória ou absolutória imprópria, é possível arguição após o trânsito em julgado. Vide Decreto 678/92, art. 8, n.4 (Pacto de San Jose da Costa Rica) Hipóteses de Nulidade Absoluta Nulidades cominadas no artigo 564 do CPP não sujeitas à sanação e convalidação (art. 572 do CPP) Exemplos: Incompetência, suspeição, suborno do juiz; ilegitimidade da parte Violação da CF ou de Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos (ainda que não previstos no art. 564) Exemplo: Princípio do Juiz Natural – Art. 5º, LIII da CF ou não reconhecimento de recurso por não se encontrar o réu preso (PSJCR – Art.8º. Par. 2º, h) Quando mesmo sem previsão legal expressa, houver violação de forma prevista em lei que visa à proteção de interesse de natureza pública 10/06/2020 7 Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão sanadas: I - se não forem argüidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior; II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim; III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos. Vejamos as hipóteses do artigo 564 do CPP: Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz; (As hipóteses de suspeição estão elencadas de forma exemplificativa no art. 254. São fatos externos ao processo e subjetivos) Já o impedimento do juiz (causas objetivas relacionadas a fatos internos do processo) gera inexistência da decisão por ele proferida, vide rol taxativo do art. 252) II - por ilegitimidade de parte; III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante; b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167; c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos; 10/06/2020 8 d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública; e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa; f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri; g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia; h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei; i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri; j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade; k) os quesitos e as respectivas respostas; l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento; m) a sentença; n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido; 10/06/2020 9 o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso; p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o julgamento; (também se aplica ao STJ, TSE, TRFs e TREs) IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato. Obs.: Formalidade essencial é toda aquela sem a qual o ato não pode ser considerado válido e eficaz. Cabe destacar que neste ponto o artigo 572 não pode ser interpretado de maneira isolada, mas sim à luz da CF e do PSJCR, notadamente em relação à ampla defesa, contraditório e devido processo legal. Nestes casos, a nulidade será absoluta e não relativa. 10/06/2020 10 Alguns exemplos de falta de formalidade essencial ao ato e sua consequência: 1. Súmula 155 do STF: é relativa a nulidade do processo criminalpor falta de intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha 2. Falta de fundamentação na sentença gera nulidade absoluta 3. Falta de assinatura do juiz na sentença gera ato inexistente V - em decorrência de decisão carente de fundamentação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição entre estas. 10/06/2020 11 Observação importante quanto ao inciso V: Declarada nula a sentença por ausência de fundamentação, desconstitui-se a causa interruptiva da prescrição correspondente. Quanto às nulidades relativas, para saber o momento de sua alegação, deve ser observado o artigo 571 do CPP: Art. 571. As nulidades deverão ser argüidas: I - as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o art. 406; (art. 411, par. 4º, 5º e 6º.) II - as da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos processos especiais, salvo os dos Capítulos V e Vll do Título II do Livro II, nos prazos a que se refere o art. 500; (art. 403, em caso de nulidades posteriores à resposta à acusação, introduzida pela Lei 11719/08) 10/06/2020 12 Obs.: Seja no caso do inciso I ou II, as nulidades relativas ocorridas entre o oferecimento da denúncia e a citação do acusado, devem ser alegadas em sede de resposta à acusação, sob pena de preclusão. Exemplo: Prática de crime de concussão, o juiz recebe a denúncia e cita o acusado para oferecer resposta à acusação, sem oportunizar a defesa preliminar de que cuida o procedimento especial. Tal vício deve ser arguido pela defesa ao apresentar a resposta à acusação (tal nulidade é considerada relativa pelos Tribunais Superiores), requerendo a anulação do processo a partir do recebimento da peça acusatória. III - as do processo sumário, no prazo a que se refere o art. 537, ou, se verificadas depois desse prazo, logo depois de aberta a audiência e apregoadas as partes; (o art. 537 se referia à antiga defesa prévia. Desta forma, ainda que no procedimento sumário, as nulidades relativas terão como limite para a sua alegação a resposta à acusação ou memoriais, a depender do momento em que ocorreram. Se entre o oferecimento da denúncia e a citação, devem ser alegadas em sede de resposta à acusação. Se posteriores, em sede de alegações finais). IV - as do processo regulado no Capítulo VII do Título II do Livro II, logo depois de aberta a audiência; (referia-se às medidas de segurança por fato não criminoso. Encontra-se tacitamente revogado) 10/06/2020 13 V - as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes (art. 447); (Se a nulidade relativa ocorrer na própria decisão de pronúncia, sua alegação deve ocorrer no Recurso em Sentido Estrito, nos termos do artigo 581, IV do CPP) Com a extinção do libelo acusatório, à luz da reforma processual de 2008, o inciso V deve ser interpretado nos seguintes termos: As nulidades relativas ocorridas após a preparação do processo para julgamento em plenário deverão ser arguidas imediatamente depois de anunciado o julgamento em plenário e apregoadas às partes. VI - as de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, nos prazos a que se refere o art. 500; (frente a todo o cenário de mudanças legislativas, o inciso deve ser assim interpretado: As nulidades relativas da intrução criminal dos processos de competência originária dos Tribunais devem ser arguidas por ocasião da apresentação das alegações escritas (Lei 8038/90, art. 11, caput) ou no momento da sustentação oral (Lei 8038/90, art. 12, I), sob pena de preclusão. VII - se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes; (no recurso também poderão ser alegadas as nulidades da própria decisão) 10/06/2020 14 VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.(Exemplo: Inversão da ordem de perguntas às testemunhas, na forma do art. 212, impugnação aos quesitos formulados pelo Juiz. Se o juiz rejeitar, a parte poderá voltar a alegar em preliminar de apelação) Não sendo observado o artigo 571 do CPP, a consequência será a preclusão e consequente convalidação da nulidade. Exemplo: Incompetência relativa, que precisa ser alegada no momento da resposta à acusação. Desta forma, a nulidade relativa se submete à preclusão temporal e à lógica. Hipóteses de Nulidade Relativa Nulidades previstas no artigo 564 passíveis de sanação ou convalidação Exemplo:intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia Hipóteses sem previsão legal em que a violação da forma prescrita em lei viola interesse preponderante das partes Exemplo: Ausência de intimação das partes em caso de expedição de carta precatória (Súmula 155 do STF) 10/06/2020 15 Importante destacar que sendo a nulidade relativa, esta já deve ter sido arguida em momento oportuno, sob pena de preclusão. Caso não tenha sido arguida, não poderá ser alegada ou reconhecida em segunda instância. Caso tenha sido arguida, ainda que rechaçada pelo juiz, poderá ser arguida em sede recursal. ALEGAÇÃO DAS NULIDADES As nulidades serão, em regra, arguidas em sede preliminar, em peças como resposta à acusação, alegações finais por memoriais ou ainda em alguns recursos, como o caso do recurso de apelação. Em sede de resposta à acusação, devem ser alegadas as nulidades que podem precluir ou que interessem à defesa para eventualmente encerrar o processo criminal. Atenção para aquelas nulidades que exijam forma própria para a sua alegação. Estas não devem ser alegadas meramente em preliminar de resposta à acusação. 10/06/2020 16 Art. 95. Poderão ser opostas as exceções de: I - suspeição; II - incompetência de juízo; III - litispendência; IV - ilegitimidade de parte; V - coisa julgada.
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