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UNIDADE 1


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UNIDADE 1 - HUMANIDADES, SOCIEDADE E ÉTICA 
Apresentação 
Se quisermos compreender nossa condição humana e seus atos, é relevante 
distinguir duas dimensões: somos seres bio-culturais, isto é, somos seres vivos, 
programados pelas leis biológicas e, ao mesmo tempo, seres culturais criadores de 
nós mesmos e de nosso mundo humano. Como seres biológicos, pertencemos ao 
Reino Animal. Como seres culturais, contudo, nós nos diferenciamos dos outros 
animais, pois criamos e continuamos até hoje construindo o que há de específico em 
nossa espécie. Por isso, somos diferentes dos demais seres que recebem sua 
essência acabada; nosso ser específico, ao contrário dos demais seres não humanos, 
se constitui apenas como um poder-ser que cria a si mesmo, cria seu próprio ser, 
constituindo-se como projeto inacabado até sua morte. 
Ao longo da história da evolução humana, a partir de nossa animalidade, iniciou-se o 
processo que os antropólogos chamam de hominização: nós, humanos, 
conquistamos, nesse processo contínuo, a capacidade simbólica que nos permite 
representar a realidade, falar de coisas ausentes e criar nosso mundo humano, 
diverso daquele dos outros animais. Isso significa que não somos apenas 
programados biologicamente, mas pela cultura nos constituímos também como seres 
criativos e livres. 
E aqui cabe ressaltar com os antropólogos que essa é uma verdadeira criação, pois 
não havia nenhum modelo para nossos antepassados seguirem ao criar sua 
especificidade humana. Assim, nesse processo de hominização, nossos 
antepassados criaram seu próprio mundo, diferentemente dos outros animais que 
apenas têm mundo. Cada grupo social cria sua própria cultura e, fundado nela, elabora 
sua "constituição", suas leis, sua moral, sua religião, seus costumes, sua tradição, 
tudo aquilo que chamamos de cultura; nossos antepassados produziram tudo o que 
era necessário para sua defesa e sobrevivência, bem como para a convivência dos 
membros do grupo entre si e para o relacionamento com as pessoas de outras 
comunidades. Isso tudo mostra o que nos especifica como seres humanos, o que nos 
torna diferentes dos demais seres do Reino Animal que receberam sua essência 
programada ao nascer. 
 
Mas dizer que somos diferentes dos outros animais não significa que há uma 
separação radical entre nós e os animais, tampouco que haja uma separação entre 
nossos atos biológicos (corporais) e culturais (mentais): somos uma unidade do 
complexo biológico/cultural; continuamos ligados aos animais e a todos os seres 
terrestres, pois pertencemos todos à mesma mãe terra. Temos que olhar com olhos 
holísticos, ver cada ato humano dentro da totalidade e complexidade de nosso ser, a 
fim de conviver, de modo responsável e solidário, com todos os seres de nosso 
mundo. 
Outro aspecto importante é ter consciência de que há tantas culturas diferentes 
quantas são diversas as etnias humanas existentes no mundo. No Brasil, embora se 
costume falar em "cultura brasileira" como se fosse uma única, na realidade há 
centenas de culturas diferentes. Basta lembrar as centenas de culturas das tribos 
indígenas, das pessoas que vieram da África e imigrantes de diversos países 
europeus ou asiáticos. Nenhuma dessas culturas, contudo, é superior às outras. 
Durkheim (2000) – que conviveu com mais de 400 grupos autóctones na Austrália - 
observou que cada grupo tem sua própria cultura e a partir dela cria suas religiões, 
suas leis e seus valores morais, tornando absurda a ideia dos europeus da 
Modernidade que tomavam sua cultura como padrão das demais. Assim sendo, se 
vamos pesquisar a ética, a moral e as leis dentro da civilização ocidental, não 
pretendemos colocar essa cultura como norma para as demais; pretende-se apenas 
ver como se desenvolveram esses fenômenos ao longo da história dessa cultura 
Greco-europeia ocidental e como ela pode ainda hoje dar resposta às grandes 
questões da civilização ocidental. 
Tendo considerado essas relevantes observações introdutórias, passemos agora a 
pesquisar o objeto próprio de nossa aula, examinando como as pessoas são, ao 
mesmo tempo, constituídas por e constituidoras de sua cultura, suas leis e sua moral. 
NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE MORAL E ÉTICA 
Objetivos 
 Compreender as premissas das quais filósofos, antropólogos, sociólogos e 
outros pesquisadores partem para fundamentar as teorias sobre Ética e Moral. 
 Identificar o que diferencia Ética e Moral, o que são juízos morais, as diversas 
concepções da Ética e sua aplicabilidade. 
 Analisar o surgimento da questão moral no pensamento filosófico. 
Introdução 
Uma das características mais singulares dos seres humanos é a capacidade de 
avaliar suas ações e julgá-las como corretas ou erradas. Comumente partimos dos 
valores que constituímos no nosso grupo social para avaliar se determinada ação é 
correta ou não. Muitos desses valores são considerados aceitáveis ou condenáveis 
com base nos costumes e hábitos, nas tradições que os mais diversos e variados 
grupos constituem. São estes os valores que fundamentam nosso valores morais e 
éticos. Filósofos, sociólogos, antropólogos e inúmeros outros pesquisadores, das mais 
diversas áreas, tentam há séculos compreender como nós formulamos nossa 
moralidade, mesmo nossa eticidade. Mas cabe aqui perguntar: você sabe o que é 
Ética? 
Certamente você já ouviu alguém dizendo que falta ética para alguém, que falta ética 
na política brasileira, ou mesmo que certa pessoa não é ética. Mas o que significa de 
fato a palavra Ética? 
ÉTICA E MORAL - ORIGENS E CONCEITOS 
Partindo dos valores que assumimos para definir algo como certo ou como errado, é 
comum ouvir alguém dizendo que “Fulano é um sujeito ético”, ou que “Beltrano é 
antiético”. Talvez mais: consideramos que “falta ética” em um contexto ou outro, como 
na política, ou que seria mais ético agir deste e não daquele modo. Mas o que significa 
de fato a palavra Ética? O mesmo vale para a Moral. Consideramos algo ou alguém 
moral ou imoral, ou até mesmo amoral. Mas o que verdadeiramente essas palavras 
significam? Antes de vermos e conhecermos o que os mais variados filósofos 
conceberam como teoria ética e filosofia moral, é importante tentar compreender o 
que verdadeiramente significam tais conceitos. 
A palavra Ética provém do termo "Ethos" que é a transliteração de um termo grego 
escrito de duas matrizes diferentes: 
Éthos (ήθος) - com "eta" inicial, vogal longa (é) – hábitos, costumes (é o éthos social, 
as tradições); 
Êthos (έθος) - com "épsilon" inicial, vogal breve (ê) - morada, caráter, índole (onde 
reside o ‘eu real’). 
 
Em outras palavras, “o éthos se restringiu à expressão do consuetudinário, e, o êthos, 
passou a designar um modo filosófico de pensar os usos e os costumes. Foi justo por 
esse ponto de vista que o êthos angariou para si a força do ajuizamento crítico, e que 
passou a qualificar, em referência aos conceitos de bem e de mal, de justo e injusto, 
de belo e feio, a conduta humana” (SPINELLI, 2009, p. 9). Diante disso, pode-se 
propor uma definição etimológica da noção de ethos, articulando as duas matrizes 
conceituais, ethos como costume e ethos como hábito: 
Ethos como costume – modo de ser dos membros de um grupo social que procede 
da vivência comum dos princípios, valores, normas, leis e hábitos que expressam a 
ideia de Bem Comum ou BEM (universal) partilhada pelos membros de uma 
coletividade (comunidade, povo, etnia, civilização etc.). 
Ethos como hábito – constância no agir de uma pessoa, por meio do qual este 
incorpora à sua personalidade aquele ideal de BEM (virtude) e o efetiva por meio de 
ações, sempre perguntando pelo sentido delas. 
O elemento que permite essa articulação será, portanto, a ação baseada em uma 
reflexão, pela qual o ethos se constitui, se reproduz e se altera no tempo (ou seja, 
ethos como costume) e pela qual a pessoa se constitui a si mesma como sujeito ético 
(isto é, ethoscomo virtude). A ação ética expressará, pois, a capacidade de pessoas 
e grupos de efetivarem o Bem e/ou de atualizá-lo. 
O ethos de um grupo social se estrutura por meio de um complexo de relações entre 
as pessoas, constituindo-se, no tempo, como costume. É na mediação (na interação) 
com outras pessoas que alguém se integra ao ethos e nele exerce sua práxis. Essa 
interação realiza ao mesmo tempo a afirmação e transmissão do ethos 
(tradição/moral) e sua alteração perpétua (ética). É a práxis (ação baseada em uma 
reflexão) que integra alguém às várias esferas sociais: trabalho, cultura, política e 
convivência social, entre outras. 
Pode-se dizer que o ethos se constitui historicamente como o ethos de um povo, ele 
é sua "expressão". O ethos é, antes de tudo, um sentir-se em casa. Nesse sentido, 
ethos se vincula a outra palavra grega, oikós, que tendo como sentido original a 
palavra "casa", deu origem às palavras "economia", "ecologia", "ecumenismo", todas 
expressando, de alguma forma, a noção de que vivemos em um mundo que é uma 
"grande casa" na qual todos os seus habitantes têm direito à sua dignidade. Pode-se 
dizer, assim, que a "ética" (ethos) são os critérios que utilizamos para decidir nossas 
ações visando o bem desta grande casa em que habitamos: o mundo. Podemos falar 
efetivamente do ethos como um valor universal simbólico que rege a instituição das 
normas, das leis, dos hábitos, das regras e dos valores. 
A QUESTÃO ÉTICA 
A questão ética surge, portanto, no momento em que é feito um apelo à iniciativa da 
pessoa, pressuposto que sua ação não é condicionada (inteiramente) pelo curso 
natural das coisas. Importa, pois, determinarmos o "lugar" da ética na atividade de 
alguém. A dimensão ética da ação inscreve-se na temporalidade própria do existir: 
capacidade de iniciativa para forjar, por si mesmo, seu ser futuro: poder de agir, 
decisão fundada na deliberação. 
De acordo com Ladrière (2001), essa exigência de realização de si não é arbitrária: 
ela é o prolongamento do que já estava presente no existir. A exigência ética implicada 
na ação é, precisamente, a determinação da vontade na realização daquilo que a 
existência, como poder-ser, contém em si enquanto ainda não realizado. Existe tensão 
na pessoa porque o seu ser futuro já se encontra presente, mas carente de 
concretização. 
Essa realização de si como alguém ético não é estranha à própria existência, mas, 
sim, é tarefa própria dela. Trata-se "de um processo no qual a existência é chamada 
a pôr-se em jogo, sob sua própria responsabilidade, assumindo os riscos e perigos" 
(LADRIÈRE, 2001, p. 91). Esse comprometimento da pessoa em relação a si próprio 
(a realização de si como ser ético) põe em questão a sua responsabilidade sobre si 
mesmo e os outros. O resultado efetivo de nossas ações somos nós, enquanto ser-
para-outro, pois todos os atos morais e éticos só têm sentido em vista da convivência 
com os outros. 
Sendo a existência um modo de ser plural, "a responsabilidade da existência, em 
relação a si, constitui a responsabilidade de cada existente em relação à existência, 
tal como nele se realiza, mas, também, tal como ela se dá nos outros existentes" 
(LADRIÈRE, 2001, p. 92). A responsabilidade de cada um pelos seus atos nas 
relações humanas e para com a natureza é, portanto, o horizonte fundamental da 
ética. A realização de cada existência singular (a determinação de si na concretização 
do BEM) implica no caráter da existência como pluralidade: o agir ético exige o 
reconhecimento recíproco dos agentes na determinação da qualidade ética da própria 
ação, sem esquecer que estamos enraizados na Mãe terra e que somos responsáveis 
também por ela. 
ÉTICA E MORAL 
É importante observar que, ao longo da história da filosofia, o uso de um ou outro 
termo, ética e moral, irá variar segundo o entendimento de cada pensador e 
pensadora. Até a era moderna, serão tomados como termos equivalentes, havendo 
preferência pelo uso ora de um, ora de outro. Alguns recorrerão a uma distinção 
conceitual entre ética e moral, dando a um e a outro termo um sentido específico. 
Neste curso de Ética, tomaremos como definição básica que a "Ética" é a condição 
humana que possibilita questionar a "Moral" instituída na sociedade visando a sua 
transformação. 
Como você já estudou, o termo grego ethos refere-se a costume, englobando duas 
esferas de realização do bem, ou seja: 
Enquanto modo de ser coletivo que procede da experiência comum dos valores, 
normas, leis e regras que exprimem a ideia de Bem. 
Como hábito ou caráter da pessoa que incorporou à sua personalidade este ideal de 
Bem e que o traduz, por suas ações, como virtude. Essa noção de ethos será 
transcrita para o latim por Cícero (1982), pelo termo latino mos (sing.) e mores (plur.), 
significando hábitos, usos, estilos de comportamento, maneiras de ser. Há, então, 
uma equivalência semântica entre ethos e mōs, traduzidos como ética e moral. 
Quando mais tarde, com BODÉÜS (2004, p. 1094 a 1094b), você observará a 
passagem do ethos à ética, isto é, do costume como vivência a uma "ciência da práxis" 
(épistêmê praktikê [έπιστήμη πραχτιχή]), a ética será, na língua latina, igualmente 
traduzida como "ciência moral". Desse modo, o termo "ética" terá como equivalente 
semântico a noção de mōrāles. Vê-se assim que ética e moral recobrirão o mesmo 
tipo de fenômeno, isto é, ambas serão entendidas como uma reflexão sobre a ação 
humana referida ao costume e tendo em vista a realização do Bem. 
Se a Moral se constitui como as normas instituídas pela cultura, costumes e tradição 
de um determinado grupo social, e ética é a condição humana que possibilita 
questionar e transformar essa Moral vigente. Uma distinção "acabada" entre ética e 
moral implica, antes de tudo, seguir o caminho que o pensamento filosófico fez até o 
momento em que esses conceitos adquiriram sentido próprio e, posteriormente, 
distinto. O primeiro passo é a passagem do ethos (Moral) – como modo de vida 
centrado na ideia de Bem e impresso na cultura como costume – à Ética, como 
inteligibilidade da ação virtuosa, como reflexão sobre a vida concreta das pessoas que 
constroem a si mesmas, enquanto existência e coexistência para produzir o bem 
comum. Esse passo foi preparado por Platão e consumado por Aristóteles, com o qual 
a ética adquiriu estatuto de disciplina autônoma (ciência da práxis). 
ETHOS E CULTURA 
A ação humana, enquanto portadora de significação, é a medida (métron) das coisas, 
no sentido de que toda ação – seja como agir (práxis), seja como fazer (poiésis) – 
constitui um universo simbólico que é, a um só tempo, obra (ergon) da pessoa e 
referência para sua própria ação, ou seja, seu ethos. Ora, a essa obra coletiva, a essa 
ação criadora de objetos, signos e formas – pelas quais um determinado grupo 
humano se reconhece como coletividade – damos o nome de "cultura". Nesse sentido, 
como já afirmara Vaz (1993, p. 36), "o ethos é coextensivo à cultura". 
Aqui aparece um movimento dialético perpétuo: nascemos num determinado contexto 
social-cultural no qual certa configuração do ethos nos é transmitida (por meio das 
tradições) – e que nós devemos absorver, não somente a fim de evitarmos sanções, 
punições em caso de transgressão, mas simplesmente para podermos existir 
enquanto parte deste grupo social e a ele identificado. Participamos, portanto, mesmo 
que involuntária e inconscientemente, num primeiro momento, da perpetuação do 
ethos. Mesmo que participemos ativa e conscientemente de sua transformação, o 
ethos será transmitido a outros que o receberão de forma heteronômica. Há, portanto, 
uma espécie de movimento circular em que o ethos é, de um lado, absorvido tal qual 
na forma da tradição e, de outro, alterado pela práxis das pessoas no curso do tempo. 
Permanece o desafio ético de saber que tipo de relação uma determinada sociedade 
mantém com respeito à própria tradição.O problema na base deste desafio é o de que as pessoas acabam por se esquecer 
de que a cultura é sua própria obra, que a sociedade é sua criação e que toda 
sociedade – posto que é instituída no tempo – se altera. A tradição não é, portanto, 
outra coisa que o ethos enquanto herança e transmissão. Como tal, a tradição guarda 
esta contradição: ela nos faz esquecer que, no horizonte da ação ética, a 
transmutação do Bem faz parte da própria ação ética. Enquanto ação referida ao 
ethos, a práxis ética traduz uma relação não determinada e não determinante entre o 
ethos e as pessoas que ali vivem e agem. 
A ação criativa e instituinte é feita, a bem da verdade, com base em um dos elementos 
centrais do ethos: a liberdade que têm as pessoas de escaparem ao determinismo 
que reina na natureza do mundo físico, de mudar o curso das coisas e também o 
poder de transmutar o sentido das coisas, de não ceder à pura e simples inércia, de 
não se conformar simplesmente à sociedade instituída. 
Desse modo, podemos afirmar que o ethos não se reduz à tradição. O ethos é 
precisamente "em parte" tradição, enquanto ele se põe como Experiência 
heteronômica, ou seja, enquanto fundamento do conjunto dos costumes, dos 
princípios e dos valores tendo força suficiente para sobre determinar o agir de pessoas 
e grupos sociais. Contudo, o ethos deve, sobretudo, ser considerado como criação 
única, ainda que esta não cesse de ser, a cada vez, a ordem simbólica representativa 
de uma época e de um modo de ser coletivo. O ethos, obra da cultura de um povo, 
contudo, não é o reflexo de uma "ordem ideal" atemporal, a partir da qual 
"deduziríamos" o valor de nossas ações e de nossas instituições, posto que ele não 
existe senão como criação social-histórica. 
Pensamos, nesse sentido, que a reflexão ética possa nos auxiliar num confronto 
crítico face às nossas próprias tradições, de modo que, sem negá-las, assumamos o 
desafio de nos defrontar com tudo aquilo que, sendo parte da herança que nos fez o 
que somos hoje, como cultura e nação, limita nosso poder de criação, tolhe nosso 
imaginário coletivo, nosso poder de sermos outro. Isto é o que poderíamos chamar de 
auto alteração ética de um povo: o poder que tem uma coletividade de pôr-se diante 
de suas próprias significações sociais e de renová-las. 
LEI JURÍDICA E LEI MORAL 
Para a Filosofia Moral, Lei Moral é a determinação do que cada ser humano deve 
seguir como norma da sua ação, independente de fatores externos. Segundo 
Immanuel Kant (1724-1804) – que abordamentos propriamente na Unidade 2 – lei 
moral é a lei que impomos a nós mesmos a fim de agirmos de acordo com o dever. 
Dever aqui compreendido como oposição à vontade (ou, nos termos de Kant, 
inclinação). Para Kant, a ação correta é aquela que depende da autonomia da razão, 
que sabe e tem como motivação fazer o certo pelo certo. Agir pela vontade, segundo 
Kant, é agir hetenonomamente, guiado pela inclinação. 
Se agirmos por qualquer outro motivo que não seja o dever, como o interesse próprio, 
por exemplo, nossa ação não terá valor moral. Isso se aplica, segundo Kant, não 
apenas ao interesse próprio, mas também a qualquer tentativa de satisfazer nossas 
vontades e preferências, nossos desejos e apetites. Kant compara motivos como 
esses – que denomina ‘motivos da inclinação’ – com a motivação pelo dever e insiste 
no fato de que apenas as ações motivadas pelo dever têm valor moral (SANDEL, 
2018, p. 144). 
Distinção entre Direito e Moral 
Os critérios que permitem distinguir o Direito (Lei) e a Moral são: 
 O Direito é bilateral e a Moral, unilateral, pois a norma jurídica tem dois lados: de 
um lado, ela atribui um direto subjetivo; de outro, um dever correspondente; já a 
Moral é unilateral. Isso porque na relação jurídica sempre há uma pessoa ativa, 
portadora do direito subjetivo e uma passiva, possuindo um dever correspondente 
 O Direito é heterônomo (caracterizado pela heteronomia), enquanto sua 
determinação normativa é dada exteriormente (de fora para dentro do sujeito, por 
meio da imposição), enquanto a moral é autônoma, determinada pela razão do 
sujeito para o sujeito. Quando a pessoa aceita ou não a norma moral ela pode 
estar agindo pela inclinação, pelas vontades, pelos desejos, agindo 
heteronomamente. Agir autonomamente significa seguir a lei moral que a pessoa 
impõe a si mesmo (seguindo os critérios racionais). 
 Exterioridade do Direito e Interioridade da Moral: as normas jurídicas tratam de 
atos externos da pessoa, manifestas a toda coletividade; as normas morais 
repercutem no interior ou consciência da pessoa. 
 Coercibilidade do Direito e Incoercibilidade da Moral: enquanto o direito pode 
usar a força e a coerção no caso de infração da lei, impondo à pessoa penalidades; 
a Moral, ao contrário, em caso de alguém infringir uma norma, se sentirá, no 
máximo, remorso e o afastamento das pessoas. 
Quanto ao conteúdo de Direito e Moral, temos algumas teorias: 
 Teoria dos Círculos Concêntricos – um está inscrito no outro: o maior pertence 
à Moral e o Direito se subordina às normas morais. 
 Teoria dos Círculos Secantes – Dois círculos que se cruzam até um determinado 
ponto; o Direito e a Moral possuem uma área comum, sobre a qual ambos têm 
competência para atuar; mas as partes dos círculos que ficam fora da área comum 
são específicas uma ao âmbito do Direito e outra ao âmbito da Moral. 
 O jurista Kelsen defende que o direito é autônomo e a validade de suas normas 
não tem relação necessária com a Moral. 
 Teoria do Mínimo Ético no Direito: O direito deveria conter o menor número 
possível de normas morais. 
O PENSAMENTO COMO CONDIÇÃO DA MORALIDADE E DA ETICIDADE 
Você leu até agora os pressupostos da teoria ética e moral e como os valores 
construídos coletivamente auxiliam na fundamentação destes valores. Mas a ação 
ética depende única e exclusivamente de cada indivíduo, a partir do que este concebe 
como certo, errado, justo, injusto etc. Veremos, nas Unidades 2 e 3, o que diversos 
filósofos conceberam como o certo ou errado, concebendo que diferentes teorias 
buscam dar conta do modo como determinar o que é certo e o que é errado do ponto 
de vista ético ou moral. 
Há, contudo, um ponto no qual todas estas teorias convergem: a ação ética depende 
fundamentalmente da nossa capacidade de pensar sobre e avaliar nossas ações, 
suas motivações e consequências. Uma importante análise da tarefa do pensar como 
capacidade intrinsecamente humana foi desenvolvido pela filósofa contemporânea 
Hannah Arendt (1906-1975), que se ocupou, em grande parte de sua obra, com a 
questão dos regimes totalitários e como seres humanos normais seriam capazes de 
atos considerados abomináveis. 
Em 1961 Arendt acompanhou, como correspondente da revista americana The New 
Yorker, o julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann. Eichmann havia sido 
capturado na Argentina, onde se refugiava após a fuga no final da Segunda Guerra 
Mundial. Eichmann era responsável pela deportação dos judeus para os campos de 
concentração e extermínio. Embora não fosse responsável pela elaboração das 
políticas que visavam o aprisionamento e extermínio dos judeus, era responsável pela 
operação de transporte, a qual buscava executar com a maior eficiência possível. 
 
Em julgamento, Eichmann alegou não ter realizado nada por vontade própria. Alegou 
nunca ter tido nada pessoal contra alguém. Considerava apenas que sua honra era 
sua lealdade, e como cidadão alemão leal ao seu país, deveria executar as ordens e 
obedecer as leis, fossem elas quais fossem. Hannah Arendt, que esteve presente no 
julgamento e até mesmo entrevistou Eichmann, concluiu que Eichmann não 
apresentava nenhum sinal de que fosse capaz de pensar por conta própria. 
Arendt publica, ao final do julgamento, uma de suas mais importantes obras: 
Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal, na qual constata que 
o malé resultado não tanto de uma intenção vil, puramente maligna, mas antes da 
incapacidade de pensar e refletir sobre as próprias ações. O que Hannah Arendt 
pretende é mostrar que quando uma pessoa se nega a pensar, ou mesmo se mostra 
incapaz de pensar sobre as suas ações, ela acaba por estar propensa a cometer atos 
que podem ter grandes consequências, tendo a possibilidade de causar grande mal, 
sem nem mesmo se dar conta disso. 
Para tanto Arendt analisa a figura de Eichmman, que nas palavras de Hannah, era 
"ordinário, comum, nem demononíaco, nem monstruoso". Ainda assim, sendo um 
homem comum, Eichmman foi capaz de executar, sem hesitar, ordens que tinham por 
objetivo exterminar milhões de vidas humanas. Estas ordens, para ele, não necessitar 
ser objeto de consideração ou reflexão, precisavam apenas serem executadas. E 
assim o fez. E o fez porque, segundo o próprio, seguia ordens. Questionado durante 
o julgamento se, sob ordens, executaria os próprios pais, respondeu também sem 
hesitar: "se estas fossem ordens superiores sim, os executaria". 
Importante ressaltar que Hannah Arendt não pretende isentar Eichmann da 
responsabilidade de suas ações. Muito pelo contrário: tendo cada ser humano a 
capacidade de pensar e refletir sobre o que faz e como age no mundo, cabe apenas 
a ele mesmo dar conta e responsabilizar-se pelos seus atos. Ao negar sua capacidade 
reflexiva Eichamnn abdicou, segundo a filósofa, da mais humana de suas 
características: ter a capacidade de refletir, de pensar. É este ponto, como veremos 
nas seções e unidades a seguir, que caracteriza fundamentalmente o ser humano: a 
capacidade de pensar sobre como age no mundo, na relação com os outros seres 
humanos e com tudo aquilo que nos rodeia. Negar esta capacidade, ou mesmo 
abdicar, abrir mão dela, sobre qualquer pretexto, não é justificável, nem mesmo 
compreensível. A capacidade reflexiva, de pensar, fundamentalmente humana, é o 
que nos distingue, como seres racionais, dos outros animais deste mundo: podendo 
refletir e compreender o impacto de nossas ações, devemos exercitar esta faculdade 
humana. Pensar é a nossa capacidade de estabelecer um diálogo conosco mesmo, a 
fim de conseguirmos distinguir o certo do errado, o justo do injusto, o verdadeiro do 
falso. Desde Sócrates e Platão, na Grécia Antiga, aos dias de hoje, filósofos das mais 
diversas correntes e tradições mantém a necessidade de exercitar nosso pensamento 
como característica fundamental da ação moral e ética. 
Material de apoio 
A questão da banalidade do mal abordada por Hannah Arendt e sua participação no 
episódio do julgamento de Adolf Eichmann foi objeto de uma cinebiografia que retrata 
a participação da filósofa no acontecimento e os desdobramentos teóricos e pessoais. 
Lançado em 2012 na Europa e Estados Unidos (no Brasil em 2013), o filme dirigido 
por Margarethe Von Trotta remonta aos acontecimentos, trazendo cenas reais (as 
imagens em preto e branco) do julgamento de Eichmann. 
SÓCRATES E PLATÃO: O DESENVOLVIMENTO DA QUESTÃO MORAL E ÉTICA 
NA ABORDAGEM FILOSÓFICA 
O surgimento da Filosofia data ainda de um período entre os séculos VII a. C. e VI a. 
C, e tem como seu primeiro objeto a tentativa de compreender o surgimento do mundo 
para além da explicação mitológica. O objetivo dos primeiros filósofos - como Tales 
de Mileto (624 a. C - 546 a. C.), Heráclito de Éfeso (540 a. C. - 470 a. C.) e Parmênides 
de Eleia (530 a. C - 460 a. C.), entre vários outros - era explicar como o mundo e as 
coisas físicas surgiram, e qual seria o seu elemento essencial. Estes pensadores, 
conhecidos como Pré-Socráticos, ou Filósofos da Physis (Natureza), tinham por 
principal objeto de suas reflexões aquilo que hoje é objeto fundamentalmente das 
ciências naturais. É na Atenas do séc. V, com Sócrates e seu discípulo Platão, que 
temas como Bem, Justiça, Verdade, Beleza etc., passam a ser objetos da 
consideração filosófica, constituindo-se até os dias de hoje como temas 
essencialmente filosóficos. 
Sócrates (469 a. C. - 399 a. C.), que viveu no século V a.C., foi o primeiro filósofo 
grego que se ocupou com a pessoa como prioridade e objeto de reflexão filosófica. 
Até então, a questão filosófica por excelência era a natureza. Das palavras de Platão 
(427 a. C. - 347 a. C.), sabemos que Sócrates não fazia sua reflexão filosófica a partir 
de um gabinete separado do mundo, mas sim do mundo vivido e experimentado pelas 
pessoas. É nas praças (Ágora), nas ruas, nos mercados que Sócrates interpela seus 
interlocutores para buscar a Verdade. Segundo Sócrates, esta Verdade, que é uno, 
universal já está no interior de cada indivíduo, mas por conta das experiências, 
opiniões e dogmas, cada um concebe a verdade de um jeito próprio e pessoal. A fim 
de auxiliar as pessoas à compreender esta Verdade, Sócrates estabelece um método 
conhecido como “maiêutica”: como num parto, é necessário auxiliar a pessoa à dar à 
luz, a conceber esta Verdade. 
Com esta premissa (a verdade já está no interior de cada um) e com este método 
(fazer a verdade aparecer por meio da maiêutica), Sócrates pretende recuperar o valor 
da dignidade moral da pessoa, em uma sociedade que tinha sérios problemas com a 
justiça e o bem. Esta verdade, contudo, tem seu sentido no desenvolvimento de 
virtudes que regulam a vida na sociedade, na "polis" (cidade) como diziam os gregos. 
É de se imaginar que este pensamento socrático, do qual bebeu Platão, não causou 
boa impressão entre as autoridades que se utilizavam do poder para tirar dele 
benefícios pessoais, mas exerceu forte influência no seu discípulo, que procurou 
demonstrar, ao longo de suas obras, a compreensão que tinha do que significava 
compreender e agir segundo os princípios do certo, do justo, do bom etc. 
A Ética Filosófica de Platão 
Platão foi o primeiro filósofo conhecido a conceber filosoficamente, isto é, com rigor 
de método e profundidade de reflexão, a questão do "Bem". A interrogação platônica 
visava à questão do "Bem em si mesmo" e de como este Bem se apresenta como 
bem-para-nós, ou seja, como bem na vida humana. 
Para iniciarmos o estudo do pensamento de Platão sobre a Ética, vamos olhar um de 
seus clássicos escritos conhecido como "Alegoria da Caverna". 
Platão, para explicar sua concepção de Ética concebeu o Mundo das Ideias, lugar 
abstrato que, segundo ele, não pode ser acessado diretamente pelos nossos sentidos. 
Neste mundo, considerado ideal, perfeito, todas as coisas, como Bem, Verdade, 
Justiça, Beleza etc., existem na sua forma pura, perfeita. Em nosso mundo, o mundo 
das nossas experiências, das coisas que vemos, ouvimos, tocamos etc., só 
percebemos as cópias daquele mundo ideal. Para alcançar o mundo ideal, segundo 
Platão, é preciso que busquemos ultrapassar as sensações que os sentidos nos 
trazem para chegar à Verdade por ela mesma, que apenas a Razão (Logos) 
compreende. Para Platão, somos como prisioneiros no fundo de uma caverna, 
percebendo apenas os reflexos das coisas, mas nunca as coisas mesmas. Quando 
nos libertamos, e passamos a conhecer, percebemos que tudo que considerávamos 
antes verdadeiro não o era. O filósofo, segundo Platão, é todo aquele que consegue 
sair do mundo das cópias e conhecer as coisas mesmas. Ao conhecê-las, 
compreende também o que significa verdadeiramente Justiça, Bem, Verdade, Beleza, 
compreendendo também que é tarefa sua auxiliar os outros a também conhecer. Isso 
porque conhecer, segundo Platão, é conhecer o Bem, único, universal, comum a 
todos. Se as pessoas têm compreensões distintas do que seja bom, justo, verdadeiro 
etc., segundo Platão, é porque elas ainda não conheceram a Verdade, e guiadas pelas 
opiniões e impressões dos sentidos, que não têm acesso a nada além de meras 
cópias, não conseguem conceber os valores puros e perfeitos. 
A filosofia moral de Platão está em total conformidade com sua Teoria das Ideias, a 
qual pressupõe um abandono progressivodos sentidos na apreensão da essência 
das coisas. Este processo, na leitura de Reale (1991), se faz, em analogia com a 
prática da navegação, em dois movimentos: 
Primeira navegação – na qual se utilizam as velas ao vento (método dos naturalistas, 
fundado sobre os sentidos). 
Segunda navegação – esta se dá quando o navegador leva adiante o barco, na 
ausência do vento, com o auxílio dos remos, procedimento este mais exigente e 
cansativo, equivalente metafórico do novo método de acesso à verdade, fundado nos 
raciocínios e postulados. Esta "segunda navegação" que o filósofo deve empreender 
corresponde propriamente à dialética: para alcançar a essência (a natureza 
verdadeira) do Bem, é preciso buscar alcançá-lo pela contemplação, dirigir o intelecto 
para além do mundo sensível. A verdade está na Ideia, na sua forma interior, e não 
na sua forma visível. O pensamento deve então voltar-se para a forma interior ou 
essência das coisas, isto é, a natureza puramente inteligível ou realidade íntima do 
que é. 
A partir da metáfora da "segunda navegação", Platão afirmará que as coisas que 
captamos com os olhos do corpo são formas físicas; porém, as coisas que captamos 
com o "olho da alma" são, ao contrário, formas não-físicas. O "ver" da inteligência 
capta formas inteligíveis que são essências puras: o Bem, o Verdadeiro, o Belo, o 
Justo etc. Essa hierarquia está assentada na ontologia geral de Platão, na qual o 
sensível só é em função do suprassensível. Portanto, o valor das coisas somente é 
valor se subordinado ao valor superior da alma. 
É importante lembrar que, para Platão, assim como para Sócrates e Aristóteles (que 
veremos na próxima Unidade), a ética se dá na relação que estabelecemos com os 
outros na Polis, ou seja, na sociedade, na relação com o "outro". E, de modo especial, 
para Platão, tem como sua finalidade a construção de uma sociedade na qual Justiça 
seja seu maior valor. Do mundo Ideal é que retiramos o conceito de Justiça e pela 
razão devemos apreendê-lo e praticá-lo na vida em sociedade. 
Saiba mais 
A "Alegoria da Caverna" de Platão é parte de uma de suas mais importantes obras, A 
República. Neste obra (composta por 10 partes, das quais a alegoria é a VII), Platão 
discorre sobre o que seria uma cidade justa, como cada pessoa deveria agir para que 
ela assim se mantes se e quem deveria governá-la. 
Para saber mais assista ao documentário sobre A República e o papel da Alegoria. 
FINALIZANDO 
Nesta primeira Unidade vimos os conceitos básicos de Ética, Moral, e como estas são 
determinadas pela cultura. Também fizemos uma breve abordagem de como se 
distinguem Leis Jurídicas das Leis Morais, estas últimas objetos da consideração 
filosófica que seguiremos nas próximas unidades. Iniciamos as primeiras 
considerações filosóficas sobre o conceito de bem, de justo, verdadeiro, belo etc. que 
os atenienses Sócrates e Platão elaboraram, e a importância da capacidade inata dos 
seres de humanos de refletir sobre seus atos como condicionante das ações morais. 
Nas seções a seguir veremos especificamente como os mais variados filósofos, das 
mais variadas épocas e correntes, conceberam a perspectiva ética e moral como guia 
para a boa vida, que depende das boas ações que os sujeitos são capazes 
Desafio 
Em 1997 Barbara Harris, americana, criou um programa que tem gerado polêmica 
desde então. O "Projeto Prevenção" oferece US$ 300 (trezentos dólares) para 
mulheres viciadas aceitarem se submeter a um processo de esterelização ou 
permanente controle de natalidade. O argumento de Harris para justificar a existência 
e necessidade do programa é que todos os anos milhares de crianças nascem de 
mães viciadas que não terão condições financeiras, psicológicas e de saúde para 
cuidarem de seus filhos. Além disso, muitas nasceriam já vitimadas pelo vício da mãe, 
herdando delas seu vício ou mesmo sequelas físicas por conta do comprometimento 
ao longo da gestação. O programa distribui folhetos nas ruas para seu público ao, 
alguns contendo uma frase bastante chamativa: "Não deixe que uma gravidez 
comprometa seu vício". Seus críticos consideram que Barbara Harris "suborna" 
mulheres viciadas que não estariam em condições de decidir sobre sua capacidade 
reprodutiva, e que por isso o programa é moralmente condenável. Harris defende-se 
dizendo que ela, tendo já adotado crianças filhas de mães biológicas viciadas, entende 
que ninguém deve impingir seu vício a uma criança inocente, e que faria qualquer 
coisa para impedir que uma criança inocente sofra (SANDEL, 2014, p. 46). O projeto 
já chegou a outros países, onde segue provocando polêmicas, como no Reino Unido. 
Considerando a questão moral, o modo como formulamos nossos valores morais e 
éticos, você considera moralmente válida a atitude e o projeto de Barbara Harris? 
Proponha o debate aos seus colegas e questione como eles formulam suas opiniões 
sobre a questão. Sua cultura e o meio no qual vocês se inserem é determinante para 
que vocês cheguem a estas conclusões 
Dica de leitura 
 Leia o texto Direito e moral: o direito não se dissocia da moral, de Adeilson de 
Oliveira, para aprofundar sua compreensão sobre o assunto - LINK: 
https://adeilsonfilosofo.jusbrasil.com.br/artigos/236659547/direito-e-moral 
 Sobre a questão da Banalidade do Mal segundo Hannah Arendt, leia o artigo: 
Irreflexão e Banalidade do Mal no pensamento de Hannah Arendt: 
http://www.saocamilo-sp.br/pdf/bioethikos/89/A5.pdf 
 Para compreender melhor o conceito de Bem em Platão, lei ao artigo do professor 
Jayme Paviani: 
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewFile/1527/989 
 Antes de encerrar o estudo desta aula, leia a resenha do livro O que você precisa 
saber sobre ética: 
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/viewFile/14597/13349http:/www.p
eriodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/download/14597/13349

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