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Profa. Dra. Barbara Lopes UNIDADE I História das Relações Internacionais A disciplina História das Relações Internacionais cresceu em importância quando ocorreram as transformações observadas no cenário mundial entre as décadas de 1980 e 1990. O desmoronamento da União Soviética e o término da Guerra Fria. Emergência da globalização do capitalismo liberal. Fatos que levantaram questionamentos e crises sobre interpretações científicas na área das Relações Internacionais capazes de explicar o mundo recente. Resgatar os estudos de história nas Relações Internacionais. Fenômenos do presente eram incompreensíveis sem as contribuições da história. Importância da disciplina História das Relações Internacionais A disciplina História das Relações Internacionais é importante lembrar que sua origem remete à História Diplomática, área de estudos que se desenvolveu ao longo do século XIX. História Diplomática é a história das relações do Estado com outros povos, contada com base nos documentos oficiais do Estado, isto é, notas diplomáticas, memorandos, correspondências, tratados, convenções etc. (GONÇALVES, 2007). O grande volume de material diplomático produzido a partir do Congresso de Viena em 1815 e a expansão do imperialismo europeu. A Primeira Guerra Mundial e a crise que se seguiu até desembocar na Segunda Guerra Mundial aumentaram ainda mais o interesse nos estudos de História Diplomática. Desenvolvimento da disciplina História das Relações Internacionais Pierre Renouvin: crítica à História Diplomática. Objetivo: superar as produções historiográficas nos marcos das chancelarias e propor uma interpretação com base em outras perspectivas. Forças profundas: forças que impulsionavam as ações daqueles que conduziam as relações entre os Estados. “História das Relações Internacionais requer a interpretação das influências geográficas, econômicas, culturais e ideológicas que condicionam a ação dos Estados em suas relações externas” (GONÇALVES, 2007). Disciplina História das Relações Internacionais recorre às mais diversificadas fontes de pesquisa, tanto escritas, como jornais, cartas, panfletos, cartazes, livros, biografias; quanto orais para realizar a interpretação dos fatos em análise. Desenvolvimento da disciplina História das Relações Internacionais Nos estudos europeus de História das Relações Internacionais destacam-se várias correntes, com proeminência dos franceses. Pierre Renouvin: lançamento de 8 volumes de Introdução às Relações Internacionais nos anos 1950. Renouvin estava insatisfeito com as interpretações propostas à época pela História Diplomática para as causas das guerras. Proposta da obra de Renouvin: construção de uma explicação que considerasse os variados aspectos da vida internacional, como as forças materiais e morais que influenciavam o mundo do seu tempo como os movimentos nacionais e a crise econômica. Forças profundas: conjunto de causalidades sobre as quais atuavam as pessoas responsáveis pela política externa dos Estados. Estudos europeus: Escola Francesa Essas “forças profundas” são de diversos tipos e Renouvin as enumera na primeira parte da obra Introdução à História das Relações Internacionais: Geográficas: atributos de posição e espaço que orientam a alocação dos agregados humanos. Demográficas: surtos demográficos e movimentos migratórios como constrangimentos do ambiente internacional. Econômicas: divididas entre materiais e financeiras e entre conflitivas e cooperativas. Mentalidade coletiva: destaca-se o papel constitutivo de sentimento nacional. Correntes sentimentais: movimentos nacionalistas e pacifistas. Estudos europeus: Escola Francesa Jean-Baptiste Duroselle foi um dos mais importantes discípulos de Renouvin. Responsável pela difusão da Escola Francesa para outras partes do continente europeu e também para o mundo. Sua maior contribuição veio com a obra Todo Império perecerá, em que Duroselle enxergou a derrocada da União Soviética ainda no início dos anos 1980. René Girault foi o terceiro expoente da Escola Francesa que, junto com seus colegas Jacques Thobie e Robert Frank, produziram três volumes abordando a história das Relações Internacionais europeias entre os séculos XIX e XX. “A escola francesa continua produzindo obras que analisam a evolução das relações internacionais de 1945 aos nossos dias” (SARAIVA, 2007). Estudos europeus: Escola Francesa Na Grã-Bretanha, a disciplina ficou mais conhecida como História Internacional e teve como ponto de partida a chegada de Donald Watt na Escola de Londres de Economia e Política em 1954. Demais historiadores: Herbert Butterfield, Matin Wigth, Hedley Bull, Adam Watson, dentre outros. Temas mais abordados: a questão da ordem internacional, biografias de personalidades consagradas na condução da política exterior europeia, as causas das guerras mundiais e seus impactos na sociedade, e ainda as relações entre Grã-Bretanha e Estados Unidos ao longo do século XX. Análise da integração europeia desde uma perspectiva mais crítica, apontando as fragilidades e os desafios da atual União Europeia. Estudos europeus: Escola Britânica Principais obras: Adam Watson publicou, em 1981, Diplomacy: the dialogue between States (Diplomacia: o diálogo entre os Estados) e, em 1984, The expansion of international society (A expansão da sociedade internacional) em coautoria com Hedley Bull. Nessas obras, Watson e Bull desenvolvem uma análise de base histórica para a evolução do sistema internacional e também da sociedade internacional, observando a diferenciação entre sistema e sociedade: Sistema de Estados: rede de pressões que levam Estados a considerarem outros Estados em seus cálculos e desígnios. Sociedade internacional: vincula o sistema ao conjunto de regras comuns, instituições, padrões de conduta e valores que são compartilhados e acordados por Estados. Estudos europeus: Escola Britânica A tradição britânica, portanto, teve o mérito de aprofundar os estudos de História das Relações Internacionais a partir de um sistema de conceitos que possibilitam compreender as dinâmicas das relações internacionais, para além de um mero sistema de ordenamento entre Estados. A percepção da existência de valores e padrões de conduta relativos à existência de uma sociedade internacional inicialmente europeia e depois mundial seria o grande diferencial proposto e abordado historicamente pela Escola Britânica. Demais estudos de História das Relações Internacionais produzidos em âmbito europeu, porém menos volumosos e não menos importantes, foram desenvolvidos na Itália e na Suíça a partir da difusão da produção das Escolas Francesa e Britânica. Estudos europeus: Escola Britânica Nos Estados Unidos, a predominância do desenvolvimento de uma teoria de relações internacionais a partir da área da Ciência Política dificultou a formação de uma escola de História das Relações Internacionais norte-americana. Não há uma Escola Norte-americana de história das Relações Internacionais, mas apenas uma abordagem histórica em determinadas questões vivenciadas pelos Estados Unidos. História Diplomática: destaca-se a obra de Samuel Bemis, A diplomatic history of Unites States (Uma história diplomática dos Estados Unidos, em tradução livre), publicada em 1936. Em seu livro, Bemis analisou a história diplomática dos Estados Unidos e discorreu sobre o nacionalismo e o conservadorismo dos estudos sociais desenvolvidos nos Estados Unidos daquele período (SARAIVA, 2007). Estudos americanos: Estados Unidos Thomas Baily e Charles Beard foram os responsáveis por renovarem os estudos em torno da história diplomática dos Estados Unidos. Baily discutiu a formulação da política exterior norte-americana por meio da opinião pública e outros fatores internos de forma a revisar a obra deBemis. Beard analisou concepções divergentes da política exterior dos Estados Unidos, fundamentado na industrialização versus a agricultura, ou seja, por meio de elementos econômicos. Entretanto, nos anos que se seguiram à Guerra Fria, o enforque dos estudos norte-americanos em Relações Internacionais não deu seguimento ao aprofundamento na disciplina. Preocupação com o expansionismo da União Soviética: os Estados Unidos foram o berço de nascimento da Teoria Realista das Relações Internacionais. Estudos americanos: Estados Unidos Na opinião de Saraiva (2007), são os países da América do Sul que possuem abordagens sistemáticas e consideráveis da história das relações internacionais. Na Argentina, os estudos realizados em torno da disciplina têm como tema a inserção internacional argentina frente aos desafios contemporâneos. Lançamento do livro Brasil e África: outro horizonte, em 1961, José Honório Rodrigues inaugurou a disciplina História das Relações Internacionais no Brasil. Universidade de Brasília inaugurou o primeiro programa de pós-graduação da América do Sul na disciplina em 1976 dentro do curso de História. Estudiosos de História das Relações Internacionais que reúne Amado Luiz Cervo, Paulo Roberto de Almeida, Moniz Bandeira, Clodoaldo Bueno, José Flávio Sombra Saraiva, dentre outros. Estudos americanos: América do Sul Sobre História Diplomática e a disciplina História das Relações Internacionais é correto afirmar que: a) História Diplomática e História das Relações Internacionais se referem ao mesmo objeto de estudo. b) História Diplomática teve sua origem nos países europeus, enquanto que a disciplina História das Relações Internacionais teve sua origem nos Estados Unidos. c) O principal conceito desenvolvido pela História Diplomática foi o de “forças profundas”. d) A disciplina História das Relações Internacionais se desenvolveu das insuficiências da História Diplomática. e) Não houve desenvolvimento da História das Relações Internacionais nas Américas. Interatividade Sobre História Diplomática e a disciplina História das Relações Internacionais é correto afirmar que: a) História Diplomática e História das Relações Internacionais se referem ao mesmo objeto de estudo. b) História Diplomática teve sua origem nos países europeus, enquanto que a disciplina História das Relações Internacionais teve sua origem nos Estados Unidos. c) O principal conceito desenvolvido pela História Diplomática foi o de “forças profundas”. d) A disciplina História das Relações Internacionais se desenvolveu das insuficiências da História Diplomática. e) Não houve desenvolvimento da História das Relações Internacionais nas Américas. Resposta A Europa no início do século XVII (1601-1700) passava por um processo conflituoso entre o esforço para superação de costumes e instituições medievais. Processo lento e marcado por: Guerras de escala continental, conflitos religiosos, ascensão e quedas de potências e dinastias, consolidação do Estado-nacional, revolução cultural iniciada no Renascimento e Contrarreforma. A guerra foi uma crise geral que marcou o início do século XVII. Ao fim da guerra iniciou-se o processo de construção da sociedade internacional europeia, fundamentada em um conjunto de valores e processos que fundamentam o sistema de Estados Soberanos. A construção da sociedade internacional europeia A Guerra dos Trinta Anos teve início por questões religiosas, com a intensificação da rivalidade entre o Imperador católico do Sacro Império Romano-Germânico e as cidades- Estados que haviam aderido ao protestantismo no norte do território da atual Alemanha, que se opunham ao seu controle. O Sacro Império Romano-Germânico foi formado em 962, com a coroação do Imperador Otto pelo Papa João XII e durou até 1806, quando foi dissolvido pela invasão de Napoleão. Sua criação pretendia reivindicar a sucessão de Carlos Magno e do antigo Império Romano do Ocidente, herança direta da civilização romana e cristã, fundamentada na Igreja Católica Romana. O Sacro Império, portanto, representava a unidade temporal dos católicos, enquanto o Papado representava sua unidade espiritual. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) Sacro Império Romano-Germânico Fonte: https://sites.google.com/s ite/historiaevolutiva/edad- media/el-sacro-imperio- romano-germanico Martinho Lutero, em 1519, rebelou-se contra o Imperador e o Papa e conseguiu o apoio do poderoso duque da Saxônia, onde a Reforma Protestante teve profundo apelo. Seguiu-se uma série de conflitos entre católicos e os seguidores da religião reformada de Lutero, aos quais passaram a ser chamados de “protestantes” que só teve uma trégua com a assinatura de um tratado entre o Imperador do Sacro Império, Carlos V, e os protestantes reunidos na Liga Esmalcalda em 25 de setembro de 1555, na cidade de Augsburgo. Com a Paz de Augsburgo seguiu-se um período de tolerância religiosa, sendo que, pelo tratado, ficou estabelecido que cada príncipe ou governante teria liberdade de escolher sua religião que, por consequência, se estenderia aos seus súditos, porém permitindo a emigração dos descontentes. Reforma Protestante e a Paz de Augsburgo Com a ascensão do Imperador Rodolfo II ao trono do Império em 1575, acirraram-se novamente as rivalidades religiosas que se agravaram com impasse de sucessão no Reino da Boêmia. Os protestantes, reunidos na União Evangélica, defendiam que a Coroa da Boêmia deveria ser entregue a Frederico V, eleitor do Palatinado e defensor da religião protestante, enquanto os católicos apoiaram a reivindicação de Fernando II da casa dos Habsburgos, futuro Imperador e católico fervoroso. Educado na Igreja Católica e herdeiro da aliança entre os Habsburgos e o Papado, Fernando II reprimiu violentamente os protestantes, destruiu templos e impôs o catolicismo como única religião a ser praticada do reino. Protestantes x católicos Defenestração de Praga Ilustração de Johann Philipp Abelinus entre 1635 e 1662. Fonte: livro-texto A Guerra dos Trinta Anos foi um conflito que opôs não apenas regiões do Sacro Império Romano-Germânico que queriam autonomia diante do poder imperial e outras que sustentavam o Império e o Papado. Também envolveu diretamente os apoiadores católicos do Imperador e da dinastia de Habsburgo, Espanha e Polônia, contra uma coligação protestante composta pelos príncipes alemães, Países Baixos, Dinamarca, Suécia e França católica. Cinco fases: a primeira é a fase da Boêmia, de 1618 a 1621; a segunda é a fase do Palatinado; de 1621 a 1624; a terceira é a fase dinamarquesa, de 1625 a 1630; a quarta é a fase sueca, de 1630 a 1634; e a quinta e última fase é a fase francesa, de 1634 a 1648. Em cada uma dessas fases, cada país enfrentou a coalização do Império, com a Espanha e os Estados germânicos católicos. Desenvolvimento da Guerra dos Trinta Anos Os acordos que possibilitaram o término da guerra foram sendo negociados ao longo dos últimos três anos de conflito. As cidades de Münster, de precedência católica, e Osnabrück, de precedência protestante, são declaradas zonas neutras para sediar as conferências de paz. O resultado dessas conferências ficou conhecido como a Paz de Vestfália e reúne um conjunto de 11 tratados. Por meio desses acordos, foi proclamada uma anistia geral e os vencedores receberam concessões territoriais. A Paz de Augsburgo, que institui a liberdade religiosa, é reafirmada não apenas na Boêmia, mas em todo o Império. Acordos de Paz O Tratado de Vestfália é considerado o primeiro acordo internacional, uma vez que consagrou o exercício da soberania estatal por meio de garantias de não intervenção entre os Estados. Separação entre as esferas da religião e da política. Esforço para superação da ordem e direito medievais, cabendo ao Papa o papel de árbitrodos reis, sendo as funções do Estado secular subordinadas à Igreja. Após os acordos de Vestfália, os Estados deixam de se sujeitar às normas morais externas a eles próprios e adotaram um sistema de reciprocidade fundamentado no reconhecimento mútuo das múltiplas soberanias e no Direito Internacional moderno dos pactos e tratados internacionais. A Paz de Vestfália Sistema Medieval x Sistema Moderno de Estados Pactos de Lealdade Hierarquizados Múltiplas Independências França Espanha Suíça Holanda Papa Império Reinos Principados No entanto, no final do século XVIII, a eclosão da Revolução Industrial e da Revolução Francesa levariam ao desabamento de toda estrutura construída na Paz de Vestfália. Entre 1792 e 1815 houve guerra ininterrupta em toda Europa e em alguns locais do mundo desencadeada pela força do ideário revolucionário francês. As guerras napoleônicas marcaram o fim das múltiplas independências da Paz de Vestfália, pois Napoleão Bonaparte tinha pretensões imperiais, ou seja, almejava destruir a ordem internacional vigente para construir uma nova ordem. Congresso de Viena em 1815: tentativa de reconstituir a ordem internacional europeia, porém não mais por meio do sistema das múltiplas independências diante da possibilidade do perigo de uma nova aventura imperial. Guerras Napoleônicas O Congresso de Viena ocorreu oficialmente entre novembro de 1814 e junho de 1815. O sistema das múltiplas independências e a razão de Estado foram substituídos pela hegemonia coletiva e equilíbrio de poder entre os cinco grandes: Grã-Bretanha, França, Rússia, Prússia e Áustria. As cinco grandes potências europeias agiam como diretório, realizando intervenções coletivas para manutenção do equilíbrio e da ordem de Viena. A legitimidade do Concerto Europeu se fundava nos seguintes princípios: qualquer dos extremos – a potência singular independente ou a hegemonia singular absoluta – não podiam impor-se. Mútuo controle entre as potências. O Congresso de Viena e o Concerto Europeu No século XIX, a Europa mergulhou em duas ondas que conformariam o mundo contemporâneo: o nacionalismo e o liberalismo, resultando em um período no qual se consagrou a soberania popular e o mundo se tornou capitalista. Seja pela força ou pela negociação de acordos, a Europa montou um efetivo esquema de dominação por todo o mundo. Aos novos Estados era exigido que copiassem o modo de vida europeu em todas as áreas, incluindo a organização interna, o livre comércio externo e, sobretudo, os códigos e as regras de conduta do Direito Internacional. A expansão europeia se deu em três dimensões: dominação estratégica, exploração econômica e imperialismo cultural. Expansão da sociedade internacional europeia A corrida para a África Fonte: https://br.pinterest.com/pin/65794782 6781334317/?lp=true Sobre a Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestfália, podemos afirmar que: a) A Guerra dos Trinta Anos foi um conflito exclusivamente de cunho religioso. b) A Paz de Vestfália instituiu o sistema de Estados soberanos ao fim da Guerra dos Trinta Anos. c) A Paz de Vestfália estabeleceu a interferência do Papado sobre os Estados católicos europeus. d) A Guerra dos Trinta Anos foi um conflito entre Estados Católicos contra Estados Protestantes. e) A Guerra dos Trinta Anos destruiu o sistema de Estados soberanos instituídos pela Paz de Vestfália. Interatividade Sobre a Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestfália, podemos afirmar que: a) A Guerra dos Trinta Anos foi um conflito exclusivamente de cunho religioso. b) A Paz de Vestfália instituiu o sistema de Estados soberanos ao fim da Guerra dos Trinta Anos. c) A Paz de Vestfália estabeleceu a interferência do Papado sobre os Estados católicos europeus. d) A Guerra dos Trinta Anos foi um conflito entre Estados Católicos contra Estados Protestantes. e) A Guerra dos Trinta Anos destruiu o sistema de Estados soberanos instituídos pela Paz de Vestfália. Resposta O Concerto Europeu foi o mecanismo regulador das relações internacionais predominante durante o século XIX. Com raízes na tradição anti-hegemônica e no equilíbrio de poder, baseava-se em normas e consenso entre amigos. A sociedade internacional europeia atingiu o seu ápice entre 1871 e 1914. Foram décadas de prosperidade, de inovações técnico-científicas, de desenvolvimento das artes, de crescimento demográfico, da formação dos grandes impérios coloniais, de efervescência de novas ideias e ideologias – Belle Époque. Contudo, ainda que as potências do Concerto Europeu fossem as mesmas depois de 1871, a balança de poder entre elas se alterou significativamente após a unificação alemã comandada pela Prússia. O apogeu do Sistema Internacional Europeu (1871-1914) A Prússia, reino mais avançado no processo de industrialização no espaço germânico, liderou a centralização da Alemanha, dando origem ao Império Alemão. Durante o processo de unificação, a Prússia derrotou a Dinamarca na Guerra dos Dois Ducados e incorporou os ducados de Holstein e Schleswig ao norte. Em seguida, derrotou a Áustria na Guerra Austro-prussiana e anexou Estados germânicos ao sul. Por fim, após um desentendimento com a França sobre a sucessão ao trono espanhol, a Prússia foi à guerra contra os franceses, derrotando-os em 1871. Além da anexação da região da Alsácia e da Lorena pela Prússia, a França foi obrigada a arcar com indenização de guerra. A unificação da Alemanha A unificação da Alemanha Fonte: https://www.coladaweb.com/ historia/unificacao-alema Reino da Prússia em 1861 Limites do Império Alemão em 1871 O Império Alemão após as guerras de unificação seguiu um processo de industrialização acelerada que transformou a Alemanha em uma potência continental com potencial de hegemonia sobre a Europa. A França não conseguiu acompanhar o rápido desenvolvimento industrial e militar dos alemães. A Áustria, dividida em uma monarquia dual congregando também a Hungria, via-se em vertiginoso declínio na segunda metade do século XIX. A Rússia, após sua rápida expansão para leste até o Alasca, possuía uma imensa população, porém era um país economicamente agrário e atrasado no quesito industrialização. A Itália unificada não chegou a gozar o status de grande potência no quadro geopolítico europeu, devido ao seu atraso econômico e insuficiência militar. Tendências na geopolítica europeia após 1871 A Grã-Bretanha era a maior potência marítima da época, com presença naval em todos os mares do globo. Porém, sua política externa correspondia a uma orientação de não intervenção nos assuntos do continente, ao passo que se esforçava pela manutenção de seu grande império ultramarino – isolamento esplêndido. Em escala mundial, embora o poderio europeu sobre o mundo fosse incontestável, já era notável a ascensão de outras potências fora do âmbito europeu: Estados Unidos e Japão. Crescente instabilidade no quadro geopolítico europeu na segunda metade do século XIX levou ao fim do Concerto Europeu. Tendências na geopolítica europeia após 1871 O imperialismo do capital, ao qual Lenin chamou de “fase superior do capitalismo”, chegou a todos os recantos do planeta. A economia internacional se transformou em uma única economia global. As grandes potências econômicas: França, Grã-Bretanha, Alemanha e Estados Unidos realizaram investimentos de grande volume no exterior. Divisão internacional do trabalho: a crescente diferença entre as economias industrializadas e exportadoras de capital, hoje chamados países desenvolvidos, e aqueles exportadores de matérias-primas, os países em desenvolvimento. No continente europeu ocorreu uma redistribuição do poder econômico entre as potências, isto é, o relativo declínio da Grã-Bretanha no período de acentuada depressão na década de 1870, e o avanço determinado daAlemanha. Economia e relações internacionais 1. Ampliação da base geográfica do capitalismo, que ganhou dimensão global; 2. Por conseguinte, a economia mundial se tornou mais pluralista do que antes, ou seja, Grã-Bretanha deixou de ser o único polo industrial; 3. Ocorreu a segunda Revolução Industrial; 4. Transformação da estrutura da empresa capitalista: divisão de trabalho; 5. Mudança das características do mercado consumidor: mais exigente; 6. Ampliação do setor de serviços; 7. Crescente convergência entre política e economia, cujo fortalecimento dos nacionalismos teve consequência direta nas questões geopolíticas da época. Economia e relações internacionais Otto von Bismark, “o chanceler de ferro”, foi um diplomata e político alemão, ocupou o cargo de primeiro-ministro do Reino da Prússia a partir de 1862 e empregou seu prestígio e habilidade junto ao Rei da Prússia para conduzir o processo de unificação da Alemanha desde a Prússia, isolando a influência austríaca. A Diplomacia de Bismark Fonte: https://www.pensador.com/autor/ otto_von_bismarck/biografia/ Tal política conduzida pelo chanceler alemão implicava nos seguintes tópicos: 1. evitar o aumento do poderio alemão de modo a não causar suspeitas ou medo demasiado entre as demais potências europeias; 2. manter a paz na Europa Central; 3. isolar a França, que poderia ameaçar a posição alemã caso esta última se aliasse a outras potências; 4. evitar participar da corrida colonial, para não se envolver em conflitos diretos com a França ou a Grã-Bretanha. Tratado dos Três Imperadores em 1872, reunindo a Rússia e a Áustria-Hungria além da Alemanha; Difícil manutenção desse tratado devido à rivalidade entre Rússia e Áustria-Hungria nos Bálcãs. A Diplomacia de Bismark O despertar da bipolaridade na Europa Fonte: https://memoprimeiraguerramundial.w ordpress.com/2017/03/25/introducao- o-que-foi-a-1a-guerra-mundial/ Qual dos países listados abaixo desorganizou o Concerto Europeu? a) França. b) Grã-Bretanha. c) Áustria-Hungria. d) Rússia. e) Alemanha. Interatividade Qual dos países listados abaixo desorganizou o Concerto Europeu? a) França. b) Grã-Bretanha. c) Áustria-Hungria. d) Rússia. e) Alemanha. Resposta Desde 1815 não houve guerras que envolvessem todas as potências europeias. Primeiro conflito de amplitude mundial. Participação de Estados Unidos e Japão. Desenvolvimento tecnológico: guerra altamente mortal. Essa foi a última guerra dos nacionalismos do século XIX e inaugurou a era das guerras e conflitos mundiais e ideológicos do século XX. Conforme conclui Luiz de Alencar Araripe (2011) “A Grande Guerra foi a mãe das guerras do século XX”. Primeira Guerra Mundial colapsou completamente o sistema europeu de Estados lançado no Congresso de Viena em 1815 e deu origem a um sistema global. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) A iniciativa do Império Austro-Húngaro de absorver parte da Península Balcânica serviu para acirrar o nacionalismo sérvio dentro e fora das fronteiras da Bósnia, estimulado pelo apoio do Império Russo e de seu czar, Nicolau II. Francisco Ferdinando, futuro sucessor do Imperador austríaco Francisco José, tinha um perfil mais liberal, em cujos os planos de governo constava o objetivo de conceder maior autonomia às províncias eslavas do Império. Desde a anexação da Bósnia, houve diversas tentativas de assassinato de autoridades austro-húngaras na Croácia e na Bósnia, realizadas por sérvios súditos do Império Austro- húngaro, porém sem sucesso. A Mão Negra vinha planejando um atentado desde o final de 1913 e, a partir de março de 1914, decidiram que o alvo seria o arquiduque Francisco Ferdinando. O estopim da Primeira Guerra Mundial Assassinato do Arquiduque austro-húngaro Francisco Ferdinando e sua esposa Sophia por Gavrilo Princip em 28 de junho de 1914. Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia em 28 de julho de 1914 começando a Primeira Guerra Mundial. O sistema de alianças foi acionado, resultando em uma avalanche de declarações de guerra. O estopim da Primeira Guerra Mundial Fonte: http://guerre1418.o rg/html/thematique s_facteur7.html Em uma semana, à exceção da Itália, todas as potências que compunham a Tríplice Entente e a Tríplice Aliança estavam oficialmente em guerra. Em 1915, com a promessa britânica e francesa de conseguir territórios austríacos ao norte, a Itália entra na guerra ao lado da Tríplice Entente. Guerra se desenvolveu em duas fases: 1. Guerra de movimento em 1914. 2. Guerra de posição ou trincheira (1915-1918). Ao lado: soldados alemães em trincheiras O desenrolar do conflito Fonte: https://brasil.elpais.com/brasi l/2018/01/05/cultura/1515164 110_088216.html No mar, os alemães, em fevereiro de 1917, decretaram guerra submarina irrestrita, atingindo propositadamente navios mercantes norte-americanos carregados de suprimentos com destino à Grã-Bretanha e à França. O fato provocou a entrada dos Estados Unidos no conflito em abril daquele ano ao lado da Tríplice Entente, rompendo o impasse a favor de seus aliados. A partir de setembro de 1918, países aliados alemães se renderam e pediram um cessar-fogo. Finalmente, em 11 de novembro, a Alemanha aceita as condições e um armistício é assinado. O fim da Primeira Guerra Mundial Estados Unidos: defesa da Paz dos 14 Pontos de Wilson não foi aceito. Conferências que resultaram no Tratado de Versalhes: duras condições de paz à Alemanha. Perda de colônias e territórios na Europa. Indenizações de guerra. Limitação do exército a 100 mil homens. Proibição de fabricação de navios de guerra. Proibição de se unir à Áustria. A Paz de Versalhes Fonte: https://www.todamateria.com.br/tratado-de-versalhes/ Europa antes e depois do Tratado de Versalhes Fonte: http://www.megatimes.com.br/2013/04/primeira-guerra-mundial.html Alianças defensivas Três problemas transformaram o sistema de alianças em uma bomba-relógio: 1. Ambições e problemas entre as potências 2. Corrida armamentista 3. Fim da neutralidade britânica Lógica interna > política externa Dilema da segurança: “Descobrir as origens da Primeira Guerra Mundial não equivale a descobrir ‘o agressor’. Ele repousa na natureza de uma situação internacional em processo de deterioração progressiva, que escapava cada vez mais ao controle dos governos. Um sistema de blocos de nações só se tornou um perigo para a paz quando as alianças opostas se consolidaram como permanentes, mas especialmente quando as disputas entre eles se transformaram em confrontos inadministráveis” (HOBSBAWM). Discutindo as forças profundas que levaram à Primeira Guerra Mundial Dentre os fatores que resultaram na Primeira Guerra Mundial, não podemos citar: a) Independência dos Estados Unidos. b) Formação de um sistema de alianças fixas. c) Disputas territoriais entre Rússia e Áustria-Hungria nos Bálcãs. d) Instauração do dilema de segurança entre as potências europeias após unificação da Alemanha. e) Fim da neutralidade britânica. Interatividade Dentre os fatores que resultaram na Primeira Guerra Mundial, não podemos citar: a) Independência dos Estados Unidos. b) Formação de um sistema de alianças fixas. c) Disputas territoriais entre Rússia e Áustria-Hungria nos Bálcãs. d) Instauração do dilema de segurança entre as potências europeias após unificação da Alemanha. e) Fim da neutralidade britânica. Resposta ARARIPE, L. A. Primeira Guerra Mundial. In: MAGNOLI, D. (Org.). História das guerras. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2011. GONÇALVES, W. S. História das relações internacionais. In: GONÇALVES, W. S.; LESSA, M. L. (Org.). História das relações internacionais: teoria e processos. Rio de Janeiro: Uerj, 2007. HOBSBAWM, E. J. A era dos impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. SARAIVA, J. F. S. História das relações internacionais:o objeto de estudo e a evolução do conhecimento. In: SARAIVA, J. F. S. (Org.). História das relações internacionais contemporâneas: da sociedade internacional do século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2007b. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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