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GESTÃO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS UNIASSELVI-PÓS Autoria: Dra. Carla Eunice Gomes Corrêa Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C824g Corrêa, Carla Eunice Gomes Gestão e elaboração de projetos sociais. / Carla Eunice Gomes Cor- rêa. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 135 p.; il. ISBN 978-65-5646-200-4 ISBN Digital 978-65-5646-196-0 1. Projetos sociais. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vin- ci. CDD 338.9 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Conceitos Básicos Sobre Projetos e Organizações do Terceiro Setor ..............................................7 CAPÍTULO 2 Planejamento e Elaboração de Projetos Sociais ................47 CAPÍTULO 3 Fontes de Recursos para Projetos Sociais ..........................91 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, o tema elaboração de projetos sociais é amplo. Nosso objetivo, neste livro, é apresentar as noções básicas sobre esta atividade. Por esse motivo, com certeza não conseguiremos esgotar o assunto, pois a bibliografia é extensa e composta muitas vezes de manuais elaborados pelo próprio financiador, ou ainda, deve seguir modelos descritos em editais de chamamento de projetos. Por outro lado, muitas vezes o financiador solicita que um projeto seja apresentado, por isso é importante saber o passo a passo de como elaborá-lo. Nas disciplinas que você estudou na graduação e também ao longo do curso de pós-graduação, você já obteve o conhecimento de alguns temas que serão importantes nesta disciplina. Além do tema projetos sociais, vimos a necessidade de situar os projetos dentro das organizações, por isso, no Capítulo 1, apresentaremos um pouco da história e evolução do terceiro setor e também o conceito de projetos e qual a sua relação com as entidades de primeiro setor. Este tema torna-se importante devido alguns editais exigirem que critérios específicos sejam atendidos, como se a entidade é legalmente constituída, se possui certificados e títulos de utilidades públicas, entre outros. No Capítulo 2, estudaremos todas as etapas de um projeto social e quais as informações importantes em cada uma delas. Assim, no decorrer dos estudos você verá como as atividades do projeto se diferenciam das atividades rotineiras da entidade e qual a importância das etapas de monitoramento, avaliação e prestação de contas neste processo. Dando sequência aos estudos, no Capítulo 3, abordaremos o tema captação de recursos. Considerando que grande parte das entidades do terceiro setor necessita de doações e financiamento de projetos para a sustentabilidade, esse tema se torna fundamental, pois apresentará como a entidade poderá diversificar as suas fontes de financiamento e como obtê-las. Assim, o objetivo desta disciplina é incentivar as entidades e profissionais a terem o conhecimento necessário para implantar, realizar a gestão, bem como captar os recursos necessários para o desenvolvimento de seus projetos. Bons estudos! CAPÍTULO 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender o universo das entidades sociais. • Entender a relação dos projetos com a entidades. • Compreender os fatores que direcionam o desenvolvimento de projetos. • Analisar o universo de oportunidades para os projetos sociais. • Conhecer e diferenciar as atividades rotineiras das atividades do projeto. • Identifi car as fases do ciclo de um projeto. 8 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais 9 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Gestão e Elaboração de Projetos Sociais. Com certeza na sua profi ssão você já ouviu falar ou fez parte de algum projeto. Quem atua no terceiro setor sabe o quanto é difícil manter as atividades sem que se tenha bons projetos. A cada dia, as mudanças econômicas, sociais e políticas que ocorrem em nosso país fazem com que o terceiro setor se destaque na gestão e no desenvolvimento de atividades que seriam de responsabilidade do Estado, além de contribuírem para a implementação de políticas públicas nas áreas da saúde, educação, meio ambiente, social e cultural. Neste capítulo, nosso objetivo é relembrar o tema do terceiro setor, de forma que as ações desenvolvidas pelo setor possam buscar a melhoria da qualidade de vida da sociedade através de uma economia sustentável, com a participação e o envolvimento da população num trabalho coletivo, democrático e inclusivo. Veremos quais as instituições que se encaixam nesta categoria e como elas estão organizadas. Inicialmente, conheceremos um pouco das organizações do terceiro setor e a importância dos projetos para estas entidades. Na sequência, iniciaremos nossos estudos pelos ciclos dos projetos sociais. Vamos lá! 2 ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Na literatura, os escritos sobre o terceiro setor são bem antigos. O termo se origina da palavra caridade, originária de caritas, que em latim signifi ca amor ao próximo. Hudson (1999) coloca que o surgimento do terceiro setor está atrelado às primeiras civilizações egípcias, pois estas desenvolveram um severo código moral com base na justiça social e que a partir deste código as pessoas passaram a se preocupar em ajudar o próximo. Outros autores também associam o termo à palavra fi lantropia, de origem grega, cujo signifi cado é boa vontade com as pessoas. o terceiro setor se origina da palavra caridade, originária de caritas, que em latim signifi ca amor ao próximo. 10 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais 2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO TERCEIRO SETOR A literatura demonstra que a partir da Segunda Guerra Mundial, quando a sociedade mais vulnerável começou a conviver com as difi culdades causadas por diversos fatores (desemprego em massa, elevados índices de juros, desvalorização da moeda) que levavam a problemas econômicos-sociais, aumento da desigualdade e exclusão social, o terceiro setor surgiu por intermédio de ações de caridade, fi lantropia, vontade de ajudar o próximo, mas foi em 1970 que a terminologia foi utilizada, inicialmente nos Estados Unidos e, posteriormente, na década de 1980, os países europeus passara a utilizá-la (SANTOS, 2012). No Brasil, o cenário não era diferente, na década de 1970 já se falava em terceiro setor, porém, foi somente na década de 1980 que surgiu a atuação das primeiras entidades. No decorrer dos anos, o terceiro setor passou por evoluções e integrou uma nova ordem na conjuntura econômica, destacando-se no exercício da cidadania, através da realização de atividades complementares às desenvolvidas pelo Estado, suprindo algumas áreas de atuação importantes que, por falta de recursos, o Estado não tem conseguido cumprir (SANTOS, 2012). Num primeiro momento parece que estamos falando de algo novo, recente, mas não, o terceiro setor é antigo. Essa expressão surgiu no Brasil no fi nal da década de 1980 e início dos anos 1990 e representava o conjunto de entidades da sociedade civil semfi ns lucrativos, representado pelas Santas Casas de Misericórdia, hospitais fi lantrópicos e movimentos sociais conhecidos como Organizações Não Governamentais, nomenclatura adotada no Brasil para identifi car grande parte das entidades que também integram o terceiro setor (KISIL, 2002; SCHEUNEMANN; RHEINHEIMER; 2009). O que aconteceu recentemente no Brasil foi a conceituação da expressão terceiro setor a partir da criação de marcos legais que demonstraram de forma mais clara e transparente o trabalho desenvolvido no cenário nacional. Dessa forma, Mendes (1999, p. 7) afi rma que “na década de 1980 foram as ONGs que, articulando recursos e experiências na base da sociedade, ganharam alguma visibilidade, enquanto novos espaços de participação cidadã”. 11 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 Evolução histórica do terceiro setor no Brasil 1ª fase - Império até a 1ª República: data de 1543 a primeira entidade do país criada para atender desamparados, a Irmandade da Misericórdia, instalada na Capitania de São Vicente. O Brasil era constitucionalmente vinculado à Igreja Católica e a utilização dos recursos, principalmente os privados, passavam por seu crivo. Era a época das Ordens Terceiras, das Santas Casas, das Benemerências atuando, principalmente, nas áreas de saúde e previdência. 2ª fase - Revolução de 1930 até 1960: o país iniciou o processo de urbanização e industrialização, que passou a moldar a nova atuação da elite econômica. O Estado fi cou mais poderoso, visto que era o único portador do interesse público. No Estado Novo, com o presidente Getúlio Vargas, editou-se, em 1935, a primeira lei brasileira que regulamentava as regras para a declaração de Utilidade Pública Federal. Dizia seu Art. 1º que as sociedades civis, as associações e as fundações constituídas no país deveriam ter o fi m exclusivo de servir desinteressadamente à coletividade. 3ª fase - a partir de 1960 até a década de 1970: o fortalecimento da sociedade civil deu-se, paradoxalmente, no bojo à resistência à FIGURA 1 – SANTA CASA DE MISERICÓRDIA EM SÃO PAULO FONTE: <https://www.santacasasp.org.br/portal/site/ quemsomos/historico>. Acesso em: 1º mar. 2020. A seguir, poderemos verifi car de forma sintetizada a evolução do terceiro setor. 12 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais ditadura militar. No momento em que o regime autoritário bloqueava a participação popular na esfera pública, microiniciativas na base da sociedade foram inventando novos espaços de liberdade e reivindicação. Inscrevem-se, neste momento, os movimentos comunitários de apoio e ajuda mútua, voltados à defesa de direitos e à luta pela democracia. 4ª fase - a partir dos anos 1970: multiplicam-se as ONGs com o fortalecimento da sociedade civil, embrião do Terceiro Setor, em oposição ao Estado autoritário. O Brasil dava início à transição de uma ditadura militar para um regime democrático. Com uma “distensão lenta, segura e gradual” (como os militares costumavam caracterizar esse processo), a sociedade brasileira começou a exercer seus direitos constitucionais, suspensos até então. Com o avanço da redemocratização e as eleições diretas para os níveis de governo, as organizações de cidadãos assumem um relacionamento mais complexo com o Estado. 5ª fase - os anos 1990: surge um novo padrão de relacionamento entre os três setores da sociedade. O Estado começa a reconhecer que as ONGs acumularam um capital de recursos, experiências e conhecimentos sob formas inovadoras de enfrentamento das questões sociais, que as qualifi cam como parceiras e interlocutoras das políticas governamentais. A materialização do novo padrão surge com a criação do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), primeira entidade empresarial surgida no Brasil a abordar essas questões. A entidade surgiu a partir de encontros e discussões travadas entre integrantes de empresas que praticavam ações nas comunidades e encontravam-se em um fórum promovido pela Câmara de Comércio. 6ª fase - século XXI: a ONU (Organização das Nações Unidas) decreta 2001 como o “Ano Internacional do Voluntário”. Acontecem, no Brasil, o I° e o II° Fórum Social Mundial, implementadores de ideias alternativas de ação econômica e social. Promove- se o desenvolvimento social a partir do incentivo a projetos autossustentáveis – em oposição às tradicionais práticas de caráter assistencialista geradoras de dependência – e às propostas de superação de padrões injustos de desigualdade social e econômica. FONTE: CORREA, C. E. G. Terceiro setor, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Indaial: UNIASSELVI, 2011. 13 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 2.2 CONCEITUANDO O TERCEIRO SETOR Na literatura sobre o terceiro setor, encontra-se uma variedade de conceitos tanto pelas denominações que encontramos, como também pela sua aplicabilidade, o que muitas vezes se torna um desafi o. Neste sentido, Souza (2004) coloca que a variedade de elementos utilizados para conceituar o terceiro setor muitas vezes confunde na compreensão do que seria esse setor e qual sua atuação. Juridicamente esse setor ainda não é reconhecido, por isso, não apresenta um conceito específi co para ele. Entretanto, ele tem ganhado mais espaço e reconhecimento pelas legislações que regulam suas atividades. Alguns autores, como Paes (2003, p. 88), já constituíram um conceito para terceiro setor, defi nindo-o como sendo “aquele que não é público nem privado, no sentido convencional destes termos, porém guarda relação simbiótica com ambos, na medida em que ele deriva sua própria atividade da conjugação entre a metodologia deste com as fi nalidades daquele”. Com certeza você já ouviu falar em terceiro setor na comunidade onde mora. O terceiro setor se inter-relaciona com o primeiro setor, que é o Estado, pelo governo e empresas públicas, cujas ações visam estruturar a sociedade e assegurar por meio das políticas públicas e do uso de recursos de forma coletiva para o bem comum e, com o segundo setor, chamado de setor econômico (mercado), formado pelas empresas privadas (mercado), cujo objetivo é a produção de bens e serviços que atendam às necessidades da sociedade através do mercado. Primeiro setor – Estado. Segundo setor – econômico (mercado). Terceiro setor – associações e fundações. 14 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais FIGURA 2 – SOCIEDADE: PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO SETORES FONTE: Adaptada de Pereira (2013) O surgimento do terceiro setor não exime o governo de sua responsabilidade, bem como não impede as empresas de desenvolverem ações de responsabilidade social. Geralmente, nesse processo, o Estado seria responsável pela transferência de recursos, ou seja, tirando de quem tem mais para fi nanciar ações de quem tem menos, como a cobrança do Imposto de Renda, feita todos os anos às pessoas físicas. Dessa forma, ao realizar a cobrança de impostos (valores monetários dos contribuintes), faz com que esse valor se transforme em bens e serviços públicos do Estado, que deveria ser aplicado no fi nanciamento de ações públicas voltadas à saúde, à segurança, à educação etc. Considerando que o Estado inicialmente não produz nenhum produto que possa gerar recursos e/ou lucros, podemos verifi car que cabe às empresas, o chamado setor produtivo, prover recursos para os pagamentos das ações do Estado através do recolhimento de impostos, cujo pagamento é garantido pelas leis impostas pelo Estado. Segundo Hudson (1999, p. 11), o termo Terceiro Setor tem algo em comum com o setor público, já que suas atividades não geram lucros e procuram atuar em prol do bem comum. Algo a mais em relação ao Estado é que o referido setor 15 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 não está sujeito a controle político direto e tem independênciapara determinar seu próprio futuro. Entretanto, observamos diariamente que o setor produtivo atende de forma rápida e efi ciente as necessidades da sociedade, ou seja, promovendo as ações que seriam de responsabilidade do setor público. Assim, nesse contexto, surge a entidade do terceiro setor, que em suma é uma “combinação” das funções desenvolvidas pelo primeiro e segundo setores, mas por que uma combinação? Podemos dizer que se trata de uma combinação a partir do momento que essas entidades atendem às necessidades da sociedade com educação, saúde e segurança, com verbas advindas das empresas privadas por meio de doações, conforme veremos nos capítulos seguintes. Cabe lembrar que ao mesmo tempo que as organizações do terceiro setor trabalham com o objetivo de melhorar a qualidade de vida ou a realidade de um contexto, elas também enfrentam desafi os, que serão elencados na fi gura a seguir. FIGURA 3 – OBJETIVOS X DESAFIOS DO TERCEIRO SETOR FONTE: A autora 16 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Para você saber mais sobre as universidades comunitárias, sugerimos a leitura do livro: SCHMIDT, J. P. Universidades comunitárias e terceiro setor: fundamentos comunitaristas da cooperação em políticas públicas. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2018. Disponível em: https://www. abruc.org.br/view/assets/uploads/artigos/abruc/universidades- comunit%C3%A1rias-ebook.pdf. Acesso em: 15 mar. 2020. No Capítulo 3 apresentaremos como ocorre a captação de recursos deste setor. Segundo Hudson (1999), podemos ainda destacar nesse contexto dois grupos: as entidades, como escolas, universidades e centros universitários, e as cooperativas, associações de amigos que são chamadas pelo autor de organizações secundárias, visto que essas não visam lucros, porém cobram mensalidades pelo serviço prestado, como também operam de forma comercial. Para que você compreenda melhor esse cenário, utilizamos como exemplo do primeiro grupo as Universidades Comunitárias. Para exemplifi car o segundo grupo, podemos citar o exemplo do Hospital Pequeno Príncipe. O Pequeno Príncipe é um complexo hospitalar pediátrico formado pelo Hospital Pequeno Príncipe e pelo Hospital de Crianças Dr. César Pernetta, que nasceu pelas mãos da comunidade e continua existindo para servi-la. É uma organização não governamental mantida pela Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul 17 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 Carneiro, entidade sem fi ns lucrativos que reinveste nas atividades de saúde, ensino e pesquisa todo o resultado obtido. FONTE: <http://pequenoprincipe.org.br/hospital/a-mantenedora/>. Acesso em: 15 mar. 2020. Um estudo realizado recentemente por Andrade e Pereira (2019), publicado pelo IPEA, demonstra que 47% das entidades atuam em prol do desenvolvimento. Na sequência estão as entidades religiosas, com 20% de participação deste setor, conforme se observa na fi gura a seguir: FIGURA 4 – ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL POR ÁREA DE ATUAÇÃO – 2019 FONTE: <https://mapaosc.ipea.gov.br/dados-indicadores.html>. Acesso em: 30 nov. 2020. Para você aprofundar seus conhecimentos, sugerimos a leitura da obra: LOPEZ, F. G. (org). Perfi l das organizações da sociedade civil no Brasil. Brasília: Ipea, 2018. 18 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Você pode se perguntar por que a necessidade deste setor realizar estas ações. Poderíamos exemplifi car este questionamento utilizando várias justifi cativas, mas usaremos como exemplo a relação do PIB com o IDH. O Brasil, embora tenha se destacado e apresentado um PIB em 2019 de R$ 7,3 trilhões (no último trimestre divulgado (4º trimestre de 2019), o valor foi de R$ 1.892,7 bilhão), ainda apresenta indicadores muitos baixos em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano em alguns municípios brasileiros, que variam de 0,493 (muito baixo) a 0,599 (baixo) (IBGE, c2020). Assim, somente nesse exemplo, podemos observar que em todo o território nacional encontramos uma variedade de problemas sociais, educacionais, de saúde e segurança pública e uma distribuição de renda desigual. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Brasil é medido todos os anos e divulgado nacionalmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), levando em consideração os seguintes critérios de desenvolvimento: educação, saúde e renda. Os fatores citados anteriormente, que são utilizados na medição do PIB, incorporaram-se em uma grande variedade de instituições com diferentes denominações, como Organizações Não Governamentais (ONGs), Organizações da Sociedade Civil (OSCs), Associações Comunitárias, Entidades Assistenciais e Filantrópicas, Fundações e Institutos Empresariais. No quadro a seguir, poderemos acompanhar de forma resumida a trajetória e a evolução do terceiro setor e suas denominações de acordo com as legislações. QUADRO 1 – PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS QUE MARCARAM A TRAJETÓRIA DO TERCEIRO SETOR Ano Evolução 1916 Lei nº 3.071 – OSC como pessoa jurídica. 1935 Lei nº 91 – OSCs como uti lidade pública. Benefí cios de dedução fi scal. 19 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 1 Assim como em outros países, observa-se a cada ano um crescimento do terceiro setor, que combina ações de outros dois setores: o primeiro setor, representado pelo governo, correspondendo assim às ações do Estado para atendimento das necessidades da sociedade, como segurança, educação e saúde, e o segundo setor, representado pelo mercado, ocupado pelas empresas (mercado) que produzem bens e serviços para a sociedade e visam lucro. Neste sentido, analise as afi rmativas a seguir: I - É chamado de terceiro setor porque o Estado seria o primeiro setor, enquanto as organizações do mercado seriam o segundo setor. Assim, entre o Estado e o mercado existe um universo de organizações sem fi ns lucrativos, que se dedicam a ações 1959 Lei nº 3.577 – OSCs com certi fi cação de Enti dade sem fi ns fi lantrópi- cos. Isenção da contribuição patronal previdenciária. 1991 Decreto nº 1.366 – criação do programa Comunidade Solidária. Fundação da ABONG. 1995 Fundação do GIFE. 1997 Criação das RITS (Rede de Informação para o Terceiro Setor) 1998 Lei nº 9.608 – Lei do voluntariado. 1999 Decreto nº 2.999, que dispõe sobre o Conselho da Comunidade Solidária. Lei nº 9.790 – Lei das OCIPs. Criação de Prêmios de Qualidade e Efi ciência. Criação dos Centros de Estudos do Terceiro Setor na academia. 2002 Lei nº 10.406 – Novo Código Civil. Enquadramento das Sociedades Civis em Associação ou Fundação. 2003 FGV cria o Mapa do terceiro setor – base de dados eletrônica de organização do terceiro setor. FONTE: Oliveira e Souza (2015, p. 190) 20 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais sociais variadas de sentido público, perseguindo, portanto, fi ns de interesse geral. II - O terceiro setor já ganhou reconhecimento não pelas ações que desenvolve para toda a sociedade brasileira, mas, sim, pelos prêmios que recebe anualmente das empresas privadas. III - No processo de transformação da sociedade, o terceiro setor vem encontrando respostas criativas para ajudar a mudar o futuro do país, desenvolvendo ações lucrativas para o mercado brasileiro. IV - O terceiro setor é o espaço ocupado especialmente pelo conjunto de entidades privadas que visam lucro e que realizam atividades complementares às públicas, visando buscar a fi lantropia. Assinale a alternativa correta: ( ) Somente a afi rmativa I está correta. ( ) As afi rmativas I e II estão corretas. ( ) As afi rmativas III e IV estão corretas. ( ) Somente a afi rmativa II está correta. 2 Conceitue terceiro setor. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ _____________________________________________. 2.3 INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR Como vimos anteriormente, no decorrer dos últimos anos, incorporou-se uma grande variedade de instituições com diferentes denominações. Tal situação tem causado preocupações para alguns autores, pois: [...] O uso indiscriminado da expressão acabou por tornar o conceito de Terceiro Setor albergue para todos os modelos de entidade que não se enquadrem no conceito dos outros dois setores. Essa ausência de uma defi nição precisa da expressão 21 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 faz com que sua utilização muitas vezes mais confunda do que explique. Ainda mais se for levado em conta o pensamento predominante, segundo o qual não existe, ainda, no âmbito do sistema normativo brasileiro, uma defi nição jurídica de Terceiro Setor (MÂNICA, 2007, p. 3, grifos nossos). De acordo com a Constituição Federal de 1988, são atores sociais e políticos cada vez mais presentes, que de várias formas trazem à vida as premissas da democracia participativa e do controle social. Segundo Hudson (1999, p. 7), “existem vários nomes que de um modo geral fazem parte deste setor. Cada um deles estabelece fronteiras diferentes”. No Brasil, o código civil faz a diferenciação entre as pessoas físicas e jurídicas. As pessoas jurídicas são formadas por um grupo de pessoas físicas que se juntam para determinado fi m. Elas se dividem em: direito interno, formado por empresas de direito público (União, estados, municípios, Distrito Federal, Autarquias) e as chamadas empresas de direito privado (fundações, Associações, Sociedades, partidos políticos); e direito externo, formadas por empresas estrangeiras (governos estrangeiros e organismos internacionais, ONU, OMS, entre outros). O Art. 44 do Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) apresenta as seguintes fi guras jurídicas: associações, fundações e organizações religiosas. Como saber qual a diferença entre Associação e Fundação? Vejamos os exemplos a seguir, eles ajudarão a compreender cada uma das nomenclaturas. 2.3.1 Associações As associações são formadas por um grupo de pessoas físicas que se unem em prol de uma causa ou objetivo comum. De acordo com Szazi (2016, p. 27), trata-se de “uma pessoa jurídica criada a partir da união de ideias e esforços de pessoas em torno de um propósito que não tenha fi nalidade lucrativa”. Essas organizações, de acordo com o Art. 53, não podem visar lucro, e necessitam ter um estatuto social, elaborado de acordo com as obrigações estabelecidas pelo código civil (BRASIL, 2002). Entende-se por estatuto “um conjunto de cláusulas contratuais que relacionam a entidade com seus fundadores, dirigentes e associados, atribuindo- lhes direitos e obrigações” (CAMARGO, 2001, p. 35). 22 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Um estatuto social deverá conter os seguintes elementos: Estatuto Social a) denominação social (Art. 3º, Lei nº 6.404/76 e Art. 1.160, CC/2002); b) prazo de duração; c) sede: município; d) objeto social, defi nido de modo preciso e completo (§ 2º, Art. 2º, Lei nº 6.404/64); e) capital social, expresso em moeda nacional (Art. 5º, Lei nº 6.404/76); f) ações: número em que se divide o capital, espécie (ordinária, preferencial, fruição), classe das ações e se terão valor nominal ou não, conversibilidade, se houver, e forma nominativa (Art. 11 e seguintes, Lei nº 6.404/76); g) diretores: número mínimo de dois, ou limites máximo e mínimo permitidos; modo de sua substituição; prazo de gestão (não superior a três anos); atribuições e poderes de cada diretor (Art. 143, Lei nº 6.404/76); h) conselho fi scal, estabelecendo se o seu funcionamento será ou não permanente, com a indicação do número de seus membros – mínimo de três e máximo de cinco membros efetivos e suplentes em igual número (Art. 161, Lei nº 6.404/76); i) término do exercício social, fi xando a data. FONTE: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/obrigacoes/ estatutocontratosocial.htm>. Acesso em: 16 mar. 2020. O estatuto, após aprovação em Assembleia Geral, deverá ser assinado e registrado no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas da Comarca do município em que a entidade está estabelecida. No caso de a entidade ser estrangeira, esta deverá seguir a legislação brasileira vigente. 23 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 Fundação Dorina Nowill A Fundação Dorina Nowill para Cegos é uma organização sem fi ns lucrativos e de caráter fi lantrópico. Há mais de 70 anos a fundação tem se dedicado à inclusão social de pessoas com defi ciência visual. Uma das formas como fazem isso é por meio da produção e distribuição gratuita de livros em braille, falados e digitais acessíveis, diretamente para o público e também para cerca de 3.000 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil. Também oferecem, gratuitamente, serviços especializados para pessoas com defi ciência visual e suas famílias, nas áreas de educação especial, reabilitação, clínica de visão subnormal e empregabilidade. O funcionamento de organizações destinadas a fi ns de interesse público no Brasil é regulado pelo Decreto nº 3.441, de 26 de abril de 2000, o qual delega competência ao Ministro de Estado da Justiça para autorizar o funcionamento no Brasil de organizações estrangeiras destinadas a fi ns de interesse coletivo, na forma prevista no Art. 11 do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. 2.3.2 Fundações As fundações precisam ser constituídas a partir de um patrimônio determinado, que fará parte de um fundo com um propósito. Geralmente, a constituição de uma fundação parte, por exemplo, de um capital deixado por alguém para que seja utilizado no desenvolvimento de um projeto social, educacional ou de pesquisa. Nesse caso, o instituidor deverá manifestar sua vontade de forma clara e especifi car a que o patrimônio apresentado por escritura pública ou testamento se destina. 24 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Exemplo Fundação O Boticário Miguel Krigsner, fundador de O Boticário, criou em 1990 a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, uma organização sem fi ns lucrativos mantida pelo Grupo Boticário. Para viabilizar as iniciativas da Fundação, bem como as do Instituto Grupo Boticário e outras ações de sustentabilidade, o Grupo destina 1% de sua receita líquida anual à Política de Investimento Social Privado. A Fundação nasceu do entendimento de que a natureza em equilíbrio é imprescindível para a garantia de vida de todos os seres. Com muita dedicação à causa, ao longo das últimas sete décadas, produziu mais de seis mil títulos, imprimiu dois milhões de volumes em braille e mais de mil títulos neste sistema! Também foram produzidas mais de 2,7 mil obras em áudio e cerca de outros 900 títulos digitais acessíveis. Nos serviços de clínica de visão subnormal, reabilitação e educação especial, já são mais de 17 mil pessoas atendidas. Oferece, também, uma gama de serviços, como cursos, capacitações e consultorias. Por fi m, mais recentemente, criou a divisão Soluções em Acessibilidade (antiga DNA Editora), área da Fundação Dorina focada na produção e distribuição de livros e revistas acessíveis nos formatos braille, falado e Daisy, treinamentos, palestras, adequação de espaços e serviços de acessibilidade na web. FONTE: <https://www.fundacaodorina.org.br/a-fundacao/quem-somos/>. Acesso em: 20 mar. 2020. Também podem ser constituídas por fundos de empresas, como a Fundação O Boticário, Bradesco, Fundação Volkswagen, Banco do Brasil, que tem o objetivo de realizar investimentos em áreas específicas. 25 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 Para cumprir esse propósito, acredita-se que é importante integrar três focos de atuação: conhecer e manter áreas naturais em equilíbrio, buscando soluções inovadoras e o engajamento da sociedade sobre a importância da natureza preservada para a qualidade de vida de todos. No site da Fundação Grupo Boticário você encontrará vários materiais de apoio a projetos. Para saber mais, acesse: http://www.fundacaogrupoboticario.org.br/pt/conservacao-biodiversidade/ Paginas/Apoio-a-projetos.aspx. As fundações são fi scalizadas pelo Ministério Público, com base na Lei nº 13.151, de 28 de julho de 2015, quem deve regularmente realizar a prestação de contas dessas entidades. O novo Código Civil determina as restrições às atividades de uma fundação. Pela lei, as fundações só podem ter fi ns religiosos, morais, culturais ou de assistência. Em geral, as fundações são administradas pelo Conselho Curador (que decide em linhas gerais quanto à forma de atuação da fundação), Conselho Administrativo ou Diretoria (órgão executor) e Conselho Fiscal (que realiza o acompanhamento das contas da fundação) (INSTITUTO PRO-BONO, 2014, p. 23-24). Algumas empresas não constituem fundações, mas dentro do seu organograma criam departamentos específi cos voltados à responsabilidade social e ao investimento social privado. 2.3.3 Outras denominações do terceiro setor (ONGS, OSC e OS) Você com certeza já ouviu falar nestas denominações: Organizações Não Governamentais (ONGs); Organização da Sociedade Civil (OSC) e Organizações Sociais (OS). As organizações não governamentais (ONGs) surgiram no Brasil compreendendo um tipo peculiar de organização, constituídas a partir de um agrupamento de pessoas, estruturadas sob a forma de uma instituição da sociedade civil, sem fi nalidades lucrativas, com o objetivo comum de lutar ou 26 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais apoiar determinadas causas coletivas, como erradicação da violência contra a mulher, melhoria da qualidade de vida de populações vulneráveis, entre outras. As ONGs enquanto um novo modelo de espaço organizador da sociedade civil surgem de forma espontânea e com menos burocracia em sua constituição. Elas representam mecanismos importantes na construção da cidadania e também na fi scalização das atividades desenvolvidas pelo poder público na gestão de assuntos públicos e políticos. Você já teve ter observado que assim como as ONGs, o termo instituto está presente no nome fantasia de algumas entidades, porém, elas não caracterizam propriamente uma pessoa jurídica, podendo ser utilizadas tanto por entidade governamental pública ou privada, como também por aquelas com fi ns lucrativos, não lucrativos e fi lantrópicas, sob a forma de fundação ou associação. Geralmente, podemos encontrar essa denominação associada às entidades cujas ações são na área da educação e pesquisa ou à produção científi ca como: Instituto Ayrton Senna (educação); Instituto Natura (educação); Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados, entre outros. Considera-se sem fi ns lucrativos a pessoa jurídica de direito privado que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, bonifi cações, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social (BRASIL, 1999). Em meio a essa diversidade, algumas características são comuns a todas, independente da sua área de atuação. São elas: • Não tem fi ns lucrativos. • São formadas por cidadãos que se organizam de forma voluntária. • Além dos funcionários, também contam com a colaboração de voluntários no desenvolvimento das atividades. 27 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 • O corpo técnico geralmente é composto por profi ssionais que se identifi cam com a causa. • São organizações orientadas para a ação, fl exíveis e próximas à comunidade. Até alguns anos atrás, era muito comum encontrarmos as entidades do terceiro setor sendo rotuladas pelas seguintes características: é fácil ter objetivos vagos; o desempenho é difícil de ser monitorado; as organizações são responsáveis perante muitos patrocinadores; o voluntariado é ingrediente essencial; os valores precisam ser cultivados; não existe um resultado fi nanceiro para determinar prioridades, não prestam contas de suas atividades. Atualmente, essas entidades se encontram estruturadas com uma visão estratégica para o mercado, pois embora estas não visem lucros, dependem do mercado para sobreviver. Muitas vezes essas entidades atuam em áreas poucos atendidas pelo setor público, outras vezes fortalecem a uma demanda da sociedade, defendem direitos de populações menos favorecidas e, por isso, deparam-se com desafi os que precisam ser encarados como: identidade com legitimidade, efi ciência com transparência, capacidade de estabelecer parcerias duradouras e sustentabilidade fi nanceira. Veja na fi gura a seguir como atualmente esse setor é signifi cativo, visto que gera muitos empregos, conforme pesquisa realizada por Andrade e Pereira (2019). FIGURA 5 – NÚMERO DE VÍNCULOS FORMAIS DE TRABALHO NAS OSC, SEGUNDO GRANDES REGIÕES, 2018 FONTE: <https://mapaosc.ipea.gov.br/dados-indicadores.html>. Acesso em: 1º dez. 2020. - 28 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais O Mapa das Organizações da Sociedade Civil (OSCs), ou simplesmente Mapa das OSCs, é uma plataforma virtual de transparência pública colaborativa com dados das OSCs de todo o Brasil. Tem como objetivos principais: • dar transparência à atuação das OSCs, principalmente ações executadas em parceria com a administração pública; • informar mais e melhor sobre a importância e diversidade de projetos e atividades conduzidas por essas organizações; • disponibilizar dados e fomentar pesquisas sobre OSCs; e • apoiar os gestores públicos a tomarem decisões sobre políticas públicas que já têm ou possam ter interface com OSCs. Criado a partir do Decreto nº 8.726/2016, que regulamenta a Lei nº 13.019/2014 – conhecida como Marco Regulatório das OSCs – o Mapa é gerido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Ele integra um amplo e crescente volume de base de dados ofi ciais, provenientes de fontes públicas e privadas, atualizadas constantemente. É alimentado ainda por informações enviadas diretamente pelas OSCs e por entes federados, em um grande processo colaborativo. FONTE: <https://mapaosc.ipea.gov.br/sobre.html>. Acesso em: 1º dez. 2020. Observa-se na fi gura anterior que em 2018 o setor empregou 2.283.922 pessoas num universo de 7.981.921 entidades existentes formalmente. Além disso, esse setor conta com o desenvolvimento das ações com voluntários. 29 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 1 Para seguirmos com os nossos estudos, cite as entidades do terceiro setor que você já teve contato em sua cidade. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 2 Agora, relate uma experiência que você teve atuando em entidades do terceiro setor. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 3 TÍTULOS E CERTIFICADOS: OSCIP,UTILIDADE PÚBLICA E ENTIDADE BENEFICENTE DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Vimos anteriormente que para se criar uma organização é necessário saber que ela deverá ter um formato jurídico. Outro ponto a ser observado é verifi car se a entidade terá ou não fi ns lucrativos, podendo, neste caso, ser enquadrada como associação ou fundação (dependendo de seu patrimônio). Agora, veremos que uma vez organizada juridicamente, a entidade poderá buscar alguns títulos e certifi cados que lhe benefi ciarão legalmente, principalmente com relação ao pagamento de impostos, e que atestem sua qualidade de OSCIP, de Utilidade Pública ou de Entidade Benefi cente de Assistência Social. Assim, os títulos e certifi cados de utilidade pública são: o Título de Utilidade 30 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Pública Federal, estabelecido pelo Decreto nº 50.517/1961 e o certifi cado de Utilidade Pública Estadual e/ou Municipal. Para conseguir esse registro é necessário consultar a legislação em vigor em cada estado e município. Além disso, temos o registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); Certifi cado de Entidade de Fins Filantrópicos e Registro no Conselho Municipal, cujas legislações são específi cas para cada município. 3.1 CERTIFICAÇÃO DE ENTIDADES DE BENEFICÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL As Entidades Benefi centes de Assistência Social deverão seguir os critérios constantes na legislação para obter a certifi cação do CEBAS. CEBAS que é exigido para fi ns de imunidade à contribuição patronal para a seguridade social. Para a sua expedição, analisará a sua pertinência o Ministério da área preponderante de atuação do interessado (saúde, educação ou assistência social) e sua obtenção é um bom instrumento para motivar investidor social, doador ou voluntário a comprometer-se com a entidade (LISBOA, 2013, p. 129). Atualmente, os critérios para concessão do CEBAS estão expressos na Lei nº 13.650, de 11 de abril de 2018, que dispõe sobre a certifi cação das entidades benefi centes de assistência social, na área de saúde, de que trata o Art. 4º da Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009; e altera as Leis nº 12.101, de 27 de novembro de 2009, e 8.429, de 2 de junho de 1992. Entre os benefícios para as entidades, destaca-se a isenção de contribuições para a seguridade social (INSS) garantido pela Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009: Que dispõe sobre a certifi cação das entidades benefi centes de assistência social; regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social; altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993; revoga dispositivos das Leis nº 8.212, de 24 de julho de 1991, 9.429, de 26 de dezembro de 1996, 9.732, de 11 de dezembro de 1998, 10.684, de 30 de maio de 2003, e da Medida Provisória nº 2.187-13, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências (BRASIL, 2009). 31 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 Para saber mais sobre a legislação de certifi cação de entidades benefi centes, acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2009/Lei/L12101.htm#art4i; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Lei/L13650.htm. 3.2 ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO (OSCIP) O direito à qualifi cação da entidade como OSCIP é instituído pela Lei nº 9.790/99, de 23 de março de 1999, e regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de 30 de junho de 1999. A Lei nº 9.790/99, em seu Art. 3º, estabelece que para a entidade receber a qualifi cação de OSCIP, ela deverá apresentar as seguintes fi nalidades: I - promoção da assistência social; II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei; IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei; V - promoção da segurança alimentar e nutricional; VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII - promoção do voluntariado; VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científi cos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo. 32 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibilização e a implementação de tecnologias voltadas à mobilidade de pessoas, por qualquer meio de transporte (BRASIL, 1999). Ainda no mesmo parágrafo da respectiva lei, está descrito como se verifi ca a atuação nas fi nalidades elencadas anteriormente: Parágrafo único. Para os fi ns deste artigo, a dedicação às atividades nele previstas confi gura-se mediante a execução direta de projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio da doação de recursos físicos, humanos e fi nanceiros, ou ainda pela prestação de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fi ns lucrativos e a órgãos do setor público que atuem em áreas afi ns (BRASIL, 1999). Qual será o documento a ser analisado para realizar essa verifi cação? As fi nalidades descritas anteriormente deverão estar bem claras no estatuto da entidade, assim como as demais informações sobre a gestão fi nanceira, recursos humanos, atuação e responsabilidade dos membros dos órgãos deliberativos e/ ou executivos e conselho fi scal. Além disso, deverá apresentar se os membros serão remunerados ou não, como se dará a prestação de contas, as auditorias fi nanceiras; na hipótese de extinção, que eventual patrimônio adquirido com recurso público seja destinado a outra também qualifi cada como OSCIP e de mesma área de atuação. Para realizar suas atividades, a entidade certifi cada como OSCIP poderá obter os seguintes benefícios: repasse de verba (auxílio ou subvenção), também chamado de convênio, ou doações, como os repassados pelos fundos dos direitos da criança e do adolescente, projetos culturais, entre outros. Uma outra forma é contar com os mecanismos de renúncia fi scal, que pode se dar por imunidade ou isenção (LISBOA, 2013). Veremos no quadro a seguir o que são estes mecanismos. 33 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 IMUNIDADE É a garanti a consti tucional que veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios de insti tuírem impos- tos sobre o patrimônio, renda e serviços das pessoas jurídicas sem fi ns lucrati vos que atuarem nas áreas de educação ou assistência social observados os requisit- os da lei (Arti go 150, inciso VI, alínea c e 195 da Consti tuição Federal), tais como: IPVA, ITCMD, IR, IOF, ISS, IPTU, ITBI, INSS patronal etc. ISENÇÃO Isenção é a faculdade que o governo tem, mediante lei, de dispensar o pagamento de tributos que não foi abrangido pela imunidade visando ao apoio às ONGs ou à execução de uma políti ca pública, como CSLL, COFINS, PIS etc. QUADRO 2 – DIFERENÇA ENTRE IMUNIDADE E ISENÇÃO FONTE: Lisboa (2013, p. 128) Só pelo fato de a entidade ser uma OSCIP estes direitos estão garantidos? Não, a entidade também deverá atender alguns requisitos que são estabelecidos por lei, como instrumento de constituição registrado em cartório, CNPJ, ata de eleição de diretoria, relatório de atividades, Certifi cado de Entidade Benefi cente de Assistência Social (CEBAS), entre outros, como as comprovações deregularidades fi scais em nível municipal, estadual e federal (LISBOA, 2013). Vale destacar que de acordo com a legislação em vigor, a entidade, ao optar por ser uma OSCIP, estará abrindo mão do título de Utilidade Pública, a qual estudaremos mais adiante. Além disso, é importante lembrar que a Resolução nº 144, de 11 de agosto de 2005, do Conselho Nacional de Assistência Social, estabelece que entidades qualifi cadas como OSCIPs, a partir da publicação, poderão se inscrever nos Conselhos Municipais, Estaduais e do Distrito Federal de Assistência Social, porém precisam preencher os requisitos legais da respectiva esfera. 34 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Para saber mais sobre como elaborar o estatuto e quais são os benefícios que essa certifi cação traz, sugerimos a leitura do livro: GRAZZIOLI, A. et al. Manual de procedimentos para o terceiro setor: aspectos de gestão e de contabilidade para entidades de interesse social. Brasília: CFC; FBC; Profi s, 2015. 1 Com base no que foi estudado e também no seu conhecimento, cite as vantagens de uma entidade ter o título de OSCIP. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 4 IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS SOCIAIS PARA AS ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR Agora que você já compreendeu qual o papel desenvolvido pelas entidades do terceiro setor, estudaremos a relação delas com os projetos sociais. Ao planejar suas atividades a entidade utiliza como base três instrumentos que contribuem com a tomada de decisão: o plano, o programa e o projeto. Antes de entrarmos no tema projeto, é importante destacar que quando pensamos em um projeto, precisamos, enquanto instituição, pensar primeiramente em nosso planejamento estratégico. 35 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 Planejamento estratégico é um documento que prova a organização de uma base sólida em termos de análise de contexto, das forças e fraquezas da organização, da viabilidade e dos riscos de diferentes alternativas de ação e, acima de tudo, um marco estratégico global orientador de todas as atividades institucionais (ARMANI, 2002, p. 27, grifos nossos). Assim, quando uma organização orienta suas ações a partir do planejamento estratégico institucional, é muito provável que ela consiga minimizar a necessidade de mudanças inerentes ao projeto que está sendo executado. Dessa forma, os projetos já nascem com certo grau de maturação (ARMANI, 2002). Na fi gura a seguir, poderemos observar a conexão existente entre o planejamento das ações e esses instrumentos de apoio dentro de uma entidade. FIGURA 6 – CONEXÃO ENTRE PLANEJAMENTO, PLANO, PROGRAMA E PROJETOS FONTE: A autora 36 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Podemos verifi car na fi gura anterior que o planejamento poderá ser desdobrado em plano, programa ou projetos. O plano é um documento que resulta de um planejamento e consolida as decisões tomadas pelos gestores em determinado momento para alcançar os objetivos da entidade. Ele tem maior abrangência e objetivos amplos. A implementação de planos geralmente é fl exível, objetiva e prática, bem como condizente com as necessidades e capacidade existente na entidade. Assim, esse plano pode ser de curto e médio prazo (quinzenal, mensal, trienal e/ou semestral) (CURY, 2001). O plano é um documento que resulta de um planejamento. O plano é composto de vários programas, que são estruturados em forma de projetos. Os programas são subdivisões que permitem agrupar as decisões e as ações por áreas afi ns que de alguma forma se relacionam entre si. Para que você compreenda melhor, imagine a seguinte situação: uma entidade tem por objetivo atuar na área de educação e também na preservação ambiental. Assim, ao planejar suas ações para o semestre de 2020/1 ela apresentará ao comitê gestor dois programas a serem desenvolvidos: Educação e Ambiental. Estes programas contemplarão vários outros projetos, por exemplo, na área da educação: Projeto de Alfabetização, Projeto Brinquedoteca e Projeto de Leitura. Já o programa ambiental abrigará o Projeto de Reciclagem, o Projeto Horta Ativa e o Projeto Limpeza da Praça. Observe que de alguma forma tanto na área de educação como na ambiental os projetos se relacionam entre si (CURY, 2001). Assim, os projetos correspondem às ações mais pontuais com maior detalhamento e objetivos setoriais. No quadro a seguir poderemos visualizar características que diferenciam esses instrumentos. Os programas são subdivisões que permitem agrupar as decisões e as ações por áreas afi ns que de alguma forma se relacionam entre si. Os projetos correspondem às ações mais pontuais com maior detalhamento e objetivos setoriais. 37 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS QUE DIFERENCIAM OS INSTRUMENTOS: PLANO, PROGRAMA E PROJETO PLANO PROGRAMA PROJETO É o documento mais abrangente e geral, que contém estudos, análises situacionais ou diagnósti cos necessários à identi fi cação dos pontos a serem atacados, dos programas e projetos necessários, dos objeti vos, estratégias e metas de uma enti dade. É o documento que indica um conjunto de projetos cujos re- sultados permitem alcançar o objeti vo maior de uma enti - dade. É a menor unidade do processo de planeja- mento. Trata-se de um instrumento técnico-ad- ministrati vo de execução de ações que operacio- nalizam as intenções e os objeti vos direcionados para as mais variadas ati vidades interventi vas no problema identi fi cado. FONTE: Adaptado de Cury (2001) Vimos que os projetos são originários de um programa ou de políticas amplas, mas o projeto social, o que é? Basicamente, podemos dizer que o projeto social é uma ação social planejada, estruturada em objetivos, visando alcançar um resultado com atividades defi nidas em uma quantidade limitada de recursos e de tempo (ARMANI, 2002). Projetos sociais são uma forma de organizar ações para transformar uma determinada realidade social ou institucional. Projetos são ferramentas (instrumentos) de trabalho, articuladas de forma a melhorar ações e resultados desenvolvidos por uma organização (STEPHANOU; MÜLLER; CARVALHO, 2003, p. 25, grifos nossos). Armani (2002, p. 18) ainda afi rma que o “projeto social é uma ação social planejada, estruturada em objetivos, resultados e atividades baseados em uma qualidade limitada de recursos (humanos, materiais e fi nanceiros) e tempo”. Dessa forma, os projetos sociais são a melhor maneira para se melhorar ou intervir numa realidade social de forma técnica e organizada, ágil e prática, favorecendo a participação efetiva dos envolvidos, ou seja, daqueles que serão benefi ciados. 38 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Os projetos surgem a partir do desejo de mudança. Mudar a realidade, resolver um problema, alterar uma situação. Construir, a partir das ideias, uma proposta de ação. Lembre-se de que os projetos sociais não existem a partir de si mesmos. Geralmente são construídos a partir da iniciativa de organizações que têm intervenções sociais de maior amplitude e fazem parte de políticas ou diretrizes amplas, cuja fi nalidade vai além das possibilidades da própria organização e, por isso, estão associados às transformações ocorridas na sociedade, articulações e políticas sociais. Portanto, não são ilhas isoladas, sempre estão interagindo através de diversas modalidades de relações, com políticas e programas voltados ao desenvolvimento social e sustentável. Além disso, os projetos sociais contribuem para a criação de espaços de expressões de interesses e visões diferentes, fortalecendo o empoderamentoda sociedade. Assim, confi guram uma nova formatação das relações entre o Estado e a sociedade civil, uma vez que promovem a descentralização do Estado e a participação da sociedade, representam uma nova confi guração das fronteiras entre o público e o privado, minimizam a complexidade no quadro de implementação de políticas públicas, redefi nem as estratégias de articulação das políticas sociais e contribuem para o desenvolvimento da sociedade como um todo (STEPHANOU; MÜLLER; CARVALHO, 2003). Nesse contexto, as chances de uma entidade do terceiro setor ou organização social ter êxito na implementação do projeto está muito relacionada também a sua cultura e a sua capacidade de gestão. Para tanto, é necessário que sistematize experiências, para que a partir disso compreenda a problemática a ser enfrentada e fortaleça as relações de parcerias com o Estado e a sociedade civil. A atuação social dessas entidades gerenciadas através de projetos quando bem conduzida tem forte apelo, pois viabiliza o desenvolvimento de ações de forma organizada e plausível, que podem ser aplicadas no curto e médio período de tempo. Além disso, contribui para a aplicação de recursos de forma efi ciente, sendo possível avaliar sua efi cácia. Por outro lado, também favorece a formação de parcerias e redes de cooperação, inclusive entre aqueles cujas correntes ideológicas sejam diferentes (GIEHL et al., 2012). 39 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 Efi ciência: meios utilizados para se alcançar os objetivos propostos. Efi cácia: são os resultados e objetivos atingidos, ou seja, se estes foram efetivamente alcançados. Nesse contexto, é necessária a participação dos potenciais benefi ciários do projeto na gestão das atividades, pois é impossível promover qualquer tipo de melhoria em qualquer cenário ou comunidade sem que haja o envolvimento efetivo nas ações do projeto (ARMANI, 2002). Segundo Stephanou, Müller e Carvalho (2003), os projetos sociais também confi guram uma ferramenta que delimita uma intervenção quanto aos objetivos, metas, formas de atuação, prazo de execução, responsabilidades e critério de avaliação de forma estruturada, conforme podemos observar na fi gura a seguir. FIGURA 7 – O LUGAR DOS PROJETOS SOCIAIS FONTE: Stephanou, Müller e Carvalho (2003, p. 15) 40 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais 1 Diferencie Plano, Programa e Projeto. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 2 Conceitue projeto social. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ _________________________________________________. Conforme podemos observar na fi gura anterior, no âmbito do Governo os projetos sociais são vistos como uma etapa ou uma forma de trabalho necessariamente voltada a objetivos globais de uma política pública governamental. Por outro lado, no âmbito da sociedade civil, os projetos são capazes de produzir experiências inovadoras e contribuem para o fortalecimento dos grupos sociais envolvidos, bem como favorecem a democratização da sociedade (STEPHANOU; MÜLLER; CARVALHO, 2003). 41 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 4.1 AS FASES DO CICLO DO PROJETO SOCIAL A fase de um projeto social obedece a um ciclo de vida – ele nasce, cresce, transforma-se e, de certa forma, morre, considerando que todo projeto tem início, meio e fi m. Este ciclo, por sua vez, expressa os principais momentos do projeto, que envolve a identifi cação, a elaboração, a aprovação, a implementação (monitoramento), a avaliação e o replanejamento (quando necessário). FIGURA 8 – CICLO DO PROJETO SOCIAL FONTE: Adaptada de Armani (2002) Podemos observar na fi gura anterior que o ciclo do projeto social envolve as seguintes fases, descritas por Armani (2002): • Fase de identifi cação: é caracterizada pela identifi cação da oportunidade da intervenção, pelo exame preliminar da sustentabilidade da ideia e pelo diagnóstico da problemática. • Fase de elaboração: caracterizada pela formulação do objetivo do projeto, pela proposição de resultados imediatos, pela indicação de atividades e ações, pela análise da lógica da intervenção, pela identifi cação dos fatores de risco, pela defi nição de indicadores, meios de verifi cação e procedimentos de monitoramento e avaliação, pela análise da sustentação lógica do projeto, pela montagem do plano operacional, pela determinação dos custos e da viabilidade fi nanceira e pela redação do projeto. • Fase de aprovação: é marcada pela aprovação dos recursos necessários para a execução de todo o projeto. 42 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais • Fase de implementação: envolve o desenrolar das atividades previstas e a utilização dos recursos com vistas a alcançar os objetivos e resultados almejados. Nesta fase também ocorrem o monitoramento e a avaliação das atividades desenvolvidas. • Fase de avaliação: corresponde à avaliação do projeto após determinado período de tempo. É nesse momento que nos perguntamos: qual o impacto e os efeitos causados pelo projeto? Valeu a pena o investimento dos recursos? • Fase de replanejamento: a partir da avaliação realizada é possível rever os objetivos, resultados, fatores de risco, experiências adquiridas e é hora de planejar novamente. A cada novo ciclo um projeto deve produzir mudanças signifi cativas na qualidade de vida das pessoas ou do local, no aprendizado dos envolvidos, ou seja, deve ser possível estabelecer um novo ciclo de conquistas (resultados) e de experiências (lições de vida), formando uma Curva do Aprendizado, que contempla as seguintes fases: ação continuada, refl exão, aprendizado, nova compreensão e nova análise de contexto (Figura 9). FIGURA 9 – CURVA DO APRENDIZADO FONTE: Adaptada de Armani (2002) Observa-se que as atividades do ciclo do aprendizado formam um todo integrado e coerente, no qual os diferentes momentos representam etapas sucessivas e interligadas. À medida que o projeto avança, o ciclo vai se transformando de uma mera sucessão de etapas em uma verdadeira curva (espiral) de ação-refl exão, em que as etapas se tornam cada vez mais complexas. Geralmente falamos que o projeto muda a realidade de um local ou de uma população, mas também muda a realidade da entidade executora, porque 43 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 depois de passar pelo desenvolvimento de um projeto, é muito provável que esta entidade não seja mais a mesma, pois terá amadurecido através das experiências vivenciadas e, assim, estará um degrau acima de quando iniciou o projeto. Tal amadurecimento acontece em via dupla, ou seja, tanto na organização quanto nas pessoas envolvidas e/ou benefi ciadas, pois a participação e o desenvolvimento de projetos geram oportunidades como: aprender fazendo, transformar a realidade, promover a vivência comunitária, estabelecer parcerias, fazer parte de redes e servir de inspirações para outras pessoas. 1 Cite as etapas do ciclo de um projeto. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ __________________________________________________.ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Caro acadêmico, chegamos ao fi nal do Capítulo 1 dessa disciplina. No Capítulo 2 estudaremos a construção do projeto social. Nesse capítulo vimos como o terceiro setor é importante no dia a dia de comunidades mais vulneráveis, e acabam por complementar as ações que, embora não sejam cumpridas na íntegra, ainda são de sua responsabilidade. Além disso, você teve a oportunidade de conhecer os tipos de entidades do terceiro setor e a legislação aplicada a cada uma das entidades e como estas podem ser benefi ciadas com os títulos e certifi cados emitidos pelos governos municipais, estadual e federal. Com certeza você deve ter percebido que as considerações feitas sobre o terceiro setor são mais extensas do que foram apresentadas nesse livro, porém, nosso objetivo nessa disciplina não se resume ao aprofundamento sobre o terceiro setor. Nosso objetivo nesse capítulo foi de relembrar de forma clara e objetiva alguns acontecimentos e fatos que marcaram o surgimento dessas entidades. 44 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais No próximo capítulo veremos o passo a passo da construção de um projeto e como deverá ser elaborado para que se tenha êxito em sua implantação e credibilidade junto aos parceiros. Até lá! REFERÊNCIAS ANDRADE, P. G.; PEREIRA, A. C. R. Por dentro do mapa das OSCS: metodologia da base de dados (versão 2019) – Nota Técnica n. 26. Brasília: IPEA, 2019. ARMANI, D. Como elaborar projetos? Guia prático para elaboração e gestão de projetos sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2002. BRASIL. Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009. Dispõe sobre a certifi cação das entidades benefi centes de assistência social; regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social; altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993; revoga dispositivos das Leis nº 8.212, de 24 de julho de 1991, 9.429, de 26 de dezembro de 1996, 9.732, de 11 de dezembro de 1998, 10.684, de 30 de maio de 2003, e da Medida Provisória no 2.187-13, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12101. htm#:~:text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20certifi ca%C3%A7%C3%A3o%20 das,1996%2C%209.732%2C%20de%2011%20de. Acesso em: 9 dez. 2020. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada. htm#:~:text=LEI%20N%20o%2010.406%2C%20DE%2010%20DE%20 JANEIRO%20DE%202002&text=Institui%20o%20C%C3%B3digo%20 Civil.&text=Art.,e%20deveres%20na%20ordem%20civil. Acesso em: 10 dez. 2020. BRASIL. Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999. Dispõe sobre a qualifi cação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fi ns lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L9790.htm. Acesso em: 10 dez. 2020. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfi co, 1988. 45 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Capítulo 1 CAMARGO, M. F de. Gestão do terceiro setor no Brasil. São Paulo: Futura, 2001. CORREA, C. E. G. Terceiro setor, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Indaial: UNIASSELVI, 2011. CURY, T. C. H. Elaboração de projetos sociais. In: ÁVILA, C. M. de (Org.). Gestão de projetos sociais. 3. ed. São Paulo: AAPCS (Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária), 2001. p. 37 58. GIEHL, P. R. et al. Como elaborar projetos? Guia prático para elaboração e gestão de projetos sociais. São Paulo: InterSaberes, 2012. HUDSON, M. Administrando organizações do terceiro setor: o desafi o de administrar sem receitas. São Paulo: Makron Books, 1999. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística. Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil. c2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/busca. html?searchword=IDH&searchphrase=all. Acesso em: 15 maio 2020. INSTITUTO PRO-BONO. Novo manual do terceiro setor. São Paulo: Centro de Voluntariado de São Paulo, 2014. Disponível em: https://probono.org.br/wp- content/uploads/2019/06/Manual-do-Terceiro-Setor-2014.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020. KISIL, R. Elaboração de projetos e propostas para organizações da sociedade civil. São Paulo: Global, 2002. LISBOA, I. Noções de Direito do Terceiro Setor. In: PEREIRA, M. (org.). Gestão para Organizações Não Governamentais. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2013. MÂNICA, F. B. Panorama histórico-legislativo do terceiro setor no Brasil. In: OLIVEIRA, G. J. (Coord.). Terceiro setor, empresas e Estado: novas fronteiras entre o público e o privado. Belo Horizonte: Fórum, 2007. MENDES, L. C. A. Visitando o “terceiro setor” (ou parte dele). Brasília: IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 1999. OLIVEIRA, E. A.; SOUZA, E. G. de. O terceiro setor no Brasil: avanços, retrocessos e desafi os para as organizações sociais. Revista Interdisciplinar de Gestão Social – RIGS, v. 4, n. 3, p. 181-199, set./dez. 2015. 46 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais PAES, J. E. S. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídicos, administrativos, contábeis e tributários. 4. ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2003. PEREIRA, M. Terceiro setor – contextualização: o paradoxo chamado Brasil. In: PEREIRA, M. (org). Gestão para Organizações Não Governamentais. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2013. SANTOS, S. X. dos. Organização do terceiro setor. Natal: EdUnP, 2012. SCHEUNEMANN, A. V.; RHEINHEIMER, I. Tipos de organizações do terceiro setor. In: ULBRA. Administração do terceiro setor. Curitiba: Ibpex, 2009. SOUZA, L. M. Tributação do terceiro setor. São Paulo: Dialética, 2004. STEPHANOU, L.; MÜLLER, L. H.; CARVALHO, I. C. de M. Guia para elaboração de projetos sociais. Porto Alegre: Fundação Luterana, 2003. Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/guia- para-elaboracao-de-projetos-sociais.pdf. Acesso em: 10 dez. 2020. SZAZI, E. Regulação do terceiro setor no Brasil. 3. ed. São Paulo: Fundação Peirópolis, 2016. CAPÍTULO 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Entender como funciona o planejamento. • Compreender o processo de elaboração de projetos. • Identifi car as etapas de um projeto. • Elaborar um diagnóstico. • Conduzir a elaboração do projeto. • Conduzir a gestão e o monitoramento de projetos. • Avaliar a execução dos projetos. 48 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais 49 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Agora que você já estudou sobre as entidades do terceiro setor para entender como os projetos sociais são importantes para que estas entidades sejam sustentáveis e qual o papel que elas representam na sociedade, neste capítulo estudaremos de forma detalhada como planejar e quais as etapas de um projeto social. No decorrer dos seus estudos, você poderá observar que os projetos sociais não são fi xos, eles podem sofrer alterações sempre que for necessário para atingir seus objetivos. Além disso, veremos o quanto a participação da comunidade ou benefi ciários é importante para que se entenda o contexto no qual o projeto será desenvolvido, para o bom andamento das atividades e o sucesso do projeto. Também é importante você perceber durante o estudo deste capítulo que, para elaborar um bom projeto social, é muito importante que seja detalhado cada uma das etapas, considerando que nem sempre o fi nanciador conhece o contexto do projeto. Assim, quanto mais informações importantes que justifi quem o seu desenvolvimento, maiores serão as chances de o projeto ser aprovado. 2 ROTEIRO DE ELABORAÇÃO DO PROJETO A redação da proposta ou projeto social deve serum roteiro básico de questões que precisam ser respondidas de forma lógica, em que as ideias e os pensamentos possam se transformar em ações e atividades de um projeto que incorrerá em resultados. A literatura também apresenta vários roteiros que podem ser seguidos na elaboração de um projeto, alguns fi nanciadores até encaminham como anexo do edital o modelo ao qual o projeto deve ser desenvolvido e apresentado. Infelizmente, não poderemos lhe apresentar todos os modelos existentes, mas podemos lhe garantir que as mudanças entre os modelos são muitas vezes até imperceptíveis. Neste capítulo, apresentaremos alguns modelos utilizados que trazem todas as etapas que precisam ser contempladas num projeto. Nem sempre você 50 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais precisará utilizar todas, mas deverá observar quais etapas são necessárias para o atendimento de suas necessidades e do que está sendo exigido naquele momento. Um projeto não se constrói sozinho, ele também não nasce da noite para o dia. Para realizarmos um bom planejamento, é importante realizar inicialmente uma reunião com um pequeno grupo para troca de ideias sobre as necessidades e/ou desafi os a serem superados. Partindo do princípio de que um projeto deve ter início, meio e fi m, na fi gura a seguir, poderemos observar algumas etapas que compõem um projeto. FIGURA 1 – ITENS DO PROJETO Quadro de Metas FONTE: Adaptada de Stephanou, Müller e Carvalho (2003) Você pode observar na fi gura anterior que a proposta de projeto de forma macro contempla cinco itens, entretanto, esses itens se dividem em outros subitens, que formarão o projeto. Essas cinco etapas precisam ser detalhadas de forma que a pessoa que for receber o projeto consiga ter uma ideia do que você pretende com esse projeto. Na sequência, apresentaremos o detalhamento de cada um dos itens descritos anteriormente. Vamos lá! 2.1 APRESENTAÇÃO A apresentação do projeto contempla alguns subitens muito importantes para atrair a atenção e o interesse do leitor, fi nanciador ou investidor. Assim, todo projeto deverá apresentar uma capa. Nesta capa você deverá apresentar: nome da entidade, título do projeto, cidade e data. Nesta capa você deverá apresentar: nome da entidade, título do projeto, cidade e data. A capa tem a função de identifi car o projeto. 51 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS Capítulo 2 A capa tem a função de identifi car o projeto. Devemos lembrar que a primeira impressão é sempre a que fi ca, então é necessário que ela seja redigida de forma correta e com as informações necessárias. Outro ponto importante é a escolha do título para o projeto. O título será a identifi cação da ação a ser realizada, por isso ele precisa se identifi car com a causa, ou seja, a marca do projeto. Nesse sentido, Stephanou, Müller e Carvalho (2003) alertam para o nome do projeto não ser o mesmo da entidade que esteja sendo apresentada, pois neste caso, pode parecer que a prioridade é a promoção da entidade. Título: Projeto Horta Orgânica na Comunidade de Balsas. O segundo subitem que vai na apresentação é a identifi cação e qualifi cação da entidade. Nesse caso deverão ser apresentados os dados de identifi cação, que compreendem: nome, endereço, registro jurídico (nº CNPJ, nº Inscrição nos Conselhos (quando houver), inscrição estadual etc.). Para apresentar a qualifi cação da entidade, é necessário fazer um pequeno histórico da entidade de forma breve e objetiva, enfatizando qual a sua experiência, quais os projetos que já desenvolveu, quais os resultados alcançados e identifi car os seus membros e sua qualifi cação profi ssional. É importante constar os prêmios que a instituição já recebeu e quais as entidades que mantêm parceria e/ou recebe apoio. Também é necessário deixar claro que a entidade será a proponente ou executora do projeto. Para apresentar a qualifi cação da entidade, é necessário fazer um pequeno histórico da entidade de forma breve e objetiva. Proponente: quem propõe o projeto, ou seja, a entidade responsável por ele, porém, nem sempre será a executora. Executora: quem executa o projeto, os responsáveis pelas ações/atividades que farão parte do projeto. 52 Gestão e Elaboração de Projetos Sociais Um método simples para a defi nição da apresentação, que facilita a sua elaboração, é responder às seguintes perguntas: O que será feito? É importante determinar, de forma precisa e clara, as ações gerais que deverão ser realizadas durante o andamento do projeto para se alcançar o objetivo proposto e se obter os benefícios esperados. Quando? Todo projeto deve possuir um prazo para a sua realização, deve conter início, meio e fi m, o que deverá ser objetivamente defi nido para que as ações, metas e resultados possam ser monitorados ao longo do tempo e avaliados ao fi nal do projeto. Onde? É imprescindível à caracterização do projeto que seja delimitada a área geográfi ca em que se pretende realizá-lo para que se possa fazer o levantamento adequado da característica do local, recursos e infraestrutura necessária para a execução do projeto. Por quê? Ao perguntar “por que” passamos a refl etir sobre a situação-problema enfrentada ou sobre uma situação de oportunidade percebida e a real necessidade da realização de um projeto, visando gerar ações positivas, reverter de forma efi ciente os problemas enfrentados ou aproveitar a oportunidade observada. Quem? Determinar o público-alvo do projeto é necessário para verifi car as necessidades reais do público que se benefi ciará, com o objetivo de personalizar as ações a serem realizadas visando otimizar os efeitos positivos das ações com relação aos participantes. Como? O caminho a ser percorrido, ou seja, as ações a serem realizadas para atingir um objetivo maior devem ser apresentadas de forma clara e concisa para o entendimento do contexto geral do projeto e avaliar como, por quais meios, os objetivos fi nais serão perseguidos. Quanto? Com essa pergunta pretende-se determinar quais são as metas, ou seja, os objetivos parciais, o que será realizado no decorrer do projeto para atingir o objetivo fi nal. As metas deverão ser estabelecidas pensando de forma quantitativa e também qualitativa para avaliar o andamento geral do projeto (BIANCARELLI; DEPRAZ, 2013, p. 49-50. Grifo nosso). Bem, até aqui estudamos os subitens que compõem a apresentação do projeto. Agora, estudaremos de forma detalhada os subitens que compõem os aspectos conceituais do projeto. 53 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS Capítulo 2 1 Para seguirmos com nosso conteúdo, pense num projeto e fale sobre os itens principais que precisam ser descritos na apresentação deste. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ __________________________________________________. 2.2 ASPECTOS CONCEITUAIS DO PROJETO Os aspectos conceituais do projeto envolvem o desenvolvimento de várias etapas, como a descrição do contexto do projeto, a justifi cativa, a construção dos objetivos (geral e específi cos) e a defi nição do universo do projeto. 2.2.1 Contexto do projeto A primeira divisão dos aspectos conceituais do projeto é o contexto do projeto. O contexto do projeto demonstrará que a entidade que está apresentando o projeto conhece a realidade local. Nesta etapa, você precisará ter a percepção dos problemas e potencialidades do local, que serão importantes para a defi nição da ideia ou “sonho”. Para você realizar essa contextualização, poderá utilizar instrumentos que ajudarão a analisar a realidade local, como o diagnóstico. Como realizar o diagnóstico? O diagnóstico consiste na compreensão da realidade local e dos fatores internos que podem infl uenciar de forma positiva ou negativa na qualidade de vida das pessoas. O diagnóstico deve ser elaborado considerando as informações mais
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