Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Vict�ria K. L. Card�so Meningite bacteriana aguda Introdução A meningite bacteriana tem altas taxas de morbidade e letalidade, que atingem 100% se não houver tratamento, sendo comum sequelas neurológicas. ● Sequelas neurológicas: perda auditiva, alterações no desenvolvimento, paralisia cerebral e retardo mental. Protocolo geral: toda criança que apresente febre e sinais e sintomas do SNC (como alteração do estado mental) deve ser obrigatoriamente investigada. Infecção difusa X Infecção focal: ● Infecção difusa: quando há meningite, encefalite ou meningoencefalite. ● Infecção focal: abcessos cerebrais. Etiologia mais comum: vírus → enterovírus. Etiologia Etiologia da meningite bacteriana: depende da idade, do estado imune e da epidemiologia. ● 0 - 3 meses: são patógenos neonatais vindos da flora intestinal urinária materna. ○ Streptococcus agalactiae - grupo B. ○ Escherichia coli e Klebsiella - bacilos gram-. ○ Listeria. ○ Enterococo. ● Maiores de 3 meses: ○ Streptococcus pneumoniae. ○ Neisseria meningitidis. ○ Haemophilus influenzae tipo B → causam infecções invasivas entre 2 meses e 2 anos, pico entre 6 e 12 meses, em crianças com imunização incompleta ou com doenças de base. ● Meningite pneumocócica: alta mortalidade. ○ Maior risco em crianças pequenas, que frequentam creche ou que apresentem disfunção esplênica, HIV+, defeitos anatômicos ou implantes cocleares. Vict�ria K. L. Card�so ○ Sorotipos 1 e 5: incluídos na vacina pneumocócica 10 valente. Obs: os casos de meningite costumam seguir surtos de influenza. Fisiopatogenia 1. Colonização nasofaríngea e invasão local. 2. Bacteremia com invasão meníngea. 3. Replicação bacteriana e liberação de componentes bacterianos. 4. Alcance do epitélio cerebral com processo inflamatório. 5. Liberação de citocinas, causando aumento da permeabilidade vascular. 6. Edema vasogênico. 7. Inflamação e aumento da resistência ao fluxo liquórico. 8. Edema intersticial com hidrocefalia. 9. Vasculite, infarto cerebral e liberação de produtos tóxicos de neutrófilos e bactérias. 10. Aumento da pressão intracraniana. 11. Redução do fluxo cerebral e perda da autorregulação cerebrovascular. Manifestações clínicas A meningite causa um quadro clínico de espectro variado, dependendo da idade e da duração da doença. Sintomas inespecíficos: ● Manifestações respiratórias. ● Mialgia. ● Artralgia. ● Taquicardia. ● Hipotensão. Manifestações cutâneas: ● Petéquias. ● Púrpura. ● Exantema maculopapular. Diagnóstico em lactentes: ● Febre e irritabilidade. ● Hipotermia. ● Letargia ou hipoatividade. ● Recusa alimentar. ● Vômitos e diarréia. ● Dificuldade respiratória. Vict�ria K. L. Card�so ● Fontanela abaulada. ● Convulsões e alteração do nível de consciência. Crianças maiores: ● Febre. ● Prostração. ● Anorexia. ● Fotofobia. ● Cefaleia. ● Vômitos. ● Bradicardia. ● Aumento da pressão arterial. ● Convulsões. ● Alterações do nível de consciência. Sinais de irritação meníngea: ● Rigidez de nuca. ● Dor lombar. ● Sinal de Kernig. ● Sinal de brudzinski. ● Convulsões e sinais focais. Diagnóstico clínico da hipertensão intracraniana: ● Vômitos. ● Cefaléia. ● Abaulamento de fontanela. ● Paralisia do abducente. ● Anisocoria. ● Hipertensão arterial. ● Bradicardia e bradipnéia. ● Decorticação. ● Coma. ● Herniação. Manifestações de doença meningocócica: ● Quadro súbito de choque. ● Púrpura. ● Coagulação intravascular disseminada (CIVD). ● Rebaixamento do nível de consciência. ● Progressão para coma em 24h. Pior prognóstico: Vict�ria K. L. Card�so ● Sepse. ● Sem sinais meníngeos. ● Líquor normal. Diagnóstico laboratorial Principal para o diagnóstico: alterações liquóricas com pleocitose e proteína elevada. Diagnóstico presumível: caso haja pleocitose, hiperproteinorraquia e hipoglicorraquia. Exame do líquor - punção lombar: ● Análise liquórica: ○ Celularidade → citometria e citologia. ○ Bioquímica → proteína e glicose. ○ Gram e cultura. ○ Pesquisa de antígenos. ○ PCR. Obs: a punção lombar deve ser repetida em neonatos. Valores normais do líquor: ● Neonatos: até 30 leucócitos por mm3 e 150 mg%. ● Pós-período neonatal: até 5 leucócitos por mm3 e proteínas até 20-45 mg%. Valores da glicose: 75% dos valores séricos. Outros exames: ● Hemoculturas: positivas em 80% dos casos. ● PCR do sangue. ● Esfregaço das lesões de pele para gram. ● Hemograma. ● Bioquímica. ● PCR. Causas no atraso do diagnóstico: ● Indicação de exames de imagem como: tomografia computadorizada de crânio antes da punção lombar. Quandos os exames de imagem estão indicados como abordagem inicial: ● Quando houver contraindicação de punção lombar: evidência de hipertensão intracraniana. ○ Coma. ○ Hipertensão intracraniana. ○ Bradicardia. Vict�ria K. L. Card�so ○ Edema de papila. ○ Sinais focais. ○ Comprometimento cardiopulmonar. ○ Choque. ○ Infecção de pele no local da punção. ○ Trombocitopenia. Obs: o uso prévio de antibiótico altera o gram e a cultura. Diagnóstico diferencial: ● Meningoencefalite viral: principalmente por herpesvírus. ○ Alteração do nível de consciência. ○ Convulsão. ○ Sinais focais. ○ Menor evidência de sinais meníngeos. ● Doenças febris: dengue, enteroviroses e rickettsioses. ○ Cursam com exantemas. Tratamento Antibioticoterapia empírica: meningococo, pneumococo e hemófilo. ● Cefalosporina de 3* geração: ce�triaxona. ○ 10-14 dias para pneumococo. ○ 7-10 dias para hemófilo. ○ 5-7 dias para meningococo. Corticoterapia: para diminuir a reação inflamatória, principalmente dano auditivo. Tratamento de suporte: ● Monitorização. ● Ressuscitação volêmica. ● Demais cuidados intensivos. Complicações e prognóstico: ● Efusão subdural: causada por infecção hospitalar de etiologia bacteriana ou viral secundária, tromboflebite, reação a drogas, pericardite, artrite ou disseminação bacteriana. Conduta em contactantes: Profilaxia antimicrobiana: ● Para prevenir a disseminação entre contactantes intradomiciliares. Vict�ria K. L. Card�so Obs: vacinação específica não está indicada como profilaxia pós-exposição imediata, pois o desenvolvimento da imunidade é tardio. Profilaxia para H. influenzae: ● Usa-se rifampicina. ● Está indicada para todo contactante domiciliar, se houver contato com crianças menores de 48 meses (4 anos) parcialmente ou não imunizadas. Prevenção: ● Imunização contra H. influenzae tipo B. ● Vacinas PCV7 e PCV10 quando possível. Doença meningocócica Introdução: ● Conceito: manifestação septicêmica da doença, na qual o SNC pode estar ausente. ● Agente etiológico: meningococo - Neisseria meningitidis- é um diplococo gram-, aeróbio, imóvel, não esporulado e redondo ou oval. ○ No Brasil circulam os sorotipos B, C, W-135 e Y. ● Transmissão: contato direto com gotículas respiratórias contaminadas. ○ Na maioria das vezes, o homem é um portador assintomático do meningococo em sua nasofaringe. ● Risco da doença invasiva: é maior na criança, sendo que dos 6 meses a 1 ano de vida a criança se encontra no período mais suscetível. ● Período de incubação: 1-10 dias, comumente < 4 dias. ● Letalidade média: forma clínica da meningococcemia sem meningite, quando comparada com a de meningite sem meningococcemia. ● Maior risco de adquirir a doença: comunicantes íntimos, viajantes de áreas hiperendêmicas ou epidêmicas, pessoas com asplenia funcional ou anatômica, deficiência de properdina ou deficiência de complemento (C5-C8). ○ Aparentemente, pessoas com imunossupressão, incluindo o HIV, não apresentam maior risco. Diagnóstico clínico: são 4 apresentações. 1. Bacteremia sem sepse. 2. Meningococcemia sem meningite. 3. Meningite com ou sem meningococcemia. Vict�ria K. L. Card�so 4. Meningoencefalite. ● A meningococcemia evolui com gravidade e o paciente apresenta-se: ○ Toxêmico. ○ Com mal-estar geral. ○ Fraqueza. ○ Hipotensão. ○ Manifestando-se com quadro de choque séptico. ○ Surge exantema purpúrico ou hemorrágico com lesões petequiaisque atingem principalmente as extremidades. ■ Lembrando que a meningoencefalite pode se manifestar sem púrpuras. ○ As lesões podem ser encontradas em mucosas, incluindo as conjuntivas palpebral ou ocular. ○ As petéquias podem coalescer e atingir planos mais profundos, transformando-se em sufusões hemorrágicas ou equimoses. ● Forma fulminante: é uma forma mais grave, de instalação rápida e alta letalidade. ○ Costumam levar à síndrome de waterhouse - friderichsen, com colapso periférico, choque e necrose das suprarrenais. Diagnóstico laboratorial: ● Lembrando que: a presença do quadro clínico característico indica suspeita, permitindo a introdução do tratamento precoce. ● Melhor confirmação laboratorial: isolamento do meningococo de fluido orgânico estéril: ○ Sangue. ○ Líquor. ○ Líquido sinovial. ○ Líquido pleural. ○ Líquido de pericárdio. ○ Líquido proveniente de aspirado de petéquia ou de púrpura. ● A identificação do antígeno pela prova do látex e imunoeletroforese cruzada (líquor e soro) é confirmatŕoia, com a identificação dos principais subgrupos. ● Na infecção fulminante, o líquor pode não apresentar alterações inflamatórias, mas pode ser Vict�ria K. L. Card�so identificado o meningococo pela bacterioscopia. Tratamento: ● Deve ser instituído precocemente, para evitar sequelas e reduzir a letalidade da doença. ● A utilização precoce de antibióticos reduz a produção da endotoxina, diminuindo o estímulo pró-inflamatório e, com isso, reduzindo a mortalidade. ● Tratamento específico com antibióticos: deve ser iniciado logo após a coleta de materiais para cultura. ○ Betalactâmicos. ■ Cefalosporinas de 3* geração. ● Ce�triaxona e cefotaxima. ○ Cloranfenicol. ● Corticóides: visto que a meningococcemia muitas vezes é acompanhada de meningite, então a associação deve ser feita para reduzir as sequelas neurológicas. ● Tratamento de suporte: é fundamental e deve ser instituído prontamente, em conjunto com o tratamento específico ou mesmo antes.
Compartilhar