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RESUMO do acordão da 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo; sobre uma realização obrigatória de um procedimento de laqueadura tubária.

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RESUMO
No acordão da 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, a Prefeitura Municipal de Mococa recorreu de uma ação apelado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, sobre a realização obrigatória de um procedimento de laqueadura tubária.
O Ministério Público entrou com a ação para a realização do procedimento como método contraceptivo “mesmo contra a sua vontade”, pois era uma pessoa que não possuía condições financeiras, usuária frequente de álcool e drogas, já era mãe de outros cinco filhos, o quais eram menores de idade e já estiveram em casa de acolhimentos, sendo assim ela não teria discernimento para avaliar as consequências de uma nova gestação, não tendo condições de fornecer cuidados mínimos para os filhos, e também os colocava os diariamente em condições de risco, por conta do seu grave quadro de dependência química. 
A sentença foi julgada procedentes pelo juiz de Direito Djalma Moreira Gomes Júnior, condenando o município a realizar a laqueadura compulsória na requerida depois do parto do seu novo filho, já que ela estava gravida, depois que foi comprovado nos exames pré-operatório, sob pena de multa diária no valor de R$ 1 mil, limitada ao valor total de R$ 100 mil.
Na apelação contra a ação, o Município declarou, que é “flagrante a ilegitimidade ativa do Ministério Público para propor a presente ação por violação ao disposto no artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 9.263/1996, bem como ao artigo 1º, inciso III, c.c. o artigo 5º, caput e inciso II, da Constituição Federal”. E também alegou, que no SUS já existem serviços para mulheres, com orientações de métodos anticonceptivos e até a esterilização, mas nunca é realizado de forma obrigacional, que viole o direito de escolha, a liberdade da mulher ou o planejamento familiar, e mesmo assim a esterilização só é uma realizadas depois de esgotadas as demais vias de recursos.
Para o desembargador Paulo Dimas Mascaretti, “a esterilização compulsória não se revela medida lícita sob o ponto de vista do ordenamento jurídico pátrio, devendo ser assegurado o livre exercício do planejamento familiar”. 
Além do que também observou, o fato de que muitas mulheres se arrependerem após a realização do método irreversível de contracepção, e cabe ao SUS ao fornecimento métodos contraceptivos, cientificamente aceito, que não prejudiquem a vida ou a saúde das pessoas, sendo assim permitindo as mulheres a liberdade de opção. 
Em vista disso o desembargador alega que, “o nosso ordenamento jurídico não se pode admitir a chamada esterilização compulsória, ou seja, nenhuma pessoa poderá ser obrigada a se submeter a esterilização, uma vez que se trata de procedimento médico invasivo, que lesa a integridade física de forma irreversível.” E mesmo que fosse considerada absolutamente incapaz de reger seus atos, não se poderia impor a realização do procedimento, pois seria um grande agravo aos princípios da dignidade humana. 
“Tem lugar, portanto, a rejeição do pedido inicial, com a revogação da medida liminar concedida. Ante o exposto, dá-se provimento ao recurso da Municipalidade de Mococa.” diz o voto do relator.
Na declaração de voto, foi observado pelo juiz Leonel Costa que, “Petição inicial que deveria ser indeferida pela carência de interesse processual em promover a esterilização eugênica”. Também foi apontado pelo desembargador “ocorrência de cerceamento de defesa”, pelo fato de não ter sido nomeado um defensor público para a defesa da mulher, da mesma forma que também não realizada nenhuma audiência. Além disso foi observado que os documentos produzidos pelo Município, como laudos psicológicos, relatórios da assistência social, teriam o atributo de complementar questionamentos e investigações formuladas, principalmente durante as audiências, ainda que tivessem só caráter informativos.
O desembargador declarou que mesmo se fosse o caso, não se foi analisado os fatores necessários para uma esterilização voluntaria, que estabelece a Lei nº 9.263/96, pois seria necessário uma série de requisitos, relacionados a idade, quantidade de filhos, consentimento da mulher, apontando para sua vedação durante o período de parto. 
Ele destacou ainda, que em alguns laudos relata, que ela não manifestou nenhuma vontade de realizar a cirurgia. Mesmo assim não é possível ter uma conclusão sobre qual seria a real vontade da requerida.
Com isso declarou, que “Isso posto, voto dar provimento ao recurso da Prefeitura Municipal de Mococa para extinguir o processo, com resolução do mérito, rejeitando-se o pedido, na forma do art. 487, I do CPC/2015.” 
Na declaração de votos convergente, o desembargador Bandeira Lins alegou que, “Destituídos da dignidade que a ordem jurídica lhes reconhece como intrínseca, corpos e livre arbítrio tornam-se materiais a ser empregados, conforme a utilidade que possuam, na produção de um organismo social, investido em poder sem limites e habilitado a substituir, pela inumanidade de seus desígnios, o solo, o ar e o horizonte do existir pessoal. E o reconhecimento da inviabilidade da presente ação promana da rejeição, pelo Direito, dessa desoladora perspectiva.”

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