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SUMÁRIO 1. Introdução .................................................................... 3 2. Preparação para o Exame ...................................... 3 3. Ectoscopia .................................................................... 5 Referências Bibliográficas ........................................21 3INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS 1. INTRODUÇÃO O exame físico pode ser dividido em duas etapas: a primeira constitui o que se costuma designar exame físico ge- ral, somatoscopia ou ectoscopia, por meio do qual são obtidos dados ge- rais, independentemente dos vários sistemas orgânicos ou segmentos corporais, o que possibilita uma visão do paciente como um todo; a segun- da etapa corresponde ao exame dos diferentes sistemas ou segmentos corporais, com metodologia própria. 2. PREPARAÇÃO PARA O EXAME O exame físico geralmente come- ça após as queixas e a história do paciente terem sido documentadas na anamnese (ver Super Material Anamnese). Para iniciar o exame fí- sico, coloque os equipamentos (Ta- bela 1) na mesa de cabeceira ou no suporte da maca do paciente. Ajuste a luz do ambiente. É preferível usar a luz do dia como iluminação, por- que alterações na cor da pele podem ser mascaradas pela luz artificial. As cortinas do paciente devem estar fe- chadas para sua privacidade desde o começo da entrevista. Finalmente, ajuste a maca para uma altura conve- niente. Antes de examinar o paciente lave suas mãos. O paciente deve estar vestindo um avental que se abre na frente ou atrás. Pijamas também são aceitáveis. Por convenção, o examinador fica de pé à direita do paciente, com este deita- do na maca. O examinador utiliza a mão direita para a maioria das mano- bras do exame. Embora seja neces- sário que o paciente fique totalmente desnudo, o exame deve ser realizado expondo somente as áreas que estão sendo examinadas naquele momen- to, com as demais áreas cobertas. Equipamentos necessários Estetoscópio, Otoscópio e oftalmoscópio, Lanterna, Martelo para reflexo, Diapasão (128 Hz), Alfinetes de segurança, Fita métrica, Cartão de bolso para acuidade visual. Equipamentos opcionais Iluminador nasal, Espéculo nasal, Diapasão: 512 Hz Disponíveis em muitos serviços de saúde Esfigmomanômetro, Abaixadores de língua, Bastões aplicadores, Compressas de gaze, Luvas, Gel lubrificante, Cartão de guáiaco para sangue oculto, Espéculo vaginal. Tabela 1. Principais equipamentos utilizados no exame físico. 4INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS SAIBA MAIS! O paciente precisa vir em primeiro lugar e reduzir a disseminação das infecções é sua res- ponsabilidade como profissional de saúde. Você sempre precisa lavar as suas mãos antes de tocar em um paciente (para protegê-lo) e após completar o seu exame (para proteger você). As diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) preconizam que: • Se houver alguma sujeira ou material em suas mãos, use sabão e água, cobrindo todas as superfícies das mãos durante pelo menos 40 segundos. • Se não houver nenhuma sujeira em suas mãos, use um punhado de um produto com base alcoólica (esfregaço de álcool) aplicada durante pelo menos 20 segundos. A sequência correta é esfregar: 1) as mãos palma contra palma; 2) a palma direita sobre o dorso esquerdo com os dedos entrelaçados, e então vice-versa; 3) palma contra palma com os dedos entrelaçados; 4) dorso dos dedos para as palmas opostas com os dedos fechados; 5) cada polegar rotacionalmente– as palmas rotacionalmente. Finalmente, se estiver usando sabão e água, enxague as suas mãos, seque com uma toalha e use a toalha (ou o seu cotovelo) para fechar a torneira. Se estiver usando o esfregaço de álcool deixe secar e prossiga. Não use esfregaço com álcool se suas mãos estiverem sujas ou se houver um surto de infec- ção pelo Clostridium difficile; use, em vez disso, sabão e água. Figura 1. Higienização correta das mãos. Fonte: https://bit.ly/2Kht9Ek Não se esqueça de limpar a campânula e o diafragma do seu estetoscópio com um esfregaço de álcool após cada exame. 5INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS 3. ECTOSCOPIA Ectoscopia ou somatoscopia é a de- nominação dada à análise geral do paciente. A ectoscopia do aspecto, da altura e do peso de um paciente co- meça já nos primeiros momentos do contato com ele, porém as observa- ções a respeito da aparência do pa- ciente frequentemente se consolidam quando é iniciado o exame físico. O exame físico geral inclui: avaliação do estado geral, avaliação do estado de hidratação, antropometria, avalia- ção do estado nutricional, desenvolvi- mento físico/biotipo ou tipo morfológi- co, fácies, atitude e decúbito preferido no leito, mucosas, marcha. MAPA MENTAL: PREPARAÇÃO PARA O EXAME FÍSICO Garanta vestimenta adequada do paciente (avental, pijama) Separe equipamentos necessários Fique à direita do paciente Ajuste a altura da cama Garanta privacidade do paciente Lave as mãos antes e após o exame Ajuste a luz do ambiente Exponha somente as áreas do corpo que estão sendo examinadas no momento 6INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS Avaliação do estado geral É uma avaliação subjetiva com base no conjunto de dados exibidos pelo paciente e interpretados de acordo com a experiência de cada um. Para descrever a impressão obtida, usa-se a seguinte nomenclatura: bom esta- do geral; regular estado geral; ou ruim estado geral. Avaliação do estado de hidratação O estado de hidratação do paciente é avaliado tendo-se em conta os se- guintes parâmetros: Alteração abrup- ta do peso; Alterações da pele quanto à umidade, à elasticidade e ao tur- gor; Alterações das mucosas quanto à umidade; Alterações oculares; Es- tado geral; e Fontanelas (no caso de crianças). • Estado de hidratação normal: a pele possui boa elasticidade e com leve grau de umidade, as muco- sas são úmidas, não há alterações oculares nem perda abrupta de peso. No caso de crianças, as fon- tanelas são planas e normotensas e o peso mantém curva ascenden- te; a criança se apresenta alegre e comunicativa. • Desidratação: caracteriza-se por sede, diminuição abrupta do peso, pele seca (com elasticidade e tur- gor diminuídos), mucosas secas, olhos afundados (enoftalmia) e hipotônicos, estado geral compro- metido, excitação psíquica ou aba- timento, oligúria e fontanelas de- primidas, no caso de crianças. Avaliação do estado nutricional É um processo dinâmico, feito por meio de comparações entre os dados obtidos no paciente e os padrões de referência, sendo importante a reava- liação periódica do estado nutricional no curso da doença. Para avaliação de sobrepeso e obe- sidade, o IMC é um indicador prático, de baixo custo e com boa validade diagnóstica. Cumpre salientar que o IMC não distingue massa gordurosa de massa magra; assim, um paciente musculoso pode ser classificado com “excesso de peso”. Deve-se ainda es- tar atento ao biótipo do paciente, um IMC entre 17 e 18,5 não necessaria- mente é indicativo de desnutrição. Para identificação de desnutrição, fa- z-se necessária a presença de dois ou mais dos seguintes elementos: inges- tão insuficiente de energia; perda de peso; perda de gordura subcutânea; perda de massa muscular; acúmulo de líquido localizado ou generaliza- do, que, em algumas ocasiões, pode mascarar a perda de peso; e capa- cidade funcional diminuída, medida pela força do aperto de mão, com uso de dinamômetro. 7INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS Desenvolvimento físico Uma determinação exata requer um estudo antropométrico rigoroso. Con- tudo, na prática, é suficiente uma avaliação simplificada, levando-se em conta a idade e o sexo. Para isso, tomam-se como elementos básicos a altura e a estrutura somática. Em primeiro lugar, compara-se a al- tura encontrada com as medidas constantes das tabelas de valores normais. Para avaliação da estrutura somática, não se dispõe de tabelas. É feita pela inspeção global, acrescida de informações a respeito do desen- volvimento osteomuscular. Os achados podem ser enquadradosnas seguintes alternativas: (1) De- senvolvimento normal; (2) Hiperde- senvolvimento; (3) Hipodesenvolvi- mento; (4) Hábito grácil: constituição corporal frágil e delgada, caracteri- zada por ossatura fina, musculatura pouco desenvolvida, juntamente com uma altura e um peso abaixo dos ní- veis normais, é uma condição consti- tucional, sem significado patológico; e (5) Infantilismo: persistência anormal das características infantis na idade adulta. Biotipo ou tipo morfológico É o conjunto de características morfo- lógicas apresentadas pelo indivíduo. A determinação do biótipo encontra sua principal utilidade para a correta interpretação das variações anatômi- cas que acompanham cada tipo mor- fológico, pois há uma relação entre a forma exterior do corpo e a posição das vísceras. Pode ser classificado da seguinte maneira: • Brevilíneo: Pescoço curto e grosso; Tórax alargado e volumoso; Mem- bros curtos em relação ao tronco; Ângulo de Charpy (costal) maior que 90°; Musculatura desenvol- vida e panículo adiposo espesso; Tendência para baixa estatura. • Mediolíneo: Equilíbrio entre os membros e o tronco; Desenvolvi- mento harmônico da musculatura e do panículo adiposo; Ângulo de Charpy (costal) em torno de 90°. • Longilíneo: Pescoço longo e del- gado; Tórax afilado e chato; Mem- bros alongados com franco pre- domínio sobre o tronco; Ângulo de Charpy (costal) menor que 90°; Musculatura delgada e panículo adiposo pouco desenvolvido; Ten- dência para estatura elevada. 8INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS Figura 2. Tipos morfológicos. A: Brevilíneo. B: Mediolíneo. C: Longilíneo. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 régua antropométrica. Após essa faixa etária, mede-se a altura (es- tatura) da criança em pé, compa- rado-se a altura obtida com tabe- las pediátricas para a idade e sexo. Em adultos, não sendo possível aferir a altura, pode-se perguntar se ele sabe a medida, pois alguns estudos já mostraram a validade da altura referida. Há também al- gumas equações para estimar a Avaliação antropométrica • Altura/estatura: expressa o cres- cimento linear. Quando o paciente é capaz de ficar em posição ortos- tática, a altura é aferida em balan- ça com estadiômetro ou com fita métrica, afixada em superfície lisa, vertical e sem rodapé. Em crianças até 2 anos de idade, recomenda- -se medir a altura (comprimento) com ela deitada, utilizando uma 9INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS altura a partir de medidas de seg- mentos corporais, tais como altu- ra do joelho, da envergadura ou semienvergadura. • Peso: sua avaliação é útil para de- terminar e monitorar o estado nu- tricional, utilizado como marcador indireto da massa proteica e re- serva de energia. Para medição do peso atual, utiliza-se uma balança mecânica tipo plataforma ou di- gital. O paciente deve ser pesado descalço, com a menor quantida- de de roupa possível. Em pacien- te incapacitado de se colocar em posição ortostática ou de deam- bular, o peso pode ser aferido em cama-balança ou em balança para pesagem em leito, que não é muito usada pelo alto custo. Para recém- -nascidos, utiliza-se a balança pe- diátrica. Em relação à criança, vale o mesmo já mencionado sobre o uso das tabelas pediátricas. • Índice de massa corporal (IMC): amplamente utilizado como indi- cador do estado nutricional, por ser obtido de forma rápida e de fácil in- terpretação. É expresso pela fórmu- la: IMC = peso atual (kg)/altura² (m). O IMC pode ser classificado como: Magro ou baixo peso: < 18,5; Nor- mal ou eutrófico: 18,5-24,9; So- brepeso ou pré-obeso: 24,9-29,9; Obesidade grau I: 30-34,9; Obesi- dade grau II: 35-39,9; e Obesidade grau III ou maligna: > 40. • Circunferência da cintura (CC): é utilizada para o diagnóstico de obesidade abdominal e reflete o conteúdo de gordura visceral. A medida da CC é determinada com uma fita métrica inextensível po- sicionada no ponto entre a última costela e a crista ilíaca, sem fazer pressão, em plano horizontal. A classificação é feita da seguinte forma: ◊ Sexo masculino: Normal < 94 cm; Aumentada: 94-102 cm; Muito aumentada: ≥ 102 cm. ◊ Sexo feminino: Normal < 80 cm; Aumentada: 80-88 cm; Muito aumentada: ≥ 88 cm. • Circunferência da panturrilha (CP): medida importante para acompanhar o estado nutricional de pacientes hospitalizados, prin- cipalmente os acamados, pois per- mite avaliar a depleção da massa muscular. É utilizada também no rastreamento de sarcopenia em idosos. Os pontos de corte de CP para idosos brasileiros são: ◊ Menor que 35 cm: deve-se realizar acompanhamento de rotina; ◊ De 31 a 34 cm: exige vigi- lância nutricional ao idoso (atenção); ◊ Menor que 31 cm: carac- teriza depleção de massa 10INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS muscular (sarcopenia) (neces- sária intervenção). A medida da CP deve ser feita com o indivíduo sentado, com os pés aproximadamente a 20 cm do corpo, joelho em ângulo de 90°, sendo considerada a medida mais larga da pantur- rilha da perna esquerda. • Perímetro cefálico (PC): realizada logo após o nascimento, e impor- tante para acompanhamento da criança até os 2 anos de idade. Em crianças com algum déficit, deve ser medido até os 5 anos de idade. Para diagnóstico da microcefalia, o valor do PC deve ser inferior a 33 cm na criança a termo. A medida é realizada com fita inextensível, observando os pontos anatômicos das bordas supraorbitárias (arco das sobrancelhas) e a proeminên- cia occipital em seu ponto mais sa- liente, na parte posterior. Fácies É o conjunto de dados exibidos na face do paciente. É a resultante dos traços anatômicos mais a expressão fisionômica. Certas doenças impri- mem na face traços característicos, e, algumas vezes, o diagnóstico nasce da simples observação do rosto do paciente. Algumas fácies diagnósti- cas importantes constam a seguir: • Acromegálica: queixo proeminen- te; cristas supraorbitárias. Figura 3. Fácies acromegálica. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 • Cushingoide: pletórica e gorda. Figura 4. Fácies cushingoide. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 11INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS • Síndrome de Down: dobras epi- cantais; língua grande. Figura 5. Fácies de síndrome de Down. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 • Hipocrática: olhos fundos, têmpo- ras colapsadas; nariz afilado com crostas nos lábios; testa úmida. Figura 6. Fácies hipocrática. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 • Marfanoide: palato fino, alto, arqueado. Figura 7. Fácies marfanoide. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 12INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS • Estenose mitral: rubor malar. Figura 8. Fácies de estenose mitral. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 • Miopática (distrofia miotônica): cal- vície frontal; masseteres triangula- res e atrofiados; óculos grossos ou implantes de lente intraocular. Figura 9. Fácies miopática. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 • Mixedematosa (hipotireoidismo): inchada; falta de expressão; es- pessamento da pele; cabelos fi- nos; perda do terço externo das sobrancelhas. Figura 10. Fácies mixedematosa. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 13INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS • Pagética: crânio grande. Figura 11. Fácies pagética. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (ecomo passar nos seus exames), 2019 • Parkinsoniana: sem expressão; ato de piscar infrequente. Figura 12. Fácies parkisoniana. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 • Tireotóxica: expressão do olhor ti- reoidiano; retração das pálpebras; exoftalmia. Figura 13. Fácies tireotóxica. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 • Viril: acne; pelo facial em mulheres. Figura 14. Fácies viril. Fonte: Guia prático de exame clínico: uma introdução às habilidades clínicas (e como passar nos seus exames), 2019 14INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS Atitude e decúbito preferido no leito Define-se atitude como a posição adotada pelo paciente no leito ou fora dele, por comodidade, hábito ou com o objetivo de conseguir alívio para al- gum padecimento. Algumas posições são conscientemente procuradas pelo paciente (voluntárias), enquanto outras independem de sua vontade ou são resultantes de estímulos ce- rebrais (involuntárias). Só têm valor diagnóstico as atitudes involuntárias ou as que proporcionam alívio para algum sintoma. Se isso não for ob- servado, pode-se dizer que o pacien- te não tem uma atitude específica ou que ela é indiferente. As atitudes voluntárias compreen- dem a ortopneica, a genupeitoral, a posição de cócoras, a parkinsoniana e os diferentes decúbitos. As atitudes involuntárias incluem a atitude passiva, o ortótono, o opistó- tono, o emprostótono, o pleurostóto- no e a posição em gatilho e torcicolo e mão pêndula da paralisia radial. Exame das mucosas As mucosas facilmente examináveis a olho nu e sem auxílio de qualquer aparelho são as mucosas conjuntivais (olhos) e as mucosas labiobucal, lin- gual e gengival. O método de exame é a inspeção, coadjuvado por manobras singelas que exponham as mucosas à visão do examinador. Os seguintes parâmetros devem ser analisados: • Coloração: a coloração normal é róseo-avermelhada e a nomencla- tura habitual é: mucosas coradas. A diminuição ou a perda da cor de- signa-se como mucosas descora- das ou palidez das mucosas. É um achado semiológico de grande va- lor prático, pois indica a existência de anemia. Procura-se fazer tam- bém uma avaliação quantitativa usando-se a escala de uma a qua- tro cruzes. Mucosas hipercoradas significam acentuação da colora- ção normal e traduzem aumento das hemácias naquela área, como ocorre nas inflamações (conjunti- vites, glossites, gengivites) e nas policitemias. A cianose consiste na coloração azulada das mucosas. Na icterícia as mucosas tornam-se amarelas ou amarelo-esverdeadas. • Umidade: em condições normais as mucosas são úmidas, traduzin- do bom estado de hidratação. As mucosas secas perdem o brilho, os lábios e a língua ficam pardacen- tos, e todas essas mucosas adqui- rem aspecto ressequido. • Presença de lesões. Postura ou atitude na posição de pé A postura pode ser classificada da seguinte maneira: 15INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS • Boa postura: Cabeça ereta ou li- geiramente inclinada para diante; Peito erguido, fazendo adiantar ao máximo essa parte do corpo; Ab- dome inferior achatado ou leve- mente retraído; Curvas posteriores nos limites normais. • Postura sofrível: Cabeça leve- mente inclinada para diante; Peito achatado; Abdome algo protruso, passando a ser a parte mais sa- liente do corpo; Curvas posteriores exageradas. • Má postura: Cabeça acentuada- mente inclinada para diante; Peito deprimido; Abdome saliente e re- laxado; Curvas posteriores extre- mamente exageradas. Marcha Deve ser analisada solicitando-se ao paciente que caminhe certa distân- cia, descalço, de preferência com cal- ção, com olhos abertos e fechados, indo e voltando sob a observação do examinador. A marcha normal pode sofrer varia- ções em relação a particularidades in- dividuais, ou em razão de transtornos do aparelho locomotor. As marchas anormais incluem a marcha helicópo- de, ceifante ou hemiplégica, a marcha anserina, a marcha parkinsoniana e a marcha claudicante. NA PRÁTICA! Para facilitar a prática e a memorização, segue abaixo um roteiro pedagógico para exame físico geral: Identificação do paciente: Estado geral (BEG, REG, MEG); Estado de hidratação (hidratado/desidratado); Respiração (eupneico/dispneico); Estado nutricional (nutrido/desnutrido); Fácies (atípica/típica – qual); Desenvolvimen- to físico (normal/nanismo/gigantismo); Biotipo (brevilíneo, mediolíneo ou longilí- neo); Peso: kg; Altura: cm; IMC (índice de massa corporal); CC (circunferência da cintura): cm; Mucosas (coradas/hipoco- radas/hipercoradas); Atitude (ativa/pas- siva); Postura (boa/sofrível/má); Marcha. Observações: Sinais Vitais Os sinais vitais – pressão arterial (PA), frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR) e temperatura – for- necem informações críticas iniciais que frequentemente influenciam o tempo e direção de sua avaliação. Comece aferindo a pressão arterial e a frequência cardíaca. Verifique a frequência cardíaca por um minuto pela palpação do pulso radial com os dedos ou pela ausculta do im- pulso apical com o estetoscópio no ápice cardíaco. Continue a usar uma dessas técnicas enquanto verifica a frequência respiratória sem alertar o paciente – os padrões respiratórios podem mudar. A temperatura corpo- ral pode ser aferida em vários locais, 16INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS dependendo do paciente e do equi- pamento disponível. Pressão arterial Escolha do tamanho correto de bra- çadeira para o esfigmomanômetro: a largura normal do manguito da pres- são arterial é 12,5 cm. Ela é adequa- da para o braço de um adulto de ta- manho normal. Se a braçadeira for pequena (estreita) demais, os valores aferidos serão elevados; se a braça- deira for muito grande (larga), os va- lores aferidos serão baixos em um braço magro e elevados em um braço robusto. Etapas para garantir a acurácia da aferição da pressão arterial • O paciente deve evitar tabagismo, consumo de cafeína ou prática de exercícios 30 minutos antes da aferição. • Assegure-se de que a sala de exa- me seja um local tranquilo e com temperatura agradável. • O paciente deve se sentar tran- quilamente durante 5 min em uma cadeira com os pés apoiados no chão, em vez de colocá-los na mesa de exame. • Assegure-se de que o braço es- colhido esteja desnudo. Esse bra- ço não deve ter fístulas arteriove- nosas para diálise, cicatrizes de dissecção de artéria braquial pré- via nem sinais de linfedema. • Palpe a artéria braquial para confir- mar que exista pulso viável e posi- cione o braço do paciente de modo que a artéria braquial, no sulco an- tecubital, encontre-se no mesmo nível do coração, aproximadamen- te ao nível do 4º espaço intercostal em sua junção com o esterno. • Se o(a) paciente estiver sentado(a), coloque o braço dele(a) sobre uma mesa um pouco acima da cintura; se estiver em pé, apoie o braço de- le(a) no nível do meio do tórax. Como aferir a pressão arterial • Posicione o esfigmomanômetro e o braço: com o braço do pacien- te no nível do coração, coloque a bexiga inflável sobre a artéria bra- quial. A borda inferior da braçadei- ra deve estar, aproximadamente, 2,5 cm acima do sulco antecubital. Ajuste bem o esfigmomanômetro. Posicione o braço do paciente de modo que fique discretamente fle- xionado na altura do cotovelo. • Estime a pressão sistólica e adicio- ne 30 mmHg: palpe a artéria radial com os dedos de uma mão, insu- fle rapidamente a braçadeira até o pulso radial desaparecer. Verifique a pressão no manômetro e acres- cente 30 mmHg. Usar esse valor para insuflações subsequentes 17INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS evita o desconforto associado a pressões desnecessariamente ele- vadas na braçadeira. Isso também evita o erro ocasional causado pelo hiato auscultatório – um intervalo de silêncio que pode ocorrer entre as pressões sistólica e diastólica. Desinflea braçadeira, de modo rá- pido e completamente; em segui- da, espere de 15 a 30 segundos. Se encontrar um hiato auscultató- rio, registre seus achados comple- tamente (p. ex., 200/98 com um hiato auscultatório de 170 a 150). Um hiato auscultatório está asso- ciado a rigidez arterial e doença aterosclerótica. • Posicione a campânula do estetos- cópio na artéria braquial: coloque a campânula do estetoscópio delica- damente sobre a artéria braquial, tomando o cuidado de formar um “selo de ar” com sua borda. Figura 15. A campânula é colocada sobre a artéria braquial. Fonte: Bates, propedêutica médica, 2018 • Identifique a pressão arterial sis- tólica: mais uma vez, insufle ra- pidamente o esfigmomanômetro até o nível-alvo e, depois, desinfle lentamente (cerca de 2 a 3 mmHg por segundo). Observe o nível ten- sional enquanto ausculta os sons de, pelo menos, dois batimentos consecutivos. Essa é a pressão sistólica. • Identifique a pressão arterial dias- tólica: continue a desinflar a braça- deira lentamente até os ruídos se tornarem abafados e desaparece- rem. Para confirmar o ponto de de- saparecimento, ausculte a pressão cair por outros 10 a 20 mmHg. A seguir, desinfle a braçadeira rapi- damente até zero. O ponto de de- saparecimento, que, habitualmen- te, é apenas alguns mmHg abaixo do ponto de abafamento dos ruí- dos, propicia a melhor estimativa da pressão diastólica verdadeira em adultos. Em algumas pessoas, o ponto de abafamento e o ponto de desaparecimento estão bem afastados. Às vezes, como nos in- divíduos com regurgitação aórtica, os ruídos nunca desaparecem. Se a diferença for igual ou superior a 10 mmHg, anote os dois valores (p. ex., 154/80/68). • Faça a média de duas ou mais afe- rições: arredonde os níveis tensio- nais (sistólico e diastólico) para os 2 mmHg mais próximos. Espere 2 18INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS min e repita o procedimento. Em seguida, faça a média das suas aferições. Se as duas primeiras di- ferirem em mais de 5 mmHg, faça outras aferições. • Faça a aferição da pressão arterial em ambos os braços pelo menos uma vez: existe normalmente uma diferença tensional de 5 mmHg, e, algumas vezes, essa diferença chega a 10 mmHg. As aferições subsequentes devem ser feitas no braço com o nível tensional mais elevado. FLUXOGRAMA: COMO AFERIR A PRESSÃO ARTERIAL • Palpe a artéria radial e insufle a braçadeira até o pulso radial desaparecer: verifique a pressão e acrescente 30 mmHg Escolha o tamanho correto da braçadeira Estime a pressão sistólica e adicione 30 • Evitar tabagismo, cafeína e atividade física nos últimos 30 min • Ambiente tranquilo e temperatura agradável • Paciente sentado por ≥ 5 min em cadeira com pés apoiados no chão • Posicione a artéria braquial no mesmo nível do coração Garanta a acurácia da aferição • Coloque a bexiga inflável sobre a artéria braquial • A borda inferior da braçadeira deve estar 2,5 cm acima do sulco antecubital Posicione o esfigmomanômetro e o braço Faça a média de 2 ou mais aferições Posicione a campânula do este- toscópio sobre a artéria braquial • Insufle até o nível-alvo e desinfle lentamente: observe a pressão enquanto ausculta os sons de, pelo menos, 2 batimentos consecutivos Identifique a pressão arterial sistólica • Continue a desinflar até os ruídos tornarem-se abafados e desaparecerem Identifique a pressão arterial diastólica 19INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS Frequência e ritmo cardíacos O pulso radial é palpado comumente para a avaliação da frequência cardí- aca. Comprima a artéria radial com as polpas dos seus dedos indicador e médio até detectar a pulsação má- xima. Se o ritmo for regular e a fre- quência parecer normal, conte-a du- rante 30 segundos e multiplique-a por dois. Se a frequência for incomu- mente rápida ou lenta, conte durante 60 segundos. A variação comum da normalidade é de 60-90-100 bpm. Figura 16. Palpação do pulso radial.Fonte: Bates, pro- pedêutica médica, 2018 Para avaliação do ritmo comece pela palpação do pulso radial. Se hou- ver alguma irregularidade, verifique o ritmo de novo auscultando o ápice cardíaco com o estetoscópio. Extras- sístoles de baixa amplitude podem não ser transmitidas para os pulsos periféricos, levando a uma frequência cardíaca subestimada. O ritmo é re- gular ou irregular? Se irregular, tente identificar um padrão: (1) As extras- sístoles aparecem em um ritmo basi- camente regular? (2) A irregularida- de varia de modo consistente com a respiração? (3) O ritmo é totalmente irregular? Frequência e ritmo respiratórios Observe a frequência, o ritmo, a pro- fundidade e o esforço respiratório. Conte o número de incursões respi- ratórias durante um minuto, seja por inspeção visual ou pela ausculta sutil com o estetoscópio pousado na tra- queia durante seu exame da cabeça e do pescoço ou do tórax. Normalmen- te, a frequência respiratória normal dos adultos é 20 incursões por minu- to em um padrão regular e tranquilo. Um suspiro ocasional é normal. Verifi- que se a expiração é prolongada. Temperatura A temperatura corporal é verificada por intermédio do termômetro. Pode ser: axilar, oral, retal, timpânico, arte- rial pulmonar, esofágico, nasofarin- giano e vesical. No Brasil, o local ha- bitual é o oco axilar. A mensuração da temperatura na cavidade oral, bas- tante comum em outros países, é fei- ta pela colocação do termômetro na região sublingual. A temperatura retal é feita pela aplicação do termômetro 20INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS na ampola retal. As referências de normalidade são: • Temperatura axilar: 35,5 a 37°C, com média de 36 a 36,5°C; • Temperatura bucal: 36 a 37,4°C; • Temperatura retal: 36 a 37,5°C, ou seja, 0,5°C maior que a axilar. MAPA MENTAL: SINAIS VITAIS SINAIS VITAIS Pressão Arterial Frequência Respiratória Frequência CardíacaTemperatura MAPA MENTAL: INSPEÇÃO GERAL Inspeção Geral Marcha Postura ou Atitude na posição ereta Exame das Mucosas Atitude e Decúbito Estado de Hidratação Estado Nutricional Desenvolvimento Físico Biotipo ou Tipo Morfológico Fácies Avaliação Antropométrica Estado Geral 21INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Porto, Celmo Celeno. Porto, Arnaldo Lemos. Exame clínico. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Swartz, Mark H. Tratado de semiologia médica: história e exame clínico. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. Bickley, Lynn S. Szilagyi, Peter G. Hoffman, Richard M. Bates, propedêutica médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Junior, Fernando Veiga Angélico. Souza, Aspásia Basile Gest’eira. Manual de exame físico. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. Talley, Nicholas J. O’Connor, Simon. Guia prático de exame clínico: uma introdução às ha- bilidades clínicas (e como passar nos seus exames). 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. 22INSPEÇÃO GERAL E SINAIS VITAIS
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