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Clínica de Pequenos Animais 2 Camilla Teotonio Pereira CARDIOMIOPATIA DILATADA CANINA (CMD) Doença miocárdica caracterizada por contratilidade reduzida e dilatação de um ou ambos os ventrículos e disfunção sistólica, que muitas vezes leva à insuficiência cardíaca e morte. CMD pode ser primário é contratilidade ou secundária. PREVALÊNCIA Raças de porte grande e gigante (incidência mais tardia, porém primeiros sinais são de ICC). O Doberman é o modelo da CMD com alta incidência de morte súbita. Prevalência entre machos com idade média de 7 anos. Cardiomiopatia arritmogênica do Boxer é a deposição de tecido adiposo na parede do VD, que gera instabilidade no potencial de ação, ou seja, aparece vários focos de arritmias ventriculares, que ocasiona a morte súbita. Somente depois o coração dilata com evolução prolongada e principal sintoma é a sincope. Cocker Spaniel é a única raça de porte médio acometida e prolongação da CMD até 4 anos assintomático (fase oculta). ETIOLOGIA CMD PRIMÁRIA Origem genética, nos animais de grande/gigante porte, nas quais os miócitos são ineficazes durante a sístole. CMD SECUNDÁRIA Acomete qualquer raça predisposta ou não. Diversas condições que conduz a perda da contratilidade dos miócitos e ocorre dilatação cardíaca secundariamente. Ex: quimioterápico cardiotóxico (doxorrubicina) para controle de linfoma. Obrigatório fazer ECO antes e depois do tratamento. Ex: distrofia muscular de Duchenne acomete musculatura esquelética cardíaca e respiratória no Golden Retriever. Ex: cardiomiopatia arritmogênica relacionada taquicardia impede a perfusão coronariana eficiente durante a diástole. Média de sobrevida de 160 dias (5 meses), exceto cocker. FISIOPATOLOGIA Presença do comprometimento da função miocárdica, ou seja, na diminuição progressiva da contratilidade, levando, consequentemente, à redução no DC. O DC e VEj reduzidos induz a queda da PAS, detectada pelos barorreceptores, e a partir daí deflagra- se uma resposta caracterizada, inicialmente, pela vasoconstrição arteriolar. Esta é produzida pelo aumento da concentração de noreprinefrina circulante (catecolamina), angiotensina II, vasopressina e endotelina e por meio do aumento da descarga simpática. O SNS provoca aumento da contratilidade e da FC por meio da estimulação dos receptores β1, o que faz com que aumente o VEj + vasoconstrição regularizam a PAS. Essa resposta compensatória, no entanto, tem um tempo limitado. O coração se protege de um estímulo prolongado pelas catecolaminas (tóxicas) e, após 24 a 72 h do início da resposta, os receptores β1 adrenérgicos passam por um processo de sub- regulação, fazendo com que o SNS não seja mais tão eficaz. A partir daí o organismo encontra outros meios de compensar a diminuição do DC. A redução do débito leva ao aumento do volume e do diâmetro sistólico final, resultando em menor volume ejetado a cada ciclo cardíaco. Para compensar esta diminuição da função, ocorre o remodelamento ventricular, caracterizado por hipertrofia excêntrica (adição de céls), que representa uma resposta à sobrecarga de volume provocada pela retenção de sódio e água. Essa sobrecarga determina o estiramento dos miócitos, resultando na dilatação das cavidades cardíacas, cujos diâmetros e volume diastólico final ficam aumentados. Essa adaptação permite que o volume ejetado volte ao normal quando a doença é de grau leve a moderado. Quando o comprometimento miocárdico é grave, a ponto de sobrepujar a habilidade de compensação do sistema cardiovascular, ocorre aumento da pressão diastólica final, causando edema pulmonar. Caso o ventrículo direito também esteja comprometido, observa-se ascite e/ou efusão pleural. Nesta fase, o volume ejetado já está reduzido. A alteração da geometria ventricular promove a dilatação do anel mitral e/ou tricúspide, com consequente afastamento dos folhetos e regurgitação valvar. Além disso, o deslocamento dos músculos papilares também contribui para a insuficiência valvar, que também tem o seu papel no desenvolvimento das manifestações clínicas. Imagens: diástole, meio da sístole e final da sístole do VE. Onda representa a força de contração. Imagem 1: normal / imagem 2: CMD. EDD/ DDVE: diâmetro diastólico do VE. ESD/ DSVE: diâmetro sistólico do VE. SF/FS: fração de encurtamento (contratilidade). Normal a partir de 29%. Dada pela diferença do DDVE e DSVE. Quanto maior a ≠ entre DDVE e DSVE, maior a FS (proporcional ao tamanho da ≠). Imagem 2: EDD normal, aumento ESD, diminuição do SF. Quanto menor a diferença entre EDD e ESD, menor SF. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - ICC FASE OCULTA (ASSINTOMÁTICA) Animal tem a doença, porém não manifesta sintomatologia e com período variado em média 2 anos para Dobermann. O descobrimento é através do ECO para exame pré-operatório. FASE SINTOMÁTICA Principal sintoma: principalmente ICCE ou ICCD e ICCE dependendo da raça. EXAME FÍSICO INSPEÇÃO PERCUSSÃO PALPATÓRIA Efusão pleural: som submaciço. Efusão peritoneal: ascite. PALPAÇÃO Pulso femoral fraco e irregular. Organomegalia: hepato e esplenomegalia. AUSCULTAÇÃO Sopro mitral e/ou tricúspide, sistólico, baixo graus (I/VI a III/VI). DIAGNÓSTICO RADIOGRAFIA Desenvolvimento dos sinais de ICC. Cardiomegalia e opacificação pulmonar dos lobos caudais (edema pulmonar). Efusão pleural, com perda da silhueta cardíaca. ELETROCARDIOGRAMA (ECG) FIBRILAÇÃO ATRIAL Principalmente gigante porte. Ausência da onda P, ou seja, os átrios tem diversas despolarizações rápidas/seguidas e desorganizadas. Consequência: taquicardia que diminui a perfusão miocárdica, impede relaxamento adequado do coração e desenvolve ICC. ARRITMIAS VENTRICULARES Principalmente em Dobermann e Boxer. Holter: eletrocardiograma 24h: mostra taquicardia ventricular não sustentada (TVNS)com duração de menos 30 segundos. Não precisa ser sustentada para levar à morte súbita. O complexo QRS largos. Consegue traçar os eventos do Holter com os da cínica. ECOCARDIOGRAMA (ECO) Diagnóstico definitivo para CMD. Disfunção sistólica, hipertrofia excêntrica, regurgitação sistólica das valvas atrioventriculares (dilatação do anel valvar). Valores de SF: 20 a 25%: discreta / 15 a 20% moderada / abaixo de 15% importante. Dilatação das câmaras cardíacas esquerda com afinação do septo interventricular. Modo M: corte transverso do VE. Cursor: representação da movimentação decorrente ao tempo. A parede do VE contrai (ondulação) e SIV não contrai, ou seja, dilatação da cavidade do VE com a redução da fração de encurtamento. TRATAMENTO DIURÉTICOS Utilizados apenas em casos em que haja sinais congestivos como edema pulmonar, derrames cavitários e edema subcutâneo. A furosemida é o mais utilizado e também considerado o mais eficaz. Dose: 1mg/kg EDA (dias alternados) a 4mg/Kg, TID. Edema pulmonar: 2 a 8mg/Kg cada 1-2 horas, controlar de acordo com as manifestações clínicas. Efeitos colaterais: hiponatremia, hipocloremia, hipocalemia e alcalose. Espirololactona: reduzir a fibrose miocárdica e não com uso de diurético com a dose 2mg/Kg, SID ou BID. INIBIDORES DA ECA Benazepril: 0,25 a 0,5mg/Kg, BID. Enalapril: 0,5mg/Kg, BID. Efeitos colaterais: hipotensão (sonolência e apatia), hipercalcemia (associação com espironolactona) e azotemia (lesão renal pelo uso prolongado ou grandes doses de diuréticos). INOTRÓPICOS POSITIVOS Digoxina: digitálico e uso em casos de fibrilação atrial e segunda opção pelo custo alto do pimobendan. Dose: 0,005 a 0,008mg/Kg, BID (começar com a menor dose). Pimobendan: também é inodilatador, uso em animais assintomáticos com disfunção moderada a severa. Dose: 0,1a 0,3mg/Kg, BID pelo menos uma hora antes da refeição. ANTIARRÍTMICO Uso em casos assintomáticos, com uso de prevenir o risco de morte súbita, principalmente no Dobermann. O primeiro sintoma é morte súbita no Doberman. 1. Sotalol Indicação: arritmias supra e ventriculares e previve a morte súbita pela fibrilação ventricular. Cão: 0,5 a 2mg/Kg, BID, VO. 2. Amiodarona Indicação: taquicardias supra e ventriculares agudas e crônicas (medicamento eleição). Cão: VO (10 a 20mg/Kg, SID, 7 a 10 dias; após 3 a 15mg/Kg, SID) e IV (5 a 10mg/Kg bolus bem lento). Efeito colateral: hepatite aguda, fibrose pulmonar, hipotireoidismo e etc. Contraindicação: hepatopatas e usa sotalol.
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