Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
– 1 Insuficiência Cardíaca • Definição É uma condição em que o coração NÃO CONSEGUE BOMBEAR SANGUE de acordo com a DEMANDA TECIDUAL – ou só consegue atingir esse patamar caso AUMENTE A PRESSÃO DIASTÓLICA FINAL. Essa incapacidade costuma estar acompanhada de sintomas como aumento da pressão de enchimento do VE (síndrome congestiva pulmonar) e baixo débito (síncope, choque). A maioria dos casos de IC é devida à PERDA DE MASSA MIOCÁRDICA, o que determina ou uma DILATAÇÃO ventricular ou uma HIPERTROFIA compensatória, ambos efeitos consequência da ativação NEURO-HUMORAL! • Fisiopatologia ➔ Função Sistólica É a capacidade de EJEÇÃO de sangue nas grandes artérias pelos VENTRÍCULOS. Geralmente, ao fim da diástole, o ventrículo possui cerca de 100mL de sangue = VOLUME DIASTÓLICO FINAL (VDF). Desse valor, cerca de 60mL são ejetados na sístole = DÉBITO SISTÓLICO (DS), restando 40ml no ventrículo = VOLUME SISTÓLICO FINAL (VSF). Considerando a frequência cardíaca, pode-se determinar o DÉBITO CARDÍACO, que é o volume de sangue ejetado pelo coração a cada minuto (Volume sistólico X FC), sendo o valor médio entre 4,5 a 6,5 L/min – o ÍNDICE CARDÍACO é o DC corrigido para a ÁREA DE SUPERFÍCIE CORPORAL! Na prática, a função sistólica pode ser estimada pela FRAÇÃO DE EJEÇÃO, que é o DS/VDF – os valores de referência são entre 50-70%. ➔ Função Diastólica É a capacidade ventricular de RELAXAR para acomodar o sangue proveniente das veias SEM AUMENTAR SIGNIFICATIVAMENTE A PRESSÃO INTRACAVITÁRIA – vale destacar que esse processo de relaxamento NÃO É PASSIVO e precisa de gasto energético para acontecer, justificando, por exemplo, a DISFUNÇÃO DIASTÓLICA percebida em situações ISQUÊMICAS (com diminuição de energia). Em corações sem patologias, a PRESSÃO DIASTÓLICA FINAL, também chamada de PRESSÃO DE ENCHIMENTO VENTRICULAR, varia entre 8-12mmHg! ➔ Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) A congestão é a PRINCIPAL CONSEQUÊNCIA da IC, uma vez que, por não conseguir bombear o sangue adequadamente, há uma congestão do fluxo (engarrafamento de tudo que vem antes do coração) VENOCAPILAR, determinando um extravasamento do líquido para o espaço intersticial! ➔ Tipos de IC quanto à localização IC Esquerda: a MAIORIA dos casos é desse tipo, geralmente por insuficiência do ventrículo esquerdo (IVE) – cursa com CONGESTÃO PULMONAR (dispneia, crepitação, ortopneia, DPN). Pode ser causada por IAM, cardiopatia hipertensiva, e doença valvar (ex: estenose de mitral, aumentando a pressão no AE e transmitindo para as veias pulmonares). IC Direita: decorre de insuficiência ventricular direita (IVD), causando CONGESTÃO SISTÊMICA (sangue “engarrafado” nas veias cavas) – cursa com turgência jugular, hepatomegalia, ascite, edema MMII). Pode ser causada por COR PULMONALE (aumento da pressão das artérias pulmonares por DPOC, obesidade, TEP), infarto de VD e miocardiopatias. – 2 IC Biventricular: Cursa com os dois tipos de congestão (pulmonar e sistêmica). A maioria das cardiopatias de causam IVE posteriormente evoluem para IVD. Assim, a principal causa de IVD é a própria IVE!!! ➔ Tipos de IC quanto ao mecanismo fisiopatológico IC Sistólica: representa 50-60% dos casos. É consequência da dificuldade CONTRÁTIL MIOCÁRDICA, causando, na maioria das vezes, DILATAÇÃO VENTRICULAR (todos os segmentos contraem, menos um → fica abaulado). O principal marco laboratorial dessa disfunção é a DIMINUIÇÃO DA FRAÇÃO DE EJEÇÃO (<50%) – duas principais consequências desse evento: BAIXO DÉBITO CARDÍACO e AUMENTO DO VOLUME DE ENCHIMENTO (quando vai ocorrer a diástole, o coração ainda está cheio de sangue que não foi ejetado na sístole, então o volume fica maior ainda). Esse grande volume de enchimento consequentemente causa AUMENTO DA PRESSÃO DE ENCHIMENTO VENTRICULAR, o que será transmitido para as estruturas antes do ventrículo: átrio e sistema venocapilar. IC Diastólica: representa 40-50% dos casos. A FE está PRESERVADA, porém existe RESTRIÇÃO PATOLÓGICA ao enchimento diastólico, o que aumenta a PRESSÃO DE ENCHIMENTO e, consequentemente, a pressão venocapilar. Essa restrição patológica pode ser por ALTERAÇÃO DO RELAXAMENTO ou REDUÇÃO DA COMPLACÊNCIA – na maioria das vezes, acontece HIPERTROFIA CONCÊNTRICA que reduz o tamanho da cavidade. ➔ Tipos de IC quanto ao débito cardíaco IC de Baixo Débito: MAIORIA DOS CASOS, visto que é decorrente de uma FE diminuída (causa hipoperfusão tecidual). No início da IC, pode ser que o DC se mantenha estável em situações de REPOUSO, sendo o paciente sintomático somente durante o ESFORÇO FÍSICO. Em fases avançadas, o DC estará baixo até mesmo em repouso, causando limitação importante ao paciente. Todas as cardiopatias promover a ICC por meio de um BAIXO DÉBITO! IC de Alto Débito: ocorre em situações onde a DEMANDA METABÓLICA é exacerbada ou quando há DESVIO DE SANGUE ARTERIAL→VENOSO por meio de fístulas. Nesses casos, apesar do débito estar adequado, ele está ABAIXO do que se necessita diante da DEMANADA cardíaca exigida. ➔ Mecanismos Compensatórios 1) Lei de Frank-Starling Essa lei postula que quanto maior o VDF, mais os cardiomiócitos estão distendidos, consequentemente maior o “potencial contrátil” das células, assim, MAIOR O DÉBITO SISTÓLICO (conseq. FE). Na IC sistólica, a dilatação ventricular se instala progressivamente (aumentando o VDF) por dois motivos: ESVAZIAMENTO INCOMPLETO DO VENTRÍCULO e HIPERVOLEMIA POR RETENÇÃO HIDROSSALINA (decorrente da ativação do SRAA). É importante destacar que a lei de Frank-Starling não aumenta a capacidade contrátil dos cardiomiócitos ad eternum... existe um limite – 3 para esse aumento, a partir do qual haverá AUMENTO PRESSÃO ENCHIMENTO + DIMINUIÇÃO DÉBITO SISTÓLICO. Esses dois efeitos causarão retenção volêmica exagerada característica da ICC. 2) Contratilidade dos Miócitos Remanescentes O baixo DC estimula os barorreceptores arteriais, determinando um tônus SIMPÁTICO pela liberação de NORADRENALINA e ADRENALINA – agem nos receptores beta-1 e alfa-1. Essas catecolaminas determinam um INOTROPISMO extra dos cardiomiócitos ainda não lesados. 3) Frequência Cardíaca O mesmo estímulo para o inotropismo positivo ocorre para um CRONOTROPISMO, uma vez que já que o DC diminuiu e não se pode alterar o DS, altera-se a FC! 4) Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE) É o principal mecanismo compensatório frente ao aumento de PRESSÃO e/ou VOLUME ventricular. Essa hipertrofia AUMENTA a quantidade de sarcômeros e a capacidade contrátil total, melhorando a performance cardíaca, apesar disso, a HVE traz sérios problemas, como arritmias e risco de eventos cardiovasculares diversos. O principal indutor da hipertrofia é a ANGIOTENSINA II! Na sobrecarga por PRESSÃO (estenose aórtica, HAS), ocorre uma HIPERTROFIA CONCÊNTRICA sem o aumento da cavidade ventricular. Na sobrecarga por VOLUME (regurgitação valvar), há HIPERTROFIA EXCÊNTRICA com aumento da cavidade ventricular. 5) Remodelamento Cardíaco Queda do DC → Barorreceptores periféricos → Tônus adrenérgico → Estímulo da liberação RENINA (também por hipoperfusão renal) → Angiotensina e Aldosterona → Noradrenalina → ... ➢ Noradrenalina: age nos receptores beta-1 e beta-2, tornando os cardiomiócitos ALONGADOS e HIPOFUNCIONANTES – pode evoluir com apoptose. Como mecanismo compensatório, há diminuição desses receptores BETA-ADRENÉRGICOS na IC avançada. ➢ Angiotensina II: age nos receptores AT1, causando APOPTOSE MIÓCITOS, LIBERAÇÃO DE NORA e LIBERAÇÃO DE MAIS ANGIOTENSINA. ➢ Aldosterona: causa hiperproliferação de fibroblastos. O remodelamento cardíaco é a junção da DEGENERAÇÃO E FIBROSE INTERSTICIAL + ALTERAÇÃO FORMA E FUNÇÃO DO MIÓCITO. 6) Pós-carga cardíaca É a dificuldade imposta para o esvaziamento cardíaco durante a sístose, interferindo, portanto, no DÉBITO CARDÍACO (quanto maior a pos-carga, mais difícil esvaziar, menos sangue sai, menor DC). Sendo assim, pós carga é tudo queestá depois do ventrículo: TÔNUS ARTERIOLAR PERIFÉRICO, ESTENOSA VALVA AÓRTICA, CALCIFICAÇÃO AÓRTICA. Outro fator importante da pós carga diz respeito a interação de três variáveis: DIÂMETRO CAVITÁRIO (2R), PRESSÃO CAVITÁRIA (P) e ESPESSURA DA PAREDE VENTRICULAR (H)! Essas variáveis fazem parte da lei de LAPLACE = E = P x R/h. Traduzindo para o português: quanto maior o raio e menor a espessura da parede, maior a força necessária para ejetar o sangue, ou seja, MAIOR A PÓS CARGA!! – 4 • Manifestações Clínicas O paciente com IC pode ser assintomático por muito tempo devido aos mecanismos COMPENSATÓRIOS descritos, que são responsáveis por manter DC normal principalmente no repouso. Após algum tempo, o avançar da doença mostra alguns sinais e sintomas: 1) Síndrome Congestiva Pulmonar Na maioria dos casos, a IC inicia com o a IVE isolada, que terá como consequência os PULMÕES CONGESTOS, ricos em líquido intralveolar. O sintoma clássico é a DISPNEIA AOS ESFORÇOS – alguns pacientes se queixam de dispneia ao decúbito dorsal = ORTOPNEIA, sendo comum necessitar de mais de um travesseiro para dormir. Pode acontecer de o paciente ser acordado no meio da madrugada com crise de dispneia, sendo denominada DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA (DPN). Outro sintoma pode ser a TOSSE SECA pela congestão da mucosa brônquica, que pode levar a um quadro semelhante ao broncoespasmo = ASMA CARDÍACA. 2) Edema Agudo de Pulmão (EAP) É o extremo da congestão pulmonar, sendo os sintomas aqui muito mais pronunciados: o paciente encontra-se em intensa crise de TAQUIDISPNEIA e ORTOPNEIA, associada a INSUFICIÊNCIA RESPIRATÔRIA (dessaturação) que pode demonstrar CIANOSE CENTRAL. Em alguns casos, o paciente pode expectorar um líquido róseo – proveniente do edema pulmonar. Ao exame físico, há ESTERTORAÇÃO PULMONAR na metade inferior do tórax! No RX tórax, há dilatação vascular nos ápices e infiltrado bilateral em asa de morcego! 3) Síndrome Congestiva Sistêmica Geralmente a IVE evolui com HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR, que irá refletir diretamente no VD, causando IVD + IVE. Nesses casos, aparecerá a SÍNDROME DE CONGESTÃO SISTÊMICA, que pode, inclusive, “melhorar” a congestão pulmonar, pois agora o sangue nem mesmo no pulmão consegue chegar direito. Os sintomas são: ➢ Edema MMII, bolsa escrotal ➢ Ascite ➢ Dispneia por derrame pleural ➢ Hepatomegalia congestiva → dor em hipocôndrio direito ➢ Congestão da mucosa intestinal → saciedade precoce, dor abdominal, diarreia, náuseas. 4) Síndrome de baixo débito Mais comum na IC sistólica, sendo, inicialmente, percebida nos esforços e, com a evolução da doença, percebida no repouso. Costuma cursar com uma síndrome inespecífica: fadiga muscular, indisposição, lipotimia, mialgia. 5) Emagrecimento e Caquexia Cardíaca O paciente com IC tende a perder massa muscular pelo desbalanço entre OFERTA e DEMANDA ENERGÉTICA no metabolismo proteico muscular. Além disso, pode haver diminuição da absorção intestinal de nutrientes. Visivelmente, pode ser que os pacientes não demonstrem perda de peso pelo ACUMULA DE LÍQUIDO! 6) Choque Cardiogênico – 5 É o EXTREMO da IC, sendo definido clinicamente como HIPOPERFUSÃO ORGÂNICA GENERALIZADA associada a hipotensão grave (PAs<80) que NÃO RESPONDE A REPOSIÇÃO VOLÊMICA. • Exame Físico É fundamental para o diagnóstico precoce de ICC – deve-se sempre pesquisar por B3 e AUMENTO DA PRESSÃO VENOSA JUGULAR, pois são sinais importantes para o prognóstico. O sinal mais fidedigno para detectar a retenção de volume é a TURGÊNCIA DE JUGULAR. 1) Pulso Arterial Costuma estar inalterado no início da doença, mas, em fases avançadas, pode ter BAIXA AMPLITUDE por conta do baixo DC – PULSO ALTERNANS é quando se sente a alternância de pulsos fortes e fracos, sendo uma consequência da necessidade de recuperação das fibras cardíacas após uma contração forte. Há o fenômeno extremo do PULSO TOTAL ALTERNANS em que só se sente os pulsos fortes, pois os fracos são muito fracos. 2) Pulso Venoso e Turgência Jugular A turgência jugular patológica a 45° é um sinal FIDEDIGNO e PRECOCE de IVD!!! Podem ocorrer alterações nas ondas do pulso venoso, tais como aumento da onda A (elevada pressão de enchimento do VD), onda V gigante (insuficiência tricúspide por dilatação VD). No diagnóstico de congestão sistêmica, uma manobra importante é a pesquisa pelo REFLEXO HEPATOJUGULAR – realiza-se pressão sobre o quadrante superior direito do abdome observando se há aumento >1cm da ALTURA DO PULSO JUGULAR. 3) Precórdio Na cardiopatia DILATADA, o ictus do VE está DIFUSO (mais de 2 polpas digitais) e FRACO, geralmente desviado para a ESQUERDA e para BAIXO. Na cardiopatia HIPERTRÓFICA, o ictus de VE costuma estar localizado em posição normal, mas pode ter um PICO SISTÓLICO FORTE E DURADOURO. Na cardiopatia RESTRITIVA não costuma haver alteração do ictus. 4) Ausculta Cardíaca B1: hipofonética por hipocontratilidade do VE B2: hiperfonética por hipertensão arterial pulmonar B3: a bulha acessória da IC – é resultante do impacto do sangue na coluna de sangue deixada após a sístole (traduz disfunção sistólica). B4: mais comum na doença isquêmica e na cardiopatia hipertensiva. Pode ser audível um SOPRO SISTÓLICO no foco tricúspide que aumenta durante a INSPIRAÇÃO PROFUNDA (Manobra de Rivero-Carvalho)→ INSUFICIÊNCIA TRICÚSPIDE SECUNDÁRIA a dilatação de VD. 5) Exame do Aparelho Respiratório Pode haver estertoração pulmonar na metade inferior do tórax, principalmente a direita na IVE com congestão. Em casos de ASMA CARDÍACA, podem ser encontrados SIBILOS. O derrame pleural é frequente na IVE e na IC biventricular – geralmente o derrame é do lado DIREITO ou BILATERAL. – 6 6) Anasarca Nas fases avançadas, o paciente apresenta edema generalizado com predomínio nas áreas dependentes de gravidade. O edema crônico dos MMII leva a ALTERAÇÕES NA PELE E FÂNEROS, como HIPERPIGMENTAÇÃO, PERDA DE PELOS e ICTIOSE. Não é comum o edema peripalpebral!!! 7) Hepatopatia Congestiva A hepatomegalia é frequentemente dolorosa devido a distensão da capsula fibrosa. Casos muito agudos descompensados de IVD podem levar a congestão hepática grave manifestada por HEPATITE AGUDA: icterícia, hiperbilirrubinemia, aumento transaminases. 8) Respiração Cheyne-Stokes Padrão respiratório alternante entre apneia e hiperpneia que costuma ocorrer em 30% dos pacientes com IC – geralmente durante o sono. • Etiologia Partindo da divisão entre IC SISTÓLICA e DIASTÓLICA, embora as etiologias sejam diferentes para os dois tipos, existem pontos de concordância. IC Sistólica geralmente está associada a CARDIOPATIA DILATADA, podendo ter várias causas – predomínio da HAS e DOENÇA ISQUÊMICA. Essa cardiopatia dilatada citada está em um contexo de ser secundária a algo (HAS e doença isquêmica), porém existem condições em que o paciente é CARDIOPATA DILATADO PRIMARIAMENTE, principalmente naqueles com dilatação ventricular SEM HISTÓRICO DE HAS, VALVOPATIA ou CORONARIOPATIA. Para esses pacientes, os principais diagnósticos são: ➢ Cardiomiopatia dilatada idiopática ➢ Cardiomiopatia alcoólica ➢ Cardiomiopatia Chagásica As doenças valvares também podem sobrecarregar o VE, sendo um diagnóstico importante de ser lembrado, visto que estamos em um país endêmico para FEBRE REUMÁTICA. Dentre as valvopatias que sobrecarregam o VE, estão: ➢ Insuficiência Mitral ➢ Estenose Aórtica ➢ Insuficiência Aórtia Importante: a estenose mitral POUPA o VE, porém, a longo prazo, faz HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR que pode evoluir para IVD!!! Na IC diastólica, causas importantes são HAS e FIBROSE (pós IAM), que irão restringir o enchimento ventricular – o envelhecimento também é um fator. Nas doenças primárias, a MIOCARDIOPATIA HIPERTRÓFICA é muito importante, bem como DESORDENS INFILTRATIVAS (amiloidose, sarcoidose) e a HEMOCROMATOSE. – 7 Na IC AGUDA, a principal causa é IAM!!! • Diagnóstico1) Confirmação do Diagnóstico Geralmente, a anamnese e ao exame físico já SUGEREM o diagnóstico de IC, podendo utilizar os CRITÉRIOS DE FRAMINGHAM para diagnóstico. Alguns exames inespecíficos sugerem a doença: RX Tórax: a presença de CARDIOMEGALIA (ICT>50%) é um achado comum na cardiopatia dilatada, sendo um critério major de Framinghan!! Alguns sinais indicam o ventrículo aumentado, como: coração “mergulha” no diafragma (aumento de VE); quando a ponta do coração se ELEVA (aspecto em BOTA – aumento de VD). Sinais radiológicos de congestão pulmonar: INVERSÃO DO PADRÃO VASCULAR (veias mais proeminentes nos ápices que nas bases – o edema da base comprime as veias); LINHAS B DE KERLEY paralelas ao diafragma visualizadas nas laterais dos hemitórax inferiores – representam o ingurgitamento LINFÁTICO; infiltrados intersticiais em asa de morcego/borboleta; DERRAME PLEURAL geralmente pior à direita (pela drenagem). ECG: as alterações costumam ser INESPECÍFICAS e dependem de qual a cardiopatia subjacentes, porém um ECG NORMAL tem valor preditivo negativo de 90% para EXCLUIR DISFUNÇÃO SISTÓLICA, tornando o diagnóstico de IC improvável!! Qualquer cardiopatia pode alterar o ECG com sinais de sobrecarga de VE, VD, átrios, bloqueios de ramo. – 8 Ecocardiograma-Doppler: é o método mais útil para confirmação diagnóstica, AVALIAÇÃO DA ETIOLOGIA, PERFIL HEMOSINÂMICO e PROGNÓSTICO! O eco consegue dividir a IC em sistólica e diastólica, sendo a FRAÇÃO DE EJEÇÃO o grande dado: <50% = disfunção sistólica. Outros dados também são SUGESTIVOSN de IC, como diâmetro sistólico final > 3.7cm, diâmetro diastólico final > 5.7cm (dilatação). O uso do DOPPLER permite avaliar, principalmente, a função DIASTÓLICA e VALVAR. Peptídeo Natriurético Cerebral (BNP): essencial para diferenciar a causa de uma dispneia em um paciente que se cogite a possibilidade de ser PNEUMOPATIA ou CARDIOPATIA (IC). O BNP é produzido pelo miocárdio dos ventrículos em resposta ao ESTIRAMENTO MIOCÁRDICO, principalmente quando há aumento da pressão ventricular! O estudo Breathing Not Properly determinou que um valor >100pg/mL apresenta especificidade, sensibilidade e acurácia satisfatórios para diagnóstico de IC! Níveis abaixo de 100pg/mL e, principalmente, de 50pg/mL tornam o diagnóstico de IC quase improvável. Cineangiocoronariografia: Em indivíduos com quadro clínico de ANGINA e DISFUNÇÃO VENTRICULAR SISTÓLICA é indicada! SPECT e PET: o SPECT pode contribuir ao avaliar a perfusão miocárdica e função ventricular. RM cardíaca: excelente reprodutibilidade para a avaliação do VOLUME, MASSA E FUNÇÃO DO VE e do VD. • Prognóstico Classe funcional de NYHA classifica o grau de COMPROMETIMENTO DAS ATIVIDADES DIÁRIAS do paciente, podendo ser avaliada pela ANAMNESE ou pelo TESTE ERGOMÉTRICO. Mortalidade de cada grupo: ➢ I e II – 2-5% ➢ II e III – 5-15% ➢ III e IV – 15-25% ➢ IV refratária - >25% A classificação EVOLUTIVA segue as recomendações da AHA/ACC que divide a ICC em 4 estágios: A FRAÇÃO DE EJEÇÃO também determina o prognóstico do pacientes! Naqueles que possuem uma janela USG difícil, pode-se realizar cintilografia sincronizada ao ECG, a RNM cardíaca. Na IC sistólica, geralmente há disfunção DIASTÓLICA associada – nesses casos, HÁ MAIOR MORBIMORTALIDADE! – 9 Quanto mais grave a IC, pior o DC, sendo maior a RESPOSTA NEURO-HUMORAL com NORADRENALINA, ADH, ENDOTELINA-1 e BNP. O aumento do ADH promove retenção de água livre (hiponatremia dilucional) – quanto maior essa hiponatremia, maior a quantidade de ADH e maior a IC. • Tratamento 1) Medidas Gerais Dieta – Fundamental que o paciente com ICC restrinja a ingestão de sal para a menor retenção hídrica, no entanto, o extremo oposto – consumo muito baixo de sal – em pacientes em uso de diuréticos, pode causar uma redução volêmica que prejudique o DC!! A restrição HÍDRICA está indicada apenas em pacientes com hiponatremia dilucional. Suplementos calóricos são recomendados para os pacientes com caquexia cardíaca. Repouso – pacientes muito sintomáticos, NYHA III e IV, devem ficar o máximo possível de repouso para diminuir a DEMANDA METABÓLICA e facilitar o TRABALHO CARDÍACO. 2) Controle dos fatores descompensatórios Vacinação em dia é importante pois IVAS são importantes fatores de descompensação do portador de IC. Tabagismo aumenta o RISCO DE DOENÇA CORONARIANA e INFECÇÕES PULMONARES. AINES promovem retenção hidrossalina e elevação da PA, além de efeitos pró-trombóticos. Em viagens, fazer profilaxia para TVP independente da classe funcional. 3) Tratamento da IC sistólica – Drogas que aumentam a sobrevida O estudo do fenômeno de REMODELAMENTO CARDÍACO permitiu entender como certos medicamentos poderiam altera-la, sendo 5 CLASSES de drogas que podem aumentar a sobrevida na IC SISTÓLICA por inibir os efeitos deletérios da modulação neuro-humoral: ➢ IECA ➢ Beta bloqueadores ➢ Antagonistas aldosterona ➢ Hidralazina + nitrato ➢ Antagonistas dos receptores AT1 da angiotensina II IECA Diversos estudos tem mostrado que pacientes com formas graves de IC têm aumento da sobrevida com o uso dos IECAs, uma vez que REDUZEM A PROGRESSÃO DA CARDIOPATIA e da DISFUNÇÃO VENTRICULAR. Em geral, o tratamento é iniciado com doses reduzidas, sendo aumentada a cada duas semanas – observando os níveis de K e creatinina. INDICADO PARA TODA IC SISTÓLICA (sintomática ou não) Ex: Captopril 50mg 3x dia; Enalapril 10mg 2x/dia; Ramipril 10mg/dia Mecanismo de ação IECA: inibem a formação de ANGIOTENSINA II e causam ARTERIOLODILATAÇÃO (reduz pós carga), VENODILATAÇÃO (reduz pré-carga) e REDUÇÃO DOS EFEITOS DIRETOS AG2 NO MIOCÁRDIO. Há o aumento de bradicinina (vasodilatação) e acúmulo de prostaglandinas (vasodilatação). Principal efeito colateral é a TOSSE SECA em 5% dos casos, é uma tosse dependente do aumento da bradicinina. Betabloqueadores – 10 Inicialmente, eram drogas proscritas pelo efeito cronotrópico negativo, porém, atualmente, a AÇÃO BETA das catecolaminas causa um efeito compensatório na IC aumentando a contratilidade dos miócitos viáveis e a frequência de contração. Os estudos mostram que os BBs reduzem a mortalidade e a incidência de morte súbita e reinfarto nos pacientes com IVE. São três os betabloqueadores que, se administrados com cautela, podem ser bem tolerados e benéficos para a IC sistólica: CARVEDILOL, BISOPROLOL e METOPROLOL – cerca de 30% dos pacientes descompensam com essas drogas. Por isso, importante inciiar com DOSE MÍNIMA, aumentando paulatinamente até a dose plena. O benefício no paciente com IC é limitado a essas TRÊS DROGAS!! Carvedilol 25-50mg 2x/dia; Metoprolol 200mg/dia; Bisoprolol 10mg/dia. Em pacientes com PAs<85mmHg ou com sinais de HIPOPERFUSÃO PERIFÉRICA deve-se tentar reduzir a posologia dos BB em 50% e reavaliar! Mecanismo de ação: bloqueio da ação tóxica da noradrenalina sobre os miócitos, além de REDUÇÃO DA LIBERAÇÃO DE NORADRENALINA. Efeitos adicionais: redução do consumo miocárdico de oxigênio e da FC, facilitando os eventos diastólicos. Antagonistas da Aldosterona (Espironolactona e Eplerenona) A EPLERENONA é um antagonista específico do TÚBULO RENAL (menos efeitos colaterais que a espironolactona) que apresenta benefícios em pacientes com IC LEVE-MODERADA. Mecanismo de ação: inibem o efeito da aldosterona no miocárdio, reduzindo a DEGENERAÇAÕ DE FIBRAS, APOPTOSE e FIBROSE INTERSTICIAL → REMODELAMENTO. Indicação: IC sistólica NYHA II a IV Contraindicação: K >5,5 mEq/L Hidralazina + Nitrato Um estudo importante concluiu que os negros tem maior benefício de SOBREVIDA com a associação hidralazina + nitrato do que usando ENALAPRIL! Um segundo estudo avaliou a combinação terapêutica HIDRALAZINA + NITRATO + TERAPIA IC OTIMIZADA (IECA + BB + espironolactona), sendo AINDA MAIOR a diminuição de mortalidade. Dose-alvo hidralazina: 75mg Dose-alvo dinitrato de issosorbida: 40mg 3x/dia Mecanismo de Ação: Hidralazinaé ATERIOLODILATADOR (diminui pós- carga), que tem como efeitos colaterais importantes a cefaleia, vertigem, lúpus farmacoinduzido). O dinitrato de isossorbida é um importante VENODILATADOR (diminui pré-carga). Antagonistas AT1 da AG2 Ao longo do tempo, alguns pacientes que fazem uso de IECA apresentam um “escape” no SRAA para produzir ANGIOTENSINA 2 independentemente da ECA!! Os antagonistas direto do receptor AT1 não possuirão esse inconveniente – eles só não são utilizados de primeira linha pois os IECAs possuem benefícios adicionais para além a diminuição de AG2 (produzem bradicinina e PG). Na prática, os antagonistas de AG2 são recomendados no tratamento da IC com FE REDUZIDA para aqueles pacientes que NÃO SUPORTARAM TRATAMENTO COM IECA. – 11 Mecanismo de Ação: essas drogas agem inibindo a ação da angiotensina II sobre os receptores AT1. Estes estão presentes na musculatura lisa vascular (daí o efeito vasodilatador), na suprarrenal (daí a redução dos níveis de aldosterona) e no miocárdio. Ivabradina É o representante de uma nova classe de medicamentos, os INIBIDORES ESPECÍFICOS DA CORRENTE IF, que é a corrente que faz a despolarização automática do nódulo sinoatrial – reduz a FREQUÊNCIA CARDÍACA! Ivabradina 7,5mg VO 12/12h 4) Terapia Medicamentosa Sintomática Apesar de não aumentarem a sobrevida dos pacientes, são importantes para COMPENSAR aqueles em descompensação (geralmente classe III ou IV sempre usam). Os medicamentos são DIURÉTICOS DE ALÇA, TIAZÍDICOS, DIGITÁLICOS, AMINAS INOTRÓPICAS e INIBIDORES DA FOSFODIESTEREASE. Em um paciente com ICC, não existem medicamento melhor do que a FUROSEMIDA EV! Diuréticos de Alça e Tiazídicos Tem como principal função minimizar os sinais e sintomas da CONGESTÃO E DO EDEMA, sendo úteis em IC sistólica e diastólica. Agem aumentando a excreção de SÓDIO e ÁGUA, além de reduzir a VOLEMIA – importante para diminuir a sobrecarga ventricular. Vale destacar que a hipovolemia traz prejuízo ao paciente que usa doses muito elevadas, pelo risco de hipoperfusão (Lei de frank Starling). Diante disso, a dose ótima de cada paciente precisa ser tateada! A administração EV é valiosa, visto que os diuréticos possuem absorção oral prejudicada pela CONGESTÃO INTESTINAL!!! A dose de FUROSEMIDA EV com efeito máximo diurético em um pct SEM DISFUNÇÃO RENAL é de 120mg (se for VO, adm o dobro – 240mg)! Os tiazídicos são diuréticos MENOS POTENTES que a furosemida, pois aumentam a excreção de sódio em cerca de 5-10% (furosemida aumenta 20-25%), além de serem menos eficazes na INSUFICIÊNCIA RENAL. Efeitos adversos: hipovolemia, hipocalemia, hipomagnesemia, hiperglicemia, hiperlipidemia... distúrbios hidroeletrolíticos – monitorização de eletrólitos nas primeiras 3 semanas. Digitálicos Possuem 3 efeitos cardíacos: Inotrópico positivo – inibe a bomba de sódio e potássio, sendo o transporte de CÁLCIO acoplado ao de sódio! Quando há inibição do transporte de sódio, há acumulo desse no meio intracelular, aumentando a troca por CÁLCIO – participa da contração muscular! Ação Colinérgica – aumenta o tônus vagal e reduz o AUTOMATISMO SINUSAL + velocidade de condução do estímulo para o nodo AV. Ação Arritmogênica – acúmulo de cálcio intracelular pode elucidar extrassístoles ou taquiarritmias autimáticas! Estudos mostram que pacientes que utilizavam IECA +BB + DIURÉTICO + DIGITÁLICO tiveram DESCOMPENSAÇÃO com a suspensão do digitálico! São drogas de segunda linha na IC sistólica, importantes para garantir o alívio sintomático de alguns pacientes e mantê-los no estado compensado. – 12 São contraindicados na IC DIASTÓLICA PURA! Digoxina 0,125-0,375mg VO/dia – se idoso, IR e baixo peso, usar 0,125mg em dias alternados A digoxina apresenta um ÍNDICE TERAPÊUTICO muito pequeno, devendo ser utilizada com cuidado – avaliação contínua dos níveis sérios, que devem estar entre 0,5-0,9ng/mL. A maior parte da droga sofre ELIMINAÇÃO RENAL. Para o efeito da droga, é preciso que haja, incialmente, uma IMPREGNAÇÃO PELA DROGA, que pode ser conseguida de duas formas: DOSE DE ATAQUE ou AGUARDAR 7 DIAS COM DOSE CONVENCIONAL. Intoxicação Digitálica Vômitos, náuseas e hiporexia Alterações visuais – escotomas coloridos, vertigem, insônia Arritmias cardícas, principalmente: bradiarritmias do tipo BAV, taquicardia atrial com bloqueio, taquicardia juncional não paroxística e TV. Tratamento da intoxicação: Suspender o digitálico + se bradiarritmia grave, atropina + se taquiarritmia ventricular, FENITOÍNA ou LIDOCAÍNA. Anticoagulação Pela estase sanguínea nas câmaras cardíacas, a anticoagulação é indicada apenas em situações específicas: A droga tradicionalmente utilizada é o WARFARIN (ant. vitamina K). Se coronariopatia concomitante, usar AAS (75-100mg)
Compartilhar