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Antes de qualquer coisa: não é uma infecção apenas de valvas. • Pode acontecer nos folhetos cardíacos; • Parede do miocárdio; • Nas cordoalhas; • Associado ou não a dispositivos intracardíacos, como marca-passo e acesso central. O foco está sendo lá dentro do coração e causando uma infecção que precisa ser tratada; • É muito subdiagnósticado ainda hoje em dia. Classificações Por evolução Por tipo de valva Pelas câmaras cardíacas Aguda Natural Direita (UDEV – Usuários de Drogas Endovenosas, cateteres vasculares) Subaguda Protética Esquerda • Dentro os tipos de classificação, a evolução é a mais importante para lembrar. • Alta taxa de letalidade e de sequelas; • O aumento da mortalidade: a presença de DM e infecção por S. aureus; • Homens acima dos 50 anos são os mais acometidos; • Valva mitral é a mais acometida (28 a 45%). Aórtica (5-36%), aórtica e mitral juntas (35%), tricúspide (6%) e a pulmonar é rara; • Condições predisponentes: valvulopatias, próteses e cardiopatias congênitas; • Se estou falando de uma aguda, é uma infecção que aconteceu em pouco tempo e é agressiva. No máximo 6 semanas para dizer que é uma infecção aguda. Normalmente é causada pelo S. aureus (mais prevalente das endocardites agudas); • Quando o paciente chega e diz que começou a ter um quadro febril há duas semanas, faço um ECG, já tenho uma vegetação grande com abcesso e febre alta, se eu não tiver a identificação, preciso pensar que o S. aureus é o causador da infecção. • Se eu tenho uma agressividade muito grande, a chance do óbito é muito maior, assim como da ruptura de uma cordoalha, de abcessos perivalvares e outras complicações. • Nas subagudas a febre é mais baixa, porém, persistente. Além de uma manifestação clínica gradual, vai evoluindo aos poucos (por mais de 2 meses em alguns casos); • Em comum: todos são coccus gram positivos. Agente etiológico Agente Prevalência Cocos gram positivos: Strepto grupo viridans Mais frequente causador Gram negativos Raros Fungos (Candida se ocorrer) Raros Fastidiosos (crescimento muito lento) HACEK • Os microorganismos do grupo HACEK (Haemophilus spp, Actinobacillus actinomycetemcomitans, Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella kingae) são responsáveis por 3% dos casos de endocardites. Eles apresentam propriedades clínicas e microbiológicas semelhantes entre si: são bacilos gram-negativos, isolados mais facilmente em meios aeróbicos, suas culturas necessitam de tempo prolongado de incubação para crescimento (média 3,3 dias) e podem ser considerados como parte da flora normal do trato respiratório superior e da orofaringe. Algumas características foram identificadas nas endocardites por esses agentes, como o quadro clínico insidioso, diagnóstico difícil pela natureza fastidiosa e culturas negativas • Difícil fazer o diagnóstico das HACEKs > difícil crescimento em meios de cultura; IMPORTANTE: relação entre os principais causadores com suas características marcantes de aparecimento. • Staphylococcus coagulase negativos são mais presentes na pele e não produzem a coagulase: hominis, epidermidis e saprofiticus > ao passar o acesso, a chance da bactéria entrar pela incisão é muito grande. • S. aureus é muito mais agressivo e causador de infecção; • S. viridans é o principal causador de endocardite > principalmente dos pacientes que fizeram tratamento dental ou com uma higiene dental precária. • S. bovis > provavelmente se eu tenho um idoso com endocardite e bovis, tenho uma neoplasia gastrintestinal. Quer dizer que se eu tiver uma cultura positiva nesse caso, obrigatoriamente preciso investigar o intestino. • Valva nativa: lembrar que essas bactérias causam mais a endocardite subaguda, que é mais demorada; • Hospitalar: se há infecção, está relacionada provavelmente com duas coisas: acessos com cateteres (S. aureus). Enterococcus: normalmente está constipado e faz íleo metabólico > faz translocação bacteriana com a corrente sanguínea, favorecendo a infecção por enterococo. Na urina também pode ocorrer a infecção por enterococo, já que o paciente pode estar com lesão ou sonda vesical > facilita cair na corrente sanguínea. • Arranhadura de cães e gatos: pode haver infecção por Bartonella sp ou Pasteurella sp. Mecanismo de lesão • Devido ao turbilhonamento sanguíneo, pode ocorrer lesão no endotélio valvar, levando à deposição de plaquetas e fibrinas > podendo fazer a endocardite trombótica não infeccioso. Contudo, posso ter uma membrana mucosa com trauma (como um paciente que vai ao dentista, lesiona a mucosa gengival e o sangue cai na corrente sanguínea com uma grande quantidade de Streptococcus). Quando ele circular (o sangue e o agente infecioso), vai encontrar o trombo inflamado (já que ele tem plaquetas que participam do processo inflamatório) > se tem inflamação, tem bastante vascularização e a bactéria faz uma aderência maior > faz uma colonização > quando tiver uma grande quantidade, vai formar uma vegetação e levar à endocardite. • Local mais comum: linha de fechamento de uma valva (superfície atrial das valvas atrioventriculares, por exemplo); • O paciente precisa ter uma pré-disposição e é necessário um trauma que leva esse agente infeccioso até o trombo. Quadro clínico • Febre; • Sopro cardíaco; • Calafrios; • Sudorese; • Anorexia; • Perda de peso. • Na subaguda a perda de peso e a anorexia são mais parecidas com as que ocorrem em uma síndrome consumptiva (como uma neoplasia). É um processo crônico, associado a febre. • Esplenomegalia: relacionado com a resposta imunológica; • Embolia: pode acontecer devido às lesões da valva, o turbilhonamento e o trombo que pode se soltar e embolizar para o corpo; o Câmara direita: segue para os pulmões; o Câmara esquerda: SNC e extremidades. Pode fazer aneurisma micótico e causar problemas na coluna. Fenômenos periféricos • Muitas vezes são o primeiro sinal de endocardite. Como a lesão está na valva, começa a embolizar (com a bactéria = bacteremia), o corpo começa a produzir uma resposta inflamatória. Temos então dois tipos de fenômenos periféricos: o Hemorrágicos: ▪ 40% dos pacientes apresentam petéquias > mais frequente nas extremidades > tirar a roupa do paciente, olhar planta de pé, palmas das mãos, pernas, braços. ▪ Checar sempre as conjuntivas: pensar nas hemorragias conjuntivais, que ficam sempre na parte interna. ▪ Hemorragias em lasca: são bem pequenas e difíceis de serem vistas, mas, acontecem embaixo das unhas. ▪ Hemorragias subungueais (de Splinter): lesões lineares sobre as unhas. ▪ Lesões de Janeway: por um fenômeno hemorrágico à distância, em que o paciente não apresentará dor e apresentará lesões maculares (somem e voltam com a compressão). o Imunológicos: ▪ Hemorragia retiniana (roth spots) > pela deposição de imunocomplexos (secundária a uma resposta inflamatória importante); ▪ Nódulos de Osler: são dolorosos e inflamatórios > são parecidas com a lesão de Janeway, porém, nesse caso, ao passar a mão, há uma elevação e o paciente reclama de dor > devido à inflamação. ▪ Artrite ou artralgia associada; ▪ Glomerulonefrite. • As vezes, o que vamos achar primeiro é uma lesão dolorosa na ponta dos dedos, petéquias. Fator reumatoide positivo com uma artrite ou artralgia, ou qualquer outra coisa que não esteja no coração. • Embolização: o Aneurisma micótico (lembrar que mesmo o nome sendo “micótico”, não tem relação com fungo): ▪ Implantação a distância de bactérias nos vasos > já que houve uma embolização > segue para regiões onde tem inflamação, principalmente, causando infecções a distância dentro do vaso sanguíneo (estrutura sacular). A presença das bactérias também pode estenosar um vaso. No SNC pode causar um AVE (secundário a um aneurisma micótico. Alterações clínicas Espondilodiscite: pode ser secundária a embolização de endocardite.As vezes o paciente já tem uma alteração em coluna, como uma hérnia de disco ou alteração de platô, fazendo com que aquela região da coluna permaneça inflamada > a bactéria na circulação encontra essa região rica em vasos e se deposita > causa destruição óssea nessa região. Se tiver esse tipo de alteração, pode ser indicativo de uma endocardite bacteriana. Diagnóstico Coleta de hemoculturas: dependemos de identificar qual a bactéria está causando para não manter o antibiótico empírico por muito tempo > o que poderia levar a uma infecção mais grave (crescer, principalmente nos tremores antes das febres > disseminação de bactér ias e é o melhor momento, mas, pode ser em outro momento qualquer). Além disso, o tratamento para endocardite é longo, de cerca de 4 semanas, e manter um antibiótico empírico pode levar a muitos efeitos colaterais: • Fazer a hemocultura antes de iniciar o ATB; • Preciso ter 3 pares: uma aeróbio e uma anaeróbia, 3x vezes esse processo, para conseguir ter uma sensibilidade maior do diagnóstico da endocardite infecciosa bacteriana. Ecocardiograma: é o outro pilar para o diagnóstico (o primeiro é a hemocultura): • Transtorácico: sensibilidade de 65% (não é mais alta porque o paciente obeso, a válvula é posterior no coração, quando passo o eco na região frontal não consigo identificar com tanta precisão); • Transesofágico: sensibilidade de 95% (maior proximidade). Critérios de Duke 2 maiores e 5 menores, para dar o diagnóstico clínico. Vantagem: padronização de diagnóstico, já que é difícil diagnosticar. • Critérios maiores: • Foco primário: sinusites, abscessos dentários. • Critérios menores: Critérios de Duke modificados IMPORTANTE: os critérios clínicos são os mais importantes para o diagnóstico da endocardite. A coleta de hemocultura precisa ser de locais diferentes e positiva em duas hemoculturas. Tratamento Empírico IMPORTANTE: melhores antibióticos para matar bactéria em valvas são os beta-lactâmicos (oxacilina, penicilina, ampicilina). Valva é pouco vascularizada, por isso o tempo de tratamento é tão grande. Esses antibióticos são mais eficientes que a vancomicina, caso ambos sejam sensíveis para a bactéria. Gentamicina entra para potencializar o beta lactâmico, não consegue atuar sozinha sobre a bactéria. Se eu não sei muito bem quem causou a embolização, melhor associar oxacilina (para Staphylo) + penicilina (para Strepto) + gentamicina. Na endocardite em prótese valvar com menos de um ano eu não posso errar, já que a bactéria pode ser meticilino resistente, então preciso introduzir a vancomicina (sozinha ela não penetra na valva, por isso associa-se gentamicina + rifampicina). Direcionado Indicação cirúrgica Profilaxia Quem tem risco de desenvolver endocardite Quem precisa da profilaxia • Pacientes de alto risco: com procedimentos que envolvam manipulação de tecido gengival e região periodontal. Exemplos: o Extração dentária; o Drenagem de abcesso dentário; o Procedimentos da mucosa oral (limpeza inclusive). • Procedimentos urológicos, digestivos (endoscopia, por exemplo), não precisam mais de profilaxia. Como se faz a profilaxia • Amoxicilina: 2g dose única 1 hora antes do procedimento. Os pacientes que não puderem engolir, fazer ampicilina IM; • Se necessidade e medicação parenteral: ampicilina 2g IV/IM 1h antes do procedimento. • Pacientes alérgicos a beta-lactâmicos: fazer clindamicina 600 mg VO 1 hora antes do procedimento. Outras opções: o Claritromicina ou azitromicina: 500 mg VO 1h antes do procedimento; o Cefalexina 2 g VO 1h antes do procedimento. • Alergia à penicilina, com necessidade de medicação parenteral: o Cefazolina ou ceftriaxone 1 g IV/IM 30 minutos antes do procedimento; o Clindamicina 600 mg IV/IM 1h antes do procedimento. IMPORTANTE: não predispõem a endocardite: defeito de septo atrial, sopros cardíacos funcionais inocentes, prolapso de valva mitral sem sopro, pacientes com doença reumática sem dano valvar. Uma vez tendo marca-passo, aqui já preciso pensar na possibilidade de endocardite.
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