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Antropologia médica

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Antropologia médica, bioética e humanização 
Problema 1 
Acadêmica: Juliana Rabelo da Silva Sousa 
Referências: 
1. Conselho Federal de Medicina. Código de ética médica: resolução CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009. 
Conselho Federal de Medicina. Brasília, 2010. 
2. Nedy Maria Branco Cerqueira Neves. A medicina para além das normas: reflexões sobre o novo Código 
de Ética Médica. CFM. Brasília, 2010. 
Fechamento I 
 
Objetivo I: Compreender o conceito de ética e moral. 
 
Platão (428-348 a.C.) – Metafísica do bem 
 
 É o 1º grande filósofo grego a tematizar as principais questões éticas. 
 Em seus diálogos, chamados socráticos, supõe-se que Platão está ainda sob a influência direta de seu mestre 
Sócrates. Na maioria desses textos encontra-se uma discussão entre Sócrates e personagens da vida ateniense, 
alguns históricos, outros ficctícios, em torno de conceitos éticos como a amizade, a virtude, a coragem e o 
sentimento religioso. 
 Sócrates levanta as questões éticas fundamentais que a filosofia irá discutir, tais como o entendimento desses 
conceitos, os critérios para a sua aplicação em situações concretas, nossa coerência na aplicação dessas ideias 
e as razões e argumentos a que devemos apelar para justificá-las. 
 Se a ética depende de virtudes inerentes à natureza humana ou se essas podem ser adquiridas ou ensinadas, são 
alguns dos problemas cruciais encontrados nos diálogos socráticos. 
 Por outro lado, o estilo aporético ou inconclusivo dos diálogos, faz com que não encontremos neles uma 
solução definitiva para esses problemas ou definições. 
 Talvez a lição socrática esteja principalmente na importância do desenvolvimento de uma consciência moral, 
de uma atitude reflexiva e crítica que nos leve a adotar comportamentos mais éticos, e não na formulação de 
um saber sobre a ética e seus conceitos. 
 As grandes questões éticas abordadas nos diálogos, assim como em outros textos, receberão um tratamento 
mais teórico nos diálogos subsequentes, quando Platão começa a elaborar e desenvolver a sua metafísica, isto 
é, a assim chamada teoria das formas ou das ideias. 
 Na República, livros VI e VII, a forma do Bem (agathós) é caracterizada como a “suprema forma”, o princípio 
metafísico mais importante. Sendo de difícil definição, por sua própria natureza de princípio supremo, Platão 
dedica a trilogia dos mitos do Sol, da Linha Dividida e da Caverna a explicar, empregando uma linguagem 
figurada, a natureza do Bem. 
 Na conclusão da apresentação da Alegoria da Caverna, Platão diz através do discurso de Sócrates: 
“Nos últimos limites do mundo inteligível aparece-me a 
ideia (ou forma) do Bem, que se percebe com dificuldade, 
mas que não se pode ver sem se concluir que ela é causa de 
tudo que há de reto e de belo”. 
 O sábio é, portanto, aquele que, tendo atingido a visão ou o conhecimento do Bem pela via da dialética, isto é, 
da ascensão de sua alma até o plano mais elevado e mais abstrato do real, é capaz de agir de forma justa. Pois 
ao conhecer o Bem, conhece também a Verdade, a Justiça e a Beleza. É por este motivo que a concepção ética 
de Platão ficou conhecida como “metafísica do Bem”. A forma do Bem é o fundamento da ética. 
 Dois pontos fundamentais emergem da discussão platônica sobre questões éticas. O indivíduo que age de 
modo ético é aquele que é capaz de autocontrole, de “governar a si mesmo”. 
 Entretanto, a possibilidade de agir corretamente e de tomar decisões éticas depende de um conhecimento do 
Bem, que é obtido pelo indivíduo por meio de um longo e lento processo de amadurecimento espiritual, “a 
ascensão da alma”. 
 
Aristóteles 
 
 A filosofia de Aristóteles é de caráter mais sistemático e analítico, dividindo a experiência humana em três 
grandes áreas: o saber teórico (campo do conhecimento) o saber prático (campo da ação) e o saber criativo ou 
produtivo. 
 No sistema de Aristóteles, a ética, juntamente com a política, pertence ao domínio do saber prático, que pode 
ser contrastado ao saber teórico. 
 Enquanto no âmbito do saber teórico, que inclui a metafísica, a matemática e as ciências naturais, sobretudo a 
física, o objetivo é o conhecimento da realidade em suas leis e princípios mais gerais, no domínio do saber 
prático o intuito é estabelecer sob que condições podemos agir da melhor forma possível tendo em vista o 
nosso objetivo primordial que é a felicidade (eudaimonia), ou a realização pessoal. 
 Esse saber prático é por vezes também denominado prudencial, por ter como faculdade definidora a 
prudência, como em alguns casos se traduz o termo grego phronesis (razão prática, ou capacidade de 
discernimento). 
 No que consiste essa felicidade e como é possível ao ser humano alcançá-la são as questões centrais da Ética a 
Nicômaco. Para obter respostas, Aristóteles examina a natureza humana e suas características definidoras do 
ponto de vista ético: as virtudes. Grande parte da discussão do texto é dedicada, portanto, ao conceito de 
virtude moral (areté), ou excelência de caráter. 
 Aristóteles define seu objetivo como eminentemente prático e critica a concepção platônica de forma, ou ideia, 
do Bem, por seu sentido genérico, excessivamente abstrato e distante da experiência humana. 
 
Santo Agostinho (354-430) 
 
 Representa na tradição ocidental a primeira grande síntese entre a filosofia grega, em especial o platonismo, e 
o cristianismo. Marcou profundamente o desenvolvimento da filosofia na Idade Média e influenciou também o 
pensamento filosófico do início da modernidade (séc. XVII). 
 A ética de santo Agostinho resulta de uma releitura das principais teorias éticas de origem grega e romana. 
Mas é o platonismo, sobretudo, discutido à luz da doutrina cristã, que constitui o pano de fundo filosófico do 
seu pensamento. 
 As principais questões éticas que santo Agostinho discute são, portanto, herdadas da tradição grega e tratadas 
com base nos ensinamentos do cristianismo. O problema da natureza humana e do caráter inato da virtude, a 
origem do Mal, o conceito de felicidade, a liberdade e a possibilidade de agir de forma ética. A doutrina cristã 
fornece as chaves para a solução dessas questões: a origem da virtude na natureza humana criada por Deus, a 
queda e o pecado original como explicações das falhas humanas, a graça divina como possibilidade de 
redenção e alcance da felicidade na vida eterna, e o livre-arbítrio ou liberdade individual concedido ao ser 
humano por Deus, que torna os indivíduos responsáveis por seus atos. 
 Dentre as questões centrais da ética agostiniana, que marcam as principais doutrinas éticas na tradição cristã 
até hoje, selecionamos duas. 
1. Origem do Mal: Se o Deus criador é o Ser Perfeito e possui entre os seus atributos a Suprema Bondade, 
identificada de certa maneira com a Forma do Bem platônica, como é possível a existência do Mal? Teria 
o Deus sumamente bom criado o Mal? A doutrina maniqueístaa, muito forte naquele período, defendia a 
existência de dois princípios equivalentes, o Bem e o Mal, em luta permanente, com uma tendência de 
identificação de ambos com Deus e o Demônio, respectivamente. Santo Agostinho, inspirado em Platão, 
defende que só o Bem existe, sendo o Mal apenas a ausência, ou privação, do Bem. Deus, o Ser Perfeito, é 
sumamente Bom, mas os seres criados, inferiores na ordem do Ser, são imperfeitos e finitos, perecíveis. 
Daí se origina o Mal como falha, imperfeição. Esta é a solução ontológica, e também teológica, para o 
problema da existência ou da realidade do Mal. 
2. Liberdade humana: Se a natureza humana é marcada pelo pecado original, a imperfeição originada na 
fraqueza de Adão, e faz com que o ser humano esteja sujeito à tentação e aja contrariamente à lei moral, 
então haveria um determinismo que tornaria inevitável o pecado e, por conseguinte, a ação antiética. 
Paradoxalmente, os indivíduos não seriam, em última análise, responsáveis por seus atos, já que sãolevados ao pecado pela própria falha de sua natureza. Neste sentido, não teriam o domínio de suas ações, 
pois suas atitudes seriam determinadas por esta falha. O ser humano é, assim, compelido a agir 
contrariamente à ética. Se sua ação é determinada e ele é compelido, então não tem escolha ou liberdade e, 
portanto, não estaria verdadeiramente pecando. O livre arbítrio, ou liberdade individual, é, segundo santo 
Agostinho, a característica do ser humano que o torna responsável por suas escolhas e decisões. Por isso, 
pode-se agir de forma ética ou não. O pecado, ou o mal moral, resulta assim de uma escolha. A 
possibilidade de escolher nos é dada por Deus para que cada um seja responsável por seus atos, sejam eles 
errados ou corretos. 
 
São Tomás de Aquino (1224-274) 
 
 A ética de são Tomás de Aquino toma como ponto de partida a ética aristotélica, interpretando-a à luz da 
doutrina cristã, assim como santo Agostinho havia feito em relação ao platonismo quase 800 anos antes. Com 
efeito, são Tomás foi o principal responsável, em sua época, por mostrar que a filosofia de Aristóteles era 
compatível com o cristianismo. 
 A Contrarreforma elege são Tomás como representante da ortodoxia católica, de modo que sua obra terá 
grande importância para o pensamento moderno, embora muitas vezes identificada, ainda que erroneamente, 
com uma visão tradicionalista de filosofia e teologia. 
 A ética de são Tomás se contrapõe à visão então predominante, herdada de santo Agostinho, para quem o 
homem é um ser imperfeito, marcado pelo pecado original. 
 São Tomás parte da concepção aristotélica de virtude, considerando a natureza humana capaz de ser 
aperfeiçoada. A virtude para ele não é o mesmo, contudo, que para os filósofos gregos, que a relacionavam 
fortemente aos valores da cidade, tais como a amizade, a coragem e a lealdade. 
 Especialmente importante para são Tomás é a introdução das virtudes teologais: a Fé, a Esperança e a 
Caridade (ou amor, no sentido de amar Deus ou o próximo). 
 Por sua vez, o conceito aristotélico de felicidade (eudaimonia) será interpretado como beatitude, como 
culminando na visão beatífica de Deus tornada possível pela Revelação e pela Graça. 
 Outra diferença importante entre são Tomás e Aristóteles reside na noção de pecado original, que encontramos 
no filósofo cristão mas está ausente no grego. Pecado este que só pode ser superado pela Redenção. 
 
Descartes (1596-1650) 
 
 O filósofo francês René Descartes é considerado um dos fundadores da filosofia moderna, sobretudo devido a 
sua defesa da ciência nova, inaugurada por Copérnico e desenvolvida por pensadores como Kepler e Galileu, e 
também a sua crítica à tradição filosófica, principalmente à escolástica medieval, e a ênfase que dá à 
subjetividade na filosofia que propõe. 
 O tema central da filosofia de Descartes é a fundamentação de um novo método científico que possa servir de 
base à ciência moderna. Sua obra é, portanto, quase toda dedicada a questões epistemológicas, ou seja, de 
teoria do conhecimento científico. Pouco escreveu sobre outras áreas do pensamento filosófico, como ética, 
estética ou filosofia política. De certa forma, para Descartes, a solução de todas as questões da filosofia e da 
ciência dependia da solução, em primeiro lugar, do problema do conhecimento e da fundamentação do novo 
método científico, para que então se pudesse desenvolver um novo e bem fundamentado sistema filosófico e 
científico. 
 Descartes não deixou, contudo, inteiramente de lado as questões sobre a ética e a natureza humana, inclusive, 
no que diz respeito à formulação de uma ciência do ser humano. 
 
Spinoza (1632-677) 
 
 Um dos filósofos mais originais de sua época, nasceu e viveu em Amsterdam, na Holanda, e pertencia a uma 
família judaica de origem portuguesa. 
 Ética, demonstrada à maneira dos geômetras, escrito originariamente em latim, entre 1661-73, e publicado 
apenas após sua morte, é um texto de grande originalidade. Não se trata de um simples tratado de ética, mas de 
uma obra de metafísica que parte da ontologia e desenvolve uma teoria sobre a natureza humana e o fim 
último do homem: a beatitude. Articula assim de forma integrada a metafísica, o conhecimento, a 
antropologia filosófica e a moral. 
 A Ética é escrita segundo o método geométrico (more geometrico). É inspirada, portanto, na geometria de 
Euclides, considerada na época um modelo de ciência e de pensamento rigoroso. Começa com definições e 
axiomas, formula proposições e demonstrações com base nesses axiomas, seguindo o método dedutivo, e 
examina as consequências dessas demonstrações em seus corolários e escólios. 
 Trata-se, portanto, de uma obra bastante sistemática, em que os conceitos definidos são empregados com rigor 
e em que as consequências dessas definições são extraídas através de um processo lógico. Cada parte desse 
sistema se integra às demais e é necessário compreendê-lo como um todo articulado. 
 Na primeira parte, ou Livro I, “Sobre Deus”, Spinoza aborda as questões centrais da metafísica: Deus, a 
substância, seus modos e atributos. O Deus de Spinoza não é, contudo, o Deus criador e transcendente da 
tradição religiosa, mas um princípio metafísico que, em sua famosa expressão, coincide com a própria 
realidade: “Deus sive natura”, isto é, Deus ou a natureza. Deus é assim a substância infinita e a causa primeira. 
 Na segunda parte, ou Livro II, “Sobre a natureza e a origem da alma (Mentis)”, Spinoza trata do problema do 
conhecimento, examinando a questão da relação entre a alma e o corpo e a possibilidade de conhecermos a 
realidade através de nossas ideias. 
 Na terceira parte, ou Livro III, “Sobre a natureza e a origem das afecções”, temos a formulação dos primeiros 
princípios da ética de Spinoza na análise que faz da natureza humana. 
 Na quarta parte, ou Livro IV, “Sobre a servidão humana, ou Sobre as forças das afecções”, Spinoza extrai as 
consequências éticas de sua concepção da natureza humana, examina a questão da liberdade, do autocontrole e 
os conceitos de bem e mal em relação à natureza humana. 
 Na quinta parte, ou Livro V, “Sobre as potências do intelecto, ou Sobre a liberdade humana”, o filósofo 
defende uma ética racionalista e uma concepção de felicidade que consiste no “amor intelectual de Deus”, 
entendido como o reconhecimento do lugar do indivíduo no Universo. 
 
David Hume (1711 - 1776) 
 
 David Hume foi muito influente em sua época como filósofo e historiador, tendo sido autor de História da 
Inglaterra, publicação em seis volumes lançada em 1761 e de grande sucesso. 
 Hume destacou-se sobretudo por seu empirismo radical, que levava a uma posição filosófica cética. 
 Seu questionamento da concepção metafísica de causalidade, sua crítica ao conceito racionalista de “eu” e sua 
discussão sobre a indução são os aspectos fundamentais de seu ataque a alguns dos principais baluartes da 
tradição filosófica. 
 O ceticismo de Hume tem como consequência, contudo, a adoção de uma solução naturalista, segundo a qual é 
devido à natureza humana, seus impulsos e suas necessidades que se constituem nossas crenças básicas e 
nossa forma de agir. 
 Sem isso, o ceticismo nos deixaria perplexos e paralisados; porém, como diz Hume, a natureza é 
suficientemente forte para impedir que isso aconteça. 
 
Kant (1724-1804) – O imperativo categórico 
 
 Immanuel Kant foi um dos mais influentes pensadores da ética no período moderno. 
 Sua proposição de uma ética de princípios e seu racionalismo encontram importantes seguidores no 
pensamento contemporâneo, que se desenvolveu em grande medida a partir da influência de sua obra. 
 Em 1781, Kant inaugura sua fase crítica, com a publicação da Crítica da razão pura, à qual se segue em 
1788 a Crítica da razão prática, seu trabalho mais importante no campo da ética. 
 Kant tem como tema central de sua investigação a razão em seu sentido tanto teórico quantoprático. Analisa 
as condições segundo as quais a razão funciona, a maneira como opera e também seu objetivo. 
 No aspecto teórico, trata-se do conhecimento legítimo da realidade com base na distinção entre entendimento e 
conhecimento. 
 No que diz respeito à prática, trata-se da escolha livre dos seres racionais, que podem se submeter ou não à lei 
moral, que por sua vez é fruto da razão pura em seu sentido prático; portanto, age moralmente aquele que é 
capaz de se autodeterminar. 
 O pressuposto fundamental da ética kantiana é assim a autonomia da razão. 
 São três as principais obras de Kant no campo da ética: Fundamentação da metafísica dos costumes (1785) 
é a primeira, estabelecendo as bases do sistema que o filósofo desenvolverá na Crítica da razão prática e que 
terá seu coroamento na Metafísica dos costumes (1797-8). 
 Embora no prefácio à Fundamentação da metafísica dos costumes afirme que seu objetivo consistia em 
“formular uma filosofia moral pura, completamente depurada de tudo que fosse apenas empírico e que 
pertencesse ao campo da antropologia”, Kant também se preocupou com questões morais concretas e com a 
aplicação prática dos princípios éticos. 
 Esses trabalhos têm sido valorizados por alguns dos intérpretes contemporâneos de Kant, exatamente por 
mostrarem a preocupação do filósofo com questões de ordem prática e de natureza concreta. Levam em 
consideração, de um ponto de vista ético, as emoções e os sentimentos humanos, indo além do forte 
racionalismo da Crítica da razão prática. 
 A ética é parte fundamental do pensamento kantiano, o que fica claro na formulação dos problemas centrais da 
filosofia, ou de suas “áreas” segundo a Lógica: O que posso saber? O que devo fazer? O que é lícito esperar? 
O que é o homem? Kant apresenta a seguinte conclusão: 
“À primeira questão, responde à metafísica; à segunda, a 
moral; à terceira, a religião; e à quarta, a antropologia. Mas, 
no fundo, poderíamos atribuir todas à antropologia porque as 
três primeiras questões remetem à última.” 
 A reflexão ética deve assim, de uma perspectiva filosófica, nos orientar na resposta à segunda questão. 
 Na Fundamentação da metafísica dos costumes Kant formula seu célebre princípio do imperativo 
categórico: 
“Age somente de acordo com aquela máxima pela qual possas 
ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal”. 
 Este princípio determina que a ação moral é aquela que pode ser universalizada. Trata-se assim de um 
princípio formal, isto é, independentemente do que fazemos, nossa ação será ética se puder ser universalizada. 
Por exemplo: devemos cumprir o que prometemos e manter nossa palavra porque esperamos que as outras 
pessoas também o façam, e se não fizerem toda a prática de fazer promessas desmorona. Mas ninguém pode 
racionalmente desejar isso, pois mesmo aquele que viola as suas promessas espera que os outros as cumpram e 
que suponham que ele mesmo as cumprirá. Do contrário, promessas não terão efeito algum. Agir moralmente 
é, portanto, agir de acordo com este princípio. 
 
Kierkegaard (1813-55) 
 
 O dinamarquês Kierkegaard foi um dos mais importantes e originais pensadores do século XIX, sendo 
considerado o filósofo que inaugura o existencialismo. 
 Sua obra discute questões filosóficas, teológicas e literárias, sempre em um estilo fortemente pessoal e com 
frequência recorrendo a um alter ego ou a heterônimos, entre outros, que representam diferentes perspectivas 
do autor sobre a realidade e a existência humana, assim como apresentam estilos distintos. 
 Filho de um pastor protestante e profundamente marcado pela educação austera de sua família luterana, 
manteve durante toda a vida uma relação conflituosa com a igreja oficial da Dinamarca. 
 Depois de graduar-se em teologia na Universidade de Copenhagen, defendeu tese, em 1841, sobre o conceito 
de ironia em Sócrates, passando em seguida um período em Berlim estudando filosofia, quando teve contato 
com Friederich Schelling. 
 Sua obra é bastante assistemática e sempre de caráter autobiográfico, ressaltando suas angústias, sobretudo em 
relação à questão religiosa. 
 Em polêmica com o hegelianismo, então bastante influente na Dinamarca, questiona o universalismo e o 
caráter abstrato e especulativo dessa filosofia, procurando valorizar, ao contrário, a importância da 
subjetividade e da experiência individual. É esse o ponto de partida de seu existencialismo: a experiência 
subjetiva radical e o processo pelo qual o indivíduo, diante do absurdo do mundo e do silêncio de Deus, vê-se 
compelido a buscar ele próprio o sentido de sua existência. 
 A problemática central de Kierkegaard é exatamente a irracionalidade de nossa experiência do real, a 
impossibilidade de tomarmos decisões de maneira racional e de justificarmos nossa ação de um ponto de vista 
ético. A questão ética fundamental reside, assim, na necessidade de fazermos escolhas frente à impossibilidade 
de ter certeza delas e de poder justificá-las. É necessário, para isso, dar um “salto no escuro”, que consiste na 
fé e está além da racionalidade, da justificação ou mesmo da compreensão. 
 
Nietzsche (1844-1900) 
 
 Nascido na Alemanha, filho de um pastor luterano e bastante marcado pelo rigor da religião protestante foi um 
dos críticos mais mordazes da moral tradicional desde a filosofia grega até o cristianismo. 
 Pensador radical, propõe uma “transvaloração de todos os valores”, visando romper não só com a moral 
judaico-cristã mas também com a tradição grega desde Sócrates, representativa do racionalismo e da visão 
unilateral que teria prevalecido em toda a cultura ocidental. 
 Nietzsche define seu pensamento em Além do bem e do mal como uma “crítica da modernidade”. 
 Particularmente no caso da ética, procura mostrar que ela não se fundamenta na razão. A moral cristã se 
caracteriza pela “moral do rebanho”, em que os indivíduos se deixam levar pela maioria e seguem os 
ensinamentos da moral tradicional de forma acrítica. 
 É também a moral do “homem do ressentimento”, que assume a culpa e o pecado como características de sua 
natureza e por isso reprime seus impulsos vitais, sua vontade, sua criatividade, em nome da submissão à 
autoridade da religião e, por extensão, do Estado e das instituições em geral. Essa é, segundo Nietzsche, a 
“moral dos fracos”, que consegue se impor aos fortes exatamente através do recurso à culpa e ao remorso 
inculcados pela tradição em todos os indivíduos. 
 Sua crítica visa então recuperar os valores afirmativos da vida, que possam dar aos homens um novo impulso 
em direção à superação de suas limitações por meio do incentivo à vontade, à sensibilidade, à criatividade. 
 A crítica nietzschiana da tradição filosófica, religiosa e científica, assim como sua discussão sobre a natureza 
humana através do questionamento dos pressupostos racionalistas da filosofia e da ciência, teve forte 
influência sobre o pensamento do século XX. 
 
Stuart Mill – O utilitarismo 
 O utilitarismo como corrente de pensamento no campo da ética e da filosofia política tem sua origem 
principalmente nas ideias do pensador francês Helvétius (1715-71) e do inglês Bentham (1748-1832). 
 Esses pensadores formularam o “princípio de utilidade” como critério do valor moral de um ato. De acordo 
com este princípio universal, o bem seria aquilo que maximiza o benefício e reduz a dor ou o sofrimento. 
Terão mais valor de um ponto de vista ético, portanto, as ações que beneficiarem o maior número de pessoas 
possível. 
 Trata-se de uma concepção que avalia o caráter ético de uma atitude a partir do ponto de vista de suas 
consequências ou resultados. 
 Este princípio difundiu-se bastante no século XVIII, durante o Iluminismo, por ir ao encontro de um projeto de 
reforma social. 
 Constitui-se ao mesmo tempo em um princípio de aplicação prática, inspirando inclusive a Revolução 
Francesa (1789), que chegou a conceder a Bentham o títulode “cidadão honorário”. O útil (useful) é entendido 
como aquilo que contribui para o bem-estar geral. 
 No entanto, o utilitarismo foi bastante criticado por pensadores racionalistas, por exemplo, Kant, adversário da 
ética das consequências. 
 O filósofo, pensador político e ativista liberal inglês John Stuart Mill (1806-73) foi um dos maiores defensores 
do utilitarismo no século XIX. Foi o primeiro a de fato usar este termo, procurando argumentar contra seus 
críticos, sobretudo em sua principal obra de ética, intitulada precisamente Utilitarismo (1863). 
 Influenciado em sua educação pelas ideias de Helvétius e Bentham, de quem era afilhado, Mill retoma-as e 
desenvolve-as em sua obra teórica e na militância liberal. 
 Nem sempre, contudo, os argumentos em defesa das noções de prazer e felicidade ficam muito explícitos, 
assim como não fica suficientemente claro como se dá a passagem do prazer, ou da realização, individual para 
o bem comum, o que tem suscitado um grande debate em torno das ideias utilitaristas até nossos dias. 
 Para Mill, o princípio da máxima felicidade é universal, porém ele considerava que apenas a partir de 
determinados contextos históricos é possível decidir como aplicá-lo e definir que tipo de liberdade e direitos 
devem ser defendidos. 
 A autopreservação é igualmente um princípio universal e por vezes surge o conflito sobre como conciliar o 
bem comum e os interesses individuais. 
 A influência do utilitarismo no século XX foi grande, permanecendo como uma das principais correntes 
contemporâneas no campo da ética e tendo inspirado concepções políticas como a de “bem-estar social” e 
conceitos como o de “maximização do benefício”. 
 
Weber (1864-1920) 
 
 O pensador alemão Max Weber foi um dos fundadores das ciências sociais contemporâneas. 
 Suas obras representam uma importante contribuição ao pensamento político e econômico, à história e à 
filosofia, sobretudo à ética, sendo o clássico A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905) 
provavelmente seu livro mais conhecido neste campo. 
 Um dos temas centrais da análise sociológica e política de Weber é precisamente a questão dos limites da 
responsabilidade moral, derivado de seu interesse pela influência do protestantismo, sobretudo calvinista, na 
formação da sociedade e da cultura europeias desde o século XVI. 
 Em sua discussão sobre a formação da sociedade moderna, Weber examina a importância do cálculo racional 
na tomada de decisão, quando se avaliam os melhores meios de se alcançar um objetivo e se discute a 
eficiência como critério para a determinação dos resultados das ações sociais. A questão da contribuição do 
progresso técnico e científico à sociedade ocupa igualmente um lugar central na análise de Weber. 
 É também de grande importância a distinção teórica e metodológica que faz entre as ciências naturais e as 
sociais, uma das discussões mais controvertidas da filosofia da ciência do século XX. 
 As reflexões supostamente pessimistas de Weber devem ser situadas no quadro sombrio em termos sociais, 
políticos e econômicos tanto da Europa às vésperas da Primeira Guerra Mundial quanto, logo em seguida, da 
crise alemã no pós-guerra. 
 
Freud (1856-1939) 
 
 Sigmund Freud foi não só o criador da psicanálise, mas um pensador cujas ideias tiveram um profundo 
impacto nos campos da ciência, da filosofia, da religião e das artes. 
 De origem judaica, formou-se em medicina e especializou-se em psiquiatria, estudando em Viena e depois em 
Paris. Foi em Viena que viveu a maior parte de sua vida profissional, onde desenvolveu seu trabalho clínico e 
formulou a teoria psicanalítica. Faleceu em Londres, onde se exilara para escapar da perseguição nazista. 
 Sua primeira obra de grande relevância foi a Interpretação dos sonhos (1900), em que encontramos a 
primeira formulação do conceito de inconsciente. Tal conceito, assim como a importância da interpretação dos 
sonhos como modo de acesso à linguagem do inconsciente e a discussão sobre o papel da sexualidade na 
natureza humana foram fatores determinantes na crítica aos pressupostos filosóficos do racionalismo moderno. 
Sobretudo o conceito tradicional de subjetividade (Descartes), que se caracteriza pelo acesso privilegiado do 
sujeito pensante à sua própria consciência, à sua interioridade, sofre um forte abalo com a teoria psicanalítica. 
 Freud questiona a fundamentação dos valores éticos na razão e a possibilidade de justificação desses valores, o 
ideal de natureza humana que tem como pressupostos determinadas virtudes e também a consciência moral 
como instância central da decisão ética. 
 Mostra que a ação humana não depende totalmente do controle racional e das deliberações conscientes do ser 
humano, ao contrário, é em grande parte determinada por elementos inconscientes, como instintos, desejos 
reprimidos e traumas, dos quais não nos damos conta ou não somos plenamente conscientes. 
 A concepção freudiana do aparelho psíquico como composto do id (ou isso), que corresponde ao inconsciente; 
do ego (ou eu), a consciência; e do superego (ou supereu), a instância crítica, a autoridade externa, que inclui 
os valores morais, revolucionou a concepção tradicional de subjetividade e de consciência, assim como a 
discussão sobre a origem e os fundamentos da ética, desde a consciência moral até os valores. 
 
Foucault (1926-1984) – Estética existencial 
 
 Para pensar a ética, Foucault recorre aos gregos do século V e IV a.C.. 
 Era muito importante para o grego sua prática política e econômica, e para bem desempenhar suas funções era 
essencial cuidar de si próprio. 
 Somente um homem livre, construtor de sua própria vida, determinante de suas próprias razões e ações poderia 
desempenhar suas funções na polis (cidade-estado) de forma adequada. 
 Para o grego tomar as rédeas da própria vida era como construir uma obra de arte, esculpir uma vida bela. 
 Ética nesse sentido era um modo de relacionamento do indivíduo consigo mesmo, não como no cristianismo 
que instituia uma moral como obediência a um sistema de regras. 
 Sendo assim entre os gregos era possível a variabilidade e a diversidade, o que não ocorria no cristianismo que 
buscava a obediência e a uniformidade. 
 Tomando como base a ética grega Foucault desenvolveu o conceito de "Estética Existencial". 
 "Estética" porque remete a arte (conjunto aberto e variável de técnicas de construção e criação), e nesse 
sentido cabe ao indivíduo produzir e gerenciar a própria vida exercendo sua maioridade intelectual sem 
recorrer a dogmas e "autoridades". 
 "Existencial" porque o indivíduo se constitui como livre que é, na experiência. 
 Isso implica duas coisas: ter uma atitude limite e uma experimental. 
 Não podemos ignorar o tecido social no qual estamos inseridos, mas aprender a vê-lo como histórico, singular, 
contingente e arbitrário e jamais como universal, necessário e obrigatório. 
 Isso nos remete a outra parte da experiência, a atitude experimental, onde a guisa do que sabemos exercitamos 
nossa liberdade transgredindo os limites que são impostos sobre nossa vida, e em especial o discurso fascista e 
totalitário que domina, anula nosso eu e visa uniformizar comportamentos. É importante destacar que o 
indivíduo não tem uma atitude limite e experimental mudando seu modo de ser sem mudar sua relação 
consigo, com os outros e com a verdade (o saber). 
 
Objetivo II: Compreender a relevância de uma postura ética. 
 
 A ética diz respeito diretamente à experiência cotidiana, levando-nos a uma reflexão sobre os valores que 
adotamos, o sentido dos atos que praticamos e a maneira pela qual tomamos decisões e assumimos 
responsabilidades. 
 A grande maioria das profissões tem seus códigos de ética, numa tentativa precisamente de sistematizar os 
princípios de orientação para seus profissionais. 
 A ética é tradicionalmente um dos temas mais importantes da filosofia. Etimologicamente,a palavra “ética” 
origina-se do termo grego ethos, que significa o conjunto de costumes, hábitos e valores de uma determinada 
sociedade ou cultura. 
 Os romanos o traduziram para o termo latino mos, moris (que mantém o significado de ethos), dos quais 
provém moralis, que deu origem à palavra moral em português. 
 A problemática da ética, portanto, em um sentido amplo, diz respeito à determinação do que é certo ou errado, 
bom ou mau, permitido ou proibido, de acordo com um conjunto de normas ou valores adotados 
historicamente por uma sociedade. 
 Esta definição é importante porque o ser humano deve agir de acordo com tais valores para que sua ação possa 
ser considerada ética. Desta forma se introduz uma das noções mais fundamentais da ética: a do dever. Os 
seres humanos são livres. Em princípio, podem agir como bem entenderem, dando vazão a seus instintos, 
impulsos e desejos; porém, o dever restringe essa liberdade, fazendo com que seja limitada por normas que 
têm por base os valores éticos. 
 O ser humano pode agir de diferentes maneiras, mas deve agir eticamente. Assim, do ponto de vista da ética, a 
reflexão filosófica visa fazer com que, diante da necessidade de decidir sobre como proceder em determinadas 
circunstâncias, a pessoa aja de modo correto; bem como servir de parâmetro para avaliar um determinado ato 
realizado por outro indivíduo como sendo ou não eticamente correto. 
 Porém, segundo a própria definição original do termo, a ética não pode ser vista dissociada da realidade 
sociocultural concreta. Os valores éticos de uma comunidade variam de acordo com o ponto de vista histórico 
e dependem de circunstâncias determinadas. 
 O que é considerado ético em um contexto pode não ser considerado da mesma forma em outro. Por exemplo: 
os sacrifícios humanos eram práticas normais em algumas sociedades, como entre os antigos astecas e mesmo 
na Grécia arcaica; hoje, entretanto, nos causam horror e parecem uma barbaridade. Outro exemplo menos 
drástico é o da poligamia e do concubinato, condenáveis em nossa sociedade mas admissíveis em outras 
culturas e religiões. 
 Podemos distinguir, portanto, três dimensões distintas do que entendemos usualmente por ética. 
1. O sentido básico ou descritivo de ética: bastante próximo da acepção originária de ethos, que designa o 
conjunto de costumes, hábitos e práticas de um povo. Todos os povos têm assim a sua ética, ou o seu 
ethos; isto é, os costumes e práticas que definem, ainda que muitas vezes de modo implícito e informal, a 
maneira correta ou adequada de comportamento naquela sociedade. 
2. O sentido prescritivo ou normativo: como um conjunto de preceitos que estabelecem e justificam 
valores e deveres, desde os mais genéricos, tais como as éticas cristã ou estoica, até os mais específicos, 
como o código de ética de uma categoria profissional, do qual talvez o mais famoso e tradicional seja o da 
prática médica. 
3. O sentido reflexivo ou filosófico: diz respeito às teorias ou concepções filosóficas da ética, como a ética 
da responsabilidade, a dos princípios, o utilitarismo e outras, visando examinar e discutir a natureza e os 
fundamentos dos sistemas e das práticas, analisando os conceitos e valores que lhes pretendem dar 
fundamento. Trata-se neste sentido, talvez, mais de uma metaética do que de uma ética propriamente dita, 
caso do segundo sentido citado. A metaética é assim uma reflexão sobre a ética, seus fundamentos e 
pressupostos, diferente da formulação de uma ética determinada. 
 Talvez o sentimento de crise que vivemos hoje tenha sua origem mais remota, em grande parte, na perda de 
referência a determinados valores e normas que começa a ocorrer após o início do período moderno (séc. 
XVII), com o surgimento de sociedades complexas, caracterizadas pela diversidade e pluralidade de crenças, 
valores, hábitos e práticas. 
 Nesse período, o cristianismo, que havia sido desde a Antiguidade a principal referência do ponto de vista 
ético, passa por uma cisão profunda com o advento da Reforma (início do séc. XVI) e das várias correntes do 
protestantismo que resultam desse processo. Encontramos a partir daí a defesa da necessidade de uma ética 
filosófica desvinculada da ética religiosa, que supõe a fé e a adesão a uma religião determinada. 
 A descoberta da América (1492) contribui também para isso, revelando outros povos e sociedades com 
hábitos, práticas e valores radicalmente diferentes dos adotados pelos europeus daquela época. 
 Temos aí provavelmente a primeira grande experiência social de relatividade de valores e normas de conduta, 
deixando claro que o que é válido, ou considerado ético, para alguns não o é para outros. Embora os filósofos 
gregos já houvessem discutido a questão da relatividade dos valores éticos, é talvez a partir desse momento 
que a questão se torna mais crucial e mais ampla, vindo a ser objeto central da reflexão filosófica. 
 Mais do que qualquer outra área tradicional da filosofia (como a lógica, a metafísica ou a teoria do 
conhecimento), a ética aborda, centralmente, nossa vida concreta, nossa prática cotidiana. Mesmo teorias 
éticas muito abstratas como as de Platão e Kant tiveram como ponto de partida o momento histórico em que 
esses filósofos viveram e buscaram dar respostas a questões e desafios que enfrentaram. Assim, Platão em A 
República está fundamentalmente preocupado com o que considera a decadência política da democracia na 
Atenas do séc. V a.C. Kant, por sua vez, preocupa-se explicitamente com as grandes mudanças pelas quais 
passa a sociedade europeia do séc. XVIII e que culminam na Revolução Francesa em 1789, que causa um 
grande impacto sobre os pensadores da época. 
 Se as obras desses filósofos do passado são importantes para nós ainda hoje é porque, além de pensarem o 
momento em que viveram, suas reflexões levantaram questões e levaram a propostas que têm um sentido e um 
valor universais; isto é, que têm um alcance não restrito àquela situação específica e a partir das quais 
podemos tirar lições valiosas para o contexto em que vivemos hoje. Isto não implica que tenhamos, 
necessariamente, que aceitar ou adotar as teorias éticas de Platão, Kant, ou qualquer outro filósofo. O que 
importa é acompanhar sua forma de argumentar, os questionamentos que formulam, o modo como 
encaminham a discussão dos problemas éticos. 
 É, portanto, importante perceber que, de alguma forma, se a reflexão filosófica tem sempre como ponto de 
partida a realidade concreta e deve também ser útil para nossa vida prática, ela não se limita apenas a esse 
aspecto, tem um alcance mais amplo. Deve nos tornar capazes de superar, em nosso pensamento, em nosso 
modo de refletir e decidir, na medida do possível, os condicionamentos e limites do contexto em que vivemos. 
Só assim podemos ter uma postura verdadeiramente crítica, que não seja apenas a repetição e a reprodução dos 
valores e padrões a que fomos habituados. 
 Sentimos a necessidade de uma reflexão ética mais profunda quando nos defrontamos com dilemas, com 
situações de conflito, diante dos quais temos de decidir e vemos que nossa decisão não é fácil. Precisamos 
refletir, buscamos justificativas para uma posição ou outra, procuramos critérios em que possamos nos basear 
para tomar nossa decisão. É a partir da concepção de crítica mencionada acima que podemos, finalmente, 
propor um critério inicial para se considerar uma ação como ética: a transparência. 
 Um ato pode ser considerado ético sempre que seu autor for capaz de explicitar seus motivos e justificá-los, 
assumindo integralmente sua atitude. Kant introduz ainda, como critério fundamental do caráter ético de um 
ato, sua universalidade. Isto é, meu ato pode ser considerado ético se eu estiver disposto a aceitar que ajam 
comigo da mesma forma como eu ajo com os outros. Trata-se, no fundo, do famoso princípio: não faça ao 
outro aquilo que não queres que façam a ti. Na formulação clássicaencontrada em Kant: “Age de tal forma 
que tua ação possa ser considerada lei universal.” 
 Este princípio ético kantiano evita a famosa dicotomia, ou dualidade, entre uma ética para fins internos, isto é, 
para nossa família, para o grupo de que fazemos parte, ao qual pertencemos; e uma ética para fins externos, ou 
seja, para lidarmos com os outros, com o “mundo lá fora”, que frequentemente consideramos uma “selva”, 
“um vale-tudo”, e cujas práticas muitas vezes achamos que devemos adotar porque “é assim que os outros 
fazem”, mesmo se no íntimo as consideramos erradas ou conflitantes com nossa ética para fins internos. 
 A atitude ética autêntica não deve admitir dicotomia, já que não faria sentido um comportamento ético restrito 
apenas a um plano interno e um comportamento oposto no plano externo. Neste caso, na verdade, o indivíduo 
não estaria agindo eticamente, faltaria coerência na adoção dos princípios. 
 
Objetivo III: Compreender a importância do conhecimento do código de Ética Médica. 
 
 Os estatutos, regimentos e códigos de comportamento fazem parte das sociedades humanas desde os mais 
remotos tempos, quando as civilizações começaram a se organizar em grupamentos societários. 
 Os códigos de ética médica seguiram a mesma trajetória e passaram a compor esse conjunto desde o Código 
de Hamurabi, evoluíram com o juramento de Hipócrates e se consolidaram com a normativa de Percival no 
início do século XIX. 
 No Brasil, a evolução dos códigos de ética médica ocorreu a partir de 1867, data da publicação do primeiro 
código. Esses regulamentos mantêm o compromisso de sustentar, promover e preservar o prestígio 
profissional, proteger a união profissional, garantir à sociedade padrões de prática e estabelecer valores, 
deveres e virtudes profissionais. 
 A partir da criação do Conselho Federal de Medicina (CFM) e dos conselhos regionais de medicina, em 1957 
e 1958, respectivamente, os princípios norteadores do comportamento profissional foram enriquecidos e 
sopesados periodicamente, com a finalidade de serem atualizados e, dessa forma, impedir a caducidade de suas 
diretrizes. 
 A revisão do Código de Ética Médica de 1988 foi fundamentada nos conceitos de necessidade permanente de 
modernização para apreciar novos procedimentos inerentes à evolução tecnológica e científica da medicina e 
acompanhar a moralidade vigente na comunidade. 
 Assim, em setembro de 2007, foi autorizada a citada revisão e composta a Comissão Nacional de Revisão do 
Código de Ética Médica (CNR-CEM), coordenada pelo atual presidente do Conselho Federal de Medicina, 
Roberto d’Avila. Durante quase dois anos a CNR-CEM realizou a tarefa de rever e buscar compreender todas 
as sugestões oriundas da comunidade médica e da sociedade organizada, para, mediante amplo debate, 
reformular os preceitos técnicos e morais da medicina. 
 Por fim, o atual Código de Ética Médica foi consagrado em agosto de 2009 e aprovado em setembro, após ser 
disposto em formato de resolução (CFM no 1.931/09), com vigência a partir de 13 de abril de 2010. 
 Concluído o intenso trabalho, a CNR-CEM decidiu expor a rica e prazerosa experiência no aprofundamento de 
leitura e estudo que permitam ponderar o significado e a natureza do comportamento médico frente ao 
atendimento de pacientes nas mais distintas circunstâncias impostas pelo dia a dia profissional. 
 
Objetivo IV: Entender a origem e os princípios do Código de Ética Médica. 
 
Princípios fundamentais 
 
I - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem 
discriminação de nenhuma natureza. 
II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo 
de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. 
III - Para exercer a Medicina com honra e dignidade, o médico necessita ter boas condições de trabalho e ser 
remunerado de forma justa. 
IV - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Medicina, bem como pelo prestígio e bom 
conceito da profissão. 
V - Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em 
benefício do paciente. 
VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus 
conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e 
acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade. 
VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os 
ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de 
urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente. 
VIII - O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade 
profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de 
seu trabalho. 
IX - A Medicina não pode, em nenhuma circunstância ou forma, ser exercida como comércio. 
X - O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com objetivos de lucro, finalidade política ou 
religiosa. 
XI - O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de suas 
funções, com exceção dos casos previstos em lei. 
XII - O médico empenhar-se-á pela melhor adequação do trabalho ao ser humano, pela eliminação e pelo controle 
dos riscos à saúde inerentes às atividades laborais. 
XIII - O médico comunicará às autoridades competentes quaisquer formas de deterioração do ecossistema, 
prejudiciais à saúde e à vida. 
XIV - O médico empenhar-se-á em melhorar os padrões dos serviços médicos e em assumir sua responsabilidade 
em relação à saúde pública, à educação sanitária e à legislação referente à saúde. 
XV - O médico será solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja por remuneração digna 
e justa, seja por condições de trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Medicina e seu 
aprimoramento técnico-científico. 
XVI - Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou de instituição, pública ou privada, limitará a 
escolha, pelo médico, dos meios cientificamente reconhecidos a serem praticados para o estabelecimento do 
diagnóstico e da execução do tratamento, salvo quando em benefício do paciente. 
XVII - As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e na 
independência de cada um, buscando sempre o interesse e o bem-estar do paciente. 
XVIII - O médico terá, para com os colegas, respeito, consideração e solidariedade, sem se eximir de denunciar 
atos que contrariem os postulados éticos. 
XIX - O médico se responsabilizará, em caráter pessoal e nunca presumido, pelos seus atos profissionais, 
resultantes de relação particular de confiança e executados com diligência, competência e prudência. 
XX - A natureza personalíssima da atuação profissional do médico não caracteriza relação de consumo. 
XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões 
legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por 
eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas. 
XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos 
e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados. 
XXIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o médico agirá com isenção e independência, 
visando ao maior benefício para os pacientes e a sociedade. 
XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as 
normas éticasnacionais, bem como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa. 
XXV - Na aplicação dos conhecimentos criados pelas novas tecnologias, considerando-se suas repercussões tanto 
nas gerações presentes quanto nas futuras, o médico zelará para que as pessoas não sejam discriminadas por 
nenhuma razão vinculada a herança genética, protegendo as em sua dignidade, identidade e integridade. 
 
Fechamento II 
Referências 
1. Conselho Federal de Medicina. Código de ética médica: resolução CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009. 
Conselho Federal de Medicina. Brasília, 2010. 
2. Maria Angélica Bonfim. Competência moral e formação médica: percepção dos docentes sobre a 
influência do ambiente universitário. Fundação Oswaldo Cruz. Ministério da Saúde. Rio de janeiro, 2013. 
3. AMBROS, Mauro C., RECCHIA, Anderson, RECCHIA, Jeferson A. Aspectos éticos e jurídicos do aborto. 
Saúde, Santa Maria, v. 34, n. 1-2. p. 12-15, 2008. 
4. Nedy Maria Branco Cerqueira Neves. A medicina para além das normas: reflexões sobre o novo Código 
de Ética Médica. CFM. Brasília, 2010. 
 
Objetivo V: Compreender as mudanças das posturas morais que os estudantes apresentam no transcorrer 
do curso e fazer uma análise crítica delas. 
 
Objetivo VI: Fazer uma análise crítica sobre os referenciais que os estudantes de medicina devem ter na sua 
formação. 
 
 É importante ensinar bioética e humanidades no curso de medicina, pois na graduação o estudante constrói as 
bases de sua futura relação médico-paciente. 
 É importante também estabelecer regras claras de direitos e deveres dos acadêmicos para com seus pares, 
professores e pacientes. 
 Umas das primeiras tentativas de se introduzir a discussão sobre ética nas instituições de ensino médico 
ocorreu em 1976, quando houve a criação de um código de ética médica para os estudantes de medicina da 
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. 
 A criação do Código de Ética para Estudantes de Medicina previne o exercício ilegal da medicina por 
estudantes e melhora a humanização da futura prática médica que irão exercer. 
 O Código para os estudantes também ajudam a impedir que os estudantes realizem ou participem de pesquisas 
envolvendo humanos e que desrespeitem as normativas éticas vigentes no país, como por exemplo, deixarem 
de submeter o protocolo de pesquisa à análise do comitê de ética em pesquisa. 
 Estudos apontam que estudantes de medicina durante o curso aumentam o cinismo e o interesse em ganhar 
dinheiro. Essa mudança de atitude é decorrente do ambiente em que convivem dentro da faculdade de 
medicina e dos altos custos da educação médica. 
 
Objetivo VII: Entender como deve ser a postura de um médico. 
 
 O médico deve exercer a medicina sem discriminação de qualquer natureza, deve praticar a solidariedade entre 
médicos, é pessoalmente responsável pelos seus atos, deve preservar a sua independência profissional, 
livrando-se, em beneficio dos pacientes, de influencias pessoais ou materiais, de empregadores, pagadores, 
instituições, indústria e outros interesses. 
 O alvo de toda atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo 
de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. 
 Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em 
benefício do paciente. 
 O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus 
conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e 
acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade. 
 O médico comunicará às autoridades competentes quaisquer formas de deterioração do ecossistema, 
prejudiciais à saúde e à vida. 
 No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões 
legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos 
por ele expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas. 
 
Objetivo VIII: Entender se o paciente tem direito a uma segunda opinião. 
 
CEM: Capítulo V - Relação com pacientes e familiares. É vedado ao médico: 
Art. 39. Opor-se à realização de junta médica ou segunda 
opinião solicitada pelo paciente ou por seu representante legal. 
 
Objetivo IX: Entender se um médico pode deixar um plantão sem um substituto. 
 
CEM: Capítulo III – Responsabilidade profissional. É vedado ao médico: 
Art. 8º Afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo 
temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do 
atendimento de seus pacientes internados ou em estado grave. 
Art. 9º Deixar de comparecer a plantão em horário 
preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, 
salvo por justo impedimento. 
Parágrafo único. Na ausência de médico plantonista substituto, 
a direção técnica do estabelecimento de saúde deve 
providenciar a substituição. 
 
Objetivo X: Entender se um médico deve realizar procedimentos terapêuticos em pacientes terminais. 
 
O novo código de ética médica (2009) apresenta uma novidade em relação aos demais quando em seu Capítulo I, 
sobre princípios fundamentais, admite a “finitude da vida humana”: 
 
CEM: Capitulo I, incisos VI e XXII 
 
VI – O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus 
conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para omitir e acobertar 
tentativa contra sua dignidade e integridade. 
 
XXII – Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos 
diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos 
apropriados. 
 
Capítulo V - “relação com pacientes e familiares” 
Normatiza procedimentos médicos dizendo ser vedado ao médico: 
Art 35. “Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do 
prognóstico, complicar a terapêutica (...)” 
Art 36. “Abandonar paciente sob seus cuidados” 
Parágrafo 2º “(...) o médico não abandonará o paciente por ser 
este portador de moléstia crônica ou incurável e continuará a 
assisti-lo ainda que para cuidados paliativos”. 
 
Neste mesmo capítulo o art. 41 diz não à eutanásia no caput, não à prática da distanásia e sim aos cuidados 
paliativos (no parágrafo único). 
 
Art. 36 é vedado ao médico “abreviar a vida do paciente, ainda 
que a pedido deste ou de seu representante legal”. 
Parágrafo único. “Nos casos de doença incurável e terminal, 
deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis 
sem empreender ações diagnósticas e terapêuticas inúteis ou 
obstinadas, levando sempre em consideração a vontade 
expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu 
representante legal”. 
 
Objetivo XI: Entender se um médico pode recusar realizar aborto em uma situação de estupro e 
compreender os aspectos legais do aborto no Brasil. 
 
 O aborto sentimental ou moral (C.P. art. 128 Inciso II) é permitido por lei quando a gravidez resulta de 
estupro, sendo autorizado por alvará judiciário. Caso contrário, se não houver essa autorização judicial por 
escrito, o médico não deverá pratica-lo. 
 Se houverem complicações decorrentes de manobras cirúrgicas, o médico poderá ser processado caso não 
tenha a autorização judicial escrita. Sendo autorizado por escrito e ocorrerem complicações, a autoridade 
judicial será responsável. 
Segundo o CEM Capítulo II - Direitos do Médico: 
Art. 28: O médico poderá recusar-se a praticar atos médicos, 
permitidos por lei, que sejam contrários aos ditames de sua 
consciência. 
 É difícil a caracterização indiscutível de estupro, que é a conjunção carnal com mulher mediante violência 
física, psíquica ou presumida ou grave ameaça. 
 Presume-se violência quando a vítima é <14 anos, é alienada ou deficiente mental, não pode oferecerresistência e o agente sabe desse fato. 
 Deve haver predomínio de forças, pois a mulher normalmente reage, pode fugir e eventualmente se defender 
com objeto vulnerante que esteja ao seu alcance. O agressor tentará neutralizar a vítima mediante agressão 
física, sufocação, procurando segurá-la pelo quadril, deixando marcas da sua violência. 
 A legislação atualmente em vigor que vai do Art. 124-128 do Código Penal Brasileiro vigente, permite 
exceção apenas em dois casos: 
1. Quando não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
2. Gravidez resultante de estupro. 
 Os médicos devem tomar o cuidado de sempre respaldarem as suas ações de forma a não serem incluídos em 
ilícito penal. 
 A prática do aborto não deixa de ser um homicídio, embora não se puna o médico nas situações legalizadas. 
 Devem os médicos sempre fazer um documento escrito, detalhando as razões da sua prática. Em caso de 
aborto terapêutico, é necessário um laudo explicando porque é praticado e no aborto moral ou sentimental é 
fundamental a autorização judicial escrita, embora em alguns casos, a lei permita a sua prática, bastando para 
isso a ocorrência policial declarando a existência de estupro. 
 O diagnóstico de estupro é um ato médico e não pode ser feito por profissionais não habilitados legalmente ao 
exercício da medicina. 
 Sendo ilegal o aborto no Brasil, alguns juristas o denominam de feticídio, pois é a morte do feto em qualquer 
fase da gestação, haja ou não expulsão. Outros juristas consideram a denominação imprópria, pois de acordo 
com o art. 2° do Código Civil, o feto é expectativa de ser humano, possuindo expectatus de Direito e para 
efeitos penais considerado pessoa, bastando para isso que o concepto apresente condições de vida autônoma, 
ainda que precárias. 
 O fato de dizer que não se pune os médicos não exclui a prática de um crime, pois nesse casso deve se optar 
por uma das vidas, ou da mãe ou do feto. De qualquer forma alguém é eliminado aquele que é a parte mais 
fraca e não tem escolha. 
 O nome aborto terapêutico não é muito bem aplicado, pois não se conhece terapêutica em que se elimina 
algum ser humano. 
 No BR, o direito ampara a vida desde o momento da fecundação e qualquer atentado contra a sua integridade 
está incluso em diversos artigos do Código Penal, podendo as penalidades variar de 1-20 anos. 
 
O Direito Repressivo Penal pune o aborto desamparado por lei como crime, tutelando: 
 No auto-aborto, ao nascituro. 
 No aborto provocado por terceiro, ao produto da concepção e à gestante. 
Desta forma, pela punição, a lei protege a mulher e o nascituro. O crime de aborto apresenta as seguintes figuras 
típicas: 
1. Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124 do CP), pena de 1-3 anos de detenção 
2. Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125 do CP), pena de 3-10 anos de 
reclusão 
3. Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante (art. 126 do CP), pena de 1-4 anos de 
reclusão. 
Parágrafo Único: Aplica-se a pena do artigo anterior se a gestante não é maior de 14 anos ou se é alienada ou 
débil mental ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. 
4. Aborto qualificado (art. 127 do Código Penal). As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas 
de um terço se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão 
corporal de natureza grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobreveio a morte 
5. Aborto realizado por médico; Não se pune o aborto praticado por médico: 
 Necessário ou terapêutico - art. 128, Inciso I; 
 Sentimental ou humanitário - art. 128, Inciso II. 
 
 O que caracteriza os abortos entre si, em nosso Código Penal, são o agente e o consentimento da gestante ou, se 
ela é menor de 14 anos, alienada ou débil mental, de seu representante legal. O agente evidentemente só pode 
ser o médico, único profissional legalmente habilitado à prática de atos médicos, pois se for provocado por 
farmacêutico, curiosas, parteiras a espécie se torna criminosa. 
 Caso o médico se recuse a praticar o aborto, pois de acordo com o artigo 28 do Código de Ética Médica, ele 
pode recusar-se alegando ditames da sua consciência, o Juiz poderá nomear profissional não médico, como 
enfermeira. 
 Caberá ao Juiz a responsabilidade de qualquer complicação que ocorra. Em qualquer caso, a enfermeira-
aborteira promove o deslocamento do ovo e sua morte, necessitando a paciente ser atendida posteriormente por 
médico para a remoção de restos placentários ou embrionários do álveo materno. 
 Cabe um comentário sobre quem pratica o aborto e o fato de que existem poucas punições à sua prática. Como 
preceitua a lei, o agente ou a gestante podem sofrer punição, mas como existe interesse mútuo, não há muitas 
denúncias a esse respeito pelo receio de ambas as partes temerem as sanções legais. 
 
Objetivo XII: Entender se um médico do trabalho deve informar aos trabalhadores sobre situações de risco 
ou apenas ao apenas ao gerente. 
 
CEM: Capitulo III – Responsabilidade profissional. É vedado ao médico: 
 
Art. 12. Deixar de esclarecer o trabalhador sobre as condições 
de trabalho que ponham em risco sua saúde, devendo 
comunicar o fato aos empregadores responsáveis. 
Parágrafo único. Se o fato persistir, é dever do médico 
comunicar o ocorrido às autoridades competentes e ao 
Conselho Regional de Medicina. 
Art. 13. Deixar de esclarecer o paciente sobre as determinantes 
sociais, ambientais ou profissionais de sua doença. 
 
Objetivo XIII: Entender se é permitido à ciência fazer modificações no genoma humano. 
 
CEM: Capitulo III – Responsabilidade profissional. É vedado ao médico: 
Art. 14. Praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou 
proibidos pela legislação vigente no País. 
Art. 15. Descumprir legislação específica nos casos de 
transplantes de órgãos ou de tecidos, esterilização, fecundação 
artificial, abortamento, manipulação ou terapia genética. 
1º No caso de procriação medicamente assistida, a 
fertilização não deve conduzir sistematicamente à 
ocorrência de embriões supranumerários. 
2º O médico não deve realizar a procriação medicamente 
assistida com nenhum dos seguintes objetivos: 
I – criar seres humanos geneticamente modificados; 
II – criar embriões para investigação; 
III – criar embriões com finalidades de escolha de sexo, 
eugenia ou para originar híbridos ou quimeras. 
3º Praticar procedimento de procriação medicamente 
assistida sem que os participantes estejam de inteiro acordo 
e devidamente esclarecidos sobre o mesmo. 
Art. 16. Intervir sobre o genoma humano com vista à sua 
modificação, exceto na terapia gênica, excluindo-se qualquer 
ação em células germinativas que resulte na modificação 
genética da descendência. 
 
Objetivo XIV: Entender se o médico deve informar ao Conselho de Ética sobre infrações éticas praticadas 
pelos colegas. 
Princípios fundamentais 
XVIII - O médico terá, para com os colegas, respeito, consideração e solidariedade, sem se eximir de denunciar 
atos que contrariem os postulados éticos. 
 
CEM: Capítulo VII - Relação entre médicos. É vedado ao médico: 
Art. 50. Acobertar erro ou conduta antiética de médico. 
Art. 57. Deixar de denunciar atos que contrariem os postulados 
éticos à comissão de ética da instituição em que exerce seu 
trabalho profissional e, se necessário, ao Conselho Regional de 
Medicina. 
 
Problema 02: “O ensino da ética e da bioética na graduação em 
medicina é capaz de mudar o perfil do profissional médico” 
 
Fechamento I 
Referências 
1. Os fundamentos da bioética. Revista Pesquisa em Foco: Educação e Filosofia v. 4, n. 4, 2011. 
2. Fermin Roland Schramm. A Bioética, seu desenvolvimento e importância para as Ciências da Vida e da 
Saúde. Revista Brasileira de Cancerologia. v.48, n.4, p.609-615, 2002. 
3. Gregory J.Fox, Marianna Orlova, Erwin Schurr. Tuberculosis in Newborns: The Lessons of the “Lübeck 
Disaster” (1929–1933). PLOS Pathogens, 2016. 
4. Jonilda Ribeiro Bonfim. Estudo Tuskegee e a falsa pesquisa de Hwang: nas agendas da mídia e do 
público 
5. Declaração da WMA sobre ética médica em caso de desastres 
6. A integralidade do Cuidado no Ensino na Área da Saúde: uma Revisão Sistemática. Revista Brasileira de 
Educação Médica, 2017. 
7. Considerações sobre o ensino médico no Brasil: consequências afetivo-emocionais nos estudantes. 
Revista de Educação Médica, 2009. 
8. O Relatório Flexner: Para o Bem e Para o Mal. Revista Brasileira de Educação Médica, 2008. 
9. Movimentos de mudança na formação em saúde: da medicina comunitária às diretrizes curriculares. 
Revista de Saúde Coletiva. V.20, n. 2, p. 551-570. Rio de Janeiro, 2010. 
 
Objetivo I: Compreender o modelo de formação médica no Brasil. 
Ingresso no Curso: O ingresso em cursos de Medicina no Brasil tem como pré-requisito um exame vestibular. O 
exame vestibular é uma prova que inclui todo o conhecimento acumulado em 11 anos, desde a alfabetização. Para 
se preparar os jovens recorrem a “cursinhos” preparatórios. O ambiente dos cursinhos é estressante, desgastante e 
competitivo, pois Medicina é o curso mais pleiteado em todas as instituições onde são ofertadas vagas. 
Aspectos Históricos 
 Antes dos cursos de medicina no BR, a saúde era responsabilidade pelos missionários que vieram de Portugal 
na comitiva de Tomé de Souza, que atuavam como médicos, boticários e enfermeiros. 
 O ensino médico no Brasil sofreu várias reformas e readaptações com o tempo, e constantemente busca a 
excelência técnica por meio da importação ou criação de novos modelos curriculares e metodologias de 
ensino. 
 Nos últimos anos, tem surgido uma tendência de avaliar o desempenho das escolas médicas. 
 O primeiro curso de medicina no BR foi criado em fevereiro de 1808, em Salvador, na mesma época da 
chegada da família real portuguesa e o príncipe regente da Bahia. 
 Em abril do mesmo ano foi criada a Escola de Anatomia e Cirurgia do Rio de Janeiro. O ensino da cirurgia era 
desvinculado do ensino de medicina. As escolas de cirurgia formava cirurgiões, não médicos. Foi um marco 
para o ensino superior e médico do Brasil. O curso tinha duração de 4 anos, os alunos tinham frequência 
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Fox%20GJ%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=26794678
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Orlova%20M%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=26794678
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Schurr%20E%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=26794678
obrigatória e se submetiam a exames para receberem a certidão de competência. Logo após, sob o juramento 
dos Santos Evangelhos, juravam se encarregarem da saúde pública de forma digna. 
 Em 1812 e 1815 ocorreram as primeiras reformas dessas duas escolas médicas, que passaram a ser chamadas 
de Academias Médico-Cirúrgicas. A duração do curso também foi ampliada para 05 anos. 
 Em 1822 o BR é promovido a Reino e rompe laços culturais e científicos com Portugal. Isso permite o 
surgimento dos doutores das escolas nacionais. 
 Em 1826 D. Pedro I firmou uma lei que estabelece a autonomia das escolas médicas em diplomares seus 
alunos. 
 Em 1832 as duas escolas são transformadas em Faculdades de Medicina, adotando as regras e programas da 
Escola Médica de Paris, com duração de 06 anos. 
 Houve ampliação de 05 para 14 disciplinas, e o egresso recebia o título de “Doutor em Medicina, 
Pharmacêutico e Parteiro”. O curso tinha ênfase na patologia local. 
 A cultura francesa foi muito influente no ensino médico do BR. Todos os regulamentos, métodos, programas e 
leituras eram importados daquela cultura. 
 Em 1866 métodos experimentais de investigação foram instituídos no BR. Antes disso, os médicos apenas 
aplicavam o conhecimento repassado da Europa. 
 Somente em 1879 foi permitida a matrícula de mulheres nos cursos de Medicina, sendo que a primeira 
concluiu o curso em 1887 na Bahia. 
 Em 1898 foi criada a Faculdade Livre de Medicina e Farmácia em Porto Alegre, sendo este o terceiro curso de 
Medina do país, portanto o BR no início do século 20 tinha apenas três faculdades de Medicina no País. 
 O modelo pedagógico adotado era o francês, que foi substituído pelo norte-americano no início do século. 
O Relatório Flexner 
 Em 1908, Abraham Flexner, especialista em educação superior visitou 155 escolas de Medicina nos EUA e no 
Canadá. Concluiu que apenas 05 possuíam condições de formar médicos. 
 Elaborou então um relatório e recomendou reduzir o número e melhorar a qualidade das escolas. Propôs 
também um modelo novo de curso, que foi implementado primeiramente nos EUA e logo depois no restante 
do mundo. Foi implementado no Brasil na década de 40, influenciando cursos de Medicina, Odontologia e 
Enfermagem. 
 
O curso seria dividido em: 
3– 4 semestres para conhecimento biológico (ciclo básico). 
4–6 semestres para o ensino da clínica (pediatria, ginecologia e obstetrícia, clínica médica, cirurgia e demais 
especialidades). 
2 semestres (mínimo) internato, que seria o treinamento em serviço sob supervisão dos docentes. 
 
 Flexner também implantou a residência médica, o internato e a ligação entre a faculdade de Medicina e o 
hospital, criando assim o conceito de hospital universitário para o ensino médico. 
 O relatório também teve pontos negativos: não valorizava a assistência médico-ambulatorial, nem se referia à 
função social da escola médica. O ensino era essencialmente hospitalocêntrico. 
 Hoje se sabe que 2/3 dos atendimentos médicos se resolve em ambulatório, não necessitando de 
hospitalização. 
 Um dos principais pontos que levou ao fim do modelo flexneriano foi o seu custo. O modelo dava margem 
para o médico opinar em vários diagnósticos e tratamentos, levando a uma escassez de recursos 
principalmente em países pobres e em desenvolvimento. Além disso, o modelo separava os objetos de seus 
contextos, e dividia as disciplinas que eram fragmentadas e não integradas. 
 
Outras características do Paradigma Flexneriano: 
1. Predominância de aulas teóricas, enfocando a doença e o conhecimento fragmentado em disciplinas. 
2. Processo de ensino-aprendizagem estar centrado no professor em aulas expositivas e demonstrativas. 
3. Prática desenvolvida predominantemente no hospital. 
4. Capacitação docente centrada unicamente na competência técnico-científica. 
5. Mercado de trabalho referido apenas pelo tradicional consultório, onde o médico domina os instrumentos 
diagnósticos e os encaminhamentos, e cobra seus honorários sem intervenções de terceiros. 
Esse modelo, como já foi dito, tem enfatizado as especializações precocemente, ainda na graduação, dificultando a 
formação geral dos médicos. Daí saem, com frequência, pseudo-especialistas. 
O Paradigma da Integralidade 
 Desde a década de 60, há o surgimento de novos movimentos mundiais que se opõe ao modelo individualista, 
biologicista, hospitalocêntrico e com ênfase na especialização proposto por Flexner. 
 Surgiu uma necessidade da ampliação do conceito de saúde, definido hoje como o “paradigma da 
integralidade”. A integralidade é a concepção do ser humano como um todo indivisível e inserido em um 
contexto cultural, social e familiar. 
 O processo de adoecimento para o paradigma da integralidade não pode ser desvinculado do contexto. 
O termo holístico é usado dentro do paradigma da integralidade e indica a indissociabilidade entre o ser 
biológico, o ser psicológico e o ser social. 
 
O paradigma da integralidade tem ainda como proposições: 
 O processo saúde-doença deve enfatizar mais a saúde do que a doença, priorizando a promoção, a preservação 
e a recuperação da saúde. A doença deve ser vista apenas uma um desvio, uma intercorrência na saúde que 
deve ser evitada e, quando diagnosticada, deve ser eliminada não importa o estágio evolutivoque se encontra. 
 O processo de ensino-aprendizagem deve ser voltado para o aluno, devendo este ter o papel ativo na própria 
formação. Os docentes devem ter tanto competência técnico-científica como competência didático-
pedagógica. 
 
O paradigma da integralidade visa o equilíbrio entre excelência técnica e relevância social. 
 
Objetivo II: Compreender a origem da bioética e do que se tratou o desastre de Lubeck e a pesquisa que se 
desenvolveu na cidade de Tuskegee nos Estados Unidos. 
 
Origem da bioética 
 
 Surgiu, nominalmente, no campo da Oncologia, quando o bioquímico norte-americano Van Rensselaer Potter, 
pesquisador em Oncologia, criou o neologismo bioethics, partindo de uma analogia: a de que os humanos 
estariam agindo sobre o mundo natural da mesma maneira como as células cancerígenas agem sobre o 
organismo humano. 
 A intenção do pesquisador sensibilizado pelas reivindicações do movimento ecologista sobre a qualidade da 
vida, era a de indicar uma nova disciplina (um novo campo interdisciplinar), que indicara pela metáfora de 
"ponte para o futuro", que chamou de "ciência da sobrevivência humana" e que deveria situar-se na interface 
entre os "fatos" das ciências biológicas, amplamente entendidas, e "os valores" das ciências humanas. 
 No entanto, a concepção de Potter ficou minoritária no panorama das várias concepções existentes durante 
praticamente duas décadas (anos 70-80). Durante este período só teve uma certa influência na assim chamada 
ética ambiental (considerada por muitos pesquisadores como distinta e diferente da bioética), voltando a 
ocupar um papel importante no cenário bioético mundial na época do IV Congresso Mundial da IAB no Japão 
(1998), quando a bioética já vinha se preocupando com as implicações morais da Globalização. 
 Não ficava claro como articular cultura científica e cultura humanista, ou seja, como produzir uma ferramenta 
coerente e consistente para analisar conflitos e prescrever comportamentos corretos em âmbitos tão diferentes 
como o encontro clínico, as políticas sanitárias, a pesquisa com seres humanos, a pesquisa com animais não 
humanos, a engenharia genética, as intervenções no ambiente. 
 Por isso, durante os anos 70- 80 surgiram e se afirmaram várias concepções concorrentes. Nos EUA e, em 
geral, nos países de língua inglesa: aquela majoritária e conhecida como principialismo: a ética prática, de 
inspiração utilitarista, a reatualização da tradicional casuística, e ética das virtudes, o libertarianismo, a ética 
dos cuidados, o comunitarismo, dentre outras correntes. Na Europa: o personalismo (sobretudo na área de 
língua francesa), a hermenêutica, a ética narrativa e a ética discursiva de língua alemã, dentre outras. 
 Anos 80: Surge no BR a bioética. Por ser uma "bioética tardia", goza de uma relativa liberdade com relação 
às várias tradições existentes no mercado internacional. No começo, se divide entre os defensores da corrente 
principialista norte-americana e aquela que podemos chamar de "bioética da saúde pública", que é uma 
tentativa de construir um corpus conceitual específico, adaptado à situação sanitária brasileira. 
 Anos 90: A bioética brasileira integra as várias correntes da bioética mundial, desenvolve-se sobretudo graças 
à criação, em 1996, do sistema CONEP-CEP, num típico processo criativo de "antropofagia cultural". 
 Anos 2000: Sempre continuando a coexistirem as referências às várias tendências mundiais, acrescentam-se 
duas novas tendências, originadas sobretudo pela reflexão sobre a saúde pública: uma bioética de intervenção 
social, chamada pelo seu formulador Volnei Garrafa de "bioética dura" e uma "bioética da proteção", 
desenvolvida, conjuntamente, pelo escrevente e o bioeticista chileno Miguel Kottow. 
 
Desastre de Lubeck 
 A partir de dezembro de 1929, o Hospital Geral de Lübeck embarcou em uma campanha para prevenir a 
tuberculose. Todos os RNs receberam a nova vacina BCG viva disponível (cepa 374) nos primeiros 10 dias de 
vida, embora nem todos os pais tenham aceitado a vacinação. 
 Infelizmente, frascos de vacina foram inadvertidamente contaminados com M. tuberculose vivo em 
proporções desconhecidas. 
 A fonte de contaminação era uma estirpe facilmente identificável, incomum de M . tuberculose (estirpe Kiel) 
que foi cultivada no laboratório de preparação de vacinas. 
 Nos 4 meses seguintes, 251 dos 412 RNs receberam uma vacina contaminada. 
 Para preparação do lote de vacina, o BCG foi cultivado por 14 dias em ágar nutriente de ovo, coletado em uma 
solução de glicerol-glicose e ajustado para o conteúdo bacteriano desejado por determinação da densidade. 
 Um total de 3 alíquotas, cada uma correspondendo a 2ml, foram embaladas para cada criança. Mais 
comumente, o estoque de vacina para um dado dia de vacinação foi obtido a partir de conjuntos de 2-4 culturas 
de agar colhidas. 
 Para a adm da vacina, os frascos foram agitados e as emulsões bacterianas ressuspensas foram adicionadas a 
uma colher de leite materno quente. Cada dose continha o equivalente a 10 microgramas de uma cultura 
bacteriana sólida. 
 A adm recomendada da vacina envolveu 3 doses orais separadas da emulsão bacteriana, a serem adm durante 
os primeiros 10 dias de vida. Cada dose foi separada por 2 dias a partir da inoculação seguinte, implicando que 
a 1º dose foi recebida o mais tardar no 6º dia de vida. 
 A vacina foi adm por mães, parteiras ou equipe de enfermagem do hospital usando uma colher de 
remédio. Ocasionalmente, se as crianças não ingerissem a vacina, seus narizes eram mantidos até serem 
engolidos. 
 O relatório do Dr. Moegling indicou que todos, exceto 14 crianças, receberam as 3 doses prescritas. Algumas 
crianças vomitaram ou experimentaram diarreia logo após a ingestão e/ou até uma 1 após a vacinação. 
 Após extensas entrevistas com os cuidadores, Moegling concluiu que, embora houvesse desvios do protocolo 
recomendado (ex. excesso de líquido, aquecimento da preparação, uso de água ou leite diluído em vez de leite 
materno), tais desvios eram a exceção e não impacto as principais conclusões alcançadas em seu relatório. 
 Nos 3 meses seguintes, um número substancial de bebês começou a morrer e uma investigação de saúde 
pública foi iniciada. 
 Autorradiografias foram conduzidas em um total de 228 crianças, enquanto testes cutâneos de tuberculina 
(TST) foram realizados em 212 crianças como parte de suas avaliações clínicas. 
 As crianças sobreviventes foram acompanhadas de perto até 1933, 2 anos após o início do surto, uma vez que 
ainda não havia tto antibiótico para tratar a doença. 
 A radiografia abdominal foi realizada em crianças sobreviventes em 1932-33 para registrar a presença de 
calcificação do linfonodo mesentérico, um sinal de TB mesentérica. 
 Para crianças falecidas, foi realizada uma autópsia. As mortes foram classificadas pelos patologistas como 
estando relacionadas à TB ou devido à outra causa. O status socioeconômico de cada bebê também foi 
determinado, com base em um questionário aplicado aos pais. 
 
Pesquisa na cidade de Tukesgee 
 
 O Estudo da sífilis não tratada de Tuskegee foi um ensaio clínico levado a cabo pelo Serviço Público de Saúde 
dos Estados Unidos em Tuskegee, Alabama entre 1932-72, no qual 399 sifilíticos afro-americanos pobres e 
analfabetos, e mais 201 indivíduos saudáveis para comparação, foram usados como cobaias na observação da 
progressão natural da sífilis sem medicamentos. 
 Não foi dito aos participantes do estudo que eles tinham sífilis, nem dos efeitos desta patologia, e eles não 
deram consentimento informado, tendo-lhes sido dito que tinham “mau sangue” e que se participassem 
receberiam tto médico gratuito, transporte para a clínica, refeições e a cobertura das despesas de funeral. 
 O estudo não tinha relação com tto. Não foram testadas novas drogas, nem foi feito qualquer esforço para 
estabelecer a eficácia das velhas formas de tto. Foi

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