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Fichamento (DA MATTA, R Carnavais, Malandros e Heróis por uma)

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Disciplina: Organizações e Sociedade Administração
	Turma: Administração (Noturno)
	Prof. Carolina Cadima
	Alunos: Willian Lincoln E.R. Ferreira (12011ADM254)
 Jorge Akira Miwa Junior (12011ADM202)
	Atividade 4: Fichamento (DAMATTA, R. Carnavais, Malandros e Heróis: por uma sociologia do dilema brasileiro. Cap. Você sabe com quem está falando? Um ensaio sobre a distinção entre indivíduo e pessoa no Brasil.)
DA MATTA, R. Carnavais, Malandros e Heróis: por uma sociologia do dilema brasileiro. Capitulo. “Você sabe com quem está falando? – Um ensaio sobre a Distinção entre Individuo e Pessoa no Brasil”.
Podemos observar no Brasil, que apesar de ser uma nação colonial, periférica e dependente, bastante marcada pela existência de muitos conflitos, há instituições que procuram eliminar a existência de tais conflitos, como exemplo o futebol e o carnaval em que, de certa forma se anula e existência desses conflitos. A expressão “sabe com quem você está falando?” no texto, expressa justamente o contrário, sendo um rito autoritário, que indica a existência de classes sociais organizadas hierarquicamente. Por isso pode se dizer que a expressão: “sabe com quem você está falando?” é presente nas entrelinhas dos conflitos sociais.
Esta expressão revela a “preocupação com a posição social e a consciência de todas as regras relativas à manutenção, perda ou ameaça dessa posição”. A expressão é utilizada quando a pessoa sente sua autoridade ameaçada, deseja impor o seu poder, percebe de forma inconsciente ou consciente a possibilidade de inferiorizar o outro quanto ao seu status social, for fraca ou que sofre de complexo de inferioridade, ou quando o outro é percebido como ameaça ao cargo que ocupa. 
 Há a necessidade de discutir sobre nossas relações pessoais dentro do país, analisando-as e fazendo comparações. O autor então, utilizando-se de uma pesquisa por ele realizada, através de entrevistas com diversas pessoas de diferentes classes sociais, idades e “tribos”, conclui que o brasileiro não se define como indivíduo, mas sim como pessoa, sempre vigorando a troca de interesses.
 É visto que tal rito, o qual todos vivenciam hora ou outra, implica na distinção social. O uso dessa expressão simboliza a moral e os bons costumes, ao contrário de ser alguém que quebra a lei ou é imoral com outros. Contudo, ao contrário das datas comemorativas ou de eventos periódicos da cultura brasileira, este pode ser usado a qualquer momento. Apesar de comum e profundamente difundido na cultura nacional, seu uso é condenado ao se passar isso para as crianças, como parte do mundo externo a moradia familiar.
 Um outro lado dessa parte da cultura brasileira, é a contradição. É da sociedade brasileira evitar criar conflitos, na realidade, é contra eles. Entretanto, o uso do “você sabe com quem está falando?” é um criador de conflito e de ato autoritário em seu meio. Apesar disso, há o enfrentamento de tais situações que deixam em crise o país. A adoção de comportamentos civilizados que ignoram o enfrentamento dos problemas apenas contribui para a manutenção de um sistema de dominação utilizado por todos, tanto pela classe dominante quanto a dominada, mas os quais possuem diferentes papéis. Sendo assim, é necessária uma análise minuciosa do “você sabe com quem está falando?” para um melhor entendimento desse sistema.
Da Matta destaca uma estrutura social com base na intimidade social, em que as classes sociais se comunicam por meio de relações entrecortadas que acabam embaraçando os conflitos e o sistema de diferenciação social e política com bases econômicas. O eixo econômico é sobreposto por uma classificação de caráter moral. A forma de classificação complexificada pelos múltiplos eixos, além da compensação e complementariedade dos extremos da hierarquia social, permite também a diferenciação continua e sistêmica de iguais. Portanto, todos têm o direito de utilizar o “você sabe com quem está falando?”.
 Essa frase, remetendo a hierarquia social, causa constrangimento a todos ao redor, pois simboliza que essa ordem foi “quebrada”. Claro, em um mundo em que há a necessidade de se manter a harmonia, a geração de conflitos é malvista e por isso, é precisa a consideração como ideia básica para as relações. Ao invés de se mostrar como crise, vira uma revolta e precisa ser resolvida como tal, por isso deve ser resolvido pessoalmente assim como um fazendeiro cruel e um explorador, a culpa não é das condições ou sistema que levaram o fazendeiro a ser cruel, mas dele mesmo.
Para se resolver isso, é algo complexo, pois é algo que se assemelha muito ao racismo ou autoritarismo, fenômenos ocorridos devido ao poder da classe dominante. Devido a isso, é necessário um sistema para a sua manutenção, além do mais, apesar de todos na sociedade saberem de sua existência, não o reconhecem ou até mesmo recusam-se a falar sobre, sendo uma característica, que mostra a contradição da população.
 Contudo, é possível achar meios de se combater esse rito tão profundo no país. Pois consegue-se identificar paradoxos enraizados na sociedade brasileira. Do universal e cordial ao particular e hierarquizado, assim apresenta-se a sociedade. Dito isso, chega-se a algumas conclusões e meios de combater tal prática. Primeiramente, é preciso separar a regra e a realidade, e por segundo, o destaque das ideias opostas da nação brasileira. O uso do “você sabe com quem está falando?” varia dependendo das situações, mas é possível identificar gatilhos para que ocorra. Geralmente ocorre quando a pessoa procura exercer sua autoridade ao senti-la diminuída ou deseja impô-la. Também quando quem a diz deseja diminuir quem está a sua frente ou possui complexo de inferioridade.
 Disso, pode-se retirar a ideia de consciência de posição social, como se fosse “cada macaco no seu galho”. Isso, representa a distinção social em nossa população e o convívio baseado nas regras da classe dominante. Com isso, pode-se dizer que se evita cometer atos que vão na direção contrária a essas regras. Assim como a Europa no século XIX, é das pessoas a aversão ao constrangimento no meio social. Há outras ocasiões em que o emprego da expressão não chega a um consenso, como podemos exemplificar, as crianças e pessoas de classe mais baixa não podem utiliza-la, mas perante alguém de classe social indefinida ou não aparente, é possível utilizá-la. Um outro uso identificado é quando se aplica a autoridade ao relacionar-se com alguém de alta posição social, como o motorista de um ministro ou a doméstica da casa de um coronel.
 Assim sendo, explica muitos usos da expressão por meio da associação de uma figura importante, “aumentando” a autoridade de seus subordinados sobre outras pessoas. Nesses casos, o que interessa é o potencial de ascensão social dessas pessoas e não, necessariamente seu próprio “poder”. Ademais, outra aplicação dessa expressão pode ser dada por mulheres ao serem desrespeitadas por homens que estejam a cortejando indevidamente, livrando-se assim do assediador ou encerrar problemas que estejam tendo.
 Esse sistema no qual baseia-se o “você sabe com quem está falando?” tem como principal pilar as relações de trabalho. Sendo uma forma de organização social em que os indivíduos estão sempre em contato um com o outro, parte das crises são escondidas. Dessa forma, a sociedade divide-se em chefes bons ou maus, alegres ou não, podendo considerar os que trabalham para ele ou não também e os empregados, por sua vez são limpos ou sujos.
Os indivíduos no Brasil são substantivamente dominados pelos papéis que desempenham do que por uma identidade geral, regrada pelas leis gerais resultado de um sistema fundado no respeito, na honra, no favor e na consideração em contraposição ao eixo econômico e da legislação que são mecanismos universalizantes. Os medalhões são exemplos do sistema citado. São personagens em que as qualidades morais de um determinado domínio social se cristalizam na pessoa, capazes de transcender as regras que constrangem as pessoas normais daquelaclasse social.
 Sendo a sociedade brasileira complexa em seu sistema, é nítida a presença de qualidades inegáveis. Apesar disso, o que prevalece é a diferenciação provinda entre os extremos da estrutura hierárquica. Com isso, é explicitada a contradição e um dos principais problemas da sociedade. De um lado, prega-se a igualdade e universalidade a todos e por outro, diferenciam-se os indivíduos com base em seu status social. Todos que contrariam as regras e imposições hierárquicas são considerados como rebeldes. Um exemplo disso, é um corpo estudantil que permanece em greve mesmo com as demandas de outras entidades ditas superiores.
 No Brasil, ainda reinam as corporações de trabalho e entidades religiosas em hierarquia, mas com a intensificação do capitalismo, essas estruturas tendem a ser mais horizontalizadas. Em contraposição, ainda perdura o uso do “você sabe com quem está falando?” principalmente quando autoridades o usam para o mantimento das estruturas sociais. Com isso, é possível ver a quebra da lei constitucional para a implicação da lei social em que cada indivíduo deve estar em seu lugar.
 Há outras frases que se assemelham muito ao “você sabe com quem está falando?”. Isso se dá principalmente pois, ao se questionar alguém, se assume uma posição de superioridade que exige uma resposta, sendo a outra parte imbuída de respondê-la. Esse fenômeno faz com que a pessoa que foi perguntada evite dizer coisas como “não sei” a fim de que evite se demonstrar ignorante, ao contrário do povo americano que ao não saber de algo afirma o mesmo, como disse Érico Veríssimo em suas observações.
 De nossa passividade nessas questões, é certo afirmar que vem do convívio familiar e escolar do indivíduo. Por isso há o choque cultural quando brasileiros vão ao exterior. Nesses países, o questionamento é algo natural a ser feito. Entretanto, há perguntas semelhantes as nossas. Um exemplo disso é “Quem você pensa que é?”. Ao contrário da brasileira, a expressão americana procura diminuir o indivíduo questionado ao invés de exaltar quem pergunta. Érico Veríssimo ainda diz que independente de sua posição social, os americanos respeitam a constituição de seu país. Um exemplo disso é no mundo militar em que, mesmo que um soldado chegue antes de um capitão, a ordem de chegada será respeitada pela igualdade de todos perante a lei. Em resumo, é dito que o brasileiro e o americano se diferenciam na maneira de viver. Enquanto o americano segue as leis gerais, o brasileiro prense-se aos papéis sociais.
 O “você sabe com quem está falando?” além de já estar há muito tempo no vocabulário nacional, é uma nova forma de mostrar a superioridade social que antes era dada pelos brancos, suas bengalas e bigodes, como disse Gilberto Freyre. Além disso, uma explicação para a sua aplicação na realidade consiste na falta de entendimento da posição social dos indivíduos, a qual lugar pertencem nessa hierarquia, sendo uma maneira de manter ela.
 Ademais, até hoje tal aspecto persiste, tendo a classe dominante uma certa posição em que sua classe social pode estar acima da lei. Freyre diz que os brasileiros de época se assemelhavam aos hindus no sentido de que suas vestimentas eram parecidas. Por conta disso, surge a “teoria do corpo”. Dela, há dois pontos principais do racismo brasileiro, uma é do poder social da classe branca privilegiada em que há a inferiorização da população negra; e a outra é da miscigenação, que é um resultado do embranquecimento da população. Enquanto nos Estados Unidos a questão racial dava-se no âmbito da lei geral, no Brasil era pelas relações sociais. Sendo assim, na sociedade brasileira essa discussão foi levada até as áreas internas do sistema, o corpo e a casa. Assim, constrói-se a modernidade da moralidade e ideologia brasileira: igualitária, individual, mas hierarquizante.
 De acordo com Lima Barreto, a expressão “você sabe com quem está falando?” é, de fato, antiga. Como em livros clássicos dele, como em Estados Unidos de Bruzundanga, em que contam o sistema de títulos e hierarquias. Nele ele diz que universitários saem dos cursos mais ignorantes e presunçosos do que quando entraram, mas devem ser respeitados pois são indivíduos com estudo. Além do mais, é dito que há a presença de uma exaltação sistemática de pessoas relevantes para a sociedade e quem não é, procura estar nesta classe social de pessoas importantes, mesmo que fictícia, igual na vida real.
 Ademais, Lima Barreto explica que observa há dois tipos de classe dominante, a doutoral e de palpite. A doutoral é a formal, que vem do sistema e está nele como os doutores de medicina ou direito. Já os de palpite seria a burguesia, comerciantes que são ricos, mas não possuem esses títulos que os hierarquizam. Em outros países como França ou Estados Unidos, isso é o suficiente, mas no Brasil se faz necessidade de se possuir algum título para ser devidamente respeitado. Dessa forma, esses novos doutores substituem a antiga nobreza nas classes sociais superiores.
 Assim de Machado de Assis em “Teoria do Medalhão”, é visto que se trata de uma alusão a hierarquia social. Na obra, para se obter sucesso é preciso se tornar um medalhão. O medalhão é basicamente uma solidificação das ditas qualidades da pessoa, trazendo algumas expressões que as exaltam, como: de boa gente ou de medalhões. Apesar de simbolizar a classe dominante, é possível ver seu uso nas mais diversas estruturas sociais ou locais, podendo fazer referência a pessoas nos topos dos congressos ou das favelas. Chamados de VIP’s também, são figuras de destaque em seu meio, principalmente em uma sociedade hierarquizada. Consideradas famosas, são indivíduos que possuem relevância no âmbito local ou até nacional. Isso pode possibilitar a um jovem negro tratamento especial por ser filho de alguém importante, como o filho do Pelé.
 Érico Veríssimo diz que se incomoda com o “você sabe com quem está falando?”, pois a maioria que diz isso são homens arrogantes e prepotentes em qualificações técnicas que poderiam suportar tal atitude. Enquanto os mais capazes agem de maneira humilde e discreta. Assim, concluindo que a o poder econômico, a posição social e as relações sociais. O “você sabe com quem está falando?” é também, uma forma de drama social. Isso é dado pelo fato de que quem vê, enxerga como forma de dramatização de uma situação. De acordo com Turner, isso é considerado um drama pois é algo que interrompe o ritmo do dia a dia. O processo de observação do fenômeno de conflito é dado por experiencias empíricas, ou seja, realizadas fisicamente.
 Desse conflito, é possível ver que há o envolvimento de duas partes, em que há a exaltação e alteração da parte em que se tenta exercer autoridade e as regras de convívio social são perturbadas assim como um “Deus me livre”, em decorrência de situações extraordinárias. Alguns exemplos disso seriam: a procura por vagas em um estacionamento, a fila de espera em um banco ou até mesmo para proteger alguém de um assédio. 
 Além do mais, é necessário considerar a posição social dos indivíduos, como um anônimo e uma figura pública. O que a causa é o descobrimento sobre a identidade da outra parte, em que a parte ofendida exerce sua autoridade, como membros das Forças Armadas, por exemplo. Dessa forma, a atualização dessa situação é dada pela identidade social e não pelas leis gerais. Outro ponto importante a ser ressaltado é a situação em que ambas as partes não participam da classe dominante, sendo assim um anonimato duplo. Para se resolver um conflito entre, motoristas, por exemplos, busca-se a superioridade sobre o outro na situação, sem usar fatores externos. Nesse aspecto, essa violência ela é dada justamente pela igualdade de homens livres iguais, ao invés de possui uma diferencia de status na sociedade.
 Uma outra causa para este último citado, seria o paradoxo dos valores dos indivíduos. De um lado há a igualdade e liberdade, mas do outro há a hierarquização; fazendo com que haja a dualidade dessas virtudes, levando ao conflito.Dessa forma, é correto afirmar que o “você sabe com quem está falando?” está associado a violência. Pois é de sua natureza a divisão dos papéis nessas situações. Outra característica dessa expressão, associada a dramatização, é a de revelar-se a identidade social. Dessa forma, com o drama após dizer a frase, é falada a posição social do indivíduo e, para se autenticar e dar mais autoridade, pode-se revelar um documento que comprova. Atribuindo a qualidade de ser uma pessoa completa, esse ato transforma o indivíduo que antes era um cidadão para uma figura importante, como um político ou doutor. Isso se dá, muitas vezes, ao fato de que essas figuras da classe dominante estarem distante dos locais em que vivem, conferindo um certo anonimato a elas.
 É visto que ao contrário de um conto de fadas, em que uma boa ação revela a identidade, o “você sabe com quem está falando?” é uma ação prejudicial acaba por revelar a identidade de um indivíduo. Tendo assim, uma superioridade pois surgiu de uma situação de violência. Dito isso, torna-se necessário confiar em pessoas, visto que muitas vezes se sobrepõem a leis universais. Ademais, o cuidado é essencial em que é preciso ser tomado para não se deparar em situações como do “você sabe com quem está falando?”.
 Ademais, um dito quinto aspecto disso é a oposição de duas éticas: a burocrática e a pessoal. A burocrática, por sua vez, é sobre a universalização das leis, regras e normas e sua aplicação de maneira racional. Enquanto a pessoal na qual reina a complexidade das relações interpessoais e sua aplicabilidade de forma seletiva e subjetiva. Concluindo-se assim que, para aqueles com o qual não se tem proximidade, vale a lei geral e racional em oposição ao tratamento com conhecidos, em que a ética pessoal e a tomada das decisões são feitas de maneira seletiva e subjetiva.
 Esse último citado, possui um outro uso que poderia ser a chamada da lei para uma situação em que ela não está presente. Através da autoridade de alguém que possui relações com o governo é possível utilizar o “você sabe com quem está falando?” para usar as leis universais, um resultado que muitas vezes se vê o contrário dele. Contudo, dessa mesma forma pode-se dizer que o indivíduo que a evoca, está se colocando acima da mesma, assim como um oficial militar em alguma discussão em que a lei geral não se faz presente.
 Por fim, pode-se afirmar que há dois lados que se diferem. De um, existe a pessoalidade e o perfilamento do indivíduo até sua biografia e do outro, a imposição das leis universais e da repressão, em que as regras burocráticas devem ser seguidas. Geralmente, quando confrontado por essas situações, prioriza-se o uso da individualidade, ao invés das leis burocráticas.
 As considerações feitas anteriormente sugerem alguns pontos importantes, como: as oposições entre pessoal e o impessoal, público e privado, anônimo e conhecido, universal e biográfico. Sendo que, tudo nos conduz a descoberta de que, no sistema brasileiro, é básica a distinção entre o indivíduo e a pessoa como duas formas de conceber o universo social e de nele agir. E, realmente, os casos de “sabe com quem está falando?”, parecem indicar que o ritmo de autoridade expressa uma tentativa de transformação, da universalidade legal para o mundo das relações concretas e pessoais. No caso Brasileiro, tudo indica que a expressão permite passar de um estado a outro: do anonimato (que revela a igualdade e o individualismo) a uma posição bem definida e conhecida (que expressa a hierarquia e a personalização), de uma situação ambígua e, em princípio igualitária, a uma situação hierarquizada, onde uma pessoa deve ter precedência sobre a outra. 
 A ideia de indivíduo recebeu duas elaborações distintas. Numa delas, a ocidental, que se apesenta mais individualizante, dando-se ênfase ao “eu individual”, repositório de sentimentos, emoções, liberdade, espaço interno, capaz portanto de pretender a liberdade e a igualdade, sendo a solidão e o amor dois de seus traços básicos, e o poder de optar escolher, um de seus direitos mais fundamentais. A outra vertente desenvolvida, não é mais a da igualdade paralela de todos, mas da complementariedade de cada um para formar uma totalidade que só pode ser constituída quando se tem todas as partes. Em vez de termos a sociedade contida no indivíduo, temos o indivíduo contido e imerso na sociedade. Sendo essa ideia que caracteriza a noção de pessoa como elemento básico por meio do qual se cristalizam relações essenciais e complementares do universo social.
 A noção de pessoa pode ser então, caracterizada como uma vertente coletiva da individualidade, uma máscara colocada em cima do indivíduo que desse modo se transforma em ser social. Mauss vê como a nova forma de organização social e política, e o indivíduo, a concomitância da nação.
 Em termos da dialética do indivíduo e da pessoa, temos um universo formado de um pequeno número de pessoas, hierarquizado, comandando a vida e o destino de uma multidão de indivíduos, esses que devem obedecer a lei. O mundo se divide, então, numa camada de personalidades, autoridades e “homens bons” que fazem a lei. Num polo temos as sociedades dos “donos do poder”, noutro, um projeto da nação burguesa e capitalista. Nos Estados Unidos, a realidade é, para Amoroso Lima, formada de indivíduos, ao passo de que no Brasil a unidade social é a pessoa. Nem lá nem cá desaparecem o indivíduo ou a pessoa. Apenas se balançou o sistema de modo diverso.
A partir do conceito de drama social de Vitor Turner, Da Matta exemplifica a forma como se dá o rito do “você sabe com quem está falando?” Num primeiro momento o indivíduo se apresenta como indivíduo anônimo, sujeito às regras universais. O “sabe como quem está falando?” aparece no drama social como um ritual de reforço, em que os atores tomam consciência das diferenças presente nas rotinas sociais uma relação de desigualdade, em que se revela a identidade social. O “sabe com quem está falando?” é, de fato, um rito autoritário que “expressa uma tentativa de transformação drástica, da universalidade legal para o mundo das relações concretas, pessoais e bibliográficas”.
Da Matta faz distinção entre indivíduo e pessoa e traz a noção de que o indivíduo prevê a liberdade e a igualdade, privilegiando as particularidades de sentimentos, de escolhas, e de consciência. É o indivíduo que faz as regras do mundo em que vive, numa relação sem mediadores com o todo. Já a pessoa é presa a totalidade, numa relação de complementariedade, lhe privando das escolhas. A pessoa é definida pelo meio social, tanto nas relações quanto na consciência. A pessoa é quem recebe as regras do mundo em que vive, onde a segmentação é norma. Ne entanto, indivíduo e pessoa se encontram numa relação dialética, tendo sistemas que privilegiam o indivíduo enquanto outras privilegiam a pessoa.
 No Brasil, “as leis só se aplicam aos indivíduos e nunca às pessoas”. Numa “sociedade em que o conflito e o interesse dos diversos grupos podem se transforma num instrumento de aprisionamento da massa que deve seguir a lei, sabendo que existem pessoas bem relacionadas que nunca obedecem”. Esse é o dilema apontado pelo autor, em que as regras universalizadas que deveriam suprimir as desigualdades acabam legitimando-as, em que as leis tornam o sistema de relações pessoais mais solidários, operativos e preparados para superar a autoridade impessoal da regra.
 Sintetizando o que foi dito anteriormente, o principal ponto que o autor analisa é sobre a forma dual que o indivíduo age em casa e na rua, pois há interferência entre uma e outra, assim como o Estado “invade” o campo tido como casa, a rua é invadida pelas relações pessoais, que é quando o indivíduo age como pessoa. E é neste ponto que a expressão “você sabe com quem está falando?” entra em uso comumente. Pois há uma necessidade na cultura brasileira de hierarquia, ou seja, precisamos mostrar que somos superiores ao outro, tal atitude subverte a hierarquia tanto na rua quanto em casa, pois de fato a nossasociedade constituiu­se de forma hierarquizada.
Por fim, o autor nos faz ver que a igualdade no Brasil de fato não existe, pois há uma necessidade de sempre pôr o outro “no seu lugar”, sendo a famosa expressão “você sabe com quem está falando?” a exteriorização disso, e prova que de fato a pessoa acaba se sobressaindo ao indivíduo.

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