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ANÁLISE DO CASO FEBRÔNIO ÍNDIO DO BRASIL - EM GRUPO

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO VALE DO IPOJUCA – UNIFAVIP
Curso de Direito
Disciplina: Psicologia Jurídica 
Professor: Ricardo Rodrigues
ANÁLISE JURÍDICA DO CASO DE FEBRÔNIO INDIO DO BRASIL
ALUNAS: 
Aayann Christyne Pinho Tomé – 201751137848
Cleovanny Barboza Cavalcante de Sousa – *****
Hemilly Maria Oliveira de Souza – 201651309957
Maria Palloma Calumby Andrade – 201651233853 
Febrônio Índio do Brasil, tido como paciente nº 000001 do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, foi levado para a Casa de Detenção, aos 32 anos de idade, após ser indiciado como suspeito de estupro e homicídio de dois menores: Alamiro José Ribeiro (17 de agosto de 1927) e de João Ferreira (desaparecido em 29 de agosto do mesmo ano). Inicialmente o indiciado foi configurado como réu confesso, ao passo que teria admitido ser autor dos delitos, tendo Febrônio atribuído aos atos como parte da missão que teria recebido de uma 
“Dama Loura” e que consta em seu livro Revelações do Príncipe do Fogo, sendo incumbido de marcar jovens com as letras D.C.V.X.V.I , símbolo do Deus Vivo. 
A história de Febrônio é marcada por pequenos delitos e devaneios psíquicos, até os marcos de morte dos meninos acima citados. O caso tomou grande proporção pelo entorno das histórias que eram contadas para atrair as vítimas e pelo discurso defendido de que tudo faria parte de uma missão divina somada a narrativa da imprensa sobre o complexo caso, nos anos de 1920 e 1930. Aspectos que acaloraram os debates entre conhecimentos médicos, psíquicos e jurídicos. 
Pela época dos fatos, aqueles que apresentassem sintomas de loucura iam para Manicômios Judiciários, para cumprimento das sentenças, de forma a permanecerem internos para tratamento. O grande questionamento do caso se dá partindo do pressuposto de que para existência de crime se faz necessária a junção de fato típico, antijurídico e praticado por sujeito capaz de ser culpável, o que gerou discussão entre médicos e juristas. 
Imperioso explicar quem são os tidos como inimputáveis pelo Título III, art. 26 e seguintes do atual Código Penal vigente, datado de 1940, após toda discussão quanto a condenação dos portadores de disfunções mentais ter se desenvolvido. 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.         (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)							Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.        (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
	O jurista responsável pela defesa de Febrônio foi Letácio Jansen que buscou comprovar a loucura para que os crimes fossem atenuados, caso confirmados, uma vez que não caberia responsabilizá-lo pela ausência das faculdades mentais que geram o desconhecimento do ato como crime. Tendo sido o laudo médico elaborado pelo psiquiatra Heitor Carrilho, concluindo pela presença de psicopatia na forma de loucura e segundo Claudius Viana, do Canal e Ciências Criminais, atribuindo detalhadamente como: “ portador de uma psicopatia constitucional caracterizada por desvios éticos, revestindo a forma de loucura moral e perversões instintivas, expressas no homossexualismo com impulsões sádicas, estado esse a que se juntam ideias delirantes de imaginação, de caráter místico;”
O debate era fortemente marcado por vestígios de antecedentes criminais levantados pelos juristas e de aspectos marcantes de insanidade mental por parte dos psiquiatras. Pelo que diz a Revista Maracanan (2020, pg. 214) a justiça criminal analisava as características do crime, agravantes, testemunhas, antecedentes criminais, nível de periculosidade entre outros, já a medicina mental utilizava de saber cientifico e sintomas que justificassem as ações. O desenrolar do processo instaurado conferiu a Febrônio a permanência por 57 anos encarcerado, no Manicômio Judiciário estabelecido no Hospital Central do Complexo penitenciário do Rio de Janeiro. 
Fazendo uma análise jurídica do caso, foi de suma importância a análise feita sobre o caso de Febrônio, uma vez que além dos traços de personalidade foi visto que a neurose e os delírios eram tão fortes que as ações eram tidas como obediência a missão que foi dada a ele. Necessário o laudo médico para que a manifestação psicopatológica seja confirmada e não seja conferido um tratamento “comum” aqueles que não tem consciência do que fazem, devendo a justiça os tratar de forma específica ofertando tratamento em local adequado, na época sendo o manicômio judiciário. 
O caso abriu e abre até hoje um leque de questionamentos, inclusive pela fase histórica que se deu, pela discussão psico - jurídica que envolveu e por ter Febrônio passado inclusive do período de pena privativa de liberdade existente no sistema prisional brasileiro que há época do fato era de 30 anos, tendo sido o art. 75 do código penal modificado pela Lei 13.964/19 e não podendo ultrapassar, atualmente, do marco de 40 anos. A lacuna se dá uma vez que, para os presos-pacientes, detentores de psicopatias, não há um prazo pré-estabelecido, o que pode acarretar, assim como foi com Febrônio, no encarceramento perpétuo, marcado muitas vezes por torturas, maus tratos, sem tratamento individualizado e necessário, vivendo sob efeitos de medicamentos fortes e que caem no esquecimento de familiares e do Estado. 
As críticas feitas aos manicômios judiciários ainda são constantes nos dias atuais, tendo, no Brasil, dois marcos que embora antigos, ainda não trazem tantos resultados diferentes do que se tinham há época do caso de Febrônio. Esse ano, em 6 de Abril, a Lei 10216 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental completou 20 anos e a luta antimanicomial no Brasil completará 34 anos no próximo dia 18 de maio; e a ideologia segregacionista, violenta e sem recursos individualizados se mantém. 
Fato é que o tratamento ofertado aos que tem atitudes tipificadas como crime mas se enquadram no rol dos inimputáveis deve ser diferenciado, principalmente se evidenciado o risco que oferecem a sociedade, mas de uma forma pensada com intuito de auxiliar no tratamento das psicopatologias e respeitando o princípio da dignidade da pessoa humana, preceito constitucional. No Brasil, exemplos bem vistos são os do Programa de Atenção ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental, vinculado ao tribunal de justiça de Minas Gerais e o Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator, ligado à Secretaria de Estado de Saúde de Goiás, segundo aponta a revista Galileu.
FONTES DE PESQUISA:
https://open.spotify.com/episode/78Cb6uZbu8JjEnezUvq0SC?si=RVmn7o00Sd2vV0Sl5BBtsA&nd=1 
https://medialabufrj.net/projetos/o-paciente-00001-o-caso-febronio-indio-do-brasil/
https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/314007121/as-revelacoes-do-filho-da-luz 
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/maracanan/article/view/43190/32014
https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/05/manicomios-judiciarios-como-funcionam-e-quais-sao-os-problemas.html 
https://cbnmaringa.com.br/noticia/data-marca-luta-pelo-fim-dos-manicomios-no-brasil
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm#:~:text=LEI%20No%2010.216%2C%20DE,modelo%20assistencial%20em%20sa%C3%BAde%20mental.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm

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