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Avaliaçã� d� Hem�stasi� Introduçã� A hemostasia compreende os mecanismos que mantém a fluidez do sangue e integridade dos vasos sanguíneos, compreende três fases, a hemostasia primária, secundária e terciária ou fibrinólise. Objetivo: garantir que os mecanismos de coagulação sejam ativados quando ocorrer a lesão. A deficiência na hemostasia resulta em hemorragia e trombose intravascular. Componente� d� hem�stasi� Vas� sanguíne� Os vasos sanguíneos quando lesionados realizam vasoconstrição, para diminuir a perda de sangue e liberam colágeno subendotelial, importante fator ativador de plaquetas. Obs: desordens vasculares podem acontecer por problemas genéticos (raro), inflamação, neoplasia e doenças autoimunes. Plaqueta� As plaquetas são fragmentos do citoplasma dos megacariócitos liberados na corrente sanguínea. Sua produção é controlada pelos hormônios eritropoietina e trombopoetina, após estímulo, a contagem de plaquetas aumenta entre três a cinco dias, com vida média de oito dias, ⅓ das plaquetas são sequestradas pelo baço. A função principal das plaquetas é a formação de um tampão plaquetário que posteriormente se transformará em coágulo, reduzindo a hemorragia e reparação tecidual. A formação do tampão plaquetário envolve: Adesão: capacidade das plaquetas se aderirem no local da lesão pela liberação do colágeno subendotelial e ativação do Fator de von Willebrand (FvW), uma glicoproteína que permite a adesão das plaquetas. Liberação:promove vasoconstrição e agregação plaquetária. Agregação: a agregação das plaquetas ocorre mediante a liberação da adenosina difosfato (ADP), cálcio e fibrinogênio, permitindo a contração dos filamentos de actina miosina das plaquetas. Obs: deficiências nestas fases podem gerar distúrbios na hemostasia. Fatore� d� coagulaçã� Existem 12 fatores de coagulação e sua grande maioria são produzidos no fígado e atuam na cascata de coagulação para converter fibrinogênio em fibrina, formando o coágulo de fibrina estável. A vitamina K é essencial para ativar os fatores II, VII, IX e X, ela atua como cofator nas reações de carboxilação, produzindo centro de ligação com o cálcio e ativando a função desses fatores de coagulação. Obs: O termo coagulopatia refere- se hemorragia excessiva provocada pela ausência ou baixa quantidade de fatores de coagulação. 1 *Os fatores de coagulação estão na Tabela 1 no final do resumo Proteína� anticoagulante� Essas proteínas atuam controlando a cascata de coagulação e inibindo a atividade excessiva das proteínas de pró-coagulantes. Quando há baixo nível de proteínas anticoagulantes em relação às pró-coagulantes ocorre trombose. A proteína anticoagulante mais importante é a antitrombina (AT), ela é ativada através da heparina que permite a ligação com a trombina, formando o complexo AT:trombina, que é removido pelos hepatócitos. Outras proteínas anticoagulantes são as proteínas C,S e aα2-macroglobulina . Mecanism�� d� hem�stasi� 1º: Lesão vascular e formação de agregado plaquetário. 2º: Ativação dos fatores de coagulação (cascata de coagulação) e formação de fibrina. 3º: Formação de plasmina através da destruição do coágulo de fibrina. Hem�stasi� Primári� Quando ocorre lesão vascular a vasoconstrição local, para diminuir o fluxo sanguíneo e consequentemente diminui a permeabilidade vascular. Com endotélio vascular comprometido a liberação do colágeno subendotelial que ativa a adesão e agregação plaquetária, formando o tampão plaquetário sobre o local da lesão. Obs: em condições fisiológicas, a substâncias que impedem a agregação plaquetária. Hem�stasi� Secundári� A cascata de coagulação envolve várias etapas sequenciais, tem como objetivo formar coágulo de fibrina através do fibrinogênio. Os fatores de coagulação são ativados principalmente pela liberação de tromboplastina tecidual pelas células endoteliais ou fibroblastos extravasculares, após isso os fatores vão se ativando em sequência e amplificando o estímulo inicial por retroalimentação/feedback. A cascata de coagulação é dividida em três vias: Vi� intrínsec�: quando a lesão da parede vascular é causada por cortes profundos, é liberado o colágeno subendotelial, que ativação e agregação plaquetárias, o fator XII e em sequência o XI, IX e VIII. Obs: é necessário a presença de cininogênio de alto peso molecular, calicreína e pré calicreína. Vi� �trínsec�: ativada pelo contato do sangue com tecidos extravasculares, ou lesão vascular, que liberam fator tecidual e também tromboplastina, que ativa o fator VII. Ambas as vias intrínseca e extrínseca convergem na via comum. Vi� comu�: Com ativação destes fatores mais a presença de cálcio e fosfolipídios plaquetários é ativada a via comum. A ativação sequencial do fator X, fator II (protrombina), fator II ativado (trombina), que converte o fibrinogênio em fibrina. O fator XIII confere estabilidade ao coágulo de fibrina, a trombina atua 2 como pró-coagulante, acelerando a velocidade da cascata de coagulação, formando mais fibrina. *A figura da cascata de coagulação estará no final do resumo. Hem�stasi� Terciári� o� Fibrinólis� A fibrinólise ocorre desde o início do processo de coagulação, ela limita este processo aos locais de lesão e reparo de feridas e impede que se torne um evento disseminado e descontrolado. Tem como principal agente a plasmina, derivado do plasminogênio, ela atua sobre a fibrina, gerando os produtos de degradação da fibrina (PDFs), que são removidos pelos macrófagos. Avaliaçã� d� pacient� co� hemorragi� Anamnes�: algumas perguntas feitas na anamnese auxiliam na abordagem do paciente com suspeita de disfunção hemostática: ● Verificou presença de hemorragia extensa no subcutâneo? ● Presença de petéquias e equimoses na pele ou mucosa do animal? ● Qual a cor da urina? ● O animal tem episódios de claudicação recorrente e esporádica? ● Qual a cor das fezes ? tem presença de sangue? ● O animal teve hemorragia em algum procedimento cirúrgico? ● O animal toma algum medicamento? se sim, qual? ● Como é o ambiente em que o animal vive? ● Quando começou a hemorragia em relação aos outros sintomas? Sinai� clínic� d� distúrbi� n� hem�tasi� 1ª: hemorragia em mucosas superficiais, presença de petéquias, epistaxe, melena e hematúria, sangramento prolongado. Sinai� clínic� d� distúrbi� n� hem�tasi� 2ª: hemartrose, equimoses extensas, hematomas sem histórico de trauma e hemorragias. Teste� hem�státic�� Avaliaçã� d� hem�tasi� 1ª Contagem das plaquetas: Trombocitopenia: Contagem total abaixo do valor de referência configuram como trombocitopenia, ela pode ocorrer por consumo, destruição ou produção ineficiente de plaquetas pela medula óssea. Trombocitose: Contagem total acima do valor de referência configuram como trombocitose, é um achado inespecífico, indica risco de trombose, geralmente está relacionado com doenças inflamatórias, deficiência de ferro, liberação de epinefrina. Métodos: coleta de amostra deve ser atraumática, para evitar a formação de agregados plaquetários, devem ser armazenados em tubo com EDTA, a contagem pode ser feita pelo método manual ou máquina, também deve ser feita a avaliação morfológica através da leitura de lâmina do esfregaço, procurando agregados plaquetários e macroplaquetas. 3 Figura 1 - Macroplaquetas (setas) Fonte: THRALL, 2015. Avaliação da medula óssea: Indicada principalmente em casos de trombocitopenia acompanhada com pancitopenia. A avaliação é feita com relação da contagem de megacariócito por espículas e adequada maturação. Em cães são consideradas três células, os megacarioblastos, megacariócitos e pró-megacariócitos, nessa espécie é considerado normal que 70-84% de megacariócitos e 16-30% de megacarioblastos e pró-megacariócitos. Achados: Megacariócitos ausentes e maturação anormal: sugere desordens na produção e destruição de megacariócitos. Megacariócitos presentes: sugere processos de consumo e destruição de plaquetas, geralmente os megacariócitos se encontram com tamanho aumentado. Obs: é contraindicado em casos de trombocitopenia severa. Teste de sangramentode mucosa oral - TMSO O teste só é útil quando a contagem de plaquetas é superior a 75.000/μL. Consiste em fazer uma pequena incisão na mucosa oral do lábio, gengiva ou plano nasal, cronometrar o tempo que leva para formação do coágulo, os valores de referência são de 1,7-4,2. Se o animal estiver com trombocitopenia, haverá prolongamento do tempo do TMSO, em casos de anormalidades na hemostasia secundária, pode haver sangramento após a formação do tampão plaquetário, devido a ausência do coágulo de fibrina. Tempo de retração de coágulo Em uma amostra de sangue em tubo vermelho, verifica-se o tempo de formação do coágulo, o valor de referência é de 4-9 minutos. Obs: os dois últimos testes avaliam a função plaquetária. Dosagem do Fator de von Willebrand Auxilia a diagnosticar a doença de Von Willebrand, disfunção plaquetária mais comum na veterinária, consiste em produção anormal do FvW, consequentemente a ativação inadequada das plaquetas no processo de coagulação. Porém é um teste de elevado custo e poucos laboratórios realizam tal exame. Anormalidades vasculares É raro ocorrer distúrbios hemostáticos em virtude de anormalidades vasculares, geralmente estão associados a processos inflamatórios e desordem imune. Essa afecção é considerada quando os níveis de plaquetas e proteínas estão normais, tempo de sangramento prolongado e hemorragia localizada. 4 Métodos: biópsia por incisão tecidual para realizar histopatológico e exame bioquímico de colágeno. Avaliaçã� d� hem�tasi� 2ª Avaliação da função hepática Como a maior parte dos fatores de coagulação são produzidos no fígado, quando este órgão está em insuficiência, pode causar distúrbios hemostáticos Método: mensuração de proteína plasmática total (PPT), mensuração de albumina, ureia, enzimas hepáticas. Avaliação da cascata de coagulação: Para a realização do TP e TTPA, as amostras devem ser armazenadas em tubos com citrato de sódio/tampa azul a 3,2 e 3,8 respectivamente, na proporção de 1:9 de anticoagulante e sangue. Tempo de protrombina (TP) Avalia a via extrínseca e a via comum. Método: adiciona na amostra a tromboplastina tecidual para ativar a cascata de coagulação, cronometrando o tempo de formação do coágulo de fibrina. Os valores de referência em segundos: Cão: 6,4 a 7,4 Gato: 7 a 11,5 Eqüino: 9,5 a 11,5 Alterações presentes nestas vias refletem em aumento do TP. Causas: deficiência do fator VII, coagulação intravascular disseminada (CID), intoxicação por cumarínico e deficiência de fator I. Tempo de Tromboplastina Parcialmente Ativada (TTPA) Avalia a via intrínseca e a via comum. Método: adiciona a amostra cefalina, cálcio e caolim, após a mistura, cronometrar o tempo de formação do coágulo de fibrina. Valores de referência de TTPa (segundos): Cão: 6 a 16 Gato: 9 a 20 Eqüino: 27 a 45 Bovino: 20 a 35. O aumento do TTPA irá acontecer quando houver menos de 30-25% da concentração dos fatores de coagulação. Causas: pacientes hemofílicos, doença de Von Willebrand, deficiência nos fator XII, intoxicação por cumarinicos e CID Avaliação dos fatores de coagulação Raramente é feita a avaliação dos fatores de coagulação, devido ao alto custo de teste e à falta de laboratórios com esse recurso. Também pode ser feita a mensuração da vitamina K Avaliaçã� d� hem�tasi� 3ª Mensuração dos Produtos de Degradação de Fibrina (PDFs) O aumento de PDFs sugere aumento da atividade de fibrinólise. Método: utiliza a aglutinação em látex por kits comerciais. Os valores de referência são: Cão: < 40μg/mL Gato: < 8μg/mL Equino: 16μg/mL. Causas: CID e hemorragias após procedimentos cirúrgicos. Fibrinogênio Além de participar da cascata de coagulação como fator I, também é 5 uma importante proteína de fase aguda. Método: amostra de sangue com EDTA a 10%, aquecimento do plasma durante três minutos em temperatura de 56-58ºC, que favorece a precipitação do fibrinogênio e para separá-lo dos demais componentes realiza a centrifugação. Faz uma primeira leitura com PPT e depois com fibrinogênio precipitado, a diferença de valores das duas leituras refere-se a concentração do fibrinogênio plasmático. Os valores de referência do fibrinogênio (g/L) são: Cão: 1-5 Gato: 0,5-3 Cavalo: 1-4 Bovinos: 2-7 Causas: geralmente o fibrinogênio está diminuído quando a CID. Font�: Anotações das aulas de patologia clínica. LOPES, S.T.A.; BIONDO, A.W.; SANTOS, A.P. Manual De Patologia Clínica Veterinária. UFSM - Universidade Federal De Santa Maria, 3. ed., 2007. 107p. STOCKHAM, S.L., SCOTT, M.A. Fundamentos de Patologia Clínica Veterinária. Ed. Guanabara Koogan, 2.ed., 2011. 744p. THRALL. A. M., Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. 6 Tabela 1 - Fatores de Coagulação Fonte: Lopes, Biondo e Santos, 2007. Figura 1 - Cascata de Coagulação Fonte: Lopes, Biondo e Santos, 2007. 7
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