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Engenharia e Desenvolvimento de Produto Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcio Nunes Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Projetar para Produzir • Introdução • O Conceito de Projetar para Produzir • O DFM da Prática • Visão Geral do DFM • Etapa 1: Estimativa dos Custos de Fabricação • Etapa 2: Reduzir os Custos dos Componentes • Etapa 3: Reduzir os Custos de Montagem • Etapa 4: Reduzir os Custos de Suporte à Produção • Etapa 5: Considerar o Impacto das Decisões do DFM sobre Outros Fatores · Dentre as tecnologias utilizadas no desenvolvimento de um produto, está o sistema DFM (Design for Manufactoring), objeto do texto desta unidade. Trata-se de uma sistemática utilizada no projeto de produtos com vistas à sua produção. A finalidade deste texto é dar ao aluno uma melhor compreensão da utilização deste sistema, suas características e implicações. Ao ler o texto desta unidade, o aluno terá condições de avaliar o quanto o DFM é importante para que o produto seja produzido em larga escala ao menor custo possível. OBJETIVO DE APRENDIZADO Projetar para Produzir Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Projetar para Produzir Contextualização Nos dias atuais, desenvolver um produto é uma arte. As exigências dos consu- midores se aguçam progressivamente, exigindo das equipes de desenvolvimento grandes esforços e uma constante evolução no conhecimento. Projetar um produ- to, fabricá-lo e colocá-lo no mercado exige um esforço contínuo de pessoas qualifi- cadas e alocações significativas de recursos, cujo objetivo é produzir produtos com qualidade e que satisfaçam as exigências dos consumidores. Desenvolver um bom produto requer, não somente muita habilidade, conheci- mento específico, acompanhamento das tendências de mercado e dedicação, mas também um conhecimento das leis que regem os fatores ambientais, que acabam influenciando os projetos. Desse modo, você, caro(a) aluno(a), deve estar afinado(a) com as tendências do mercado para compreender melhor os pormenores que cercam esta tarefa. Esperamos que você possa absorver esses conceitos na sua atuação profissional. 8 9 Introdução Nesta unidade, vamos abordar os principais conceitos e definições relativos ao projeto de um produto orientado à sua produção. Trata-se de um conceito que visa otimizar a fabricação em ampla escala e assim garantir que o preço final seja otimizado no sentido de reduzir custos. Empresas que produzem bens que exigem conhecimento muito específico e que possuem altos volumes de produção, tais como as indústrias automobilística e de componentes eletrônicos, por exemplo, utilizam-se de processos produtivos desenvolvidos exclusivamente para a obtenção de produtos de boa qualidade e com o menor custo possível. Veremos como isso é feito dentro de uma organização produtiva. Não devemos nos esquecer, obviamente, que esta teoria se aplica também a produtos não tangíveis, tais como programas para computadores e outros serviços. O Conceito de Projetar para Produzir As necessidades dos clientes e as especificações do produto são itens básicos para orientar a fase de desenvolvimento do produto. No entanto, durante as atividades de desenvolvimento posteriores, as equipes muitas vezes têm dificuldade em vincular essas necessidades e especificações com os problemas de projeto específicos que enfrentam. Por essa razão, muitas equipes praticam metodologias denominadas “Design For X” (DFX), onde X pode corresponder a uma das dezenas de critérios de qualidade, tais como confiabilidade, robustez, facilidade de manutenção, impacto ambiental ou capacidade de fabricação. A mais comum dessas metodologias é o chamado Design For Manufactoring (DFM), ou Projeto Orientado à Produção, que é de grande importância porque aborda diretamente os custos de fabricação. Vamos falar aqui especificamente sobre o DFM, mas também vamos ilustrar, de um modo geral, os princípios que se aplicam às metodologias DFX: · As decisões tomadas durante o projeto detalhado podem ter um impacto importante na qualidade e no custo final do produto. · As equipes de desenvolvimento enfrentam múltiplas e (muitas vezes) conflitantes metas. · É importante estabelecer métricas com as quais se possa comparar projetos alternativos. · Melhorias radicais exigem frequentemente esforços criativos muito grandes no início do processo. · Um método bem definido auxilia o processo de tomada de decisão. O custo de fabricação é um item determinante do sucesso econômico de um produto. Em termos simples, o sucesso econômico depende da margem de lucro obtida em cada venda do produto e de quantas unidades do produto a empresa 9 UNIDADE Projetar para Produzir irá conseguir vender. A margem de lucro é a diferença entre o preço de venda do fabricante e o custo de produção (aqui, outros encargos estão relacionados, tais como impostos, taxas alfandegárias, seguros etc. Não são considerados os custos de comercialização.). O número de unidades vendidas e o preço de venda são em grande parte determinados pela qualidade global do produto. Um projeto economicamente bem-sucedido é, portanto, voltado para garantir a mais alta qualidade do produto e, ao mesmo tempo, minimizar os custos de fabricação. O DFM é um método para alcançar este objetivo; a prática eficaz dessa metodologia conduz a baixos custos de fabricação sem sacrificar a qualidade do produto. O DFM da Prática Projetar para produzir é uma das práticas mais integradoras envolvidas no desenvolvimento de produtos. O DFM utiliza informações de vários tipos, incluindo (1) esboços, desenhos, especificações do produto e alternativas de design; (2) uma compreensão detalhada dos processos de produção e montagem; (3) estimativas dos custos de fabricação, volumes de produção e cronograma. O DFM, portanto, requer as contribuições da maioria dos membros da equipe de desenvolvimento, bem como as de peritos externos. Os principais esforços envolvidos no DFM geralmente se baseiam na experiência de engenheiros de produção, dos administradores financeiros e do pessoal da área de produção, além dos projetistas dos produtos. Muitas empresas utilizam departamentosestruturados e trabalho em equipe para facilitar a integração e o compartilhamento de visões necessários para o DFM. O DFM é realizado durante todo o processo de desenvolvimento. O DFM começa durante a fase de desenvolvimento do conceito, quando as funções e as especificações do produto estão sendo determinadas. Ao escolher um conceito de produto, o custo é quase sempre um dos critérios em que a decisão é tomada – mesmo que as estimativas de custo nesta fase sejam altamente subjetivas e aproximadas. Quando as especificações do produto são finalizadas, a equipe realiza trade-offs entre as características de desempenho desejadas. Por exemplo, a redução de peso pode aumentar os custos de fabricação. Nesse ponto, a equipe pode ter uma lista aproximada de materiais (uma lista de peças) com estimativas de custos. Durante a fase de desenvolvimento em âmbito do sistema, a equipe toma decisões sobre como dividir o produto em componentes individuais, frequentemente com base no impacto esperado dos custos e na complexidade de produção. As estimativas de custo mais precisas acontecerão na fase de desenvolvimento detalhado, quando mais decisões são direcionadas pelas preocupações de manufatura. 10 11 Visão Geral do DFM Não existe uma única diretriz para orientar o processo do DFM. Porém, na maioria das vezes, a abordagem seguinte é a mais comum e aparentemente a que produz os melhores resultados. Consiste em cinco etapas iterativas: 1. Estimar os custos de fabricação. 2. Reduzir os custos dos componentes. 3. Reduzir os custos de montagem. 4. Reduzir os custos de apoio à produção. 5. Considerar o impacto das decisões do DFM sobre outros fatores. O método DFM começa com a estimativa do custo de fabricação do produto proposto. Isso auxilia a equipe a determinar de maneira geral quais aspectos do projeto – componentes, montagem ou suporte à produção – são os mais caros. A equipe dirige sua atenção para as áreas apropriadas nas etapas subsequentes, em um processo iterativo. É comum que haja o recálculo da estimativa de custo de fabricação e da melhoria do design do produto dezenas de vezes antes que haja a concordância de que ele é bom o suficiente. Enquanto o design do produto estiver em processo de melhora, essas iterações dentro do DFM podem continuar até que a produção piloto comece. Em algum momento, o projeto é então liberado para produção e quaisquer outras modificações são consideradas “mudanças de engenharia” ou se tornam parte da próxima geração do produto. Então, reconhecendo que as estimativas precisas de custos são difíceis (se não impossíveis) de se obter, apresentamos nesta unidade alguns métodos úteis para reduzir os custos de componentes, de montagem e de suporte à produção. Vamos discutir os resultados obtidos por meio do DFM e algumas das implicações mais amplas das decisões no âmbito do DFM. Etapa 1: Estimativa dos Custos de Fabricação A Figura 1 apresenta o fluxograma de um modelo de entrada-saída simples de um sistema de manufatura. Os insumos incluem matérias-primas, componentes comprados, esforços dos funcionários, energia e equipamentos. As saídas incluem produtos acabados e resíduos. O custo de produção é a soma de todas as despesas com os insumos do sistema e para a eliminação dos resíduos produzidos pelo sistema. As empresas geralmente usam o custo unitário de fabricação como métrica para o custo de um produto, que é calculado dividindo os custos totais de fabricação por um determinado período (geralmente de três meses a um ano) pelo número de unidades do produto fabricado durante esse período. Porém, esse conceito simples nem sempre é válido, por várias questões: 11 UNIDADE Projetar para Produzir · Quais são os limites do sistema de produção? As operações de serviços de cam- po devem ser incluídas? E sobre as atividades de desenvolvimento de produtos? · Como é que consideramos o uso de equipamentos caros de propósito geral e que duram muitos anos? · Como os custos são alocados entre mais de uma linha de produtos em grandes sistemas de produção multiproduto? Sistema Produtivo InformaçãoEquipamentos Matéria - Prima Componentes Trabalho Operário Produto Acabado Transformação Mecânica SuprimentosEnergia Serviços Resíduos Figura 1 – Fluxograma de um sistema produtivo comum Essas são questões em torno das quais grande parte do campo da contabilidade gerencial é construída, e não vamos tratá-las em profundidade aqui. No entanto, estamos atentos a essas complicações, e muitas dessas questões são tratadas aqui. A Figura 2 mostra uma maneira de categorizar os elementos do custo de fabricação. No âmbito deste regime, o custo unitário de fabricação de um produto consiste basicamente de três categorias de custos: 1. Custos dos componentes: os componentes de um produto (que podemos simplesmente chamar de partes do produto) podem incluir peças padronizadas compradas de fornecedores. Exemplos desses componentes incluem motores de combustão, interruptores, farinha de trigo, chips eletrônicos e parafusos. Outros componentes são peças personalizadas, feitas de acordo com o design dos fabricantes de matérias-primas, tais como chapa de aço, barras de plástico, ou barras de alumínio. Alguns componentes personalizados são fabricados na própria fábrica do fabricante, enquanto outros podem ser produzidos por outros fornecedores de acordo com as especificações de projeto do fabricante. 2. Custos de montagem: muitos produtos são geralmente montados a partir de peças prontas. O processo de montagem quase sempre incorre em custos de mão de obra e pode também incorrer em custos de equipamento, energia, infraestrutura e ferramental. 3. Custos indiretos: chamamos de “overhead” todos os outros custos envolvidos. Consideramos útil distinguir entre dois tipos de despesas gerais: (1) 12 13 custos de suporte e (2) outras alocações indiretas. Os custos de suporte são os custos associados ao manuseio de materiais, garantia de qualidade, compras, envio, recebimento, instalações e manutenção de equipamentos e ferramentas (entre outros). Estes são os sistemas de suporte necessários para fabricar o produto, e esses custos dependem muito do projeto do mesmo. No entanto, como esses custos são frequentemente compartilhados por mais de uma linha de produtos, eles são agrupados na categoria “despesas gerais”. As alocações indiretas são os custos de fabricação que não podem ser diretamente ligados a um determinado produto, mas que devem ser pagos para garantir o negócio. Por exemplo, o salário do guarda de segurança e o custo de manutenção para o edifício e terrenos são custos indiretos porque estas atividades são partilhadas entre vários produtos diferentes e são difíceis de atribuir diretamente a um produto específico. Como os custos indiretos não estão especificamente ligados ao projeto do produto, eles não são relevantes para o DFM, mesmo que onerem o custo do produto. Cu sto de Pr od uç ão Componentes Padronizados Customizados Processamento Matéria-Prima UsinagemManual Automatizada Apoio Custos indiretos Montagem OVERHEAD Figura 2 – Custos de produção de um produto Custos de transporte O modelo de custo de produção mostrado na Figura 2 não inclui quaisquer custos para o transporte dos produtos acabados através do sistema de distribuição. A fabricação, muitas vezes, ocorre em um local distante do cliente final. Embora o método DFM aqui apresentado não inclua explicitamente as despesas de transporte, estimar esses custos é relativamente fácil. Por exemplo, a maioria dos bens são transportados para o exterior usando containers de transporte padrão, que alocam cerca de 70 m3 de carga. Na maioria dos casos, esses recipientes são enviados de um local para outro a um custo fixo. Com base nessas taxas, a equipe de design do produto pode facilmente incluir os custos de transporte em sua análise, e isso pode ser justificado quando a equipe enfrenta decisões de design que envolvem o volumefísico ou o peso do produto. Em muitos casos, todavia, os custos de transporte correm por conta dos consumidores, ou por intermediários. 13 UNIDADE Projetar para Produzir Custos fixos e custos variáveis Outra maneira de dividir os custos de produção é entre custos fixos e custos variáveis. Custos fixos são aqueles que são incorridos em uma quantidade predeterminada, independentemente de quantas unidades do produto são fabricadas. Por exemplo, a aquisição de um molde de injeção para fabricar o coletor de admissão de um motor de combustão interna é considerado um custo fixo. Seja produzido 1 000 ou 1 milhão de unidades, o custo fixo do molde é considerado e não muda. Outro exemplo é o custo para adequar a área de trabalho da fábrica para a linha de montagem desse coletor de admissão. Este custo também é fixo, independentemente de quantas unidades serão produzidas. Apesar da terminologia, no entanto, nenhum custo é verdadeiramente fixo. Se quadruplicarmos a quantidade de produtos produzidos, talvez tenhamos que construir outra linha de produção. Por outro lado, podemos ser capazes de juntar duas células de montagem se não pudermos usar toda a capacidade devido a uma queda na quantidade produzida. Ao considerar um custo como fixo, as quantidades de produção e o tempo consumido para isso devem ser especificados. Os custos variáveis são aqueles incorridos em proporção direta ao número de unidades produzidas. Por exemplo, o custo das matérias-primas é diretamente proporcional a quantos coletores de admissão são produzidos e, portanto, a quantos motores são fabricados. O trabalho de montagem é, muitas vezes, considerado um custo variável, pois muitas empresas podem ajustar a equipe de operações de montagem, deslocando os trabalhadores para outras áreas em um curto prazo. Lista de materiais Como a estimativa de custos de fabricação é fundamental para o DFM, é útil manter essa informação bem organizada. Para isso, basta gerar tabelas ou outro sistema de informação para registrar estimativas dos custos de fabricação. Esse sistema consiste basicamente em uma lista de materiais (ou BOM – bill of materials) incrementada com informações de custo. A BOM é uma lista de cada componente individual no produto. As colunas da lista de materiais mostram as estimativas de custos decompostas em custos fixos e variáveis. Os custos variáveis podem incluir materiais, tempo de máquina e mão de obra. Os custos fixos consistem em ferramentas e outras despesas não recorrentes, tais como equipamento especializado e custos de instalação. A vida útil de uma ferramenta é usada para calcular o custo fixo da unidade (a menos que a vida útil esperada da ferramenta exceda o volume de vida útil do produto, caso em que o menor volume de produto é utilizado para o cálculo). Para calcular o custo total, o carregamento é feito de acordo com os procedimentos utilizados pela contabilidade de custos da empresa. Os custos fixos adicionais, tais como a depreciação dos bens de capital utilizados para vários produtos, também são frequentemente incluídos na taxa de custos variáveis. 14 15 Estimativa dos custos dos componentes padronizados Os custos dos componentes padrão são estimados por (1) comparação entre cada peça e uma parte substancialmente similar que a empresa já está produzindo, ou comprando em volumes comparáveis, ou (2) por solicitação de cotações de preços de fornecedores. Os custos de componentes menores (por exemplo, parafusos, molas e arruelas) são normalmente obtidos a partir da experiência da empresa com componentes semelhantes, enquanto os custos dos componentes principais são normalmente obtidos a partir de cotações de fornecedores. Para componentes padrão fabricados internamente, se as quantidades requeridas forem elevadas, pode não haver capacidade de produção disponível, necessitando a compra de equipamentos adicionais, ou o uso de fornecedores externos. Alguns fornecedores poderão projetar e fabricar uma variação personalizada para um componente padrão se as quantidades de produção forem suficientemente altas. Por exemplo, pequenos motores elétricos, como aqueles encontrados em ferramentas manuais motorizadas, são muitas vezes projetados e construídos especificamente para a aplicação em um determinado produto. Se as quantidades de produção são suficientemente altas (digamos, 100.000 por ano, neste caso), esses motores personalizados podem acabar sendo bastante econômicos para serem fabricados internamente. No entanto, como discutimos mais adiante, a introdução de novas peças pode adicionar custo e complexidade substancial ao sistema de produção e às operações de serviço de campo, o que aumenta os custos de suporte. Estimativa dos custos dos componentes personalizados Diferentemente dos componentes padronizados, os componentes personalizados são peças concebidas exclusivamente para o produto e são produzidos pelo fabri- cante, ou por fornecedores externos. Uma boa parcela dos componentes perso- nalizados é produzida utilizando os mesmos tipos de processos de produção que os componentes-padrão (por exemplo, utilizando moldagem por injeção, estampagem ou usinagem). No entanto, peças personalizadas são normalmente peças de propósi- to especial, útil apenas em produtos específicos de um determinado fabricante. Quando o componente personalizado é uma única peça, estimamos seu custo somando os custos de matérias-primas, processamento e ferramentaria. Nos casos em que o componente personalizado é uma montagem de várias partes, então consideramos que esse componente é um “produto” em si, e, para chegar ao custo desse “produto”, estimamos o custo de cada subcomponente, e, depois, adicionamos os custos de montagem e custos indiretos (esses custos são descritos a seguir). 15 UNIDADE Projetar para Produzir Os custos das matérias-primas podem ser estimados calculando-se o peso da peça, permitindo alguma sobra residual (por exemplo, 5 a 50% para uma peça moldada por injeção e 25 a 100% para uma peça de chapa metálica), e multiplicando pelo custo (por unidade de massa) da matéria-prima. Os custos de processamento incluem aqueles envolvendo os operadores das máquinas de processamento, bem como o custo de utilização do próprio equipamento. Estimar o tempo de processamento geralmente requer experiência com o tipo de equipamento a ser usado. Por exemplo, uma máquina de moldagem por injeção requer um molde de injeção personalizado para cada tipo diferente de peça que produz. O custo unitário da ferramenta é simplesmente o custo do ferramental dividido pelo número de unidades a serem feitas ao longo da vida útil do equipamento. Um molde de injeção de alta qualidade geralmente pode ser usado para produzir alguns milhões de peças. Atualmente, a indústria automobilística está utilizando materiais plásticos e compósitos em substituição aos tradicionais metais. Hoje, os automóveis saem da fábrica com para-choques de plástico, coletores de compósito etc. Nesses casos, observamos que essa substituição não só reduziu os custos de materiais, mas também eliminou a usinagem e permitiu que muitas características fossem formadas no corpo moldado. Além disso, há preocupações com o impacto ambiental, em que ocorre a preferência por componentes cujos processos de produção agridem menos o meio ambiente. Esse assunto é tratado na Unidade VI. Estimativa dos custos de montagem Os produtos fabricados com mais de uma peça necessitam de montagem. Para os produtos fabricados em quantidades inferiores a várias centenas de milhares de unidades por ano, esta montagem é quase sempre realizada manualmente. Uma exceção a essa generalização é a montagem de placas de circuitos eletrônicos, que atualmente é feita quase sempre de forma automática, mesmo em volumes relativamente baixos. Os custos manuais de montagem podem ser estimados somando o tempo estimado de cada operação de montagem e multiplicando por uma taxa de trabalho. Segundo ULRICH (2012), ostrabalhos de montagem podem custar menos de US$ 1,00 por hora em países de baixos salários ou mais de US$ 40,00 por hora em algumas nações industrializadas. Nos Estados Unidos, o trabalho de montagem costuma estar entre US$ 10,00 e US$ 20,00 por hora (cada empresa possui diferentes estruturas de custos de mão de obra de montagem, e algumas indústrias, como a automobilística e a aeronáutica, têm estruturas de custos substancialmente mais elevadas). Esses números também levam em consideração uma provisão para benefícios e outras despesas relacionadas às leis trabalhistas. 16 17 Estimativa dos custos indiretos Estimar com precisão os custos indiretos de um novo produto é difícil e as práticas da indústria não são muito satisfatórias para isso. No entanto, vamos descrever a prática padrão utilizada pela indústria de um modo geral e identificar alguns de seus problemas. Aplicar os processos de estimativa de despesas gerais utilizados pela maioria das empresas é simples. Os custos indiretos de apoio à produção são muito difíceis de rastrear e de atribuir a determinadas linhas de produtos. Os custos futuros de apoio à produção são ainda mais difíceis de prever para um novo produto. A maioria das empresas contabiliza seus custos mais gerais, usando taxas de carregamento (também chamadas de encargos). As taxas de carregamento são normalmente aplicadas a um ou dois fatores de custo. Os geradores de custo são parâmetros ligados ao produto que são diretamente mensuráveis. Os custos indiretos são adicionados aos custos diretos numa razão proporcional a esses geradores. Os fatores de custo mais comuns são: o custo de qualquer material comprado, o custo da mão de obra de montagem e o número de horas-máquina consumidas pelo produto. Por exemplo, a taxa de carregamento para materiais comprados pode ser de 10 % e a taxa de despesas gerais para o trabalho de montagem pode ser de 80 %. O problema desta abordagem é que ela implica que os custos indiretos são diretamente proporcionais aos geradores de custo. Uma experiência mental pode revelar que isso nem sempre é assim; a maioria das empresas usa o “custo de materiais comprados” como um gerador de custo. Então fica a pergunta: deve-se mudar de fornecedor se este eleva o preço de um componente em 10 %? As taxas de carregamento são usadas como uma forma conveniente de contabilizar os custos indiretos, mas este esquema pode produzir estimativas imprecisas dos verdadeiros custos experimentados pelo fabricante para suportar a produção. Porém, esse problema não será discutido nesta unidade. Etapa 2: Reduzir os Custos dos Componentes Para a maioria dos produtos, o custo dos componentes comprados será o elemento mais significativo do custo de fabricação. Vemos avaliar várias estratégias para minimizar esses custos. Por exemplo, um fabricante de tintas compra resinas e pigmentos de fornecedores externos para produzir seus produtos. Muitas dessas estratégias podem ser seguidas, mesmo que não se disponha de estimativas de custos mais precisas. Nesse caso, essas estratégias tornam-se regras de design, ou regras básicas, para orientar as decisões de redução de custos do DFM. 17 UNIDADE Projetar para Produzir Compreender as restrições de processo e os geradores de custos Alguns componentes podem ser onerosos simplesmente porque os projetistas não entenderam corretamente os recursos, os geradores de custo e as restrições do processo de produção. Por exemplo, um projetista pode especificar um pequeno raio de canto interno em uma peça usinada sem perceber que para criar fisicamente tal característica é necessária uma operação cara de usinagem por eletro-erosão. Um designer pode especificar dimensões com tolerâncias excessivamente apertadas, sem entender a dificuldade para alcançar tal precisão na produção. Às vezes, esses inconvenientes de peças caras nem sequer são necessários para a função pretendida do componente; eles podem ter surgido simplesmente por falta de conhecimento. Outras vezes, é possível redesenhar a peça para obter o mesmo desempenho, evitando etapas de fabricação dispendiosas. No entanto, para fazer isso o engenheiro projetista precisa saber quais os tipos de operações são mais difíceis na produção e o que impulsiona seus custos. Em alguns casos, as restrições de um processo podem ser comunicadas aos projetistas sob a forma de regras de design. Por exemplo, as capacidades de uma máquina de corte automática a laser para chapas metálicas podem ser comunicadas de forma concisa em termos de tipos de materiais permitidos, espessuras de material, dimensões máximas das peças, largura mínima das ranhuras e precisão de corte. Quando essa comunicação é possível, os projetistas podem evitar exceder as capacidades normais de um processo e, assim, evitar incorrer em custos elevados. Para alguns processos, o custo para produzir uma peça é uma função matemática simples de alguns atributos da peça, que seriam os geradores de custo para o processo. Por exemplo, um processo de soldagem poderia ter um custo diretamente proporcional a dois atributos do produto: (1) o número de soldas e (2) o comprimento total de solda que a máquina faria. Para os processos cujas capacidades não são facilmente descritas, a melhor estratégia é trabalhar em estreita colaboração com as pessoas que entendem profundamente o processo de produção de peças. Esses especialistas em manufatura geralmente terão muitas ideias sobre como redesenhar componentes para reduzir os custos de produção. Redesenhar componentes para eliminar etapas de processamento Um exame cuidadoso do projeto proposto pode levar a sugestões de redesenho que podem resultar na simplificação do processo de produção. Reduzir o número de etapas no processo de fabricação de peças geralmente resulta em custos reduzidos também. Algumas etapas do processo podem simplesmente não ser necessárias. Por exemplo, as peças de alumínio não precisam ser pintadas, especialmente se elas não forem visíveis para o usuário do produto. Em alguns casos, várias etapas podem ser eliminadas através da substituição de uma etapa alternativa do processo. Um exemplo comum dessa estratégia é a fabricação em net-shape processing (literalmente, produção em forma de rede). Um processo net-shape é aquele que produz uma peça com a geometria final pretendida em uma única etapa de 18 19 fabricação. Exemplos típicos incluem moldagem, vazamento, forjamento e extrusão. Frequentemente, os projetistas podem usar um dos processos net-shape para criar uma peça que esteja muito próxima ao requisito final pretendido e então aplicar apenas um processamento adicional de menor custo (por exemplo, perfuração ou rosqueamento de um furo). Escolher a escala de produção adequada O custo de fabricação de um produto geralmente cai à medida que o volume de produção aumenta. Esse fenômeno é conhecido como economia de escala. As economias de escala para um componente fabricado ocorrem por duas razões básicas: (1) os custos fixos são divididos entre muitas unidades e (2) os custos variáveis tornam- se mais baixos porque a empresa pode justificar o uso de processos e equipamentos maiores e mais eficientes. Por exemplo, considere uma peça de plástico moldada por injeção. A peça pode exigir um molde que custa US$ 50.000,00. Se a empresa produz 50.000 unidades da peça ao longo da vida do produto, cada parte terá que assumir apenas US$ 1,00 do custo do molde. À medida que os volumes de produção aumentam, a empresa pode ser capaz de justificar um molde para produzir quatro peças de uma só vez, ao invés de apenas uma. Os processos podem ser considerados como geradores de custos fixos e variáveis. Os custos fixos são contabilizados uma vez por tipo de peça, independentemente da quantidade produzida. Os custos variáveis são lançados cada vez que uma peça é feita. Processos com custos fixos inerentemente baixos e custos variáveis elevados, como a usinagem, são apropriados quando poucas peçasserão feitas, enquanto processos com custos fixos inerentemente elevados e baixos custos variáveis, como moldagem por injeção, são apropriados quando muitas peças serão feitas. Esse conceito é ilustrado pelo gráfico na Figura 3. Conforme mostrado nessa figura, se o volume produzido for inferior a 1.000 unidades, a usinagem seria mais econômica; caso contrário, a moldagem por injeção apresentaria custos totais mais baixos. 1000 Custo �xo Cu sto de m ol de de in je çã o Quantidade de peças produzidas Moldagem por injeção Usinagem Ponto de equilíbrio Cu sto to ta l Figura 3 – Custo total de um componente em função da quantidade produzida 19 UNIDADE Projetar para Produzir Padronizar componentes e processos O princípio das economias de escala também se aplica à seleção de componentes e processos. À medida que o volume de produção de um componente aumenta, o custo unitário do componente diminui. A qualidade e o desempenho também aumentam com o aumento das quantidades de produção, porque o produtor do componente pode investir na aprendizagem e melhoria do projeto do componente e de seu processo de produção. Para um determinado volume esperado de produtos, os benefícios obtidos pela maior quantidade obtida podem ser alcançados por meio da utilização de componentes padronizados. Aderir ao uso de componentes tipo “caixa preta” Uma estratégia de redução de custo de componente usada efetivamente na indústria automobilística japonesa é o chamado design de fornecedor de componentes tipo “caixa preta” (Black Box). Sob essa abordagem, a equipe repassa ao fornecedor apenas uma “descrição em caixa-preta” do componente – uma descrição do que o componente tem que fazer, e não de como produzi-lo. Esse tipo de especificação deixa o fornecedor com a maior liberdade possível para projetar ou selecionar o componente para um custo mínimo. Uma vantagem adicional desta abordagem é que ela alivia a equipe interna da responsabilidade de projetar e produzir o componente. Os esforços bem-sucedidos de desenvolvimento utilizando essa estratégia exigem um cuidadoso projeto em âmbito de sistema e definições extremamente claras das funções, interfaces e interações de cada componente. Etapa 3: Reduzir os Custos de Montagem O projeto de um produto visando a montagem (Design For Assembly - DFA) é um subconjunto muito bem estabelecido do DFM e que objetiva minimizar o custo de montagem. Para a maioria dos produtos, a montagem contribui com uma fração relativamente pequena do custo total. No entanto, concentrar a atenção nos custos de montagem gera alguns benefícios. Muitas vezes, como resultado da ênfase no DFA, a quantidade total de peças, a complexidade de fabricação e os custos de apoio são reduzidos juntamente com o custo de montagem. Vamos apresentar a seguir alguns princípios úteis para orientar as decisões do DFA. Alguns autores defendem a manutenção de uma estimativa contínua do custo da montagem. Além disso, propõem ainda o conceito de eficiência de montagem. Essa eficiência é medida por meio de um índice que é a razão entre o tempo teórico mínimo de montagem e uma estimativa do tempo real de montagem para o produto. Este conceito é útil para estimar o quanto eficiente pode ser um determinado processo de montagem, mas não vamos detalhá-lo aqui. 20 21 Integrar peças Se um componente não é qualificado como absolutamente necessário, então ele se torna um forte candidato a ser integrado fisicamente com um ou mais outros componentes. O componente multifuncional resultante é frequentemente muito complexo como resultado da integração de várias características geométricas diferentes que, de outra forma, constituiriam partes separadas. Por exemplo, incorporar uma válvula controladora de fluxo em uma bomba de água de uma máquina de lavar roupas poderá trazer benefícios no sentido de reduzir o custo total de ambos os componentes. A integração de peças oferece vários benefícios: · As peças integradas não precisam chegar à linha de produção montadas. Ao invés disso, a montagem é realizada pelo próprio processo de fabricação do produto. · Peças integradas são frequentemente menos dispendiosas de produzir do que se fossem produzidas separadamente. Para peças moldadas, estampadas ou fundidas, esta economia de custos é marcante porque um único molde é geralmente menos dispendioso do que dois ou mais moldes. Além disso, normalmente, há menos tempo de processamento e menor geração de resíduos para a peça única integrada. · As peças integradas permitem que as relações entre as características geométricas mais críticas sejam controladas pelo seu processo de fabricação (por exemplo, moldagem), ao invés de o serem em um processo de montagem. Isso geralmente significa que essas dimensões podem ser controladas com mais precisão. Note, entretanto, que a integração de componentes nem sempre é uma estratégia inteligente e pode até estar em conflito com outras abordagens utilizadas para minimizar custos. Por exemplo, um coletor de admissão de motores de combustão usualmente é constituído de uma única peça fundida, exigindo usinagem extensiva. Sua substituição por duas peças menos caras, moldadas por injeção, elimina os altos custos de usinagem e o tempo de total envolvido. Este é um exemplo de desintegração de peças para obter benefícios nos custos de produção. Tornar a montagem o mais fácil possível Dois produtos com um número idêntico de peças podem diferir substancialmente no tempo total de montagem. Isso ocorre porque o tempo de processamento depende das características geométricas da peça e do seu percurso até o ponto da montagem. A montagem pode ser feita manualmente e nesses casos a orientação da peça a ser montada é importante. Por exemplo, a colocação de uma tampa parafusada em uma caixa pode levar mais tempo se o operador tiver que ficar procurando a posição correta da tampa em relação à base. 21 UNIDADE Projetar para Produzir Considerar a montagem pelo cliente Os clientes podem aceitar a conclusão de parte da montagem do produto, especialmente se isso proporcionar outros benefícios, tais como facilitar a compra ou o manuseio do produto embalado. Por exemplo, podemos comprar uma estante para nossas salas totalmente desmontada, o que reduz o custo de estoque. Entretanto, projetar um produto de modo que ele possa ser montado fácil e corretamente pelos clientes, principalmente pelos mais ineptos, é um desafio. Etapa 4: Reduzir os Custos de Suporte à Produção Ao trabalhar para minimizar os custos dos componentes e os custos de montagem, a equipe também pode conseguir reduções nas demandas colocadas nas funções de suporte à produção. Por exemplo, uma redução no número de peças reduz as exigências no gerenciamento de estoque. Uma redução no conteúdo de montagem reduz o número de trabalhadores necessários para a produção e, portanto, reduz o custo de supervisão e gestão de recursos humanos. Componentes padronizados reduzem as demandas de suporte de engenharia e controle de qualidade. Há, além disso, algumas ações diretas que a equipe pode tomar para reduzir os custos de apoio à produção. É importante lembrar que as estimativas de custo de fabricação são muitas vezes insensíveis a muitos dos fatores que realmente geram despesas gerais. (Lembre-se da discussão da estimativa de custos indiretos acima). No entanto, o objetivo da equipe de design a este respeito deve ser reduzir os custos reais do suporte de produção mesmo se as estimativas de custo indireto não mudarem. Minimizar a complexidade do sistema produtivo Um sistema de fabricação extremamente simples iria utilizar um único processo para transformar uma única matéria-prima em uma única peça, como por exemplo a produção de trilhos metálicos para cortinas, onde tarugos de alumínio são extrudados, cortados e vendidos. Infelizmente, poucos desses sistemas existem. A complexidade surge da variedade nas entradas, saídas e processos de transformação. Muitos sistemasde fabricação reais envolvem centenas de fornecedores, milhares de peças diferentes, centenas de pessoas, dezenas de tipos de produtos e dezenas de tipos de processos de produção. Cada variante de fornecedores, peças, pessoas, produtos e processos introduz complexidade no sistema. Essas variantes geralmente devem ser monitoradas, gerenciadas, inspecionadas, manipuladas e inventariadas gerando um custo elevado para a empresa. Grande parte desta complexidade é devida ao design do produto e pode, portanto, ser minimizada através de decisões de design inteligentes. Uma estratégia para atacar essa questão é calcular o custo baseado em atividades sequenciais; com isso, é possível obter uma ideia da 22 23 complexidade do processo, pois estes são os fatores de custo que eles usam na alocação de custos indiretos. Avaliação de falhas Um aspecto importante do DFM é antecipar as possíveis falhas do sistema de produção e tomar as medidas corretivas apropriadas no início do processo de desenvolvimento. Essa estratégia é conhecida como error proofing. Alguns tipos de falhas no processo surgem a partir de partes muitos parecidas e distintas que podem ser confundidas durante a montagem. A estratégia é elaborar peças ligeiramente diferentes (por exemplo, parafusos que diferem apenas no passo das roscas) ou na direção de rotação (roscas à esquerda e à direita). Recomendamos que essas sutis diferenças sejam eliminadas ou que pequenas diferenças sejam introduzidas em alguns componentes. A utilização de códigos de cores também é uma forma de identificas peças parecidas, o que facilita o manuseio e a montagem. Etapa 5: Considerar o Impacto das Decisões do DFM sobre Outros Fatores Minimizar o custo de produção não é o único objetivo do processo de desenvolvimento do produto. O sucesso econômico de um produto também depende da qualidade do produto, da pontualidade da introdução do produto no mercado e do custo do seu desenvolvimento. Pode também haver situações em que o sucesso econômico de um projeto é comprometido a fim de maximizar o sucesso econômico de toda a empresa. Ao contemplar uma decisão DFM, essas questões devem ser consideradas explicitamente. O Impacto do DFM no Tempo de Desenvolvimento Segundo ULRICH (2012), em um projeto de desenvolvimento de automóveis, o tempo pode significar várias centenas de milhares de dólares por dia. Por este motivo, as decisões do DFM devem ser avaliadas quanto ao seu impacto no tempo de desenvolvimento, bem como no seu impacto nos custos de fabricação. O fato de se economizar US$ 1 em custo em cada coletor, por exemplo, poderia se traduzir em uma economia de cerca de US$ 1 milhão por ano, e, pensando assim, não valeria a pena causar um atraso de seis meses. A relação entre DFM e tempo de desenvolvimento é complexa. Por exemplo, a aplicação de algumas das diretrizes do DFA pode resultar em partes muito complexas; essas partes podem ser tão complexas que a sua concepção ou a aquisição de suas ferramentas torna-se a atividade que determina a duração do esforço de desenvolvimento global. Os benefícios obtidos por uma redução de custos nas decisões de DFM podem não valer o atraso na duração do projeto. Isso é particularmente verdadeiro para os produtos que competem em mercados dinâmicos. 23 UNIDADE Projetar para Produzir O impacto do DFM no custo de desenvolvimento O custo de um projeto reflete o tempo de seu desenvolvimento. Portanto, a mesma advertência sobre a relação entre a complexidade da peça e o tempo de desenvolvimento se aplica ao custo do desenvolvimento. Em geral, no entanto, empresas que buscam sistematicamente baixos custos de produção como parte integrante do processo de desenvolvimento parecem ser capazes de desenvolver produtos em aproximadamente o mesmo tempo e com o mesmo orçamento que as empresas que não procedem da mesma forma. Parte desse fenômeno surge certamente da correlação entre boas práticas de gerenciamento de projetos e a aplicação de métodos adequados de DFM. O Impacto do DFM na Qualidade do Produto Antes de prosseguir com uma decisão tomada dentro do DFM, a equipe deve avaliar o impacto dessa decisão sobre a qualidade do produto. Em circunstâncias ideais, ações para diminuir o custo de fabricação também melhorariam a qualidade do produto. Por exemplo, o novo coletor de admissão do motor de combustão resultou em redução de custo, redução de peso e melhora no desempenho do motor. Não é incomum que esforços focados principalmente na redução de custos de fabricação também resultem em maior facilidade de manutenção, facilidade de desmontagem e reciclagem. No entanto, em alguns casos, as ações para diminuir o custo de fabricação podem ter efeitos adversos na qualidade do produto (como redução da confiabilidade ou da robustez), e, por isso, é aconselhável que a equipe tenha em mente as muitas dimensões de qualidade que são importantes para o produto. O Impacto do DFM em Fatores Externos As decisões de projeto podem ter implicações além das responsabilidades de uma única equipe de desenvolvimento. Em termos econômicos, essas implicações podem ser vistas como fatores externos. Podemos citar dois desses fatores: · Reutilização de componentes: investir tempo e dinheiro na criação de um componente de baixo custo pode ser interessante para outras equipes que projetam produtos similares. Em geral, esse valor não é explicitamente contabilizado nas estimativas de custos de fabricação. A equipe pode optar por tomar uma ação que é realmente mais caro para seu produto por causa das implicações de custo positivo para outros projetos. · Custos do ciclo de vida: ao longo de seu tempo de vida útil, certos produtos podem incorrer em alguns custos que raramente são contabilizados no custo de fabricação. Por exemplo, alguns produtos podem conter materiais tóxicos que requerem manipulação especial quando forem descartados. Os produtos também podem incorrer em custos de serviço de manutenção e de garantia enquanto estiverem ativos. Embora esses custos não apareçam na análise dos custos de fabricação, devem ser 24 25 considerados antes da adoção de uma decisão DFM. Na Unidade VI, veremos um pouco desse assunto. Resultados Durante a década de 1980, as práticas de DFM foram implementadas em milhares de empresas. Na atualidade, o DFM tornou-se uma ciência e é parte essencial de quase todos os esforços de desenvolvimento de produtos. Como resultado desta ênfase na melhoria da qualidade do design, alguns fabricantes afirmam ter reduzido os custos de produção dos produtos em até 50 %. De fato, comparando os projetos atuais de novos produtos com as gerações anteriores, geralmente, é possível identificar menos peças no novo produto, além de novos materiais, peças mais integradas e personalizadas, peças e subconjuntos mais volumosos e procedimentos de montagem mais simples. Por exemplo, aparelhos eletrônicos atuais possuem muito mais partes encaixadas umas nas outras de que aparafusadas. Este esforço DFM alcançou resultados impressionantes. No caso do coletor de admissão mencionado, a mudança de material e dos processos de fabricação trouxeram os seguintes benefícios, conforme relata ULRICH (2012): · Economia de custo unitário de 45%. · Economia de matéria prima de 66% (3,3 kg). · Procedimentos simplificados de montagem e manutenção. · Melhoria do desempenho quanto a emissões atmosféricas. · Maior desempenho do motor devido a temperaturas de indução de ar reduzidas. · Custos de transporte reduzidos devido a componentes mais leves. · Maior padronização entre os programas de veículos. Para esse produto, as economias de custo de fabricação somam vários milhões de dólares anualmente. Os outros benefícios listados acima também são significativos, embora um pouco mais difíceis de quantificar. 25 UNIDADE Projetar para Produzir Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Projeto e Desenvolvimentode Produtos BARBOSA FILHO, A. N. Projeto e Desenvolvimento de Produtos. São Paulo: Atlas, 2009. Elaboração de projetos da introdução à conclusão CONSALTER, M.A.C. Elaboração de projetos da introdução à conclusão. IBPEX, 2013. (e-book). Moderno gerenciamento de projetos DALTON.V. Moderno gerenciamento de projetos. 2. ed. Pearson, 2015. (e-book). Inovação em ambientes organizacionais, teorias, reflexos e práticas LOURES, R.C.R.; SCHIEM. M. Inovação em ambientes organizacionais, teorias, reflexos e práticas. EBPEX, 2012. (e-book). Desenvolvimento de novos produtos e serviços PAIXÃO, M.V. Desenvolvimento de novos produtos e serviços. IBPEX, 2013. (e-book). O gestor de projetos RICHARD, N. O gestor de projetos. 2. ed. Pearson, 2010. (e-book). Product Design and Development ULRICH, T. K.; EPPINGER, S. D. Product Design and Development. 5. ed. New York: MacGraw-Hill, 2012. 26 27 Referências BAXTER, M. Projeto de Produto: Um guia prático para o design de novos produtos. São Paulo: E. Blücher, 2011. ROTONDARO, R.G.; MIGUEL, P.A.C. Projeto do produto e do processo. São Paulo: Atlas, 2010. ROZENFELD, H. et al. Gestão de Desenvolvimento de Produtos: uma referência para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006. SLACK, N.; CHAMBERS, C. Administração da Produção: Atlas, 2012. 27