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PROJETO E DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO AULA 4 Prof. Everton Luiz Vieira 2 CONVERSA INICIAL Na etapa de configuração do produto, o projeto detalhado de todos os itens do produto ou serviço será configurado, os materiais que serão utilizados serão selecionados, de acordo com o tipo de produto e processo de fabricação; também a estrutura do produto será desenvolvida para fins de custos e controle de estoques e compras. Também vamos abordar a ferramenta FMEA para análise de modos de falhas e seus efeitos. Nesta aula, trabalharemos a geração e seleção de conceitos no projeto de produtos e suas ferramentas, seguindo os seguintes assuntos: 1. Projeto detalhado; 2. Seleção de materiais; 3. Estrutura do produto; 4. Custo do produto; 5. FMEA. Ao final desta aula, o acadêmico deverá estar apto a utilizar os conceitos de configuração de produtos em projetos. Bons estudos! TEMA 1 – PROJETO DETALHADO De acordo com Romeiro et al. (2013), a etapa de projeto detalhado é responsável pela especificação mais refinada dos componentes concebidos no projeto conceitual. A tolerância de fabricação dos componentes é definida, folgas e ajustes normalizados são adotados para os elementos móveis, assim como a definição geométrica dos componentes é simplificada ou modificada para atender aos requisitos dos processos de fabricação escolhidos. Nessa fase fica claro o esforço técnico e criterioso de engenheiros e projetistas que, cada vez mais, são auxiliados por diferentes softwares, como os sistemas CAD, que incorporam atividades dessa fase. Por outro lado, tem-se também, nessas atividades, o envolvimento de conhecimentos e técnicas práticas que podem e devem ser desdobrados e formalizados, a fim de concretizar uma base de conhecimento explícito sobre o desenvolvimento de produto. Isso fica evidente na forma de representação apresentada por Baxter (2000) na Figura 1, em que se têm as atividades 3 divididas em agrupamentos de atividades separadas, não definindo ou estabelecendo uma sequência obrigatória de realização para as mesmas, nem explicitando o conteúdo das atividades envolvidas. Figura 1 – Entradas e resultados do projeto detalhado Fonte: Elaborado com base em Baxter, 2000. Uma das entradas do projeto detalhado são as análises de falhas que são realizadas com a ferramenta FMEA. Com ela é possível identificar os modos de falha e seus efeitos no produto e processo; a empresa também pode prever falhas que possam vir a ocorrer e preveni-las. Os desenhos técnicos são o detalhamento de todos os componentes e produto com suas especificações para produção de máquinas, ferramentas e dispositivos, análises de qualidade e treinamentos. Na Figura 2 podemos observar um exemplo de desenho técnico de componentes. 4 Figura 2 – Exemplo de desenho técnico de produto Crédito: Chaosamran_Studio/Shutterstock. Os resultados dos testes realizados nos produtos e protótipos também fazem parte do projeto detalhado, pois com essas informações os projetistas podem definir os desenhos definitivos para a manufatura. Na Figura 3 temos um exemplo de protótipo. Figura 3 – Exemplo de protótipo Crédito: Gorodenkoff/Shutterstock. 5 Baxter (2000) menciona que as atividades deverão ser realizadas conforme as necessidades e o ambiente de desenvolvimento do produto, sendo que essas concorrem para um mesmo fim: gerar, como saída, as especificações do produto que são as informações finais de projeto para o encaminhamento a fabricação. O caráter de verificações e finalizações do projeto detalhado, pode abranger muitas outras questões, é nele, que é concretizada a validação do produto frente aos processos de fabricação, sendo garantidos e acertados os dimensionamentos e otimizações de componentes e peças, são finalizados os contratos de fornecimento, terceirizações e sua certificação de qualidade de serviços prestados, são feitas atualizações e registros relacionados as informações de desenvolvimento e retorno de informações técnicas de clientes bem como o registro de lições aprendidas, além da formalização de manual de operações e textos técnicos para catálogos, treinamento com produto, verificação de resultados de testes de campo que demanda um tempo maior, entre outros (Arend, 2003). 1.1 DFM e DFA: Design for Manufacturing e Design for Assembly O DFM (projeto para manufatura) representa a busca realizada durante o projeto para tornar mais fácil a manufatura dos componentes que formarão o produto depois de montado, visa aperfeiçoar a fabricação de componentes, busca chegar a um produto com baixo custo sem sacrificar a qualidade do mesmo. O DFA (projeto para montagem) envolve o projeto do produto, verificando funções, formas, materiais e processos de montagem, gerando redução de custos devido ao tempo de montagem, redução de componentes e, muitas vezes, a simplificação da manufatura. Rozenfeld e Amaral (2006) citam algumas recomendações para o desenvolvimento dos projetos DFM e DFA, para produtos que podem ser destacadas: • Simplicidade: o produto deve ter o menor número de peças possível, o menor número de peças complexas possível, menor quantidade de ajustes finos possível, e as peças deva menor sequência de fabricação possível. 6 • Padronização: devem ser usados materiais padronizados, de preferência no estado em que são adquiridos no mercado, de forma a se obterem vantagens comparativas no processamento. O uso de materiais padronizados facilita a sua aquisição no mercado e seu processamento dispensa ferramental específico. • Modularização: utilizar componentes e subconjuntos comuns aos já empregados na carteira de produtos da empresa. Sugere-se, por exemplo, usar uma plataforma comum que possa servir a vários produtos, como vem sendo praticado na indústria automobilística. • Relaxamento de tolerâncias: o afrouxamento das tolerâncias nos ajustes em que elas foram mal especificadas evita a utilização de equipamentos especiais de fabricação e mão de obra mais qualificada, além de encurtar o ciclo de fabricação, uma vez que reduz o número de dispositivos auxiliares utilizados para obter um componente de maior precisão, assim como simplifica o controle de qualidade dimensional, o que reduz o custo de produção. • Adequação ao nível de produção: o projeto deve estar adequado a produção do produto, uma vez que determinados detalhes definidos no projeto estão associados a determinados processos de fabricação. A Figura 4 mostra um exemplo do conjunto de êmbolo pneumático que teve redução de seis peças originalmente para quatro peças utilizando o DFM e DFA. Pode-se notar que o principal partido adotado no redesenho do produto foi eliminar os elementos de ligação e adotar novos componentes integrando funções. Figura 4 – Exemplo de êmbolo pneumático e seu reprojeto Crédito: Jefferson Schnaider. 7 De acordo com Krumenauer e Batalha (2007), os benefícios na utilização do DFM e DFA são: • Melhor ergonomia para os operadores; • Fabricação e montagem mais simplificadas; • Qualidade consistente e melhorada; • Complexidade reduzida; • Redução de retrabalhos, perdas e custos de garantia; • Redução no tempo de logísticas; • Redução dos problemas de produção; • Redução no custo do produto e investimento. O DFM analisa cada componente em separado e tende a recomendar partes de formas simples em substituição a um componente de forma geométrica complexa, achando o mais eficiente uso da geometria do componente em relação ao processo de fabricação, e, em geral, ocasionando um aumento do número de componentes. Por outro lado, o DFA avalia todo o produto, não apenas as partes individualmente, buscando simplificar a arquitetura do produto e objetivando o mais eficiente uso da função do componente (Romeiro et al., 2013).TEMA 2 – SELEÇÃO DE MATERIAIS De acordo com Romeiro et al. (2013) projetar um produto é uma atividade que resulta na criação de algo ainda inexistente, porém, capaz de viabilizar a sua construção. As atividades de projeto de um produto, de escolha dos seus materiais e dos seus processos de fabricação são interdependentes. As decisões tomadas na etapa de concepção de um produto referentes a sua forma geométrica, ao seu acabamento superficial, a sua vida útil etc. têm ligação direta com as escolhas dos processos de fabricação e dos materiais constituintes do produto. De acordo com Rozenfeld e Amaral (2006), a atividade de projeto do produto não é uma atividade isolada do contexto no qual ela está inserida. O projetista, ao projetar um produto, terá de aplicar sua criatividade, considerando as restrições impostas no mercado e pela instalação fabril. Podem ser exemplificados alguns aspectos importantes dessa interação: 8 • O produto deve atender às necessidades do mercado e operar satisfatoriamente durante sua vida útil. O produto deve apresentar desempenho compatível com os requisitos definidos pelo mercado, isso significa que a qualidade dos materiais empregados e as suas tolerâncias de fabricação devem ser escolhidas de acordo com esses requisitos. • Normalmente, é importante que o produto seja de fácil manutenção, o que pode interferir com a escolha dos processos de união e montagem. • A atividade de fabricação consiste em transformar matérias-primas em componentes a serem montados no produto final. O projetista escolhe o material baseado na função do componente, na forma geométrica e o processo de fabricação. Os processos de fabricação, ao modificarem a forma geométrica das matérias-primas, ocasionam a mudança de algumas propriedades mecânicas dos materiais em transformação. 2.1 Sistemática de seleção de materiais De acordo com Rozenfeld e Amaral (2006), a seleção de materiais é um problema de múltiplas variáveis e de múltiplas restrições. Vários procedimentos de seleção quantitativos foram desenvolvidos para analisar a grande quantidade de dados envolvidos no processo de seleção, possibilitando, assim, que uma avaliação sistemática possa ser feita. Observa-se, ainda, que o processo de seleção é dependente das propriedades dos materiais, do processo de fabricação e do projeto do componente. Normalmente, as empresas não realizam uma seleção de materiais rigorosa e minuciosa, sendo essa baseada na experiência e práticas anteriores, o que nem sempre significa uma solução ótima. Ashby e Johnson (2013) citam que as situações de projeto também são diferentes: o projeto de um novo produto ou o reprojeto de um produto existente, e mesmo que a seleção de materiais e processos seja normalmente pensada em termos do desenvolvimento de um produto, existem muitas razões para se revisarem os tipos de materiais e processos usados em um produto existente. Essas razões incluem as vantagens obtidas com novos materiais e processos; a melhoria do desempenho em serviço, incluindo aumento de vida e confiabilidade mais elevada; o atendimento de novas exigências legais; mudanças nas 9 condições de operação; redução de custo; melhoria de desempenho e competitividade. Na Figura 5 podemos observar a sistemática para seleção de materiais. Figura 5 – Sistemática para seleção de materiais Fonte: Elaborado com base em Rozenfeld e Amaral, 2006. Inicialmente, a análise dos aspectos críticos dos sistemas, subsistemas e componentes e, sobretudo, das condições de serviço e o ambiente em que o produto deverá operar determinarão os requisitos que deverão ser atendidos pelo material a ser escolhido. Com os requisitos estabelecidos, deve-se traduzi-los em propriedades críticas do material e nos valores máximos ou mínimos dessas propriedades. As possíveis alternativas em termos dos materiais candidatos são obtidas comparando-se as propriedades críticas com as respectivas propriedades de materiais existentes, para identificar quais são aqueles que tem potencial para atender as exigências. A escolha do material a ser utilizado se dá pela análise das alternativas de materiais em termos de desempenho do produto, custo, 10 fabricabilidade e disponibilidade, com o objetivo de identificar o material que melhor atenda ao problema (Rozenfeld; Amaral, 2006). 2.2 Principais recomendações para escolha de materiais De acordo com Carpes Jr. (2014), as principais recomendações para escolha de materiais são: • Utilizar materiais comerciais (que já existem no mercado). Produzir a partir de materiais especiais adiciona processos à cadeia produtiva do produto; • Produzir diretamente, sempre que possível, a partir de formatos, medidas, formulações e qualidades comerciais – com pouca ou nenhuma modificação; • Utilizar materiais que tenham bom acabamento superficial e não necessitem de operações adicionais de acabamento pode resultar em economia de operações adicionais; • Selecionar os materiais considerando suas propriedades conjuntamente com a facilidade de manufatura-los, determinando os mais viáveis para a sequência de processamento que será utilizada; • Projetar para o máximo aproveitamento do material, evitando rebarbas, cavacos e outros tipos de perdas e desperdícios de materiais. Para facilitar a escolha dos materiais, pode-se elaborar uma matriz contendo as informações desejadas, otimizando a comparação entre valores. Os materiais representam em torno de 50% dos custos do produto, portanto, sua escolha depende do sucesso do projeto. Além da redução de custos, a opção por determinados materiais impacta na qualidade do produto e dos processos de produção. TEMA 3 – ESTRUTURA DO PRODUTO De acordo com a American Production and Inventory Control Society (APICS, 1992), a estrutura do produto (BOM – bill of material) é uma lista de todas as submontagens, componentes intermediários, matérias-primas e itens comprados que são utilizados na fabricação e/ou montagem de um produto, mostrando as relações de precedência e quantidade de cada item necessário. Serrão (2015) cita que a estrutura do produto contém informações que influenciam todos os setores de uma empresa. Portanto, assumem importância 11 quando inseridas no contexto das estratégias de desempenho e objetivos de uma organização. A Figura 6 ilustra a relação da estrutura do produto em uma organização. Figura 6 – Integração da estrutura do produto em uma organização Fonte: Elaborado com base em Serrão, 2015. Segundo Serrão (2015), qualquer alteração na estrutura do produto poderá influenciar todos os setores na organização. Como mostrado na figura 6, vários setores são dependentes dessa informação. 3.1 Composição da estrutura do produto Romeiro et al. (2013) cita que a estrutura do produto é baseada na relação pai/filho entre itens. O item que está sendo produzido é chamado de pai, e os itens requeridos na sua produção são chamados itens filhos ou componentes. Por exemplo, na estrutura do produto de um eixo usinado, esse eixo é o item pai e a barra laminada, utilizada como matéria-prima, é o item filho. Um exemplo simples de uma estrutura do produto pode ser visto na Figura 7. 12 Figura 7 – Exemplo de estrutura de produto Crédito: Douglas Soares Agostinho. O item A é composto por quatro unidades do item comprado C e duas do item B, que consome em sua fabricação uma unidade da matéria prima D. De acordo com Oliveira (1999), toda vez que é estabelecida uma relação pai/filho entre um item e seus componentes diretos, a estrutura formada é chamada de nível simples. Uma estrutura multinível é formada quando as de um nível são associadas desde matérias-primas e itens comprados até o produto final, resultando em uma estrutura com dois ou mais níveis. Isso ocorre por meio de uma técnica chamada explosão. Dessa forma,todos os itens utilizados direta ou indiretamente na produção de um produto podem ser visualizados. 3.2 Exemplo de estrutura do produto Uma vez definido o produto que será desenvolvido, este deve ser documentado. Umas das formas de documenta-lo é através da estrutura do produto. Na Figura 8 temos um exemplo da peça XYZ. 13 Figura 8 – Vista explodida da peça XYZ Crédito: Jefferson Schnaider. A figura mostra o desenho da vista explodida do produto XYZ e todos os seus componentes. Figura 9 – Estrutura da peça XYZ Crédito: Douglas Soares Agostinho. A peça XYZ é composta por 1 unidade de: suporte direito, parafuso fixação conjunto, rolamento, retentor, porca fixação conjunto e suporte esquerdo. O suporte montado direito é composto por: 1 unidade de cantoneira superior, 1 unidade de cantoneira base, 2 unidades de parafuso cantoneira e 2 unidades de porca cantoneira, a mesma composição acontece para o suporte esquerdo. Por 14 meio da “explosão” dos itens da estrutura do produto, é possível visualizar a composição da peça XYZ. Essa estrutura parte do nível zero até o nível dois. De posse da estrutura é possível elaborar a lista de materiais para documentar a descrição, código, níveis, quantidade, se é comprado ou fabricado. No Quadro 1 e possível visualizar a lista de materiais da peça XYZ. Quadro 1 – Exemplo lista de materiais peça XYZ Descrição Código Nível Quantidade Comprado Fabricado Peça XYZ XYZ01 0 1 X Suporte direito SDR01 1 1 X • Cantoneira superior CTS01 2 1 X • Cantoneira inferior CTI01 2 1 X • Parafuso cantoneira PFO01 2 2 X • Porca cantoneira PRC01 2 2 X Parafuso fixação conjunto PFC01 1 1 X Rolamento ROL01 1 1 X Retentor RET01 1 1 X Porca fixação conjunto PCJ01 1 1 X Suporte esquerdo SEQ01 1 1 X • Cantoneira superior CTS01 2 1 X • Cantoneira inferior CTI01 2 1 X • Parafuso cantoneira PFO01 2 2 X • Porca cantoneira PRC01 2 2 X Crédito: Douglas Soares Agostinho. A lista de materiais criada no desenvolvimento do produto pode ser utilizada por todos os departamentos envolvidos no processo. O setor de custos pode utilizá-la para calcular o custo dos materiais do produto, setor de compras pode usar para realizar a compra dos itens com os fornecedores, departamento de almoxarifado para controlar o estoque etc. Por isso, é de extrema importância que os dados estejam corretos, pois estruturas do produto incorretas podem gerar falhas na execução de compras, 15 controle de estoques, custos, produção e engenharia. Realizando uma analogia, a estrutura do produto pode ser comparada aos ingredientes de uma receita, em que consta tudo o que será necessário para realizar um prato de culinária, por exemplo. TEMA 4 – CUSTO DO PRODUTO Segundo Carpes Jr. (2014), quando se inclui a economia como uma qualidade de um produto, está se relacionando o retorno ou benefício com investimentos e gastos realizados. No entanto, esse retorno obtido não se refere somente ao capital, mas também as qualidades positivas, que evidenciam ao consumidor, ao fabricante, ao projetista e ao distribuidor que o produto é viável em termos monetários. De acordo com Filomena e Neto (2003) o produto para ser viável, não pode ser somente barato, pois baixos investimentos ou gastos iniciais podem acarretar custos decorrentes da má qualidade ou elevar os custos operacionais. Por isso, o produto deve conjugar baixos investimentos ou gastos com elevados benefícios ou retornos. Os investimentos ou gastos se referem ao custo do produto para o consumidor, a quem todos os custos contraídos anteriormente são imputados, desde projeto e fabricação até distribuição e descarte. 4.1 Desdobramento dos custos de um produto Segundo Carpes Jr. (2014), os custos totais do produto podem ser divididos em custos diretos e indiretos. Os custos diretos são aqueles relacionados com os custos de obtenção do produto, como custos de fabricação, de projeto e de distribuição. Geralmente, estão relacionados com custos de obtenção de componentes do produto. Os custos indiretos são mais difíceis de avaliar, pois envolvem despesas que não podem ser alocadas diretamente no produto, como as de estoque e propaganda. No Quadro 2 podemos entender essa divisão entre custos diretos e indiretos. 16 Quadro 2 – Desdobramento dos custos de um produto Custos diretos • Projeto e desenvolvimento: pesquisa de mercado, execução do projeto, protótipos, testes e documentação. • Fabricação: mão de obra, material, equipamentos, ferramentas, processamento dos materiais, espaço, energia e supervisão. • Acabamentos: preparação e limpeza do produto, aplicação de acabamento, proteção e lubrificação. • Embalagem: desmontagem, engradados, proteção contra agentes externos. • Custos financeiros de produção: depreciação de máquinas e equipamentos, infraestrutura, ferramentas e softwares. Custos indiretos Impostos, seguros, juros sobre capital investido, limpeza e manutenção de ambientes, saúde e conforto dos trabalhadores, supervisão, condicionamento de ambientes considerando água, luz e telefone. Fonte: Elaborado com base em Carpes Jr., 2014. Considera-se que, geralmente, o projeto custo em torno de 5% do montante gasto em desenvolvimento e produção de um produto. Os materiais representam 50%, a mão de obra 15% e a fabricação 30%. No entanto, as decisões realizadas no projeto, como a modificação dos princípios físicos utilizados, a revisão do dimensionamento e as tolerâncias, influenciam em até 70% os custos de um produto. Após o fim do projeto, substituindo-se os materiais por outros mais baratos, é possível alterar em, no máximo, 20% os custos do produto. O mesmo poderá ocorrer com a mão de obra e fabricação (Carpes Jr., 2014). Com relação aos retornos obtidos sobre o investimento realizado para um produto. De acordo com Baxter (2000), deve-se apostar nas fases iniciais do projeto, pois elas possibilitam maior retorno que as demais fases do projeto à produção, conforme Figura 10. 17 Figura 10 – Relação entre retorno e investimentos realizados para o desenvolvimento de um produto Fonte: Elaborado com base em Baxter, 2000. No processo de desenvolvimento de projetos vários estágios ou etapas são necessárias até que se tenha o produto com o cliente de uma empresa, por exemplo, planejamento do produto, projeto conceitual, configuração do produto, detalhamento, etc. Esses estágios de desenvolvimento citados, que são os estágios iniciais, conforme mostra a Figura 11, permitem grande possibilidade de redução do custo, menor custo para introdução de mudanças e menor custo de desenvolvimento. 18 Figura 11 – Custos relativos e benefícios das etapas de desenvolvimento de um produto Fonte: Elaborado com base em Baxter, 2000. Em resumo, nos estágios iniciais de desenvolvimento tem-se um baixo custo e alto benefício (Baxter, 2000). 4.2 Tipos de custos de um produto Seleme e Paula (2013) citam que os custos de um produto são sempre pagos pelo consumidor. Nos custos da aquisição de um produto, está embutida ainda a margem de lucro dos lojistas, distribuidores e fabricantes. Para o consumidor que adquire um produto e apenas computa o custo de aquisição, a utilização do produto apresenta muitos outros custos, como custos de operação, custos de software, custos de treinamento de pessoal, custos de distribuição do produto, custos de instalação, custos de manutenção, custos de suprimento de 19 peças e serviços para assistência técnica, custos de reciclagem e descarte, custos de testes. Normalmente os custos do produto aumentam conforme as alterações no projeto ou no desenvolvimento do produto, as mudanças de fornecedores, devido à falta de insumos, de produção de produto, de logística, de assistência técnica, a imprecisão das estimativase os problemas não previstos. Desse modo, é interessante desenvolver um perfil de custos do produto, considerando todo o ciclo de vida. Nesse processo, é necessário identificar todas as atividades do ciclo de vida que geram custos, divididas em subgrupos como planejamento, projeto, testes e avaliações, projeto, testes e avaliações, produção, distribuição, uso, assistência técnica e descarte. Essa divisão permite avaliar que conjunto ou grupo de atividades oneram mais o produto, possibilitando a busca de soluções alternativas que sejam mais econômicas (Irigaray, 2015). 4.3 Recomendação para redução de custos Segundo Pahl e Beitz (1996), algumas recomendações para redução de custos de um produto durante o projeto podem ser utilizadas: • Reduzir o tamanho total do produto, o que reduz os custos com materiais; • Buscar baixa complexidade, reduzindo o número de componentes e de processos de produção; • Reduzir as necessidades de precisão dimensional, buscando utilizar tolerâncias amplas e acabamentos superficiais mais rugosos; • Terceirizar para produzir partes do produto ou o produto inteiro, embalar, transportar e vender. Essa recomendação vale especialmente para empresas que modificam continuamente a linha de produtos, pois evita a imobilização de capital com equipamentos utilizados poucas vezes ou durante um curto período de tempo. A orientação também é interessante se avaliada em nível de pessoal: os trabalhadores, assim como os equipamentos, podem não ter um total aproveitamento durante o horário de trabalho, o que aumenta proporcionalmente os custos fixos; • Utilizar matéria-prima, peças e componentes padronizados facilmente encontrados no mercado. Isso reduz substancialmente os custos com assistência técnica e com o processamento de materiais, estoques e compras, em caso de necessidade de reposição; 20 • Reduzir o consumo de energia, tanto do produto quanto dos processos de produção; • Reduzir o consumo de material, selecionando, entre os disponíveis, aqueles que serão utilizados para obtenção do produto. Essas são algumas das medidas que podem ser adotadas para reduzir o custo dos produtos no seu desenvolvimento. Segundo Rozenfeld e Amaral (2006), a análise de custo de produtos ao longo do processo de projeto é uma atividade de extrema importância para as empresas lançarem produtos competitivos no mercado, identificarem potenciais de redução de custos e implementarem diferenciais nos produtos, considerando um valor de custo adequado. TEMA 5 – FMEA (FAILURE MODE AND EFFECT ANALYSIS) O FMEA traduzido para o português significa: Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos. é uma ferramenta que utiliza um método sistemático para identificar problemas potenciais, suas causas e efeitos, com a ajuda do trabalho em equipe. É, portanto, um método analítico padronizado para detectar e eliminar problemas potenciais de forma sistemática e completa (Helman; Andery, 1995). O FMEA assegura que os métodos de análise serão padronizados e será criado um histórico dos problemas potenciais que podem servir de base para desenvolvimentos futuros. Além disso, o FMEA é um documento vivo, que deve estar em constante atualização e que interage com o planejamento da produção e da qualidade. De acordo com Frank et al. (2014), o FMEA vem se firmando como uma das ferramentas mais importantes no aprimoramento contínuo da qualidade e na redução dos custos do produto, tornando-o cada vez mais competitivo e, dessa forma, visando atender cada vez mais as exigências dos clientes. Estudos sobre campanhas (ou recalls) de produtos provam que um programa completo de FMEA implementado poderia ter prevenido vários destes problemas. 21 5.1 Tipos de FMEA Segundo Rozenfeld e Amaral (2006), existem basicamente três tipos: FMEA de sistema, FMEA de projeto e FMEA de processo. O FMEA de sistema é usado para analisar sistemas e subsistemas na fase de concepção. Concentra- se nos modos de falhas potenciais associados as funções do sistema, causados por deficiências de projeto, incluindo alterações entre os elementos do próprio sistema e interação com outros sistemas. O FMEA de projeto é usado quando o detalhamento do projeto está disponível, geralmente baseado no FMEA de sistema, mas é mais detalhada e envolve a análise de causas específicas de falhas em componentes individuais. A FMEA de processo é usada para analisar processos de fabricação em geral e de montagem, conduzidos quando o processo de produção já está definido. Um dos fatores mais importantes para a implantação bem-sucedida do FMEA é o seu posicionamento no tempo. Ele é supostamente uma ação para “antes do evento” e não um exercício “depois do fato”. Para alcançar maiores benefícios, o FMEA deve ser efetuado antes que um modo de falha de projeto ou processo seja introduzido ao produto por razões desconhecidas (Helman; Andery, 1995). 5.2 Aplicação do FMEA Romeiro et al. (2013) cita que o ponto de partida na aplicação do FMEA é a identificação de falhas em potencial, isto é, falhas que podem vir a ocorrer durante a vida útil do produto. Deve ser conduzida por uma equipe que tenha representantes de diversas áreas da empresa envolvidos no processo de desenvolvimento de produtos. A condução é feita por meio de reuniões regulares periódicas até que a análise do sistema ou componente seja concluída. É utilizada uma planilha para registro e análise das falhas, cujo objetivo final é atuar naquelas falhas que são prioritárias. Na Figura 12 é possível observar o modelo da planilha FMEA. 22 Figura 12 – Modelo de planilha FMEA Fonte: Helmann e Andery, 1995. Uma falha decorre na interrupção de funcionamento ou queda de desempenho em um sistema ou um componente que não atende as especificações, ou seja, não cumpre os requisitos funcionais definidos em projeto. Exemplos de falhas são deformação, quebra, corrosão acentuada, desgaste prematuro, vibração, trinca etc. O modo de falha é a maneira pela qual uma falha ocorre, ou seja, como ela é observada. Vale destacar que as falhas em potencial são observadas em termos físicos e não como sintomas sentidos pelo cliente, ou seja, como ele notará a falha. Por exemplo, uma quebra de um eixo de um veículo pode levar ao descontrole, total ou parcial, ao dirigi-lo. Esse descontrole é um sintoma da falha. A forma pela qual o eixo quebrou é o modo de falha. O cliente notará apenas o sintoma da falha, que, por sua vez, gerará um efeito, ou seja, terá uma consequência que pode ser ou não grave, tanto em termos de danos físicos ou materiais como em insatisfação do cliente (Romeiro et al., 2013). Os efeitos devem sempre ser descritos em termos de desempenho do produto, como, por exemplo: ruído, interrupção na operação, instabilidade do componente etc. Com base na identificação das falhas potencial e seus efeitos, é necessário analisar suas causas. As causas de falhas são os motivos pelos quais 23 a falha ocorre associados ao modo de falhas, como, por exemplo: incrustações ou porosidade no material, tratamento térmico inadequado, sobrecarga etc. O conceito de risco é usado para avaliar as falhas de maneira a eliminá- las ou reduzir as chances de ocorrerem. Desse modo, é calculado um “fator de risco” em função da “probabilidade de ocorrência” (indicada por “O”, item 10 na Figura 12), “gravidade” ou “severidade” (indicada por “G”, item 11 na Figura 12), ou seja, suas consequências, além de “detecção” (indicada por “D”, item 12 na Figura 12), isto é, a chance de serem detectadas antes que ocorram. Para cada um desses índices é atribuído um valor (em escala de 1 a 10) e o fator de risco é calculado pela multiplicação desses índices. O risco é representado pela letra “R” (item 13 da Figura 12). Risco = ocorrência x gravidade x detecção Os fatores de risco com maior valor são aqueles que devemser priorizados, ou seja, aquelas falhas em potencial para as quais devem ser introduzidas ações preventivas. A Figura 13 mostra um exemplo de FMEA de produto. Nesse caso, o produto analisado e o braço de suspensão de um veículo. O modo de falha é por fadiga, sendo as possíveis causas sobrecarga (excesso de peso do veículo), utilização de material fora do especificado e espessura do braço de suspensão fora do especificado. Como efeito dessa falha, o usuário poderá perder o controle do veículo. Figura 13 – Exemplo de FMEA de um braço de suspensão Fonte: Elaborado com base em Romeiro et al., 2013. 24 Para identificação das falhas pode ser necessário reunir todas as informações possíveis sobre o item em estudo (um novo produto ou processo), como desenhos, memoriais de cálculo, especificações de materiais, normas internas ou externas, procedimentos de ensaio e inspeção, roteiros de fabricação, FMEAs realizados em produtos ou processos similares, registros internos e externos de falhas, dentre outros. Com base na identificação dos modos de falha, efeitos e detecção, atribuem-se valores para cada um dos índices de ocorrência, gravidade e detecção, com base nos quadros 3, 4 e 5. Quadro 3 – Índices de ocorrência Índice Critério Probabilidade Ocorrência 1 Probabilidade remota 0 Excepcional 2 Probabilidade baixa 1/20.000 Rara 3 4 Probabilidade moderada 1/2.000 Ocasional 5 1/1.000 6 1/200 7 Probabilidade alta 1/100 Frequente 8 1/20 9 Probabilidade muito alta 1/10 Inevitável 10 1/2 Fonte: Elaborado com base em Romeiro et al., 2013. Quadro 4 – Índices de gravidade Índice Critério Ocorrência 1 Sem gravidade A ocorrência não causará nenhum efeito no sistema. O cliente não será capaz de notar a ocorrência da falha 2 Gravidade baixa Os efeitos quase não são percebidos. O cliente não notará perda no desempenho do sistema. 3 4 Gravidade moderada Perda progressiva de desempenho. O cliente notará a falha e ficará insatisfeito 5 6 7 Gravidade alta Baixa eficiência. O sistema poderá deixar de operar. O cliente perceberá a falha e ficará muito insatisfeito. 8 9 25 10 Gravidade muito alta Pode envolver problemas de segurança. O cliente perceberá a falha e ficará muito insatisfeito Fonte: Elaborado com base em Romeiro et al., 2013. Quadro 5 – Índices de detecção Índice Detecção Probabilidade de o defeito chegar no cliente 1 Muito alta 0 – 5% 2 Alta 6 – 15% 3 16 – 25% 4 Moderada 26 – 35% 5 36 – 45% 6 46 – 55% 7 Baixa 57 – 65% 8 66 – 75% 9 Muito baixa 76 – 85% 10 86 – 100% Fonte: Elaborado com base em Romeiro et al., 2013. De acordo com Romeiro et al. (2013), o índice de gravidade está associado a segurança e a confiabilidade requerida do produto. Por exemplo, em um automóvel, a perda de eficiência da bomba de combustível está associada a uma gravidade moderada, ao passo que, em um avião, a perda de eficiência dessa bomba é de gravidade alta. Com base em atribuição dos índices, calcula-se o fator de risco. As falhas com maior índice de risco deverão ser tratadas prioritariamente, e sobre elas deve ser feito um plano de ação para o estabelecimento de contramedidas. Note que o índice de risco é uma maneira mais precisa de hierarquizar as falhas. Uma falha pode ocorrer frequentemente, mas ter pequena importância e ser facilmente detectável: nesse caso, não apresentará grandes problemas (baixo risco). Seguindo esse mesmo raciocínio, uma falha que tenha baixíssima probabilidade de ocorrer, mas que seja extremamente grave – por exemplo, o vazamento de material radioativo de um reator nuclear – merecerá uma grande atenção, e deverão ser redimensionados os equipamentos de segurança e sistemas de detecção e alarme. 26 Os itens 14 a 20 da Figura 12 contêm as ações preventivas recomendadas para eliminação da falha ou redução da sua gravidade ou ocorrência, por exemplo, redimensionamento, revisão de cálculos de resistência fadiga, modificação das tolerâncias etc. Após as ações preventivas terem sido implementadas, as falhas (modo, efeitos, causas) devem ser reavaliadas através de seus respectivos índices. Espera-se que os índices de criticidade das falhas – principalmente ocorrência e detecção – e o índice de risco tenham seus valores reduzidos. FINALIZANDO Nesta aula, estudamos como realizar o detalhamento de projetos de produtos, fase muito importante no PDP, pois nessa etapa são desenvolvidos os desenhos finais do produto, especificações de projetos de fabricação, materiais que serão utilizados e suas características. A estrutura de produtos também se mostrou extremamente importante, pois por meio dela podemos dimensionar os níveis da lista de materiais, decidir o que vai ser fabricado ou comprado, definição dos custos do produto, controle de estoques etc. Também estudamos a ferramenta FMEA, que pode ser utilizada tanto em produtos quanto em processos para prever falhas que podem ocorrer e trabalhar para reduzi-las ou eliminá-las, tudo isso durante o projeto, de modo a reduzir a chance fracasso em seu lançamento. 27 REFERÊNCIAS AMERICAN PRODUCTION AND INVENTORY CONTROL SOCIETY. 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