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História da Arte Moderna Da forma subjetiva à construção objetiva Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Pio de Souza Santana. Revisão Textual: Profa. Esp. Natalia Conti. 5 Nesta unidade você vai compreender o que significa o Abstracionismo e uma de suas vertentes, o Construtivismo. Entenderá que o Abstracionismo é um conceito amplo que abarca toda a arte chamada de abstrata, uma arte que não representa as imagens do mundo objetivo, como as enxergamos no cotidiano. Saberá como o Abstracionismo se divide em Informal ou Sensível e Geométrico ou Formal. Nesta unidade você vai conhecer dois importantes movimentos artísticos europeus, que promoveram novos rumos e modos de fazer e pensar a Arte do Século XX. São eles: O Abstracionismo e o Construtivismo. O principal objetivo desta unidade é levá-lo a compreender os aspectos mais relevantes das vanguardas da arte abstrata. Da forma subjetiva à construção objetiva · Introdução · O Abstracionismo · O Suprematismo · O Raionismo · O Orfismo · O Construtivismo 6 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva Contextualização Você já ficou intrigado ao se deparar com obras artísticas, sobretudo pinturas famosas, que exibem somente cores espalhadas desordenadamente na tela, ou mesmo figuras geométricas coloridas e nada mais? É comum ficarmos nesse embaraço, não é verdade? Às vezes, conformados ou inconformados em pensar que são obras de grande valor estético. Afinal, arte dessa natureza já se tornou popular no mundo e está presente em diversos museus e espaços culturais de grande valor. Conformado(a) ou não, essa arte chamada de abstrata, que não retrata as imagens do mundo como nós as vemos no cotidiano, é revolucionária. Ela aborda, de modo bastante poético, as questões das emoções e das razões humanas, nas suas mais diversas possibilidades de representação. Com esse espírito revolucionário, o Abstracionismo e o Construtivismo chegaram para ficar, como mais uma espécie de divisor de águas das questões estéticas da Arte Moderna. Neste módulo você compreenderá que o Abstracionismo é um conceito maior, que engloba a arte abstrata de forma genérica. Ele se divide em duas vertentes que são: o Abstracionismo lírico ou informal e o Abstracionismo geométrico ou formal. O abstracionismo lírico ou informal é a vertente que abordará questões emocionais, de impulso imediato e orgânico da alma humana. Já o Abstracionismo geométrico ou formal faz o papel contrário, versará sobre o lado da ordem e da razão intelectual. Enfim, este módulo está muito interessante! E para que você aproveite ao máximo, sugerimos que faça logo em seguida deste, uma cuidadosa leitura do texto “Conteúdo teórico” e assista aos vídeos propostos ao longo dele. 7 Introdução A partir de agora, vamos conhecer o Abstracionismo e o Construtivismo, movimentos pertencentes às vanguardas artísticas européias da primeira década do Século XX. O Abstracionismo é o que chamamos genericamente de arte abstrata. Este termo define a arte que não imita a natureza objetiva, como a enxergamos. O Abstracionismo Como já mencionei e agora com mais detalhes, é uma pintura abstrata! Isto é, não figurativa. Composta apenas de cores e formas no espaço da tela. Não opera comimagens que imitam o mundo. Como nos diz Cavalcanti (1978, p. 139) “ao invés de representar as formas exteriores, visuais dos seres e objetos, o pintor abstracionista cria formas por assim dizer interiores inexistentes visualmente na realidade”. Ficou mais claro agora? Já que começamos a compreender as características básicas do abstracionismo, quero nos situar no tempo e no espaço,para percebermos como essa arte tem suas raízes no passado. Vejamos: A manifestação abstracionista tem seus primeiros registros no período neolítico da Pré- História. Naquele momento, o homem primitivo produzia imagens geométricas, sem nenhuma relação com a realidade exterior. Em suas mudanças, já havia passado da caça e pesca para a agricultura e pecuária, da crença nos poderes mágicos para a cresça nos poderes espirituais. Três mil anos antes de Cristo, o egípcio Imhotep, da terceira dinastia do Antigo Império, considerado o primeiro arquiteto da história, acreditava na abstração ao deixar escrito numa pedra que, conforme Cavalcanti (1978, p. 140), “a verdadeira beleza está numa feliz combinação de cubos, esferas e cilindros, isto é, formas sem qualquer representação direta das realidades exteriores”. Os registros apontam também para a Grécia antiga, onde Platão repete o pensamento do arquiteto. Em antigos túmulos chineses encontram-se pequenas esculturas com formatos abstratos, simbolizando as qualidades dos falecidos. A pintura primitiva cristã, em alguns momentos, representa Cristo por abstrações simbólicas, como por exemplo, a cruz. E seu sangue, um cacho de uva. Avançando um pouco mais no tempo, o renascentista Leonardo Da Vinci teria dito que a pintura é coisa mental. E, chegando ao período moderno, a abstração começa a ser anunciada a partir da arte impressionista, quando os pintores abandonam a representação naturalista da realidade para valorizar uma pintura síntese,”dissolvida”, revelando os reflexos da luz. Van Gogh contribuiu com suas deformações e cores intensas enquanto Cézanne, com suas discretas geometrizações. O Cubismo propôs um realismo mais intelectual do que visual, e os futuristas avançaram ainda mais, com a representação do movimento, que os fez chegar a uma pré-abstração. 8 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva Nesse percurso, a arte abstrata moderna foi ganhando consciência de sua existência,com a recusa definitiva dos artistas em representar as formas visuais da natureza. O Abstracionismo se consagra no Século XX, dividindo-se em duas vertentes: O Abstracionismo Informal ou Sensível e o Abstracionismo Geométrico ou Formal. O Abstracionismo Lírico ou informal É a abstração onde reside o coração, o pulso, as emoções e o instinto, pois: No Abstracionismo Informal ou Sensível, as formas são livres, espontâneas, obedecendo mais ao instinto, intuição ou sentimento. No Geométrico, estão disciplinadas, obedecendo mais à inteligência ou à razão. Os informais ou Sensíveis são mais emocionais; os geométricos, mais intelectuais ou racionais.(CAVALCANTI, 1978, p.155). O primeiro pintor ocidental a produzir o Abstracionismo Lírico ou informal, também conhecido por Abstracionismo Informal ou Sensível, foi o russo, radicado na Alemanha, Wassily Kandinsky, com a obra: Primeira Aquarela Abstrata, de 1910. Veja abaixo uma reprodução dessa obra histórica. Primeira Aquarela Abstrata (1910), Wassily Kandinsky. No mesmo ano, produziu uma série de outras pinturas com o mesmo título: Improvisações, que remete a conceitos musicais. Veja em: https://www.youtube.com/watch?v=TgtR0Q3GKIw O que você achou do vídeo? Concorda que a obra dele é incrivelmente emocionante? Suas cores e formas nos remetem a instintos pulsantes. Kandinsky gostava de misticismo, e apoiado na teosofia, defendia a orientação espiritual da arte. Em 1910 escreveu o livro: “Do Espiritual na Arte”.Nesse livro ele nos diz que: 9 A forma, mesmo abstrata, geométrica, possui seu próprio som interior; ela é um ser espiritual, dotado de qualidades idênticas às dessa forma. Um triângulo (não tendo outras características que indiquem se é agudo, obtuso ou isósceles) é um ser. Um perfume espiritual que lhe é próprio emana dele. Associado a outras formas, esse perfume diferencia-se, enriquece-se de nuanças - como um som, de seus harmônicos -, mas, no fundo, permanece inalterado. (KANDINSKY, 1996, p. 75) Em suas pesquisas sobre as cores, declara que: O vermelho é uma cor quente, com tendência a se expandir; o azul, cor fria, com tendência a se contrair. Kandinsky não aplica a lei dos contrastes simultâneos, mas submete-se à verificação: utiliza as duas cores como duas forças manobráveis, que podem ser somadas ou subtraídas; conforme oscasos, isto é, conforme os impulsos que sente, emprega uma para conter ou, ao contrário para impedir e empurrar a outra.(ARGAN, 1992, p. 446). Você percebe o nível de sensibilidade e o envolvimento de Kandinsky com o mundo invisível? Além dessa sensibilidade toda, em 1911, na cidade de Munique, Kandinsky e seu amigo Franz Marc, ligados ao Expressionismo, criam o grupo: Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), juntamente com os artistas: AlexejvonJawlensky, August Macke, Paul Klee e Marianne von Werefkin, Robert Delaunay e Frantisek Kupka. No ano anterior, Kandinsky já havia chegando à total abstração, mas: O grupo deu a Kandinsky o espaço que ele precisava para continuar trabalhando no que seria sua mais importante série de pinturas, mais uma vez prefixada com uma metáfora musical. Ele havia começado a trabalhar em suas Composições em 1910, com a ambição de fazer pinturas que tivessem a escala e a estrutura de uma sinfonia. Suas três primeiras Composições foram destruídas durante a Segunda Guerra Mundial, o que faz de Composição IV (1911) a primeira da série. (...) A pintura trata de muitas das preocupações de Kandinsky: a relação entre homem e mito, céu e terra, bem e mal, guerra e paz. (GOMPERTZ, 2013, p. 177) 10 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva Como você já viu no vídeo anterior, reveja abaixo uma reprodução de Composição IV: Composição IV (1911), Wassily Kandinsky. Mesmo dando maior foco em Kandinsky, por ter sido o artista mais significativo do Abstracionismo Informal ou Sensível, os outros artistas do grupo são também muitoimportantes. Qual a suaopinião sobre os vídeos dos outros artistas? Lembram um pouco as obras de Kandisnky? Dialogam entre si,não é verdade? Afinal de contas, formas e cores soltas no espaço convocam o nosso sentimento emocional. Mas diferentemente dessa emoção, surge também nesse cenário, avez da razão, presente no Abstracionismo Geométrico ou formal que veremos agora. O Abstracionismo Geométrico ou Formal Enquanto no Abstracionismo Informal ou Sensível o contato é via coração e suas emoções, aqui no Abstracionismo Geométrico ou Formal você verá que é a vez do cérebro, da razão, disciplina, ordem e intelecto. Essa corrente artística, derivada do Cubismo e do Futurismo, é representada pelos seguintes movimentos: Suprematismo, Raionismo, Orfismo, Construtivismo e Neoplasticismo. Vamos conhecê-los: 11 O Suprematismo Por meio do livro O mundo sem objeto,que escreveu em 1913, o pintor e professor russo Kasimir Malevich, ex-cubista, lança o Suprematismo. Seu livro foi publicado na Rússia somente em 1915 e na Alemanha em 1927. Lecionou na Academia de Moscou em 1919 e por motivos políticos transfere-se para a Alemanha, em 1926. Como podemos compreender, Malevich era um intelectual. O Suprematismo, por ele criado, foi um dos Abstracionismos Geométricos mais mpactantes no cenário artístico. Uma vez que sua pintura evoluiu para as formas geométricas puras. Veja, por exemplo, que em 1915, pintou Quadro negro sobre fundo branco. Observe a reprodução abaixo: Quadro negro sobre fundo branco (1915), Kasimir Malevich Estranho? Muito intelectual? É um pouco por aí. Esse artista revelou-se o mais abstrato dos pintores, pois eliminou e reduziu formas, cores, quase tudo. Nesse sentido, complementa Cavalcanti (1978, p. 158) “tendo desmaterializado o que restava de forma, nas suas obras teria pretendido a uma forma imaterial, que não poderia ser senão uma não-forma”. Veja a seguir a imagem de outra obra dele: 12 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva Suprematismo (1915), Kasimir Malevich Malevich escreveu que entendia a supremacia da pura sensibilidade na arte. Acesse aqui outras imagens de Kasimir Malevich: https://www.youtube.com/watch?v=t4YOmxvLUDI Que tal? Esse artista não brincou, não é mesmo? Mas o fato é que essa vanguarda russa: Recusando as imagens das aparências exteriores, recusava também qualquer influência histórica ou social na pintura suprematista. O suprematista isola-se por completo da natureza e da sociedade. Volta-se para dentro de si mesmo, afim de que possa expressar- se absolutamente purificado, em formas geométricas puras e cores, por assim dizer, também geometrizadas, em outras palavras, intelectualizadas ou espiritualizadas. O artista paira, portanto, num mundo intocado de qualquer alusãoou contato com as realidades exteriores, naturais ou sociais. É a clausura absoluta da torre de marfim. (CAVALCANTI, 1978, p. 159). A obra de Malevitch tem impacto sobre o construtivismo de Alexander Rodchenko. Passamos para outra corrente do Abstracionismo Geométrico: 13 O Raionismo É outra vanguarda russa, descendente do Futurismo, que busca representar dinamismo, aplicando linhas diagonais cruzadas para representar os “raios”. O Raionismo defende a predominância da cor e opera com a repetição rítmica de formas e linhas. Os artistas representantes principais são o casal russo Michel Larionov e Nathalie Gontcharova. Veja os vídeos do casal: Michel Larionov, acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=OXvkaroH7zA Nathalie Gontcharova, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CRNRLdCY7qs O Raionismo não teve grandes repercussões, seus fundadores não foram muito adiante. Mas agora veremos: O Orfismo O nome desta vanguarda francesa foi dado no ano de sua criação, em 1912, pelo poeta Guillaume Apollinaire,inspirado no deus da música Orfeu, da mitologia grega.Essa denominação se deu no sentido de acentuar o caráter musical que a pintura apresenta. O Orfismo é derivado do Futurismo, propõe a representação do movimento dinâmico, exalta liricamente a luz e a cor por meio de formas circulares sugerindo impressões musicais. Criado pelo artista Robert Delaunay que, conforme Chipp (1996, p. 314) “Durante 1912 e 1913 ele pintou quadros tão completamente dependentes dos contrastes de cores e harmonias que produziram um dinamismo de cor que se tornou o seu único motivo. “A cor é, por si só, forma e motivo, declarou ele””.Sua esposa,Sônia Delaunay, também participa do Orfismo. Veja Robert Delaunay, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T95GGeoltbc Sônia Dalaunay, em: https://www.youtube.com/watch?v=f5FtF7hqT1Y Belos trabalhos os deles também, não achou? Com o Orfismo finalizamos o Abstracionismo Informal ou Sensível e o Abstracionismo Geométrico ou Formal. Sobre o Neoplasticismo, este será estudado no próximo módulo. Veremos agora o nosso próximo assunto: 14 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva O Construtivismo Este termo já nos dá uma dica: é um derivado da palavra construção. Isto significa que os artistas do Construtivismo propuseram uma arte para ser construída, e não criada. Para eles a arte é uma construção e para alguns artistas, tem função social. O Construtivismo é mais uma vanguarda russa que recebeu influência do Cubismo e do Futurismo. E assim, nos diz Strickland (2014, p.148)”do Cubismo, os construtivistas tomaram emprestado as formas quebradas. Do futurismo, adotaram as imagens múltiplas sobrepostas para expressar a agitação da vida moderna”.Portanto, a junção dessas duas vanguardas é denominada de Cubofuturismo. O artista criador do Construtivismo foi Vladimir Evgrafovic Tatlin, inicialmente amigo de Kasimir Malevich, mas a convivência os fizeramrivais, por conta das ideias divergentes.Para Malevich: A realidade na arte era o efeito sensacional da própria cor (...) expunha um quadro de um quadrado preto sobre fundo branco, afirmando que a sensação evocada por esse contraste era a base de toda a arte. “A representação de um objeto, em si mesma (a objetividade como propósito de representação), é algo que nada tem a ver com arte. (...) O objeto em si é despido de significado para ele e as ideias da mente conscientesão destituídas de valor. A emoção é o fator decisivo (...) e assim a arte chega à representação não-objetiva - ao Suprematismo. (READ, 1974, p. 202). Malevich criou, portanto, o Suprematismo,como já vimos, o máximo da arte abstrata, a supremacia do sentimento ou da percepção. Ao contrário desse pensamento de Malevich, estava o ex-amigo Vladimir Tatlin. Para este artista, a arte deve ser objetiva e construída com materiais tecnológicos, disponíveis na vida cotidiana, essenciais para se construir uma nova arte, a do Construtivismo. As sementes do Construtivismo foram plantadas na primavera de 1914, quando o artista e marinheiro Tatlin foi visitar o ateliê de Picasso em Paris. Tatlin estava determinado a transformar os planos pintados, que vira nas obras cubistas de Picasso, em “materiais reais em um espaço real”. Também é possível que ele tenha visto a obra de Picasso Violão (c.1914) - uma composição radical em três dimensões, feita de folhas de metal e arame. Aos relevos de Tatlin, que subiam pelas paredes, surgiram-se esculturas suspensas, construídas com materiais do dia-a-dia, como barbante, madeira metal e plástico que ele escolhia por suas qualidades inerentes de texturas, cor e forma. (FARTHING, 2011, p. 401). Você compreendeu a diferença entre Malevich e Tatlin? Ambos lidaram com o Abstracionismo Geométrico ou Formal. Porém, com pensamentos opostos: o não objetode Malevich versus o objeto de Tatlin. E assim,a construção do objeto de arte foi anunciada e criada porTatlin. Este artista, conforme O livro da arte (2005, p.453), “advogava a ideia do “artista engenheiro” e via como papel primário do Construtivismo a satisfação de necessidades sociais”. Desse modo, ele potencializa os objetivos da Revolução Russa de 1917. 15 Como a revolução precisava de um tipo de arte menos espiritual do que o Suprematismo para ajudar a alcançar os seus objetivos, foi desenvolvida uma tendência conhecida por Construtivismo. Ela aplicava aspectos do dinamismo despojado do Suprematismo ao contexto mais amplo de arte gráfica, do design teatral e industrial e da arquitetura. (FARTHING, 2011, p. 400). Conheça sobre a Revolução Russa de 1917 em: http://www.sohistoria.com.br/ef2/revolucaorussa/ Os acontecimentos políticos foram ganhando espaço na arte de tal modo que, para Janson (1996, p.405)”o Construtivismo ultrapassou o Suprematismo por ser mais adequado ao espírito pós-revolucionário da Rússia, quando grandes feitos, e não grandes ideias, se faziam necessário”. Em 1917, Vladimir Lênin chega ao poder,impõe o governo socialista soviético e decreta: A arte deveria ter um objetivo. Ela deveria ser “inteligível para milhões”, servindo às necessidades das pessoas do regime. Tatlin (...) estava engajado nesse esforço. Assim também seus colegas construtivistas, Lyubov Popova (1889-1924), Alexander Rodchenko (1891-1956)e Aleksandra Ekster (1882-1949). Numa aliança incomum na história da arte moderna, os artistas da Rússia eram entusiasticamente a favor do Estado, não contra ele. (...) A tarefa dada aos artistas era clara: criar uma identidade visual para o comunismo. Os construtivistas aceitaram a determinação. (GOMPERTZ, 2013, pp. 196-197). A paixão dos artistas pelos materiais e a tecnologia levou Tatlin a projetar, em 1919-20, o Monumento a Terceira Internacional, mais conhecido como a Torre de Tatlin, com quatrocentos metros de altura. Para você ter uma ideia, a Torre Eiffel de Paris tem 301 metros. A gigante de Tatlin seria de ferro e vidro, em formato espiral; foi projetada para girar entorno de si mesma e concebida para ser, também, uma antena de transmissão radiofônica. Descrita pelo artista como “união de formas puramente plásticas entre pintura, escultura e arquitetura, para um propósito utilitário”. Mas, naquele momento, a Rússia passava por profunda crise e o governo, com sérias dificuldades econômicas, não e nunca concluiu o projeto. A intenção era construí-la na margem norte do rio Neva, em São Petersburgo, com a estrutura inclinada e afunilada semelhante a um andaime de construção apontado para cima e para o mundo num agressivo, mas elegante ângulo de sessenta graus. (GOMPERTZ, 2013, p. 199). Veja uma exposição que mostra a Torre de Tatlin em: https://www.youtube.com/watch?v=dlWdEJiv0TI O que você achou da Torre de Tatlin? Muito interessante para a época, não acha? Veja a seguir um selo com a imagem da torre: 16 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva Fonte: Wikimedia Commons Selo russo do ano 2000 com dois símbolos soviéticos: o Monumento à III Internacional e a escultura gigante Operário e Mulher Kolkosiana. Agora conheça um pouco mais da obra de Vladimir Tatlin, no seguinte vídeo: http://youtu.be/F1_R8_p-cTI Percebeu como Tatlin renovou os rumos da arte na Rússia? Veja a seguir uma imagem da artista Lyubov Popova, e a relação dela com o Cubofuturismo. Retrato de um Filósofo (1915), Lyubov Popova. Outras obras dela você acessa em: https://www.youtube.com/watch?v=X9N4-3emqVM A imagem de Lyubov Popova e o vídeo fazem você refletir sobre as influências que tanto o Abstracionismo quanto o Construtivismo têm, um sobre o outro? Além do que você viu, ela também desenhou alguns vestidos decorados com círculos verdes ou azuis, mas não fez muito sucesso com essas roupas. 17 Veja este outro importante artista Construtivista: Alexander Rodchenko, em: https://www.youtube.com/watch?v=O8tWX1vPw7U Esse artista mais tarde tornou-se mestre em gravura e em desenho gráfico. Mais uma artista a ser vista é Aleksandra Ekster, acesse seu vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=ulYRDadYyys El Lissitzky tem uma importantíssima produção de cartazes. Ele é uma figura marcante no avanço do Design Gráfico. Cartaz (1922), El Lissitzky. Lissitzky queria dar sua contribuição em apoio à causa bolchevique. Ele o fez produzindo um cartaz que usava formas geométricas, planos superpostos e paleta preta, branca e vermelha do suprematismo. Derrote os Brancos com a cunha vermelha (1919) (...) tornou-se desde então um dos cartazes mais icônicos já produzidos. Forte e claro, é um exemplo do uso da arte para fins de propaganda. (GOMPERTZ, 2013, p. 201). Veja uma animação desse cartaz no vídeo: http://goo.gl/6Y65Zo E outros trabalhos dele aqui: https://www.youtube.com/watch?v=fw2_v3nYZRY 18 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva Incrível como ele é atual, concorda?Lissitzky influenciou mais tarde muitos designers gráficos e vários grupos pop. Mas havia outros artistas que não concordavam com essa ideia da arte a serviço da sociedade.Trata-se dos irmãos: Antoine Pevsner e Naum Gabo, russos com formação no Ocidente. Em Paris, se interessam pelo Cubismo e voltam para a Rússia durante a Primeira Guerra, aproximam-se de Malevich e são os primeiros a discordar dos políticos que entendiam que a arte deveria servir de propaganda revolucionária; lançam, em 1920, o Manifesto Realista, recusando um programa social e aplicado da arte. De nada adiantou, resolvem deixar a Rússia. Pevsner vai para Paris e Gabo para a Inglaterra e depois para os Estados Unidos. Suas pesquisas buscavam demonstrar que entre ciência e arte não existe relação e sim continuidade. Para eles: O artista é um intelectual que realiza uma pesquisa científica no campo do conhecimento estético: os objetos que faz não tem valor em si, mas enquanto instrumentos e demonstrações da pesquisa. Exclui-se que a ciência opere no âmbito do pensamento abstrato e não implique operações técnicas.(...) As construções plásticas de Pevsner e Gabo não são propriamente esculturas, porque implicam a intenção de anular o próprio conceito de escultura.(ARGAN, 1992, p.454) Veja abaixo uma reprodução de obra de Naum Gabo: Monumento do Bijenkorf (1954-7). Fonte: Wikimedia Commons 19 Vale a pena ver outros trabalhos dele de Naum Gabo, neste endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=BR9Z0wzWjBQ Agora veja o irmão dele, Antoine Pevsner em: https://www.youtube.com/watch?v=2saDzYjVyds Espero que tenha ficado interessado por esses dois construtivistas revolucionários da vanguarda Russa. É importante saber que no Brasil, essa vanguarda russatem suas ressonâncias no movimento concreto de São Paulo, no Grupo Ruptura; e no Rio de Janeiro, com o Grupo Frente. Com a reconstrução econômica e social da União Soviética, o Construtivismo, nos esclarece Janson (1996, p. 406), “passou por uma fase produtivista, que ignorava qualquer contradição entre a verdadeira criatividade artística e a produção puramente utilitária”. Alguns artistas deixaram a Rússia e uniram-se ao grupo holandês De Stijl, e ao Abstraction-Création (Abstração- Criação), na França. Mas esses serão assuntos do módulo cinco. Até lá! 20 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva Material Complementar Vídeos sobre os Abstracionismo Lírico ou informal: Wassily Kandinsky: https://www.youtube.com/watch?v=4nZ_qkeffY4 Vídeos sobre os Abstracionismo Geométrico ou formal: Suprematismo / Malevich: https://www.youtube.com/watch?v=t4YOmxvLUDI Construtivismo: https://www.youtube.com/watch?v=B0g-x2r0htY https://www.youtube.com/watch?v=Y9zjvtrNsgE https://www.youtube.com/watch?v=uL5XfJtzygs Livros: WASSILY Kandinsky. Do espiritual na arte e na pintura em particular. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes. 1996. Museus: New York, Museum of Modern Art: Wassily Kandinsky: .....................................http://goo.gl/nwYhyt WebMuseum: Kasimir Malevich: ...................................... http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/malevich/sup/ Moma: Kasimir Malevich: ...................................... http://www.moma.org/collection/object.php?object_id=80385 World Socialist Web Site: Vladimir Tatlin: http://goo.gl/wkrh6C 21 Referências ARGAN, G.C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. CAVALCANTI. C. Como entender a pintura moderna. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1978. CHIARELLI, Tadeu. Um jeca nos vernissages (MonteiroLobato e o desejo de uma arte nacional no Brasil). São Paulo: USP, 1995. CHIPP, H.B. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1996. DICIONÁRIO da Pintura Moderna. Tradução:Jacy Monteiro. São Paulo: Hemus, 1981. FARTHING, Stephen.Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2001. GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1995. GOMPERTZ, Will. Isto é arte? 150 anos de arte moderna do Impressionismo até hoje. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. HAUSER, A. História Social da Literatura e da arte. São Paulo: Mestre Jou, 1982. KINDERSLEY, Dorling. História ilustrada da arte. Os principais movimentos e as obras mais importantes. São Paulo: Publifolha, 2014. JANSON, H.W. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. READ, H. História da pintura moderna. São Paulo: Círculo do Livro, 1974. STANGOS, N. Conceitos da Arte Moderna: Com 123 ilustrações. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. 15. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. WASSILY, Kandinsky. Do espiritual na arte e na pintura em particular. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes. 1996. 22 Unidade: Da forma subjetiva à construção objetiva Anotações
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