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Estruturas de Mercado e Tomada de Decisão Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Bruno Leonardo Silva Tardelli Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Concorrência Monopolística • Introdução • A Concorrência Monopolística • A Análise Microeconômica da Concorrência Monopolística • Modelo de Diferenciação de Produtos por Localização • Considerações Finais O objetivo desta Unidade é: Introduzir o entendimento sobre a concorrência monopolística, a partir de suas características principais e a comparação com as estruturas de concorrência perfeita e monopólio. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta unidade, serão discutidos os aspectos gerais da estrutura de mercado conhecida como concorrência monopolística. A unidade trata da descrição dessa estrutura por meio da comparação com a concorrência perfeita e o monopólio. Passa-se ao processo de escolha da empresa sob concorrência monopolística e por um modelo de diferenciação por localização, que é uma aplicação da concorrência monopolística. Diante da complexidade do assunto, realize todas as atividades propostas na unidade para obter o máximo de sucesso. ORIENTAÇÕES Concorrência Monopolística UNIDADE Concorrência Monopolística Contextualização Mundialmente, as marcas Pepsi e Coca-Cola “brigam” para serem protagonistas. Entretanto, a estrutura de mercado na qual estão inseridas não é a concorrência perfeita, o monopólio ou o oligopólio, mas sim, a concorrência monopolística. A presente unidade tem o compromisso de apresentar esta estrutura de mercado. Fonte: Blog Análise Econômica 6 7 Introdução O estudo de estruturas de mercado dos produtores de bens e serviços envolve, normalmente, uma separação em concorrência perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística. Sob concorrência perfeita, o número de empresas geralmente é elevado, os produtos são homogêneos e não existem barreiras à entrada, de modo que, no longo prazo, o lucro econômico é igual a zero. Por outro lado, sob monopólio, o mercado é dominado por uma única empresa. Para evidenciar de fato um monopólio, é preciso que o produto não possua substituto próximo ao alcance dos consumidores. Além disso, um mercado dominado por uma única empresa obviamente possuirá significativas barreiras à entrada de competidores. A estrutura de concorrência monopolística, por sua vez, seria um meio-termo entre concorrência perfeita e monopólio. Em termos lúdicos, seria uma espécie de Frankenstein, por reunir elementos que transitam entre aquelas duas estruturas de mercado. Nas palavras de Varian (2012, p. 507), a competição monopolística seria provavelmente a forma que mais prevalece na estrutura industrial. Esta unidade está dividida em três seções, desconsiderando esta introdução e as considerações finais. Na primeira seção, descreve-se a estrutura de concorrência monopolística, com a inserção de exemplos; na segunda seção, é realizada a análise gráfica da maximização de lucro de setores que enfrentam concorrência monopolística; por fim, na terceira seção, abre-se espaço para apresentar um modelo de diferenciação de produtos por localização. A Concorrência Monopolística As principais características da concorrência monopolística seriam a presença de livre barreira à entrada (e também saída) de concorrentes e a existência de substitutos próximos, o que vai de encontro à concorrência perfeita. Entretanto, apesar de algumas similaridades com a concorrência perfeita, em setores marcados pela existência de concorrência monopolística, os produtos concorrentes são diferenciados entre si. Essa diferenciação, por sua vez, pode oferecer a determinados produtores algum poder de monopólio – ou seja, o índice de Lerner seria diferente de zero –, de modo que o preço não seria exatamente igual ao custo marginal no nível produtivo que maximiza o lucro da empresa. A pergunta que surge é: que tipo de setores seriam marcados por esse tipo de concorrência? 7 UNIDADE Concorrência Monopolística Um caso bastante discutido na literatura (VARIAN, 2012; PINDYCK e RUBINFELD, 2010) é o da Coca-Cola. Para entender este exemplo, basta olharmos nas gôndolas dos supermercados. Quantas marcas distintas de refrigerantes são possíveis de serem encontradas? Muitas. Um número relativamente grande de empresas atua no mercado de refrigerantes, de modo que empresas menores concorrem com a Coca-Cola em determinado grau. O que ocorre é que o investimento necessário para participar do mercado de refrigerantes não é, nem de perto, o que seria necessário para fazer parte, por exemplo, de um setor como o automobilístico. A ideia da facilidade de entrada de empresas concorrentes estaria nesse sentido. Entretanto, mesmo havendo a presença de diversas empresas de refrigerantes espalhadas em diversas regiões, algumas marcas possuem uma aceitação melhor dos consumidores em relação a outras. Essa diferenciação no produto, no caso do setor de refrigerantes, normalmente, vai estar associada ao sabor. Se o produto de uma empresa agrada melhor o paladar dos consumidores em potencial, é possível que isso traga alguma vantagem à empresa, que lhe dê capacidade para exercer algum poder de monopólio. A Coca-Cola, por exemplo, é um caso de sucesso de sabor nos paladares mundiais, de distribuição do produto e gerenciamento da marca. Os diferenciais representam ingredientes importantes de poder de monopólio. A capacidade de oferecer um produto diferenciado em meio a um mercado com um elevado número de empresas participantes, como o de refrigerantes, poderia trazer à Coca-Cola a possibilidade de elevar seu preço, sem que os consumidores fujam em debandada, dado certo nível de aumento. A mensuração desse efeito é via elasticidade-preço da demanda. Nas palavras de Vasconcellos, Oliveira e Barbieri (2011, p. 221,222), [...] as diferenças entre os produtos são percebidas pelos consumidores, sendo que, quando uma firma sobe seu preço, ela não perde todos seus consumidores, mas apenas parte delas. Desse modo, cada firma individual defronta com uma curva de demanda por seu produto negativamente inclinada, embora bastante elástica em decorrência da existência de diversos substitutos próximos oferecidos por seus concorrentes. Sobre essa curva de demanda, cada firma se comportará como um monopolista comum, produzindo no ponto em que seu custo marginal se iguala a sua receita marginal. Elasticidade Vasconcellos e Garcia (2008) explicam a elasticidade da seguinte forma: Cada produto tem uma sensibilidade específica com relação às variações dos preços e da renda. Essa sensibilidade ou reação pode ser medida a partir do conceito de elasticidade. Genericamente a elasticidade reflete o grau de reação ou sensibilidade de uma variável quando ocorrem alterações em outra variável, coeteris paribus. (VASCONCELLOS e GARCIA, 2008, p. 68). 8 9 De outra forma, a elasticidade seria a “[...] medida da resposta da quantidade demandada ou da quantidade oferecida a variações em seus determinantes.” (MANKIW, 2001, 94). Elasticidade-preço da demanda [...] a resposta relativa da quantidade demandada de um bem X às variações de seu preço, ou, de outra forma, é a variação percentual na quantidade procurada do bem X em relação a uma variação percentual em seu preço, coeteris paribus” (VASCONCELLOS e GARCIA, 2008). Outro exemplo que transmitiria a ideia de concorrência monopolística é o do setor de produção de café torrado e moído. Dados coletados junto à Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) revelam a forma como se distribuem as empresas associadas (tabela 1). Tabela 1 – Produção e participação por grupos e portes de empresas de café torrado e moído associadas no Brasil entre Novembro de 2013 e Outubro de 2014. Grupos 2013-2014 Participação (%) Número de Empresas 1 a 999 sacas 7,20% 338 1.000 a 2.999 sacas 5,48% 34 3.000 a 9.999 sacas 12,83% 29 A partir de 10.000 sacas 74,49% 10 TOTAL 100,00% 411 Fonte: ABIC(2015) Tipicamente, a produção de café é mensurada em sacas (60 Kg). Identifica-se, na tabela 1, a presença de grande concentração na produção de café torrado e moído. A utilização média superior a 10.000 sacas/mês do grão para torrar e moer o grão no Brasil – e entre as associadas – é atingida por apenas 10 empresas, que correspondem, conjuntamente, a mais de 70% do mercado. Apesar disso, empresas de pequeno porte entram livremente no mercado. A constatação vem do fato de que, das 411 empresas associadas, 338 utilizam média inferior a 1000 sacas por mês e, somadas, atingiram entre novembro de 2013 e outubro de 2014, apenas 7,20% de participação do mercado. O elevado número de empresas de pequeno porte denota a possibilidade de entrada no mercado de café torrado e moído com investimento relativamente baixo, tecnologia conhecida e ausência de importantes fatores que impediriam a entrada. 9 UNIDADE Concorrência Monopolística Apesar do elevado número de pequenas empresas que convivem no mercado, regionalmente, existem preferências distintas por parte dos consumidores, o que poderia fazê-los escolher entre uma marca e outra. Além disso, o café torrado e moído possui características distintas entre marcas, pela origem do café, a determinação dos tipos de cafés que serão utilizados, entre outros. Conforme Vasconcellos, Oliveira e Barbieri (2011, p. 221), [...] as causas da diferenciação entre os produtos podem ser as mais diversas possíveis. Entre elas podemos citar: diferenciação na qualidade intrínseca do produto, diferenciação na localização da firma, diferenciação nos serviços adicionais prestados pela firma, tais como assistência técnica e informações ao consumidor e diferenciação no serviço de vendas ao consumidor. A partir de tudo o que foi dito até o momento, um mercado como o de café torrado e moído poderia ser considerado um envolvido por concorrência monopolística. De acordo com Vasconcellos, Oliveira e Barbieri (2011, p. 221), [...] dizemos que um mercado está em concorrência monopolística quando ele é caracterizado pela presença de muitas firmas que produzem mercadorias muito semelhantes, mas não idênticas, e pela livre entrada de novas empresas nesse mercado. Uma questão adicional que deve ficar clara é que, apesar da diferenciação do produto como uma característica fundamental de um mercado dominado pela concorrência monopolística, as empresas possuem produtos que são altamente substituíveis entre si, de modo que não seria possível a uma empresa, individualmente, elevar demasiadamente os preços, pois, assim, esta perderá boa parte de seus consumidores. Desse modo, apesar da diferenciação entre os produtos por empresas distintas, os consumidores não ficarão muito satisfeitos com as empresas que decidirem subir os preços de forma substancial para muito além de seus concorrentes. 10 11 A Análise Microeconômica da Concorrência Monopolística Uma constatação substancial para o prosseguimento do estudo da estrutura de concorrência monopolística é um entendimento geral sobre a distinção do processo de maximização de lucro de uma empresa sob concorrência perfeita e sob monopólio. Aspectos da concorrência perfeita e do monopólio Quando existe a referência à concorrência perfeita, está-se falando basicamente de uma estrutura em que os produtos são homogêneos – ou seja, não existe diferenciação –, em que há livre entrada e saída de produtores e na qual o número de participantes é substancial. Neste sentido, cada produtor é “obrigado” a tomar o preço de mercado como dado, de modo que, independentemente da quantidade demandada de seus bens, deverá manter os preços como assumidos pela interação entre um grandioso número de ofertantes e demandantes. Assim, a curva de demanda de uma empresa qualquer será horizontal, de tal modo que expressará a impossibilidade de modificar os preços, independentemente da quantidade demandada de seus bens ou serviços. Sob concorrência perfeita, apesar de algumas empresas poderem auferir lucro econômico acima de zero no curto prazo, no longo prazo, este lucro será extinto com a entrada de outras empresas no mercado. Como o nível de maximização de lucros de uma empresa sob qualquer estrutura de mercado ocorre no ponto em que a receita marginal (RMg) iguala-se ao custo marginal (CMg), no caso da concorrência perfeita, um ponto é adicionado. O acréscimo seria dizer que como a receita marginal – ou seja a receita proveniente da venda de uma unidade adicional de produto – é igual ao preço de mercado (P), também seria válido o fato de que P = RMg = CMg. Por outro lado, sob a estrutura de mercado monopolista, o produtor individual representa a oferta do mercado. Desse modo, toda a demanda pelo produto será desse ofertante. Como a curva de demanda do mercado é descendente (inclinada negativamente) pela própria lei da demanda, a curva de demanda da empresa monopolista será descendente. O monopolista poderá exigir um preço superior dos consumidores, dado que é o único no mercado e que, por possuir as características de um monopolista, seu produto terá menor potencial de ser substituído. No caso do monopolista, a maximização de lucro continua sendo o ponto em que a curva de receita marginal (RMg) cruza a curva de custo marginal, mas não será mais igual ao preço, pois unidades adicionais de produto no mercado modificarão o preço atual. Um traço marcante no monopólio é que, no nível de maximização de lucro, o preço será acima do custo marginal, o que lhe garantirá poder de monopólio. 11 UNIDADE Concorrência Monopolística O fato de a curva de demanda individual apresentar-se negativamente inclinada oferece à empresa monopolista a possibilidade de manter a diferença entre o preço de mercado e o custo marginal, no nível de maximização de lucro, mesmo no longo prazo. Isso lhe conferirá poder de mercado que pode ser mensurado via índice de Lerner. O monopolista terá, também, lucro extraordinário, ou seja, lucro econômico acima de zero, mesmo no longo prazo. A concorrência monopolística no contexto de concorrência perfeita e de monopólio Os comentários gerais em torno de outras estruturas, para além da concorrência monopolística, criam a possibilidade de comparação entre esta e as outras duas mais abordadas. Segundo Pindyck e Rubinfeld (2010, p.393), [...] como ocorre com o monopólio, na competição monopolística as empresas defrontam com curvas de demanda descendentes. Por isso, elas têm algum poder de monopólio. Mas isso não significa que empresas monopolisticamente competitivas tenham possibilidade de obter altos lucros. A concorrência monopolística também se assemelha à competição perfeita: como há livre entrada, a possibilidade de obter lucros atrairá novas empresas com marcas competitivas, o que tenderá a reduzir os lucros econômicos a zero. O equilíbrio da empresa sob concorrência monopolística: o curto e longo prazo Como já comentado, a curva de demanda individual sob concorrência monopolística se apresenta como decrescente. O ponto de explicação para tal fato é que, apesar do alto grau de substituição entre os produtos do mercado, pelo fato de existir diferenciação entre os bens ou serviços apresentados pela empresa, o produto apresentado pela empresa é único, de tal modo que pequenas variações no preço partindo da empresa são possíveis. Isso é um ponto oposto à concorrência perfeita, na qual qualquer aumento de preço não seria tolerado pelos consumidores, pelo fato de ter ao redor produtos homogêneos. A empresa sob concorrência monopolística terá uma receita marginal declinante, assim como a empresa monopolista. Por possuir um produto diferenciado no mercado, a produção e venda de cada produto adicional não resultará na mesma receita marginal, como ocorre sob concorrência perfeita. A empresa sob concorrência monopolística apresenta queda na receita marginal (RMg) a cada produto oferecido ao mercado justamente por elevar a oferta ao mercado (Lei da oferta).12 13 A partir desse cenário, cabem alguns comentários a respeito das curvas de custo marginal e custo médio da empresa envolvida em uma estrutura de concorrência monopolística. As curvas de custo marginal apresentam formato de “U” – em função da lei dos rendimentos decrescentes – e a curva de custo médio acompanha esse formato por ser consequência da curva de custo marginal. Análise da curva de Produto Marginal e a Lei dos Rendimentos Decrescentes Relacionando a presença de dois insumos, capital e trabalho, sendo este variável e aquele fixo, Pindyck e Rubinfeld (2010) explicam a lei da seguinte forma: A lei dos rendimentos marginais decrescentes diz que, à medida que aumenta o uso de determinado insumo em incrementos iguais (mantendo-se fixos os demais insumos), acaba-se chegando a um ponto em que a produção adicional resultante decresce. Quando a quantidade utilizada do insumo trabalho é pequena (e o capital é fixo), pequenos incrementos de insumo trabalho geram substanciais aumentos no volume de produção, à medida que os funcionários são admitidos para desenvolver tarefas especializadas. Inevitavelmente, entretanto, a lei dos rendimentos marginais decrescentes entra em ação. Quando houver funcionários em demasia, alguns se tornarão ineficientes e o produto marginal do insumo trabalho apresentará queda. (PINDICK e RUBINFELD, 2010, p.175) Conceitos de Custo Marginal e Custo Médio Considerando C como o custo total e q a quantidade produzida, a tabela 2 apresenta os conceitos de custo marginal e custo médio (ou custo médio total). Tabela 2 - Curvas de Custo Marginal e Custo Médio Definição Equação Custo Marginal Aumento no custo resultante da produção de uma unidade adicional de produto. ∆= ∆ C CMg q Custo Total Médio Custo total da empresa dividido pela quantidade produzida. = CCTMe q A empresa sob concorrência monopolística maximizará o lucro produzindo no nível em que a receita marginal (RMg) igualar o custo marginal (CMg). No curto prazo, este ponto é o QCP (gráfico 1.a). Observa-se que o preço de mercado no curto prazo, denotado por PCP, é superior ao custo médio (CMe), de modo que a empresa terá lucro econômico acima de zero, pois o custo médio, além de incluir os custos tipicamente contábeis inclui os custos de oportunidade, no curto prazo, a empresa estaria, em média, superando todos estes custos. A área sombreada no gráfico 1.a aponta para o montante deste lucro extraordinário. 13 goula Realce UNIDADE Concorrência Monopolística Gráfico 1 – Equilíbrio de curto e longo prazo da empresa sob concorrência monopolística Fonte: Pindick e Rubinfeld (2010) Entretanto, considerando um período suficiente para existir todos os ajustes possíveis, a empresa enfrentará o longo prazo. Entre o curto prazo e o longo prazo, empresas situadas em outros ramos de atividade identificam a possibilidade de auferir lucro econômico acima de zero no mercado monopolístico em questão, e se propõe a entrar neste mercado, que poderia ser o de refrigerantes, café torrado e moído, ou qualquer outro mercado que apresentar concorrência monopolística no curto prazo. A partir do momento em que outras empresas se interessam e entram no mercado, existe uma divisão maior da quantidade demandada por cada empresa. Como existem mais empresas para atender os consumidores, todas as empresas presentes no longo prazo terão menor quantidade demandada em relação à situação de curto prazo. Assim, com a entrada de novas empresas, a curva de demanda de cada empresa irá se deslocar para a esquerda em relação à situação de curto prazo (gráfico 1.b). A pergunta que resta é: qual o limite para esse deslocamento? Assim como na situação de concorrência perfeita, o equilíbrio de longo prazo será atingido quando não houver mais possibilidades de lucro econômico acima de zero, ou seja, não existir lucro acima da expectativa média de todos os outros setores produtivos possíveis. Mas, então, qual seria ese ponto? O equilíbrio é atingido quando o nível de produção no qual a curva de custo marginal cruza a curva de custo marginal RMg = CMg e, ao mesmo tempo, o preço é igual ao custo médio (PLP = CMe), como pode ser observado no gráfico (1.b). É importante observar, que empresas situadas em mercados com concorrência monopolística continuam tendo poder de monopólio – dado que o preço de mercado está acima do custo marginal. Entretanto, o lucro extraordinário não existirá no longo prazo. 14 15 Modelo de Diferenciação de Produtos por Localização Um modelo de diferenciação de produtos por localização é apresentado por Varian (2012). O modelo apresentado trata-se do conhecido Modelo de Hotteling, em referência a Harold Hotteling, que publicou o artigo Stability in Competition, em 1929, na revista The Economic Journal. O modelo trata de uma concorrência entre vendedores que não se diferenciam em relação ao produto vendido, mas sim na localização. Varian (2012) discute a ideia central do artigo exemplificando com a presença de dois sorveteiros em uma praia, ao longo de um calçadão, os quais escolheriam um ponto fixo para venderem sorvete em função de uma concessão oferecida a eles, sendo o preço do sorvete o mesmo entre eles. O modelo tenta expor, portanto, que a única distinção entre eles é o ponto de venda, que ficaria a critério de escolha do sorveteiro. A decisão da localização escolhida pelo sorveteiro implicaria no volume de vendas. Cada sorveteiro deveria encontrar um ponto de modo a “[...] minimizar a distância total a ser percorrida por todos os consumidores” (VARIAN, 2012, p. 509). Ou seja, é como se cada sorveteiro enxergasse a disposição dos banhistas ao longo da praia como sendo uniforme e devesse estimar em qual localização os banhistas em geral teriam que percorrer menor distância para poder atraí-los. A resposta ao “dilema dos sorveteiros” é: na metade da praia. Mas por quê? Figura 1 – Calçadão da praia e sorveteiros A e B Suponha que os sorveteiros se dispusessem, inicialmene, um no ponto ¼ do calçadão da praia (sorveteiro A) e outro no ¾ do calçadão de praia (sorveteiro B). Além disso, o calçadão da praia será referenciado como tendo ponto inicial à esquerda do ponto ¼ e o final à direita de ¾ de praia. 15 UNIDADE Concorrência Monopolística Partindo das hipóteses iniciais, os consumidores localizados no início da do calçadão da praia até pouco antes da metade do calçadão preferirão comprar do sorveteiro A, ao passo que os consumidores localizados pouco à frente da metade até o final comprarão do sorveteiro B. Os consumidores localizados na metade da praia serão indiferentes entre comprar de A ou B. Caso o sorveteiro A pense em conquistar novos clientes, poderá se deslocar à direita. Pouco a pouco, esse sorveteiro irá conquistar alguns banhistas mais à direita e permanecerá com os consumidores localizados à sua esquerda. Até qual ponto se deslocará? Até pouco antes de chegar no ¾ de praia, onde está localizado o sorveteiro B, pois, assim, ganhará toda a faixa de consumidores localizados à sua esquerda. Por outro lado, o sorveteiro B não terá interesse de se manter na posição ¾ do calçadão, pois terá menos clientes do que a quantidade que maximizará suas vendas. Assim, o sorveteiro B se deslocaria à esquerda, conquistando os consumidores do sorveteiro A. O sorveteiro A, por sua vez, não ficará “parado” e acompanhará o movimento do sorveteiro B. Mas, afinal, quando essa “brincadeira” vai parar? O equilíbrio será estabelecido quando ambos sorveteiros se localizarem na metade do calçadão da praia, na qual nenhum terá interesse em realizar qualquer outra movimentação. Outro exemplo interessante apresentado por Varian (2012) é o que envolve duas emissoras de rádio, que, implicitamente, considera a existência somente delas no mercado de rádio. Pense na escolha da programação musical por duas emissoras de rádio. Em um extremo, temos a música clássica, e no outro, o rock heavy metal. Cada ouvinte escolhe a estaçãoque esteja mais de acordo com seu gosto. Se a estação de música clássica tocar algo um pouco mais ao centro do espectro do gosto, não perderá os clientes clássicos, mas ganhará alguns ouvintes de gosto mediano. Se a emissora de rock dos amantes de rock deslocar sua programação um pouco mais para o centro, não perderá nenhum dos amantes do rock, e ainda ganhará alguns ouvintes de gosto mediano. Em equilíbrio, ambas as estações tocarão o mesmo tipo de música, e as pessoas com gostos extremados ficarão descontentes com ambas. (VARIAN, 2012, p. 510) O exemplo trata, portanto, de uma extensão do caso dos dois sorveteiros. Existe a possibilidade de aplicação da análise microeconômica com uso de sorveteiros ou mais emissoras, mas isso fugiria do escopo desta unidade. 16 17 Considerações Finais A partir desta unidade, foi possível identificar a concorrência monopolística em meio às estruturas de concorrência perfeita e monopólio, de modo a facilitar o entendimento daquela. Viu-se que a estrutura de mercado de concorrência monopolística contém traços tanto de concorrência perfeita como de monopólio. Nesse contexto, a partir da “leve” diferenciação do produto e da livre entrada no mercado, o comportamento de longo prazo assemelha-se à concorrência perfeita, por ter lucro econômico zero, mas também à empresa monopolista, pois mantém certo poder de monopólio, identificado na diferença entre o preço de mercado de longo prazo e o custo marginal. Além disso, a unidade foi finalizada com a aplicação de um modelo de diferenciação por localização para expressar essa possibilidade de distinção entre empresas. 17 UNIDADE Concorrência Monopolística Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Como material complementar, há um link que ampliará seus conhecimentos sobre o tema desta unidade. Vídeos Assista ao vídeo sobre o embate entre marcas de bebidas: https://youtu.be/cK7gVLyOPf8 18 https://youtu.be/cK7gVLyOPf8 19 Referências MANKIW, N. G. Introdução à Economia. Princípios de Micro e Macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de Economia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. VASCONCELLOS, M. A. S.; OLIVEIRA, R. G.; BARBIERI, F. Manual de Microeconomia. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011. VARIAN, H. R. Microeconomia. Princípios Básicos. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2012. 19
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