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Julia Silva APOSTILA DE FILOSOFIA SANTOS, J.S. 1. INTRODUÇÃO O que significa pensamento científico? Pensamento Científico é a trilha de conhecimento que busca estudar como se formou aquilo que chamamos hoje de ciência e conhecimento científico. A filosofia da ciência é o campo de estudos filosóficos focado na compreensão, no questionamento e no aprimoramento dos processos e métodos científicos, buscando sempre garantir os fundamentos para que o trabalho científico ocorra da melhor forma, proporcionando um conhecimento que seja indubitavelmente confiável. Relação entre filosofia e ciência A pergunta “o que é” é antiga e importante para a composição do conhecimento filosófico, pois ela busca pela essência de algo, possibilitando assim a enunciação do conceito que delimita o que é perguntado. Nessa relação entre as duas áreas do conhecimento, é importante ressaltar que a filosofia é uma espécie de “mãe” das ciências, por ser a primeira a questionar o conhecimento tradicional e de senso comum em busca de respostas mais racionais. Antiguidade · Os pré-socráticos se perguntavam pelo princípio das coisas,arché; podem ser considerados filósofos da natureza; · O princípio das coisas, para cada um deles, era algo diferente: Tales de Mileto: água; Anaximandro: ilimitado, apeiron; Anaxímenes: ar; Xenófanes: terra; Heráclito: fogo; Empédocles: quatro elementos; Pitágoras: números; Demócrito: átomos, partículas indivisíveis. Medieval A ciência não deixou de ser desenvolvida durante o período medieval. Os gregos eram muito estudados, mas o colapso do Império Romano causou também uma grande perda no conhecimento. A instituição que mais conseguiu preservar o conhecimento foi a Igreja Cristã, ainda que tenha conseguido preservar poucas coisas; Quando a Europa conseguiu se recuperar, houve um movimento de tradução dos clássicos gregos para o latim. O impacto dessas traduções foi revolucionário nas universidades que nasciam por toda a Europa. Alguns pensadores se destacaram: Roger Bacon, com seu método baseado em um ciclo repetitivo de observação, hipótese e experimentação; William de Ockham, com sua Navalha de Ockham que escolhe a explicação mais simples dentre as igualmente válidas; Nicole D’Oresme, que trabalha conceitos de movimento e astronomia; e Nicolau Copérnico, que desenvolveu a explicação heliocêntrica como uma hipótese matemática de explicação do mundo. Moderno Galileu Galilei é considerado um dos pais da ciência moderna, pois marca a transição da filosofia natural da antiguidade para o método científico moderno. Defende um método científico com experimentação prática das teorias, com um uso cada vez maior da matemática. Desenvolve diversos instrumentos para a verificação prática das teorias científicas, como o aperfeiçoamento da luneta. Preocupa-se com a divulgação científica de suas descobertas, escrevendo na língua comum (italiano). Desenvolve a teoria heliocêntrica. Contemporâneo Karl Popper considera que toda teoria científica é sempre conjectural e provisória: uma teoria ainda não contrariada pelos fatos. Para ele, uma teoria científica pode ser refutada por uma única observação negativa, mas nenhuma quantidade de observações positivas pode torná-la eterna e imutável; Desenvolve o conceito de falseabilidade na ciência: o objetivo das experiências e observações é encontrar provas da falsidade daquela teoria e, quando encontrar, desenvolver uma nova teoria para explicar o fenômeno analisado. 2. FILOSOFIA IDADE ANTIGA A Filosofia Antiga corresponde ao período do surgimento da filosofia grega no século VII a.C. Ela surge da necessidade de explicar o mundo de um novo modo. Os filósofos buscam encontrar respostas racionais para a origem das coisas, dos fenômenos da natureza, da existência e da racionalidade humana. Desse modo a filosofia é um termo grego que significa ‘amor ao saber’, ou seja, veio da busca pela sabedoria. Contexto Histórico A filosofia antiga surge com a substituição do saber mítico ao da razão e isso ocorreu com o surgimento da polis grega (cidade-estado). Essa nova organização grega, foi fundamental para a desmistificação do mundo através da razão e, com isso, as reflexões dos filósofos. Mais tarde, as discussões que ocorriam em praça pública juntamente com o poder da palavra e da razão (logos) levaram a criação da democracia. A história da filosofia antiga pode ser dividida em três grandes períodos: o período pré-socrático, a Grécia clássica e a época helenística. Pré-socráticos: os filósofos que viveram antes do período de Sócrates foram Parmênides, Heráclito e Tales de Mileto. Os dois primeiros investigaram a origem das coisas e as transformações da natureza. O último foi o primeiro pensador chamado realmente de filósofo. Sustentou a ideia de que a matéria que o mundo é feito era a água. Heráclito: · Tudo está em constante mudança e transformação; · Como tudo está em movimento, todas as coisas são mudanças entre opostos; · Dessa maneira, embora exista uma alternância entre opostos, eles só existem em relação - por isso, existe uma harmonia entre opostos. Parmênides: · O ser é entendido como uno, eterno e imutável; · A mudança que percebemos com nossos sentidos é ilusória. Grécia clássica: entre os séculos 5 a.C. e 4 a.C. a civilização grega conheceu seu apogeu, com a magnificência da cidade de Atenas, foi dominada pelo seu poder militar e econômico e teve a democracia como sistema político. Em função disso, houve o crescimento das ciências e das artes. Os três maiores filósofos dessa época foram: Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates · O método socrático era questionar seu interlocutor, levando-o a perceber as contradições em sua forma de pensar e incentivando-o a pensar por si mesmo; · O nome desse método socrático é Maiêutica; · Ele não ensinava em escolas, mas fica em lugares públicos como praças, dialogando com qualquer pessoa que passasse; · Ensinava de maneira gratuita e criticava os sofistas; · É conhecido pela frase “Só sei que nada sei”, afirmando uma necessidade constante de questionamento e pensar por si mesmo. Platão · Dualismo: Mundo das Formas (mundo inteligível) x Mundo Sensível (mundo que acessamos através dos nossos sentidos). · Aquilo que existe em nosso mundo é uma cópia imperfeita daquilo que existe no mundo das ideias. Nesse contexto surge a Alegoria da Caverna. · Teoria da Reminiscência: aprender é recordar-se; · Doutrinas não escritas. Aristóteles · Conceitos de matéria e substância; · O conhecimento do que acontece no mundo se ele ao conhecimento do abstrato, daquilo que é universal; · Sua lógica é considerada o primeiro estudo de lógica formal no Ocidente; · Sua lógica trabalha com silogismos e três princípios: princípio de identidade, princípio da não contradição e princípio do terceiro excluído. Helenismo: corresponde ao final do século 3 a.C. e se estende até o século 6 d.C. Nesse período, voltam à tona as inquietações filosóficas relacionadas às questões morais, à definição dos ideais de felicidade, virtude e ao saber prático. O momento helenístico preocupa-se com o problema da salvação e da felicidade. A filosofia é tida como um modelo de vida e passa a ser possível alcançá-la por meio de conjuntos de regras morais. Nesse período destaca-se ainda o surgimento de pequenas escolas filosóficas e a perda de vigor da filosofia, que se torna repetitiva e pouco criativa. 3. FILOSOFIA MEDIEVAL A filosofia medieval foi desenvolvida na Europa durante o período da Idade Média (séculos V-XV). Trata-se de um período de expansão e consolidação do Cristianismo na Europa Ocidental. A filosofia medieval tentou conciliar a religião com a filosofia, ou seja, a consciência cristã com a razão filosófica e científica. Características: · Inspiração na filosofia clássica (Greco-romana); · União da fé cristã e da razão; · Utilização dos conceitos da filosofia grega ao cristianismo; · Busca da verdade divina.Muitos filósofos dessa época também faziam parte do clero ou eram religiosos. Nesse momento, os grandes pontos de reflexão para os estudiosos eram: a existência de Deus, a fé e a razão, a imortalidade da alma humana, a salvação, o pecado, a encarnação divina, o livre-arbítrio, dentre outras questões. Dividimos a Filosofia Medieval em quatro fases: · Filosofia dos Padres Apostólicos; · Filosofia dos Padres Apologistas; · Patrística; · Escolástica. Filosofia dos Padres Apostólicos Nos séculos I e II, a filosofia desenvolvida esteve relacionada com o início do Cristianismo e, portanto, os filósofos desse período estavam preocupados em explicar os ensinamentos de Jesus Cristo num meio pagão. O maior representante desse período foi Paulo de Tarso, o Apóstolo Paulo, que escreveu muitas epístolas incluídas no Novo Testamento. Filosofia dos Padres Apologistas Nos séculos III e IV a filosofia medieval passa para uma nova fase relacionada com a apologia. Esta era uma figura da retórica que consistia na defesa de algum ideal, nesse caso, a fé cristã. Nesse período destacam-se os apologistas cristãos: Justino Mártir, Orígenes de Alexandria e Tertuliano. Filosofia Patrística A filosofia patrística foi desenvolvida a partir do século IV e permaneceu até o século VIII. Recebe esse nome porque os textos desenvolvidos no período foram escritos pelos chamados "Padres da Igreja" e se preocupava em adaptar os ensinamentos da filosofia grega aos princípios cristãos. Baseava-se nas obras de Platão e identificava a Palavra de Deus com o mundo das ideias platônicas. O filósofo mais destacado do período foi Santo Agostinho de Hipona. · Representante da Patrística; · Fortemente influenciado por Platão; · Defende que a fé recebe clareza da razão, e a razão o estímulo da fé; · Afirma que quanto mais conhecemos, mais nos aproximamos da Verdade; Deus é considerado o Ser, a Verdade e o Bem. Filosofia Escolástica Baseada na filosofia de Aristóteles, a Escolástica foi um movimento filosófico medieval que se desenvolveu durante os séculos IX e XVI. Ela surge com o intuito de refletir sobre a existência de Deus, da alma humana, da imortalidade. Em suma, desejam justificar a fé a partir da razão. Nesse período, o filósofo mais importante foi São Tomás de Aquino e sua obra "Summa Teológica", onde estabelecem os cinco princípios para provar a existência de Deus. · Representante da Escolástica; · Fortemente influenciado por Aristóteles; · Considerado um Doutor da Igreja Católica; · Defende que a filosofia possui autonomia, mas não esgota tudo que pode ser conhecido - é a teologia que explica aquilo que se relaciona à salvação eterna; · Possui uma obra extensa e amparada na razão e na dialética. 4. FILOSOFIA MODERNA A filosofia moderna começa no século XV quando tem início a Idade Moderna. Ela permanece até o século XVIII, com a chegada da Idade Contemporânea. Ela marca uma transição do pensamento medieval, fundamentado na fé e nas relações entre os homens e Deus, para o pensamento antropocêntrico, marca da modernidade, que eleva a humanidade a um novo status como o grande objeto de estudo. O racionalismo e o empirismo, correntes de pensamento construídas no período, demostram essa mudança. Ambos visam dar respostas sobre a origem do conhecimento humano. O primeiro associando à razão humana e o segundo, baseando-se na experiência. Contexto Histórico A filosofia moderna surge juntamente com o final da Idade Média e com a queda do sistema feudal. O fim do período medieval e a diminuição do domínio da Igreja Católica marcam a busca dos cientistas por novas formas de saber e pensar racionalmente, desvinculando-se cada vez mais das influências religiosas, que foram a marca da Idade Média. · Durante o surgimento da filosofia moderna, o mundo passava por diversas transformações: as grandes navegações; · A reforma e a contrarreforma religiosas; · O início do Renascentismo; · A formação dos primeiros Estados Nacionais modernos; · A consolidação dos regimes absolutistas; · O surgimento da burguesia; · A invenção da imprensa; · A chegada a novos continentes. Características Algumas características marcam a Filosofia no período do século XV ao XX com maior ou menor intensidade, dependendo do momento e da escola filosófica que está sendo analisada. Dentre as principais características, vale a pena destacar as seguintes: · Antropocentrismo e humanismo, com o homem como centro de todas as pesquisas e responsável por suas próprias escolhas; · Valorização de novas técnicas científicas e da pesquisa para encontrar as soluções dos problemas levantados; · Racionalismo; · Empirismo, ou seja, o uso de experimentos para provar as afirmações e encontrar soluções aos problemas; · Liberdade de pensamento a partir da menor influência religiosa; · Surgimento de escolas laicas de Filosofia. · Negação religiosa. Principais Autores e Correntes Dentre os principais filósofos e escolas merecem destaque: · Nicolau Maquiavel (1469-1527) - Considerado pai do pensamento político moderno, Maquiavel desenvolveu sua filosofia no período renascentista. É autor de “O Príncipe”, obra que aponta as diretrizes de como os rei devem governar seus países. · Jean Bodin (1530-1596) - Filósofo francês, Bodin apresenta visões que contribuem para a evolução do pensamento político moderno. Faz a análise da teoria do direito divino dos reis em sua obra, composta por seis livros e denominada “A República”. · Francis Bacon (1561-1626) - Bacon colaborou com a criação do método indutivo de investigação científica que preza as observações e depois apresenta induções para os fenômenos naturais. · Galileu Galilei (1564-1642) - Astrônomo, físico e matemático, Galileu é considerado o pai da Física e da Ciência Moderna. Criador do método matemático experimental, que aplica a matemática a fenômenos naturais, e defensor das ideias heliocêntricas de Copérnico, Galileu contraria as crenças e dogmas católicos que acreditavam no geocentrismo. · René Descartes (1596-1650) - Criador do pensamento cartesiano, apresentado na obra “O discurso sobre o método”, de 1637, e que influenciou pensadores e filósofos modernos. · Baruch Spinoza (1634-1677) - É um filósofo holandês que critica e combate todo tipo de superstição, pois seriam criadas pela imaginação. Spinoza acredita e defende a existência de um Deus transcendental que está ligado a natureza. 5. FILOSOFIA CONTEMPORANEA A Filosofia Contemporânea é aquela desenvolvida a partir do final do século XVIII, que tem como marco a Revolução Francesa, em 1789. Engloba, portanto, os séculos XVIII, XIX e XX. Contexto Histórico Esse período é marcado pela consolidação do capitalismo gerado pela Revolução Industrial Inglesa, que tem início em meados do século XVIII. Por conseguinte, o século XIX reflete a consolidação desses processos e as convicções ancoradas no progresso tecno científico. Já no século XX, o panorama começa a mudar, refletido numa era de incertezas, contradições e dúvidas geradas pelos resultados inesperados. Características A filosofia contemporânea possui algumas características que a diferem das outras correntes filosóficas. Muitas dessas ideias fazem parte, inclusive, dos pensamentos filosóficos da Escola de Frankfurt. Dentre as características principais merecem destaque: · O pragmatismo, o cientificismo e as ideias positivistas; · Utilitarismo; · Racionalismo; · Liberdade, que serviu de base às ideias liberais; · Existencialismo; · Pluralismo, com a abordagem de diversos temas distintos; · Subjetividade. A teoria crítica da escola de Frankfurt, que analisou a indústria cultural e o surgimento da cultura rápida e voltada para o consumo imediato das massas, sem o levantamento de ideias ou propostas críticas, também ganhou destaque dentro da filosofia contemporânea. Principais Autores Dentre os principais autores da filosofia contemporânea, destacam-se: · Karl Marx (1818-1883): Filósofo alemão e crítico do idealismo hegeliano, Marx é um dos principais pensadores da filosofia contemporânea. Sua teoria é denominada de "Marxista". Ela abrangediversos conceitos como o materialismo histórico e dialético, a luta de classes, os modos de produção, o capital, o trabalho e a alienação. · Friedrich Nietzsche (1844-1900): Filósofo alemão, o niilismo de Nietzsche está expresso em suas obras em forma de aforismos (sentenças curtas que expressam um conceito). Seu pensamento passou por diversos temas desde religião, artes, ciências e moral, criticando fortemente a civilização ocidental. O mais importante conceito apresentado por Nietzsche foi o de “vontade de potência”, impulso transcendental que levaria a plenitude existencial. · Auguste Comte (1798-1857): precursor dos pensamentos positivistas e da Sociologia. Fundador da escola positivista de filosofia, Comte pauta suas ideias no desenvolvimento de uma ciência inspirada no progresso científico e na apresentação de dados. Na “Lei dos Três Estados” o filósofo francês aponta para a evolução histórica e cultural da humanidade. Ela está dividida em três estados históricos diferentes: estado teológico e fictício, estado metafísico ou abstrato e estado científico ou positivo. · Friederich Hegel (1770-1831): um dos maiores expoentes do idealismo cultural alemão. Hegel usa a dialética, que define como movimento da realidade que deve ser aplicado ao pensamento. Hegel usa, também, como base da sua teoria hegeliana, o saber e a consciência. Baseou seus estudos na dialética, no saber, na consciência, no espírito, na filosofia e na história. Esses temas estão reunidos em suas principais obras: Fenomenologia do Espírito, Lições sobre História da Filosofia e Princípios da Filosofia do Direito. · Ludwig Feuerbach (1804-1872): discípulo de Hegel, Feuerbach faz duras críticas ao conceito de Deus e à religião, que segundo ele, são fontes da alienação. · Arthur Schopenhauer (1788-1860): crítico das obras de Hegel, o alemão constrói sua teoria baseado no pensamento kantiano, que afirma que a essência do mundo seria resultado da vontade de viver de cada pessoa. Para Schopenhauer, o mundo é criado a partir de várias ideias de representações. · Soren Kierkegaard (1813-1855): um dos precursores do existencialismo, ao desenvolver sua teoria a partir das questões ligadas à existência humana, como a relação entre homens, mundo e Deus, que causaria a angústia de viver, inquietações e desespero. REFERENCIAS ABBAGNANO, Niccolà. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1998. BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1998. JASPERS, K. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 2006. LORIERI, M. A.; RIOS, T. A. Filosofia na escola: o prazer da reflexão. São Paulo: Moderna, 2008. REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2009.
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