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DIREITO PENAL MILITAR

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DIREITO PENAL MILITAR
O Direito Penal Militar busca proteger as instituições militares que, conforme a Constituição Federal, são organizadas com base na disciplina e hierarquia (“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”). O Código Penal Militar (CPM) protege bens jurídicos um tanto quanto diferentes do que aqueles protegidos pela legislação comum, como, por exemplo, as já mencionadas hierarquia e disciplina, o dever e o serviço militar, bons costumes e o pudor militar. Trata-se, portanto, de um direito especial (com normas que fogem ao direito penal comum), e não de um direito tido como excepcional. 
Ademais, conforme será visto posteriormente, de forma mais detalhada, há uma Justiça Militar da União (competente para processar e julgar os crimes militares definidos em lei) e uma Justiça Militar Estadual (competente para processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei, ressalvada a competência do Júri quando a vítima for civil). 
· Princípios 
Alguns dos princípios aplicáveis ao direito penal militar também têm incidência no campo do Direito Penal comum, embora com algumas peculiaridades, como, por exemplo: princípio da legalidade; princípio da proporcionalidade; princípio da adequação social; princípio da individualização da pena; da responsabilidade pessoal (ninguém pode ser punido por ato praticado por outrem; em caso de obrigação de reparar o dano, sendo o réu falecido, seus herdeiros responderão pela dívida, mas somente até a força da herança, justamente em decorrência deste princípio); da intervenção mínima (o direito penal, seja ele militar ou comum, somente deverá intervir quando os demais ramos do direito se mostrarem insuficientes para a solução do conflito); o da ofensividade (é diante deste princípio que se busca rechaçar o direito penal do inimigo, logo, entende-se que a figurado criminoso habitual ou por tendência, prevista no Código Penal Castrense, em seu artigo 78, ofende a Constituição e, assim, não teria sido recepcionado por ela; por sua vez, o crime de pederastia ou outro ato de libidinagem, previsto no artigo 235 do mesmo diploma, só não é tido como crime que ofende tal principio da ofensividade porque, no âmbito do direito penal militar, há bens especiais outros que também são protegidos, como, já mencionado, a disciplina, os bons costumes e o pudor militar); e o princípio da humanidade das penas (embora seja prevista a pena de morte em tempo de guerra). 
· Princípio da Insignificância (Bagatela) :
No direito penal militar, tal princípio incide de forma ainda mais restrita, se comparado ao direito penal comum, em razão dos bens que tutela (um fato, embora possa ser tido como insignificante no direito penal comum, no âmbito militar, por tutelar bens por vezes diversos, pode ser tido como relevante e, por conseguinte, não permitir que o princípio da bagatela incida). Vale dizer que, embora o Supremo Tribunal Federal (STF), em julgados, por vezes, entenda pela possibilidade da incidência de tal princípio, o Superior Tribunal Militar (STM), quando instado a decidir sobre o tema, entendeu pela sua não incidência. 
· Princípio da Insignificância (Bagatela) – Drogas
 Em 2010, a Suprema Corte (STF) entendeu que o princípio da insignificância não incide quando o militar é surpreendido, em lugar sujeito à administração castrense, com a posse de substância entorpecente, ainda que de reduzida quantidade, visto que o seu uso ou porte não seria compatível com o dever militar (incidindo, portanto, no crime previsto no artigo 290 do Código Penal Militar – crime de tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância de efeito similar). Tal posição, portanto, pode-se assim dizer, é a majoritária quanto ao Supremo Tribunal Federal. 
APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR 
· Tempo do Crime 
Assim como o Código Penal, o CPM adotou, em seu art. 5º, a teoria da atividade. Destaca-se que, caso um delito seja permanente (ex.: crime de deserção) e houver alteração legal mais gravosa neste ínterim, ela será aplicada para este crime, em prejuízo do agente. Tempo do Crime Teoria da Atividade
· Abolitio Criminis 
Conforme o artigo 2º do Código Penal Castrense, “ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil”. Por mais que seja uma disposição similar àquela prevista no Código Penal Comum, uma observação há de ser feita. O Código Castrense prevê, em seus artigos, penas que em outros diplomas legais são taxadas como efeitos civis, como a pena de reforma (artigo 65), a pena de perda do posto e da patente para o oficial (artigo 99) ou a exclusão para a praça (artigo 102). 
Isso posto, podemos visualizar uma situação um tanto quanto diferente. Caso o comandante incorra no crime de “ordem arbitrária de invasão”, previsto no artigo 170 do diploma castrense, e seja apenado com a reforma (uma das duas penas previstas para o delito), se norma posterior vier a abolir o mesmo artigo, o comandante poderia retornar à atividade, visto que se trata de uma pena principal e não um efeito condenatório (situação esta, portanto, distinta da que ocorreria no âmbito penal comum). 
· Lex Mitior 
A norma mais benigna pode ser aplicada mesmo que ela se encontre na vacatio legis? Sim, pois tal instrumento busca proteger a sociedade, dando-se um tempo para a adaptação da mesma perante a mudança e não prejudicá-la. E a quem compete decidir se a lei nova é mais benéfica ou não e acerca de sua aplicação ao caso concreto? Ao juiz competente para processar e julgar o processo, sendo que, se estivermos diante da fase de execução, a competência dependerá do apenado, da própria pena e se o militar perdeu ou não a sua condição de militar. A regra é a de que ela seja aplicada pelo Juiz-Auditor, mas, caso o condenado seja um civil ou um militar, condenado a pena superior a 2 anos, não se encontrar recolhido numa penitenciária militar e já houver perdido sua condição de militar, caberá ao Juiz da Vara de Execuções Penais aplicar tal norma mais benéfica. E poderia haver uma combinação de leis, caso uma parte da lei nova seja mais benéfica, enquanto outra mais gravosa? Não, pois neste caso o Judiciário estaria agindo como um Poder Legislativo, interferindo, assim, em suas atribuições. E a ultra-atividade de lei penal mais gravosa, poderia ocorrer em caso de leis excepcionais ou temporárias? Sim, assim como ocorre perante a esfera penal comum. 
· Lugar do Crime 
Adota-se a Teoria da Ubiquidade, mas, quanto aos delitos omissivos, a Teoria da Ação ou Atividade (artigo 6º do Código Penal Militar). Lugar do Crime Teoria da Ubiquidade e Teoria da Atividade 
· Territorialidade da Lei Penal Militar 
Aos crimes militares cometidos, no todo ou em parte, no Brasil, aplica-se o Código Penal Militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional (Princípio da Territorialidade Temperada). Navios e aeronaves públicos (inclusive os militares) ou aqueles privados, mas ocupados por militares por ordem legal, são considerados como extensão do território nacional. Assim sendo, perante os crimes praticados nos mesmos, independentemente se estiverem situados em território nacional, alto-mar ou em país outro, será aplicada a lei penal brasileira, inclusive a militar. E se um crime militar ocorrer num navio ou aeronave estrangeiros, mas em território nacional? A lei brasileira será aplicada, salvo se o navio ou aeronave estava apenas de passagem e tal crime em nada afetar os interesses brasileiros (direito de passagem inocente). Porém, a contrario sensu, a lei penal militar brasileira incidirá se este crime atentarcontra as instituições militares. E o militar estrangeiro que aqui no País exerce cargo ou estágio nas Forças Armadas? Estaria sujeito à lei penal militar brasileira? Sim, mas há ressalvas quanto aos tratados e convenções internacionais (artigo 11 da lei penal castrense). 
· Extraterritorialidade da Lei Penal Militar 
No que se refere aos crimes militares praticados no estrangeiro, aplica-se também o Código Penal Militar, ainda que o agente não seja nacional (nem a vítima) e que esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira (Princípio da Extraterritorialidade Incondicionada, fundada na defesa da pátria). É o que dispõe o artigo 7º do Código Penal Militar. 
MILITAR 
Considera-se militar, conforme disposto no artigo 22 da lei penal castrense, “qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar”. 3.2. Militares da Ativa São aqueles que estão na carreira (ou na escola de formação) ou aqueles que estavam na reserva, mas que foram designados novamente à mesma. Também é considerado como militar da ativa todo cidadão mobilizado, quando em tempo de guerra. 
Equiparado à Militar da Ativa: aquele que exerce função, mesmo que em comissão, considerada de natureza militar. 
Militares Inativos: São assim considerados aqueles que se encontram na reserva, desde que remunerada, e aqueles reformados (dispensados, mas que continuam também a auferir remuneração). Pergunta: um militar reformado ou da reserva que exerça uma função por tempo certo, perante a Administração Militar, passa a ser considerado como ativo? Ele não passará a ser considerado um militar da ativa. Isso porque, embora exerça tal função, ainda é considerado pela lei (Estatuto dos Militares) como um militar da reserva ou reformado. No mais, na hipótese de o militar ser reservista ou reformado, este não perderá o foro “especial” (art. 13 do Código Penal Militar). 
Reserva das Forças Armadas: São integrantes da reserva das Forças Armadas os militares da reserva remunerada, as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares, as pessoas que integram a Marinha Mercante, a Aviação civil, as empresas relacionadas com a segurança nacional e os cidadãos em condições de convocação ou mobilização para a ativa. Mas cuidado, pois as pessoas que integram a Marinha Mercante, a Aviação civil, as empresas relacionadas com a segurança nacional e os cidadãos em condições de convocação ou mobilização para a ativa somente serão considerados como “militares” quando forem devidamente convocados ou mobilizados. 
Assemelhado: Antes havia o civil tido como assemelhado a militar. Hoje não existe tal conceito, pois os servidores civis são regulados pela Lei 8.112/1990, e não pelo regime disciplinar das Forças Armadas. 
Superior: Segundo o dispositivo previsto no 24 do Código Penal Militar (CPM), “o militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre o outro de igual posto ou graduação, considera-se superior”. 
Comandante: Conforme o disposto no artigo art 34 da Lei 6.880/1980 (Estatuto dos Militares), o comandante é aquele que exerce o comando, onde o comando seria “a soma de autoridade, deveres e responsabilidades de que o militar é investido legalmente quando conduz homens ou dirige uma organização militar. O comando é vinculado ao grau hierárquico e constitui uma prerrogativa impessoal, em cujo exercício o militar se define e se caracteriza como chefe”. 
Cargo vs. Função :Para se aferir quem detém autoridade sobre outro, no âmbito militar, devem-se analisar seus postos (para oficiais) ou suas graduações (para as praças), sendo que, em caso de igualdade, o desempate se dará pela antiguidade. Isso quer dizer que a autoridade de um militar sobre o outro é definida não pela função que cada um exerce, mas, sim, pelo cargo que cada qual ocupa. 
CRIME MILITAR 
É aquele cujo bem jurídico tutelado está contemplado no Código Penal Militar (dever militar e seus valores).
Crime Militar Próprio: É aquele que só existe na esfera penal militar, pois o bem jurídico resguardado é próprio do âmbito militar. Aqui somente poderá figurar como sujeito ativo o militar da ativa (cuidado: não confundir situação de atividade com “militar em serviço”, ou seja, um militar que se encontra no gozo de férias, embora não esteja em serviço, não deixa de ser um militar da ativa). Mas então se indaga: é possível falar-se em coautoria de um civil em um crime militar próprio? Perfeitamente possível, desde que o crime não seja de mão própria ou a conduta do civil não encontre previsão em outro tipo penal (hipótese que configura exceção à teoria monista). 
Crime Militar Impróprio: É aquela conduta tipificada que protege bens comuns, ou seja, tutelados tanto pela lei castrense como por outras legislações (ex. vida e integridade física). Assim sendo, o crime será tido como militar quando for praticado por militar da ativa ou, se for praticado por civil ou militar inativo, a conduta buscar lesar tais bens especialmente protegidos pelo Código Penal Militar. 
Critério Objetivo – Regra: O crime será considerado como militar, em princípio, quando for previsto no Código Penal Militar (critério material- -objetivo). Entretanto, quando for um crime militar impróprio, ou seja, onde há a mesma previsão na lei castrense e em outros diplomas legais, adotam-se critérios outros para a definição do crime militar. Isso significa que, nesta situação, são usados critérios outros (pessoais, temporais etc.) para se aferir se determinada conduta é ou não tida como um crime militar. É o que o artigo 9º do CPM dispõe ao trazer o critério material (exige-se a dupla qualidade de militar, ou seja, no polo ativo e no passivo), o temporal (crime militar é aquele cometido em determinada época ou circunstância, como, por exemplo, tempo de guerra), o critério pessoal (crime militar é aquele cujo sujeito ativo é militar), ou o local (crime militar é aquele que ocorre em lugar sujeito à administração militar). 
Crime Militar em Tempo de Paz – Artigo 9º, I e II, CPM 
Conforme o artigo 9º, I, CPM, “consideram-se crimes militares, em tempo de paz, os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial”. E se a conduta também for prevista em legislação outra (crime militar impróprio)? O artigo 9º, II, responde ao dispor que “consideram-se crimes militares, em tempo de paz: os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados” (redação conferida pela Lei 13.491/2017): 
a) “por militar em situação de atividade contra militar na mesma situação ou assemelhado”; b) “por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
c) “por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil”; 
d) “por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil”; 
e) “por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar”. 
Crime Militar em Tempo de Paz – Praticado por Militar Ativo contra Militar Ativo 
Nesta hipótese em que o militar ativo encontra-se nos dois polos do crime (ativo e passivo), o Superior Tribunal Militar (STM) entende que o crime será tido como militar, mesmo que seja caso de crime doloso contra a vida (afastando-se o Tribunal do Júri). O Supremo Tribunal Federal, vale dizer, partilha da mesma opinião (crime militar quando o militar da ativa encontra-se presente nos dois pólos do crime), embora em alguns julgados entenda de forma contrária, seja em decorrência das partes não saberem da situação funcional da outra, ou estarem em momento de folga,ou o fato ter ocorrido em âmbito privado, sem nexo relevante com as atividades castrenses. O que ocorreria se nesta situação, num dos pólos houvesse um militar federal e no outro um estadual? O Superior Tribunal de Justiça e o STM entendem pela Justiça Militar Federal como competente, ao passo que o STF julga de forma contrária, dando a competência à Justiça Militar Estadual. 
Crime Militar em Tempo de Paz – Praticado por Militar Ativo, em Local sujeito à Administração Militar, contra Civil ou Militar Inativo 
Cuidados devem ocorrer, pois alguns locais não são sujeitos à administração militar, embora à primeira vista parecem ser. É o caso de crime cometido na via que dá acesso ao quartel ou à residência de um militar. 
Crime Militar em Tempo de Paz – Artigo 9º, III, CPM 
Conforme o artigo 9º, III, CPM, também são considerados como crimes militares em tempo de paz “os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, (...), nos seguintes casos: 
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; 
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; 
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; 
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior”. Tais hipóteses previstas no inciso III do artigo 9º são aplicadas somente à Justiça Militar da União visto que a competência da Justiça Militar Estadual não abrange julgamentos de crimes praticados por civil. Vejamos então algumas destas hipóteses. 
Crime Militar em Tempo de Paz – Praticado por Militar da Reserva, Reformado ou Civil contra o Patrimônio sob a Administração Militar ou contra a Ordem Administrativa Militar 
Tal hipótese abrangeria o caso de um civil ou militar reformado furtar armamento ou qualquer outro bem do Exército. 
Crime Militar em Tempo de Paz – Praticado por Militar da Reserva, Reformado ou Civil, ainda que em local não sujeito à Administração Militar, contra Militar Ativo ou Equiparado 
O STF entende de forma pacífica que um civil, para praticar um crime militar, depende, além simplesmente da sua conduta, da sua intenção, ou seja, do seu dolo. Sendo assim, a simples circunstância de a vítima ser um militar no desempenho do serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, por si só, não basta para que tal conduta (crime) seja julgado pela Justiça Castrense. É diante desta alínea que se permite o afastamento da competência do Tribunal do Júri e o deslocamento, portanto, da competência para a Justiça Castrense, quando há um homicídio doloso contra um militar. Mas então se pergunta: e se a vítima deste homicídio doloso, ao invés de ser militar, fosse um civil? 
Crimes contra a Vida de Civil Com a modificação implementada pela Lei 13.491/2017, o parágrafo único foi dividido em dois dispositivos: §§ 1º e 2º. 
Segundo estabelece o § 1º do art. 9º, cuja redação foi determinada pela Lei 13.491/2017, “os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri”. Até aqui, nenhuma novidade. A mudança mais significativa se deu por meio do § 2º deste art. 9º, que passou a elencar exceções à competência firmada no § 1º, ou seja, estabeleceu situações em que a competência, embora se trate de crime doloso contra a vida praticado por militar das Forças Armadas contra civil, é da Justiça Militar da União. Sugerimos a leitura de tais dispositivos. 
Crime Militar em Tempo de Guerra 
A guerra, no Brasil, só pode ocorrer de forma defensiva, ou seja, somente em caso de agressão estrangeira. Se houver tempo hábil, ela é iniciada por meio de uma declaração (de guerra), declaração esta feita pelo Presidente da República, exigindo-se uma autorização do Congresso Nacional, prévia ou posterior (quando a situação ocorrer no intervalo das sessões legislativas). Neste contexto, a guerra termina quando há o fim das hostilidades, competindo também ao Presidente da República celebrar a paz, devendo, para tanto, também haver autorização prévia ou posterior do Congresso (artigo 84 da Constituição Federal e artigo 15 do Código Penal Militar).
Crime Militar em Tempo de Guerra – Espécies 
Segundo o artigo 10 do CPM, consideram-se crimes militares, em tempo de guerra, os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra; os crimes militares próprios previstos para o tempo de paz (neste caso aplica-se a pena prevista do artigo, mas com um acréscimo de 1/3 em razão da situação de guerra; cuidado, pois tal acréscimo não será devido para os crimes previstos pelo CPM para o tempo de guerra, sob pena de haver bis in idem); os crimes militares impróprios quando praticados em território nacional ou estrangeiro, militarmente ocupado, ou em qualquer lugar, caso possam comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País (tais crimes serão assim considerados independentemente da qualidade do agressor) e os crimes comuns (não previstos no CPM, embora previstos em outros diplomas penais) quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente ocupado (veja que mesmo um crime não previsto no diploma castrense, dependendo das circunstâncias, poderá ser tido como um crime militar!). 
Crime Militar em Tempo de Guerra – Crimes Praticados em Prejuízo de País Aliado 
O artigo 18, CPM, dita que, caso um crime seja praticado contra um país em guerra, país este aliado do Brasil, onde ambos lutam contra o mesmo inimigo, a lei penal militar brasileira poderá incidir sobre o mesmo caso o agente seja brasileiro ou o crime seja praticado no território nacional, ou em território estrangeiro, militarmente ocupado por força brasileira, independentemente da qualidade do agente. 
Transgressões Militares 
São condutas não tipificadas como crimes, mas que geram responsabilidade administrativa do seu infrator, conforme regulamentos internos das Forças Armadas (o CPM não se ocupa delas, conforme dispõe o artigo 19). 
Contravenções Militares: Não há contravenção penal no âmbito militar. 
TEORIA DO CRIME MILITAR – FATO TÍPICO 
Antes de nos atermos aos pormenores da lei, cabe destacar que somente será abordado aquilo que foge ao direito penal comum. Isso porque o fato típico, componente do crime militar, é quase que similar ao do crime comum, sendo composto de conduta (com o dolo e a culpa), resultado e nexo causal (dependendo do crime) e a tipicidade. 
Conduta – Omissão 
Quanto ao crime omissivo próprio, destaca-se que por vezes a lei penal castrense exige do agente uma qualidade especial, sob pena de não existir mais o delito. É o caso, por exemplo, dos crimes previstos nos artigos 198 e 200, em que se exige que o agente seja comandante (crime de omissão deficiência da força e crime de omissão de providências para salvar comandados, respectivamente). 
Conduta – Outros Temas 
No CPM, assim como no Código Penal, há previsão de crime omissivo impróprio (com a previsão de norma de extensão em seu artigo 29); hipótese de erros sobre elementares ou erros de proibição; punição independentemente da qualidade do dolo (eventual ou direto); previsão de concurso formal ou material de crimes; previsão da modalidade culposa para os seus crimes (porém, caso a lei for silente para determinado delito, este somente será punido a título de dolo; assim como no Código Penal Comum, não há hipótese de compensação de culpas e de que a espécie deculpa ou de dolo somente será relevante no momento da dosimetria da pena). 
Nexo Causal 
Assim como a tipicidade e o resultado, o nexo causal não foge às regras do Direito Penal Comum. Porém, com a intenção somente de relembrar, destaca-se que o nexo causal somente será averiguado naqueles crimes com resultado naturalístico (crimes materiais), pois, perante os crimes formais e os de mera conduta, para serem punidos, exige-se somente o nexo normativo (dolo ou culpa). 
Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais (Conditio Sine Qua Non) 
Assim como no Código Penal Comum, é a teoria adotada pelo CPM, sendo que a doutrina entende que a Teoria da Causalidade (onde se examina não somente a conduta, mas também o dolo ou a culpa) deve ser utilizada quando da aplicação daquela. Neste trilho, cumprindo uma mesma linha que aquela adotada pelo Código Penal Comum, caso haja uma causa superveniente absolutamente independentemente, o agente responde somente pelos atos até então praticados. Caso, porém, haja uma causa superveniente relativamente independente, o agente responderá pela tentativa. E, por fim, caso haja uma causa relativamente independente, concomitante ou anterior, o agente responderá pelo resultado final (de forma dolosa ou culposa, a ser analisado posteriormente, mas que responderá pelo resultado, responderá). 
Iter Criminis – Preparação e Execução 
A preparação, em regra, não é punível no âmbito penal militar, exigindo-se, para tanto, o início da execução (Teoria Objetiva). Porém, alguns delitos são punidos mesmo que haja somente a fase da preparação, como o crime de conspiração, previsto no artigo 152. Quanto à execução, para analisar quando ela se dá, de início, adota-se a Teoria Objetivo-Formal, onde a execução se dá a partir do momento em que o agente pratica o comportamento descrito no tipo penal. 
Tentativa 
Pune-se a tentativa com a pena do crime consumado, diminuindo-a de 1/3 a 2/3 (Teoria Objetiva Temperada). Interessante é que o parágrafo único do artigo 30, CPM, dispõe que pode o juiz “(...) no caso de excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado”, afastando, neste caso, a Teoria Objetiva e aplicando, porém de forma excepcional, a Teoria Subjetiva. 
Arrependimento Posterior 
Assim como no Código Penal Comum, o CPM traz também as figuras da desistência voluntária e do arrependimento eficaz (artigo 31). Entretanto, já de forma diferente, a lei penal castrense não trata o arrependimento posterior como uma causa obrigatória de redução de pena. Mas então se pergunta: não há a figura da reparação do dano no CPM? Há sim. Vejamos. A reparação do dano pode servir como uma circunstância atenuante se ocorrer antes do julgamento (artigo 72, III); pode ser utilizada como redução de pena, caso o agente seja primário e a reparação se der antes de iniciada a ação penal (isto vale para os crimes de furto, de apropriação indébita, estelionato, receptação e de dano); e, por fim, pode gerar a extinção da punibilidade, caso a hipótese seja de peculato culposo e a reparação se der antes da sentença irrecorrível (se posterior, haverá somente uma redução de pena). 
Crime Impossível 
Na lei penal castrense também é adotada a Teoria Objetiva Temperada, ou seja, se o meio não for absolutamente ineficaz, poderá sim haver crime tentado (artigo 32 do Código Penal Militar). Vale apenas ressaltar que, em julgado recente, o STM entendeu que tal figura seria incompatível com o crime de deserção, em tempo de paz, pois o delito se consuma na primeira hora de ausência, não necessitando a existência de prejuízo à Administração, haja vista que a mera conduta colocou em risco a hierarquia e a disciplina. 
TEORIA DO CRIME MILITAR – ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE) 
Da mesma forma com a qual fora abordado o tema do fato típico, no estudo da ilicitude somente será abordado aquilo que fugir ao direito penal comum. A ilicitude é muito parecida com a ilicitude prevista no Código Penal Comum, embora aspectos diferentes e relevantes sejam encontrados, como uma causa de justificação exclusiva e o fato de que o consentimento do ofendido não encontrar respaldo na lei penal castrense, em razão dos seus bens tutelados serem indisponíveis. 
Estado de Necessidade 
Ao contrário do Código Penal Comum, em que se adota a Teoria Unitária, o CPM, em seu artigo 43, adota a Teoria Diferenciadora, vez que o fato somente excluirá a ilicitude e, portanto, o crime, quando o bem protegido for de valor superior àquele sacrificado (Estado de Necessidade Justificante), pois do caso contrário, apenas haverá um Estado de Necessidade Exculpante, afastando-se a culpabilidade do agente e não mais a ilicitude (“Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza e importância, é consideravelmente inferior ao mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo”). 
No mais, o estado de necessidade militar é similar com o estado de necessidade comum, havendo somente mais uma ressalva. Dentre os requisitos do estado de necessidade, o CPM dita que o agente apenas poderá se valer de tal benefício quando a situação de perigo não tenha sido criada por ele próprio, não se exigindo que tal fato tenha surgido por sua vontade (basta apenas ser o responsável por ela que não poderá mais gozar de tal causa de eliminação da ilicitude). Isso difere do Código Penal Comum, pois neste o estado de necessidade não poderá ser arguido caso o agente tenha provocado por sua vontade tal situação. Estado de Necessidade Teoria Diferenciadora 
Exclusão da Ilicitude do Comandante 
A lei penal castrense, em seu artigo 42, parágrafo único, traz uma causa de justificação exclusiva do comandante do navio, aeronave ou praça de guerra, que “na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque”. Veja que no fundo é uma justaposição da causa de exclusão da ilicitude por estado de necessidade com a causa decorrente do estrito cumprimento do dever legal. 
Exclusão da Ilicitude – Outros Temas 
Assim como o Código Penal Comum, o CPM adota a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito como causas justificadoras de exclusão da ilicitude, em nada diferenciando do primeiro diploma legal. 
Excesso Punível 
Caso haja excesso quando a pessoa está amparada por alguma causa de exclusão da ilicitude, responderá pelo mesmo. O interessante é que, não sendo um excesso vencível, isto é, caso ocorra um excesso invencível (ou escusável), este será tido como uma causa legal (e não supralegal, como ocorre no Código Penal Comum) de exclusão da culpabilidade. É o que é previsto no artigo 45, parágrafo único (“Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável surpresa ou perturbação de ânimo, em face da situação”). E caso estejamos diante de uma eventual causa de exclusão da ilicitude (ex. estrito cumprimento do dever legal) e ocorra um excesso doloso e vencível? Neste caso a pessoa responderá pelo mesmo. Entretanto, a lei traz um dispositivo que permite, mesmo nestes casos, que o juiz atenue a pena a ser aplicada (trata-se de uma faculdade e não obrigação imposta ao juiz). É o que dita o artigo 46 do CPM (“Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por excesso doloso”).
TEORIA DO CRIME MILITAR – CULPABILIDADE 
Após nos atermos se uma pessoa cometeu ou não um crime (fato típico e ilícito), analisa-se se seu agente sofrerá ou não uma pena. Para tanto, visualiza-se se há ou não hipótese de exclusão da culpabilidade. 
Imputabilidade – Idade 
É a capacidade do direito penal. Os menores de 18 anos, embora possam praticar crimes militares (ex. quando forem incorporados às Forças Armadas, mas ainda não tenham completado 18 anos) não poderãosofrer as sanções penais previstas no CPM. Agora, por mais que a lei penal castrense seja aplicada ao maior de 18 anos, a pessoa que tiver entre essa idade e 21 anos terá, como benefício, uma atenuação de pena e uma redução, pela metade, do prazo prescricional (artigos 72, I, e 129 do CPM, respectivamente). Entre 18 e 21 anos Atenuação da Pena Redução do Prazo Prescricional 
Imputabilidade – Sanidade Mental 
Salvo no caso dos menores de 18 anos (sistema biológico), a inimputabilidade é aferida por exame (sistema biopsicológico). Após o exame, como é adotado o sistema vicariante, ou se aplica uma pena (para os imputáveis), ou uma medida de segurança (para os inimputáveis). Se considerado semi-imputável, aplica-se uma medida de segurança ou uma pena, pena esta, porém, diminuída (interessante é que o Código Penal Castrense não traz o quantum que a pena deverá ser diminuída neste caso). 
Imputabilidade – Embriaguez Completa e Acidental 
Quanto à imputabilidade ou inimputabilidade decorrente da embriaguez, o CPM, assim como o CP, adota a Teoria da Actio Libera in Causa, resquício da responsabilidade objetiva penal. O interessante é que enquanto no Código Penal Comum há uma agravante quando a embriaguez é preordenada, no Código Penal Militar ela, não sendo acidental, será sempre uma circunstância agravante (quando não considerada como crime em espécie, pois há tipificação, no CPM, da conduta de se embriagar em serviço). Destaca-se também que a embriaguez patológica recebe tratamento diferente da embriaguez voluntária, pois enquanto a primeira é tratada, por ser tida como uma doença pela OMS, a segunda é reprimida (no primeiro caso aplica-se uma medida de segurança, com fins curativos, enquanto na segunda hipótese aplica-se uma pena). 
Potencial Consciência da Ilicitude 
Quanto ao Erro de Direito, segundo dispões o artigo 35 do CPM, “a pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente, salvo em se tratando de crime que atente contra o dever militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou erro de interpretação da lei, se escusáveis”. Perceba que, se o erro for invencível, a pena poderá ser atenuada ou substituída, mas o agente não estará isento dela. É nisso que difere do CP, onde o isentaria de pena caso incorrer em erro escusável (ou invencível). Mas e se estivermos diante de Erro Essencial (sobre elementares do tipo)? Segundo o artigo 36 do CPM, “é isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por erro plenamente escusável, a inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a existência de situação de fato que tornaria a ação legítima”. 
Veja que o CPM, perante um erro essencial escusável (ou invencível), isenta o agente de pena, ao passo que o CP, na mesma situação, excluiria, além do dolo, a culpa. 7.6. Inexigibilidade de Conduta Diversa – Obediência Hierárquica Para afastar a culpabilidade, o agente deve ser subordinado à autoridade que proferiu a ordem e esta não poderá ser manifestamente ilegal (artigo 38 do Código Penal Militar). 
Inexigibilidade de Conduta Diversa – Coação Irresistível 
Seria o caso de coação moral irresistível (vis compulsiva). O CPM, destaca-se, por vezes não admite o mesmo dependendo do crime praticado, ou seja, nos crimes em que há violação do dever militar (artigos 187 a 204), a pessoa não poderá alegar tal figura. 7.8. Inexigibilidade de Conduta Diversa – Estado de Necessidade Exculpante Já visto quando da análise da ilicitude. 
CONCURSO DE PESSOAS 
O Código Penal Militar, assim como o Código Penal Comum, adotou a Teoria Unitária, embora exceções possam ser encontradas (o crime de rixa é uma destas exceções). Em ambos são encontrados também tanto crimes de concurso eventual, como crimes de concurso necessário, como os crimes de motim e revolta (onde a participação pode ou não vir a ocorrer, mas a coautoria deverá existir). 
Comunicabilidade 
Para que haja um concurso de pessoas, em âmbito militar, além da unidade de desígnios, ambos deverão ser militares? Veja. O fato de uma pessoa ser militar é considerado como uma circunstância de caráter pessoal, que, caso não seja tida como elementar do tipo, não se comunica. Sendo assim, diante de um crime de peculato, previsto no CPM, caso seja praticado por um militar, em concurso com um civil, ambos responderão pelo mesmo delito, pois a condição de militar, neste crime, é elementar do mesmo, se comunicando.
Participação 
E quem seria considerado partícipe? O CPM, assim como o CP, adotou a Teoria Objetivo-Formal, para a qual autor é quem pratica o verbo do tipo, enquanto que partícipe é todo aquele que colabora com o crime de outra forma, sem que para tanto também pratique a conduta principal do crime (o seu verbo). 
Circunstância Atenuante no Concurso de Pessoas 
Para aquele que participou do delito de maneira não tão relevante, a lei penal castrense prevê uma atenuante, atenuante esta vinculativa (obrigatória). É o que está previsto no artigo 53, § 3º, do diploma legal penal militar. 
Circunstâncias Agravantes no Concurso de Pessoas 
O CPM também prevê agravantes para o concurso de pessoas (artigo 53, § 2º, do diploma legal penal militar). São quatro, ou seja, se o agente promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais ou; coage outrem à execução material do crime; a quem instiga ou determina a cometer crime alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal ou; se executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. 
Cabeça 
A pena é agravada quando há a figura do cabeça, isto é, aquele que dirige, instiga ou excitam a ação, seja ele oficial ou praça (para os crimes de concurso necessário); ou aquele oficial que pratica o crime juntamente com inferiores (para os crimes de concurso necessário ou eventual). É o previsto no artigo 53, §§ 4º e 5º, do Código Penal Militar. 
PENAS PRINCIPAIS 
O Código Penal Militar não prevê a substituição das penas privativas de liberdade por penas restritivas de direitos. Entretanto, em relação aos civis condenados pela Justiça Militar da União, poderá sim haver tal substituição, pois eles cumprirão suas penas em estabelecimentos penais comuns e, assim, não haveria qualquer afronta aos bens tutelados pela lei castrense, ou seja, hierarquia e disciplina militares. 
Modalidades 
São 7, ou seja, a pena de morte, a pena de reclusão, de detenção, pena de prisão, de impedimento, de suspensão e de reforma (perceba que não há previsão da pena de multa). 
Penas Principais – Pena de Morte 
Somente será aplicada em caso de guerra declarada, sendo que a mesma será realizada através da técnica de fuzilamento (artigo 56 do Código Penal Castrense). Esta técnica se dá da seguinte maneira. Vedam-se os olhos do condenado e este será conduzido até o local do fuzilamento com seu uniforme, porém, sem suas insígnias (se militar) ou vestido de forma decente (se civil). O fuzilamento poderá ser executado de imediato (ou seja, logo após o trânsito em julgado da ação) caso tal pena seja declarada em zona de operações de guerra. Entretanto, não sendo tal hipótese, deve-se aguardar ao menos 7 dias após feita a comunicação desta pena ao Presidente da República, pois este poderá decidir pela concessão de indulto ou comutação. 
Por fim, a prescrição da pretensão executiva da pena de morte se dá em 30 anos. Pena de Morte Zona de Operações de Guerra Imediato Outras Hipóteses Mínimo de 7 dias 9.4. Penas de Reclusão, Detenção e de Prisão A pena de reclusão vai de 1 ano até 30 anos, enquanto a pena de detenção vai de 30 dias até 10 anos (assim sendo, se um crime militar é punível com pena de até 10 anos de reclusão, a incidência de causas de aumento pode elevar esta pena até o máximo de 30 anos). A pena (de detenção ou de reclusão), caso não ultrapasse 2 anos e seja aplicada a um militar, será, obrigatoriamente, convertida em pena de prisão (artigo 59 do diploma penal militar). Pena de Reclusão 01 ano até 30 anos Pena de Detenção 30 dias até 10 anos 
Penas de Reclusão, Detençãoe de Prisão – Execução da Pena Aplicada ao Militar. 
A pena de prisão (quando a pena de detenção ou reclusão não supera 2 anos), não sendo cabível o sursis, deverá ser cumprida em estabelecimento militar caso o condenado seja oficial. Se praça, em estabelecimento penal militar, onde deverá permanecer separado daqueles condenados a penas maiores ou outras espécies de penas. Agora, se a pena deste militar for superior a 2 anos, onde não haverá tal substituição, deverá ser cumprida em penitenciária militar. E se não houver uma penitenciária militar? Poderia cumprir a pena em estabelecimento penal comum? Sim, mas para tanto deverá perder sua condição de militar (se oficial, deverá perder seu posto e patente, ou se praça, deverá ser excluído). Perceba, portanto, que o militar ativo, ou seja, aquele que ainda não perdeu sua condição de militar, nunca cumprirá sua pena em estabelecimento penal comum. A pena aplicada pela Justiça Militar e cumprida em estabelecimento militar é executada pelo juiz-auditor. 
O juiz das execuções criminais, que deverá observar as normas da Lei de Execuções Penais, somente executará as penas aplicadas a militares quando houver a perda da condição de militar e este se encontrar em estabelecimento penal comum (Súmula 192 do STJ)9.4.1.1. Penas de Reclusão, Detenção e de Prisão – Execução da Pena Aplicada ao Militar – Regime, Progressão de Regime e Liberdade Condicional Se a pena for executada em estabelecimento militar, o regime será o fechado. Enquanto não há previsão legal para que possa vir a ocorrer a progressão de regime, o livramento condicional pode sim ocorrer desde que seus requisitos sejam cumpridos (cuidado, pois um julgado recente da 2ª Turma do STF permitiu a progressão do regime ao militar, desde que as condições objetivas e subjetivas lhes fossem favoráveis, aplicando-se, assim, de forma supletiva, a Lei de Execuções Criminais). 
Penas de Reclusão, Detenção e de Prisão – Execução da Pena Aplicada ao Civil 
Se o crime for praticado em tempo de guerra e for de interesse da segurança nacional, o civil poderá cumprir sua pena em penitenciária militar. Porém, não sendo este o caso, terá sua pena executada em estabelecimento penal comum, sendo aplicada a Lei de Execuções Penais. 
Pena de Impedimento 
Possui natureza de pena restritiva de liberdade, sendo que possui, como características, a obrigação do condenado em permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar. Além disso, ela somente é aplicada para o crime de insubmissão, possuindo duração de 3 meses a 1 ano. 
Pena de Suspensão do Exercício do Posto (para Oficial), Graduação (para Praça), Cargo ou Função (para Civil) 
Assim como a pena de impedimento, esta também tem natureza de pena restritiva de direitos, sendo que possui, como características, o não cômputo deste período como tempo de serviço e de que tal pena poderá ser convertida em pena de detenção de 3 meses a 1 ano caso o condenado, ao tempo da sentença, já se encontrar na reserva, ou esteja reformado ou aposentado. 
Pena de Reforma 
Só é aplicada aos militares com estabilidade, sendo que gera, como consequência, a inatividade compulsória, com proventos proporcionais ao tempo de serviço, não podendo perceber mais de um 1/25 do soldo, por ano de serviço, nem receber importância superior à do próprio soldo (artigo 65 do Código Penal Castrense). 
PENAS ACESSÓRIAS 
Não são aplicadas de forma alternativa, mas de forma cumulativa com as penas principais, sendo que o CPM traz um rol taxativo, em número de 8, cada uma delas destinada a um cargo.
Perda do Posto e Patente (para Oficiais) 
Exige-se que o réu seja condenado a pena privativa de liberdade por prazo superior a 2 anos. Tal pena destina-se à perda das condecorações e, embora previsto de forma contrária, entende-se que a mesma deverá assim ser declarada na sentença, ou seja, não decorre automaticamente da aplicação da pena principal. 
Declaração de Indignidade para o Oficialato (para Oficiais) 
Aqui já não importa o lapso temporal da pena aplicada, mas sim a espécie do delito, pois há um rol taxativo de crimes em que tal penalidade pode ser aplicada (ex. crime de traição). É o que está previsto no artigo 100 do Código Penal Militar. 
Declaração de Incompatibilidade com o Oficialato (para Oficiais) 
Da mesma forma que a pena anterior, esta também somente é aplicada para os crimes previstos em rol taxativo (delitos previstos nos artigos 141 e 142 do Código Penal Castrense). 
Pena de Exclusão das Forças Armadas (para Praças) 
Assim como para a pena de perda do posto e patente, destinada aos oficiais, esta pena exige condenação a pena privativa de liberdade por prazo superior a 2 anos, sendo que também deverá ser declarada na sentença, pois não decorre automaticamente da aplicação da pena principal. 
Pena de Perda da Função Pública (para Civis) 
Da mesma forma que ocorre com a perda do posto e patente e com a exclusão das Forças Armadas, a pena de perda da função pública, prevista para os civis, exige a condenação por pena privativa de liberdade por prazo superior a 2 anos. Entretanto, diferentemente das demais, tal pena acessória não precisa ser declarada na sentença, pois decorre automaticamente da aplicação da pena principal (artigo 107 do CPM). Vale destacar que não somente civis podem sofrer tal sanção, mas também os militares da reserva ou reformados, mas que ocupe função pública de qualquer natureza. 
Pena de Inabilitação para o Exercício de Função Pública (para Civis) 
Esta modalidade de sanção já exige um quantum maior de pena (pena privativa de liberdade de reclusão superior a 4 anos) e uma modalidade de crime (crime praticado com abuso de poder ou violação do dever militar ou inerente à função pública). Seu prazo de duração (prazo de inabilitação) será de 2 anos a 20 anos.Pena da Perda da Função Pública Pena de Inabilitação para o Exercício de Função Pública Pena Privativa de Liberdade Superior a 2 anos Pena de Reclusão superior a 4 anos ; Inabilitação por 2 a 20 anos. 
Pena de Suspensão do Poder Familiar, Tutela ou Curatela
 Exige-se, para tanto, pena privativa de liberdade por prazo superior a 2 anos, sendo que poderá ser aplicada de forma provisória por decisão judicial (artigo 105 do diploma penal militar). 
Pena de Suspensão dos Direitos Políticos 
Após condenado, suspendem-se os direitos políticos enquanto durar a pena, sendo que ela ocorrerá automaticamente, independentemente se a sentença a declare ou não. 
MEDIDA DE SEGURANÇA 
Quanto às medidas de segurança, o CPM adota sistemática própria, com um rol mais amplo do que aquele do Código Penal Comum. São encontradas medidas de segurança pessoais (detentivas e não detentivas) e medidas de segurança patrimoniais. Elas são aplicadas não somente aos inimputáveis, assemelhando-se às penas restritivas de direitos previstas no Código Penal Comum. 
Destinatários da Medida de Segurança 
Em regra, são aplicadas somente aos civis e àqueles militares que tenham perdido esta condição. Quanto aos militares da ativa, estes somente sofrerão a medida de segurança de internação e a de cassação de licença para direção de veículos motorizados. 
Internação em Manicômio Judiciário 
Será tal medida de segurança aplicada caso o fato seja tido como crime (fato típico e ilícito) e o agente seja tido como inimputável e perigoso (caso seja aferida a semi-imputabilidade, poderá vir a ocorrer ou poderá ser aplicada a pena privativa de liberdade, com redução de pena). 
Cassação de Licença para Dirigir Veículos Motorizados 
Exige-se que o crime tenha relação com “direção de veículos motorizados” ou caso o réu seja tido como inimputável, sendo que tal medida de segurança durará ao menos 1 ano (prazo mínimo). 
Exílio Local 
Também tem duração mínima de 1 ano, sendo que ela consiste na proibição do condenado de residir ou permanecer na localidade, município, ou comarca em que o crime fora praticado (artigo 116 do Código Penal Militar). 
Proibição de Frequentar Determinados Lugares :Segundo o CPM, terá o prazo mínimode 1 ano. 
Confisco: Busca confiscar os instrumentos e produtos do crime. 
Interdição de Estabelecimento, Sociedade ou Associação 
Esta medida de segurança terá um prazo específico (de 15 dias a 6 meses), sendo que para tanto exige-se que o local (estabelecimento, sociedade ou associação) tenha sido usado como meio ou pretexto para a prática do crime (artigo 118 do Código Penal Militar). 
APLICAÇÃO DA PENA 
Três Etapas Assim como ocorre no Código Penal, segundo o Código Penal Militar, para a aplicação da pena, deve-se também adotar um modelo trifásico. 
-1ª Etapa 
Caso um delito seja apenado de duas formas distintas, ou seja, caso haja cominação alternativa de penas, o juiz, nesta fase, deverá optar por uma delas. Assim sendo, num eventual crime de traição, onde há a previsão de pena de morte ou reclusão pelo prazo de 20 anos, o juiz, nesta primeira etapa da aplicação da pena, já deverá realizar a escolha da pena devida, conforme o caso em tela. 
-2ª Etapa 
Após a primeira etapa, visualiza-se acerca das circunstâncias legais que agravam ou que atenuam a pena. As agravantes São várias. Dentre elas, destacam-se a reincidência, os motivos determinantes, a embriaguez voluntária ou culposa, o modo de execução (ex. traição), o meio de execução (como a asfixia, tortura e o veneno), o fato de o crime ser praticado contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge, ou ainda, com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ou praticado contra criança, idoso ou enfermo. São tidas como agravantes também as situações em que o ofendido está sob a imediata proteção da autoridade, ou quando o delito é praticado em razão de incêndio, naufrágio, encalhe, alagamento, inundação ou qualquer calamidade pública. 
Agrava-se a pena quando o crime for cometido enquanto o militar estava em serviço, ou houver emprego de arma material ou instrumento de serviço ou, ainda, caso o crime seja cometido em auditório da Justiça Militar ou local onde tenha sede a sua administração e, por fim, caso o delito seja praticado em país estrangeiro.
Agravantes – Peculiaridades 
No tocante à agravante consubstanciada pela embriaguez voluntária ou culposa, esta difere conforme duas situações. Caso estejamos diante de um autor que seja militar da ativa, a embriaguez sempre agravará sua pena. Agora, caso o autor seja civil, a pena somente será agravada por tal motivo se a embriaguez for preordenada. Ademais, para que incida no caso concreto a agravante caracterizada pelo fato de o militar estar em serviço quando da prática do crime, será necessário que o militar da ativa esteja em situação de efetivo serviço, isto é, em plantão ou escala. Quanto à agravante em decorrência de o crime ser cometido em auditório da Justiça Militar ou local onde tenha sede a sua administração, esta somente ocorrerá caso o sujeito ativo do delito seja um militar. E, no tocante à agravante pelo fato de o tipo penal ter ocorrido em país estrangeiro, exige-se que o fato tenha sido praticado por militar da ativa. 
Atenuantes 
São várias também. Dentre elas, podem-se destacar a menoridade ou idade avançada, o comportamento anterior meritório, motivos determinantes (relevante valor social ou moral), minoração das consequências do crime ou reparação do dano, ato praticado em decorrência de influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima, confissão espontânea e o fato de o agente ter sofrido tratamento com um rigor não permitido em lei. 1 
Atenuantes – Peculiaridades
 Quanto à atenuante que ocorre em virtude da menoridade ou da idade avançada, para tanto, a pessoa deve ser menor de 21 anos ou maior de 70 anos. Já quanto à segunda hipótese (comportamento anterior meritório), esta refere-se ao histórico honroso do militar, não devendo ser confundida com os bons antecedentes, que são visualizados na primeira etapa deste sistema trifásico. Sobre a atenuante que ocorre em razão da minoração das consequências do crime ou pela reparação do dano, deve-se lembrar que diferentemente do Código Penal, o Código Penal Militar não prevê, como causa obrigatória de redução de pena, o arrependimento posterior, embora tal atitude voluntária possa atenuar a pena. Acerca da confissão espontânea, esta, diferentemente do Código Penal, incidirá somente caso venha a ocorrer em situações onde se imaginava que o autor do delito era outro ou a autoria ainda era desconhecida. 
Observações 
Se houver mais de uma agravante ou atenuante, o juiz poderá limitar-se a uma só agravação ou a uma só atenuação. Além disso, no concurso de agravantes e atenuantes, a pena deverá aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. Conforme disposto no Código Penal Militar (artigo 73), caso a lei determinar a agravação ou atenuação de uma pena, mas sem mencionar o seu quantum, o juiz deverá fixá-lo entre 1/5 e 1/3, guardados os limites da pena cominada (logo, perceba que a incidência de uma atenuante não poderá conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal, já que deverá obedecer aos limites da pena cominada). 
Por fim, observa-se que o Código Penal Militar dispõe que nos casos em que a pena máxima cominada para eventual crime seja a morte, o juiz poderá optar por aplicar ou não as circunstâncias atenuantes que porventura possam estar presentes no caso. 
-3ª Etapa 
É nesta etapa que a pena definitiva será alcançada. Nesta fase, as causas de aumento e de diminuição é que serão levadas em consideração. O juiz, nesta etapa, poderá exceder os limites mínimo e máximo da pena cominada no tipo, embora ainda deva respeitar os limites genéricos do artigo 58, do Código Penal Militar (Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos). Isso quer dizer que, perante um crime de corrupção passiva, cuja pena é de reclusão, a pena poderá ser aumentada além da pena máxima abstrata para o tipo (8 anos), mas não poderá superar o patamar de 30 anos. 
Mas então se pergunta: e se houver concurso de causas de diminuição e de causas de aumento da pena? A regra legal e geral é a de que haverá a incidência obrigatória e sucessiva, sem que haja possibilidade de compensação entre elas. Entretanto, não obstante, duas observações hão de ser feitas. A primeira é que, caso haja concurso de causas previstas na parte especial, afasta-se a regra geral, pois a legislação permite que juiz aplique um só aumento ou uma só diminuição, prevalecendo a que mais aumente ou que mais diminua. Por fim, perceba que há um critério ímpar acerca destas hipóteses de cumulação de causas, ou seja, entende-se que elas devem incidir umas sobre as outras e não sobre a pena-base (seria um sistema de juros sobre juros). 
Observação 
Caso uma pena não privativa de liberdade deva ser aplicada, não se adota este sistema trifásico. Além disso, caso o tipo legal onde haja previsão de tal pena não privativa de liberdade seja praticado em concurso com outros crimes, para um é aplicado o sistema trifásico e para o outro não. 
Pena Unificada 
Caso seja hipótese de concurso de crimes, adota-se uma sistemática um tanto quanto diferente daquela prevista no Código Penal no tocante à aplicação das penas. Segundo o que dispõe o artigo 79 do Código Penal Militar, no caso de concurso de crimes, a soma das penas será feita, independentemente se o referido concurso é tido como formal ou material (o mesmo deverá ocorrer na chamada continuidade delitiva). O que ocorre é que, caso seja hipótese de concurso formal ou crime continuado, a pena, já unificada, poderá ser reduzida de 1/6 a 1/4 (é o previsto no § 1º do artigo 81). 
Diante da regra prevista (unificação de pena, independentemente do tipo de concurso), dúvidas podem surgir quanto à hipótese de um concurso de crimes que abranja tanto uma pena de reclusão como uma pena de detenção. Neste caso, vale observar, a regra será outra, isto é, deve-se utilizara pena mais grave aumentada da metade da soma das penas menos graves. É o que dita a parte final do artigo 79 do diploma legal (Art. 79. Quando o agente, mediante uma só ou mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, as penas privativas de liberdade devem ser unificadas. Se as penas são da mesma espécie, a pena única é a soma de todas; se, de espécies diferentes, a pena única e a mais grave, mas com aumento correspondente à metade do tempo das menos graves, ressalvado o disposto no art. 58.). Outra dúvida pode surgir também. Diante de um concurso de crimes, ao unificar a pena, deve-se respeitar o limite máximo previsto no artigo 58 (30 anos para pena de reclusão e 10 anos para a pena de detenção)? Não, pois o artigo 81 do Código Penal Militar abre uma exceção ao dispor que, no caso de concurso de crimes, o limite será de 30 anos para reclusão e de 15 anos para a pena de detenção. Concurso de Crimes Reclusão Até 30 anos Detenção Até 15 anos. 
Pena de Morte – Regras Especiais 
Caso uma pena prevista para determinado crime seja de pena de morte (para o grau máximo) e pena de reclusão (para o grau mínimo), esta pena de reclusão será tida como de 30 anos, para efeitos de graduação. Agora, caso seja hipótese de tentativa do mesmo crime, a pena de morte, caso a lei especial não entenda de forma contrária, passa a ser afastada e aplicar-se-á, no lugar dela, a pena de 30 anos de reclusão. 
SURSIS PENAL OU SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA 
Diferenças e Pressupostos 
O sistema do sursis, previsto no Código Penal Militar, é diferente daquele previsto para o Código Penal Comum. Enquanto neste o tempo de suspensão da pena perdura por 2 a 4 anos, no Código Castrense a execução da pena privativa de liberdade não superior a 2 anos poderá ser suspensa pelo prazo de 2 a 6 anos (artigo 84 do diploma penal castrense). Interessante questionamento que pode surgir em virtude deste tema é acerca de quem poderá vir a ser beneficiado por tal instituto. Destaca-se que a suspensão condicional da pena, prevista neste diploma especial, somente é aplicada ao condenado militar. Isso porque o civil, caso julgado e condenado pela Justiça Militar, independentemente da pena a ser aplicada, terá a mesma executada na Justiça Comum, logo, aplicando-se a ele as disposições da Lei de Execuções Penais. 
Outras perguntas podem ocorrer no tocante aos seus pressupostos. Os pressupostos deste sursis são iguais aos previstos na lei penal comum, mas ela incidirá somente perante a pena principal e privativa de liberdade, ou seja, não se estenderá às penas de reforma, suspensão do exercício do posto, graduação ou função, ou à pena acessória, nem excluirá a aplicação de medida de segurança não detentiva (parágrafo único do artigo 84 do Código Castrense). Sursis Tempo de Suspensão 2 a 6 anos. 
Revogação Automática 
Conforme dispõe o artigo 86, em seus incisos, o sursis será revogado, de forma obrigatória e automática, caso, no curso do seu prazo, a pessoa for condenada, por sentença irrecorrível, na Justiça Militar ou na Comum, em razão de crime, ou de contravenção reveladora de má índole ou a que tenha sido imposta pena privativa de liberdade. Além disso, também terá o benefício cassado caso esta pessoa não efetue, sem justo motivo, a reparação do dano ou, ainda, caso ela seja militar e seja punido por infração disciplinar considerada grave. 
Revogação Facultativa 
Já o § 1º do mesmo artigo prescreve que o sursis poderá ser revogado (ou seja, de forma facultativa, conforme opinião do juiz), se o condenado deixar de cumprir qualquer obrigação constante na sentença. 
Vedações 
Por fim, o sursis ou suspensão condicional da pena não poderá vir a ser aplicado caso seja hipótese de crime cometido em tempo de guerra, ou, ainda, em caso de crime praticado em tempo de paz, crime este que se encaixe em alguma das hipóteses legais taxativas previstas nas alíneas do inciso II do artigo 88 do Código Penal Militar. 
LIVRAMENTO CONDICIONAL 
Requisitos 
Somente é aplicado nas hipóteses em que o militar é condenado por tempo igual ou superior a 2 anos, pena esta de reclusão ou de detenção, e que seja executada em estabelecimento militar (parte da doutrina, da qual o autor faz parte, entende que este prazo mínimo de 2 anos é inconstitucional). Mas não basta somente o preenchimento deste requisito temporal. Exige-se também um cumprimento mínimo da pena. Se a pessoa, condenada, for menor de 21 anos ou maior de 70 anos, o prazo para o livramento condicional será de 1/3. Caso, porém, não incorra nestas hipóteses decorrentes da idade, o condenado deverá cumprir ao menos 1/2 (metade) de sua pena, se réu primário, ou 2/3 se reincidente. 
Destaca-se que o cumprimento de 2/3 da pena é exigido também caso seja uma condenação decorrente de crime contra a segurança externa do país, crime de revolta, motim, aliciação e incitamento ou crime de violência contra superior ou militar em serviço, conforme o dispositivo previsto no artigo 97. Por fim, para que a pessoa goze deste benefício, deverá reparar o dano, além de possuir boa conduta, estar apto ao trabalho e que suas circunstâncias acerca da personalidade, meio social e vida pregressa indiquem que não voltará a delinquir. Livramento Condicional 1/3 1/2 2/3 14.2. 
Outros Requisitos 
Conforme o artigo 91, o livramento condicional somente poderá ser concedido mediante parecer do Conselho Penitenciário, ouvidos o diretor do estabelecimento prisional e o representante do Ministério Público da Justiça Militar. 
Vedação 
Proíbe-se sua concessão perante os crimes cometidos em tempo de guerra (artigo 96 do Código Penal Militar). 
Não Automático 
Diferentemente do que ocorre no âmbito penal comum (Código Penal), na esfera penal militar o livramento condicional não é automático, podendo ser dado através de requerimento para tanto. 
Revogação Automática 
Em decorrência do ditado pelos incisos do artigo 93 do Código Penal Militar, revoga-se automaticamente o livramento condicional caso a pessoa seja condenada, em sentença irrecorrível, a pena privativa de liberdade por infração penal cometida durante a vigência do benefício (crime militar, comum ou contravenção) ou, ainda, por infração penal anterior e a unificação de pena tornar a mesma incompatível com o benefício do livramento (como neste caso a revogação se deu por causa anterior, o período de prova deve ser computado como pena cumprida, conforme o disposto no artigo 94). 
Revogação Facultativa 
A revogação passa a ser facultativa nas hipóteses em que o liberado deixa de cumprir qualquer obrigação prevista na sentença ou for condenado, em sentença irrecorrível, por contravenção (pena esta não privativa de liberdade) ou, ainda, caso o militar vier a sofrer penalidade por transgressão disciplinar considerada grave. 
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 
Causas de Extinção da Punibilidade 
O Código Penal Castrense apresenta um rol um tanto quanto diferente daquele apresentado pelo Código Penal Comum.Entretanto, de forma equivalente, dispõe que, nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão (parágrafo único do artigo 123). Vejamos algumas destas causas. 
Abolitio Criminis 
Por meio dela afastam-se todos os efeitos penais (principais e secundários), embora não seja suficiente para atingir os efeitos extrapenais (só afastará os efeitos civis caso ela venha a ocorrer antes do trânsito em julgado do processo). 
Anistia e Indulto 
Por meio da anistia, esquece-se do fato ora ocorrido, embora este fato ainda seja tido como crime. Este esquecimento jurídico é tido como ex tunc, irrevogável e tem, por objeto, como mencionado, fatos (e não pessoas). Pelo fato de os crimes militares não serem considerados como hediondos ou equiparados, perante os mesmos poderá ocorrer a anistia, não incidindo, assim, a vedação legal atinente aos mesmos. Destaca-se que a anistia, concedida através de lei e sanção presidencial, pode ser classificada como própria ou imprópria, dependendodo momento em que venha a ocorrer (será própria quando ocorre antes do trânsito em julgado de eventual processo, ao passo que será imprópria se ocorrer depois do julgamento final). A anistia, seja ela própria ou imprópria, fará extinguir os efeitos penais de eventual sentença, mas a imprópria não será suficiente para afastar também os efeitos civis da condenação. 
No que concerne ao indulto, este extingue a punibilidade da pessoa através de decreto presidencial ou de autoridade com delegação. Diferentemente da anistia, ela recairá somente sobre os efeitos penais principais, não atingindo os demais (não afasta, portanto, a reincidência), muito menos os extrapenais. Pergunta-se: seria cabível a graça? Entende-se que sim, já que, embora não haja sua permissão na lei penal castrense, não há também sua vedação. 
Reparação do Dano no Peculato Culposo 
Em nada difere do Código Penal Comum, visto que, se esta reparação se der antes da sentença irrecorrível, haverá a extinção da punibilidade, ao passo que, se ocorrer após a mesma, haverá uma redução pela metade da pena. 
Reabilitação 
O Código Penal não considera a mesma como causa de extinção da punibilidade, diferentemente do que ocorre, portanto, no âmbito militar. Da mesma forma, enquanto o Código Penal Comum exige um prazo de 2 anos para a reabilitação, o Código Castrense estabelece o prazo de 5 anos. Este prazo de 5 anos é contado a partir do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena principal ou terminar a execução desta ou da medida de segurança aplicada em substituição, ou do dia em que terminar o prazo da suspensão condicional da pena (o sursis) ou do livramento condicional, desde que o condenado tenha domicílio no País, no prazo de 5 anos, tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado e, por fim, tenha ressarcido o dano causado, salvo impossibilidade ou novação ou renúncia da vítima (artigo 134). 
Esta reabilitação, vale destacar, poderá alcançar quaisquer penas impostas por sentença definitiva. Declarada, a reabilitação tem a virtude de impor sigilo sobre os antecedentes (o registro oficial de condenações penais somente poderá ser comunicado à autoridade policial ou judiciária, ou ao representante do Ministério Público, para instrução de processo penal que venha a ser instaurado contra o reabilitado). Pergunta-se. Negada a reabilitação, novo pedido poderá ser feito, sob nova fundamentação? Diferentemente do Código Penal Comum, onde a resposta seria positiva, no âmbito penal militar novo pedido somente poderá ser feito após um prazo de 2 anos. Reabilitação Prazo Após 5 anos Novo Pedido Após 2 anos. 
Vedação e Revogação da Reabilitação 
Segundo o § 2º do artigo 134 do Código Penal Castrense, a reabilitação não poderá ser concedida em favor dos que foram reconhecidos perigosos, salvo prova cabal em contrário e em relação aos atingidos pelas penas acessórias de suspensão do exercício do poder familiar, tutela, curatela, se o crime for de natureza sexual em detrimento de filho, tutelado ou curatelado. Além disto, se uma vez reabilitada, a pessoa vier a ser definitivamente condenada ao cumprimento de pena privativa de liberdade, esta reabilitação deverá ser revogada. 
Prescrição da Pretensão Punitiva Propriamente Dita
 A Prescrição da Pretensão Punitiva propriamente dita, onde não há ainda uma pena em concreto, mas sim uma em abstrato, é regulada conforme a pena máxima abstratamente prevista para o delito. Para tanto, deve-se analisar a tabela prevista no artigo 125, onde o prazo prescricional varia entre 30 anos (para a pena de morte) e 2 anos (para os crimes com penas inferiores a 1 ano) Prazo Prescricional De 2 até 30 anos 
Termo Inicial 
O termo inicial da mesma se dá com o dia em que o crime se consumou (Teoria do Resultado). Prescrição Teoria do Resultado 
Causas Suspensivas e Interruptivas 
Como causas suspensivas, a lei penal militar traz a pendência de questões prejudiciais no tocante ao reconhecimento da existência do crime e o fato de o agente estar cumprindo pena no estrangeiro.Agora, quanto às causas interruptivas, estas são caracterizadas pela instauração do processo e pela prolação da sentença condenatória recorrível. 
Suspensão do Prazo Prescricional e do Processo 
Conforme disposto no âmbito penal comum, caso haja citação por edital e o réu não comparecer nem constituir advogado, ocorrerá a suspensão do prazo prescricional e do processo, pelo período correspondente ao prazo prescricional. Interessante é que no meio militar isto não ocorre, ou seja, mesmo que o réu seja revel, o processo não será suspenso nem haverá qualquer suspensão do seu prazo prescricional (mas, obviamente, um defensor deverá ser nomeado). 
Redução do Prazo 
Ocorrerá a redução do prazo prescricional, pela metade, caso o agente conte com menos de 21 anos ou mais de 70 anos quando na época do crime. Isto é importante, pois difere e muito do que é previsto no Código Penal Comum, onde, para tanto, exige que a idade de 70 anos esteja alcançada quando da prolação da primeira decisão condenatória. 15.7. Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa e Prescrição da Pretensão Punitiva Intercorrente ou Superveniente à Sentença Condenatória Quando há pena em concreto, já delimitada, o prazo de prescrição passa a ser alterado. 
Na prescrição retroativa, passa-se a analisar se da sentença condenatória até o recebimento da denúncia houve lapso temporal maior que o referido prazo prescricional, ao passo que na prescrição superveniente ou intercorrente analisa-se o mesmo a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação até os dias atuais. 15.8. Prescrição da Pretensão Executória Ela tem como termo inicial o trânsito em julgado da sentença condenatória ou da decisão que revogar a suspensão condicional da pena (sursis) ou livramento condicional ou, ainda, do dia em que se interromper a execução da mesma. 
 Causas Suspensivas e Interruptivas 
O curso do prazo da prescrição suspende-se enquanto a pessoa estiver presa por outro motivo. E, interrompe-se o prazo prescricional com o início ou continuação do cumprimento da pena, ou pela reincidência. 
Aumento do Prazo 
Da mesma forma que ocorre na lei penal comum, na esfera penal militar, caso o agente seja reincidente, nesta modalidade de prescrição haverá a majoração do prazo (1/3, conforme o disposto no artigo 126 do Código Penal Castrense).
Prescrição – Observações 
Enquanto no Código Penal Comum as penas mais leves prescrevem com as mais graves, segundo o disposto no artigo 130 do Código Penal Militar, a execução das penas acessórias é imprescritível. Além disso, nos casos de crimes de insubmissão e de deserção, a lei castrense traz regras especiais no tocante aos prazos prescricionais caso o acusado esteja foragido. No crime de insubmissão, o termo inicial da prescrição, caso a pessoa não tenha sido capturada ou se apresentado espontaneamente, não ocorrerá conforme a regra geral, ou seja, o referido prazo começará a partir do instante em que o insubmisso atingir a idade de 30 anos (artigo 131). 
Já no caso de crime de deserção, nas mesmas situações, mesmo que o prazo prescricional seja atingido, a extinção da punibilidade só ocorrerá de fato quando a pessoa (o desertor) atingir a idade de 45 anos ou, se oficial, 60 anos (artigo 132). Prescrição/Extinção da Punibilidade Crime de Insubmissão 30 anos de Idade Crime de Deserção 45 ou 60 anos de Idade (oficial) 
AÇÃO PENAL 
A ação penal militar será sempre pública e, em regra, incondicionada. Entretanto, nos crimes contra a segurança externa do país a ação será pública condicionada à representação do Ministro da Defesa (caso o autor seja militar) ou do Ministro da Justiça (caso o autor seja civil). Vale destacar que não se encontra previsão legal para a ação privada nem para a ação penal pública condicionada à representação do ofendido (embora seja possível a ação privada subsidiária da pública). 
Lei dos Juizados 
A Lei n. 9.099/1995 não é aplicada na esfera militar,inclusive afastando de sua incidência as medidas despenalizadoras previstas na lei (porém, vale destacar que no Estado de Minas Gerais alguns juízes castrenses têm entendido pela aplicação destes benefícios). 
ASSUNTOS DIVERSOS 
Brasileiro e Estrangeiro 
Quando a lei penal trouxer, em seu texto, a expressão “brasileiro” ou “nacional”, ela refere-se às pessoas tidas, como brasileiras, pelo artigo 12 da Constituição Federal (brasileiros natos e naturalizados). É o que dispõe o artigo 26 do Código Penal Militar. Segundo o artigo 26, parágrafo único, da lei penal militar, são considerados estrangeiros os apátridas e os brasileiros que perderam a nacionalidade. 
Crime Continuado Conforme o disposto no parágrafo único do artigo 80 do Código Penal Militar, não haverá crime continuado quando se tratar de fatos ofensivos de bens jurídicos inerentes à pessoa, salvo se as ações ou omissões sucessivas são dirigidas contra a mesma vítima. 
Consciência 
Para a caracterização de crime contra a autoridade ou disciplina militar, se faz necessário o conhecimento por parte do agente acerca desta condição de superior do outro militar atingido e, assim, a consciência de que está infringindo as regras de disciplina e da hierarquia militar. 
Perdão Judicial 
Segundo o artigo 240, § 1º, do Código Penal Militar, que rege o crime de furto, “se o agente é primário e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou considerar a infração como disciplinar”. 
Inimputabilidade 
Reza o Código Penal Militar, em seu artigo 50, que “o menor de 18 anos é inimputável, salvo se, já tendo completado 16 anos, revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo com este entendimento. Nesse caso, a pena aplicável é diminuída de um terço até a metade”. Ressalta-se que este dispositivo não fora recepcionado pela Constituição Federal, visto que ela, em seu artigo 228, não traz ressalvas à regra de que os menores de 18 anos são considerados como inimputáveis.
Fonte: Concursos Jurídicos. GARCIA, Wander. 7ª Edição. Indaiatuba, São Paulo. Editora Foco, 2021

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