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TEORIA-GERAL-DO-DIREITO-PENAL-E-PROCESSUAL-PENAL-MILITAR

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TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL E 
PROCESSUAL PENAL MILITAR 
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Sumário 
1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3 
2 – CONCEITO ............................................................................................ 4 
2.1 - Direito Penal Militar e Direito Processual Penal Militar ........................ 4 
2.2 - Caráter especial do Direito Penal Militar .............................................. 5 
3 - COMENTÁRIOS AO CPM ...................................................................... 5 
3.1. Princípio da Legalidade ......................................................................... 5 
3.2 - Previsão Constitucional........................................................................ 7 
3.2.1 – Lei Supressiva de Incriminação ....................................................... 8 
3.2.2- Hipóteses de conflito de leis penais no tempo ................................... 9 
3.2.3 - Competência para aplicação da lei nova ........................................ 10 
3.2.4 - Apuração da maior benignidade ..................................................... 12 
3.2.5 - Habeas Corpus ............................................................................... 13 
4 - MEDIDAS DE SEGURANÇA ................................................................ 14 
4.1 – Lei Excepcional ou Temporária ......................................................... 15 
4.2 – Tempo do Crime ............................................................................... 16 
4.3 – Lugar do Crime ................................................................................. 17 
4.4- territorialidade e extraterritorialidade ................................................... 18 
4.5- Pena Cumprida no Estrangeiro ........................................................... 20 
4.6- Crimes Militares em Tempo de Paz .................................................... 20 
4.6.1 - Crime própria e impropriamente militar ........................................... 22 
4.6.2 - Distinção entre Crime Militar e Transgressão Disciplinar ................ 22 
4.6.3 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ................................................. 23 
5 - DOS DELITOS EM ESPÉCIE ............................................................... 24 
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 40 
 
 
 
 
 
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1 – INTRODUÇÃO 
 
Evidências históricas permitem deduzir que alguns povos civilizados da antiguidade, 
como Índia, Atenas, Pérsia, Macedônia e Cartago, conheciam a existência de certos 
delitos militares e seus agentes eram julgados pelos próprios militares, especialmente 
em tempo de guerra. Mas foi em Roma que o Direito Penal Militar adquiriu vida própria 
considerado como instituição jurídica. 
As origens históricas do Direito Penal Militar, como de qualquer ramo do Direito, são, 
principalmente, as que nos oferecem os romanos. A política foi sempre dominar os 
povos antes de tudo pela força das armas e depois consolidar a conquista pela Justiça 
das leis e sabedoria das instituições. 
Teve, assim, o exército romano o seu Direito Criminal. Para as faltas graves da 
disciplina, o Tribuno convocava o Conselho de Guerra, julgava o delinquente e o 
condenava a bastonadas. Esta pena, às vezes eram aplicada com tal rigor que 
acarretava a perda da vida do condenado. Tais penas estavam ligadas a certos 
crimes e atos de covardia. 
Nós também copiamos essa aflição física dos romanos, com a triste reminiscência no 
art. 184 do Regulamento de 20 Fev 1708 e o castigo corporal no Brasil somente foi 
abolido, inicialmente pelo Exército por meio da Lei n.º 2.556, de 26 Set 1874, art. 8º 
e, na Marinha (Armada), pelo Decreto n.º 3, de 16 Nov de 1889, art.2º. 
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2 – CONCEITO 
 
“É o complexo de normas jurídicas destinadas a assegurar a realização dos fins das 
instituições militares, cujo principal é a defesa armada da Pátria”. 
A preservação dessa ordem jurídica militar, onde preponderam a hierarquia e a 
disciplina, exige obviamente do Estado, mirando a seus possíveis violadores, um 
elenco de sanções de naturezas diversas, de acordo com os diferentes bens 
tutelados: administrativas (disciplinares), civis e penais. As penais surgem com o 
Direito Penal Militar. 
2.1 - Direito Penal Militar e Direito Processual Penal Militar 
 
As normas de Direito Penal Militar são conhecidas como de direito penal material ou 
substantivo e as de Direito Processual Penal Militar como de direito penal formal ou 
adjetivo, ou, simplesmente, de direito processual. As normas de Direito Penal Militar 
são as reunidas no Código Penal Militar (CPM) e as de Direito Processual Penal 
Militar, no Código Processual Penal Militar (CPPM). 
O direito material regula as relações entre as pessoas e o direito processual entre as 
pessoas e o Estado-Juiz. Assim, sempre que tivermos a violação de um direito 
material aquele que se sentir prejudicado poderá buscar do Estado-Juiz a chamada 
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prestação jurisdicional, ou seja, o processo e o julgamento daquele que violou a 
norma de direito material e com a sua conduta causou-lhe um dano ou prejuízo. 
 
2.2 - Caráter especial do Direito Penal Militar 
 
O Direito Penal Militar é um direito penal especial, porque a maioria de suas normas, 
diversamente das de direito penal comum, destinadas a todos os cidadãos, se 
aplicam, exclusivamente, aos militares, que têm especiais deveres para com o 
Estado, indispensáveis à sua defesa armada e à existência de suas instituições 
militares. Esse caráter especial, ainda, advém de a Constituição Federal atribuir com 
exclusividade aos órgãos da Justiça Castrense (art. 122, CF/88) o processo e o 
julgamento dos crimes militares definidos em lei. 
Há, como exceção a esta regra, o processo e o julgamento dos crimes dolosos contra 
a vida praticados por militar contra civil, os quais por força da Lei n.º 9.299/96 são da 
competência da Justiça Comum. 
Dessa forma, tais fatos continuam possuindo a classificação de crime militar, e, 
portando, devem ser apurados por meio de IPM, contudo será a Justiça Comum e 
não a Auditoria Militar, no âmbito do estado, a competente para o processo e o 
julgamento de tais crimes. 
 
3 - COMENTÁRIOS AO CPM 
3.1. Princípio da Legalidade 
 
“Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia 
cominação legal.” 
O artigo em questão estabelece o chamado princípio da legalidade, com 
correspondência integral no art. 1º do Código Penal. 
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É o princípio das Reserva Legal, embasado na máxima de Feuerbach, Nullum 
Crimen, Nulla Poena, Sine Praevia Lege,originário da remota Magna Carta de 1215, 
imposta pelos barões ingleses ao rei João Sem Terra. 
Para MIRABETE, entretanto, a causa próxima do princípio da legalidade está no 
Iluminismo (Séc. XVIII), tendo sido incluído no art. 8º da Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, de 26.08.1789, nos seguintes termos: “Ninguém pode ser 
punido se não for em virtude de uma lei previamente estabelecida e promulgada 
anteriormente ao delito e legalmente aplicada”. 
No Brasil, foi inscrito na Constituição de 1824 e repetido em todas as Cartas 
Constitucionais subsequentes. 
O Princípio da Legalidade que estrutura o art. 1º do Código Penal Militar de 
1969, também incluso o texto do Código Penal comum de 1969, antepara e 
protege a liberdade individual do Militar e do cidadão, contra a prepotência 
do estatólatra (Ramagem BADARÓ). 
As palavras crime, pena e lei, como lembra DELMANTO, têm sentido amplo, 
“Assim, a expressão crime compreende também as contravenções e, a 
palavra pena inclui as mais diversas restrições de caráter penal (penas 
privativas de liberdade, restritivas de direito, penas de multa que são 
conversíveis em detentivas etc.), como lei devem ser entendidas todas as 
normas de natureza penal, elaboradas na forma que a Constituição prevê, 
abrangendo não só as do CP como as das demais leis penais especiais”. 
Cabe ressaltar que a pena de multa não está prevista atualmente para os crimes 
militares. Já por ocasião dos estudos da Comissão elaboradora do CPM de 1944, a 
pena de multa foi julgada inadequada aos crimes militares, contra o voto do eminente 
Desembargador Sílvio Martins Teixeira, que a acolhia, por entender que a mesma já 
estava prevista em várias leis militares. 
 
 
 
 
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3.2 - Previsão Constitucional 
 
O princípio da legalidade ou da reserva legal está prevista na carta Magna, art. 5º, 
inc. XXXIX. 
Sílvio Martins TEIXEIRA lembrava que, 
 “na Doutrina do nacional – socialismo, ou autoritária, o Estado não podia 
tolerar que o indivíduo empregasse impunemente suas forças e capacidades 
contra a conservação e o desenvolvimento da coletividade, abroquelando-se 
no texto da lei, sem lhe respeitar as intenções”. 
E prosseguia dizendo, “de acordo com esse critério, no memorial prussiano, foi 
declarado ser imprescindível conceder-se ao juiz a faculdade de preencher, em certos 
limites, as lacunas da lei”. 
Com esses argumentos, a Comissão incumbida da elaboração do projeto nazista 
formulou, na segunda leitura, o seguinte dispositivo: 
Incorre em pena quem pratica um fato que a lei declara punível, ou quem, 
segundo o conceito de uma lei e a sã maneira de ver de um povo, merece 
punição. Se ao fato não foi imediatamente aplicável nenhuma lei penal, será 
ele punido de acordo com a lei cuja ideia fundamental melhor se adapte. 
 
Conclui-se, portanto, na esteira de DELMANTO, que do enunciado do art. 1º do 
Código Penal Militar resultam duas regras fundamentais: 
 A da Reserva Legal (ou da Legalidade), visto que somente a lei, elaborada na 
forma que a Constituição permite, pode determinar o que é crime e indicar a 
pena cabível. Lei Federal, elaborada de acordo com o processo legislativo 
discriminado a partir do art. 59, e seguintes, da Constituição Federal. 
 
 A da anterioridade, para que qualquer fato possa ser considerado crime, é 
indispensável que a vigência da lei que o define como tal seja anterior ao 
próprio fato, assim como a cominação da pena. 
 
 
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Corolário das regras acima, impõe-se ainda: 
 A irretroatividade, pois considerando-se serem as leis editadas para o futuro, 
as normas penais não podem volver ao passado, salvo se para beneficiar o 
agente (CF/88, art. 5º, XL). 
 
 A taxatividade, visto que as leis que definem os critérios devem ser precisas, 
marcando exatamente a conduta que objetivam punir, não se aceitando leis 
vagas ou imprecisas, nem o emprego, pelo juiz, da analogia ou interpretação 
extensiva para incriminar algum fato ou tornar mais severa sua punição. 
 
3.2.1 – Lei Supressiva de Incriminação 
 
“Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de 
considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença 
condenatória irrecorrível, salvo quando aos efeitos de natureza civil. 
Retroatividade de lei mais benigna 
§ 1º - A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-
se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória 
irrecorrível. 
Apuração da maior benignidade 
§ 2º - Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior, 
devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas 
normas aplicáveis ao fato.” 
Remissão 
O Código Penal comum tem disposição idêntica no caput do art. 2º. Seu parágrafo 
único, trazido a lume pela Lei 7.209/84, tornou incontestável que a retroatividade 
benéfica não sofre limitação alguma, tem redação similar ao § 1º do CPM, mudando 
apenas a parte final do dispositivo que, neste, trata da sentença condenatória 
irrecorrível e, naquele, trata da sentença condenatória transitada em julgado, o que 
nos parece, data venia, ter o mesmo sentido. 
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O Código Penal Militar revogado (Dec.-lei 6.227, de 24.01.44), tinha disposição 
idêntica no art. 2º, caput, e o seu parágrafo único, na mesma esteira do CP/1940 que 
mandava aplicar apenas ao fato não julgado definitivamente, a lei posterior que 
favorece o agente sem suprimir crime ou atenuar a pena. 
Noção 
Em sentido amplo, o art. 2º do Código Penal Militar consagra o princípio Tempus Regit 
Actum, o que está em perfeita harmonia com a garantia da reserva legal (CF, art. 5º, 
XL e XLI). 
Ou seja, a lei rege os atos praticados durante sua vigência. 
Especialmente, trata o referido art. 2º do CPM da Abolitio Criminis, que é a supressão 
da figura criminosa, entendendo o legislador que a ação antes prevista como 
delituosa, não é mais idônea a ferir o bem jurídico que pretende tutelar. 
Ora, com a descriminação do fato, não tem mais sentido o prosseguimento da 
execução da pena, nem a mantença das sequelas penais da sentença. DELMANTO 
explica que caso seja aprovado e entre em vigor projeto de lei que extingue o crime 
de adultério, tal ato deixaria de existir como crime. 
O Código Penal Militar, da mesma maneira que o Código Penal, dispõe ser possível 
a retroatividade e a ultratividade da lei. 
3.2.2- Hipóteses de conflito de leis penais no tempo 
 
Novatio Legis Incriminadora: A Lei nova torna típico fato anteriormente não 
incriminado. Por força da garantia do art. 5º, XL, CF, tal Lei não pode ser aplicada aos 
fatos a ela anteriores. 
Abolitio Criminis: (CPM, art. 2º): A abolitio criminis faz desaparecer o delito e seus 
reflexos penais, permanecendo, entretanto, os civis. A obrigação de reparação, que 
tem previsão no art. 159 do Código Civil, para aquele que, por ação ou omissão ou 
culpa, causa dano a outrem, fundamenta-se no diploma penal castrense, no art. 109, 
I, que “torna certa a obrigação de reparar dano resultante do crime”. 
A Abolitio Criminis é uma das causas de extinção de punibilidade prevista no art. 123, 
inc. III. 
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Novatio Legis in Pejus: A terceira hipótese refere-se à Lei nova mais grave que a 
anterior (Lex Gravior). Vige, no caso, o princípio da irretroatividade da Lei Penal mais 
severa. Exemplo: Lei 9.839, de 27.12.99, que passou a impedir a aplicação da Lei 
9.099/95 (que criou os Juizados Especiais Criminais) na Justiça Militar e, de 
sequência, afastou do âmbito da Justiça castrense os institutos despenalizadores da 
suspensão condicional do processo e da exigência de representação do ofendido nas 
lesões corporais de natureza leve e nas culposas. 
Novatio Legis in Mellius: A última hipótese é de Lei nova mais favorável que a 
anterior. Além da Abolitio Criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias 
maneiras, seja cominando pena mais brandaem qualidade (detenção, em vez de 
reclusão), ou quantidade (de um a quatro anos, em vez de dois a oito), eliminando 
circunstâncias qualificadas ou agravantes previstas anteriormente etc. 
Sílvio Martins TEIXEIRA lecionava que: 
de diversas formas pode uma nova Lei beneficiar o agente de um crime. 
Assim por exemplo: o fato não é mais considerado crime, passando a ser 
classificado como contravenção ou deixando de ser punido; circunstâncias 
perdem o caráter de agravantes; são admitidas outras excusativas de 
responsabilidade ou novas justificativas dos fatos considerados crimes, é 
diminuído o prazo para a prescrição. 
 
3.2.3 - Competência para aplicação da lei nova 
 
DELMANTO enumera duas hipóteses a considerar para a aplicação da lei nova, 
dependendo de já ter sido ou não julgado o caso em definitivo. 
1ª Hipótese: 
Se a condenação já transitou em julgado, a aplicação da lei posterior compete ao juiz 
da execução. Em se tratando de crime militar, a execução da sentença e os incidentes 
de execução devem ser resolvidos pelo Juiz-Auditor da Auditoria por onde correu o 
processo ou, nos casos de competência originária do Superior Tribunal Militar, pelo 
seu Presidente, nos termos dos arts. 588 e 590 do Código Penal Militar, verbis: 
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Art 588. A execução da sentença compete ao auditor da Auditoria por onde 
correu o processo, ou, nos casos de competência originária do Superior 
Tribunal Militar, ao seu presidente. 
Art 590. Todos os incidentes da execução serão decididos pelo auditor, ou 
pelo presidente do Superior Tribunal Militar, se fôr o caso. 
 
Ao preso provisório ou condenado da JUSTIÇA MILITAR, aplicar-se-ão igualmente a 
disposições da Lei 7.210, de 11/07/74, Lei de Execução Penal, quando recolhido a 
estabelecimento sujeito à jurisdição originária, nos termos do parágrafo único do seu 
art. 2º. 
Súmula 611, STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete 
ao juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna”. Precedentes no 
STF: RTJ 85/786,RT 87/447 E 1.067; 88/1.082 E 1.098, 90/451, 92/881, 
90/881, 94/564, 95/758 (MIRABETE, Manual 1989:70). 
 
Execução Penal: Réu condenado pela Justiça Militar por crime de roubo a 
estabelecimento bancário. Competência do Juízo da Execução Penal – o 
suscitado – para prosseguir na execução (STJ – CC 7.309-SP – J. em 
27.03.89, DJU 16.03.90, p. 3.075). 
Conflito de competência. Execução da pena. Juízo competente. 1. Os 
sentenciados recolhidos a estabelecimento penal sujeito à administração 
estadual, ainda que condenados pela Justiça Eleitoral, Militar ou Federal, 
terão suas penas executadas pelo Juízo de execução comum do Estado. 
Penal Militar. Execução da pena. O militar condenado, com sentença 
transitada em julgado, se cumpre a pena em estabelecimento militar, sujeita-
se ao regime ao regime de cumprimento da legislação especial e não à de 
que trata a Lei de Execuções Penais (LEP, art. 2º, parágrafo único). 
 
 
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2ª Hipótese: 
Se o processo ainda está em julgamento, dependendo da fase em que se encontrar, 
caberá ao juiz, ou ao tribunal com que o processo estiver, a aplicação da nova lei. 
Se for militar federal, ao Juízo de qualquer uma das doze Circunscrições Judiciárias 
Militares enunciadas pelo art.2º da lei 8.457, de 04.09.92 – Lei da Organização 
Judiciária Militar da União, ou Superior Tribunal Militar; se MILITAR ESTADUAL, pela 
Auditoria Militar do seu Estado, ou Tribunal de Justiça. 
Art. 2° Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o 
território nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, 
abrangendo: 
(...) 
É a conclusão a que se chega à vista dos arts. 124, parágrafo único e art. 125, §§ 3º 
e 4º da Constituição Federal. 
 
3.2.4 - Apuração da maior benignidade 
 
O Código Penal Militar manda que se considerem a lei posterior e a anterior, 
separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato para definir 
a de maior benignidade. 
Segundo Álvaro Mayrinck da Costa, 
“cabe ao juiz, a análise do caso in concreto, à luz de uma e de outra, visto 
que pode ocorrer que convenha a aplicação da primeira ainda que em pena 
mais grave que a segunda que apresenta pena menos severa.” 
Para DELMANTO, 
“há casos em que a opção entre a lei nova e a velha só pode ser decidida 
por uma apreciação subjetiva e não objetiva.Em tais hipóteses, pode-se e 
deve-se aceitar que o próprio réu, por intermédio do seu defensor, aponte 
qual das leis aplicáveis lhe parece ser a mais favorável”. 
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3.2.5 - Habeas Corpus 
 
Exigência de representação nos crimes de lesões corporais leves ou de lesões 
culposas (Lei 9.099/95, art. 88). Incidência residual no âmbito da Justiça Militar, em 
face da superveniência da Lei 9.839/99. Consumação da decadência. Extinção da 
punibilidade. Pedido deferido. 
São ainda aplicáveis à Justiça Militar, para efeito do que determina o art. 5º da 
Constituição, os institutos de direito material previstos na Lei 9.099/95, especialmente 
as medidas despenalizadoras pertinentes à exigência de representação nas 
hipóteses de lesões corporais leves ou de lesões corporais culposas (art. 88) e à 
suspensão condicional do processo penal (art.89), desde que os delitos militares 
tenham sido praticados antes da vigência da Lei 9.839/99. 
Se o ofendido, no prazo legal, deixa de formular a representação a que se refere o 
art. 99 da Lei 9.099/95, opera-se, em consequência da sua inércia, a decadência do 
direito de postular a instauração da persecutio criminis, circunstância esta que enseja 
o reconhecimento da extinção da punibilidade do agente. 
A Lei 9.839/99, que torna inaplicável à Justiça Militar a Lei 9.099/95 – não alcança, 
no que se refere aos institutos de direito material, os crimes militares praticados antes 
da sua vigência, ainda que o Inquérito Policial Militar ou o processo penal sejam 
iniciados posteriormente. 
O sistema constitucional brasileiro impede que se apliquem leis penais 
supervenientes mais gravosas, como aquela que afastam a existência de causas 
extintivas da punibilidade, a fatos delituosos cometidos em momento anterior ao da 
edição da lei mais severa. 
 
 
 
 
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4 - MEDIDAS DE SEGURANÇA 
 
“Art. 3º - As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da 
sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da 
execução.” 
O Código Penal Militar em vigor inclui, neste artigo, as medidas de segurança no 
Título I – Da Aplicação da Lei Penal Militar. 
Embora haja quem as considere como sanção penal, as medidas de segurança não 
são penas, não têm o caráter retribuitivo do mal com o mal, não significam repressão 
pela infração de leis penais vigentes na época em que o fato foi praticado. São 
medidas necessárias à garantia social e do próprio indivíduo que se torna perigoso. 
Diferente do crime, que é punido de acordo com a lei vigente na data em que foi 
cometida a infração, as medidas de segurança nada têm a ver com a lei que existia à 
época em que o ato foi praticado, pois sendo o seu objetivo a segurança atual, a lei 
aplicada é a que vigora na data em que é determinada a sentença. Se a lei se modifica 
depois que foi decretada a medida, mas antes de ser posta em execução, ela será 
aplicada de acordo com a modificação, ou seja, de acordo com a lei vigente na época 
em que se executa. 
Pena é a que o Código relaciona como Principais (art. 55) ou Acessórias (art. 98), não 
se fazendo menção, nos referidos artigos, às medidas citadas. 
Por outro lado, quando o código afirma que tais medidas são reguladas pela lei em 
vigência ao tempo da sentença, ou pela existente no momento da execução, se 
diferente da anterior, está afirmando que a nova lei retroage, o que é inconcebível, 
visto que a Constituição Federal, em seu art. 5º, XL, declara taxativamente em termos 
gerais que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiaro réu. Logo, a lei vigente 
ao tempo da sentença só retroagirá se for mais benéfica. 
 
 
 
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4.1 – Lei Excepcional ou Temporária 
 
“Art. 4º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período da sua 
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato 
praticado durante sua vigência.” 
 
Segundo DELMANTO, o princípio da retroatividade benigna não é aplicável em casos 
de leis excepcionais ou temporárias. As leis excepcionais são as promulgadas para 
vigorar em situações ou condições sociais anormais (ex. guerra, estado de sítio, 
epidemia etc.), tendo sua vigência subordinada à duração da anormalidade que as 
motivou. Leis temporárias são as que têm tempo de vigência determinado em seus 
próprios dispositivos. 
Ambas têm Ultratividade, ou seja, a capacidade de aplicarem-se ao fato cometido 
sob seu império, ainda que revogado pelo decurso do tempo ou uma vez superado o 
estado excepcional que as originou. O que possibilita a punição, segundo MIRABETE, 
é a circunstância de ter sido a conduta praticada durante o prazo de tempo em que 
ela era exigida e a norma necessária à salvaguarda dos bens expostos naquela 
ocasião especial. Esta ultratividade visa a frustar o emprego de expedientes 
tendentes a impedir a imposição de suas sanções a fatos praticados nas 
proximidades de seu termo final de vigência ou da cessação das circunstâncias 
excepcionais que a justificaram. 
 
 
 
 
 
 
 
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4.2 – Tempo do Crime 
 
“Art. 5º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, 
ainda que outro seja o do resultado.” 
 
 
 
 
 
 
 
O Código Penal Militar determina o tempo do crime de acordo com a Teoria da 
Atividade, a qual, segundo MIRABETE, é aquela que o considera como sendo o 
momento da conduta (ação ou omissão). Assim, teríamos, por exemplo, o momento 
em que o agente efetua os disparos contra a vítima ou atropela o ofendido (no 
homicídio doloso ou culposo), ou ilude o ofendido, com manobra a fraudulenta, para 
obter vantagem ilícita (no estelionato), ou deixa de prestar socorro ao ferido (omissão 
de socorro), pouco importando a ocasião em que o sujeito passivo venha a morrer, 
ou o agente obtenha a vantagem indevida etc. O fundamento desta teoria é a de evitar 
a incongruência de o fato ser considerado crime em decorrência da lei vigente na 
época do resultado, quando não o era no momento da ação ou omissão. 
Análise separada merecem os crimes permanentes como a deserção (CPM, art. 187) 
e o sequestro ou cárcere privado (CPM, art. 225), em que, tanto a ação como a 
consumação, prolongam-se no tempo enquanto o agente estiver ausente de sua 
Unidade ou privando a vítima de sua liberdade. Incidindo lei nova mais severa durante 
o tempo da privação da liberdade ou da ausência do militar, a lex gravior (a lei mais 
grave) será aplicada, pois o agente ainda está praticando a ação na vigência da lei 
posterior. Idêntico raciocínio deve ser feito ao crime continuado (CPM, art. 80) quando 
um ou mais dos delitos componentes forem praticados na vigência da lei posterior 
mais severa. 
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Como exceção à regra Celso DELMANTO cita a prescrição, que segue normas 
próprias especiais (CPM, art. 125, §2º). A regra incidirá, entretanto, com relação à 
redução do prazo prescricional para o agente menor (CPM, art. 129). 
4.3 – Lugar do Crime 
 
“Art. 6º - Considera-se praticado o fato no lugar onde se desenvolveu a 
atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob a forma de 
participação, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que deveria 
realizar-se a ação omitida.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando a conduta típica (ação ou omissão) e o resultado danoso ocorrem num 
mesmo lugar, não existem dificuldades na fixação do lugar do crime. Entretanto, nos 
chamados crimes a distância ou de longa mão, que são as infrações em que a 
conduta típica se dá em um país e o resultado ocorre em outro, a questão merece 
análise mais apurada. 
Por exemplo, A dispara, através da fronteira, contra B, que cai morto no país vizinho; 
ou C induz D em erro num país, a fim de que este realize em outro, ato de disposição 
patrimonial prejudicial a seus interesses; ou E se apodera de um avião que sobrevoa 
o território de um Estado, obrigando seu piloto a variar o rumo e a aterrissá-lo em 
outro, solicitando, com êxito, o resgate de uma terceira nação. Onde foi cometido o 
18 
 
 
homicídio, o estelionato e o sequestro aéreo, respectivamente em cada um desses 
casos? 
Existe três Teorias que podem explicar tais situações: 
 Teoria da Atividade, pela qual lugar do crime é aquele em que se iniciou a 
execução da conduta típica, que é a posição do nosso Código, em relação 
aos crimes omissivos, já que considera praticado o fato no lugar em que 
deveria realizar-se a ação omitida; 
 
 Teoria do resultado, pela qual lugar do crime é aquele em que se produziu o 
evento; 
 
 Teoria da Ubiqüidade, pela qual é tido como lugar do crime tanto aquele em 
que se iniciou sua execução, como aquele em que ocorreu o resultado, que é 
a posição do nosso Código, em relação aos crimes comissivos. 
 
Nos casos dos crimes a distância, envolvendo países diferentes, resulta um conflito 
de jurisdição, de caráter internacional que será resolvido pelo art. 8º do CPM, que 
estabelece que a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo 
mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 
 
4.4- territorialidade e extraterritorialidade 
 
“Art. 7º - Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e 
regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte, no 
território nacional ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo 
processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira. 
 
 Território nacional por extensão 
 
§1º - Para os efeitos da Lei Penal Militar consideram-se como extensão do Território 
Nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob 
19 
 
 
comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade 
competente, ainda que de propriedade privada. 
 
 Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros 
§2º - É também aplicável a Lei Penal Militar ao crime praticado a bordo de aeronaves 
ou navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar e o crime 
atente contra as instituições militares. 
 Conceito de navio 
§3º - Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio, toda embarcação 
sob comando militar.” 
A lei penal militar se aplica aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou navios 
apenas quando estes, sendo estrangeiros, se encontrem em local sob administração 
militar e atentem contra as instituições militares. 
A questão da territorialidade e da extraterritorialidade se insere no chamado direito 
penal internacional. 
Para Paulo GUSMÃO, geralmente o direito tem eficácia em todo o território do Estado 
que o sancionou, pois a eficácia extraterritorial das leis depende da vontade do outro 
Estado, admitida através de leis ou tratados internacionais. Para ele, território é a 
parte da superfície terrestre que o Estado exerce, soberanamente, a sua autoridade 
e na qual encontra-se a sua população. É formado pelo solo, subsolo, espaço aéreo 
que o recobre, ilhas e mar territorial que o banha, quando o mar lhe serve de fronteira, 
como é o caso do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
4.5- Pena Cumprida no Estrangeiro 
 
“Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil 
pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.” 
 
Este artigo insere a regra non bis in idem, ou seja, evitar a duplicidade de repressão 
penal. A atenuação, em caso de diversidade qualitativa de pena imposta é obrigatória,ficando a quantidade da redução ao critério prudente do magistrado. Já na hipótese 
de a pena cumprida no estrangeiro ser da mesma qualidade, ela é simplesmente 
abatida da pena a ser executada no Brasil. 
Segundo MIRABETE, a se a pena cumprida no estrangeiro for superior à imposta no 
País, é evidente que esta não será cumprida. 
 
4.6- Crimes Militares em Tempo de Paz 
 
“Art. 9º. Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal 
comum ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; 
II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição 
na lei penal comum, quando praticados: 
a)por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na 
mesma situação ou assemelhado; 
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à 
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado ou assemelhado 
ou civil. 
c) por militar em serviço, em comissão de natureza militar, ou em formatura, 
ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, 
ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da 
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
21 
 
 
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio 
sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; 
f) REVOGADO - por militar em situação de atividade ou assemelhado que, 
embora não estando em serviço, usa armamento de propriedade militar ou 
qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração militar, 
para a prática de ato ilegal; 
III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, 
contra as instituições militares, consideram-se como tais não só os cometidos 
no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: 
a)contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem 
administrativa militar; 
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de 
atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da 
Justiça Militar, no exercício de função inerente a seu cargo; 
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, 
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou 
manobras; 
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em 
função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, 
garantia e preservação da ordem pública, administrativa e judiciária, quando 
legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal 
superior. 
Parágrafo único – Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a 
vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum.” 
 
Conceito: 
“Crime militar é todo aquele que a lei assim o reconhece como tal”. 
O legislador penal brasileiro adotou o critério legal para definir crime militar, isto é, 
apenas enumerou taxativamente as diversas situações que definem esse delito. Ou 
22 
 
 
seja, um fato só poderá ser considerado crime militar se estiver previsto no Código 
Penal Militar (CPM). 
 
4.6.1 - Crime própria e impropriamente militar 
 
Os delitos propriamente militares nunca podem ser crimes comuns. Assim, o crime 
propriamente militar é o que só por militares pode ser praticado, isto é, aquele que 
constitui uma infração específica e funcional da profissão de “soldado”. São exemplos 
de crime propriamente militares a covardia, o motim, a revolta, a violência contra 
superior, o desrespeito a superior etc. Nunca haverá previsão de tais fatos no Código 
Penal comum ou em qualquer outra lei de caráter penal, daí dizer que são crimes 
propriamente militares. 
O crime impropriamente militar é, por sua vez, aquele que, pela condição militar do 
culpado, ou pela espécie militar do fato, ou pela natureza militar do lugar, ou, 
finalmente, pela anormalidade do tempo em que é praticado, acarreta dano à 
segurança ou à economia, ao serviço ou à disciplina das instituições militares. O crime 
impropriamente militar é, em linhas gerais, aquele crime comum cujas circunstâncias 
alheias ao elemento constitutivo do fato delituoso o transformam em crime militar 
transportando-o para o CPM. 
Desta forma, podemos dizer que o fato definido como crime impropriamente militar 
também está previsto no Código Penal comum. 
 
4.6.2 - Distinção entre Crime Militar e Transgressão Disciplinar 
 
As Forças Armadas e as Forças Auxiliares dispõem de normas complementares 
contidas nos Regulamentos Disciplinares, que permitem às autoridades militares 
aplicarem sanções disciplinares a seus subordinados por fatos de menor gravidade, 
mas que visam a assegurar a hierarquia e a disciplina militares. 
Transgressão Disciplinar é, assim, “toda ação ou omissão contrária ao dever militar, 
devidamente prevista em regulamento próprio”. O Crime Militar é a ofensa mais grave 
23 
 
 
a esse mesmo dever. Assim, a conduta violadora do dever militar em sua essência é 
a mesma e somente o caso concreto poderá determinar se houve mera transgressão 
disciplinar ou um crime militar. 
Vale ressaltar que para uma conduta ser considerada crime militar deve estar prevista 
no CPM. De igual forma, para que possa ser considerada transgressão disciplinar 
deve estar inserida no Regulamento Disciplinar correspondente. Assim, existem 
certas condutas que estão previstas tanto no CPM quanto no Regulamento 
Disciplinar; situação que poderá determinar que o acusado seja submetido, ao mesmo 
tempo, a um processo administrativo (PAD) para apuração da falta disciplinar e a um 
processo judicial para apuração da infração penal. 
Contudo, poderá a autoridade militar, agindo por seu bom senso, entender que a 
gravidade da conduta deva apenas limitar sua apuração à esfera administrativa, 
dando-lhe tratamento de transgressão disciplinar. Se entender o contrário, ou seja, 
que tal fato teve tamanha repercussão e gravidade poderá optar por uma postura que 
determine, ao mesmo tempo, uma apuração disciplinar, por meio de “sindicância” ou 
Processo Administrativo (como prefere o novo Estatuto PM), e uma postura penal, 
por intermédio da instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM). 
 
4.6.3 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
 
Crimes dolosos contra a vida. Inquérito. Julgada medida cautelar em ação 
direta de inconstitucionalidade ajuizada pela Associação dos Delegados de 
Polícia do Brasil – ADEPOL, contra a Lei 9.299/96 que, ao dar nova redação 
ao art. 82 do Código de Processo Penal Militar determina que “nos crimes 
dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os 
autos do inquérito à Justiça comum.” Afastando a tese da autora de que a 
apuração dos referidos crimes deveria ser feita em inquérito policial civil e não 
em inquérito policial militar, o Tribunal, por maioria, indeferiu a liminar por 
ausência de relevância na arguição de ofensa ao inciso IV, do §1º ao §4º do 
art. 144, da CF, que atribuem às polícias federal e civil o exercício das funções 
de polícia judiciária e a apuração das infrações penais, exceto as militares. 
Considerou-se que o dispositivo impugnado não impede a instauração 
24 
 
 
paralela de inquérito pela polícia civil. Vencidos os Ministros Celso de Mello, 
Relator, Maurício Corrêa, Ilmar Galvão e Sepúlveda Pertence. (STF – Ação 
Direta de Inconstitucionalidade 1.494-DF – Rel. p/ o acórdão Min. Marco 
Aurélio, DJU, 20.04.97). 
 
5 - DOS DELITOS EM ESPÉCIE 
 
Motim 
“Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados. 
I – agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la; 
II – recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou 
praticando violência; 
III – assentindo em recusa conjunta de obediênciaou em resistência ou 
violência, em comum, contra superior; 
IV – ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, 
ou dependência de qualquer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio 
ou viatura militar, ou utilizando-os de qualquer daqueles locais ou meios de 
transporte, para ação militar, ou prática de violência, em desobediência a 
ordem superior ou detrimento da ordem ou da disciplina militar. 
Pena – reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um terço para os 
cabeças” 
“Revolta” 
Parágrafo único. Se os agentes estavam armados. 
Pena – reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um terço para os 
cabeças” 
De acordo com o CPM não existem definições distintas para os crimes de revolta e 
de motim. Apenas o armamento dos participantes é elemento constitutivo do 
primeiro. Assim, é condição da configuração do crime de revolta, o agrupamento de 
25 
 
 
militares armados. Pois, se reunirem-se sem armas, o crime será de motim. A revolta 
é, portanto, o motim armado, sendo a existência de armas o único e essencial ponto 
de distinção entre os dois crimes. 
É comum achar que, para configuração dos delitos de motim ou de revolta, exige-se 
a reunião de quatro ou mais militares, contudo a redação atual de tais delitos admite 
que dois militares reunidos podem praticá-los, presentes os demais elementos 
constitutivos do tipo. 
SUPERIOR é, nos termos do art. 24 do CPM, o militar que, em virtude da função 
exerce autoridade sobre outro, de igual posto ou graduação ou que lhe seja inferior. 
Portanto, para que um militar seja considerado superior, à luz do CPM, basta que 
exerça autoridade sobre outro em razão da função que ocupa, não sendo necessário 
possuir grau hierárquico mais elevado. 
Violência contra superior 
“Art. 157. Praticar violência contra superior. 
Pena – detenção, de três meses a dois anos. 
Formas qualificadas 
§ 1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o agente, ou 
oficial general. 
Pena – reclusão, de três a nove anos. 
§ 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço. 
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da 
violência, a do crime contra a pessoa. 
§ 4º Se da violência resulta morte. 
Pena – reclusão, de doze a trinta anos. 
§ 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em serviço”. 
 
Este crime só pode ser cometido por militar, não encontrando previsão no Código 
Penal comum, razão pela qual tratar-se de crime militar próprio. 
26 
 
 
A violência exigida para caracterização deste delito é a violência física, consistente 
em tapas, empurrões, rasgar roupas, puxão de orelhas, pontapés e socos que podem 
ou não provocar lesões. Há necessidade apenas da existência de contato físico 
diretos ou através de instrumentos, também físicos. A agressão verbal poderá 
caracterizar outros delitos, tais como ultraje ao pudor (art. 238), desrespeito a superior 
(art. 160), incitamento (art. 155) etc. 
A violência contra superior assume tal gravidade que as consequências penais 
independem do resultado da ação (pode ou não causar lesão corporal). Nesse 
sentido, quanto mais deve ser respeitado o ofendido (superior), maior é o crime e, 
portanto, mais grave a pena cominada. 
Os parágrafos do art. 157 denotam a escalada de gravidade do crime. 
Ementa: Violência contra superior. Quando se torna obrigatório o laudo 
médico. Violência contra Superior – somente na forma qualificada prevista 
no art. 157, §3º do CPM, isto é, quando da violência resulta lesão corporal, é 
que torna indispensável o exame médico legal na pessoa da vítima. (TJM/MG 
– Ap. 1.098, Rel. Juiz Dr. fausto Nunes Vieira. Acórdão de 04.11.75) 
Ementa: Soldado que agride a socos e golpes de bastão, colega de igual 
graduação, porém em serviço. Conduta tipificada no art. 157, §3º do 
CPM. Denúncia e condenação por lesão corporal, art. 209, CPM. Autoria e 
materialidade induvidosas. Vedada a reformatio in pejus, mantêm-se a 
decisão recorrida. Apelo improvido. Decisão unânime. (TJM/RS – Ap. 
3.002/97 – Rel. Juiz Cel João Vanderlan Rodrigues Vieira, j. 15.10.97. 
Jurisprudência Penal Militar, jan/jun 1997, p.228). 
Violência contra militar em serviço 
“Art. 158. Praticar violência contra o oficial de dia, de serviço, ou de quarto, 
ou contra sentinela, vigia ou plantão. 
Pena – reclusão, de três a oito anos. 
§ 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço. 
§ 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da 
violência, a do crime contra a pessoa. 
27 
 
 
§ 3º Se da violência resulta morte. 
Pena – reclusão, de doze a trinta anos”. 
 
O artigo é um desdobramento do artigo anterior, estendendo a proteção contra 
violência física a todos os militares de serviço, e não apenas ao superior hierárquico. 
Quanto aos meios empregados pelo agente do delito, o crime se apresenta com duas 
feições: cometido com arma ou sem arma. 
É crime que não exige a qualidade de militar do sujeito ativo (agente). Considerado 
um crime contra as instituições militares, podendo ser cometido por qualquer 
indivíduo, militar ou civil. 
Insubordinação 
Recusa de obediência 
“Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria 
de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei regulamento ou instrução. 
Pena – detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais 
grave”. 
Define-se insubordinação como sendo o fato de o militar negar-se a obedecer ordem 
de superior hierárquico, relativo a serviço ou dever imposto em lei, regulamento ou 
instrução. 
Vale ressaltar que a mesma conduta, aqui definida como insubordinação, pode 
caracterizar o crime de motim previsto no art. 149, I, CPM. A insubordinação ficará 
restrita aos casos em que um único militar recusar-se a obedecer tais ordens. Em 
sendo mais de um militares, o crime será de motim. 
ORDEM é a expressão da vontade do superior hierárquico dirigida a um ou mais 
inferiores determinados para que cumpram com uma prestação ou abstenção no 
interesse do serviço. 
 
 
28 
 
 
Deve a ordem ser: 
 IMPERATIVA: deve importar numa exigência para o inferior, por isso não são 
ordens os conselhos, exortações e advertências; 
 
 PESSOAL: significa que deve ser dirigida a um ou mais inferiores 
determinados; as de caráter geral não são ordens desta natureza e seu não-
cumprimento constitui mera transgressão disciplinar; 
 
 CONCRETA: ou seja, pura e simples, pois seu cumprimento não deve estar 
sujeito à apreciação do subordinado. 
 
Finalmente a ordem tem que estar relacionada à lei, regulamento ou instrução (base 
legal). 
A obediência, no sistema militar, sustentada na hierarquia e na disciplina, é 
fundamental, contudo é certo que atualmente não se admite a obediência cega. 
Permite-se que o inferior examine o conteúdo da determinação. Certo é também que 
o sistema militar apresenta características próprias. Assim, se a ordem é ilegal, é 
ilegal também o fato praticado pelo subordinado (“ordens manifestamente ilegais não 
devem ser executadas”). Mas, como não lhe cabe discutir sobre sua legalidade, 
encontra-se no estrito cumprimento de dever legal (dever de obedecer a ordem). O 
que vale dizer que apenas as ordens manifestamente ilegais não devem ser 
cumpridas pelo subordinado, ou seja, aquelas que, à primeira vista, sem qualquer 
necessidade de maior avaliação acerca da sua conformidade com a lei, já 
demonstram visível ilegalidade. 
O cumprimento de ordens manifestamente ilegais responsabilizam o militar que 
executou e o superior que a emitiu. As ordens não-manifestamente ilegais 
responsabilizam apenas o superior que a emitiu. 
Violência contra inferior 
“Art. 175. praticar violência contra inferior. 
Pena – detenção, de três meses a um ano.” 
29 
 
 
Resultado mais grave 
Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte,é também 
aplicada a pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando for o caso, 
ao disposto no art. 159”. 
“Art. 159. Quando a violência resulta morte ou lesão corporal e as 
circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu 
o risco de produzi-lo, a pena do crime contra a pessoa é reduzida de metade” 
 
O art. 159 trata do crime preterdoloso ou preterintencional, ou seja, modalidade de 
crime qualificado pelo resultado. O PRETERDOLO apresenta dolo no antecedente e 
culpa no consequente. 
Ex.: agente desfere um soco no oficial de serviço ou na sentinela por desejar ferir 
qualquer um deles, sendo que a vítima vem a cair e morrer ao bater a cabeção contra 
o solo. 
O art. 175 “caput” trata da violência pura e simples do superior contra o inferior. Se o 
superior efetuar um empurrão contra o subordinado e em seguida desfere-lhe uma 
bofetada, ocorre a pratica do fato tipificado em tal artigo do CPM. 
Uma segunda situação vem prevista no parágrafo único do mesmo artigo, sob a 
rubrica “resultado mais grave”, e consiste na violência praticada pelo superior contra 
o inferior, mas que resulte lesão corporal ou morte. 
Deserção (art. 187 – 194) 
DEFINIÇÃO DOUTRINÁRIA: 
“Ausência não autorizada do serviço militar, por parte de um oficial ou de uma praça, 
com a intenção de não mais voltar” 
Deserção 
“Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da Unidade em que serve, ou 
do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias: 
Pena – detenção de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada”. 
30 
 
 
O art. 187 trata da chamada deserção propriamente dita e é por isso que se diz que 
tal artigo traz a definição legal de deserção. 
A lei não estipula o quantum do agravamento desta pena, aplica-se o disposto no art. 
73 do CPM, agravando-a de um quinto a um terço. 
Casos assimilados 
“Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que: 
I – não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o prazo de 
trânsito ou férias; 
II – deixa de se apresentar à autoridade competente, dentro do prazo de oito 
dias, contados daquele que termina ou é cassada a licença ou agregação ou 
em que é declarado o estado de sítio ou de guerra; 
III – tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de oito 
dias; 
IV – consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando 
ou simulando incapacidade”. 
Deserção por evasão ou fuga 
“Art. 192. Evadir-se o militar do poder da escolta, ou de recinto de detenção 
ou de prisão, ou fugir em seguida à prática de crime para evitar prisão, 
permanecendo ausente por mais de oito dias. 
Pena – detenção, de seis meses a dois anos”. 
Momento consumativo: É quando se completam os oito dias de ausência, 
consoante o art. 187 do CPM. 
“Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou 
do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.” 
Ausência: Antes da consumação do crime de deserção, o militar é considerado 
ausente por oito dias. Caso retorne ao serviço nesse período de ausência, não há 
31 
 
 
falar-se em crime, mas em mera transgressão disciplinar, devendo nessa esfera o 
fato ser tratado. 
Prazo de graça: É o lapso de tempo de oito dias que a lei concede ao ausente, 
oportunizando-lhe o desistência (“arrependimento”) e a consequente apresentação, 
não vindo, assim, a consumar o crime de deserção. Afora a deserção tipificada no art. 
190 do CPM, uma vez que esta trata da chamada deserção instantânea. 
A contagem dos dias de ausência, à luz do art. 451 do CPPM, “iniciar-se-á à zero 
hora do dia seguinte àquele em que for verificada a falta injustificada do militar ...”. 
Ex.: Se a falta injustificada ocorreu no dia 10, inicia-se a contagem do prazo à zero 
hora do dia 11 e consumar-se-á a deserção a partir da zero hora do dia 19. 
Parte de ausência: Deverá ser elaborada pelo chefe imediato do ausente e serve 
para: 
 dar conhecimento do fato ao escalão superior; 
 
 registrar o início da contagem do prazo de graça; 
 
 
 provocar a elaboração do inventário dos bens deixados ou extraviados pelo 
ausente. 
Despacho do Comandante: Na parte de ausência, o comandante irá emitir um 
despacho, mandando inventariar o material permanente da Fazenda Pública 
Estadual, deixado ou extraviado pelo ausente, com a assistência de duas 
testemunhas idôneas e mandando publicar em BIO a parte de ausência e o próprio 
despacho. É de praxe incluir-se no inventário os bens particulares deixados pelo 
ausente. 
 
Inventário: Destina-se a arrecadar os bens da Fazenda Pública Estadual deixados 
ou extraviados, bem como os bens particulares deixados pelo ausente. 
 
Parte de deserção: Documento elaborado pelo comandante da subunidade do militar 
ausente, ou autoridade correspondente, por meio do qual encaminhará o termo de 
32 
 
 
inventário e participará ao comandante, chefe ou diretor que tal ausência já conta de 
oito dias, configurando o crime de deserção. 
 
Despacho do comandante: Recebida a parte de deserção, o comandante proferirá 
um despacho designando alguém (pode ser praça ou oficial) para lavrar o termo de 
deserção. 
 
Termo de deserção: No termo de deserção, que será subscrito (assinado) pelo 
comandante e por duas testemunhas idôneas, de preferência oficiais, será 
formalizada a instrução provisória do processo de deserção devendo ser 
mencionadas todas as circunstâncias do fato, de forma a fornecer os elementos 
necessários à propositura da ação penal (oferecimento da denúncia pelo Ministério 
Público). 
 
Uma vez publicado o termo de deserção, estará configurado o delito, que classifica-
se como sendo permanente, razão pela qual autoriza, a partir de então, a prisão em 
flagrante do desertor onde quer que for capturado. 
 
Despacho no termo de deserção: Concluído o termo de deserção, o comandante 
despachará mandando que: 
 
 sejam publicados o termo de deserção e o próprio despacho em BIO; 
 sejam juntados os assentamentos do desertor; 
 
 seja oficiado ao Comandante Geral encaminhando o termo de deserção e 
solicitando a demissão (se praça não-estável) ou a agregação (se oficial ou 
praça estável); 
 
 manda realizar diligências para localizar o desertor e determina a publicação 
do resultado destas; 
 
 seja arquivada cópia autêntica dos autos; 
 
33 
 
 
 seja remetido os autos ao Ministério Público. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Embriaguez em serviço: 
“Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se 
embriagado para prestá-lo. 
Pena – detenção, de seis meses a dois anos”. 
 
O delito de embriaguez apresenta duas modalidades: 
Na primeira o militar encontra-se em serviço e, nessa qualidade embriaga-se. Caso 
ingira bebida alcoólica e não se embriague, inexiste o delito, mas certamente 
subsistirá a transgressão disciplinar. Da mesma forma, se a embriaguez ocorre fora 
do serviço, resolve-se também no âmbito disciplinar. 
Na segunda modalidade, a de apresentar-se embriagado para prestar serviço, é 
necessário que o sujeito ativo tenha ciência de que iria entrar em serviço. 
Nem sempre é possível a execução do exame de dosagem alcoólica, valendo então, 
em seu lugar, a prova testemunhal que evidencie de modo preciso o estado do 
34 
 
 
acusado na ocasião, com todas as circunstâncias demonstrativas da situação em que 
o mesmo se encontrava. 
Assim, a embriaguez em serviço tem como consequência imediata, no mínimo, a falta 
de atenção e prejuízo ao desempenho do serviço que o agente está realizando, já 
que não podemos aceitar que a ingestão de álcool melhore o desempenho funcional 
de quem quer que seja. 
Essa falta de atenção pode evoluir até mesmo para a incapacidade total para a 
continuação e realização do serviço, quando o agente perde a coordenação motora, 
predomina a confusão psíquica,apresentam-se perturbações sensoriais como a visão 
dupla, zumbido de ouvido, ilusões (percepções erradas), palavra difícil e pastosa, 
inconveniência de atitudes, chegando mesmo ao coma alcoólico nos casos mais 
graves. 
A comprovação da embriaguez, portanto, poderá ser efetivada pelo exame de 
dosagem alcoólica (exame de alcoolemia, exame de sangue) ou pelo exame clínico 
(exame de embriaguez, “exame visual”). Em qualquer dos casos o exame deve ser 
feito sempre por médico perito oficial e, na ausência deste, por médico a ser 
designado pela autoridade militar. 
Dormir em serviço: 
“Art. 203. dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto ou de 
ronda, ou em situação equivalente, ou não sendo oficial, em serviço de 
sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer 
serviço de natureza semelhante. 
Pena – detenção, de três meses a um ano”. 
 
O militar tem o dever de utilizar todos os meios possíveis para evitar que adormeça e 
quando esses meios se apresentem deficientes, cumpre participar ao superior 
hierárquico a fim de que sejam adotadas providências cabíveis. 
O delito de dormir em serviço é sempre doloso, o que vale dizer que a conduta culposa 
não caracteriza o delito, podendo configurar mera transgressão disciplinar. 
 
35 
 
 
Maus tratos: 
“Art. 213. Expor a perigo a vida ou a saúde, em lugar sujeito à administração 
militar ou no serviço de função militar, de pessoa sob sua autoridade, guarda 
ou vigilância, para o fim de educação, instrução, tratamento ou custódia, quer 
privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-as a 
trabalhos excessivos ou inadequados, quer abusando de meios de correção 
ou disciplina. 
Pena – detenção, de dois meses a um ano. 
Formas qualificadas pelo resultado 
 § 1º Se do fato resulta lesão grave: 
 Pena - reclusão, até quatro anos. 
 § 2º Se resulta morte: 
 Pena - reclusão, de dois a dez anos. 
 
O delito de maus tratos está previsto no art. 136 do Código Penal comum, razão pela 
qual é crime militar impróprio. No tipo penal, no entanto, exige-se que a exposição a 
perigo ocorra em lugar sujeito à administração militar ou que o seu agente esteja no 
exercício de função militar. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, 
ressalvando-se quanto a este último que sua punibilidade está condicionada ao fato 
de o delito atentar contra as instituições militares. 
O art. 213 do CPM, prevê uma situação a mais para a vítima, ou seja, a de estar 
submetida à autoridade do agente, importando o crime na violação desse dever de 
autoridade, guarda ou vigilância, para o fim de educação, instrução, tratamento ou 
custódia. 
Comete o delito o agente que priva de alimentação ou cuidados necessários (ex.: 
doentes internados sob sua custódia), ou sujeitando-a a trabalhos excessivos ou 
inadequados (ex.: trabalhos forçados em locais insalubres); ou ainda abusando de 
meios de correção ou disciplina (ocorre com mais frequência contra recrutas ou 
alunos em cursos de formação). 
36 
 
 
É crime múltiplo, não sendo necessário que o agente realize todas as condutas típicas 
mas apenas uma delas. 
O crime de maus tratos é essencialmente doloso, desconhecendo o CPM a forma 
culposa. 
Os parágrafos do art. 213 aludem às formas qualificadas pelo resultados lesão 
corporal grave e o de morte. 
Embriaguez ao volante: 
“Art. 279. Dirigir veículo motorizado, sob administração militar, na via pública, 
encontrando-se em estado de embriaguez, por bebida alcoólica, ou qualquer 
outro inebriante. 
Pena – detenção, de três meses a um ano”. 
Com o advento da nova lei de trânsito (Lei n.º 9.503,97) restou tipificado a conduta 
de “conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou 
substância de efeitos análogos ...” (art. 306 do Código de Trânsito brasileiro). 
Portanto, atualmente, o delito de embriaguez ao volante é crime militar impróprio. 
Para configuração do delito de embriaguez ao volante não é necessário a provocação 
de qualquer dano à saúde ou ao patrimônio de outrem, posto tratar-se de delito de 
perigo abstrato. Basta a simples condução de veículo estando o agente sob efeito de 
substância alcoólica ou de efeitos análogos. 
Prevaricação: 
“Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou 
praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfazer interesse ou 
sentimento pessoal. 
Pena – detenção, de seis meses a dois anos”. 
A prevaricação é crime militar impróprio, posto que também encontra previsão no 
Código Penal comum. O seu sujeito ativo deverá ser funcionário público, seja militar 
ou civil. O sujeito passivo é o Estado, representado pela Administração Militar. 
O delito se consuma de três maneiras: 
37 
 
 
 na primeira, o agente retarda (protrai, delonga); 
 
 na segunda, ele deixa de praticar (omissão); 
 
 na terceira, ele pratica (ação) o ato de ofício contra disposição legal. 
 
ATO DE OFÍCIO é aquele que se compreende nas atribuições do servidor; que está 
na esfera de sua competência, administrativa ou judicial. 
O crime de prevaricação é essencialmente doloso, mas requer um elemento subjetivo 
do injusto (especial fim de agir), caracterizado pela expressão “para satisfazer 
interesse ou sentimento pessoal”, sem que o crime não se aperfeiçoa. Inexistindo o 
elemento subjetivo do injusto o delito praticado poderá ser o de condescendência 
criminosa. Ou seja, se o superior não pretender com a sua conduta a satisfação de 
um interesse ou sentimento pessoal deixa de praticar o crime de prevaricação, mas 
pode praticar o crime de condescendência criminosa. 
CRIME DOLOSO é aquele em que o agente manifesta a vontade livre e dirigida à 
prática de qualquer das condutas mencionadas pela lei penal. 
Condescendência criminosa: 
“Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete infração no 
exercício do cargo, ou, quando lhe falta competência, não levar o fato ao 
conhecimento da autoridade competente. 
Pena – se o fato foi praticado por indulgência, detenção até seis meses; se 
por negligência, detenção até seis meses”. 
A condescendência criminosa está prevista no art.320 do Código Penal comum e, por 
isso, será crime militar impróprio quando presentes as condições exigidas pelo CPM. 
O presente artigo apresenta duas modalidades de crime; o indulgente doloso e o 
culposo: 
 o culposo, pela referência à negligência; 
 
 o indulgente (doloso), que o crime praticado por indulgência. 
38 
 
 
 
INDULGÊNCIA: é a qualidade do indulgente, ou seja, é a clemência, a misericórdia, 
a tolerância demasiada, a benevolência. 
NEGLIGÊNCIA: é o desleixo, descuido, incúria, desatenção, menosprezo, preguiça. 
É crime que só pode ser cometido pelo superior hierárquico em relação ao seu 
subordinado infrator. O superior neste caso tem competência para punir o 
subordinado. Já quando o superior não tem competência para punir o subordinado 
deve informar imediatamente à autoridade competente para a punição, sob pena de 
cometer o crime de condescendência criminosa. 
O Regulamento Disciplinar da PMBA traz textualmente a exigência de uma pronta 
atuação do superior que presenciar ato contrário à disciplina ou ao decoro da 
instituição, devendo, assim, sujeitar o subordinado à prisão disciplinar ou à prisão em 
flagrante delito. 
Desacato: 
“Art. 341. Desacatar autoridade judiciária no exercício da função ou em razão 
dela. Pena – reclusão, até quatro anos”. 
 
É crime militar impróprio, posto que também encontra definição no Código Penal 
comum. 
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, mesmo o funcionário público 
desde que agindo como particular. 
Autoridade judiciária é tanto o juiz-Auditor como qualquer um dos Juízes-Militares que 
compõem o Conselho de Justiça, Especial ou Permanente. 
Autoridades judiciárias são igualmente, os Ministrosdo Superior Tribunal Militar e o 
Juiz-Auditor Corregedor na esfera federal e, os juízes dos Tribunais Militares dos 
Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, bem como o Juiz-
Corregedor da Justiça Militar estadual. 
A ofensa constitutiva do desacato é qualquer palavra ou ato que redunde em vexame, 
humilhação, desprestígio ou irreverência ao funcionário. É a grosseira falta de 
39 
 
 
acatamento, podendo consistir em palavras injuriosas, difamatórias ou caluniosas, 
vias de fato, agressão física, ameaças, gestos obscenos, gritos agudos etc. 
É condição sem a qual não se configura o crime de desacato a situação de estar a 
autoridade judiciária no exercício da função ou em razão dela. 
O crime só admite a forma dolosa, não havendo previsão de culpa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MIRABETE, Julio Fabbrini e FABBRINI, Renato N., Manual de Direito Penal – v. 1, 
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 ______. Código de Processo Penal Militar. Decreto lei nº 1.002, de 21 de outubro de 
1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del1002.htm. 
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STF – Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.494-DF – Rel. p/ o acórdão Min. Marco 
Aurélio, DJU, 20.04.97)

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