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AULA 1 METODOLOGIAS ATIVAS Profª Lígia Maria Bueno Pereira Bacarin 2 CONVERSA INICIAL Prezado(a) cursista, nesta nossa primeira aula, abordaremos a necessidade da construção de uma educação inovadora, mas que só será possível a partir de um trabalho conjunto e estruturado, no qual o papel do(a) educador(a) é essencial. Neste contexto, as metodologias devem oportunizar o cumprimento dos objetivos desejados. Sendo assim, para que os estudantes se tornem participativos, torna-se fundamental a adoção de metodologias que os envolvam e atividades cada vez mais criativas e elaboradas. Nesse sentido, para tratar dessas possibilidades as Metodologias Ativas se tornam essenciais, pois a partir delas se concebe a sala de aula como um espaço vivo, de trocas, resultados e pesquisas. Ou seja, estudos de casos, análise de artigos, sala de aula invertida, discussão de teorias, solucionar problemas em grupo, todas essas atividades fazem parte do conceito de metodologias ativas, desenvolvidas em algumas instituições de ensino e universidades. Nesse sentido, as questões que nortearão esta aula se apresentam da seguinte forma: o que são metodologias ativas? Como elas se desenvolveram? Quais são os elementos que as constituem? Como é uma aula que utiliza esse tipo de sistema? Observamos que ao tratar de novas metodologias, a discussão, necessariamente, precisa perpassar também um novo paradigma de educação e escola. Isto é, não há como mudar metodologias a partir de uma concepção de ensino que não se altere e/ ou acompanhe as transformações metodológicas. Observamos que as transformações sociais, econômicas, políticas, culturais e tecnológicas das últimas décadas têm impactado de forma significativa o cotidiano dos indivíduos e as relações que estes estabelecem entre si, tanto no mundo do trabalho e, por conseguinte, a escola. Esta última talvez seja a que mais tem sido “balançada”, dada à base histórica de sua superestrutura. Nesse contexto de imprecisão, situa-se a educação contemporânea e, mais precisamente, a escola, com seus processos, com os sujeitos que a constituem, com as relações entre docente-estudante-conhecimento e com as práticas pedagógicas. 3 CONTEXTUALIZANDO Bassalobre (2013, p. 312) observa que: Em oposição às experiências pedagógicas “sólidas” e conteudistas, as atuais demandas sociais exigem do docente uma nova postura e o estabelecimento de uma nova relação entre este e o conhecimento, uma vez que cabe a ele, primordialmente, a condução desse processo. Com efeito, conforme essa autora, essas exigências implicam em novas aprendizagens, no desenvolvimento de novas competências, em alteração de concepções, ou seja, na construção de um novo sentido ao fazer docente, imbuído das dimensões ético e política. Assim, podemos inferir, a partir das contribuições de Bassalobre (2013), que as contínuas e rápidas transformações da sociedade atual acalantam a exigência de um novo perfil docente. Dessa necessidade, Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 269), observam que Surge a incumbência de repensar a formação de professores, tendo como ponto de partida a diversidade dos saberes essenciais à sua prática, transpondo, assim, a racionalidade técnica de um fazer instrumental para uma perspectiva que busque ressignificá-la, valorizando os saberes já construídos, com base numa postura reflexiva, investigativa e crítica. Para Bassalobre (2013), dessa perspectiva é possível inferir que os conhecimentos necessários à prática docente não se restringem ao conhecimento dos conteúdos das disciplinas. Para corroborar essa premissa, Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 269), observam que Uma das possibilidades de interversão plausível para intervir nessa realidade resida em oportunizar aos professores e professoras refletirem na e sobre a sua prática pedagógica, a fim de que possam construir um diálogo entre suas ações e palavras, bem como outras formas de mediação pedagógica. Com base nesse cenário, as metodologias ativas se apresentam como uma possibilidade de construção de um novo processo de ensino que desloca da perspectiva do docente (ensino) para o estudante (aprendizagem). A partir dessa reflexão e das considerações já feitas é que se justifica a organização desta primeira aula, que tem como objetivo buscar pontos de convergência entre as metodologias ativas de ensino e outras abordagens já consagradas do âmbito da (re)significação da prática docente. 4 TEMA 1 – CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DAS METODOLOGIAS ATIVAS Araújo (2015) observa que metodologia é uma palavra que tem registro em língua portuguesa somente em 1858. Em relação à sua etimologia, que advém do grego, compõe-se de três termos: metá (atrás, em seguida, através); hodós (caminho); e logos (ciência, arte, tratado, exposição cabal, tratamento sistemático de um tema). De acordo com Houaiss (2001) Essas significações, metodologia pode ser compreendida como tratado, disposição ou ordenamento sobre o caminho através do qual se busca, por exemplo, um dado objetivo de ensino ou mesmo uma finalidade educativa. Não haveria, por conseguinte, uma metodologia de ensino sem intencionalidade imediata, em curto prazo e de caráter programático (constituída pelos objetivos), e mediato, de caráter teleológico (pelas finalidades). Para Araújo (2015), confere-se à metodologia sentido igual a método: este seria utilizado para substituir aquela e vice-versa. Contudo, o autor observa que método se compõe de metá (atrás, em seguida, através) e de hodós (caminho). Portanto, na perspectiva desse pesquisador, método significa somente caminho por meio do qual se busca algo. Além disso, conforme o mesmo autor, metodologia de ensino também não pode ser entendida como reunião de métodos e técnicas de ensino, os quais se refeririam à didática teórica, cujos critérios passariam pelos “[...] objetivos, natureza do conteúdo, nível do aluno e natureza da aprendizagem [...]” (Martins, 1991, p. 46). Ainda para a autora: “O método constitui o elemento unificador e sistematizador do processo de ensino, determinando o tipo de relação a ser estabelecida entre professor e alunos [...]” (1991, p. 40). À vista disso, Abreu (2009) infere que: [...] a metodologia de ensino tem como alvo a articulação e a efetivação das seguintes dimensões: relações entre professores e alunos, o ensino/aprendizagem, objetivos de ensino, finalidades educativas, conteúdos cognitivos, métodos e técnicas de ensino, tecnologias educativas, avaliação, faixa etária do educando, nível de escolaridade, conhecimentos que o aluno possui sua realidade sociocultural, projeto político-pedagógico da escola, sua pertença a grupos e classes sociais, além de outras dimensões societárias em que se sustenta uma dada sociedade. A partir dessa explanação inicial, podemos pressupor que a metodologia ativa se reporta à ação pedagógica e as diferentes acepções relacionadas a esta. 5 Segundo Ferrater Mora (1982, p. 39), “O vocábulo ‘ação’ é um bom exemplo desse tipo de vocábulos com tantos e tão diversos sentidos que é pouco recomendável usá-los fora do contexto ou sem especificar seu emprego”. O antônimo de atividade, mais próximo do campo pedagógico e didático, pode ser referido à passividade, à inatividade, à inação. Segundo Abreu (2009), a essência das metodologias ativas não se constitui em algo novo, pois, para esse autor, o primeiro indício dos métodos ativos encontra-se na obra Emílio, de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), tido como o primeiro tratado sobre filosofia e educação do mundo ocidental e no qual a experiência assume destaque em detrimento da teoria. Entretanto, Abreu (2009) afirma que foi com Johann Friedrich Herbart (1776-1841) que a pedagogia passou a ser reivindicada e estruturadacomo ciência, a qual devia, a seu ver, tornar-se experimental, posto que “[...] de uma experiência nada se aprende, tal como nada se aprende de observações dispersas [...]” (Herbart, 2003, p. 12). Isto é, sustentava então que é pela repetição de um mesmo ensaio, por muitas vezes, que se pode chegar a algum resultado. Abreu (2009) entende que para o pensador do século XVIII, à pedagogia cabia construir os seus próprios conceitos, o que promoveria sua autonomia, sua orientação e sua cientificização; para isso, ela deveria se fundar em ciências afins. A busca por constituí-la como ciência, “seria seguramente melhor se [...] se concentrasse tão rigorosamente quanto possível nos seus próprios conceitos e cultivasse mais um pensamento independente” (Abreu, 2009, p. 13). Van Zanten (2011) afirma que é com esse princípio que a pedagogia advém de cientificidade, ao admitir-se como ciência da educação, a partir do século XIX. Para Abreu (2009, p. 48), em síntese, durante o século XIX, O termo experiência foi tratado em vários sentidos: como apreensão imediata, como experiência da vida, como apreensão sensível, como afirmação de formas de experiência vivida etc. Já no século xx, chegou- se inclusive a classificar as experiências, discriminando-as por sensível, científica, religiosa, artística, filosófica etc. Conforme Ferrater Mora (1982), “muitas tendências filosóficas no século passado (XIX) e no presente (XX) deram grande atenção à noção de ação em suas múltiplas variantes: impulso, esforço, produção, transformação etc.” (p. 40). O mesmo dicionarista também se refere, em relação ao século XX, às “filosofias da ação, sob as quais estariam agrupados o pragmatismo (uma das fundações da escola nova), o existencialismo e o marxismo.” 6 Abreu (2009) analisa que foi nesse momento histórico que se desenrolou a metodologia ativa no campo do movimento da Escola Nova, a qual desencadeou uma expressiva curvatura entre a teoria e a prática, baseadas na experiência sob o domínio de Pedagogia Científica implantada por Herbart. Tal movimento surgiu na Inglaterra, através de uma “New School” em 1889, de onde se disseminou para o continente europeu, com diferenciadas propostas afeitas a construir „uma comunidade escolar livre‟, „a educação no campo‟, „a escola de humanidade‟, a coeducação; eram também concebidas como inovadoras e experimentais, e tinham como perspectiva finalidades educacionais que viessem a superar as escolas tradicionais. No Brasil, o movimento escolanovista é inaugurado por Sampaio Dória, em 1920, em São Paulo (em 1930, catorze estados brasileiros já haviam realizado sua reforma de caráter escolanovista). (Abreu, 2009, p. 7) Dessa maneira, Abreu (2009), entende que na construção metodológica da Escola Nova, a atividade e o interesse do aprendiz foram valorizados, e não os do professor. Assim, Dewey, por meio do seu ideário da Escola Nova, teve grande influência nessa ideia ao defender que a aprendizagem ocorre pela ação, colocando o estudante no centro dos processos de ensino e de aprendizagem. Enfim, conforme Abreu (2009, p. 52) A metodologia ativa elaborada em outro tempo e espaços, desde o final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, com fundamentos autonômicos em relação à complexidade do fenômeno educacional, compreende o aluno sob o manto da Biologia primeiramente e, de modo derivado, ao da Psicologia. De um lado, o aluno sofreria uma dicotomia, seja como objeto resultante do ensino (tradicional), do qual simplesmente decorreria a aprendizagem; de outro, como sujeito (aluno) que promoveria a sua própria aprendizagem (ativa). TEMA 2 – O CONCEITO DE METODOLOGIAS ATIVAS A abordagem teórica que norteia o desenvolvimento deste segundo tema está abalizada no uso de metodologias ativas de ensino como possibilidade de (re)significação da prática docente, conforme estudos de Araújo (2015). Para tanto, inicialmente, esse autor, em sua obra, faz uma apresentação minuciosa do que se entende por metodologias ativas de ensino, levantando as principais características atreladas a elas. Essa caracterização irá direcionar os estudos posteriores, permitindo articulação em outras abordagens. Estabeleçamos, então, que a Metodologia Ativa está centrada no estudante, uma vez que sua aprendizagem se torna protagonista, secundarizando-se o ensino, que fazia protagonizar o professor. Entendemos que hegemonicamente alternavam-se as perspectivas puerocêntrica e a 7 magistrocêntrica. Numa narrativa filosófico-educacional, estabelecia-se “a querela entre a pedagogia da essência [tradicional] e a pedagogia da existência [moderna] iniciada durante o renascimento [...]” (Suchodolski, 1978, p. 29). Para Alencar e Borges (2014), podemos entender Metodologias Ativas como formas de desenvolver o processo do aprender que os professores utilizam na busca de conduzir a formação crítica de futuros profissionais nas mais diversas áreas. No entendimento desses autores, a utilização dessas metodologias pode favorecer a autonomia do educando, despertando a curiosidade, estimulando tomadas de decisões individuais e coletivas, advindos das atividades essenciais da prática social e em contextos do estudante. Dentre umas das Metodologias Ativas utilizadas, está a problematização, que tem como objetivo instigar o estudante mediante problemas, pois assim ele tem a possibilidade de examinar, refletir, posicionar-se de forma crítica. Moran (2015) observa que a maior parte do tempo – na educação presencial e a distância – ensinamos com materiais e comunicações escritos, orais e audiovisuais, previamente selecionados ou elaborados. São extremamente importantes, mas a melhor forma de aprender é combinando equilibradamente atividades, desafios e informação contextualizada. Para aprender a dirigir um carro, não basta ler muito sobre esse tema; tem que experimentar, rodar com ele em diversas situações com supervisão, para depois poder assumir o comando do veículo sem riscos. Moran (2015) também salienta que as metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos. Se quisermos que os discentes sejam proativos, precisamos adotar metodologias em que os estudantes se envolvam em atividades cada vez mais complexas, em que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes. Se quisermos que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa. Dessa perspectiva, Baldez, Diesel e Martins (2017) entendem que é possível inferir que os saberes necessários ao ensinar não se restringem ao conhecimento dos conteúdos das disciplinas. Quem leciona sabe muito bem que, para ensinar, dominar o conteúdo é fundamental, mas reconhece também que este é apenas um dos aspectos desse processo. A partir das inferências de Baldez, Diesel e Martins (2017), percebemos, a partir do organograma anteriormente apresentado, que o eixo condutor das 8 Metodologias Ativas é a possibilidade de ativar o aprendizado dos estudantes, colocando-os no centro do processo, em contraponto à posição de expectador, conforme descrito anteriormente. Para Abreu (2009), ao contrário do método tradicional, que primeiro apresenta a teoria e dela parte, o método ativo busca a prática e dela parte para a teoria. Nesse percurso, há uma “migração do ‘ensinar’ para o ‘aprender’, o desvio do foco do docente para o aluno, que assume a corresponsabilidade pelo seu aprendizado” (Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014, p. 285). Nesse sentido, Souza, Iglesias e Pazin-Filho (2014, p. 286) afirmam que É a partir de uma maior interação do estudante no processo de construção do próprio conhecimento, que se constrói a principal característica de uma abordagem por metodologias ativas de ensino. O aprendiz passa a ter mais controle e participação efetiva na sala de aula, já que exige dele açõese construções mentais variadas, tais como: leitura, pesquisa, comparação, observação, imaginação, obtenção e organização dos dados, elaboração e confirmação de hipóteses, classificação, interpretação, crítica, busca de suposições, construção de sínteses e aplicação de fatos e princípios a novas situações, planejamento de projetos e pesquisas, análise e tomadas de decisões. TEMA 3 – APROXIMAÇÃO ENTRE METODOLOGIAS ATIVAS E CORRENTES TEÓRICAS Para o desenvolvimento desse item, realizamos um recorte bibliográfico das principais abordagens teóricas voltadas para os processos de ensino e de aprendizagem, pautados nas principais teorias de aprendizagem, conforme estudo desenvolvido por Moreira (2011a), com justificativa de proporcionar o arcabouço teórico no qual se procura argumento para estudar a extensão dessa abordagem. Assim, desenvolveremos análises sobre a aprendizagem pela interação social; na aprendizagem pela experiência; a aprendizagem significativa e também a perspectiva freiriana da autonomia. 3.1 Contribuições do interacionismo Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 268), lembram que o interacionismo surgiu em oposição ao inatismo, que considerava que o indivíduo nasce de um jeito e nunca mudará, e ao behaviorismo, segundo o qual as pessoas aprendem por meio de mecanismos de estímulos, respostas, reforço positivo e reforço negativo. Para os autores, 9 O interacionismo, não concebe o estudante como um ser passivo e ao educador compete a tarefa de propiciar aos estudantes o ambiente e os meios necessários para que eles construam seus conhecimentos, facilitando sua aprendizagem. Para tanto, segundo oliveira (2010), precisa ter ciência uma série de atos complexos, como oferecer um ambiente afetivo na sala de aula que seja favorável ao aprendizado, e dar espaço para que a voz do estudante seja ouvida. (p. 269) Nesse sentido, os autores destacam nessa corrente teórica Vygotsky, que concebeu uma perspectiva mais social ao interativismo. Interessa, aqui, analisar um pouco mais a fundo esta última perspectiva, que não leva em conta o indivíduo isoladamente, nem o contexto isoladamente, mas na interação desses elementos. Moreira (2011b), mencionando os fundamentos de Vygotsky, afirma que “os processos mentais superiores do indivíduo têm origem em processos sociais”. Para corroborar com a análise, Baldez, Diesel e Martins (2017) também retratam que a interação social é fundamental para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo por provocar constantemente novas aprendizagens a partir da solução de problemas sob a orientação ou colaboração de crianças ou adultos mais experientes. 3.2 Contribuições da aprendizagem por experiências Baldez, Diesel e Martins (2017) afirmam que a pedagogia por experiências desenvolvidas por John Dewey também é referência às metodologias ativas de ensino. O que aproxima essas abordagens é o fato de que para ambas não há separação entre vida e educação, o que representa que, de acordo com Dewey (1978), os estudantes não estão sendo preparados para a vida quando estão na escola, e que estão de fato “vivendo” quando não estão em ambiente escolar. Baldez, Diesel e Martins (2017) afirmam que Dewey (1978) define cinco condições para uma aprendizagem que integra diretamente a vida. A título de ilustração e aproximação com o método ativo, elas se definem como: só se aprende o que se pratica; mas não basta praticar, é preciso haver reconstrução consciente da experiência; aprende-se por associação; não se aprende nunca uma coisa só; toda aprendizagem deve ser integrada à vida. 3.3 Contribuições da aprendizagem significativa Baldez, Diesel e Martins (2017) entendem que ao discorrer sobre a dicotomia da aprendizagem significativa e mecânica de Ausubel, Moreira (2011a) menciona que, na primeira, a nova informação é relacionada de maneira 10 substantiva e não arbitrária a um aspecto relevante da estrutura cognitiva, ao passo que, na aprendizagem mecânica, a nova informação não interage com aquela já existente na estrutura cognitiva. Nesse sentido, para Baldez, Diesel e Martins (2017), um estudante que, para realizar uma prova avaliativa, decora fórmulas, macetes, leis e, ao término da avaliação, esquece tudo, está submetido à aprendizagem mecânica. 3.4 Contribuições da perspectiva freiriana da autonomia Baldez, Diesel e Martins (2017) afirmam que Paulo Freire foi um dos pioneiros a problematizar os desafios concretos que impulsionaram a articulação de movimentos populares em direção à transformação das realidades sociais. Para o educador, um dos grandes problemas da educação paira no fato de os estudantes serem estimulados a pensarem autonomamente. Baldez, Diesel e Martins (2017) entendem que a abordagem de Freire acontece dentro de um enfoque construtivista, sendo do professor o papel de assegurar um ambiente dentro do qual os alunos possam reconhecer e refletir sobre suas próprias ideias; aceitar que outras pessoas expressem pontos de vista diferentes dos seus, mas igualmente válidos, e possam avaliar a utilidade dessas ideias em comparação com as teorias apresentadas pelo professor. (Jófili, 2002, p. 196). TEMA 4 – PILARES DAS METODOLOGIAS ATIVAS Com a intenção de exemplificarmos o que entendemos por uma abordagem moderada em metodologias ativas de ensino, apresentamos a figura a seguir (Figura 1), elaborada por Baldez, Diesel e Martins (2017), que sintetiza os principais princípios que constituem as metodologias ativas de ensino. 11 Figura 1 – Princípios que constituem as metodologias ativas de ensino Fonte: Baldez; Diesel; Martins, 2017. 4.1 O estudante como centro do processo de aprendizagem Conforme análise de Baldez, Diesel e Martins (2017), pela imagem anterior, observamos a perspectiva das metodologias ativas como uma possibilidade de ativar o aprendizado dos estudantes, colocando-os no centro do processo. Abreu (2009) analisa que, ao contrário do método tradicional, que primeiro apresenta a teoria e dela parte, o método ativo busca a prática e dela parte para a teoria. Nesse percurso, há uma “migração do ‘ensinar’ para o ‘aprender’, o desvio do foco do docente para o aluno, que assume a corresponsabilidade pelo seu aprendizado” (Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014, p. 285). Baldez, Diesel e Martins (2017) salientam que a partir de uma maior interação do estudante no processo de construção do próprio conhecimento, este passa a ter mais controle e participação efetiva na sala de aula, já que exige dele ações e construções mentais variadas, como: leitura, pesquisa, comparação, observação, imaginação, obtenção e organização dos dados, elaboração e confirmação de hipóteses, classificação, interpretação, crítica, busca de suposições, construção de sínteses e aplicação de fatos e princípios a novas situações, planejamento de projetos e pesquisas, análise e tomadas de decisões (Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014). Evidencia-se, dessa forma, que esse começo está relacionado a uma atitude ativa do estudante, na qual irá praticar sua autonomia, como será explicitado a seguir. 12 4.2 Autonomia Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 268) atentam para o fato de que Em um ensino tradicional, baseado na transmissão de conteúdos, o estudante tem uma postura passiva diante dos processos de ensino e de aprendizagem, tendo a função de receber e absorver uma quantidade enorme de informações apresentadas pelo docente. Muitas vezes, não há espaço para o estudante manifestar-se e posicionar-se de forma crítica. Em oposição a isso, esses autores observam que ao desenvolver práticas pedagógicas norteadas pelo método ativo, o estudante passa a assumir uma postura ativa, exercitando uma atitude crítica e construtiva que fará dele um profissional melhor preparado. Segundo Reeve (2009 citado por Berbel, 2011, p. 28), o professor contribuipara promover a autonomia do aluno em sala de aula, quando: A) nutre os recursos motivacionais internos (interesses pessoais); b) oferece explicações racionais para o estudo de determinado conteúdo ou para a realização de determinada atividade; c) usa de linguagem informacional, não controladora; d) é paciente com o ritmo de aprendizagem dos alunos; e) reconhece e aceita as expressões de sentimentos negativos dos alunos. 4.3 Problematização da realidade e reflexão. Hengemühle (2014) afirma que, no contexto da sala de aula, problematizar implica em fazer uma análise sobre a realidade como forma de tomar consciência dela. Em outra instância, segundo esse autor, há necessidade de o docente instigar o desejo de aprender do estudante, problematizando os conteúdos. Reportando-se a essa questão, conforme Hengemühle (2014), é fundamental que o docente conheça as situações e os problemas aos quais o conteúdo está ligado. Daí porque se defende a ideia de que a educação desenvolvida na escola precisa ser útil para a vida, de modo que os estudantes possam articular o conhecimento construído com possibilidades reais de aplicação prática, ou seja, aprender com sentido, com significado contextualizado. TEMA 5 – SALA DE AULA INVERTIDA Em síntese, segundo Lage, Platt e Treglia (2000), sala de aula invertida, como um dos elementos da metodologia ativa, significa transferir eventos que tradicionalmente eram feitos em aula para fora da sala de aula. Trata-se de uma 13 abordagem pela qual o estudante assume a responsabilidade pelo estudo teórico e a aula presencial serve como aplicação prática dos conceitos estudados (Jaime; Koller; Graeml, 2015). Segundo conteúdo da Flipped Learning (FLN, 2014), aprendizagem invertida é entendida como uma abordagem pedagógica na qual a aula expositiva passa da dimensão da aprendizagem grupal para a dimensão da aprendizagem individual, transformando-se o espaço em sala de aula restante em um ambiente de aprendizagem dinâmico e interativo, no qual o facilitador guia os estudantes na aplicação dos conceitos. Figura 2 – Pilares da aprendizagem invertida Fonte: Adaptado de FLN, 2014. Conforme a figura que vimos há pouco, ressaltamos que há uma diferenciação entre os termos Sala de Aula Invertida e a Aprendizagem Invertida, uma vez que, conforme Schmitz (2016), inverter a aula pode, mas não necessariamente, levar a uma prática de aprendizagem invertida. É provável que muitos professores já tenham invertido suas classes ao pedir aos estudantes que lessem um texto ou assistissem a um vídeo com materiais adicionais ou que, ainda, resolvessem problemas prévios antes da aula. No entanto, para se engajar na aprendizagem invertida, os professores devem incorporar quatro pilares 14 fundamentais em sua prática, que são sintetizados na sigla ͞F-L-I-P, conforme imagem anterior (FLN, 2014). Bergmann e Sams (2012; 2016) demonstram que a sala de aula invertida prevê o acesso ao conteúdo antes da aula pelos alunos e o uso dos primeiros minutos em sala para esclarecimento de dúvidas, de modo a sanar equívocos antes dos conceitos serem aplicados nas atividades práticas mais extensas no tempo de classe. Para esses autores, em classe, as atividades se concentram nas formas mais elevadas do trabalho cognitivo: aplicar, analisar, avaliar, criar, contando com o apoio de seus pares e professores. Lage, Platt e Treglia (2000, p. 40), ressaltam que Transferir palestras (exposição do conteúdo) ou informação básica para fora da sala de aula possibilita ao estudante uma preparação prévia para atividades de aprendizagem ativa durante a aula, que ajudam os estudantes a desenvolver sua comunicação e habilidades de pensamento de ordem superior. Moran (2015) considera a sala de aula invertida um dos modelos mais interessantes da atualidade para mesclar tecnologia com metodologia de ensino, pois concentra no virtual o que é informação básica e, na sala de aula, atividades criativas e supervisionadas, uma combinação de aprendizagem por desafios, projetos, problemas reais e jogos. Segundo a FLN (2014), a aprendizagem invertida é uma abordagem que permite aos professores programar uma ou várias metodologias na sala de aula. Bergmann e Sams (2016, p. 45) afirmam que a abordagem “é compatível com a aprendizagem baseada em projetos, aprendizagens por descoberta, induzida pelo interesse do estudante”. Segundo Bergmann e Sams (2016, p. 22), “Como não existe um modelo único de inversão, em aula o professor pode guiar atividades práticas diferentes ou possibilitar que alunos trabalhem em tarefas diferentes simultaneamente; que trabalhem em grupos ou individualmente ou ainda que sejam avaliados, quando se sentem preparados”. Nas próximas aulas, aprofundaremo-nos acerca das possibilidades metodológicas propiciadas pelas salas de aula invertidas. 15 FINALIZANDO Prezado(a) cursista, nesta nossa primeira aula sobre Metodologias Ativas, compreendemos, a partir dos estudos de Berbel (2011) e de Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 270) Que toda e qualquer ação proposta com a intenção de ensinar deve ser pensada na perspectiva daqueles que dela participarão que via de regra, deverão apreciá-la. Desse modo, conforme esse autor, o planejamento e a organização de situações de aprendizagem deverão ser focados nas atividades dos estudantes, posto que seja a aprendizagem destes, o objetivo principal da ação educativa. À vista disso, Moran (2015) observa que existe indigência de os educadores procurarem novos horizontes metodológicos que focalizem no protagonismo dos estudantes, beneficiem a motivação e requeiram a autonomia destes. Assim, conforme Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 269), “atitudes como oportunizar a escuta aos estudantes, valorizar suas opiniões, exercitar a empatia, responder aos questionamentos, encorajá-los, dentre outras, são favorecedoras da motivação e da criação de um ambiente favorável à aprendizagem”. Nessa perspectiva, retomamos às questões que orientaram essa primeira aula: o que são metodologias ativas? Como elas se desenvolveram? Quais são os elementos que as constituem? Como é uma aula que utiliza esse tipo de sistema? Assim, para responder essas indagações, entendemos que as Metodologias Ativas surgem em contraposição ao método tradicional, e conforme Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 268), Em que os estudantes possuem postura passiva de recepção de teorias, o método ativo propõe o movimento inverso, ou seja, passam a ser compreendidos como sujeitos históricos e, portanto, a assumir um papel ativo na aprendizagem, posto que tenham suas experiências, saberes e opiniões valorizadas como ponto de partida para construção do conhecimento. Com base nesse entendimento, o método ativo é um processo que visa estimular a autoaprendizagem e a curiosidade do estudante para pesquisar. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica MORAN, J. M. Nova personalidade [25 out. 2014]. Brasília: Correio Braziliense. Brasília. Entrevista concedida para Olivia Meireles. Disponível em: 20 ago. 2018. 16 Nessa entrevista são abordados os principais elementos que influenciaram a construção das metodologias ativas. Texto de abordagem prática RAMAL, A. Sala de aula invertida: a educação do futuro. Rio de Janeiro: G1, 28 abr. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea- ramal/post/sala-de-aula-invertida-educacao-do-futuro.html>. Acesso em: 20 ago. 2018. O foco do texto é abordar como ocorre a interação entre aprendizagem e docência a partir das salas de aula invertidas. Saiba mais OCDE. Understanding the brain: Towards a new learning science. Paris: OCDE, 2002. Na obra, são elencadas as principais referências que direcionam o debate sobre as metodologias invertidas. 17 REFERÊNCIAS ABREU, J. R. P. de. Contexto atual do ensino médico:metodologias tradicionais e ativas – necessidades pedagógicas dos professores e da estrutura das escolas. 2011. 172 f. Dissertação (Mestrado em Educação e Saúde) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. ALENCAR, G.; BORGES, T. S. 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Com esse propósito, é fundamental a adoção de metodologias, que precisam acompanhar os objetivos pretendidos, objetivando o envolvimento de estudantes, para que sejam proativos. Para tanto, as metodologias ativas são essenciais, pois a partir delas é possível conceber a sala de aula como um espaço vivo. O tema de nossa segunda aula é: “Um novo olhar sobre o educador e a educação pela perspectiva das metodologias ativas”. Vamos propor um breve estudo sobre o panorama contemporâneo da educação, estudando algumas perspectivas atuais da área, com o propósito de entender a sociedade da informação nesse contexto. No Tema 1, iremos conceituar educação, ensino, doutrinação e ensino híbrido. Vamos entender diferenças pertinentes para, na sequência, tratar da escola como local da diversidade, oportunidade em que conceituaremos o que é diversidade. A escola é aqui entendida como lócus da diversidade e da diferença; assim, conceituaremos também a ideia de política inclusiva. Para uma melhor compreensão da proposta de nossa segunda aula, é importante recuperar algumas discussões da primeira, principalmente no que se refere às metodologias ativas e aos quesitos descritos em um organograma. Nesse sentido, para orientar nosso debate, organizamos as seguintes questões: Como desenvolver um ensino tendo a escola como lócus da diversidade no cenário da cultura digital? Como organizar metodologias ativas no cenário discrepante da educação nacional? E. por fim, como poderemos utilizar os recursos tecnológicos na perspectiva da educação transformadora e profissional? Então, vamos lá! CONTEXTUALIZANDO Nas duas últimas décadas do século passado, aconteceram mudanças no campo social, político e econômico, e também na cultura, ciência, tecnologia e educação. Podemos arriscar, com base em Gadotti (2000), que não temos clareza do que poderá significar a globalização capitalista nesses campos. De antemão, 3 as transformações, principalmente as tecnológicas, tornaram possível o surgimento da Era da Informação. Muitos educadores estão perplexos diante das rápidas mudanças na sociedade, e se perguntam sobre o futuro da educação. Ouvimos falar muito em cenários possíveis para a educação; a partir desse estudo, surgem diversas propostas didáticas pedagógicas e teóricas, objetivando melhorias na qualidade da educação, e também estendê-la a um número cada vez maior de sujeitos. No cenário da educação atual, podemos destacar alguns marcos que persistem, e poderão persistir ainda por mais tempo na educação. As novas tecnologias ainda não se fizeram sentir plenamente no ensino, ao menos na maioria dos países, mas a aprendizagem a distância, nas palavras de Gadotti (2000, p. 3), sobretudo a baseada na Internet, parece ser a grande novidade educacional neste início de novo milênio. A educação opera com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da informática, particularmente a linguagem da Internet. A cultura do papel representa talvez o maior obstáculo ao uso intensivo da Internet, em particular da educação a distância com base na Internet. Por isso, os jovens que ainda não internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital. Os defensores da informatização da educação sustentam que é preciso mudar os métodos de ensino para ampliar, no cérebro humano, a capacidade de pensar; nesse processo, a função da escola será a de ensinar apensar criticamente. Para tanto, é preciso e necessário dominar um maior número de metodologias e linguagens, inclusive e principalmente a linguagem eletrônica (Gadotti, 2000). TEMA 1 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO Costuma-se definir nossa era como a Era do Conhecimento. Pela Internet, a partir de qualquer sala de aula do planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas partes do mundo. Nas palavras de Gadotti (2000, p. 5): As novas tecnologias permitem acessar conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade para se tornar uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como ocorreram no passado a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. 4 Há diversas facilidades propiciadas e oferecidas ao professor pelas novas tecnologias. O professor pode vir a perguntar o que tem a ver com tudo isso se sua escola não tem sequer biblioteca, funciona em condições precárias e ele próprio não tem condições de comprar um computador. Diante dessa realidade, ele mesmo pode responder que será preciso trabalhar em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro, ou seja, fazer tudo hoje objetivando superar as condições do atraso, criando, ao mesmo tempo, condições para aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias (Dowbor, 1998). Sem dúvidas, as novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Segundo Gadotti (2000, p. 8-9), o conhecimento é o grande capital da humanidade, sendo basal para a sobrevivência de todos; por isso, deve ser disponibilizado a todos. Destaca o educador: Esta é a função de instituições que se dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos. Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática, menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas públicas no setor, acabaram surgindo "indústrias do conhecimento", prejudicando uma possível visão humanista, tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico. Para Snyders (1988), cabe à escola selecionar e rever de forma crítica a informação; além de ser criativa, amar o conhecimento, ser provocadora de mensagens, (re)produzir e (re)construir conhecimento, ser espaço de realização humana e promover a emancipação da educação. A escola deve fazer tudo isso em favor dos excluídos. Portanto, a escola deve deixar de ser lecionadora, e passar a ser gestora do conhecimento. Para tanto, precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar parâmetros curriculares e ser cidadã. Afinal, as mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Nesse contexto, o professor é um mediador do conhecimento, diante do aluno, centro do ensino e da aprendizagem, sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz; para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido em suas práticas e apontar novos rumos para a prática com seus alunos (Bussmann, 1995). Portanto, ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores, assim como não se pode pensar num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e 5 em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros, eles são os verdadeiros "amantes da sabedoria", os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber (não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis (Gadotti, 2000, p. 9). TEMA 2 – A INTENCIONALIDADE DO ENSINO Ao longo deste tema, vamos conceituar educação, ensino, doutrinação, ensino híbrido e personalização do ensino. 2.1 Educação e ensino Vamos conceituar educação, ensino e doutrinação. Esse momento é importante, para que tenhamos uma clareza maior sobre as discussões que iniciamos na aula anterior, e que continuaremos nesta aula e nas posteriores. O professor Libâneo (1985, p. 97) entende o ato de educar da seguinte maneira: conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível de educação. O ato pedagógico pode, então, ser definido como um atividade sistemática de interação entre seres sociais, tanto no nível do intrapessoal como no nível da influência do meio, interação essa que se configura numa ação exercida sobre sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças eficazes que o tornem elementos ativos desta própria ação exercida. Presume-se, aí, a interligação no ato pedagógico de três componentes: um agente (alguém, um grupo, um meio social etc.), uma mensagem transmitida (conteúdos, métodos, automatismos, habilidades etc.) e um educando (aluno, grupo de alunos, uma geração etc.). No entendimento do autor, a educação não pode ser compreendida fora de um contexto político, econômico, social, cultural e histórico concreto. Nesse contexto, a prática social é o ponto de partida e o ponto de chegada da ação pedagógica. No início, a experiência social do educando é fragmentada, portanto confusa, e deve ser levada a um estágio de organização. Assim, o professor criador da Pedagogia Histórico-Critica, Dermeval Saviani (1986, p. 120), define e entende a educação como um processo que se caracteriza por uma atividade mediadora no seio da prática social global. Tem-se, pois, como premissa básica que a educação está sempre referida a uma sociedade concreta, historicamente situada. [...] Como atividade mediador, a educação se situa em face das demais manifestações sociais em termos de ação recíproca. A fim de determinar o tipo de ação exercida pela educação sobre diferentes setores da sociedade, bem como o tipo de ação que sofre das demais forças sociais é preciso, para cada sociedade examinar 6 as manifestações fundamentais e derivadas, as contradições principais e secundárias. Segundo Aranha (1996) e Brandão (1995), educação é um conceito genérico, amplo, que supõe o processo de desenvolvimento integral do homem, de suas capacidades física, intelectual e moral, visando não só a formação de habilidades, mas também de caráter e personalidade social. Ainda assim, não existe uma forma única e muito menos um único modelo de educação. Importante destacar que a escola não é o único lugar onde ela acontece, e o professor profissional não é o seu único praticante. Porém, a escola e o professor não deixam ser importantíssimos para os processos educacionais, principalmente para a educação escolarizada. Nesse sentido, como texto básico, importante ler o livro de Brandão (1995). Feitas essas considerações sobre a educação, o ensino consiste na transmissão de conhecimentos, com vistas a instruir, podendo ser praticado de diferentes formas e em diferentes locais. De acordo com Gomes (1985) e Oliveira (2000), as principais formas são o ensino formal, informal e não formal. O ensino formal é aquele praticado pelas instituições de ensino, com respaldo de conteúdo, currículo, certificação, profissionais de ensino etc. O ensino informal está relacionado ao processo de socialização do homem e da mulher, ocorrendo durante toda a vida, muitas vezes até mesmo de forma não intencional. O ensino não formal é intencional, sendo geralmente relacionado a processos de desenvolvimento de consciência política e relações sociais de poder entre os cidadãos, praticadas por e em movimentospopulares, associações, sindicatos, grêmios, entre outras instituições. Os limites entre essas três modalidades de educação não são extremamente rígidos; são permeáveis, uma vez que estamos aprendendo constantemente e por diferentes vias e agentes. Aranha (1996, p. 51) destaca, quanto às noções educação e ensino, que não há como separar nitidamente esses dois polos que se completam. Como se poderia educar alguém sem informá-lo sobre o mundo em que vive? É a partir da consciência de sua própria experiência e da experiência da humanidade que o homem tem condições de se formar com um ser moral e político. Da mesma maneira, toda informação, mesmo que fornecida sem aparente intenção de formação, ao ser assimilada pelo educando, interfere na sua concepção de mundo. Com frequência, a informação pretensamente neutra está, na verdade, carregada de valores. 7 TEMA 3 – DOUTRINAÇÃO A doutrinação se trata de uma pseudo-educação, quando comparamos seus objetivos e finalidades com os conceitos de educação e ensino. A doutrinação não respeita a liberdade do educando, impondo-lhe conhecimentos e valores. Nesse processo, todos são submetidos a uma só maneira de pensar e agir, destruindo-se o pensamento divergente e mantendo-se a tutela, a hierarquia e a ditadura do pensamento único; ou seja, é como se houvesse apenas uma só verdade, uma só análise, uma só interpretação dos fatos sociais, políticos, econômicos, sociais e culturais. Rodrigues e Padrós (2000, p. 123) nos oferecem uma boa reflexão acerca do pensamento único, o qual tem como objetivo a doutrinação: O Pensamento Único, expressão ideológica do capitalismo na sua modalidade neoliberal predominante, pretende impor uma visão de mundo que se pauta pelos seguintes aspectos: ignora o contraditório; oculta a dinâmica social de altíssima exclusão (em nível planetário); tenta impor-se, hegemonicamente, por meio das corporações midiáticas, por sua vez co-protagonistas do processo de mundialização do capital [...], se orienta na desconstrução de identidades políticas, econômicas, culturais e nacionais, assim como no desconhecimento ou desqualificação de qualquer contraponto alternativo a ele e ao sistema que representa. Nesse quadro de anestesiamento geral das consciências e de atitude passiva diante da interpretação monolítica, a História Imediata se apresenta como tentativa de dar explicabilidade ao cenário caótico e desconexo exibido pela grande mídia na sua pretensão de vender a sua verdade e de impô-la como única e histórica. 3.1 Ensino híbrido Como podemos conceituar ensino híbrido? Sustentando-se em Moran (2015), em linhas gerais o ensino híbrido é uma modalidade de educação — online e off-line. Essa forma de ensino é o elo entre os dois modelos de aprendizagem: o presencial e o online. Portanto, apenas parte do processo de ensino ocorre em sala de aula, quando os alunos interagem entre si, trocando experiências — o presencial. O online, por sua vez, utiliza meios digitais para que o aluno tenha mais autonomia quanto à forma de aprendizagem. As duas modalidades se completam, uma vez que proporcionam diferentes experiências de aprendizado. Importante destacar que, quando o ensino é híbrido, é necessário que tanto no aprendizado presencial quanto no digital o objetivo seja o mesmo. Cada um deles é uma parte do processo de aprendizagem, e assim são complementares um ao outro; portanto, nem esse modelo nem aquele é prioridade. 8 No Brasil, o ensino híbrido é muito utilizado no ensino superior, com disciplinas lecionadas por meio do EaD (Ensino a Distância). A educação inclusiva, que leva em consideração a diversidade humana e as necessidades e o ritmo de cada um, reestruturou o modelo tradicional, promovendo acessibilidade e praticidade para todos. Nesse cenário, o EAD híbrido é uma valiosa ferramenta. 3.2. Personalização do ensino Segundo Bacich, Tanzi Neto e Trevisani (2015), a personalização do ensino é uma proposta pedagógica que trabalha o conteúdo considerando a necessidade e o interesse do aluno, propondo estratégias que possam contribuir para o desenvolvimento de sua aprendizagem, respeitando o tempo e o ritmo de cada um. Visa também auxiliar nas dificuldades e potencializar habilidades e competências, procurando sempre que o aluno se sinta seguro para se desenvolver no decorrer do processo de ensino. A potencialização das competências e habilidades se efetiva com maior aprofundamento nos conteúdos que são de interesse do aluno; ou seja, se o interesse é Geografia, é essencial que as atividades inovadoras trabalhem essa disciplina. Para tanto, é necessário buscar estratégias e recursos pedagógicos adequados. Assim, o ensino personalizado lança um olhar para as aptidões dos alunos, adaptando o conteúdo de maneira a corresponder às necessidades detectadas, visando que o aluno seja protagonista de seu percurso e aprendizado, que seja capaz de vislumbrar qual caminho deseja seguir. O objetivo dessa abordagem é a transformação da jornada de estudos, a fim de proporcionar autonomia e comprometimento. Dessa forma, espera-se, como principal benefício pedagógico, que o aluno se engaje nos processos educacionais, com maior interesse pela disciplina, uma vez que a proposta do ensino personalizado abre espaço para o uso da tecnologia, o que torna o conteúdo mais estimulante. Isso é possível devido ao fato de a personalização do ensino respeitar o tempo e as características do aluno, promovendo familiarização com a disciplina e com a própria escola, o que faz com que as dificuldades iniciais sejam gradativamente substituídas por uma atenção às preferências individuais, adequando o ensino à realidade. 9 Importante ainda ressaltar que o professor pode identificar o desempenho do aluno em relação aos conteúdos e facilitar a aprendizagem de acordo com as ferramentas escolhidas para e no processo de ensino e aprendizagem. A título de exemplo: se o aluno demonstrar dificuldade em alguma disciplina, como Física, recomenda-se sugerir atividades com o uso de tecnologia, que tratem do conteúdo. Essas atividades podem ser lúdicas, visando despertar a atenção do aluno para o conteúdo. Por fim, os professores devem se preparar para mudanças no âmbito didático-pedagógico. Uma dessas mudanças é exatamente a proposta de personalização do ensino em realidade na escola onde atua e na vida de seus alunos (Lima; Moura, 2015). Para tanto, várias mudanças são necessárias, e por essa razão é importante refletir sobre as medidas que devem ser tomadas, como por exemplo: utilização de ferramentas que fornecem dados de desempenho; adaptação da proposta pedagógica para um novo modelo de ensino; avaliações menores e diferenciadas das tradicionais, visando maior valorização das competências e habilidades; buscar, sempre que necessário, consultoria e capacitação especializada em tecnologias educacionais; modificação na organização do ambiente escolar (Santos, 2015). TEMA 4 – ESCOLA, LOCAL DA DIVERSIDADE Neste tema vamos estudar o conceito de diversidade, a escola como lócus da diversidade e das diferenças, e o conceito de política inclusiva. 4.1 Conceito de diversidade Substantivo feminino, diversidade significa variedade, pluralidade, diferença. Caracteriza tudo que é diverso, que tem multiplicidade; é a reunião de tudo aquilo que apresenta múltiplos aspectos, que se diferenciam entre si, por exemplo: diversidade cultural, diversidade biológica, diversidade étnica, linguística, religiosa etc. Para deixarmos isso mais claro, esmiuçemos dois desses exemplos, os aspectos étnicos e culturais: Diversidade étnica – podemos conceituar diversidade étnica como sendo a união de vários povos numa mesma sociedade. Etnia é um grupo de indivíduos que têm afinidades de origem, história, idioma religião e cultura, independentemente do país em que se encontram. OBrasil é um país com grande diversidade étnica; sua população é composta da miscigenação de 10 vários povos, que juntos formaram uma nova identidade cultural (Brandão, 1986). Diversidade cultural – a diversidade cultural refere-se aos múltiplos elementos que representam particularmente as diferentes culturas, como linguagem, tradições, religião, costumes, organização familiar e política, que reúnem as características próprias de um grupo humano em um determinado território (Santos, 1994). 4.2 Escola: lócus de diversidade e diferenças A diversidade na escola precisa ser discutida por todos os profissionais da educação, para criar ações que visem de fato trabalhar com a temática, de maneira planejada e coerente com a finalidade do ambiente escolar. São inúmeros os aspectos que envolvem a diversidade na escola. Priorizamos dois pontos: a necessidade de um clima de cooperação e respeito e a questão da discriminação, tanto no que se refere às atitudes dos alunos como nos textos e atividades dos livros didáticos, que muitas vezes transmitem ideais a partir da naturalização das desigualdades sociais. A escola é, por excelência, um espaço de formação da consciência humana. O direito à aprendizagem é garantido por lei a todos, independentemente de cor, religião e características físicas. Isso posto, podemos pensar em como criar um clima de cooperação num ambiente marcado pela diferença. As diferenças podem ser riquezas no processo educacional, desde que a escola organize um trabalho coletivo, cujas decisões sejam pensadas para melhoria do processo pedagógico. Considerar as diferenças como algo que possibilita a troca de experiências e o exercício do respeito é condição essencial. O professor Libâneo (2004, p. 63) argumenta que uma educação intercultural requer que as decisões da equipe escolar sobre objetivos escolares e organização curricular reflitam os interesses e necessidades formativas dos diversos grupos sociais existentes na escola (a cultura popular, o urbano e o rural, a cultura dos jovens, a cultura dos homens e mulheres, de brancos e negros, das minorias étnicas, dos alunos com necessidades especiais). Portanto, a proposta pedagógica deve definir as concepções essenciais para a efetivação do trabalho pedagógico. Esse documento deve ser elaborado e estudado por todos os profissionais da escola, e também pelos pais e pela comunidade local (Sá, 2001). Concepções e uma visão de sociedade, homem, 11 mulher, educação, ensino, aprendizagem, planejamento e avaliação estão contidos neste aporte. Relacionando com o tema da “diversidade”, podemos citar alguns preceitos desse documento, como por exemplo: Como a aprendizagem é concebida? A interação é ponto fundamental para a aprendizagem? O ritmo de aprendizagem de cada aluno é considerado? Como são trabalhadas as dificuldades de aprendizagem dos alunos, separando-os do grupo ou por meio da interação? A diversidade, nessa análise, é entendida como algo que faz parte do cotidiano escolar, e não algo que deve ser trabalhado separadamente por meio de projetos isolados de curta duração, que muitas vezes não se solidificam na prática pedagógica. Vale dizer que os negros, em muitos manuais didáticos, são evidenciados sempre numa posição de inferioridade, fruto de uma ideologia presente em muitos textos e imagens de livros didáticos. O mesmo se poderia dizer dos índios, que são “verdadeiros donos das terras”, mas que hoje muitas vezes vivem à margem da sociedade. O estudo dos diferentes grupos sociais deve ser pautado na pesquisa e no conhecimento científico, preocupado com a formação de um homem que saiba viver em sociedade, mas que não simplesmente se adapte à ela; ele deve ser capaz de interferir em seu contexto com vistas à transformação social (Rocha, 1988). Ao pensarmos o preconceito e a discriminação na escola, consideramos todos aqueles que de alguma forma escapam do perfil ideal de aluno, que muitas vezes é almejado pelos profissionais da educação. Nesse contexto, das diferenças lembramo-nos das crianças com necessidades especiais, ou daquelas que não se encaixam em um padrão de beleza divulgado na mídia e defendido por muitas pessoas. Uma maneira de lidar com as diferenças é travar um diálogo constante com os alunos. É importante também elaborar coletivamente regras sobre o respeito às diferenças na escola. O clima de cooperação também deve existir entre os professores, pois os alunos percebem os conflitos entre os profissionais que fazem parte desse ambiente. A troca e o trabalho coletivo entre os professores também contribuem para um clima agradável, marcado pela cooperação. 12 Outro aspecto a ser considerado é a participação dos pais no processo pedagógico e nas discussões relativas à diversidade. Assim como a escola passou por transformações ao longo da história, a família também! Essa constatação nos faz pensar sobre os diferentes tipos de família na atualidade; tais mudanças nos ambientes familiares refletem diretamente na escola e na sua relação entre as crianças (Prado, 2011). Importante destacar que essas diferenças devem ser consideradas na prática educativa, de modo a não criar situações de discriminação e preconceito com as crianças que não têm uma família nos moldes tradicionais, como está presente muitas vezes nas imagens de livros didáticos – pai, mãe e dois filhos. É importante que fique claro que o trabalho com a diversidade na escola é um processo de construção. Se tiver sido iniciado, é necessário mantê-lo sob constante avaliação; caso não tenha sido iniciado, é urgente começar, e para tanto deve-se obedecer rigorosamente à elaboração de uma proposta que oportunize a participação de todos os interessados, direta e indiretamente. Em seu trabalho, o professor deve ficar sempre atento às mudanças sociais, e deixar de lado um modelo ideal de aluno e de profissionais da educação. Assim, será possível lidar com as diferenças a partir de um diálogo constante. TEMA 5 – POLÍTICA INCLUSIVA Inclusão social é um termo empregado em diversos contextos. De modo geral, é utilizado como referência à inserção de pessoas com algum tipo de deficiência, seja física ou mental, e que precisam de necessidades especiais. É um processo importante nas escolas e no mercado de trabalho. Inclui também pessoas que simplesmente não têm as oportunidades de que precisam na sociedade, por suas condições socioeconômicas, de gênero e raça, ou pela falta de acesso a tecnologias. Não é fácil efetivar uma política inclusiva. A base de sustentação se dá, essencialmente, na formação dos profissionais da área da educação. Essa questão da inclusão de pessoas com deficiência ainda é bastante dura no Brasil. Movimentos nacionais e internacionais buscam constantemente um consenso, a fim de formatar uma política de inclusão de pessoas com deficiência na escola regular. 13 Portanto, podemos definir política de inclusão social como sendo o conjunto de meios e ações que visam combater a exclusão aos benefícios da vida em sociedade. É movida por diferenças de classe social, educação, idade, deficiência, gênero, preconceito social ou preconceitos raciais, oferecendo oportunidades iguais de acesso a bens e serviços, para todos. No que se refere especificamente à escola, significa educar todas as crianças em um mesmo contexto escolar. A opção por esse tipo de educação não significa negar as dificuldades dos estudantes; ao contrário, com a inclusão, as diferenças não são vistas como problemas, pois se transformam em diversidade. Para um maior aprofundamento sobre políticas públicas e inclusivas, recomendamos, entre outras leituras, Barreta e Canan (2012) e Paulon, Freitas e Pinho (2005). FINALIZANDO Nesta aula, apresentamos em linhas gerais um panorama sobre a educação contemporânea e suasperspectivas, conceituando-a e estabelecendo semelhanças e diferenças entre educação, ensino, doutrinação e ensino híbrido. Na sequência, estudamos a escola enquanto um local caracterizado pela diversidade, e o que se entende por políticas inclusivas. Assim, retomamos as questões que orientaram nosso debate: Como desenvolver um ensino tendo a escola como lócus da diversidade no cenário da cultura digital? Como organizar metodologias ativas no cenário discrepante da educação nacional? E por fim, como poderemos utilizar os recursos tecnológicos na perspectiva da educação transformadora e também profissional? Para maior aprofundamento das questões apontadas no decorrer da aula, sugerimos que você, de acordo com seus interesses e com as questões com as quais mais se identificou, estude as obras apontadas nas referências bibliográficas. Detenha-se, principalmente, nas leituras obrigatórias. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica BRANDÃO, C. R. O que é educação. 49. ed. São Paulo: Brasiliense, 2007. Coleção primeiros passos: 20. 14 Afinal, pra que é que se aprende? E por que se inventou a educação e, depois, a escola? Como é que isso aconteceu e o que é que se faz ali? Já que ninguém escapa da educação, seria bom ao menos compreendê-la. Nem sempre houve escola e nem sempre ela foi do jeito que a conhecemos. Em vários momentos da história, tipos diversos de sociedades criaram diferentes caminhos para percorrer a estranha aventura de lidar com o saber e os poderes que ele carrega consigo. Essas são algumas das questões de que a obra trata. Texto de abordagem prática BARRETA, E. M.; CANAN, S. R. Políticas públicas de educação inclusiva: avanços e recuos a partir dos documentos legais. In: ANPED SUL, 9., 2012. Anais... Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFil e/173/181>. Acesso em: 29 out. 2018. Este artigo tem o propósito de pontuar e apresentar quais as políticas públicas de educação inclusiva estão presentes em documentos legais, buscando reconhecer suas contribuições na perspectiva de uma educação inclusiva. O estudo possibilitou caracterizar a política pública com a política educacional inclusiva, bem como identificar sua presença em alguns documentos relevantes, tanto em nível nacional quanto internacional (como a Declaração de Salamanca de 1994). Por meio deles, percebemos quais os interesses, avanços e recuos, as políticas de governo e os direcionamentos estendidos à Educação Básica na perspectiva inclusiva. Os discursos relacionados às políticas de inclusão propõem contemplar alunos com necessidades educacionais especiais na escola; trata-se de oferecer uma educação de respeito às diferenças e valorização de habilidades. Para tanto, visualizamos tentativas de implementação de políticas propositivas de mudança social e educacional, visando a efetivação, na prática, dessas políticas tão almejadas pelas instituições escolares e sociais. 15 REFERÊNCIAS ARANHA, M. L. de A. Filosofia da Educação. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Moderna, 1996. BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M.. Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação. In: _____ (Orgs.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso Editora, 2015. BARRETA, E. M.; CANAN, S. R. Políticas públicas de educação inclusiva: avanços e recuos a partir dos documentos legais. In: ANPED SUL, 9., 2012. Anais... Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFil e/173/181>. Acesso em: 29 out. 2018. BRANDÃO, C. R. Identidade e etnia. São Paulo: Brasiliense, 1986. _____. O que é educação. 33. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. Coleção primeiros passos: 20. _____. O que é educação. 49. ed. São Paulo: Brasiliense, 2007. Coleção primeiros passos: 20. BUSSMANN, A. C. O projeto político pedagógico e a gestão da escola. In: VEIGA, I. P. A. (Orgs.). Projeto político pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas, SP: Papirus, 1995. p. 37-52. Coleção magistério: formação e trabalho pedagógico. DOWBOR, L. A reprodução social. 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Eis aí um engano, uma vez que, ao estudarmos e analisarmos os mais diversos temas que estamos vendo no decorrer das aulas, torna-se necessário pensarmos em como colocar ou compreender essas diversas temáticas na perspectiva das metodologias ativas. Nossa aula está organizada em temas, os quais serão vistos em linhas gerais. Quanto ao aprofundamento deles fica sob a responsabilidade de cada um, ou seja, é fundamental ficar alerta e observar quais são os mais necessários ou com qual deles você mais se identifica, para, com base nisso, buscar um estudo mais aprofundado nas referências adotadas e em outras que consequentemente deverão ser buscadas. Nesta aula, veremos o conceito de educando, uma breve evolução da comunicação e alguns de seus efeitos, e conheceremos mais sobre indústria cultural, conceito deideologia e algumas de suas características. Na sequência, vamos resgatar os significados de cultura erudita e cultura popular, depois o entendimento de cibercultura na perspectiva do filósofo Pierre Lévy e, por fim, a importância da mídia-educação. Então, com aquele entusiasmo e disposição em estudar, vamos lá! CONTEXTUALIZANDO Podemos conceituar educando como um membro da sociedade que possui caracteres de sociabilidade, historicidade e praticidade, é um sujeito que vai em busca de conhecimentos, em processo constante de aprendizagem e, para tanto, necessita da mediação do educador e de outras mais. Esse conceito deve permear nossas discussões no decorrer desta aula. TEMA 1 — BREVE EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO Comunicar é mediar, fazer a passagem do individual ao coletivo, promovendo a socialização e a formação da identidade por meio da qual o sujeito 3 possa vir a adquirir consciência de si e interiorizar comportamentos no processo de troca de mensagens. Com o desenvolvimento dos meios eletrônicos de comunicação, ou melhor, das Tecnologias de Informação e Comunicação — TIC, muitos pesquisadores e estudiosos têm se dedicado a entender, por meio de análise teórica e prática do fenômeno da comunicação, sua natureza, suas causas e as consequências de seu impacto na sociedade. Recuperando em linhas gerais a origem histórica da comunicação, podemos dizer que ela se faz presente desde tempos imemoriais, isto é, desde o aparecimento do ser humano na Terra. No entanto, num primeiro momento, ela corresponde à fase da civilização oral, anterior ao advento da escrita, quando a comunicação se dava pela fala, gestos e gravuras. É bom ter a noção de que a escrita surgiu em épocas diferentes nas variadas civilizações. Assim, seus primeiros registros entre os sumérios ocorreram em torno do ano 3000 a.C.; na China, em 1500 a.C.; e na Mesoamérica em 300 a.C. Esses distanciamentos de datas servem para nos mostrar que processo de desenvolvimento das sociedades humanas não aconteceu e não se dá de forma homogênea. O aparecimento da escrita não trouxe grandes rupturas, já que a comunicação continuou como antes, mas a escrita passa a tomar parte em grupos restritos de sujeitos. A grande explosão, vamos dizer assim, da escrita se dá no século XVI com a invenção da imprensa, que possibilita maior difusão e, por fim, um terceiro momento, na contemporaneidade, devido ao advento e ao desenvolvimento de vários meios de comunicação, como rádio, cinema, televisão, telefone, entre outros. A indústria cultural do século XX permitiu que as comunicações se alterassem, e os meios de comunicação de massa passaram a influenciar de forma marcante as sociedades contemporâneas. Eles encurtam distâncias, transformando a Terra numa aldeia global, mais conhecida pelo processo de globalização, o qual atingiu todos os campos: a política, a economia, o comércio, a arte, os gostos, a cultura, a industrialização e até o crime organizado. O volume de (des)informações veiculado pelos meios de comunicação de massa, aliado ao impacto por eles produzidos, decisivamente influencia, de forma positiva e negativa, tudo e todos, homogeneizando e descaracterizando culturas tradicionais em prol de novas culturas, nem sempre benéficas para as sociedades humanas. 4 1.1 Alguns efeitos de comunicação de massa Rádio, cinema, televisão, jornais e revistas de grande circulação são considerados mass media — conjunto dos meios de comunicação de massa. Existem várias questões relacionadas a esses meios que devem interessar a nós, como estudantes e possíveis pesquisadores, mais precisamente o tipo de influência que eles exercem na formação do sujeito contemporâneo e, por consequência, qual deve ser a posição do educador diante deles, e por extensão, também a dos educandos. São grandes e muitas as controvérsias sobre os meios de comunicação: questiona-se se eles massificam, alienam, formam a opinião pública, incentivam o consumismo, levam à passividade ou à agressividade, instigam a paz ou a violência, determinam gostos etc. Sem entrarmos em detalhes acerca dessas controvérsias, é necessário e importante que entendamos que esses meios reproduzem e reforçam as ideologias (mais adiante veremos e estudaremos o conceito de ideologia), as quais refletem os interesses e as normas de conduta da classe dominante. Um noticiário que se apresenta com objetividade, com informações aparentemente neutras, é resultado de seleção e interpretação, dando maior ênfase para essa ou aquela notícia ou fato e, muitas vezes, descuidando de dados e fatos extremamente necessários para a interpretação e a (in)formação. Tomemos como exemplo, aqui, um fato bem próximo a nossa realidade de educador e educando: a greve de professores. Em geral, quando professores decretam greve por tempo indeterminado, os meios de comunicação quase que na sua totalidade procuram dar ênfase ao fato de crianças, adolescentes e jovens ficarem sem aula e não à luta por salários mais justos, melhorias nas estruturas dos estabelecimentos de ensino, como: sala de aulas compatíveis, biblioteca, área de lazer, área esportiva, jardins, refeitório, materiais didáticos etc. Essa é uma forma de escamotear os reais motivos da greve e sutilmente tomar partido, tomando um lado que não é o dos professores nem dos alunos, mas geralmente de uma administração governamental que não engendra políticas educacionais necessárias ao atendimento que a população merece e precisa. Portanto, uma mesma notícia pode ser dada de diferentes maneiras, a depender dos interesses que estão em jogo. Nesse sentido, devemos ficar atentos para não pensarmos e acreditarmos que todas ou quase todas as influências 5 exercidas pelos meios de comunicação de massa afetam mecanicamente as pessoas restando a elas nenhuma possibilidade de reação. Em fins dos anos 1950, surgem estudos que procuram desfazer o mito do poder de manipulação dos mass media. O usual é que seus efeitos massificantes tenham chances de ocorrer com maior impacto em sociedades altamente repressivas e nas quais existem grandes monopólios dos meios de comunicação, como é o caso do Brasil, em que os meios de comunicação são submetidos a severo controle e direcionamento de interesses privados. Já em um sistema de livre discussão e pluralista, essas chances tendem a se tornar mais acessíveis. O desenvolvimento da tecnologia fomentou a multiplicação de fontes de difusão e a concorrência entre os mass media, o que poderia significar uma saudável diversificação. Nessas circunstâncias, a opinião e o desejo do público não seria propriamente dirigida, manipulada, e a mídia tenderia a confirmar, consolidar ou ampliar as opiniões já existentes, das quais não é causa direta. TEMA 2 — INDÚSTRIA CULTURAL Este tema foi elaborado à luz dos estudos de Chaui (2000) e Coelho (1993). O termo “indústria cultural” foi criado pelos pensadores alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), a fim de designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. Seguindo as regras impostas pelo mercado, a indústria cultural se afirmou a partir dos anos 1970, na fase conhecida como pós-industrial o pós-moderna, defendendo o consumo de produtos culturais fabricados em série. Segundo essa ideologia, a exemplo de tudo o que há no capitalismo, a obra de arte passa também a ser uma mercadoria. O principal efeito da indústria cultural sobre as artes foi a sua massificação. Os efeitos foram imediatos, ou seja, produzida em larga escala, a arte transformou-se em símbolo de status, prestígio político e propaganda e publicidade, pelo fato de ser destinada ao consumo rápido nos meios de comunicação de massa e no mercado da moda. Isso faz com que, na atualidade, a obra de arte tenha se tornado repetitiva, transformada em eventos para consumo e valorizada segundo
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