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Ergonomia APRESENTAÇÃO Você sabe o que é ergonomia? É um campo do conhecimento que nos permite estudar o corpo humano em relação ao espaço necessário para a realização das atividades que caracterizam sua existência em sociedade, seus movimentos e suas posições. É uma disciplina que se insere na área do conforto ambiental e orienta as primeiras decisões do projeto arquitetônico. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer mais a fundo o que é ergonomia e avaliar sua importância no contexto de uma prática de projeto que visa construir um espaço onde o homem possa viver com saúde, conforto e eficiência. Aprender sobre ergonomia é aprender sobre as medidas do homem, sobre o corpo, que é o primeiro módulo e o primeiro material envolvido na criação da arquitetura. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o que é ergonomia.• Avaliar a necessidade de adequação nos projetos de arquitetura.• Reconhecer a importância da ergonomia nos projetos.• DESAFIO Projetar reformas e adaptações em cômodos para atender as necessidades de clientes é uma atividade típica do profissional de arquitetura. Agora, você terá uma tarefa dessas. Veja a seguir. Que tipo de adaptação em medidas e acabamentos você acha que seria necessária? INFOGRÁFICO A aplicação dos conhecimentos de ergonomia em projetos de arquitetura está diretamente ligada a uma maior sensação de satisfação, segurança e bem-estar do usuário. Isso é atingido por meio de levantamentos métricos e estudos acerca da postura e dos movimentos do corpo. O ambiente é, assim, adaptado ao ser humano, e não o contrário. A utilização das normas e dados de ergonomia irá determinar, nos projetos de arquitetura, relações de medidas e proporções dentro do espaço construído. Esse estudo não se limita a fatores físicos, mas utiliza-se também das características socioculturais e psicológicas dos usuários. A ergonomia no projeto arquitetônico: a importância dos dados de ergonomia e sua aplicação em uma dinâmica de planejamento e desenho do espaço. Veja no Infográfico tópicos de um modelo típico de abordagem projetual ergonômica. CONTEÚDO DO LIVRO A ergonomia é um campo do conhecimento que se insere nas dinâmicas do projeto arquitetônico no contexto do estudo dos parâmetros de conforto. A adaptação do ambiente projetado às necessidades físicas específicas do ser humano envolve, além da ergonomia, o conforto térmico, a iluminação (natural e artificial) e a acústica. No capítulo Ergonomia do livro Introdução ao projeto arquitetônico, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre os principais conceitos e aplicações de mais um estágio fundamental do lançamento de projetos arquitetônicos: a análise de dados da ergonomia. Boa leitura. INTRODUÇÃO AO PROJETO ARQUITETÔNICO Tiago Giora Ergonomia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir ergonomia. Avaliar a necessidade de adequação nos projetos de arquitetura. Reconhecer a importância da ergonomia nos projetos. Introdução Vários fatores ergonômicos influenciam a criação do mobiliário e das edificações. Por meio do estudo da antropometria, análise das tarefas e dos fatores culturais e sociais referentes ao uso e à acessibilidade universal, buscamos criar objetos e espaços melhor adaptados ao ser humano, de modo a facilitar sua interação com o mundo. Neste capítulo, você vai estudar uma etapa do projeto que se preo- cupa com as medidas humanas, define espaços de acordo com padrões de proporções harmoniosas, levando em consideração as articulações e os movimentos do corpo humano, assim como padrões antropométricos, fatores étnicos e culturais que influenciam a criação arquitetônica, a construção e os usos. O que é ergonomia? A ergonomia é um campo do conhecimento inserido nas dinâmicas do projeto arquitetônico que estuda os parâmetros de conforto. A adaptação do ambiente projetado de acordo com necessidades físicas específi cas do ser humano envolve, além da ergonomia, o conforto térmico, a iluminação (natural e artifi cial) e a acústica. A estuda o relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamentos e ambiente. Seu objetivo é promover sensações de segurança, conforto, saúde e bem-estar no indivíduo durante a realização de suas atividades de trabalho e em seu relacionamento com sistemas produtivos. A antropometria – palavra de origem grega em que o termo antropo (ou án- thropos) traduz-se como homem, e o termo metro (ou métron), como medida – também está relacionada ao tema estudado. Assim, o estudo e a aplicação de padrões antropométricos visa assegurar medições precisas do corpo hu- mano, de forma a descrever de maneira realista as características do grupo ou indivíduo para quem se está projetando determinado produto. Na Figura 1, confira um exemplo de adaptação das medidas do mobiliário às dimensões e aos movimentos do corpo. Tudo o que o homem cria é destinado ao seu uso pessoal. As dimensões do que fabrica devem, por isso, estar intimamente relacionadas com as do seu corpo. Assim, escolheram-se durante muito tempo os membros do corpo humano para unidades de medida. (...) Devem conhecer o tamanho dos obje- tos que o homem usa, para poder determinar as dimensões convenientes dos móveis ou das peças destinadas a contê-los. Devem conhecer o espaço que o homem necessita entre os vários móveis para trabalhar com comodidade e sem espaços desperdiçados. (...) Além disto, o homem não é apenas um corpo vivo que ocupa e utiliza um espaço; a parte afetiva não tem menos importân- cia. Seja qual for o critério ao dimensionar, pintar, iluminar ou mobiliar um local, é fundamental considerar a “emoção” que ele cria em quem o ocupa (NEUFERT, 2013, p. 18). Figura 1. Exemplo de adaptação das medidas do mobiliário às dimensões e aos movi- mentos do corpo. Fonte: adaptada de Alystin/Shutterstock.com. Ergonomia2 Estudo das proporções Olhando para a história da nossa civilização, podemos observar que, desde suas origens na Grécia antiga, relações de proporcionalidade e medidas harmoniosas sempre incitaram associações profundas, de cunho simbólico, fi losófi co ou religioso, que determinavam as formas projetadas como elementos de ligação entre o homem e o mundo, com noções de perfeição divina e com o mundo ideal das ideias. Essas proporções foram estudadas e codifi cadas em forma de equações que expressam a vontade de compreender as leis de criação do mundo e de aproximar a obra humana dos planos mais elevados da existência. São exemplos dessas razões métricas idealizadas a proporção áurea, a lei de Fibonacci, a regra dos terços, além dos princípios de organização espacial por meio de eixos, simetria, permutações de quadrados, circunferências e triângulos. A proporção áurea, encontrada na natureza e no corpo humano, foi re- presentada geometricamente pelo escultor grego Fídias no século V a.C., e é representada pela letra grega ɸ (phi, usada para substituir o número zero e para representar o diâmetro). Matematicamente, trata-se de um número irracional (sem repetição, sem fim) (Figura 2): a ÷ b = 1,618… b ÷ a = 0,618… A sequência em que a soma dos termos adjacentes equivale ao termo seguinte é chamada de sequência de Fibonacci. Assim, podemos representá- -la da seguinte forma: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 521... Outra propriedade torna essa progressão divina, pois o quociente entre o sucessor e o antecessor se aproxima, gradativamente, do número de ouro. Assim, podemos concluir que, com essa sequência, poderíamos formar um retângulo áureo. A sequência de Fibonacci é encontrada nas formas da natureza, e sua conexão com o retângulo áureo teria sido interpretada como um sinal da harmonia divina expressa nessas relações de proporção que, por esse mo- tivo, foram amplamente empregadas na arte e na arquitetura (ALONSOPEREIRA, 2010). 3Ergonomia Figura 2. Seção áurea e sua lei de geração. Fonte: chuhastock/Shutterstock.com. Estudos teóricos, como as leis da Gestalt e a semiótica, determinam que a regularidade, o equilíbrio das proporções e as referências com a geometria plana estabelecem formas naturalmente agradáveis aos olhos humanos. Essas teorias, criadas na era moderna, eliminam a conotação religiosa, mas seguem dando extrema importância ao estudo de proporções no contexto de projetos de arquitetura, arte ou design. Estudos teóricos, como as leis da Gestalt e a semiótica, determinam que a regularidade, o equilíbrio das proporções e as referências com a geometria plana estabelecem formas naturalmente agradáveis aos olhos humanos. Essas teorias, criadas na era moderna, eliminam a conotação religiosa, mas seguem dando extrema importância ao estudo de proporções no contexto de projetos de arquitetura, arte ou design. Ergonomia4 A necessidade de adequação nos projetos de arquitetura A execução de um projeto de arquitetura passa, geralmente, pela defi nição de um programa de necessidades. Para isso, é preciso elencar todas as tarefas a serem realizadas no espaço a ser projetado. O passo seguinte é fazer a análise de tarefas, a fi m de estabelecer o espaço necessário para cada uma das atividades listadas no programa. Finalmente, cabe ao arquiteto defi nir o mobiliário adequado às tarefas e verifi car as interferências entre as áreas de circulação e de realização. Para todas essas defi nições, o dado mais importante que precisa ser coletado diz respeito às medidas do corpo e aos movimentos previstos do público usuário do espaço ou do mobiliário projetado. Essas medidas são obtidas estatisticamente, e seus parâmetros de coleta e aplicação têm mudado ao longo dos anos. Até a década de 1940, as medidas antropométricas visavam determinar apenas algumas grandezas médias da população, como pesos e estaturas. Hoje, o interesse maior se concentra no estudo das diferenças entre grupos e na influência de certas variáveis como etnias, alimentação e saúde. Com o aumento do volume do comércio internacional, estudiosos já pensam em estabelecer padrões mundiais de medidas antropométricas para a produção de produtos universais, adaptáveis a usuários de diversas etnias, e aqui temos um problema: produtos exportados para outros países sem considerar as necessidades de adaptação aos usuários. As antigas máquinas e locomotivas exportadas para a Índia pelos ingleses não se adaptavam aos operadores indianos. Durante a guerra do Vietnã, os soldados vietna- mitas, com altura média de 160,5 cm, tinham muita dificuldade em operar as máquinas bélicas fornecidas pelos norte-americanos, projetadas para a altura média de 174,5 cm. Na área da arquitetura, essas diferenças podem acarretar sérios problemas de dimen- sionamento, com consequências que vão desde o desconforto físico dos usuários até a inviabilização do projeto. Por isso, o universo da população atendida em cada projeto deve ser definido considerando as diferenças métricas entre etnias, nacionalidades e sexos, informações que, em grande parte, já se encontram catalogadas e compõem as normas de ergonomia presentes na legislação. 5Ergonomia Medidas humanas Inicialmente, pode parecer ao estudante de arquitetura que o melhor caminho seria tomar as medidas exatas dos clientes para os quais se está projetando e, então, dimensionar o espaço especifi camente para esse público, mas essa não é a solução mais prática, pois certo grau de padronização se faz necessário de projeto para projeto, e a customização total do espaço e do mobiliário elevaria muito os custos da construção. Tampouco seria efi caz tomar como referência dimensional padrões médios, pois podem não atender ao perfi l dos usuários para os quais o projeto será concebido. Assim, não é recomendado utilizar o homem médio como padrão dimensional, pois ele atende apenas à metade da população. Assim, a recomendação atual é utilizar dados antropométricos para projetar com base em percentis extremos. No projeto de arquitetura e urbanismo, exclui-se os cinco percentis menores e os cinco percentis maiores, resultando em 90 percentis que serão contemplados no projeto. Dessa maneira, garante- -se que o projeto atenda a um grande espectro de população, e aponta para a adaptabilidade universal. Além disso, é necessário considerar o tipo de atividade para a qual o projeto se destina. Os conceitos de alcance e passagem são instrumentais na definição dos percentis que devem ser utilizados. Por exemplo, se estamos projetando uma prateleira aérea, devemos considerar os percentis mais baixos, referentes à estatura dos usuários dentro do universo considerado, determinando que, quando os mais baixos alcançarem, os mais altos também conseguirão. Já para calcular um vão de passagem, as medidas limites são as maiores da curva – onde os maiores passarem, também passam os menores (LIDA, 2005). Confira as proporções humanas e os modelos de posições e proporções humanas nas Figuras 3 e 4. Ergonomia66 Figura 3. Proporções humanas. Fonte: Curso de desenho dinâmico (c2018, documento on-line). Figura 4. Modelos de posições e proporções humanas – Modulor – Le Corbusier. Fonte: Le Corbusier (c2018, documento on-line). 7Ergonomia 7 Segurança no trabalho A Norma Regulamentadora nº 17 tem como objetivo estabelecer os parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar máximo conforto, segurança e desempe- nho. O subitem 17.1.2 da Norma Regulamentadora nº 17 estabelece o seguinte: para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, ou AET, devendo abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme especifica a norma regulamentadora nº 17. A NR-17 é de grande importância, já que muitas doenças de trabalho são desenvol- vidas a partir da exposição ao risco ergonômico, por exemplo: trabalhos realizados em pé durante toda a jornada; esforços repetitivos (LER); levantamentos de cargas; monotonia. O desconforto no trabalho, que está relacionado à saúde do trabalhador, pode gerar também baixa produtividade para as empresas. Portanto, ao final das contas, o não cumprimento dessa norma não é vantajoso em nenhuma circunstância. Fonte: Instituto Brasileiro de Educação Profissional (2017). A ergonomia nos projetos O estudo e aplicação dos princípios da ergonomia busca propor relações e condições de ação e de mobilidade, além de defi nir proporções e estabelecer dimensões em condições específi cas, em ambientes naturais e construídos. Para isso, levantamentos métricos e análises de comportamento humano são tomados como base. As atividades humanas para as quais o projeto arquite- tônico cria condições devem ser previstas e decompostas em movimentos, e esses movimentos são analisados em termos de sua amplitude, duração e posição do corpo. O corpo humano ocupa lugar no espaço, e existem áreas de maior eficiência para a realização de atividades cotidianas. Assim, é importante que o ato de projetar leve em consideração os seguintes aspectos (PANERO E ZELNIK, 2002): Ergonomia8 Áreas de maior acuidade visual e de alcance: são as áreas preferenciais para concentração e foco. Primeira escolha do arquiteto ao determinar um desenho de layout. Espaços de atividades máximos e mínimos: são definidos pela so- breposição de atividades em uma área restrita do projeto. O objetivo do arquiteto é fazer um aproveitamento eficiente dos espaços máximos, reduzindo, ao mesmo tempo, a ocorrência de áreas residuais. Interferências entre áreas de circulação e de realização de tarefas: muitas vezes, as dimensões do espaço exigem que ocorram sobreposi- ções entre áreas de passagem e o espaço de execução de uma atividade específica. É atribuição do arquiteto garantir queessas sobreposições não diminuam a eficiência dos movimentos do usuário. Dessa maneira, a ergonomia se configura como um estudo das ações e influências mútuas entre o ser humano (receptor) e o espaço (fonte de estímulos), por meio de interfaces recíprocas. O espaço arquitetônico bem projetado será capaz de organizar as ações do indivíduo, mantendo distâncias mínimas e máximas compatíveis com os limites corporais da pessoa, permitindo que a vida discorra sem obstáculos, promovendo efi- ciência e conforto. A sensação de conforto é estabelecida segundo a percepção individual de qualidades, influenciada por valores de conveniência, adequação, expressivi- dade, comodidade e prazer. Então, conclui-se que o conforto e, por extensão, a ergonomia são áreas do conhecimento que combinam fatores técnicos ou estatísticos, como as medidas e os padrões corporais, com fatores humanos muito mais variáveis e dependentes de contextos específicos. Contribuem para os objetivos da ergonomia na arquitetura fatores psicológicos, socio- culturais, ambientais e físicos, entre os quais podemos citar: a consciência interna, as relações interpessoais, as experiências externas, as posturas e os movimentos. As Figuras 5 e 6 proporcionam uma comparação de exemplos de interiores em que foram aplicadas as mesmas variáveis de intensidade de luz, variação e combinação de materiais de formas diferentes, causando sensações contrastantes. 9Ergonomia Figura 5. Percepção e conforto – qualidades do espaço projetado em termos de luz, dimensões e materiais. Fonte: Donadussi (2016). Figura 6. Exemplo de interior em que as mesmas variáveis de intensidade de luz, variação e combinação de materiais não foi bem equacionada no projeto, produzindo sensação de desconforto. Fonte: Top 10 interior design mistakes (2018). Ergonomia10 No ensaio crítico Corporeal experience in the architecture of Tadao Ando, de Kenneth Frampton, o arquiteto é apresentado como um criador de espa- cialidades ao nível do corpo. Frampton (2002) menciona um significado para a arquitetura, em preparação para um discurso, que nos trará não somente o indivíduo em sua concretude corporal e profundidade psicológica, mas também buscará os elementos da construção de uma paisagem total, que podemos associar com as ideias da Gestalt na percepção da arquitetura. A passagem introduz um eixo importante da pesquisa: como trazer o corpo para o núcleo significativo da arquitetura, estudando sua interação com a matéria e as formas do espaço? A seguir, um trecho do ensaio no qual Frampton analisa a tentativa de fusão entre corpo e arquitetura empreendida por Ando em sua definição e aplicação do conceito de shintai. Exceto pela catalítica presença de suas formas primárias concretas, Ando está particularmente interessado no sujeito da experiência a quem ele caracteriza com o termo shintai, a palavra japonesa para corpo. Este aparentemente intraduzível conceito que parece ser mais vivo em suas conotações que seu equivalente em português, adquire um significado particularmente intenso na visão do arquiteto visto que esta alude ao reflexo receptivo\reativo que a edificação induz no sujeito. Assim, em seu ensaio “Shintai e espaço” de 1988, ele escreveu: Quando eu percebo o concreto como algo frio e duro, eu reconheço o corpo como algo quente e macio. Desta maneira o corpo, em sua relação dinâmica com o mundo, se torna o shintai. Neste sentido é apenas o shintai que constrói ou entende arquitetura. O shintai é um ser sensível que responde ao mundo. Quando alguém se coloca em um lugar que está ainda vazio, ele pode algu- mas vezes ouvir a terra expressar a necessidade de um prédio. A velha ideia antropomórfica do genius loci foi o reconhecimento deste fenômeno. A via de mão dupla pela qual o corpo é afetado e que corresponde à arquitetura é observável na maneira como o arquiteto trabalha os materiais e as alternâncias entre espaços de permanência e de trânsito. O uso do concreto e da madeira crua, assim como a incorporação de outros elementos naturais, como o vento e a água, são pensados de modo a interagir com todos os sentidos, não somente a visão. Os sons produzidos ao longo do tempo e da passagem das estações, a luz filtrada e refletida correspondendo a diferentes horas do dia, as texturas, os movimentos e até mesmo os odores entram no projeto e no dia a dia dos lugares, descritos por Ando em tom de poesia aplicada à uma concepção quase ritualística do fazer arquitetônico (FRAMPTON, 2002, p. 305). 11Ergonomia Assista ao vídeo disponível no link e no código a seguir e reflita sobre a aplicação da norma técnica NR-17 nos projetos de arquitetura e engenharia, bem como em nossos espaços de vida. Em sua opinião, o que falta para garantir ambientes mais saudáveis em nossas cidades e em nossos interiores públicos e privados? https://youtu.be/mhx6usoTgcs Ergonomia e acessibilidade A ergonomia também deve considerar os estudos da antropometria infantil, dos idosos e dos defi cientes físicos no dimensionamento dos projetos dos edifícios e da cidade, tendo em vista as atividades desenvolvidas em cada âmbito. Em relação às crianças, devemos estar atentos à inexistência de padrões ergonômicos que definam cronologicamente, com precisão, a distinção entre crianças e adolescentes, tendo em vista a dificuldade em definir a linha que determina essa divisão. Para a psicologia, a população infantil vai do nas- cimento aos 11 anos, os pré-adolescentes, dos 11 aos 15, e os adolescentes, dos 15 aos 18 anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 2, define: “considera-se criança, para efeito desta lei, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade”. O espaço projetado sem considerar os aspectos ergonômicos da criança pode transmitir sensações negativas, além de gerar riscos. Quando em fase de crescimento, a criança é propensa a acidentes. Portanto, o projeto correto é importante porque garante maior rendimento das atividades envolvidas, além de facilitar aspectos relacionados com o crescimento da criança e evitar vícios de postura. Funções sensoriais, corporais e mentais devem ser trabalhadas no espaço. A aplicação de dados antropométricos deve estabelecer exigências, como: mobiliário de acordo com a escala da criança; utensílios, brinquedos e objetos de uso; equipamentos de banheiro de acordo com a escala da criança; portas de vidro amplas para jardins privativos; Ergonomia12 janelas; rampas; quinas vivas; instalações elétricas, hidráulicas e prevenções de incêndios. Pontos importantes para escolas e espaços públicos destinados a crianças: corrimão; arquibancadas; minianfiteatro; portas; altura da mesa criança em pé; altura da mesa criança sentada; largura da mesa de trabalho para criança sentada; largura dos assentos; lavatórios e bebedouros coletivos; banheiros (altura da pia, box, chuveiro). Em contrapartida, no que se refere à população idosa, devemos atentar para outros elementos de projeto, como: Não utilizar tapetes no chão, principalmente os pequenos; caso sejam necessários, os tapetes devem ser fixados ao chão. O piso deve ser antiderrapante, principalmente no banheiro e no boxe. Os degraus devem ser substituídos por rampas de inclinação leve. As tomadas devem estar na mesma altura dos interruptores, a fim de evitar que o idoso tenha que se abaixar muito para alcançá-las. Os móveis devem ser seguros para utilização, sem riscos de provocar acidentes, como o sofá com braços largos, por exemplo, para facilitar o sentar e o levantar. A altura dos assentos deve estar entre 42 cm e 46 cm, e devem ser revestidos com material impermeável. As prateleiras devem estar em uma altura de fácil acesso, para evitar que o idoso tenha que se esticar ou se abaixar para pegar algo. A altura da cama deve estar entre 50 cm e 55 cm. Manter junto à cabeceira da cama sempre umcopo, para acondicionar água fresca, e uma sineta (campainha), para uso do idoso em eventual emergência. 13Ergonomia Barras de apoio devem ser instaladas no banheiro, tanto perto do vaso sanitário como no boxe, pois são fundamentais para evitar quedas. A porta do banheiro deve ter uma fechadura que possua o sistema de abertura por dentro e por fora. Ao lado da cama, deve ser instalado um interruptor ao alcance do idoso, para que ele possa utilizá-lo sem ter que se levantar no escuro. A porta do quarto deve estar sempre sem chaves. É expressamente vetado o uso de beliches e de cama de armar, bem como a instalação de divisórias improvisadas. No cálculo de espaços de passagem, o projetista deve levar em conta a largura do corpo, uma dimensão estática. Já na criação de utensílios ou itens de mobiliário, deve ser considerado o movimento em toda a sua amplitude, que se soma às medidas padronizadas e acrescenta em complexidade. É nesse momento que a ergonomia se torna uma disciplina menos técnica, podendo se aproximar de um estudo de comportamentos e tradições humanas, com fatores que variam bastante de acordo com o contexto espaço-temporal em que o projeto se insere. 1. O que é ergonomia? a) O estudo das medidas humanas aplicadas ao desenho de móveis. b) O ato de estudar e definir medidas de espaços e objetos. c) A atividade do profissional que mede os espaços antes do projeto. d) O mesmo que antropometria. e) O estudo dos movimentos e das medidas humanas com o objetivo de servir ao projeto. 2. Que alternativa contém apenas tipos de projeto que aplicam padrões ergonômicos? a) Projetos de mobiliário, design gráfico e edificações. b) Arquitetura de interiores, desenho industrial e instalações hidrossanitárias. c) Desenho urbano, projeto elétrico e design de moda. d) Desenho industrial, arquitetura e web design. Ergonomia14 e) Mobiliário, interiores, desenho urbano e desenho industrial. 3. Em que estágio do projeto se insere a análise da ergonomia? a) Depois de concluídas as fundações. b) Juntamente com as definições de estrutura e materialidade. c) No momento da criação da forma e da volumetria. d) No princípio, tomando suas definições como referências para os próximos estágios. e) No momento da confecção das pranchas. 4. Que parâmetros de referência você usaria para adequar ergonomicamente um dormitório para idosos? a) A beleza dos acabamentos, o gosto do cliente e a harmonização com o ambiente da casa. b) As medidas que o cliente solicitou. c) As normas de ergonomia e a legislação vigente, além das adaptações necessárias nas alturas e nos materiais. d) Medidas dos móveis que o cliente quer reaproveitar. e) Minha criatividade e estilo arquitetônico. 5. De que maneira é feito o cálculo que define a população atendida pelo projeto em termos de “medidas corporais máximas e mínimas” que utilizarão com conforto o espaço ou objeto construído? a) Com medidas estatísticas atualizadas e locais abrangendo percentis de 5% até 95%. b) Com a média da população mundial. c) Com as medidas específicas de cada cliente. d) Com a recomendação dos marceneiros. e) Com dados coletados em entrevista com o cliente. ALONSO PEREIRA, J. R. Introdução à história da arquitetura: das origens ao século XXI. Porto Alegre: Bookman, 2010. Curso de desenho dinâmico [Internet]. c2018. Disponível em: <http://cursodesenho- dinamico.blogspot.com.br/p/blog-page_28.html?m=0>. Acesso em: 25 abr. 2018. DONADUSSI, M. Cores e estampas em um apartamento vibrante. 2016. Disponível em: <https://casavogue.globo.com/Interiores/apartamentos/noticia/2015/11/clima- -despojado-em-apartamento-clean.html>. Acesso em: 25 abr. 2018. FRAMPTON, K. Corporeal experience in the architecture of Tadao Ando. In: DODDS, G.; TAVERNOR, R. (Eds.). Body and building: essays on the changing relation of body and architecture. Cambridge, MA: MIT Press, 2002. Disponível em: <http://www. 15Ergonomia worldcat.org/title/body-and-building-essays-on-the-changing-relation-of-body- -and-architecture/oclc/46462907/viewport>. Acesso em: 25 abr. 2018. LE CORBUSIER. Modulor [Internet]. c2018. Disponível em: <https://www.pinterest.es/ pin/537758011741446483/>. Acesso em: 26 abr. 2018. LIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. rev. e amp. São Paulo: Edgard Blucher, 2005. Disponível em: <https://issuu.com/editorablucher/docs/issuu_ergonomia_ isbn9788521203544>. Acesso em: 25 abr. 2018. NEUFERT, E. Arte de projetar em arquitetura. 18. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2013. PANERO, J.; ZELNIK, M. Dimensionamento humano para espaços interiores. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. TOP 10 interior design mistakes. 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Conteúdo: DICA DO PROFESSOR A ergonomia é a ciência que estuda a interação do homem com o seu ambiente de trabalho, de trânsito ou de lazer. Seu emprego visa otimizar o desempenho das atividades realizadas, condicionar relações, proporcionar conforto e melhorar a qualidade de vida. Veja na Dica do Professor algumas informações sobre antecedentes históricos importantes da disciplina que hoje é chamada de ergonomia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Qual das alternativas abaixo, em sua opinião, define de forma mais completa o que é ergonomia? A) O estudo das medidas humanas aplicadas ao desenho de móveis. B) O ato de estudar e definir medidas de espaços e objetos. C) A atividade do profissional que mede os espaços antes do projeto. D) O mesmo que antropometria. E) O estudo dos movimentos e medidas humanas com objetivo de servir ao projeto. 2) Que alternativa contém APENAS tipos de projeto que aplicam padrões ergonômicos? A) Projetos de mobiliário, design gráfico e edificações. B) Arquitetura de interiores, desenho industrial e instalações hidrossanitárias. C) Desenho urbano, projeto elétrico e design de moda. D) Desenho industrial, arquitetura e web design. E) Mobiliário, interiores, desenho urbano e desenho industrial. 3) Em que estágio do projeto se insere a análise da ergonomia? A) Depois de concluídas as fundações. B) Juntamente com as definições de estrutura e materialidade. C) No momento da criação da forma e da volumetria. D) No princípio, tomando suas definições como referências para os próximos estágios. E) No momento da confecção das pranchas. 4) Quais seriam os primeiros parâmetros de referência que você usaria para adequar ergonomicamente um dormitório para idosos? A) A beleza dos acabamentos, o gosto do cliente e a harmonização com o ambiente da casa. B) As medidas que o cliente solicitou. C) As normas de ergonomia e a legislação vigente, além das adaptações necessárias nas alturas e nos materiais. D) Medidas dos móveis que o cliente quer reaproveitar. E) Minha criatividade e estilo arquitetônico. 5) De que maneira é feito atualmente o cálculo que define o universo da população atendida pelo projeto em termos de "medidas corporais máximas e mínimas" que utilizarão com conforto o espaço ou objeto construído? A) Com medidas estatísticas atualizadas e locaisabrangendo percentis desde o 5% até o 95%. B) Com a média da população mundial. C) Com as medidas específicas de cada cliente. D) Com a recomendação dos marceneiros. E) Com dados coletados em entrevista com o cliente. NA PRÁTICA Estação de trabalho: ao estudar as possibilidades de formas e medidas para desenhar uma mesa de escritório, o arquiteto se depara com uma série de variáveis que devem ser consideradas: altura do assento e braços da cadeira, profundidade e inclinação do encosto, material do piso e pés da cadeira, peso da cadeira; distância do computador até a borda da mesa, altura do monitor, posição relativa à fonte de luz (para evitar reflexos), posição do teclado e mouse; material do tampo, espessura do tampo, espaço para movimentação das pernas. Como é possível observar, os desenhos de projeto e os dimensionamentos de interiores precisam ser muito bem detalhados e abordar o tipo de uso de forma minuciosa. Veja Na Prática alguns detalhes que devem ser contemplados. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Fundamentos para projetar espaços públicos confortáveis Neste site de arquitetura, você encontra diversas matérias interessantes, uma delas é esta, sobre como projetar espaços públicos confortáveis. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NR 17 - Treinamento de ergonomia Este vídeo aborda as questões de ergonomia que a NR 17 traz. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! The Human Scale Official Trailer 1 (2013) - Documentary HD Np trailer deste documentário recorre-se a uma nova tendência no design urbano ocidental: apostar em cidades focadas em favorecer relacionamentos e atender as necessidades atuais das pessoas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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