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Módulo 12 - Atividade 1

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PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA
SESAU/FIOCRUZ MS
Residente: Giovana da Luz de Oliveira
Unidade: USF Coophavila II
Módulo: Gestão do Cuidado na APS e Planejamento em saúde
Atividade 1 - Síntese
De modo simplificado, pode-se compreender planejar como pensar antes de agir. De forma mais aprofundada, é pensar antes, durante e depois de agir. Deste modo, o planejamento é um ato inerente do ser humano. Assim, ele está incorporado na vida de todos nós e é um processo na qual determinamos ações para chegarmos a situações e objetivos desejadas. 
Na vida cotidiana, realizamos o planejamento de forma intuitiva, como por exemplo, planejar uma festa. Porém, quando se tem objetivos complexos, é necessário contar com um método de planejamento, principalmente porque fazemos coletivamente, como é o caso das organizações governamentais. Além disso, o método do planejamento é importante pois permite que aproveitemos melhor o tempo e os recursos, aumentando a chance de atingirmos o objetivo. 
Por existir diversos tipos de planejamento, existem vários métodos de planejamento. Porém, as maiores influências do planejamento em saúde, são o normativo e estratégico. Para compreender a diferença entre as duas, faz-se necessário entender o contexto histórico, principalmente no planejamento na América Latina e as origens do planejamento em saúde.
	Na década de 40, o planejamento começou a ser introduzido na América Latina por influência da ONU, sendo visto como um instrumento para avaliação. Já na década de 50, houve uma transposição do planejamento para a área da saúde.
O enfoque normativo surgiu na América Latina na década de 60, por um método de planejamento para a saúde que ficou conhecido como CENDES/OPAS (1965), na qual a realidade deveria funcionar como uma norma e o objetivo seria otimizar ganhos econômicos obtidos com a saúde, ou seja, é um método normativo que tem como fundamento principal a relação de custo-benefício. 
Por sua característica de desconsiderar os conflitos e os diferentes interesses existentes, a sua análise acaba sendo incompleta e a utilização para elaborar estratégias acaba sendo limitada. Por conta disto, a utilização do método CENDES/OPAS caiu em desuso.
	Já na década de 70, surgiram na América Latina as diferentes vertentes do planejamento com enfoque estratégico - isto é, estratégico pois, diante de uma situação ou problema, nos deparamos com diversos atores sociais que têm diferentes visões e entendimentos da situação. E são essas diferenças que podem gerar conflitos e quando há conflitos, é necessário que se raciocine estrategicamente para se chegar nos objetivos desejados.
Além disto, o planejamento estratégico se baseia na premissa de que a realidade muda constantemente e por isso é necessário que todo planejamento seja uma mediação entre o conhecimento e a ação, e desse modo continuamente construído, na qual o futuro é parte do processo de planejamento.
	Dentro do planejamento estratégico, o modelo do Planejamento Estratégico Situacional (PES) de Carlos Matus é o modelo mais difundido e utilizado, por ser mais criativo e flexível. Além disto, planejamento situacional refere-se à capacidade de governar em contextos de poder compartilhado, o que condiz com a nossa realidade. Aqui, o conceito de situação também é importante, pois se refere a um espaço socialmente produzido, na qual indivíduos interpretam e explicam a realidade, onde cada um desempenha um papel e intervém do mesmo modo que os outros. 
	O PES é o método de planejamento mais relevante para a área da saúde e foi criado como uma ação política. A principal diferença entre ela e o método normativo, é que na lógica do PES, o ator que planeja está dentro da realidade e coexiste com outros atores que planejam também, ou seja, o sujeito está inserido no objeto e faz parte da realidade planejada. Já no método normativo, o ator que planeja está separado da realidade, ficando fora dela e com a intenção de controlá-la, ou seja, há uma distinção entre o sujeito e o objeto de planejamento, na qual seria passível de controle.
	Desse modo, enquanto o planejamento normativo considera a possibilidade de haver um conhecimento único e objetivo da realidade, para o PES a realidade e o conhecimento dependem de cada sujeito e sua inserção na realidade e, por isso, são múltiplos e parciais.
	Outro conceito importante para o PES é o de ator social, compreendido segundo Matus (1989;1993) como um coletivo de pessoas que atuando na realidade, é capas de transformá-la. Este conceito é importante pois na situação é importante compreender quem é o ator que planeja e quais outros atores estão envolvidos. Para transformar a realidade é importante que o ator tenha um projeto de intervenção, o controle dos recursos necessários ao plano e uma organização estável para executá-lo.
	Outros dois conceitos importantes do PES são o de Triângulo de Governo, que diz respeito a três pontos: Projeto de Governo (Plano para que se atinja os objetivos), Governabilidade (Variáveis necessárias para implementar o plano) e Capacidade de Governo (Experiências e conhecimentos necessários para implementação do plano). Os três itens foram um triângulo que ajuda a refletir sobre o andamento do planejamento na equipe. Sendo vistos numa relação dinâmica a análise dos três permite avaliar as fragilidades da gestão, orientando os ajustes precisos.
No método PES, o Problema se refere a uma situação insatisfatória acumulada, isto é, a diferença entre a situação real e a situação desejada. Matus ainda propõem que os problemas sejam considerados como: problemas estruturados, problemas quase-estruturados, problemas intermediários e problemas finais.
	Em Campo Grande - MS, o planejamento das ações de saúde segue o sistema de planejamento do SUS, que é concretizado pelos instrumentos básicos: Plano de Saúde, Programações Anuais de Saúde e Relatórios Anuais de Gestão, que atuam em articulação e interdependência para o aperfeiçoamento da gestão e das ações de saúde.
	Assim, o Plano de Saúde é o instrumento principal de planejamento, orientando todas as iniciativas de gestão no SUS, durante o período de quatro anos. O Plano de Ação vigente é o de 2014-2021 e é orientado pelos pactos assumidos, pelos Relatórios das Conferências de Saúde e pelas recomendações dos Relatórios de Gestão dos anos anteriores. 
Pauta-se também na Análise Situacional, que antecede a formulação das diretrizes, objetivos e metas do Plano, buscando ver as necessidades de saúde da população na esfera municipal, a partir dos eixos orientadores: Estrutura do Sistema de Saúde; Redes de Atenção à Saúde; Condições Sociossanitárias; Fluxos de Acesso; Recursos Financeiros; Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde; Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde; Gestão.
Desta forma, o Plano de Saúde é elaborado a partir das necessidades de saúde da população, considerando as Conferências de Saúde, Audiências Públicas e Pactuações nas Comissões Inter federativas. Assim, o processo de elaboração do Plano compreende três momentos: Problematização; Audiência Pública e a Priorização das propostas da VII Conferência Municipal de Saúde e da Audiência Pública para o PMS 2018-2021.
A Problematização é uma versão simplificada do Planejamento Estratégico Situacional para o levantamento dos problemas, compreendido no Plano de Saúde como todas as questões que trazem transtornos e exigem esforços para serem solucionados. A problematização foi realizada por meio de oficinas de construção coletivas e rodas de conversa intersetoriais.
A Audiência Pública é realizada para escuta de reconhecimento das necessidades da população e a Priorização das propostas da VII Conferência Municipal de Saúde e da Audiência Pública para elaboração do PMS 2018-2021 subdivide-se em 03 etapas a saber: 1ª Análise da viabilidade técnica-operacional e econômica financeira, 2ª Classificação das 442 propostas da VII Conferência de Saúde e outras 34 Propostas da Audiência Pública e 3ª Oficinas de priorização das propostas advindas da AudiênciaPública, bem como da VII Conferência Municipal de Saúde, que ocorreram com a participação do controle social, e devolutiva dos produtos da priorização. 
Referências Bibliográficas:
CAMPOS, Francisco Carlos Cardoso de; FARIA, Horácio Pereira de; SANTOS, Max André dos. Planejamento e avaliação das ações em saúde/. - 2a ed. - Belo Horizonte: Nescon/UFMG, Coopmed, 2010. 114p.
NACHIF, Maria Cristina Abrão; ANDRADE, Sônia Maria Oliveira de. Planejamento e Gestão em Saúde. Curso de Especialização em Saúde da Família/ Fiocruz Mato Grosso do Sul. Campo Grande, 2019.