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Bárbara Gomes + Emanuely de Paula HIV Pediátrico DRA. GABRIELA WIRTZBICK Objetivos de Aprendizagem ● Apreender sobre os fatores de risco de transmissão vertical e horizontal do vírus HIV; ● Entender a triagem diagnóstica de gestantes e crianças para o vírus do HIV; ● Apreender sobre o quadro clínico e quando suspeitar de HIV e AIDS em crianças e adolescentes; ● Apreender sobre as profilaxias em recém-nascidos; ● Compreender quando iniciar tratamento para SIDA em crianças; ● Entender o manejo das crianças portadoras do vírus HIV; Caso Clínico ● Paciente CESS, 2 anos, deu entrada na enfermaria de pediatria do HGF com queixa de “caroços no pescoço”. A genitora relata que há 4 meses notou nodulações em pescoço, axilas e região inguinal, associado a isso, referia também febre baixa todos os dias há 2 meses. ● HPP e HF: parto normal, sem intercorrências, coto-umbilical caiu com 5 dias de vida. Amamentação exclusiva até 6 meses, IA aos 6 meses, uma internação anterior por infecção intestinal. Genitora usuária de drogas, avô paterno faleceu há 1 mês de uma tosse (sic). Até a avó paterna também está tossindo. Não tem irmãos ● IOA: febre baixa há 2 meses, perda de peso (>10% em 2 meses) ● Ao exame físico: BEG, emagrecido, hipocorado, hidratado, anictérico, acianótico, afebril no momento. ○ Pele e fâneros: linfonodos palpáveis de mais de 2cm, móveis, indolores, consistência amolecida, em cadeia cervical, axilar e inguininal. ○ Sinais vitais sem alterações ○ Exame neurológico: sem alterações ● Diagnóstico sindrômico: ○ Adenomegalia / Linfonodomegalia generalizada crônica (>2 cadeias não contíguas) + Síndrome febril + perda de peso >10% ● Diagnóstico nosológico: ○ Causa infecciosa (TB, HIV), inflamatória (lúpus), neoplásica (LLA) ● Diagnóstico etiológico: ○ TB, HIV, leucemia linfóide aguda, mono likes, LES ● Exames: ppd (alterado, >10mm), teste rápido para hiv, hemograma, rx de tórax (alterado, presença de linfonodomegalia), provas inflamatórias, FAN ● Diagnóstico definitivo: Tuberculose Introdução ● Transmissão vertical ○ Todos os casos em <5 anos ocorrem por transmissão vertical ○ Responsável por 100% dos casos < 5 anos Bárbara Gomes + Emanuely de Paula ○ Profilaxia para transmissão vertical desde 1996 – sendo muito bem feita essa profilaxia, está dando certo, mas mesmo assim ainda há transmissão vertical. ● Em 2018 havia 37,8 milhões de pessoas com HIV no mundo ○ Dentre essas 1,7 milhão são crianças < 15 anos ○ Todas as semanas, cerca de 6.200 jovens entre 15 e 24 anos são infectadas pelo HIV (em geral, transmissão sexual, contatos por acidentes, violência doméstica) ○ Mulheres jovens com idade entre 15 e 24 anos têm duas vezes mais chances de viver com o HIV do que os homens ○ No Brasil 15.564 crianças < 5 anos são portadoras do vírus. ○ DOENÇA DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA Epidemiologia ● Nos últimos 10 anos as taxas de novos casos se apresentaram estável, devido ao resultado positivo das campanhas e medidas do SUS os números estão estáveis. ● 20,5 casos a cada 100.000 habitantes ● A região sudeste vem apresentando queda significativa – pois tem a melhor escolaridade ● A mortalidade por aids no Brasil apresentou tendência significativa de queda de 6,1 óbitos/100 mil habitantes em 2004 para 5,7/100 mil em 2013 - graças às campanhas e medicações ● Resultados positivo devido a medidas preventivas e de profilaxia perinatal ● Sem tratamento as gestantes infectadas transmitem o HIV em 25-30% dos casos. Transmissão Vertical ● Fatores de risco para transmissão vertical ● Amamentação ● Contagem de CD4 baixo - gestante sem acompanhamento adequado ● Carga viral aumentada – gestante com carga acima de 1000 cópias ● Anemia na gestante - aumenta transfusão sanguínea materno-fetal ● Estágio avançado da doença – já com sintomas de AIDS, CD4 baixo, carga viral alta ● Mastite – aumenta o risco da passagem do vírus por causa do contato com sangue da lesão durante a amamentação ● Soroconversão na gestação ou na amamentação Mecanismo de Transmissão ● Útero: ○ Ocorre transmissão em 25% no período da gestação ○ A maioria acontece no terceiro trimestre - útero maior, com contrações e micro sangramento placentários ○ A quebra da integridade da placenta ocorrendo micro transmissões de sangue materno com vírus atravessando a placenta até o feto, entrando em contato com as mucosas do bebê Bárbara Gomes + Emanuely de Paula ○ Estudos mostram que infecções do trato genital e inflamação da placenta, principalmente corioamnionite, podem aumentar o risco de transmissão intraútero ■ tudo que aumenta a quebra da proteção do bebe com o sangue da mãe, aumenta as chances de transmissão vertical ● Intraparto: ○ 75% das transmissões ocorrem periparto - principal momento da transmissão. ○ Ocorre pelo contato da mucosa do bebê com o sangue da mãe infectada com o vírus durante o processo do parto - evitar o contato do sangue infectado da mãe com a mucosa do bebê, o que ocorre no parto. ○ Sem a profilaxia com antirretrovirais, a quantidade de horas de bolsa rota acima de 4 horas aumenta o risco de infecção - maior tempo de contato com os fluidos da mãe. ○ Micro Transfusões, através da placenta, que ocorrem durante as contrações no trabalho de parto contribuem para o aumento do risco de transmissão durante o trabalho de parto e o parto. ■ Nesse caso indicar parto cesariano para diminuir a chance de contaminação do bebè. ○ Pacientes que não foram acompanhadas durante a gestação, sem medicação, não podem entrar em trabalho de parto. ● Amamentação: ○ Não foi ainda totalmente elucidado a maneira de transmissão. ○ O RNA do HIV pode ser detectado no leite materno e no colostro - o que entra em contato com a maior mucosa do corpo, o TGI, pois absorve tudo do nosso meio. ○ Alguns estudos sugerem que células infectadas pelo HIV no leite materno têm maior risco de transmissão do que o vírus livre de células - o que aumenta muito as chances de transmissão. ○ A porta de entrada pode ser intestino ou tecido tonsilar linfóide ○ Contra-indicação absoluta a amamentação no BR, mas em alguns países presentes no continente africano, onde crianças morrem de fome é preferível que você amamente, se não a criança morre de fome. ○ Todo lactante exposto ao HIV tem direito de receber fórmula láctea infantil, fornecida pela Secretaria de Saúde, pelo menos até os seis meses de vida. ● Horizontal: ○ Principalmente em crianças maiores de 5 anos. ○ Prevalente na adolescência ○ Sexual - Principal forma de transmissão horizontal ■ Sempre lembrar / desconfiar de abuso sexual em crianças > 5 anos com HIV+ ○ Sanguínea ■ Antigamente era prevalente pela transfusão sanguínea ○ Ocupacional ● Prevenção: ○ Preservativo ■ Conscientizar seu uso não somente pela prevenção de gravidez precoce em adolescentes, mas, principalmente, contra as doenças sexualmente transmissíveis. ○ Teste de bolsas de hemoderivados Bárbara Gomes + Emanuely de Paula ○ Não compartilhar seringas ○ Profilaxia após acidentes ocupacionais ou profilaxia pós-exposição ○ Profilaxia pré-exposição (tópica ou oral) ○ Se encontrar uma criança com sorologia positiva tem que fazer busca de ABUSO SEXUAL!!! Prevenção e Transmissão (PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO)!!! ● Pré-natal e parto: ○ Rotina de teste rápido de HIV no pré-natal (1º e 3º trimestre, e até no periparto). ○ Iniciar o uso dos antirretrovirais no momento do diagnóstico e ao longo da gestação - Via Oral. ○ Seguimento da gestante com contagem de CD4 e CARGA VIRAL e estadiar com critérios do WHO ■ Se possível encaminhar para acompanhamento especializado. ○ Fazer consultas pré-natais especializadas em HIV ○ Parto com um profissional qualificado em uma unidade adequada, rápido, sem romper a bolsa e sem procedimentos invasivos ■ Devido a necessidade do bebê não entrar em contato com o sangue materno; ■ Preferência cesariana sem romper bolsa; ○ Iniciar AZT endovenoso até 4 horas antes do parto ● Após o nascimento: ○ Profilaxia antirretroviral para o recém-nascido (<4 horas de vida)■ Profilaxia nas primeiras 4 horas de vida ■ Previnir que o bebe pegue o HIV ○ Acompanhamento semanal do RN em até 6 semanas do nascimento ○ Contraindicar amamentação??? ■ No BR sim (devido presença do programa do governo) ○ Diagnóstico precoce de HIV na infância ○ Garantir que a criança seja acompanhada em programas de puericultura - programas especializados ○ Limpar todo o bebê após o nascimento - algumas práticas de não dar banho no bebê nas primeiras 48 horas não podem ser feitos em caso de HIV, já lava tudo após o nascimento ○ Clampear o cordão imediatamente - não fazer a prática de clampeamento tardio ● A WHO recomenda às autoridades de saúde promovam a amamentação exclusiva até os 6 meses balanceando o risco de má nutrição e o risco de infecção – lembrando que isso é em países onde as crianças morrem de fome O BRASIL RECOMENDA-SE QUE NÃO SE AMAMENTE Bárbara Gomes + Emanuely de Paula ● Mãe nas melhores condições, no melhor cenário - apenas AZT VO por 4 semanas para o RN ● Qualquer alteração nas condições da mãe - AZT + NVP VO por 4 semanas para o RN Quadro clínico ● É mais rápido na criança em relação ao adulto - devido imaturidade do sistema imune ● Imaturidade imunológica ● Assintomática no período neonatal ● Os mais jovens possuem maior risco de progressão rápida – quanto mais jovem, pior o quadro clínico. ● >12 meses 50% das crianças desenvolvem imunossupressão moderada e 20% grave ○ muito rápido, muitos morrem por infecções oportunistas ● Infecções por germes oportunistas podem ocorrer mesmo com níveis normais de CD4 ● História natural da doença: ○ Rápida: 20 a 30% ■ Graves até 12 meses ■ Morrem antes dos 4 anos ○ Normal: 70 a 80% ■ Sintomas aparecem na idade escolar – por volta de 5 anos Bárbara Gomes + Emanuely de Paula ■ Sobrevida de 9 a 10 anos – com o uso da TARV, a sobrevida consegue ser maior ○ Lenta: 5% ■ Progressão mínima ou nula ■ Contagem normal de CD4 até o início da adolescência ○ Depois da TARV os quadros ficaram tardios e associados ao uso crônico da medicação. ● Principais sinais da infecção pelo HIV em crianças e adolescentes: ○ Infecções recorrentes; ○ Linfonodomegalias generalizada, Hepatomegalia e/ou Esplenomegalia; ○ Parotidite recorrente; ○ Pneumonia de repetição; ○ Monilíase oral persistente ○ Diarréia recorrente ou crônica; ○ Déficit ponderal e de estatura; ○ Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor; ○ Febre de Origem Indeterminada; ● AIDS definições: ● Pneumocystis Jirovecii pneumonia ● Infecção bacteriana de repetição (germes capsulados - pneumococo, salmonella, S. aureus e H. Influenzae). ● Wasting syndrome (caquexia -perda de peso importante) ● Candidíase esofágiana, traqueal, pulmonar ● Encefalopatia por HIV – é aquela com atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, a criança não evoluiu ou ela estava evoluindo e parou ● Infecção por CMV (pneumonia, colite, encefalite ou retinite) ● Infecções fúngicas ( coccidioidomicose, criptococose, histoplasmose) ● Neoplasias relacionadas: Burkitt (principal), kaposi, linfoma ● Micobactéria atípico ● Septicemia por salmonelose ● Neuropatia por toxoplasmose ● Presença de uma ou mais das doenças em vermelho ou duas ou mais em preto, já considera SIDA! ● Pneumonia por pneumocystis jirovecii: ○ Cerca da metade dos pacientes com AIDS irão apresentar no primeiro ano de vida. ○ Em média com 5 meses de vida iniciam os sintomas. ○ Mais comum se desenvolver em pacientes com CD < 200 ou < 15%, mas na infância pode acontecer com CD4 > 200. ○ Sintomas: febre baixa, taquipneia, tosse não produtiva, arrastada e progressiva insuficiência respiratória -muito rápida. ○ Exame físico: ausculta pode ser normal mesmo na presença de piora clínica, frequência respiratória elevada e saturação <90%. ○ O RAIO X de tórax apresenta-se com um padrão de infiltrado intersticial peri hilar (muito parecido com quadro viral) e progride para mais difuso com a piora da doença. Bárbara Gomes + Emanuely de Paula ○ A tomografia pode ser mais esclarecedora com padrão de opacidade vidro fosco - principalmente em base - rx não é perfeito para ver. ○ Diagnóstico clínico + cultura da orofaringe ou aspirado brônquico ou PCR específico (o melhor) Diagnóstico !!!!!!!!!!!!! ● Anti-corpos maternos passam pela barreira placentária - ○ Não adianta pedir sorologia para RN com mãe sabidamente HIV+, pois pode vim sorologia +; ○ Se RN com sintomas e mãe não diagnosticada com HIV, pede a sorologia, se +, pede a carga viral (mais caro e demorado) ● O anti-HIV das criança <18 meses podem ser positivos ○ Por isso a dificuldade de diagnóstico nessa idade, porque o IgG da mãe vai passar pela placenta, então o anticorpo vai ser materno. ○ Transmissão vertical ● Teste virológicos (carga viral) ○ Melhores exames para diagnóstico ● CV detectável <48 horas indica infecção intrauterina - se em 48h já tem vírus detectável, a transmissão foi antes do parto ○ Esse vírus precisa de pelo menos 48 horas para se replicar para ser detectado no exame. Se for visto antes de 48 horas provável infecção antes do parto. ● CV detectável somente entre 7 a 90 dias de vida indica transmissão no momento do parto ● PADRÃO OURO: teste de DNA pró-viral do HIV-1 – para pacientes em dúvida - ele vê o DNA do vírus nas células do hospedeiro ● Primeira coleta de CV entre 4 e 6 semanas de vida ou 2 semanas após o uso da profilaxia (RN sem sintomas) ● Se (+), deve ser repetida imediatamente ● Se a 2ª amostra for (+), considerar que o bebê foi infectado ● Se a 1ª amostra for (–), deve ser repetida após 4 meses ou 6 semanas após o término da profilaxia ● Se a 2ª amostra for (–), considerar o bebê não infectado ● Após 18 meses deve-se realizar sorologia, para avaliar se o bebê foi infectado ou não ● Crianças >18 meses serão consideradas não infectadas se sorologia for (-). Bárbara Gomes + Emanuely de Paula ● SLIDE PROVA (DO SUCESSO) ● Profilaxia pode manter o vírus “inativado”, por isso aguarda 6 semanas para repetir a sorologia. ● Dois testes (-), a criança não tem indício de infecção. ● Crianças > 18 meses já possuem anticorpos próprios. ● Se sorologia (+), deve-se solicitar DNA pró-viral ○ Pois a criança tinha CV (-), ao fazer a sorologia deu (+), necessita nestes casos de confirmação diagnóstica pelo DNA pró-viral. ● Se sorologia (-) não há HIV. ● Mãe conhecidamente HIV (+) e bebe com menos de 18 meses = carga viral ● Bebe com quadro clínico de HIV <18 meses e mãe não sabe que tem HIV = sorologia Bárbara Gomes + Emanuely de Paula Tratamento ● Papel do especialista ● Evidência de redução da morbimortalidade e do risco de progressão rápida da doença ● Recomendação é iniciar a TARV em crianças <12 meses independente da situação clínica, CV ou classificação imunológica ● Recomenda-se iniciar a TARV nas seguintes situações de acordo com WHO: ● Estágio 3 ou 4 do WHO ● Idade < 2 anos ● Idade de 2 a 5 anos com CD4 <25% ● Idade > 5 anos com CD4 <350 ● Seguimento: acompanhar com hemograma (principalmente para avaliar infecções recorrentes e oportunistas, disfunções hematológicas), função e lesão hepática (TARV pode causar hepatite medicamentosa), sorologia para HIV (apenas em > 12 meses em mãe sabidamente HIV+) e outras infecções (TORCHS, hepatite, sífilis…) Bárbara Gomes + Emanuely de Paula Questões QUESTÃO 1 - Sobre transmissão vertical assinale a resposta incorreta: a. A sorologia para HIV deve ser pedido no pré-natal no primeiro, terceiro trimestre e antes do parto b. Gestantes portadoras do vírus HIV devem iniciar TARV o mais rápido possível para diminuir o risco de transmissão c. Pode ocorrer na fase intrauterina, Peri parto e na amamentação d. A maioria dos casos de transmissão vertical ocorre na fase intrauterina ● Resposta: D QUESTÃO 2 - Paciente em trabalho de parto em período expulsivo. Perguntado sobre o pré-natal ela responde que não fez nenhum acompanhamento e que é usuária de drogas ilícitas. Nesse momento como você deve proceder em relação ao risco de infecção pelo HIV: ● Resposta: solicitar teste rápido deHIV ○ (+) = COMEÇA TARV para a parturiente e iniciar profilaxia com AZT+NVP para o bebê quando nascer QUESTÃO 3- Sobre a abordagem diagnóstica da criança com suspeita de HIV assinale a alternativa correta: a. A sorologia do HIV é o método de escolha para triagem diagnóstica nos primeiros meses – não 18 meses b. A carga viral deve ser feita após o nascimento e repetida com 4 meses independente do resultado da primeira c. A sorologia pode ser falso positivo antes dos 18 meses de vida d. A carga viral colhida logo após o nascimento e sendo essa positiva pode ser indício que a transmissão foi intraparto ● Resposta: C
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