Buscar

Esquema da 2ª Fase do Procedimento Sumaríssimo

Prévia do material em texto

Esquema da 2ª Fase do Procedimento Sumaríssimo
Etapas do procedimento sumaríssimo (Fase Processual):
a) Oferecimento de denúncia ou queixa-crime oral: como vimos anteriormente, vencida a fase prevista nos arts. 69 a 76 da Lei 9.099/1995, sem que tenha sido possível a efetivação de transação penal (quer pelo não comparecimento do autor do fato à audiência preliminar, quer pelo descabimento da proposta de transação diante das peculiaridades do caso concreto, quer pela recusa à transação pelo autor da infração), será oferecida, em regra, na própria audiência preliminar, denúncia ou queixa-crime oral, conforme se trate, respectivamente, de crime de ação penal pública ou privada (art. 77, caput, e § 3.º). Pode acontecer de serem requeridas ao juiz, na audiência, diligências reputadas imprescindíveis para viabilidade da acusação. Nesse caso, interrompida a audiência para o cumprimento das providências solicitadas, não será necessário, depois, o aprazamento de nova audiência unicamente com a finalidade de ser oferecida a denúncia ou a queixa oral, podendo essas peças ser apresentadas por escrito. De mais a mais, a verdade é que é bastante comum, na praxe forense, em razão do número de audiências aprazadas para um mesmo dia, estabelecer o juiz a apresentação posterior da inicial, na forma escrita, não havendo aí qualquer irregularidade.
O fato de serem ofertadas oralmente não afasta a necessidade de observarem a denúncia e a queixa os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, sem o que serão elas ineptas e deverão ser rejeitadas (art. 395, I, do CPP).
Desnecessário, no momento do oferecimento da denúncia ou da queixa, exame de corpo de delito, bastando que o vestígio deixado pela infração esteja atestado por boletim médico ou prova equivalente (art. 77, § 1.º). Isso não quer dizer que esteja dispensado o mínimo de prova da materialidade. Esta, assim como os indícios de autoria e os indicativos de tipicidade da conduta, é que atribui justa causa ao recebimento da peça acusatória.
E vamos além para dizer que o boletim médico ou prova equivalente bastam, inclusive, para fins de prolação de sentença condenatória, não se exigindo, também nessa sede, formal exame de corpo de delito. Nesse sentido é a orientação de grande parte da jurisprudência, compreendendo-se que na justiça especial o rigor formal da lei processual ordinária deve ser abrandado, podendo-se prescindir do exame de corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente, sendo hábil para a condenação nos casos em que confortado por outros elementos de prova.
Outro aspecto a considerar é o de que a inicial acusatória é o momento oportuno para que sejam arroladas as testemunhas de acusação. Embora haja divergências quanto ao número de testemunhas facultadas para cada parte no rito sumaríssimo, já que a lei é silente, cremos que, por analogia ao rito comum sumário, será de cinco (excluindo-se as não compromissadas), desimportando se a hipótese em apuração é de crime ou de contravenção. Essa simetria se justifica em face do que dispõe o art. 538 do CPP, ao regrar que, encaminhada ao juízo comum infração de menor potencial ofensivo para que lá seja apurada (v.g., na hipótese do art. 66, parágrafo único, da Lei 9.099/1995), o procedimento adotado será o sumário, rito este que limita em cinco o máximo de testemunhas a serem arroladas.
b) Citação do acusado: se estiver presente o acusado à audiência em que oferecida a inicial acusatória, será ele imediatamente citado e cientificado da data da audiência de instrução e julgamento (também serão cientificados a respeito o Ministério Público, a vítima, o responsável civil e seus advogados). Caso ausente, ordenará o magistrado a sua citação pessoal, comunicando-o, outrossim, quanto à audiência de instrução e de que a esse ato deverá comparecer acompanhado de advogado bem como trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação no prazo de até cinco dias antes da data aprazada (§ 1.º). Reitere-se que não é possível a citação editalícia (art. 361 do CPP) ou por hora certa (art. 362 do CPP) em sede de Juizado Especial, razão pela qual, não sendo localizado o autor do fato, dispõe o parágrafo único do art. 66 da Lei 9.099/1995 devam os autos ser encaminhados ao juízo comum.
Quanto ao ofendido e às testemunhas que deseja arrolar, as intimações serão realizadas na forma prevista no art. 67 da Lei 9.099/1995, vale dizer, por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou de carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.
c) Audiência de instrução e julgamento: na data aprazada, se na audiência preliminar não houve a possibilidade de composição civil dos danos ou de oferecimento de proposta de transação penal (em razão da ausência do autor do fato àquela solenidade, por exemplo), o juiz, antes de iniciar o ato, deverá tentar essa conciliação (art. 79 da Lei 9.099/1995). Não obtendo êxito, dará sequência à audiência de instrução, procedendo aos seguintes atos:
• Facultará à defesa responder à acusação: trata-se da defesa prevista no art. 81, caput, da Lei 9.099/1995. Adotando-se o entendimento no sentido de que não são aplicáveis ao rito sumaríssimo os arts. 396 e 397 do CPP, é nessa defesa que poderá o defensor tratar das matérias referidas nos arts. 395 e 397 do Código, além de arguir preliminares, alegar tudo o que interessa à defesa, oferecer documentos e acostar justificações (art. 396-A do CPP).
De acordo com o art. 81 da Lei 9.099/1995, a resposta à acusação será realizada oralmente. Todavia, não é incomum trazê-la o defensor por escrito, requerendo seja acostada aos autos. É claro que, nesse caso, a aceitação pelo juiz da peça escrita condiciona-se a que se trate de alegações objetivas e passíveis de exame imediato, tanto por ele quanto pela parte autora (ao autor da ação penal releva conhecer as teses defensivas visando inquirir as testemunhas a respeito).
Constitui nulidade processual o recebimento da denúncia ou da queixa pelo juiz sem oportunizar, previamente, ao defensor responder à acusação. Afinal, o art. 81 da Lei 9.099/1995 determina, de forma expressa, que, ao abrir a audiência de instrução, o magistrado deve conceder a palavra ao defensor para resposta à acusação, somente após a qual poderá deliberar sobre o recebimento ou não da denúncia. Trata-se, na verdade, da primeira e única oportunidade na qual a defesa poderá falar nos autos antes do encerramento da instrução processual, já que, de acordo com os demais termos do referido dispositivo, na mesma audiência serão realizados os debates orais e proferida a sentença29.
• Rejeitará ou receberá: oferecida a resposta do acusado, o juiz, na mesma solenidade, poderá rejeitar liminarmente a peça acusatória, fundamentando-se em qualquer das situações previstas nos arts. 395 e 397 do CPP: falta de pressuposto processual ou de condição para o exercício da ação penal; falta de justa causa para o exercício da ação penal; existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo a inimputabilidade; atipicidade da conduta e ocorrência de causa extintiva da punibilidade. A decisão de rejeição pode ser atacada mediante a apelação a que alude o art. 82 da Lei 9.099/1995.
Se não concorrerem os motivos que ensejam a rejeição, deverá a inicial ser recebida, prosseguindo-se o rito. Discute-se a necessidade de fundamentação dessa decisão, já que existe a fase prévia de defesa em que podem ser alegadas, inclusive, questões relacionadas ao mérito. Embora haja segmento doutrinário vislumbrando a necessidade de motivação, a verdade é que, também nesses casos, os tribunais parecem orientar-se no sentido oposto, considerando prescindível fundamentação em tal pronunciamento em faceda ausência de carga decisória plena30. Concordamos com essa orientação, compreendendo que, independentemente do rito, o recebimento da denúncia ou da queixa, diversamente do que ocorre em relação à rejeição, constitui simples juízo de admissibilidade, não sendo momento próprio para que se aprofunde o juiz na análise das circunstâncias e das provas do fato.
• Procederá à inquirição da vítima e testemunhas, bem como interrogatório do acusado: entendendo-se que não se aplicam ao rito sumaríssimo os arts. 396 do CPP (resposta à acusação pós-recebimento da denúncia ou da queixa) e 397 do mesmo diploma (absolvição sumária pós-resposta à acusação), a próxima etapa do processo é a produção da prova oral requerida – oitiva das testemunhas. Perceba-se a incidência, aqui, do art. 81, § 1.º, à Lei 9.099/1995, dispondo que “todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias”.
As testemunhas de acusação deverão ser arroladas na denúncia ou na queixa, em conformidade com o disposto no art. 41, fine, do CPP. No que concerne às testemunhas de defesa deverão ser trazidas pelo réu na data aprazada para a audiência, ex vi do art. 78, § 1.º, da Lei 9.099/1995. No entanto, esse mesmo dispositivo estabelece que poderá a defesa apresentar requerimento para as intimações de suas testemunhas, conquanto que o faça no prazo de até cinco dias antes da realização da audiência.
As testemunhas poderão ser intimadas por meio de correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação (art. 78, § 5.º, c/c o art. 67, ambos da Lei 9.099/1995).
O art. 80 da Lei 9.099/1995 diz que nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer. E essa regra, logicamente, aplica-se à prova testemunhal.
Não fica vedada a expedição de carta precatória na esfera do JECRIM para oitiva de testemunha que se encontre no âmbito de Comarca diversa. Independentemente, tal providência é desnecessária nessa sede em razão do que dispõe o art. 65, § 2.º, da Lei 9.099/1995, no sentido de que “a prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação”, o que inclui fax e e-mail.
Ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, segue-se o interrogatório do acusado (art. 81 da Lei 9.099/1995).
• Debates orais: finalizados os atos de colheita da prova oral, o magistrado oportunizará às partes a realização de debates orais (art. 81, caput). Embora não haja previsão legal, na prática é comum a substituição desses debates por memoriais escritos, a serem apresentados em prazo assinalado pelo juiz.
• Sentença (arts. 81 e 82): realizados os debates orais, será proferida sentença em audiência. Essa decisão, até mesmo em razão da oralidade que informa esse procedimento, dispensa relatório (art. 81, § 3.º). Obviamente, a fundamentação plena é sempre necessária, pois se trata de exigência constitucional (art. 93, IX, da CF).
AVENA, Norberto. (2020). Processo Penal, 12th Edition. [[VitalSource Bookshelf version]].

Continue navegando