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1 2 HISTÓRIA DO BRASIL ESCRAVIDÃO / EDUCAÇÃO Canalização: Prof. Hélio Couto / Osho / Dra. Mabel Cristina Dias Dra. Mabel: Boa Tarde a todos. Obrigado pela presença. Hoje abordaremos dois temas muito importantes que dão sequência ao que começamos a tratar na última palestra: Rasgando o Véu - Descontruindo a Engenharia do Consentimento. A Engenharia do Consentimento é todo um plano traçado para haver consentimento da população para tudo que se faz, a fim de dominar as massas, e nisso estão incluídas, também, a Educação e a Escravidão. Nós achamos que a escravidão terminou, um passado vergonhoso que terminou há cento e trinta anos aqui no Brasil, mas isto não é verdade. O Brasil tem certo desconforto em falar sobre este tema. As pessoas negam, veementemente, que haja qualquer tipo de preconceito, qualquer tipo de discriminação racial neste país. Inclusive, a imagem que temos lá fora - isso desde a Abolição da Escravidão, desde a Proclamação da República - a imagem que passamos é de um país onde “tudo pode”. Aqui há toda uma diversidade de religiões e aceita-se tudo, todas as raças convivem bem, igualmente, e há oportunidade igual para todos. Vamos dissecar a escravidão e o que ela faz, seus ecos até os dias de hoje, que são origem e manutenção de toda a desigualdade socioeconômica entre as duas principais populações do país: os brancos ou caucasianos e os afrodescendentes. Faremos uma viagem com vocês a esse passado tenebroso, e que permanece até os dias de hoje. Na segunda parte conversarmos sobre Educação. A educação, a nosso ver, é o único bálsamo capaz de curar, aliviar as chagas abertas da escravidão até hoje neste país, e é também uma vacina para que episódios monstruosos como esse não voltem a se repetir. Como já foi dito aqui, a escravidão sempre existiu, e ela não acontece somente neste setor, mas nós somos escravos também. Qual é o tipo de escravidão que carregamos? E a Educação como uma maneira, o remédio, para curar tudo isso. O que estamos fazendo aqui, nestas palestras, o Hélio há alguns anos e eu, recentemente, é trazer um pouco da Educação, não uma Educação formal de 3 instrução, mas uma Educação diferente, para a Alma, para a Consciência. Vamos iniciar hoje com a Escravidão Colonial. Prof. Hélio: Tudo começou em 1400, colocarei os textos, por causa disso: Zona de Conforto. Quando a zona de conforto é de uma pessoa e a tragédia é só daquela pessoa, é um fator, mas quando é de um país inteiro, fica complicado. Como vamos resolver essa questão? Atrás de tudo, e isso vem há quanto tempo? 600 anos, 700, 1.000, 2.000, 5.000 anos? Porque a escravidão sempre houve, neste planeta, e sempre por causa dessa questão, porque as pessoas não querem evoluir, não querem trabalhar. Então, é preciso pôr alguém para fazer o trabalho, o que ficou conhecido em Economia como mais-valia, certo? A melhor maneira de ficar milionário é se apropriar da mais-valia dos demais e, se você puder ter 100% da mais-valia, Nossa! É o ideal. É espetacular! 0% de custo e 100% de mais-valia, isso gera a riqueza de qualquer um, de qualquer país. E vem, inevitavelmente, uma pergunta que será respondida, durante a palestra. Se nós tivemos 40% do tráfico de escravos, no mundo, vindo para o Brasil e talvez um percentual igual para os Estados Unidos, e o resto foi distribuído pelo mundo hispânico, por que existe esta diferença hoje? Isto é, o que os, eles, Estados Unidos, fizeram com a mais-valia para gerar o poder que eles possuem hoje? E o que nós, brasileiros, fizemos com esta mais-valia? É 40% para eles e praticamente, o mesmo número para nós. Quanta riqueza foi gerada por estes 40%? O que nós fizemos com ela e o que eles fizeram com a mais-valia dos negros que foram para a América? Isso já dá para vocês terem uma ideia, do tamanho do problema que nós brasileiros temos. Hoje há duas novas pessoas dando a palestra. Vocês, já sabem que esta palestra é canalizada duplamente. Hoje temos duas novas pessoas, e isto acontecerá periodicamente, uma alternância de pessoas para que muitas pessoas tenham oportunidade, se quiser, de transmitir a sua forma de ver. A mensagem é sempre a mesma, mas a forma de se ver, a personalidade, a forma de abordar as questões varia, como todos aqui têm as suas personalidades bem marcantes. É muito interessante que isto aconteça assim, porque vocês, também, podem interagir com várias personalidades diferentes tornando-se muito mais enriquecedor. No próximo final de semana, teremos mais dois workshops: “As Chaves de Nefertite”. E preciso fazer um adendo, neste assunto, para que fique bem claro. Quando um canal recebe um trabalho para fazer, vindo diretamente de cima, ele recebe conhecimentos, comandos que só ele possui para que possa desenvolver o trabalho e se evite a deturpação do mesmo. Porque sempre há seres, de todas as dimensões, que querem destruir o trabalho do Bem. Então, para que se possa proteger isto, o canal é exclusivo e têm comandos, 4 conhecimentos, habilidades, que foram transmitidos para ele, a fim de executar corretamente, sem que haja a interferência, de outras pessoas, que não avaliam corretamente a importância e a responsabilidade do trabalho. Estas pessoas podem ter visão estritamente comercial, achando que pode ser uma franquia ou, falando em termos populares, uma pirataria. Como isso no Brasil é muito comum, inevitavelmente, poderia acontecer com “As Chaves de Nefertite” e a Ressonância Harmônica. Antes que isto adquira proporções e o dano seja irreversível, que muitas pessoas comecem a falar lá fora e divulgar, seja lá onde for, que também recebem, canalizam e podem fazer tanto o trabalho “As Chaves de Nefertite” quanto o da Ressonância Harmônica, para que se evite isto é que hoje está sendo dado este aviso. Se, com o número mínimo de pessoas sabendo do trabalho “As Chaves de Nefertite”, no momento, já existe este perigo em andamento, então imaginem daqui a um ano, dois, cinco, com transmissão direta etc. Em breve, quantas pessoas haverá falando que são canais destes trabalhos? Na espiritualidade, existem diversos trabalhos prontos para serem desenvolvidos, aplicados aqui na nossa dimensão, na dimensão de vocês. Diversos trabalhos. Quem quiser, estiver disposto a trabalhar, a ajudar os irmãos na evolução, e só pensar com as pessoas responsáveis, que eles direcionarão para uma área em que essa pessoa esteja apta a executar. Portanto, realmente não há necessidade, para quem tem boa intenção de ajudar a espiritualidade, de copiar nenhum trabalho que esteja em andamento, porque o dano é enorme, não só para quem faz isso, mas para as pessoas que credulamente acreditarão que também fulano de tal faz. Não dá para passar em branco, já que chegou ao conhecimento do Hélio esse assunto, porque ficará documentada neste DVD a advertência: Não se deve piratear o trabalho da Ressonância Harmônica e “As Chaves de Nefertite”. Escravidão Em 1441, durante muito tempo, o infante Dom Henrique perseguiu a ideia de conseguir riquezas de uma maneira mais fácil. Ele enviava os navios, seguidamente, à África, para que vasculhassem tudo que pudessem e trouxessem riquezas para Portugal. Todo esse esforço deu os seus frutos. Em 1441 Gonçalves, o então navegador, aprisionou e conseguiu trazer seis dúzias de azenegues, da Costa do Saara. Imaginem a festa que foi quando essa nau chegou a Portugal, com a seis dúzias de negros. Foi como se Portugal tivesse ganho a Copa do Mundo, hoje. Imaginem uma festa gigantesca; todo mundo ficou exultante porque as portas da riqueza tinham se aberto para Portugal. Um manancial infinito de mão de obra escrava, à disposição deles. 5 O que Dom Henrique fez? Redobrou os esforços, os investimentos, para que novas expedições, mais navios, fossem procurar mais pessoas, porque finalmente tinha encontrado um “filão”, um lugar onde poderiam capturaressas pessoas. Em 1443 aprisionaram mais 29; mais festa ainda. Imagine qual nível de civilização a África estava em 1400. Invadem o seu lugar, a sua tribo, suas casas, e levam os melhores, a elite. Seria como, se hoje, tirássemos do Brasil os médicos, os engenheiros, os professores, toda a elite educada do país. Ficaria o quê? Ficariam quem não tem educação e os criminosos. As famílias desestruturadas. O caos, a barbárie. O resultado disso foi: A África voltou 1000 anos atrás e ficou pior, porque há 1500 anos havia uma estrutura social em andamento. Mas, quando se tira toda a capacidade intelectual e produtiva de um continente, ele não só volta 1000 anos atrás em termos econômicos, como volta milhares e milhares de anos para o nível de barbárie. Por que sobra quem? Os piores elementos; os mais fracos, os mais espertos etc. Depois de 500 anos, vocês podem assistir ao filme “Hotel Ruanda” e verem os resultados. É um filme de Hollywood, bem “dourado”, bem “romântico”. São 800.000 mortos a facão. Quem mata quem? Como é que se define uma etnia em Ruanda para saber que este é de uma raça e este é de outra? Sabem como? Como foi feito para se definir e separar dois grupos? Pegando-se uma régua e medindo o nariz. Quem tem nariz até um tanto de centímetros é de uma raça, quem tem o nariz maior é da outra raça. Isso é que é ciência! Em função disso, só poderia ter dado no que deu. Quando o cinegrafista, o diretor, resolveu fazer o filme, disse: “Vou filmar no mesmo local; é mais fácil, mais autêntico”. Levou todo o material - isso depois de anos do evento - e começou a filmar. Adivinhem o que aconteceu? A chacina começou novamente. Ele precisou parar a filmagem, sair do país e filmar na África do Sul. Isto é um pequeno exemplo. Se pesquisarem as notícias, verão que ocorrem chacinas étnicas o tempo inteiro. Os brancos não têm nenhuma responsabilidade sobre o que acontece em Ruanda, por exemplo? Parece que não, aquilo é um problema deles, “nós não temos nada a ver com isso”. É. Pois é. Mas, foram os brancos que fizeram e que criaram o problema social que gerou esse morticínio todo e continua. Porque, se não tivesse sido desestruturada a sociedade e tivesse sido respeitada cada tribo, cada etnia, em vez de se traçar uma fronteira num país e colocar três tribos inimigas dentro do mesmo espaço, não teria acontecido isso. Vocês veem que uma ação propaga o mal, século após século, tudo por causa da ganância, que começou em 1441. Tudo por causa da zona de conforto. Quantas pessoas têm aqui, neste auditório? Setenta pessoas, aproximadamente, devem estar meio a meio. Uma palestra divulgada no mailing - vai um e-mail para vocês; no mês da Consciência Negra, há um feriado agora, e quantos negros temos neste auditório? Um negro. Há setenta pessoas aqui e um negro que veio, é lógico, porque é meu cliente. Ele é cliente da Ressonância. Entre os não clientes, nenhum negro. Mulatos há três. 6 O problema acabou? Como a educação chegará até eles? Como poderá se resolver um problema desses, se uma palestra, específica, sobre a História da Escravidão no Brasil não atraiu nenhum afrodescendente que não faça Ressonância? É para vocês verem que, ainda, estamos muito longe de termos solução para isso. Dra. Mabel: O problema da escravidão no Brasil foi especialmente grande por uma série de motivos. O Brasil foi o maior país escravista do Novo Mundo. Recebeu cerca de três milhões e seiscentos mil escravos, sendo que 40% dos escravos que chegavam, com vida, à América vinham para o Brasil. O contingente de escravos era muito grande. Havia outra problemática, da qual temos uma ideia errada. Quem eram os donos de escravos? Vocês lembram-se da escola? Quem tinha escravo? Os senhores de engenho, os grandes fazendeiros? Na verdade, todos tinham escravos: os grandes proprietários, os senhores de engenho, o bispo, a viúva pobre, os artesãos, os mineradores. Todos tinham o seu escravo. Nunca foi contestado, eticamente, o trabalho servil neste país. Até 1870 nunca se cogitou, seriamente, em pensar e levantar a questão - se era justo, se era ético - porque todos tinham, não havia esta vergonha. A escravidão era consentida, lembrem-se da palestra passada. A escravidão era consentida, era um sinal de prestígio, de status e riqueza, portanto não era contestada. Depois de tudo isso foi criada uma ideia, neste país, de que tudo era permitido. Os senhores de engenho, por exemplo, justificavam o uso da mão de obra escrava alegando que o escravo tinha uma inferioridade racial, de que vamos falar dos motivos. A ideia dessa inferioridade racial era que fossem seres primitivos, que precisavam ser domesticados por meio do trabalho. Assim, fica muito bem justificado o uso da mão de obra escrava. Tudo isso, e mais o que será colocado aqui, vai gerar um conjunto final que ocasiona o pacto de silêncio que existe neste país, até os dias de hoje, a respeito da herança da escravidão, a qual atinge 45% da nossa população, que é a população afrodescendente. Prof. Hélio: Vocês viram que ela comentou da questão racial: “os negros são inferiores”. Esta postura de superioridade racial vem de muito longe, muito longe. Quando chega ao século XX, e ocorre todo aquele problema ariano, da raça superior, e só mera continuação dessa ideologia que já estava plantada, solidamente, há quanto tempo? 7 Vocês viram que, na outra palestra, um mês atrás, comentamos sobre uma pessoa, aqui da região, que disse o seguinte: “Deus não fez os pretos”. Isso foi dito aqui, agora, em 2011, na nossa região - é a opinião de uma pessoa. Pesquisando o assunto para esta palestra, descobrimos que a coisa vai mais longe. Cento e cinquenta anos atrás.: A pessoa que repete isso, em 2011, só está repetindo o que está sendo passado, de pai para filho e mãe para filho há cento e cinquenta, duzentos anos, ou mais, porque se dizia o seguinte: “Deus criou os brancos e o Diabo criou os pretos”. Era isso que se dizia durante a escravidão para se justificar, teologicamente, tratá-los como animais. Já sabem que havia uma enorme discussão, se por acaso eles teriam alma. Hoje os animais continuam sendo tratados como senão tivessem alma, e, portanto se pode fazer o que se quiser com eles. Agora, está na pauta da internet, de hoje, está havendo uma discussão sobre os métodos de produção do patê com os gansos. Vale qualquer coisa para se obter maior quantidade de patê. Não importa o sofrimento que irá se impor ao irmão ganso. Mudou o quê? É impressionante essa questão teológica, porque bispo tinha escravos, os padres tinham escravos, a igreja tinha escravos, a paróquia tinha escravos. Quando desciam os escravos em qualquer capital do Nordeste, vinha ao conhecimento da carga, medida em toneladas. Primeiro eram pessoas, depois passaram a ser chamados de peças da Índia e, depois, como o volume aumentou, já eram medidos em tonelagem. Cerca de dez a vinte escravos valiam um cavalo. Dependendo do cavalo, poderia ser comprado com dez a vinte escravos. Como uma sociedade cristã, Católica Apostólica Romana, tem a ideia de ter escravos? E na mente popular, como se justifica teologicamente uma situação dessas? No Gênesis está escrito que podia ter escravos. Os senhores de escravos buscavam nos livros, qualquer coisa que valide a escravidão, sem nenhum questionamento sobe o assunto. Mas como fica a consciência? Isso é ideologia passada. E a consciência das pessoas? Como os senhores de engenho, os capatazes e as sinhás moças, como era possível tratarem o escravo pior do que um animal? Havia uma ideia de que os mulatos machos fossem mortos ao nascer, porque davam trabalho, e era um problema, por não eram nem negros nem brancos. Então, não estavam inseridos em nenhuma sociedade, nem de um lado nem do outro. A ideia era que se exterminassem os machos ao nascer. As fêmeas deveriam ser mantidas, é lógico, para serem colocadas nas casas de diversão,nos prostíbulos com as mulatas. É como se existisse um criadouro - falavam dessa forma - um criadouro. Incentivavam para que as escravas ficassem grávidas, seguidamente, para gerar mais-valia, mais escravos. Porque entraram três milhões e quinhentos mil; e os que nasceram aqui? Escravo gera escravo. Então, esse número, se for multiplicado pelos nascimentos todos, é muito maior. 8 Agora, vejam bem a questão teológica. Quando coloca-se a divisão entre a pessoa e o Criador, a pessoa e Deus, quando se separa, cria-se a dualidade. É este tipo de resultado que se tem inevitavelmente, quando não se unifica com o Todo. Porque, se o Todo está em Tudo, você não pode fazer isto com mais ninguém, porque Deus está dentro deles, também. Mas, quando se cria uma dicotomia dessas, de que Deus tem um poder, e o Diabo outro poder, então fica de igual para igual? Então, existem dois poderes? Isso é o que está na raiz do problema, de como as pessoas podem agir da maneira como agiam com relação aos escravos. Os indígenas serão tema de outra palestra. É um capítulo à parte, também, o que foi feito com os índios, outro genocídio, e será outra palestra. Tem muito assunto sobre a História do Brasil. Dra. Mabel: Outra justificativa teológica para a diferença racial está na Bíblia: “Deus enegreceu a face de Caim quando este matou o seu irmão Abel”. Portanto, uma face negra significa perversão, maldade, pecado. Basta vocês perceberem a imagem que temos, no mundo inteiro, de Jesus Cristo. Qual é a imagem que foi passada para nós? Loiro, de olhos azuis. Isto é muito improvável. Vocês viram um desenho provável da face de Jesus? Está disponível, para todo mundo ver. Um indivíduo natural daquela região, naquela época, deveria ter aquela face. Mas isso foi mudado; vocês veem algum retrato de Jesus pintado daquela forma? Não. Mas o diabinho, como é que pintam? Um molequinho, pretinho, de chifres. Esta é a imagem corriqueira que se tem, qualquer criança conhece isso. Então, como é que uma raça - e falar em raça é muito estranho, porque raça vem da Zoologia; classificar os indivíduos em raça A, B ou C é um pouco perverso, vem da Zoologia – como uma raça pode ter autoestima? Como se cria a autoestima de uma criança, num país como este, onde ser negro significa mazela, onde a própria Igreja nunca questionou, nunca se levantou contra escravidão na época e, inclusive tinha escravos? E a ciência - outro pilar da humanidade - a ciência dizia o quê? Os iluministas, os filósofos e cientistas iluministas? Que, devido ao tamanho do crânio um pouco menor do negro, provavelmente, ele tinha um cérebro menor e menor inteligência, comparado com o branco. E que talvez, por ser a África ser muito quente, as condições climáticas adversas também, tenham perpetuado essa diferença, essa inferioridade. “Talvez os alimentos que eles comiam não fossem muito nutritivos.” Há tantas justificativas pseudocientíficas para essas diferenças. Imagine o pilar da ciência, o pilar da religião justificando essas diferenças. Não há como escapar disso, tudo ficou em aberto neste país, para que se tomassem as atitudes e as perversidades que foram realizadas aqui. 9 Então, vamos ver hoje, começando agora, uma ideia de qual é o limite da crueldade do ser humano. Como o ser humano consegue explorar e anular o seu semelhante. Prof. Hélio: Em 1444, já organizaram uma empresa para fazer o tráfico. Uma organização institucional, em que o Estado, às vezes o próprio Rei, era sócio do empreendimento. Sócio no negócio, já que era extremamente lucrativo. Foram novamente à África, matando e prendendo quanto podiam: 165 nativos na Ilha de Naar; na Ilha de Tider, mais 60; em Cabo Branco, 14 homens e uma mulher. Quando invadiam uma região, aprisionavam-se os melhores e matavam-se os demais. Vocês podem imaginar a cena: as mães agarradas aos filhos, desesperadas, e os invasores matando indiscriminadamente, separando as famílias. Quando levavam para os navios, era como gado; colocavam quatrocentas pessoas no porão do navio. Quatrocentas. Hoje, quando vocês andam de Jumbo - há Jumbo para quatrocentas pessoas - é desconfortável, a cadeira da classe econômica é apertada, há poucos banheiros, só se pode andar um pouco, precisa ficar sentado, assistindo ao filme com ar condicionado. É desconfortável fazer uma viagem de dez, doze horas; leva mais de um dia para chegar ao Japão, trinta horas para chegar a Okinawa. Agora, imaginem como deveria ser passar meses no mar, tratados como animais. Davam comida só para aqueles que achavam que iriam sobreviver. Quando o navio chegava aqui, contavam os cadáveres, havia cinquenta ou mais cadáveres no porão. Imaginem as condições sanitárias disso. “Em 1444 começou o tráfico efetivamente institucional. Por um cavalo, recebia- se de dez a vinte negros, conforme a qualidade. Entravam como reses, manadas, não se falava mais em pessoas, e sim em medida linear e volume em toneladas. Em 1509, Dom Manuel cria locais, no Brasil, para receber os criminosos de Castela - Espanha.” Então, vocês vejam que ideologia é esta. Zona de Conforto. “Precisamos de gente”. Traz os criminosos da Espanha para cá, isto é, Portugal, ainda Portugal. Porque no caso do Brasil, quando começaram a fazer o degredo a distribuir pelo mundo os criminosos, para o Brasil vinham os piores. Havia três níveis de criminosos: um, dois e três. O terceiro nível era o pior, o dos reincidentes etc., estes eram os enviados ao Brasil. É assim que foi formada a cultura que nós temos hoje. Então, é azar que hoje seja desta maneira que é aqui? Quando você inunda o país com aventureiros que vem só para enriquecer, isto é, os senhores de engenho; atrás deles, multidões de escravos tratados como animais, e para ajudar no controle dos escravos, índios e escravos negros, 10 precisa de um pessoal “bem capacitado, pessoal especializado com características ótimas de personalidade”, para fazer com que o animal trabalhe, porque ele se recusa. “Como eles se recusam? Que absurdo! Então, temos que educá-los.” E nada melhor do que trazer os piores elementos - os criminosos - para tomarem conta deles. Imaginem o amálgama que vai se criando, numa coletividade, numa nação, quando se selecionam “a dedo” os piores elementos para vir. É uma seleção das espécies “espetacular”. Não se traz o melhor, se traz o pior, o mais cruel. O mais desumano, o mais ladrão, o mais corrupto. “Em 1549 descem quatrocentos degredados na Bahia, criminosos pela terceira vez, o rebotalho.” Em 1549, quer dizer, cinquenta anos depois que chegaram aqui, já começaram a “despejar tudo que podiam”. “Em 1550 chegam os primeiros. Os escravos navegavam três ou quatro meses em condições atrozes. Desembarcavam.” Segue um testemunho ocular da história, de quando os negros desembarcavam: “À luz clara do sol dos trópicos aparecia uma coluna de esqueletos cheios de pústulas, com o ventre protuberante, as rótulas (joelhos) chagadas, a pele rasgada, comidos de bichos, com olhar parvo e esgazeado de idiotas.” E os que eles desciam dos navios. “Muitos não se tinham de pé, tropeçavam, caíam, e eram levados aos ombros, como fardos. Despejada a carga na praia, a fúnebre procissão partia a internar-se nas moitas da costa.” Colocavam os negros entrando no Brasil para irem aos engenhos. “Para aí começarem as peregrinações sertanejas e o Capitão voltando a bordo a limpar o porão, a limpar os restos, a quebra da carga que trouxeram; havia por vezes cinquenta ou mais cadáveres sobre quatrocentos escravos.” Quantos desses conseguiam sobreviver depois de uma jornada dessas? Assim que eles chegavam ao engenho, teriam que começar a produzir, depois dessa viagem. É evidente que eles se negavam, eles lutavam. Então, era preciso impor um condicionamento “pavloviano” para que se comportassem direitinho. Dra. Mabel: O que é ser um escravo? Um escravo é aquele indivíduo que não tem qualquerdireito onde vive. Não tem direito econômico, não pode receber pelo seu trabalho, não pode comprar nada. Não pode escolher. Não tem direito a acumular riquezas, porque ele também não ganha. Não pode acumular terra, e não tem direito nem mesmo a um nome. Não há direito civil, econômico, social, e jurisprudência nenhuma com o escravo. Então, o escravo era um objeto, era tratado como um semovente. Esse era o termo, usado para bens que se movem, como um boi, como um burro. Esses escravos é os que chegavam aqui para trabalhar. Olhem como eram tratados. Nas senzalas não podiam se comunicar uns com os outros, havia a Lei do Silêncio. Por quê? Os proprietários tinham medo de que se 11 perpetuassem as tradições, a cultura desses povos dentro das senzalas, e também tinham medo da fuga. Muitas fugas ocorreram e depois, um pouco mais à frente, houve a formação dos quilombos. Essa era a condição do escravo. E foi assim desde o começo, quando os portugueses chegaram aqui, até o final, até a abolição em 1888, tratados dessa maneira. Inclusive quando entrou em vigor uma Lei, forçada pela Inglaterra, que proibia o tráfego de negros pelo Atlântico. Como faziam? O comércio passou a ser ilegal, a Marinha inglesa, quando capturava um navio negreiro, levava-o para a costa, e a carga viva tinha que ser deportada, voltar ao seu país de origem, à sua terra de origem. Mas essa carga tinha que pagar pela viagem, e isso davam cerca de quatorze anos de trabalho para poder pagar a viagem de volta. Vocês têm uma ideia de que nem as leis, que foram promulgadas aqui, foram suficientes para defender esse povo? Todas elas tinham erros enormes e também não funcionavam para nada - veremos depois - eram atrozes, cruéis, até nisso. “Vamos fazê-los pagar a viagem de volta”. Prof. Hélio: Invadem a sua Terra, pegam você como um animal, matam a sua família. Colocam você num navio nas piores condições e, se tiver sorte, um navio inglês aprisiona o navio traficante. Mas o que fazem com você? Fica escravo, ou volta para casa. Mas, para voltar para casa, paga uma passagem módica de quatorze anos de trabalho. “Barato”, não é? A humanidade evoluiu bastante. Hoje, com setecentos dólares, mil e duzentos dólares, se vai e volta, atravessando o Atlântico. Se a partida for, lá, no Norte, é muito mais barato que isso; com cerca de três a cinco salários mínimos, você paga uma viagem para a Europa de avião, de ida e volta. Salário mínimo! Os escravos tinham que trabalhar quatorze anos para pagar a passagem. E isso era em relação aos que ajudavam, contra a escravidão, naquela hora, naquele momento. Porque, quando toda essa história começou, em 1400, na verdade todo mundo era a favor. É que depois a situação econômica de determinados países foi mudando, e então àquela mais-valia do escravo não era mais tão valiosa. Outros métodos de produção foram introduzidos – lembram-se da Revolução Industrial? - outra metodologia foi introduzida, e não se precisava mais do trabalho escravo em determinados locais e países. Criou-se um problema. “E se o concorrente comercial tem escravos? Ele tem uma mais-valia de 100%. Ele tem todo o trabalho de graça, não tem custo, e eu tenho uma indústria que tem algum custo de empregado.” Se vocês estudarem o início da Revolução Industrial, verão que, quando começaram a se instalar as fábricas, ninguém queria trabalhar nelas; os camponeses queriam ficar nos seus sítios e fazendas etc. Ninguém queria trabalhar, ser operário de fábrica, por volta de 1600. Como fazer? Foram falar 12 com os governantes, parlamentaram e concluíram tem um jeito. “Eles não querem vir para as cidades trabalhar nas fábricas; querem ficar na terra deles? Confisquem todas as terras.” Então, o rei ou rainha confiscava todas as terras; os trabalhadores eram expulsos do campo, e teriam que ir para onde? Expulsos do campo - tomaram a terrinha deles - iriam para onde? Vinham para as periferias das grandes cidades - as favelas - e trabalhavam nas fábricas dezesseis horas por dia; as crianças de 3, 4 anos junto com os adultos, não importa, todo mundo trabalhando. Assim, tinha-se outra mais-valia, também, interessante, não é? Outra característica, porque era uma mais-valia dos brancos, certo? Porque os próprios habitantes do país é que foram retirados das fazendas, vieram para serem operários etc. e agora havia a mais-valia dos brancos, que tinham que ganhar alguma coisa, porque, senão, de que maneira eles iriam comer? Se o escravo não come, é prejuízo. Eles tinham que comer alguma coisa, ganhavam um ínfimo salário, suficiente para comer e trabalhar. Então, havia uma despesa de mão-de-obra para manter aquela indústria funcionando. Porém, o concorrente, do Novo Mundo, continuava com os negros, que tinham 100% de mais-valia para o senhor do engenho. Como poderiam competir? As minas de ouro etc. Como fica o custo de produção, do sujeito que tem os brancos trabalhando, lá, na Europa, com mão de obra custando alguma coisa, e os negros custando nada aqui? É lógico que, com o passar do tempo, uma grande parte, todo mundo, na Europa, foi ficando contra a escravidão. Quando foi chegando 1700, 1800, todo mundo na Europa passou a ser contra a escravidão. “Nossa! Temos que parar o tráfico, combater o tráfico!” A Marinha vai atacar, vai aprisionar os navios, e os negros pagam quatorze anos para voltar, mas isso é outra história. Vamos parar o tráfico por quê? Porque é ruim para os negócios, está afetando a nossa produção, o nosso custo de produção. Por isso é que, depois de 200, 300 anos, houve uma mudança na opinião pública, que passou a ver o tráfego de escravos como um fator negativo. Pura razão econômica, nada mais que isso. Nada mais que isso, essa é a nua e crua realidade. No caso dos escravos, não havia qualquer limite para a duração do trabalho: estendia-se da aurora à noite, quinze ou mais horas, domingos e feriados. Nada de descanso semanal remunerado (DSR). Descanso apenas cinco dias por anos, cinco dias, nos dias santos, nos dias santos: Natal, sexta-feira santa... Cinco dias, em 365. Como eles sobreviviam? Muitos escravos se alimentavam de raízes, sorviam o azeite que iluminava as lamparinas. Antigamente não havia luz, e usava-se uma lamparina com azeite. O que o escravo fazia? Lambia a lamparina. Por isso os proprietários adicionaram um óleo nauseabundo e amargo, para que os negros não lambessem os candeeiros. “Azeite é muito caro!” 13 Observem que o sistema procura a “perfeição”. O ser humano é inteligente. Assim que foi detectado que os escravos se alimentavam do azeite da lamparina, recorreram à química, à ciência. Misturaram algo para o azeite tornar-se intragável. A mortalidade infantil nos partos era de 70 a 80%. Com 30 anos o escravo já estava inútil. Então, já que não produzia mais, ele era morto ou alforriado - davam a liberdade para ele. Davam uma cartinha, dizendo: “Você está demitido, pode ir embora. Então, não vai comer nem raiz aqui, rua!” Ele virava mendigo. Mendigo. Deslocava-se para a periferia. A história das favelas na periferia, isso é de longa data. Os alforriados iam para onde? Mendigavam. Havia inúmeros suicídios; cometiam crimes, roubavam. Então, este probleminha de segurança que nós temos vem de longa data. É assim que se cria essa problemática de segurança no país. Cria-se o criminoso. Porque, em uma população quantos por cento, patologicamente, seriam criminosos? Nasceram criminosos? Quantos? É um número ínfimo. Ínfimo, o normal; mas pode-se criar um meio, um entorno que faça isso crescer, indiscriminadamente. Agora, isso é por acaso? Dada à alforria, eles vão embora; vão assaltar, virar mendigos etc. Isso é mera consequência? Efeitos colaterais, como se fala? Não, ledo engano. Como você vai fazer – você, governante - fazer com que a camada branca média se comporte? Já pensaram nisso? É necessário controlar os escravos e os indígenas; isso está fácil. Mas começaa haver um crescimento dos brancos de classe média, pobres e classe média, que podem querer ousar, progredir, crescer, ganhar dinheiro, estudar, melhorar de vida. Existe o risco, existe. Como se faz para que essa população branca fique sob controle? Fácil, fácil. A mesma metodologia usada em cima dos escravos, do medo, da tortura, usa-se com os brancos, com o medo do crime. Cria-se uma sociedade insegura. Cria-se a insegurança, não se faz nada para resolver. Criam-se as piores situações sociais, para que a população, branca, tenha que encher a casa de grades, tenha que se armar, tenha que morar nos guetos de alto luxo, morar nos prédios com segurança, porteiros; tenha que gastar bilhões de dólares, como ocorre hoje, com segurança particular. Não pode sair, tem que blindar os carros etc., e assim você fica com essa camada branca média, totalmente, preocupada com a própria segurança. Então, as pessoas dessa camada não podem pensar em mais nada, porque estão, literalmente, apavorados. Não é de hoje, isso; é de muito antes. Essa história foi “bolada”, essa sociologia foi muito bem pensada há muito, muito tempo atrás. Assim, mantém- se todo mundo em seu devido lugar. E claro, os brancos sempre têm os seus privilégios, mas devem ser controlados. Como vocês viram na palestra passada, as populações não sabem decidir o que é melhor para si própria. “Nós precisamos decidir, porque eles não são 14 capazes de se autogovernarem. É uma manada.” Passam-se alguns anos, a ciência avança e surge a Psicanálise, que dá o embasamento científico para se fazer isso. Dra. Mabel: A abolição, neste país, não foi um ato de generosidade nem de consciência. Foi puro interesse, econômico e político. Este é um discurso da época: “E de que valeria dar aos negros direitos os quais não saberiam usar? Não é a liberdade que pode transformar o escravo em cidadão útil. Se os anos de cativeiro junto aos senhores, preocupados em transmitir aos seus escravos noções morais, não foram capazes de transformá-los, se nem os castigos corporais puderam fazê-lo, porque poderia a liberdade?” Este é um relato de um livro da época. Por que dar liberdade a eles? Mas dada a liberdade, e essa abolição foi totalmente desestruturada; não se deu aos negros a mínima chance de sobreviver. Uma vez libertos, tiveram que procurar um lugar para trabalhar, e o que existia eram as lavouras. Na época, pagava-se muito pouco, e eles começaram a migrar para as cidades, criando as primeiras favelas no Rio de Janeiro. Na região sudeste, o contingente de escravos libertos era o maior. Mas uma República nova, como a nossa, que foi totalmente pensada por senhores de engenhos que estavam “danados da vida” com a perda de seus escravos, qual foi a política da época? Bom, então vamos manchar um pouco mais a imagem do negro, que no fim das contas é a causa nossa mazela social, e vamos enaltecer o indígena. E o indígena, até hoje, é conhecido como o símbolo da brasilidade. Isso foi daquela época: “Vamos enaltecer o indígena e manchar um pouco mais a imagem do negro”. Existiam, como eu já disse, teorias pseudocientíficas que explicavam e embasavam toda a inferioridade atribuída ao negro, e daí se criou a ideia de eugenia, para qual “torcemos o nariz” hoje em dia, e achamos que é uma ideia perversa do nazismo. Mas isso, o berço, está aqui, a “raça pura”. A Mabel, que é de origem alemã, na infância, lá no Sul do país, ouviu do avô aquela ideia de que não podemos deixar acontecer a miscigenação. “O que será deste país se houver toda essa mistura de raças?” A mistura de raças era condenada pela ciência também. Dizia que deturpava toda a população. E essa seria a causa da derrocada da nossa nação? Vejam todas as condições para que os negros não sobrevivessem. Além disso, todos os que estavam na lavoura foram deslocados, por uma política que atrairia imigrantes europeus para o país. A elite brasileira desenvolveu e financiou, com recursos públicos, vários projetos de atração de imigrantes europeus. Achavam que era uma mão de obra mais especializada, para compor o fantástico ideal de embranquecimento nacional. Está aí a ideia de eugenia, de raça perfeita, de raça pura. Mais uma vez os negros foram deslocados e, sem trabalho algum, se marginalizaram nas favelas do Rio de Janeiro. 15 A ideia que se tinha na época e que se passava, era que o negro aguentou tudo isso calado. Não foi capaz de reagir. Ficou aquela ideia de passividade, de subserviência do negro, de não fazem nada por si. E houve muita resistência - não falaremos sobre isto hoje - mas houve muita resistência, guerras, muitos mortos, muitas tentativas de sociedades alternativas para eles, que funcionavam muito bem. E que não eram bem vistas também, política e economicamente. Além da ideologia que embarcava com tudo isso. Então, essa era a ideia que se passava do negro: que era servil e pacífico, que não brigava pela própria causa. Prof. Hélio: A maior parte dos negros que vieram para cá foi trazida de Angola, da Costa da África, onde os comerciantes tinham condição de chegar. Mas, nas regiões centrais, passaram a outras tribos a tarefa de capturarem outros africanos, seus inimigos. Isso gerou um comércio, um tráfico, dentro da África. Os próprios africanos capturavam seus inimigos para serem vendidos para o traficante branco, que ficava num entreposto comercial, na costa, só recebendo a carga aprisionada. Isso aconteceu muito, também dado às diferenças tribais que existiam entre eles. Projeção de textos: Os escravos recém-chegados, rebeldes, eram agrilhoados pelos pés no trabalho das caldeiras, acesas sete ou oito meses no ano, 24 horas por dia. Isso domava a maioria dos que chegavam. Aquele que desceu do navio, parvo, com ar de idiota, todo chagado etc., para ser domado era colocado nas caldeiras acesas. A temperatura era “amena, agradável”, certo? Caso o escravo não se comportasse direitinho, cometesse uma falta leve, um delito leve, como responder e não ter a devida educação ao falar com o capataz, algo assim, levavam-no ao tronco, pés e pescoço imobilizados durante dias, semanas e até meses, entre dois pedaços de madeira retangular, até ele se acalmar. Ou prendiam-lhe os pés e as mãos com um pequeno instrumento de ferro que ia sendo apertado, que o constrangia a uma posição incômoda, de consequências não raro deformantes. Ou fazia-se a aplicação na face deles de uma máscara de folha de flandres dotada de pequenos orifícios para respirar, e fechada na nuca com um cadeado. Conseguiam confissões, comprimindo-lhes os polegares com os anjinhos, dois anéis de ferros, cujo diâmetro ia sendo apertado com um parafuso. Depois disso, se continuassem resistentes, vinha o pelourinho, cinquenta ou mais açoites. Aos primeiros açoites a pele se desprendia do corpo, e o escravo não podia queixar-se, senão o castigo era dobrado. Em seguida derramava-se vinagre, água salgada ou pimenta sobre o corpo em carne viva, e o negro era encerrado em uma enxovia, quer dizer, lá em uma pocilga, para se recuperar, caso ele se recuperasse. 16 É preciso que a verdade nua e crua venha à tona, para não se pensar que as fazendas eram como uma colônia de férias. Isso mostra como se domina uma população de milhões e milhões de pessoas, e se faz com que eles fiquem quietos. Texto da época: “Depois de bem açoitado, o mandará picar com navalha ou faca que corte bem e dar-lhe-á com sal, suco de limão e urina e o meterá em alguns dias em uma corrente e, sendo fêmea, será açoitada a guisa de baiona dentro de casa, com o mesmo açoite, com a proibição de lhes bater com pau, pedra ou tijolo.” Quer dizer, as fêmeas têm que ser bem tratadas e não se pode bater nelas com pau, pedra ou tijolo. Hoje é preciso haver uma delegacia especial dos crimes contra a mulher. Por que hoje se espancam as mulheres? Isso vem de longa data. Se, depois de tudo isso, o escravo ainda parecia aptopara o trabalho, era colocado completamente nu, junto às caldeiras, onde recebiam no corpo as fagulhas e às vezes os chamuscos das labaredas, cujas horríveis queimaduras provocavam quase sempre a morte. Se, depois dos açoites, ficassem em muito mal estado, deixavam-nos morrer lentamente. Eram “caridosos”, certo? Deixavam morrer, lentamente. Nada de antecipar a morte, “a vida é sagrada”. A vida é sagrada, não se pode fazer nada contra a vida. Além disso, “a coisa melhora ainda”, o ser humano “busca a perfeição”. Castração, destruição dos dentes a marteladas, queimaduras com lacre quente, amputação de seios, vazamento dos olhos, marca na “cara” com ferros em brasa, emparedados (na parede) vivos, afogados, estrangulados, arremessados vivos a caldeiras ou passados na moenda. Acho que essa doença da vaca louca vem de mais longe do que hoje, certo? Porque passavam o sujeito na moenda, e o que faziam com a carne? Acho que davam para o gado, não? Que nada se perde, tudo se transforma, tem que se aproveitar. Vocês sabem que a doença da vaca louca surgiu depois que começaram a dar carne para as vacas comerem - já sabiam disso? - que acelera. Amputavam os seios as negras que não pariam com a esperada frequência, nos criatórios mantidos pelos senhores. Se as negras negavam-se a procriar a cada, digamos, dez meses, para que precisavam de seios? “Tirem”. Os feitores davam coices nas barrigas das escravas grávidas. Para impedir que fugissem, picavam os nervos dos pés para deixá-los cochos e impossibilitados de fugir. Então, corta-se o tendão e está “tranquilo”, que o escravo fica quietinho, só fazendo o seu serviço. Também havia o castigo de besuntar os corpos nus com mel, e suspendê-los por cordas em árvores para expô-los às picadas dos mosquitos. Diversidade. As senhoras do engenho torturavam, pessoalmente, as escravas, pingando lacre no rosto, marcando-lhes o seio com ferro em brasa, ou mutilando-lhes as partes 17 genitais. Qual era o pecado das negras? Serem mulheres. Vocês sabem, as mulheres atraem os homens. “Gozado”, nessa situação, os senhores de engenho e os capatazes, seus filhos e todos os parentes não tinham nenhum preconceito ou nojo de copular com as negras. Interessante. Me ocorre uma coisa: isso não poderia ser classificado como um coito de dois humanos; deveria ser classificado como sodomia, não é verdade? Porque sexo com animal, “não tem problema, ninguém vai condenar”. Se o senhor branco chegar às negras, ele não está tratando com uma mulher, um ser humano, mas com uma “besta de carga” de sexo feminino. E com uma vantagem, vai produzir novos escravos e mulatas para as casas de diversão, ainda dá lucro. E caso elas não cooperassem com o procedimento, eram cortadas, mutiladas etc. Mas vocês já sabem como é a questão dos relacionamentos afetivos, nos casamentos. É um assunto complicado. Então, à medida que os senhores brancos foram tendo muita predileção pelas negras, gerou conflito conjugal, certo? Por que as senhoras de engenho, as esposas, torturavam, pessoalmente, as negras, mutilando a parte genital, cortando os seios e pingando na face? Para que ficassem feias e impossibilitadas de fazer sexo com o seu marido, o senhor do engenho. Esta prática, de senhores de engenho e todos os brancos da fazenda se relacionando sexualmente com as negras, deu muito resultado. A estatística mostra que 46, 47% da população brasileira é não branca, isto é, formada de negros, mulatos etc., as variações genéticas todas. Quantos senhores de engenho havia? Eram sessenta a setenta engenhos em Pernambuco. Vá descendo, e encontra as Capitanias Hereditárias. Coloque um século, dois ou três séculos, e pense em quantos brancos havia aqui, nas fazendas, para que 100 ou 200 anos depois, tivéssemos 47% da população - metade da população de 190 milhões – formada de negros e/ou mulatos. Vocês estão vendo, aqui neste auditório, que há um negro e vários mulatos. Isso significa que o relacionamento dos senhores de engenho com as negras era muito comum, porque, de onde surgiram todos esses mulatos e todas essas mulatas? Desta miscigenação, ou chamaríamos – estupro? Cem, duzentos, quatrocentos anos depois, qualquer terapeuta que atenda como o Hélio atende, conversando, se depara dia após dia com todo tipo de trauma desse tipo, jazendo no inconsciente daquela pessoa, há séculos, séculos e séculos. Aquele trauma, causado por esse tipo de violência, fica marcado a ferro e fogo no inconsciente daquela pessoa. A pessoa volta, volta, volta e o problema persiste, persiste, persiste, persiste, e então precisa de não sei quantas análises, psicanálises, regressões, catarses etc. É infindável. Numa população de milhões, bilhões, sabe-se lá quando poderá limpar tudo isso, ocorrer à catarse de todas elas, para que voltem ao normal e possam começar a sua evolução. Porque no momento estão paralisadas, até hoje, 200, 300, 400 anos depois, ainda estão paralisadas, por causa desse tipo de atitude dos homens. Quando se faz uma coisa dessas, acha-se que é só naquela hora, mas a repercussão vai milênios à frente. Imaginem o carma que a pessoa que fez essa barbaridade passa a ter, e com quantas pessoas ele foi fazendo isso? 18 É por essa razão que, hoje, em 2011, em qualquer lugar do planeta terra, quando se toca no aspecto sexual, paralisa; é possível fatiar a energia do ambiente, de tão denso que fica. O tabu, o preconceito, em cima desse assunto é total e absurdo. Quando Reich tocou de leve na questão, foi encarcerado na penitenciária e morreu dois anos depois, porque ousou tocar no assunto sexualidade, pois não se pode tocar nesse assunto. Não se pode falar disso, porque esse assunto traz à tona tudo isso que foi feito. Então, como as pessoas estão vivas de novo - os que perpetraram essas atrocidades - não quer que se mexa nisso de jeito nenhum. Este é um assunto de que não se pode falar. Este assunto é o tabu, do tabu, do tabu. Este é um lado da questão; o outro lado são as pessoas que sofreram essas barbaridades. Elas, também, não querem que se toque nesse assunto. Então, aí, temos a receita perfeita para que, praticamente, nenhum relacionamento dê certo. Porque tanto o homem quanto a mulher entram em um relacionamento, um casamento, com este passado gravado a “ferro e fogo” no seu ser. Como irá funcionar a sexualidade em um casal depois de passar por isto? Como falar do assunto? Não vão querer nem sequer falar. É por isso, e vocês podem constatar, que quando se fala a palavra libido, gela. É por isso. Não é algo de cinquenta anos atrás; é de centenas, de milhares de anos atrás, de barbaridades deste tipo seguidamente feitas. Mas, se pode “melhorar”. Os holandeses resolveram invadir o norte do Brasil e pegar um pedacinho para eles. Tornou-se uma potência naval, a primeira do mundo, um império. “Vamos expandir os negócios.” Temos que fazer este povo continuar trabalhando, os negros. Os senhores de engenho, é lógico que, rapidamente, se entenderam com o novo governo. Era só trocar de um lado para o outro. Troca de sigla, de partido. “Quem manda agora”? Holandeses. “Desde criancinha sou holandês, ou a favor.” Os senhores de engenho falaram para os holandeses: “Temos um probleminha aqui de produção; precisamos fazer este povo se comportar direitinho.” Eles falaram: “Deixem com a gente”. “Crucifixão e morte lenta, suspensão em ganchos com feridas expostas ao sol calcinante, mutilações dos narizes, amputações de mãos, fraturas de ossos a marteladas.” Sempre se dá para “melhorar as coisas”, não é? Dra. Mabel: Podemos traçar um paralelo interessante, com o que está acontecendo na atualidade. Foi feito um estudo que verificou de 1990 até 2001, uma década recente, qual é o grau de evolução socioeconômica dos afrodescendentes. Quando eles foram libertos, buscaram rapidamente a instrução. A instrução seria uma maneira para essas pessoas terem condições melhores na sociedade. A educaçãopode ser este fator de inclusão social e de tornar as pessoas iguais, perante a lei. Só que não foi isto que aconteceu, neste país. Desde a República, 19 com toda essa teoria da eugenia, o terror à miscigenação, os governos foram, um após o outro, perpetuando a situação de marginalidade do negro no país. Não se tem ideia nem registro de quando eles puderam sentar-se junto com os brancos numa mesma sala de aula. Já era uma prática em alguns engenhos, em que alguns senhores permitiam que as crianças negras sentassem junto com as brancas para aprender, mas isso era uma raridade. Sempre há uma exceção a tudo, mas isso era uma raridade. Hoje em dia, qual é o panorama? Vamos fazer este paralelo aqui. A taxa de analfabetismo (projeção de slides) por raça e faixa etária, em 1992. Mostra taxa sempre maior entre os negros; pelo menos três vezes maior, principalmente nas faixas etárias superiores aos 60 anos ou mais. Dez anos após, melhorou alguma coisa? Melhorou para o país; depois da Ditadura a situação foi melhorando um pouco, mas só para os brancos. O padrão de distribuição do analfabetismo é o mesmo, três vezes maior entre os negros nas faixas mais jovens, de 15 a 24 anos. Como é possível um grupo de pessoas, que representa cerca de 46% da população de um país, conseguir se reerguer de toda essa tragédia com este panorama educacional? Este é um dos índices que mostraremos. Os governos são completamente omissos. Até recentemente, foram completamente pactuantes com esse problema do negro; silêncio total. Na ditadura de Vargas foi a mesma coisa, com o agravante do reforço da ideia da eugenia, que vinha da Alemanha: a raça perfeita, os brancos, ideia que foi se acentuando. Na ditadura militar, não se falava sobre isso, não existia. O Brasil era o país do futebol, como continua sendo, e se divulgava o estereótipo, o negro como bom jogador de futebol, como o dançarino, o sambista, aquele que tem a capacidade atlética melhor, porque tem uma musculatura diferente do branco. Então era mais uma explicação, pseudocientífica, para as diferenças entre as pessoas. Este é o panorama nacional: o negro é isso: um estereótipo, e ninguém percebe todo o preconceito e discriminação que vêm embutidos atrás dessas ideias. Prof. Hélio: Como já falei, à medida que economicamente a Revolução Industrial avançou, o negro como escravo passou a ser um problema de competição industrial entre os países. Até hoje a história é assim. Tem que sobretaxar etc. A Inglaterra – não é à toa que a Revolução Industrial começou lá - fez uma pressão brutal em cima do fim do trabalho escravo. Em 23 de novembro de 1826, Brasil e Inglaterra fizeram um acordo proibindo o tráfico de escravos. Sabem como é: papel, assinatura, tudo pró-forma. Os escravos continuaram entrando no Brasil, sem parar. Em 1842, entraram 17.000 novos escravos; em 1843, 19.000; em 1846, 50.000. Em 1847, 56.000; em 1848, 60.000; e, 1849, 54.000. Dados oficiais do Porto. 20 Durante todo este tempo, o governo inglês foi fazendo as suas gestões diplomáticas, instando para que o governo brasileiro, o Império, cumprisse o que tinha acordado, mas viu que era só conversa e que o tráfico continuava praticamente, abertamente, pois esses dados são do Porto do Rio de Janeiro. Em 1850, o Almirantado Britânico deu a ordem de reprimir o tráfico de qualquer maneira. De agosto de 1849 a maio de 1851, menos de um ano, foram tomadas, destruídas e condenadas noventa embarcações destinadas ao tráfico. Enquanto os ingleses não começaram a atirar nos navios, o tráfico não parou. Nesse período de alguns meses, destruíram noventa embarcações. A Marinha de Guerra inglesa, aqui nas costas, encontrava um navio negreiro e afundava. Então, só por um ato de força é que o processo começou diminuir um pouco. Nos livros de História, vocês veem que o tráfico de escravos no Brasil parou em 1850. Não é a verdade; continuou sem parar, mas, sabem, “por baixo do pano”, mais sutil, mais disfarçado, e as pressões continuaram, porque a mais-valia era a questão principal. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. O último. E só fez isso devido a uma extrema pressão internacional. É claro que as razões internacionais eram econômicas, mas o fato é que pressionavam, e em função dessa pressão foi assinada a Lei Áurea. Antes disso, houve a Lei do Ventre Livre. Quem nascia lá na fazenda, já era livre. Nessa época, inúmeras certidões de nascimento foram falsificadas, mudando as datas, para que a criança continuasse escrava. Poder determinar quando nasceu, depois da Lei ou antes da Lei, era um problema seriíssimo. Mas a lei era “benevolente”. A criança nascia e estava livre, para continuar na fazenda, até os 21 anos de idade, quando então seria entregue ao Estado. Deixava de ser escravo do senhor do engenho para ser escravo do Estado. Isso era a Lei do Ventre Livre, quem nascia não saía da fazenda; ficava lá, era livre, e quando fizesse 21 anos era entregue, para o Estado fazer o que quisesse. Quando foi finalmente proclamada a Abolição, houve diversos assassinatos por todo o Brasil. Matavam-se os abolicionistas como vingança. Houve uma desestruturação econômica naquela época, uma crise enorme, em função disso tudo. O que se fez, como represália? “Você está livre, “tchau”, rua, vá embora.” Então, o sujeito que tinha aquela parca situação da senzala e do alimento, era jogado na rua, com um: “Vá procurar a sua turma”. Aí engrossava o número dos mendigos e favelas nas cidades. O problema piorou, a situação do negro piorou depois da abolição. Quando começou a imigração europeia e japonesa para o Brasil? Pouquíssimos anos depois da Lei Áurea. Por quê? Qual foi a jogada? “Jogam-se os negros na rua, mas precisamos resolver o problema da mais-valia; então vamos importar uns europeus, uns asiáticos para fazer o mesmo trabalho.” Esse é outro tema interessante para darmos continuidade; analisar o início da imigração europeia e japonesa no Brasil, e ver quais eram as condições reais nas fazendas onde esses imigrantes foram trabalhar. Como a Revolução 21 Industrial já estava em andamento há 200 anos, a ideia era essa: “Você deve se livrar da mais-valia que precisa comer”. Porque os negros já tinham se multiplicado, tinham tido muitos filhos, muitas crianças; e também ficavam velhos, muitos já eram improdutivos. “Despede-se esse povo todo, e vamos trazer uns trabalhadores especializados, da Itália, da Alemanha, da Espanha, do Japão, prioritariamente.” Mas, vamos deixar entrar só uma quantidade x deles, apenas para suprir a mais-valia dos negros. Só para isso. Nada mais. Por que se parou a imigração? Por que não se permitiu continuar a vir essa mão de obra especializada que já trabalhava nas indústrias etc.? Não havia razão econômica para parar a imigração, pois era altamente vantajosa. Mais uma vez, traiu-se o Brasil. Além de criar o problema nas favelas, se trouxe só o suficiente para suprir a falta nas fazendas, e impediu-se o progresso do Brasil. Mais uma vez isso foi feito de propósito, só para manter o “status quo”, em 1900. Entenderam? Por que não era para miscigenar, não estava aberto? Deixassem vir todo aquele povo que tinha capacidade intelectual, industrial etc. “Vamos transformar o Brasil em uma potência?” Não, nem pensar, está muito bem do jeito que está. Não se mexe em nada. Só se trazem pessoas para substituir os escravos, e fim. E colocam essas pessoas nas mesmas condições que os escravos estavam. Dra. Mabel: Estávamos falando em grau de escolaridade, de instrução, dos afrodescendentes aqui e agora, na década de 90. Lembram-se da diferença de escolaridade entre os brancos e os afrodescendentes? Isso se acentua ainda mais, no nível universitário. No nível superior, a diferença é brutal: apenas 2 a 2,5% dos afrodescendentes conseguem atingir 15 ou 16 anos de escolaridade, que é a média de anos para se cursar uma faculdade completa.Em comparação, entre os brancos, 10% atingem essa média. Então, a diferença é cinco vezes. O afrodescendente, não tendo acesso às universidades, também não terá acesso às profissões mais prestigiadas, a empregos com melhor remuneração, a cargos de comando, tanto públicos quanto privados, e às decisões do país. E nem mesmo, por exemplo, acesso à ciência e às humanidades, que exigem a educação formal. A diferença fica muito “gritante” nesta faixa. Como podem ganhar terreno em cima disso? Para vocês terem uma ideia, esse índice de 2,5% de negros atingindo a universidade, completando a universidade, esse mesmo índice foi atingido nos Estados Unidos em 1947, em plena era da segregação racial, em que a violência era aberta, e a discriminação era brutal. Já naquela época o índice era o mesmo. O mesmo índice que atingiu a África do Sul em 1995, um ano após o fim do regime do apartheid. Que situação é essa no Brasil, por que no Brasil foi tão pior? Outros países que tiveram situações semelhantes conseguiram que suas populações negras se reequilibrassem mais rapidamente do que o Brasil. País onde “tudo pode”, onde há uma aberta democracia racial. 22 Vejam como fica difícil de recuperar. Por isso era preciso importar mão-de-obra especializada. Mas quem vinha para cá? Era elite, por acaso? Eram os que tinham o maior nível de escolaridade? Por que não favorecer a instrução do grupo que já estava aqui? Isso não é favorável. Quanto ao índice: renda. A renda do afrodescendente é sempre menor que a do branco. A renda não chega à metade da renda dos brancos. E isso fica ainda pior, quando se trata da mulher negra em relação ao homem negro. A taxa de desemprego é outro fator (projeção de slides). O estudo é de 1992 a 2001 e a taxa de desemprego é: homens brancos, 6; homens negros, 8; mulheres brancas, 10; mulheres negras, 13. Há dupla discriminação, por ser negra e mulher. Melhorou algo depois da abolição? Por que a renda deles é diferente, é menor? Vocês vão dizer que é porque eles têm menos nível de escolaridade? Agora, se estudarmos aquelas profissões, ocupações, onde não é exigido grande nível de escolaridade, a situação continua acontecendo. Olhem o absurdo! (projeção de slides). Serviço doméstico, empregados domésticos, brancos e negros, existe diferença. O negro, sempre, ganha menos. No serviço doméstico, na agricultura, mesmo trabalhando por conta própria. Como se explica isso? E todos os empregos informais (sem carteira assinada). O que explica essa diferença? Nas Universidades, praticamente não se veem os afrodescendentes. Quando eu fiz faculdade, na década de 80, não havia um negro entre 600 alunos de medicina; nem alunos, nem professores. No censo atual na USP – Faculdade de Letras e Filosofia, entre 550 funcionários, há dois professores negros: um brasileiro e outro do Zaire. Como é que se explica isso? Numa faculdade de humanidades. Mesmo no serviço público, onde não pode haver essa diferença, ela existe. Então, mesmo todos tendo o mesmo nível de escolaridade, no serviço público - não é privado - vocês verão que o negro tem uma renda menor. A discriminação racial é totalmente velada. Os índices estão aí, para serem estudados. Prof. Hélio: A mais-valia gerada pela escravidão foi enorme! Chegaram de 3,5 a 3,6 milhões de escravos, e muitos outros nasceram aqui, em 300 anos. O que se fez com essa mais-valia? Com o mesmo tipo de trabalho - mais-valia gerada por escravos - olhem o que é a América hoje! Na América, a última pesquisa mostra que de 18 a 20% ou 22% são negros. Aqui são 46 a 47%. Com 22% de mais-valia, olhem o que eles fizeram em termos de crescimento, desenvolvimento econômico; é só olhar esse lado da questão. O que nós, brasileiros, fizemos com a renda que os escravos geravam? E o que os americanos fizeram? Vocês já sabem: capital atrai capital, dinheiro atrai dinheiro. A mais-valia deles gerou essa potência econômica. Porque 100 anos depois da sua independência, já eram uma potência mundial; não eram a única ainda, mas já era uma 23 potência. E tiveram ainda um milhão de mortos na guerra civil, para poder libertar os negros. Mas mesmo com todas essas perdas, o capital já estava criado. Quando se fez a abolição na América, não afetou a indústria, o comércio, o poderio, porque o capital já havia sido criado; então era só multiplicar. Já existia uma massa financeira gigantesca que poderia garantir o futuro deles. Lá havia algodão, nós tínhamos a cana; o açúcar era extremamente valioso no mercado internacional. O que fazíamos? Pegávamos toda a riqueza que era gerada e mandávamos para Portugal, para a Coroa. E o que a Coroa fazia? Dilapidava toda essa riqueza em presentes, na nobreza, dilapidava tudo. Todo o dinheiro que entrava era mal gasto e virava nada. Virava pó. Nem sequer tinham o bom senso de poupar o dinheiro que estava vindo. E depois ainda, houve o ouro, as pedras e todos os tipos de riqueza embarcando, embarcando. Com custo de produção baixíssimo, pois era 100% mão-de-obra escrava. Se tivessem guardado uma minúscula parte disso, imaginem o que seria hoje Portugal! Entendem o tamanho da tragédia que isso representa? E a Lei de Causa e Efeito em andamento? Pensem nisso. Toda a riqueza ganha com o sofrimento descomunal daquelas pessoas. Serviu para quê? Então, a pessoa não quer trabalhar e coloca os outros como escravos e “torra” tudo que ganha. Como vive uma pessoa dessas, para ter este tipo de mentalidade? Vive sem fazer nada, considera trabalhar algo estranho, doentio. Nobre não trabalha, e não se fala em dinheiro também. Até hoje, até hoje, nenhum nobre que se preze trabalha. E entre eles não é permitido falar de renda, de nada disso; são coisas deprimentes, da plebe, do povo, da massa. Falar de renda, dinheiro, “quanto você ganha, quanto você paga”, que coisa horrível! Entre eles não se fala nesse assunto. Sua vida era só diletantismo. E para manter o diletantismo, as férias eternas, gastava-se, gastava-se e gastava-se, e distribuíam presentes para garantir as benesses de todos os tipos. Porque os reis de Portugal mandavam diversos presentes para Roma, para o Papa. E o Papa emitia as bulas papais sacramentando o tráfico. O que o povo poderia pensar? Se o próprio Papa emitia uma bula dizendo que ter escravos estava dentro da ordem e justiça divina, ninguém questionava. Ninguém questionava. Igual a hoje, ninguém questionava. A riqueza que entrava em Portugal era dilapidada e na Espanha era a mesma coisa, certo? E a Espanha tinha todo o mundo hispânico: América Central, Bahamas, Peru, Venezuela, toda a costa do Pacífico. Imaginem o que não foi levado de riquezas do Peru para lá, de ouro! Vejam vocês. Tudo isso levou a quê? Vejam a situação em que esses países estão hoje, a serem socorridos pelo FMI, pelo Banco Central Europeu, pelos outros países, todo mundo tem que dar uma ajuda! E, por incrível que pareça, surge a brilhante ideia de que os países emergentes devem pôr dinheiro para bancar a crise que eles criaram, isto é, o Brasil deve pôr dinheiro para sustentar tudo aquilo que os bancos fizeram durante essa “bolha”, todos esses anos, os gerentes, tudo aquilo que levaram, os bônus. E agora os brasileiros, os indianos, os emergentes devem dar uma ajuda. 24 Aqui, quando se sobe num avião e olha para baixo, se vê um mar de favelas. O Centro de São Paulo, Morumbi, Lapa, que são bem pequenos e, a perder de vista, favelas. Seria altamente instrutivo publicar umas fotos de satélite de uma determinada altura, para ver o mar de favelas que existe em volta de todas as capitais do Brasil, mas isto não existe. São Paulo é a Avenida Paulista, os Jardins, o resto não importa. Alguns anos atrás, dez, quinze anos, o Hélio pensou assim: “Eu vou pegar o conhecimento desse processo de desenvolvimento, prosperidade e tudo mais, e vou passar para a comunidade negra, sem custo, para poder ajudar, contribuir”. Como é que se pode entrar nacomunidade para poder conversar? Porque, depois de todo esse drama no Brasil desde 1880, surgiu outro problema, tão complicado quanto, que é o preconceito dos negros contra os brancos. É lógico, defesa de classe, de raça. Tanto fizeram, que se “fecha” - nós contra eles. Esse é o subproduto da exploração, de toda essa história. Como é que o Hélio pode conversar com eles? Como o Hélio dizia, naquela época, ele tinha um problema de pele: era muito branco. Como fazer para interagir com eles? Como chegar lá dentro? O que o Hélio fez? Arrumou duas amigas promotoras do seu trabalho, que vendiam, divulgavam etc., uma totalmente branca e outra totalmente negra, os opostos, e que eram amigas. As duas passaram a vender e divulgar o trabalho do Hélio. O Hélio falou: “Eu quero falar na comunidade negra”. “Vamos lá, que eu vou com você.” Então, eu fui bem acompanhado, e entrei em uma comunidade. “Quero passar o conhecimento, vou dar palestras, palestras e palestras, somente isso.” O presidente naquele momento falou: “Tudo bem”. Liberou o anfiteatro, que comportava setenta pessoas, e durante as tarde o Hélio fazia as palestras. Havia setenta mulheres negras. Um sucesso total. O ano passou e houve troca de presidência. Sabem como é política. A cada quatro anos, troca-se tudo, às vezes; e foi trocado o presidente. Era preciso novamente negociar; foram conversar com o novo presidente, porque caso contrário, não se entrava para dar as palestras. Ao entrar na sala do novo presidente, vimos à direita um pôster enorme, de 60 cm, de Martin Luther King cumprimentando Malcolm X, na única vez que eles se encontraram. Se vocês procurarem no Google, é fácil encontrar esse pôster e está até à venda. A única vez que Malcolm X e Martin Luther King se encontraram. O pôster estava, lá, na parede do presidente. Supõe-se seja uma pessoa firme, alguém que coloca o pôster do Malcolm X. Do Martin Luther King, tudo bem; depois que ele foi embora, pode ter mausoléu, pode ter o seu dia. Depois que está bem enterrado, bem mortinho, pode haver inúmeras homenagens. Mas com o Malcolm X é um problema, já é bem complicado. Mas o presidente tinha o pôster dos dois. Quando o Hélio olhou aquilo, pensou: “Bem, não haverá problema nenhum, porque quem é capaz de colocar um pôster desses na parede é porque vai lutar pela comunidade, vai querer o progresso, defender os interesses etc.”. O Hélio explicou a proposta de trabalho e a resposta foi: “Não”. A porta se fechou imediatamente, nunca mais foi possível dar uma palestra para eles, nunca mais. Moral da História: É uma fachada. Esse “papo furado” de colocar 25 pôster do Martin Luther King com o Malcolm X é política, é da “boca para fora”, é só mise-en-scène, como se fala. Quando se fala em fazer, a respostas é “não”. Como a maioria das pessoas não toma uma atitude diante disso? A população não tem ideia do quanto o sistema é fechado, de quanto o sistema se autoperpetua, de quanto impede que o conhecimento seja passado. Só quando você vai até eles e propõe fazer um trabalho, é que vê a negação na hora. Isso com certeza é uma raridade absoluta, e o sujeito tomou um susto. “Mas o quê? Passar conhecimento?” Isto é um palavrão “que não tem tamanho”. O Hélio é meio teimoso. Ele foi a uma favela, pois lhe falaram que havia uma senhora muito batalhadora, firme na atitude de ajudar, fazer e acontecer. Ele conversou com ela, e ela concordou. Marcou às 15 horas na favela. “Pode ir lá que eu vou deixar o senhor falar.” Às 14h30 o Hélio estava na favela, no barracão. Havia umas setenta mulheres miseráveis, uma cena horripilante. A senhora chefe da instituição virou e disse assim: “Não vai dar para o senhor falar.” E o Hélio: “Mas como?” “Elas não vão entender o que o senhor fala.” - até hoje eu ouço esta história - o Hélio respondeu: “Não tem problema, vou trocar de vocabulário, vou falar de um jeito que elas entendam.” “Não, não pode.” Só restou pegar a mala e sair andando, e eu fui embora. Não me deixou falar. Mas existem instituições que, vocês sabem, controlam a favela. O que o Hélio fez? Foi falar com a instituição. Já que não dá para falar lá dentro, vamos ver algo perifericamente, onde haja possibilidade de falar. Você não vai estar no meio, vai dar aula fora; existem prédios, tudo, toda a infraestrutura para se dar curso. O Hélio conhecia uma pessoa de dentro dessa comunidade, que o levou até lá, e fizeram uma reunião. Perguntaram: “Qual é a sua proposta?” O Hélio colocou: “Quero passar conhecimentos de Neurolinguística e Informática.” Duas coisas diferentes, porque o Hélio trabalhava com Informática. Adivinhem. “Não pode.” É sempre assim. Você pode “bater” nas mais diversas organizações, instituições, o que for, que não poderá passar conhecimento para eles. Vocês entendem que isso é ideológico, é sociológico? E o pior, as pessoas do nível classe média e que fazem isso. São pessoas que introjetaram a dominação, e pensam igualzinho ao poderoso senhor e acham que pensam por si mesmos; esta é a questão. O melhor escravo é aquele que nem pensa que é escravo, nem percebe que é. O melhor tigre não é aquele que pula no fogo, atravessa o aro, quando o domador entra na jaula e bate o chicote. O melhor tigre é aquele que não precisa de chicote, pula, não precisa de chicote, não precisa de mais nada. Está tão introjetado, está tão incorporado à dominação, que é o servo perfeito. São esses tipos de servos que têm os cargos dominantes, porque, quando você prova que é um bom escravo, passa a ter umas benesses. Tudo isso é muito bem pensado. 26 Dra. Mabel: Vamos encerrar com mais dois índices. Taxa de Informalidade no Emprego (sem carteira assinada). Homens brancos e mulheres brancas, aqui a taxa se inverte, é menor entre os brancos. Homens negros e mulheres negras há a dupla discriminação. E falando sobre negros e obesos, vemos que acontece a mesma coisa, a dupla discriminação. Ser obeso também é um problema. Os negros correspondiam a 45% da população brasileira em 2001. Dentre a população considerada pobre, 60% são de afrodescendentes e, dentre a população indigente, o índice sobe para 66%. Entre 1992 e 2001, o número absoluto de pobres se reduziu em 5 milhões de pessoas, apenas entre brancos e outras raças. Entre os negros, esse número cresceu em quase 500.000. Então, as melhorias nacionais que temos visto nos últimos anos foram para os brancos e outras raças. Houve uma experiência na cidade de Bauru, recentemente. Pediu-se, numa classe de crianças entre 7 e 8 anos, a maioria negros, que desenhassem a si mesmos. “Façam um autorretrato; como vocês se enxergam?” Alguns exemplos das respostas: crianças negras retrataram a si mesmas de cabelos compridos, ou seja, elas se enxergavam assim, loiras, de olhos azuis, cabelo comprido e liso. Tinham embaixo um menino branquinho de cabelo liso. Isso é a autoimagem criada desde a época da escravidão. Melhorou alguma coisa? Está melhorando algo, nos últimos anos? Não. Prof. Hélio: (projeção de slides) José Bonifácio de Andrada e Silva disse: “Riquezas e mais riquezas gritam os nossos pseudoestadistas, os nossos vendedores e compradores de carne humana, os nossos sabujos eclesiásticos, os nossos magistrados, se é que se pode dar um tão honroso título a estas almas que a maior parte são venais e impõem a vara da justiça para oprimir os desgraçados que não podem satisfazer a sua cobiça ou melhorar a sua sorte.” E então, senhores, como pode grelar a justiça e a virtude, e florescerem os bons costumes entre nós? Quando me emprego nestas tristes considerações, quase que perco de todo as esperanças de ver o nosso Brasil um dia regenerado e feliz, pois que se me antolha que a ordem das vicissitudes está de todo invertida no Brasil. O luxo e a corrupção nasceram entre nós antes da civilização e da indústria.” Ele disse tudo: o luxo e a corrupção nasceram antes de tudo aqui, as pessoas que vieram para cá eram luxoe corrupção, e se perpetuaram, porque, é lógico, o poder se perpetua. Se tirarmos qualquer informação sobre a data, esta descrição confere com a realidade brasileira de hoje? Pois é. 27 Mas nem tudo é mau e está perdido. Vejam este trecho escrito por Hegel - A Dialética do Amo e do Escravo. “O escravo é aquele que não foi até o fim na luta, aquele que não quis arriscar a vida, aquele que não adotou o princípio de ‘Amos, Vencer ou Morrer’, aceitou a vida escolhida por outro, por isso depende deste outro. Preferiu a escravidão à morte; é por essa razão que, permanecendo com vida, vive como escravo.” O escravo não quis ser escravo; tornou-se escravo porque não quis arriscar a vida. Daí a advertência perene: o Amo não é Amo, senão pelo fato de que possui um escravo que o reconhece como tal. Essa é a questão. “Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” Lucas 9:24. “Quem achar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” Mateus 10:39. “Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” Marcos 8:35. “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” Mateus 16:25. É o mesmo problema, o mesmo problema. Só que este é válido para todos os seres humanos: brancos, negros, vermelhos, amarelos, não importa. O problema persiste, o escravo era escravo porque não quis lutar. Ele preferiu ter vida de escravo a lutar. A adversidade provoca maior crescimento, é por isso que existem cores diferentes, em termos de pele. Quanto maior a informação, quanto maior a diversidade, maior o crescimento do todo. Esta é a ideia perniciosa: “Poderíamos ter um Universo inteirinho de brancos de olhos azuis.” Por que existe uma diversidade de quatro cores num planeta? Para ir se acostumando a que, entre os humanos, a diversidade de formato é muito grande. O que vale é a consciência. O formato cabeça, tronco e membros pode variar de várias maneiras ou pode nem haver formato humano, mas o que importa é haver um ser consciente. O Criador tem infinitas possibilidades de criar, da maneira que quiser, para o Seu crescimento próprio. Então, cria-se esta diversidade toda para o próprio crescimento, e também para o das criaturas. Agora, se num planeta em que as pessoas têm quatro cores já se gera esse conflito, imaginem se for preciso interagir com alguém de formato físico diferente, consciente, inteligente, e mais inteligente ainda. Como se faz? Este é o problema. Isso está atrasando a evolução de uma maneira brutal, porque se não consegue sobreviver com quatro cores diferentes. Como nós vamos interagir com formatos diferentes? 28 É por isso que no Star Wars, por exemplo, Jorge Lucas teve a intuição de colocar todos aqueles espécimes extras, dos mais esdrúxulos, para que as pessoas fossem se acostumando a que consciência não é uma qualidade só da espécie humana. Por que no Continente Africano houve esta problemática da escravidão? Porque algumas nações resolvem com mais “perfeição” ser o “lobo do próprio homem”. Por que determinados países gastam fortunas incalculáveis para desenvolverem todo o tipo de armamento, sendo que os gastos de um dia resolveriam todos os problemas de analfabetismo, de doença, de moradia? Vocês já imaginaram isso? Por que determinados países resolveram investir em suas forças armadas? A Holanda, por exemplo, naquela época tinha 15.000 navios, a maior Marinha. Mas “dormiram no ponto” e então logo a Inglaterra tinha a maior Marinha, gigantesca. A Marinha de Portugal e a da Espanha, perto da Marinha da Inglaterra, eram literalmente nada. Perceberam por que queriam poder, para quê? Para poderem explorar os demais melhor. O povo Africano, que estava lá, “feliz da vida”, parado no tempo, dançando, comendo, feliz, evoluindo à sua maneira, é claro que era uma presa fácil. Outros países desenvolvem armas; quem não desenvolve se torna uma presa fácil. Hoje a situação se perpetua: só três, quatro, cinco países podem ter enriquecimento de urânio; o resto não pode. “Nós chegamos antes e agora perpetuamos a nossa dominação, porque ninguém mais pode.” E a maioria, o que faz? “Sim, senhor, sim, senhor.” Não é verdade? O conhecimento só pode ficar com esse núcleo, que é o mesmo que está no poder, no mínimo, de 600 a 700 anos. Se um país não quer comercializar, é bombardeado. O Japão não queria abrir para o comércio externo, em 1850. O que fizeram? Como, geralmente as cidades importantes estão na costa, a ordem foi: “Bombardeiem todo mundo! Vão fazer negócio conosco ou não?” “Não!” “Então bombardeamos!” “Parem o bombardeio, vamos fazer negócio.” No mundo inteiro é deste jeito: você não faz o que quer; tem que fazer o que eles querem. O problema, como eu já havia dito, é maior do que este. O fato do escravo não lutar, mostra uma problemática subjacente, que permanece. Só que todos nós estamos inseridos neste mesmo problema. Hoje o ser humano faz como sempre fez. Zona de Conforto. O que ele acha que acontece consigo mesmo, aqui, agora e depois, ficando na zona de conforto e não fazendo nada para o progresso nem de si próprio nem dos irmãos? Por isso que o assunto morte é um tabu total, não se pode falar de morte. Nunca. Por isso que, nos velórios, o que menos se fala é disso. O mínimo possível, e quando se toca no assunto, a expressão é “foi para o descanso eterno”. Não evolui, não cresce, não acontece nada. Descanso eterno. E como 29 está o jogo de futebol? E a festa, e as férias? Você passou ou não passou? E o próximo final de semana, para onde iremos? É extremamente instrutivo ir a velórios. Extremamente; deveríamos ir periodicamente a velórios de estranhos. Porque você poderia fazer uma pesquisa científica, sem envolvimento emocional com ninguém, não precisaria ficar triste, nem chorar. Vá lá e faça uma pesquisa. Claro, piorou muito, as coisas se deterioram. Antigamente, os velórios eram espetaculares. Havia coxinha, empadinha, comida, café, leite. Hoje, não há nada; é preciso pagar e ir ao boteco do lado para comer. É preciso pensar sobre o que é este negócio de morte. O que acontece depois dessa vida daqui? A consciência permanece, os indícios e as provas são contundentes, toda a Mecânica Quântica prova. Portanto, qual vai ser o meu destino depois que eu fizer o desligamento do corpo físico? O que você está fazendo momento? O que a maioria faz? Guardando a própria vida. “Não, eu estou salvando a minha vida. Minha carreira, minhas férias, meus negócios etc., o resto que se ‘lasque’. Só cuido da vida material, aqui e agora.” Mas quem pensa assim não enxerga que há outro lado, outra dimensão, que tudo continua e o que você cria, você colhe. Todos os senhores de engenho estão colhendo. Portanto, o que o Mestre falou há 2000 anos se aplica “como uma luva”. Você quer só salvar a sua vida? E só o seu interesse material, trabalho, férias, viagem, balada etc., e você acha que está levando uma boa vida, teve sucesso? Muita gente se rebelou, mas foram dizimados imediatamente, o mais depressa possível. Quem foi contratado para dizimar o quilombo no Norte? Um paulista, o melhor especialista que havia, perceberam? Quem pode fazer a melhor chacina, a melhor carnificina? Há um sujeito, lá, em São Paulo que é bom nisso; já provou que os métodos são perfeitos com os indígenas. Ele foi contratado, a peso de ouro. Pediu uma fortuna e deram tudo que ele fosse precisar, todos os recursos, dinheiro, tudo. O que ele fez? Cumpriu. Foi uma chacina de 5.000, 8.000, 10.000, nem se sabe, porque não sobrou ninguém “para contar história”, porque não se tem nenhum documento dos chacinados, e não é possível saber quantos havia, mas era por volta de 10.000, 12.000, 15.000, na região. No lugar específico onde foi