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62 Unidade II Unidade II 5 PODER NAS ORGANIZAÇÕES É muito importante a forma como se estrutura a organização para o estabelecimento do controle necessário e da definição de como será exercido o poder para que os objetivos sejam atingidos. 5.1 Tipos de autoridade na organização Em seus trabalhos sobre a burocracia, Max Weber definiu um modelo de autoridade que foi absorvido por grande parte das organizações modernas: a racional-legal. Esse tipo de autoridade se baseia na existência de um regulamento, com normas específicas, que deve regrar as ações dos membros organizacionais. Esse conjunto de regras impessoais deve, inclusive, ser aceito por todos, delimitando as posições de poder e autoridade. Porém os tipos de autoridade nas organizações podem ser divididos em duas categorias: autoridade de assessoria e autoridade de linha. Conforme mostrado na figura a seguir, autoridade de linha é aquela dos gestores hierarquicamente responsáveis por toda a cadeia de comando, utilizando-se de seu poder para determinar as formas e estratégias com as quais os objetivos da área em questão, e mesmo de toda a organização, serão alcançados. Altamente dependente dos objetivos estabelecidos previamente e refletindo as metas e missão da organização, as atividades de linha possuem consequentemente uma variabilidade grande. A autoridade de assessoria, por outro lado, é aquela dos grupos, áreas e indivíduos que dão suporte aos gestores de linha. Quando ocorre o crescimento da organização, é natural o surgimento de departamentos e cargos que atuam através desse tipo de autoridade. Podem ser citados como exemplos as áreas financeira e de recursos humanos, já que não atuam diretamente para o alcance dos objetivos organizacionais, embora sejam essenciais em suas funções suporte aos departamentos de linha. Gerente produto A Gerente produto B Diretor de operações Presidente Diretor de RH Diretor financeiro Gerente produto C Assessor Posições de linha Posições de assessoria Figura 30 63 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS É importante ressaltar que a autoridade de assessoria não é uma autoridade formal, estando mais vinculada ao relacionamento comunicativo com os departamentos de linha, embora alguns departamentos de assessoria tenham uma clara atuação de autoridade sobre as atividades de linha, como a área de auditoria. O fato é que, muitas vezes, a identificação das distinções entre os dois tipos de autoridade se torna difícil dentro da dinâmica organizacional. 5.2 Tipos e fontes de poder O conceito de poder pode ser resumido na capacidade de se exercer influência sobre um indivíduo, ou um conjunto de indivíduos, para um fim específico. De início, faz-se necessário compreender que o conceito de poder é mais amplo que o de autoridade, pois nem todo poder deriva da autoridade, ao passo que quem tem autoridade possui certo poder. A partir disso, entende-se que o poder também possui um caráter relacional, ou seja, ele não faz sentido isoladamente, mas, sim, quando é exercido em relação a uma pessoa ou grupo, criando-se uma dinâmica de dependência daquele que o possui em relação ao receptor. Podem ser destacados os seguintes tipos de poder: o coercitivo, o de recompensa, o legítimo, o referente e o de competência. Poder coercitivo é aquele exercido por meio da percepção do receptor da capacidade punitiva de quem possui o poder, fazendo com que aquele molde seu comportamento com base nesse fato. O poder de recompensa, no sentido contrário, instiga certo tipo de comportamento nos receptores de poder pela capacidade do detentor de estabelecer recompensas. O poder legítimo, por seu turno, é aquele que deriva da autoridade formal, em outros termos, decorrente da posição hierárquica detida. Já o poder referente é exercido com base na imagem favorável do detentor de poder, inspirando crença e admiração nos receptores. O poder de competência, por fim, é o resultado do reconhecimento do conjunto de competências e aptidões especiais daquele que o exerce. É essencial também frisar que as fontes de poder são diversas, podendo ser destacadas o carisma do detentor, suas características, suas especializações distintivas, o cargo, o controle sobre fontes de incerteza, o acesso à informação ou a posse de recursos em escassez. O poder pode ser entendido como a capacidade de influenciar a vontade e o comportamento de outrem, mediante o uso de ferramental, material, emocional, físico ou psicológico, fazendo prevalecer a sua vontade em detrimento da vontade do outro indivíduo ou grupo. 64 Unidade II Segundo Sobral e Peci (2008), existem diversos tipos de poder: Tipos de poder Poder coercitivo Poder de competência Poder de recompensa Poder referente Poder legítimo Figura 31 De acordo com o que se apresenta na imagem, o poder coercitivo se baseia no uso da força física, do tamanho ou mesmo da propriedade para fazer valer a sua vontade diante daqueles que dependem ou temem pela sua segurança ou integridade física. O poder de recompensa se refere ao uso de punições e recompensas para se obter obediência das pessoas. Punições, porque a falta de recompensa se equivale a uma punição para quem, por falta de merecimento, deixou de receber o prêmio, destinado àqueles que obtiveram sucesso no que foi designado. Esse tipo de poder pode ser lembrado na fábula que usa o burro como um animal teimoso e resistente, que para caminhar rápido e sem emperrar no caminho ou dar pinotes, sofre o efeito da “cenoura como recompensa”. Essa história é muito contada nas empresas, quando se quer convencer os colaboradores a proceder de terminada forma, sem nenhum tipo de questionamento. Voltando ao animal, o tropeiro, que não queria ter problemas com ele, amarra uma cenoura num barbante, e a outra ponta era presa na ponta de uma vara relativamente comprida. Ele montava no burro e esticava a vara para frente, deixando a cenoura pendurada na frente dos olhos do burro. O animal, ao ver a cenoura pendurada, a tinha como um prêmio lhe esperando e caminhava na sua direção sem parar ou titubear, nem por um segundo. Assim ele caminhava léguas e léguas sem parar ou emperrar no caminho em busca da sua tão sonhada recompensa. 65 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS O poder legítimo é aquele que vai se originar na posição ou cargo existente na estrutura organizacional. O poder de mando, neste caso, não é pessoal, mas, sim, do cargo exercido. Ele é legítimo, pois não deve ser questionado pelos subordinados; seja quem for que estiver empossado no cargo, automaticamente será imbuído do poder conferido ao cargo que exerce. Claro que esse poder segue regras claras de que tipo de decisões e determinações se pode fazer, bem como as formas de passá-las adiante e como fazê-las serem cumpridas. Já, o poder de referência corresponde ao poder carismático. Esse tipo de poder não depende da vontade da pessoa que o exerce; ele manda e lhe é dado por aqueles que se sujeitam à sua influência, seja por magnetismo pessoal ou por características pessoais (postura, senso de humor, forma de olhar, tom de voz, forma de se apresentar ou se vestir etc.) que são observadas e admiradas pelo grupo de subordinados. Este é um poder atribuído por quem se subordina. Trata-se de uma subordinação voluntária e subjetiva. O último tipo de poder, o poder de competência, trata do reconhecimento dos subordinados em relação às habilidades, conhecimento e domínio, por experiência de atividades e problemas a serem resolvidos. O poder é desenvolvido a partir da observação pelo grupo e dos resultados obtidos pela pessoa, pela facilidade que ela tem para resolver certos tipos complexos de problemas, bem como por seu domínio de técnicas, tão necessárias para todos, que passam a depender de sua opinião e ensinamentos para a condução do seu dia a dia e para a superação dos mais diversos desafios. Lembrete O poder carismático é aquele que emana de características pessoais e comportamentais do líder, porém ele tem que ser reconhecidoe validado pelo grupo, que informalmente se subordina e segue o líder, por livre e espontânea vontade. 5.3 Espaços e formas de manifestação de poder Com a diferenciação entre autoridade e poder posta, é possível perceber o caráter amplo que este possui. O exercício do poder se refere à busca pelo controle total dos recursos materiais e pela organização dos recursos humanos de uma organização. Todavia, estudiosos apontam para a existência de outros recursos de poder que escapam da esfera da legitimidade. • Estrutura informal de poder: o primeiro desses recursos, bastante evidente em diversas organizações, é a estrutura informal de poder, a qual mostra como o poder pode se manifestar espontaneamente, ultrapassando os limites formais de comando. Um exemplo de parte dessa estrutura é a dinâmica das relações interpessoais na organização. Apesar de nem sempre serem explícitas na disposição da cadeia de comando, essas relações afetam diretamente as decisões internas, moldando a forma como se dão as relações de poder formais com as quais se ligam. Portanto as relações de amizade ou simples proximidade, assim como as relações de conflito, evidenciam a complexidade sistêmica que uma organização possui, cabendo ao administrador 66 Unidade II a atenção ao funcionamento das estruturas informais, as quais, aliás, se mostram cada vez mais presentes nas organizações contemporâneas. • Estrutura política das organizações: é preciso entender que toda organização possui de certa forma uma natureza política. Tendo seus membros interesse e agendas diversas, passíveis de conflito, e a eventual formação de coalizões políticas em torno de interesses em comum, não há como negar esse fato. A realização da política, que é o processo de mobilização do poder, pode por vezes se sobrepor à estrutura formal de poder, tornando-se de primeira importância que o administrador esteja sempre atento aos principais atores políticos da organização, suas movimentações e grupos de atuação. • A ilegitimidade da autoridade formal: é comum na literatura gerencial a estrutura organizacional ser analisada como neutra e apolítica, ou seja, estando acima dos conflitos políticos e sociais da sociedade e, por isso, sendo o espaço por excelência de exercício da autoridade. Porém há vasta literatura que mostra o contrário. Analisando, por exemplo, a obra de Weber, que definiu a autoridade, há o entendimento de que as organizações já incorporavam uma estrutura de dominação em suas dinâmicas. Por outro lado, Marx ensina sobre os conflitos de classe, que se dão influenciados pelas relações de propriedade e de controle dos meios de produção. • A legitimidade do poder: outra limitação da literatura gerencialista é a consideração de manifestações de poder fora da estrutura formal como ilegítimas ou como formas de se utilizar o poder em benefício próprio em detrimento dos interesses da organização. Embora haja a compreensão de que as fontes de poder informais possam ser usadas em benefício do conjunto, esse tipo de leitura prefere evitá-las por conta dos malefícios que podem trazer. Porém é essencial reconhecer a importância dessas fontes. A mobilização dos trabalhadores contra efeitos de abuso e exploração, por exemplo, é cada vez mais presente e é evidentemente legítima, apesar de sua fonte de poder ser informal. Hoje, é mais comum as perspectivas sobre o poder não o limitarem a um mero recurso conveniente e facilmente direcionável. Pelo contrário, é cada vez mais presente o entendimento da complexidade das relações de comando e da estrutura de dominação nas organizações. 6 DESENHO ESTRUTURAL DAS ORGANIZAÇÕES O desenho estrutural deve atender às estratégias e ao ambiente de uma organização, definindo como se darão a departamentalização, o fluxo de comando e os meios de comunicação. A formação desse desenho vem da organização dos elementos estruturais analisados até o momento. As estruturas podem ser divididas em funcionais, divisionais e matriciais, sendo esses modelos adotados de acordo com a necessidade e objetivo das organizações. Com o crescimento da organização e a complexificação de suas atividades, por exemplo, tende-se a assumir uma estrutura divisional, a qual agrega as tarefas em unidades segundo objetivos em comum. 67 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Baseadas na noção burocrática weberiana, esses tipos de estruturas possuem divisões dependentes da hierarquização do comando. Porém, na contemporaneidade, outros tipos mais horizontais e flexíveis estão surgindo por conta das mudanças nos paradigmas de organização, sendo algumas delas denominadas como organizações pós-industriais, em rede, clusters ou baseadas na informação. Aqui, essas novas estruturas serão denominadas como “estruturas em rede” e analisadas com mais detalhes em momento oportuno. A partir da análise anterior sobre os fundamentos do processo de organização, surge uma questão essencial: como realizar a definição do projeto organizacional e do desenho estrutural, com vistas à obtenção da máxima eficiência administrativa, adequando os elementos estruturais às condições ambientais e aos objetivos estabelecidos? Com a evolução das teorias administrativas e da concepção sobre as estruturas organizacionais, as repostas para essa questão também ganharam novas nuances ao longo do tempo. O quadro a seguir apresenta, a partir de Oliveira (2006), uma comparação entre as teorias da administração e suas contribuições ao debate acerca das estruturas organizacionais. Quadro 9 – Contribuições das teorias administrativas para a estrutura organizacional Teorias da administração Período básico Contribuições para a estrutura organizacional Administração científica Frederick Taylor 1903 Redesenhou o processo dos trabalhos e mudou as atitudes dos trabalhadores, melhorando a produtividade Henry Ford Início do século XX Estudou a especialização dos trabalhadores Henri Fayol Década de 1910 Estabeleceu as atividades do processo administrativo (planejamento, organização, comando, coordenação e controle) Definiu o papel do dirigente Burocracia Max Weber Década de 1920 Estabeleceu que as empresas que têm normas – ou leis ou políticas – são as mais produtivas Consolidou a autoridade formal (baseada nas leis, normas e políticas) Relações humanas Elton Mayo Década de 1930 Estabeleceu que a qualidade da supervisão e dos relacionamentos com os empregados melhora a produtividade A média administração deve otimizar a ligação entre a alta e a baixa administração Os trabalhos em equipes são importantes Pensamento sistêmico Ludwig von Bertalanffy Final da década de 1930 Consolidou a análise de toda a empresa e de cada uma de suas partes de forma interligada Possivelmente foi a mais forte contribuição para toda a moderna análise da departamentalização das empresas Administração por objetivos Peter Drucker 1955 Consolidou a administração voltada para resultados e com avaliação do desempenho das pessoas 68 Unidade II Teorias da administração Período básico Contribuições para a estrutura organizacional Aprendizagem organizacional Peter Senge Meados da década de 1970 As empresas devem aprender a lidar com a mudança contínua, a qual é básica para a evolução da estrutura organizacional Administração virtual Década de 1990 Contribuiu diretamente para a estruturação em rede das empresas Administração do conhecimento Início do século XXI Corresponde ao principal aspecto da evolução das estruturações organizacionais Fonte: Oliveira (2006) apud Tomaoka (2013, p. 66). Saiba mais Max Weber foi o grande precursor da Teoria da Burocracia. Leia o artigo a seguir: FARIA. J. H.; MENEGHETTI, F. K. Burocracia como organização, poder e controle. Revista de Administração de Empresas, v. 51, n. 5, São Paulo, set./ out. 2011. Disponível em: https://bit.ly/31I2rhb. Acesso em: 18 fev. 2021. 6.1 A estrutura funcional A existência de estruturas adicionais em uma organização está vinculada ao ritmo de sua evolução eao seu crescimento. Todas as organizações, a princípio, possuem uma estrutura funcional e, segundo Sobral e Peci (2008), conforme suas atividades se complexificam, a tendência é que ocorram reestruturações que podem levar à adoção de formas divisionais, moldadas com base nas referências geográficas ou, no caso de suas atuações demandarem diversos focos, em forma matricial. A função organizacional é o ponto-chave para a estruturação funcional. De forma intuitiva e direta, o critério de agrupamento é baseado na similaridade de conhecimentos, tarefas e habilidades. Nesse tipo de estrutura, ilustrada pela figura a seguir, cada administrador é diretamente responsável por uma área (finanças, marketing, sustentabilidade etc.), sendo a escala hierárquica subsequente composta por gestores especialistas em suas áreas funcionais. A verticalidade da cadeia de comando é forte nessa estrutura, e as atividades são coordenadas através de planos e regras bem definidos, sendo o conhecimento funcional e a competência habilidades valorizadas. Boa para ambientes estáveis, a especialização, a eficiência e a qualidade das ações são determinantes para bons resultados. Sendo a opção mais lógica de estruturação, está pautada pela especialização do trabalho e molda as áreas da forma como geralmente são vistas em organizações: recursos humanos, financeiro, marketing, P&D, produção, logística, entre outras. Nessas áreas, ocorre a aproximação de conhecimentos e habilidades que conversam entre si, criando-se uma relação estreita entre as atividades realizadas e aumentando as chances de se promover uma economia de escala eficiente. 69 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Para Robbins e Decenzo (2004), esse tipo de estrutura ajuda na prevenção de duplicação de cargos, além de permitir uma melhor comunicação entre os membros, os quais possuem linguagem próxima. Porém também possuem riscos, como a tendência à segregação entre os departamentos, que pode levar à perda do foco nas metas funcionais e da unidade da organização como um todo. Operações Produção Vendas Pessoal Controladoria Qualidade Pesquisa de mercado Recrutamento e seleção Contabilidade Manutenção Comunicação e publicidade Treinamento Tesouraria Estoques Relações públicas Segurança e higiene Câmbios Recursos Humanos Presidente executivo Marketing Finanças Figura 32 A estrutura funcional foi amplamente utilizada na fase de proliferação das indústrias, entre o final do século XIX e o início do XX, tendo surgido nesse contexto. Como não poderia ser diferente, o modelo fordista se utilizou da estrutura funcional, que servia ao modelo de produção verticalizado da época. Nos EUA, um exemplo bastante ilustrativo desse tipo de aplicação se deu na organização funcional vertical do setor ferroviário implementada por Andrew Carnegie. A noção de departamentalização foi muito útil às empresas que cresciam rapidamente e necessitavam integrar continuamente novas áreas à estrutura organizacional. Apesar da crise do modelo fordista, ainda é possível verificar a utilização da estrutura funcional em alguns tipos de organização, tais como: aquelas que atuam em um ambiente cercado pela estabilidade, em fase inicial de atividade, de dimensão reduzidas, de grande porte e com baixa diversificação tecnológica ou de produtos, grandes e com reduzidos canais de distribuição ou que atuam apenas em uma área geográfica. As vantagens e desvantagens da estrutura funcional estão resumidas no quadro a seguir: 70 Unidade II Quadro 10 Vantagens Permite economias de escala e torna mais eficiente o uso de recursos Cria condições para centralizar o processo de tomada de decisão Facilita a direção unificada e o controle da organização aos administradores de topo Possibilita o aperfeiçoamento de funcionários e administradores nas suas funções Facilita a comunicação e a coordenação dentro das áreas funcionais Desvantagens Estimula uma visão limitada dos objetivos organizacionais, demasiado focalizada nos objetivos de cada área Dificulta a coordenação e comunicação entre departamentos funcionais Diminui a velocidade de resposta às mudanças externas por causa da centralização da tomada de decisão Dificulta a avaliação da contribuição de cada área funcional para o desempenho da organização como um todo. Dificulta a apuração com precisão dos responsáveis por um problema ou decisão Fonte: Sobral; Peci (2013, p. 274). Mesmo que em outros tipos de departamentalização os agrupamentos em departamentos fujam do aspecto de áreas funcionais, adotando-se o foco nos produtos, regiões geográficas ou clientes, em outras partes da estrutura conviverão com o uso de divisão por funções das organizações, nos moldes da estrutura funcional. As funções apenas se deslocam para outros níveis hierárquicos ou outras posições no organograma. Qualquer outro tipo de estrutura analisado a seguir utiliza também alguma forma de departamentalização funcional. A principal diferença é que este não é o principal critério de agrupamento de tarefas, mas, sim, um critério complementar. Esse tipo de estrutura se adapta melhor a contextos pouco dinâmicos, com tendências à estabilidade, logrando aumento de eficiência nessas condições. Veja a seguir outro modelo de estrutura funcional: 71 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Mercados Clientes Cliente A Contratos Processos Políticos Métodos Competências Profissionais Informações Portfólio de serviços Cliente B Projeto 1 Proposta 3 Proposta 2 Ativos Política e normas Processos Registros Não conformidades Portfólio de riscos Qualidade Segurança Contabilidade Serviços terceirizados de suporte DAU Departamento de auditoria interna DAC Departamento de atendimento ao cliente DMK Departamento de marketing Assessoria financeira Assessoria jurídica Diretoria Fiscal Logística Recursos humanos Compras Infraestrutura Tecnologia da informação Segurança Propaganda Soluções de negócio Contratos Campanhas Canais Casos de sucesso Oportunidades Relações públicas Figura 33 Veja agora o exemplo da estrutura funcional da Natura: Gerente vendas Gerente contratos Auxiliar contratos Gerente produção Auxiliar produção Gerente marketing Diretor comercial Diretor adm/financeiro Presidente Diretor produção Auxiliar marketing Consultador Gerente RH Auxiliar RH Gerente compras Auxiliar compras Gerente operações/ logística Auxiliar técnicos Gerente cobrança Auxiliar cobrança Figura 34 72 Unidade II Lembrete Departamentalização consiste numa forma de divisão do trabalho, pelo agrupamento de atividades, recursos humanos, materiais e tecnológicos, utilizando-se de critérios de homogeneidade e criando-se as unidades de uma organização. 6.2 A estrutura divisional Conforme pontuado anteriormente, a complexificação das atividades de uma empresa pode levá-la à adoção de uma estrutura divisional. Geralmente, a diversificação de produtos, serviços, tecnologias e mercado promove esse tipo de mudança na configuração organizacional. Na forma divisional, os recursos e atividades são agrupados em unidades segundo o foco principal: produtos, mercado ou clientes. Para Sobral e Peci (2008), essa dinâmica leva maior autonomia e, consequentemente, mais reponsabilidade aos membros da organização, embora as diretrizes estabelecidas pela cúpula administrativa continuem sendo respeitadas. Acontece, portanto, um movimento de descentralização das operações com a manutenção do poder centralizado de direção e coordenação. A estrutura divisional se mostra útil a uma organização quando esta inicia em algum momento a diversificação de seus produtos ou serviços, necessitando de maior departamentalização para o agrupamento de tarefas que atuam para os mesmos objetivos, sejam eles relacionados ao mercado, aos produtos ou ao seu público-alvo. Diferentemente da estrutura funcional, que á pautada pela mobilização dos recursos necessários, a estrutura divisionalse baseia na melhor alocação desses recursos em cada uma das divisões com foco nos seus resultados. Cabe à administração geral e aos setores auxiliares não relacionados de forma direta com os resultados de cada uma das divisões (a área de recursos humanos, por exemplo) encontrarem a melhor forma de alocação dos recursos entre as divisões, assim como a elaboração da estratégia corporativa, como ilustrado pela figura seguinte. Se há o estímulo para uma ação coordenada em busca de inovação e atendimento das necessidades do cliente, então a estrutura divisional será eficiente. 73 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Divisão de cosméticos Produção Produção Produção Marketing Marketing Marketing Logística Logística Logística Divisão de medicamentos Presidente executivo Divisão de higiene pessoal FinançasRecursos Humanos Figura 35 Surgida na Primeira Guerra Mundial, a estrutura divisional foi adotada primeiramente por grandes empresas de setores diversos, tais como DuPont, General Motors e Standard Oil, evoluindo com velocidade nas décadas de 1940 e 1950. Embora alguns autores enxerguem a estrutura divisional como não promotora de autonomia na cadeia de comando das organizações, devido à centralização das decisões mais importantes, em sua dinâmica as divisões da estrutura combinam planejamento, coordenação e controle de forma centralizada, gerando mais autonomia divisional e sendo avaliadas principalmente por seus desempenhos. Os administradores dessas divisões possuem, portanto, maior poder em suas mãos, já que concentram a responsabilidade direta pelos resultados de suas áreas e seus respectivos sucessos no mercado. Importante lembrar que enquanto os administradores centrais supervisionam diretamente os resultados da organização, os administradores divisionais são responsáveis apenas por aspectos operacionais. Sobre os tipos de organização nas quais é mais comum, a estrutura divisional pode ser encontrada essencialmente em: organizações que atuam em mercados muito diversos, organizações de grande dimensão com uma gama de produtos e serviços, organizações que demandam grande diversificação de tecnologia e organizações que atuam em áreas geográficas mais isoladas. 74 Unidade II Quadro 11 Vantagens Possibilita uma melhor distribuição de riscos, uma vez que cada administrador da divisão é responsável por um produto, mercado ou cliente Proporciona uma maior adaptabilidade e capacidade de resposta, por causa da relativa descentralização da tomada de decisão para as divisões Permite manter um alto nível de desempenho, com ênfase nos resultados Facilita a avaliação e controle do desempenho de cada divisão Possibilita uma maior proximidade com o cliente e maior conhecimento de suas necessidades Desvantagens Pode fazer com que os interesses da divisão se sobreponham aos interesses gerais da organização, tornando difícil a coordenação entre as divisões Multiplica os recursos, uma vez que as funções se apresentam de forma redundante na organização, resultando em perda de eficiência Não reduz a tendência à burocratização no âmbito das divisões Pode estimular a concorrência entre divisões por recursos da organização Menor competência técnica, uma vez que a especialização funcional ocorre na divisão, onde os departamentos funcionais são menores Fonte: Sobral; Peci (2013, p. 275). De acordo com Sobral e Peci (2008), esse tipo de estrutura é bem aplicado no caso de: • organizações grandes e maduras, com grande diversificação de produtos ou serviços; • organizações com atuação em mercados distintos, que exigem estratégias de comercialização e marketing específicas; • organizações com produtos ou serviços que necessitam de um aparato tecnológico de produção diferenciado; • organizações que possuem atuação geográfica diversificada. Veja a seguir o organograma do Grupo Cofra, proprietário da C&A (divisional geográfica): 75 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Varejo Real State Private equity Energias renováveis C&A Europa Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Itália, Luxemburgo, Polônia, Portugal, República Tcheca, Rússia (franquia), Suíça, Turquia, C&A Money C&A América Latina C&A China Brasil, México (inclui Ibi Mexico) Redevco Ásia (China e Índia), Alemanha, Bélgica, Espanha/ Portugal, Europa Central, França, Holanda, Itália/ Suíça, países nórdicos, Polônia, Reino Unido, Romênia, Turquia Bregal Bregal Capital, Centre Partners, Ranch Capital, Bragal Private Capital, Birchill Enterpreneus Fund - Ciências da vida - Tecnologias de tratamento da água - Tencnologias automotivas limpas - Materiais inovadores Good Energies - Energia solar - Energia eólica - Armazenamento de energia - Green building - Project finance Cofra Argidius Cofra United Unique Figura 36 Diretoria de lojas Gerência regional Gerência de loja Supervisão de varejo Líderes Monitores Assessores Figura 37 76 Unidade II VP de operações Diretoria de lojas Diretoria de logística Corporate social affairs Diretoria planejamento Diretoria de compras VP de compras Diretoria de engenharia Presidência Diretoria de marketing Diretoria financeira jurídica informática Diretoria de RH Figura 38 Este é um organograma do Banco do Brasil que ilustra a estrutura organizacional por clientes: Vice- presidência de negócios de atacado Corporate bank Governo Agronegócios Comitê de auditoria Conselho fiscal Conselho diretor Auditoria interna Assembleia geral de acionistas Conselho de administração Presidente Comitê de remuneração e elegiblidade Assessoramento ao comitê de auditoria Comitê de riscos e de capital Pessoas físicas Distribuição Suprimentos, infraestrutura e patrimônio Tecnologia Finanças Gestão de riscos Estratégia e organização Secretaria executiva Assessoria de comunicação Soluções empresarias Micro e pequenas empresas Distribuição sudeste Operações Engenharia e construção I Controladoria Crédito Governança de TI e de processos Mercado de capitais e infraestrutura Meios de pagamentos Canais Engenharia e construção II Contadoria Reestruturação de ativos operacionais Jurídica Private bank Empréstimos, financiamentos e crédito imobiliário Gestão de pessoas Operação de soluções de TI Governança de entidades ligadas Controles internos Segurança institucional Comércio exterior Captação e investimentos Intregração varejo Central de negócios Negócios digitais Relações com investidores Marketing e comunicação Vice- presidência agronegócios Vice-presidência de distribuição de varejo e gestão de pessoas Vice- presidência de tecnologia Vice- presidência de governo Vice- presidência de negócios de varejo Vice- presidência de serviços, infraestrutura e operações Vice- presidência de gestão financeira e RI Vice- presidência de controles internos e gestão de riscos 01 09 27 13 01 01 Presidente Vice-presidentes Diretorias Unidades Gerências autônomas Auditoria interna Figura 39 77 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS 6.3 A estrutura matricial A estrutura matricial opera em dois sentidos principais: de forma funcional e vertical, agrupando os especialistas em cada área específica, e de forma divisional e horizontal, estabelecendo uma orientação em direção aos objetivos globais e buscando melhor adaptabilidade ao ambiente. Ou seja, a estrutura matricial pode ser considerada composta por aspectos das estruturas divisional ou por projetos e a funcional. Com seu caráter híbrido, a estrutura matricial é mais ligada a projetos ou negócios que necessitam de equipes multidisciplinares e não fixas, que tenham a capacidade de atuar em diversos projetos ao mesmo tempo. Assim essa lógica gera um caráter mais dinâmico na rotina desses profissionais, que serão alocados em projetos por tempo determinado e terão que lidar com dois superiores simultaneamente. A cadeiade comando combina a característica vertical, com um gestor de área, com a horizontal, que terá um gestor especialista no projeto a ser tocado. Segundo Daft (2008), a estrutura matricial, por sua vez, representa uma forma híbrida entre a estrutura funcional (que permite o uso dos recursos de forma mais eficiente) e a estrutura divisional (que possui maior adaptabilidade à instabilidade ambiental), em uma tentativa de se utilizar os pontos fortes das duas formas analisadas anteriormente. A forma matricial, inclusive, possui a capacidade de lidar com a necessidade organizacional de trabalhar com foco em mais de uma dimensão simultaneamente (por exemplo: um produto e uma função). Essa dinâmica é muito evidente em organizações que trabalham com vários projetos simultâneos, compartilhando profissionais entre eles, como é o caso de uma agência de publicidade. Segundo Sobral e Peci (2008), combinam-se nessa estrutura a cadeia de comando vertical com a horizontal, voltada para a consecução de um projeto, produto ou serviço. Tendo isso em vista, Daft (2008) afirma que a estrutura matricial permite a manutenção de uma verticalização da cadeia de comando de forma concomitante ao estabelecimento de uma forte conexão horizontal. 78 Unidade II O organograma, com desenho matricial, é representado pela seguinte figura: Produto A Produção Marketing Recursos humanos Finanças Produto B Produto C Produto D Presidente Autoridade dual Figura 40 A estrutura matricial surgiu num contexto de adaptação das organizações às mudanças ambientais nas décadas de 1960 e 1970, sendo a indústria aeroespacial pioneira nesse sentido. Com esse movimento e o estabelecimento de novas práticas, era preciso maior adaptabilidade e flexibilidade por parte das empresas. Atualmente, é possível encontrar essa dinâmica em empresas de ramos específicos, como o de publicidade, de informática, grandes construtoras ou de meios de pagamento (a MasterCard é um exemplo). Apesar de ao senso comum parecer estranha a existência de uma hierarquia dual, Daft (2008) elenca três condições que justificam sua utilização: • Otimização de recursos: a necessidade de compartilhamento dos recursos, que são escassos. Esse fator pode estar presente em empresas que possuem uma variedade moderada de produtos e serviços, mas não podem arcar com uma variedade necessária de especialistas para que cada linha tenha um colaborador do tipo para si. Para além do fator financeiro, algumas áreas, embora sejam extremamente lucrativas, possuem escassez de especialistas disponíveis no mercado, o que acaba justificando o uso de uma estrutura matricial. • Urgência de resultados: a imposição de obtenção de resultados que necessitem de alta especialização do processo produtivo (estrutura funcional) e de rapidez na colocação de novos produtos (estrutura divisional). Nesse caso, surge a necessidade de se buscar um equilíbrio entre as duas formas com dinâmica dual acerca da disposição de autoridade. 79 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS • Ambiente turbulento: a instabilidade ambiental na qual se insere a organização. Essa é, cada vez mais, a realidade de todas as organizações, exigindo-se delas a capacidade de adaptação às mudanças externas com o estabelecimento de interdependência entre suas áreas e de atuação em sentido vertical e horizontal. O quadro a seguir traz as principais vantagens e desvantagens desse tipo de estrutura: Quadro 12 Vantagens Potencializa as vantagens decorrentes da estrutura funcional e da estrutura divisional Pode reduzir a multiplicação e dispersão de recursos e, com isso, melhorar a eficiência Permite maior flexibilidade e adaptabilidade da organização ao ambiente mutável Facilita a cooperação interdisciplinar entre departamentos Promove o conflito construtivo entre os membros da organização Desvantagens Dificulta a coordenação por causa da autoridade dual, o que pode causar frustração e confusão Trata-se de uma forma estrutural complexa, com potenciais focos de conflito e desequilíbrios de poder entre os dois lados da matriz Perda de muito tempo em reuniões para discutir problemas e solucionar conflitos Muita dificuldade para apurar responsáveis por problemas Exige um conjunto de competências de relacionamento interpessoal e maturidade dos gestores Fonte: Sobral; Peci (2008, p. 277). Observação Conforme Balbino (2019), a estrutura matricial foi utilizada pela primeira vez na década de 1960, em um projeto espacial da Nasa, nos EUA. Os programas espaciais Apolo e Satur, dada a sua complexidade, exigiram o desenvolvimento de novas tecnologias de gestão. 6.4 Estruturas emergentes É no contexto comtemporâneo de alto dinamismo e globalização que surgem as estruturas emergentes. Adaptadas para enfrentamento dos desafios da sociedade atual, são mais fluidas e permeadas pelas ferramentas propiciadas pelos avanços tecnológicos. 6.4.1 Estruturas horizontais Hammer (1990) foi o responsável pela criação da estratégia organizacional chamada de reengenharia. Ele visualizou a importância do uso correto das tecnologias da informação, afastando-se da simples ideia de automação no reprojetamento dos processos e otimizando-os. Reengenharia foi o processo de reinventar as empresas, repensando o negócio dentro de um novo paradigma, reinterpretando o negócio, com suas características atuais, todas focadas nas necessidades dos clientes reais e potenciais, já contando com as melhores tecnologias disponíveis e acessíveis no mercado. Trata-se da busca pelo 80 Unidade II estado de excelência revolucionária e inovadora, conquistando melhorias radicais de performance e desempenho. Ganhos significativos eram os alvos e foco dos gestores do processo de reengenharia. Todo essa mudança foi realizada como necessária para readequar as empresas ocidentais, inchadas, ineficientes e ultrapassadas, segundo contratações a partir da década de 1970, quando do surgimento das primeiras crises econômicas e do petróleo, em que descobriram o avassalador e competitivo Modelo de Gestão Japonês, o qual era baseado no foco nos processos. O modelo japonês primava por uma estrutura enxuta, rápida e tecnologicamente intensa, voltada para evitar o desperdício e a existência de grandes volumes de estoques. O foco das grandes organizacões ocidentais mudou: deixou de ser a estrutura departamental e as tarefas isoladas e passou a ser os processos e a visão horizontal, dos fluxos de informações, recursos e atividades, a partir do pedido do cliente, até a entrega do produto final. A estrutura horizontal se afasta do modelo tradicional verticalizado, rígido e com uma lógica hierárquica engessada. Se trata de uma nova abordagem com foco nos fluxos de trabalho e processos centrais horizontais, que procura lidar com a busca pela competitividade em um ambiente cada vez mais instável e exigente. Para Daft (2008), a aplicação da reengenharia deu início à utilização da estrutura horizontal. Suas principais características são: • Eliminação de fronteiras departamentais: os limites entre departamentos são eliminados e a dinâmica se dá em torno de processos centrais interfuncionais em vez de se basear nas tarefas, funções ou geografia. • Equipes autodirigidas: as equipes de trabalho contam com autonomia para planejar, organizar e controlar as atividades que desempenham. Para isso, são autodirigidas e têm acesso a todas as informações sobre o processo como um todo e o negócio como um todo, de forma a poder tomar decisões conscientes das premissas corretas e das consequências de suas decisões para o negócio. • Donos do processo: têm responsabilidade total sobre os processos centrais do negócio. • Autonomia de decisão: o incentivo a tomadas de decisão centrais por todos é fortalecido através de treinamento, ferramentas, motivação e distribuição de autoridade. • Liberdade criativa: a liberdade, a criatividade e a flexibilidade são incentivadas para que as equipes possam resolver os problemas da melhor forma possível. • Foco nocliente: os clientes são os propulsionadores principais das atividades organizacionais. • Empoderamento: o empowerment, a responsabilidade e o bem-estar dos funcionários são valorizados. Há uma cultura de abertura baseada na confiança e na colaboração que busca melhorias contínuas. 81 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Observação Empowerment consiste na descentralização de poder, de forma ampla e irrestrita na organização, dando poder de decisão a todos os colaboradores, a cada um de acordo com a sua capacidade de discernimento. Dessa forma, o poder de decisão não fica nas mãos dos ocupantes de cargos de gestão, apenas. Análise Compras Fluxo de materiais Distribuição Cliente Análise de mercado Pesquisa Planejamento de produto Teste Cliente Equipe da alta administração Dono do processo Equipe 1 Equipe 2 Equipe 3 Dono do processo Equipe 1 Equipe 2 Equipe 3 Figura 41 Analisando as características das estruturas horizontais, identifica-se um elenco de pontos fortes e fracos, conforme se pode verificar no quadro a seguir: Quadro 13 Pontos fortes Pontos fracos Promove flexibilidade e rapidez nas ações em resposta às mudanças nas necessidades dos clientes Direciona a atenção de todos para a produção e para agregar valor para o cliente Permite que cada funcionário tenha ampla visão das metas organizacionais Promove o foco no trabalho em equipe e a colaboração Melhora a qualidade devida dos funcionários ao oferecer-lhes a oportunidade de compartilhar responsabilidades de tomar decisões, medidas pela produção Determinar o processo central é difícil e leva tempo; requer mudanças na cultura. no projeto de cargos, na filosofia gerencial e nos sistemas de informação e recompensa Os gerentes tradicionais podem reagir quando tiverem de abrir mão do poder e da autoridade Requer bastante treinamento de funcionários para trabalhar com eficácia em uma abordagem de equipe horizontal Pode limitar o desenvolvimento a fundo de habilidades Fonte: Tomaoka (2013, p. 77). 82 Unidade II 6.4.2 Estruturas em equipes Segundo Chiavenato (2003), visando minimizar os efeitos do ambiente globalizado e altamente competitivo, na estrutura por equipes prevalece a distribuição de autonomia de decisão, seguida pela responsabilidade correspondente, para os níveis que se encontram na base da pirâmide organizacional. Assim a organização assume uma dinâmica mais veloz, flexível e ágil. Sua configuração é horizontalizada, não mais entrecortada por departamentos e seguindo os processos de negócio. As estruturas por equipes se caracterizam por: • Equipes temporárias: equipes multiespecializadas e multifuncionais, constituídas por colaboradores de diversas áreas da organização. São formadas para mutuamente resolverem problemas comuns. • Equipes permanentes: são grupos de trabalho que se encarregam de cumprir determinadas rotinas e atividades de um processo, atuando como uma área funcional da organização. Segundo Tomaoka (2013), as equipes são multiespecializadas, pois são formadas por colaboradores que exercem diversas funções. Formam um grupo multidisciplinar, unidos pragmaticamente para atingir objetivos mútuos, estabelecidos previamente, com o intuito de produzir resultados de forma nivelada. Nessas equipes não se privilegia a hierarquia, produzindo o trabalho de forma fluídica e harmônica; nas configurações necessárias, podem durar por tempo indeterminado ou serem dissolvidas ao final de cada empreitada ou projeto. As condições flexíveis e com características relativamente informais causam um grande impacto no ânimo dos colaboradores, que passam a atuar motivados e comprometidos com os resultados desejados. As vantagens da estrutura por equipes são: • mentalidade global e foco no mercado e ambiente externo; • fluxo de comunicação direta entre os colaboradores, sem necessidade de intermediação ou intervenção de superiores hierárquicos; • autogestão da equipe, pelos componentes que dispõem de autonomia de decisão em todos os aspectos; • autossuficiência, por se tratar de equipes multifuncionais e terem especialista em diversas áreas do conhecimento; • grande agilidade e poder de reação diante de novos desafios; • custos reduzidos, devido ao enxugamento na hierarquia e cargos de liderança; • bom engajamento dos colaboradores dentro de um clima de flexibilidade, autonomia de decisões e intensa participação de todos. 83 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS As suas limitações costumam ser: • exigência de investimento na conscientização e desenvolvimento de nova mentalidade nas pessoas; • demanda muito necessária por assessorias especializadas; • possibilidades de dificuldades e conflitos, devido à existência de dupla subordinação. Esta é uma estrutura-exemplo que apresenta uma divisão por equipes de trabalho: Gerente funcional Gerente funcional Gerente funcional Chefe executivo Gerente de gerentes de projetos Equipe Equipe Equipe Gerente de projeto Equipe Equipe Equipe Gerente de projeto Equipe Equipe Equipe Gerente de projeto Figura 42 Esta é outra estrutura-exemplo e contém divisões por equipes: Vice-presidente e gerente geral Finanças Recursos humanos Diretor e dono do processo Diretor e dono do processo Diretor e dono do processo Estratégia e comunicação Equipe Equipe Equipe Estrutura funcional Figura 43 84 Unidade II 6.4.3 Em rede A década de 1970 representou uma grande virada no modo de produção do sistema de produção em massa. A crise advinda dos choques do petróleo influenciou a mudança do paradigma produtivo. Com a ascensão tecnológica e o aumento da demanda em quantidade e qualidade, houve um impulso de expansão no mercado global que não foi acompanhado pelo engessado e custoso modelo de produção vigente até então. Nessa década houve dois acontecimentos importantes para mudanças na lógica do modelo de reprodução do capital: a quebra do padrão ouro-dólar e as crises do petróleo, já mencionadas. O primeiro foi responsável por influenciar a flexibilização da forma como a moeda poderia fluir pelo mundo, assim como a dinâmica de sua valorização e virtualização. Já o segundo foi determinante para a mudança de percepção da economia global em relação a um insumo que sempre fora fornecido até então de forma abudante e a preços relativamente baixos. A crise econômica da década de 1970, marcada pela primeira crise do petróleo (1973), e seus impactos para as empresas e suas operações foram de grande importância. Segundo Daft (2008), foi um momento de virada para o capitalismo e estabeleceu a demarcação do esgotamento do modelo de produção em massa, que se tornava rígido e custoso. Com a queda do Muro de Berlim, na década seguinte, a ascensão do modelo toyotista e o avanço exponencial da capacidade tecnológica (principalmente nos setores eletrônico e de informação), o processo de globalização se intensificou, moldando uma nova forma de relacionamento entre empresas e consumidores. A exigência por mais qualidade e menos quantidade regrou a expansão dos mercados globais e a forma de estruturação das organizações. Segundo Sobral e Peci (2008), a inovação e a diferenciação passaram a ser fatores essenciais para produtos e serviços, o que exigiu das organizações a busca pela reivenção e pelo remodelamento da natureza das tarefas organizacionais. O surgimento de novas soluções estruturais se deu nesse contexto, com as estruturas em rede sendo um dos destaques. Por conta de a verticalidade não se adequar muito bem a essa nova dinâmica do capital, as organizações precisaram dar novo rumo à forma como era feita a alocação de recursos, abrindo-se espaço para novas configurações organizacionais com tendências flexíveis e de inovação. São alguns os fatores que estimulam o surgimento dessas novas estruturas: • Impacto da globalização: além de promover o aumento da competitividade para as empresas nacionais com maior abertura para o mercado internacional, a globalização vem acompanhada do avanço tecnológico (e,consequentemente, das comunicações) que transformou a informação e o conhecimento em mercadorias valiosas. As indústrias do conhecimento, por possuírem como ativo principal algo que é dificilmente controlável (no sentido da propriedade e do fluxo), atuam em um contexto de grande incerteza tecnológica, operacional e estratégica. Se faz necessário que a atualização e a inovação sejam constantes, assim como a parceria com outras organizações. 85 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS • Necessidade de inovação: como citado anteriormente, a inovação é uma constante necessária à sobrevivência das organizações em um ambiente competitivo extremamente mutável. Concentrar-se em suas competências básicas e buscar parcerias complementares (redes organizacionais) é o caminho para se alcançar a flexibilidade necessária. • Características ambientais: o ambiente externo a uma organização pode apresentar variações, que podem ir de uma grande instabilidade para um nível estável de dinamismo. A adaptação é essencial para lidar com esse fator, já que em um cenário de elevada turbulência é a capacidade de gerar uma resposta descentralizadora e cooperativa da organização, mobilizando suas capacidades de inovação e parcerias, que vai definir sua sobrevivência. • Natureza da tarefa da organização: o nível de complexidade das atividades realizadas pela organização é determinante para as estruturas em rede. Quanto maior a complexidade, maior é a necessidade de uma coordenação eficiente que seja capaz de mobilizar os recursos especializados demandados. Com a tendência de crescimento da customização dos produtos e serviços e da atenção ao cliente, a organização do tempo operacional e de mobilização dos recursos se torna essencial, criando maior interdependência entre as organizações. Conforme define Daft (2008), estrutura em rede é um termo genérico e, na verdade, abarca formas organizacionais alternativas: rede, clusters, virtuais, equipes de trabalho e organizações de aprendizagem. A divisão do trabalho, ponto fundamental para a maioria das estruturas organizacionais, se afasta da centralidade das atividades básicas e passa a girar em torno do conhecimento, ressaltando-se a importância das equipes multifuncionais (permanentes ou temporárias). Em relação à cadeia de comando, a função principal de coordenação passou a ter menos importância com os processos de flexibilização e horizontalização (em alguns sentidos) das estruturas hierárquicas. Com menos níveis organizacionais, a amplitude de comando aumentou. Outra característica essencial foi o aumento da organização informal, que em muitos casos passou a ter um papel mais ou tão relevante quanto a formal por conta de seu caráter dinâmico e contingencial. A partir da flexibilização das fronteiras, a capacidade interna perdeu espaço para a importância do estabelecimento de parcerias com clientes e fornecedores, além de acordos mutuamente benéficos com concorrentes, já que a proteção, atuando-se exclusivamente dentro das próprias fronteiras, passou a ser uma ilusão. Todas essas mudanças teriam sido, entretanto, inócuas sem o avanço da tecnologia. As tecnologias da informação e da comunicação propiciaram uma dinâmica produtiva e de relações que consolidou a adoção das estruturas em rede nas organizações. São diversas as formas organizacionais que se utilizam das estruturas em rede (de aprendizagem, clusters, virtuais, organizações em rede ou estruturas por equipe de trabalho), diferenciando-se das estruturas tradicionais, principalmente, no que diz respeito à divisão do trabalho e à conformação da cadeia de comando. 86 Unidade II A forma de agrupamento dos diversos profissionais em torno dos projetos a serem realizados é também baseada na informação, pois serão suas expertises que definirão como e onde atuarão de forma permanente ou não. As equipes multifuncionais conseguem, dessa forma, superar os limites da divisão do trabalho e tornar a coordenação para, por exemplo, o desenvolvimento de novos produtos mais eficiente. A autonomia deve ser parte importante de dinâmica, pois com maior flexibilidade nas relações, a supervisão das tarefas também fica mais branda. De qualquer forma, nessa estrutura a autoridade é mais apoiada na expertise dos membros do que em suas posições hierárquicas. Um exemplo de estrutura de rede é apresentado na figura a seguir. Por sua horizontalidade, o poder para tomada de decisões é distribuído aos níveis inferiores da organização, diferenciando-se da forma como funciona a cadeia de comando nas estruturas tradicionais. Com estruturas mais achatadas, são necessários menos níveis hierárquicos, tornando maior a extensão do controle. Nesse formato, a informalidade das relações ganha mais relevância na condução das coalizões e conflitos, sendo a estrutura mais inconstante e flexível. No mesmo sentido, nesse tipo de estrutura a relação com agentes externos (clientes, fornecedores e parceiros) é mais presente do que nas estruturas tradicionais. Isso demanda que os membros organizacionais estejam mais preparados para lidarem com os desafios do ambiente externo e com as incertezas que cercam a organização. Centro de competência de manufatura Aliança com concorrentes que fornecem um serviço complementar Unidade de distribuição Aliança com o principal cliente Aliança com o principal fornecedor Centro de competência de treinamento Limite da organização Equipe multifuncional Equipe de projeto Figura 44 As estruturas em rede, é importante ressaltar, funcionam com todas essas especificidades, porque o avanço da tecnologia propicia, no que diz respeito à eficiência da comunicação e à velocidade (e quantidade) da informação, uma consolidação de seus formatos. Fator determinante para os modelos em rede, a comunicação regra a integração dos membros organizacionais, assim como a inovação e a adaptabilidade o fazem. 87 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS A inovação nesse contexto, portanto, passa a ser a maior vantagem competitiva das organizações. Se o ambiente de negócios é mais instável e volátil, quanto maior a capacidade de inovar, melhor será a resposta dada, embora o controle dos recursos disponíveis, com o aumento das possibilidades de alocação, fique mais difícil. Aqui estão alguns exemplos de indústrias que atuam em um ambiente de grande incerteza em relação à tecnologia, preferência dos consumidores, e ao ciclo de vida de seus produtos, utilizando-se das estruturas em rede: cinema, moda, semicondutores, biotecnologia, entre outros. O quadro a seguir ilustra as principais vantagens e desvantagens da estrutura em rede: Quadro 14 Vantagens Permite uma maior flexibilidade e adaptabilidade da organização a um ambiente muito complexo e volátil Potencializa a rapidez de resposta às demandas ambientais Estimula o desenvolvimento de competitividade à escala global Promove um ambiente desafiador e motivador para se trabalhar Reduz os gastos gerais por causa da baixa necessidade de supervisão e consequente diminuição do número de níveis hierárquicos e administradores Desvantagens Dificuldade para apurar responsáveis por alguma situação ou problema Inexistência de um sistema de controle ativo por causa da dispersão de unidades, tornando a organização dependente de contratos, coordenação, negociações e conexões eletrônicas Possibilidade de perda de uma parte importante da estrutura (por exemplo, falência de um parceiro), com impactos imprevisíveis na organização Dificuldade de desenvolvimento de uma cultura organizacional forte, o que diminui a lealdade dos membros à organização (uma vez que podem ser substituídos por uma parceria a qualquer momento) Fonte: Sobral; Peci (2008, p. 280). Conforme pontuam Sobral e Peci (2008), em um ambiente cercado pela instabilidade, pela inovação e pelas mudanças constantes, é a capacidade de adaptação das estruturas em rede que as tornam tão vantajosas. No entanto é importante lembrar que duplicações de recursos e dificuldadespodem surgir de sua natureza fluida. 88 Unidade II Este é outro modelo da estrutura em rede: Organizações primárias Companhia essencial Organizações secundárias Figura 45 Saiba mais O artigo a seguir apresenta um importante conjunto de informações sobre a empresa que é considerada entre as mais inovadoras do mundo. MARTINS, I. Por dentro da Apple. Negócios, 10 mar. 2017. Disponível em: https://glo.bo/2O76NuY. Acesso em: 22 fev. 2021. 6.4.4 Estrutura em rede virtual Segundo Daft (2008), o conceito de rede pode ser ampliado para o aspecto virtual. Nessa estrutura, a empresa terceiriza a maior parte de seus processos, mantendo uma organização central reduzida. A conexão dos serviços contratados com a direção central se daria, principalmente, pelo meio virtual. A Nike é um exemplo de rede virtual. O contato direto da coordenação central da empresa, localizada nos EUA, com seus funcionários, atuando principalmente na Ásia e contratados por meio de intermediários, é mínimo. A empresas identificaram uma forma de atuar em escala global, reduzindo intensamente os custos fixos e operando basicamente com os seus custos varáveis que aumentam ou diminuem em função do volume produzido e comercializado. De acordo com Manganote (2005), o uso da internet é muito 89 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS intenso, nesse tipo de organização. O ambiente virtual, praticamente, substitui o físico nas operações eletrônicas realizadas pela empresa. Segundo Chiavenato (2003), as características da organização virtual – rapidez, flexibilidade, simplicidade e agilidade – a elegem como uma solução perfeita para o ambiente conturbado e em constante mudança. O suporte básico para o funcionamento dessas empresas é a tecnologia da informação, que permite a sua fluidez de funcionamento, eliminando-se as barreiras departamentais e organizacionais entre uma instituição e outra que se relacionam em rede. Como não há necessidades de instalações físicas, como sedes, filiais e escritórios de representação, instalados geograficamente dispersos, nesse tipo de operação os colaboradores podem atuar em home office, em suas residências, como nós da rede, interligados pela rede virtual de comunicação. Nesse ambiente virtual, os colaboradores, as empresas parceiras, os fornecedores e os clientes são interligados e integrados, de forma a poderem transacionar e viabilizar o fluxo de informações, produtos e serviços da organização central da rede virtual. Toledo (2006) afirma que as organizações virtuais atingem as metas e objetivos da organização central através da realização dos trabalhos, de forma rápida e flexível, otimizando os recursos empregados, por meio de funções organizadas virtualmente, planejando, organizando e controlando a distância as atividades desempenhadas pelas organizações parceiras. Para o bom funcionamento da organização virtual, faz-se necessário: • identificar as necessidades dos clientes e mercado-alvo, transformando-as em especificações precisas dos produtos desenvolvidos; • selecionar as alternativas de solução mais adequadas, em conjunto com as empresas parceiras; • desenvolver conjuntamente os processos necessários, que funcionem de forma mais eficiente, eficaz e flexível, quanto for possível; • dinamizar e melhorar continuamente a alocação e o aproveitamento dos recursos pela rede. As organizações virtuais funcionam sem as barreiras físicas das empresas tradicionais, conduzindo suas operações através de um complexo e intrincado relacionamento com parceiros fornecedores e clientes distribuídos pelo mundo, numa rede globalizada de negócios. A organização virtual ultrapassa os limites da organização física, em um processo no qual relacionamentos complexos são mantidos por ela e parceiros, fornecedores, clientes e o mercado. Seguem algumas vantagens e desvantagens do modelo a seguir. Vantagens da estrutura virtual: • maior produtividade por contar com processos tecnologicamente avançados e com um potencial suporte das organizações parceiras; 90 Unidade II • primazia na preparação, treinamentos e desenvolvimentos das especialidades das empresas parceiras que comporão a rede; • custos fixos extremamente reduzidos pela virtualidade e pela rede de parceiros que compartilham os seus recursos na operação em rede. Desvantagens da estrutura virtual: • algumas incompatibilidades de comunicação entre os parceiros; • dificuldade de controles e aplicação de ferramentas de gerenciamento, devido às particularidades das organizações parceiras; • controles de projetos dificultados em função dos distanciamentos e diversidade de culturas envolvidas. Todavia, é importante lembrar que existem limitações para a implementação desse tipo de organização. A empresa deve deter o controle sobre o processo e das tecnologias (e do design) que envolvem a elaboração dos produtos para que possa transferir a maior parte das atividades e dos ônus para outras organizações sem o risco de ter seus processos prejudicados ou mesmo plagiados. Este é um modelo da rede virtual da TiVo: Empresa de produção Sistema de distribuição logística Empresa de marketing e relações públicas Função de apoio ao cliente TiVo Núcleo com enfoque em desenvolvimento tecnológico Figura 46 91 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Segue outro exemplo de estrutura em rede virtual, o da Nike Hurley International: Recursos humanos globais: David Ayre Presidente de produto e merchandising: Jeanne Jackson Conselho geral: Hilary Krane Conselho de administração Marketing esportivo global: John Slusher Diretor de operações: Erik Sprunk CFO: Andy Campion Presidente do conselho de administração: Philip H. Knight Presidente da marca Nike: Trevor Edwards Presidente e CEO: Mark Parker Figura 47 Agora, segue a estrutura organizacional da Nike Emea: Diretor geral Conselho N-1 N-2 Vice-presidente do departamento de criatividade Vice-presidente de merchandising marketplace Vice-presidente do digital direct Vice-presidente: Alemanha, Áustria e Suíça Diretor de marketing direct Diretor de media Diretor de comunicação (Berlim e Europa Central, Oriente Médio e África) Diretor de marketing (central) Diretor sênior de marketing Vice-presidente: Norte da Europa, Oriente Médio e África, França, Benelux e Países Nórdicos Figura 48 Para ilustrar as caraterísticas da empresa Nike, considerada um dos exemplos mais marcantes da estrutura em rede virtual, segue um artigo na íntegra, publicado na revista Época, para leitura e reflexão: Caso Nike Por dentro do Planeta Nike Tênis inspirados em pontes. Laboratórios que aplicam tecnologia espacial. Funcionários livres para treinar a qualquer hora do dia. Como a maior empresa de esportes do mundo trabalha e inova 92 Unidade II A Nike em números: • Fundação: janeiro de 1964 • Faturamento: US$ 19,1 bilhões • Funcionários: 34 mil • Países em que atua: mais de 160 • Escritórios pelo mundo: 75 • Fábricas contratadas: cerca de 700 • Lojas próprias: 674 • Pares de tênis por ano: 300 milhões A americana Nike pertence àquele escasso time de companhias reputadas por revolucionar o setor em que operam. Maior fabricante mundial de artigos esportivos, a Nike foi pioneira no movimento de terceirização da produção, que acabou por se tornar um padrão global. Sem fábricas próprias, a empresa passou a se concentrar na inteligência de marketing, design e inovação. Também transformou sua marca em um ícone mundial ao casar cultura popular com esportes e elevar o culto ao atleta a um ponto nunca antes imaginado. Nesse processo, criou o marketing esportivo moderno e produziu uma legião de milionários. Por trás dessas decisões havia sempre a cabeça do fundador, Phil Knight. Conta-se que quando Knight assistiu a Tiger Woods, então com 20 anos, vencer pela terceira vez seguida o campeonato amador de golfe dos Estados Unidos, em 1996, comentou: “espero que a gente contrate esse garoto. Senão, espero que ele vire médico”.Embora Woods estudasse economia na Universidade de Stanford, Knight acabou sendo responsável por tornar qualquer preocupação acadêmica do jogador uma questão supérflua: dias depois da vitória, ele pagou US$ 40 milhões para fechar um contrato de cinco anos com o atleta. Muitas vezes descrito como genial, enigmático, idiossincrático, competitivo e imprevisível, Phil Knight construiu, em quatro décadas, seu império esportivo com tacadas como essa. A simbiose entre empresa e criador é tão profunda que por três vezes Knight flertou com a aposentadoria, mas teve de retomar as rédeas para mudar o rumo e salvar a companhia do desastre. Por muito tempo, especulou-se que a Nike jamais sobreviveria à sua partida. Seu sucessor, o CEO Mark Parker, muda essa percepção. O executivo que está mudando essa percepção é Mark Parker, 54 anos. Um veterano que ingressou na companhia em 1979, Parker completa agora em janeiro quatro anos como o número 1 da Nike. “Phil Knight é um ícone, não só para a Nike mas também para o mundo dos esportes”, afirma Parker. E quão desafiador tem sido substituir um mito? 93 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS “Eu vejo menos como um desafio e mais como uma oportunidade de continuar a cultivar uma cultura que é incrivelmente especial e poderosa”, diz Parker, em sua sala repleta de objetos, brinquedos, quadros e fotos no QG da companhia em Beaverton, uma pequena cidade ao lado de Portland, no estado de Oregon. Alto e esguio, ele parece ser uma síntese de seu chefe Knight, hoje na presidência do conselho de administração, e do outro sócio fundador da Nike, o técnico de corridas Bill Bowerman, já morto, e tido como o primeiro grande inovador da empresa. Assim como Knight, Parker foi um corredor apaixonado, na juventude, que gostava de percorrer grandes distâncias. Tiago Pinto, diretor de marketing da Nike do Brasil, diz que uma das cenas mais marcantes para ele quando trabalhou na matriz, por dois anos, entre 2006 e 2008, era ver o CEO frequentar uma trilha de corrida famosa ao lado de muitos funcionários. “Depois do treino ele se reunia na lanchonete conosco, com o barro cobrindo suas pernas.” Recentemente, Parker trocou as corridas pela bicicleta devido a um problema nos joelhos. Mas além dos vínculos com o esporte, ele possui um longo currículo na área de inovação. Um homem de produtos Ainda estudante de administração na Universidade da Pensilvânia, Parker costumava mexer em seus tênis, adicionando espuma nos solados e criando proteções com neoprene nas meias. Empregado como designer, trabalhou ao lado de Bowerman e desde então se envolveu diretamente em dezenas de projetos. O mais decisivo foi a criação do Air Jordan, lançado em 1985 como o tênis do então desconhecido jogador de basquete Michael Jordan, que se tornou o maior sucesso de vendas da história da Nike. Parker foi também responsável pela implementação do primeiro laboratório de pesquisas esportivas, em 1980, e é visto internamente acima de tudo como um homem de produto. Com frequência vai aos centros de inovação para questionar o que está sendo desenvolvido ou apontar os projetos promissores. “Ele é provavelmente um dos melhores gestores de produtos que existe”, afirma o designer Jay Meschter, uma das principais estrelas criativas da Nike. Em uma empresa que costuma mudar os gestores de função a cada dois ou três anos, para incentivar uma visão global do negócio, Parker ocupou 12 posições antes de chegar a CEO. Em 2001, assumiu a copresidência de marcas, ao lado do colega Charles D. Denson. Tinha-se como certo que um dos dois seria o próximo comandante. Mesmo com toda essa experiência, só chegou ao topo depois de um imprevisto. Em 2004, Knight decidira mais uma vez sair de cena, após perder um dos dois filhos num acidente de mergulho. Foi buscar um sucessor no mercado, por acreditar que a Nike precisava de sangue novo e um currículo que misturasse bom desempenho financeiro com a habilidade para controlar múltiplas marcas. A escolha recaiu sobre o executivo William Perez, cuja carreira foi construída na SC Johnson, fabricante de material de limpeza. Knight via nele a combinação entre a experiência profissional e um perfil de quem entendia o que era uma companhia com uma cultura insular. Foi provavelmente um dos julgamentos mais equivocados de Knight. Ao perceber que Perez não conseguiria se integrar ou entender o que faz a Nike ser o que é, ele se voltou para Parker. 94 Unidade II Knight criou na empresa uma cultura extremamente informal, baseada nos princípios de ampla autonomia e responsabilidade. Os funcionários podem coordenar os próprios horários e treinar a qualquer momento do dia. Jogos e aulas de ginástica são constantes e as academias nunca estão vazias. “Participei de muitas reuniões fazendo ginástica”, diz Cristian Corsi, presidente da Nike do Brasil, que viveu em Portland entre 2002 e 2003. Uma das áreas centrais do campus da empresa é dominada por dois gramados de futebol profissionais, batizados de Ronaldo Fields, em referência ao jogador brasileiro que até hoje é um dos atletas mais importantes da Nike. Os campos formam uma pequena parte da estrutura. Há ainda um terceiro campo de futebol, uma pista oficial de corrida e quadras de tênis e basquete, além de duas modernas academias de ginástica. A Nike dá autonomia e cobra resultados dos funcionários. Eles fazem seu horário e podem treinar a qualquer hora em duas academias. O desenho desses espaços físicos não é aleatório e se reproduz em menor grau nas principais filiais pelo mundo, incluindo a brasileira. A intenção é cultivar o espírito de um negócio feito por esportistas para esportistas. A lógica é simples: como atletas ou apaixonados por esportes, os funcionários vão conseguir entender melhor as necessidades e os desejos do consumidor. Um exemplo de como essa atenção gera frutos é um modelo inovador de tênis batizado de Nike Free. Em conversas com treinadores e colegas de corridas, os designers descobriram que alguns deles utilizavam um método de treinamento pouco comum: correr descalços sobre a grama. Os adeptos afirmavam que isso os fortalecia e ajudava na prevenção de lesões. A teoria foi testada à exaustão no laboratório de pesquisas esportivas e, quando se concluiu que de fato havia benefícios, foi dada a partida na produção. Knight, que por vezes se comunicava com acenos de cabeça e frases enigmáticas, era adepto de um estilo radical de delegação. Cevou a fama de escolher as pessoas certas para os postos certos, e depois sair da frente. Scott Bedbury, consultor e autor de O Novo Mundo das Marcas e ex-executivo responsável por um dos slogans mais relevantes da história da propaganda, o Just Do It (algo como Apenas Faça), conta que ao assumir o posto de diretor de publicidade corporativa, em 1987, descobriu que vigorava na empresa uma forte cultura oral, com pouquíssimos documentos que pudessem ajudá-lo a montar uma estratégia. “Qual a coisa mais importante que posso fazer por você neste momento?”, perguntou ao chefe, durante uma reunião. Knight respondeu: “Faça coisas grandes”. Ao que Bedbury replicou: “Mas e se eu por acaso cometer um erro?”. Knight disse que ele não deveria se preocupar com isso: “Só não cometa o mesmo erro duas vezes”. Segundo Margaret Gilliam, analista de mercado que monitora a Nike desde a abertura de seu capital, em 1980, Parker é um sujeito muito identificado com a cultura da Nike. “Não está reinventando a roda, mas aperfeiçoando-a”, diz. É um CEO incumbido de liderar uma reestruturação às avessas: está radicalizando, em vez de mudar práticas tradicionais da empresa. Uma delas é a obsessão pelo contato com os consumidores, a quem os funcionários sempre se referem como atletas. Parker substituiu as antigas divisões de produtos – calçados, roupas e acessórios – por seis categorias: futebol, basquete, corrida, esportes de ação, 95 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS roupas esportivas e itens para mulheres. Essas áreas ganharam autonomia e funcionamhoje virtualmente como núcleos, com equipes dedicadas de designers e pessoal de marketing, vendas e promoções. Parker também cortou 5% da mão de obra direta, ou 1,75 mil pessoas, e reorganizou as regiões geográficas. O corte atingiu principalmente camadas intermediárias de gerenciamento e diminuiu a distância entre o topo e a base. O número de regiões cresceu de quatro para seis, com a criação de áreas exclusivas para a China e o Japão, que não existiam, e um agrupamento de países de mercados emergentes, do qual o Brasil faz parte. Com isso, o caminho das principais filiais até o topo também foi encurtado. Ao ganhar agilidade, diversidade e ampliar a conexão com o mercado, Parker diz que espera alimentar com ideias a estrutura de inovação da Nike e mantê-la como uma fábrica de novidades em todas as áreas, dos produtos ao marketing. “Quero tornar a companhia ainda mais competitiva e relevante, por estar mais conectada aos atletas. E usar o conhecimento que nasce desse processo em inovações”, afirma Parker. Fonte: Porto (2009). 6.4.5 Estruturas híbridas Excetuando as organizações que estão em seus passos iniciais, é muito difícil observar na realidade a aplicação de estruturas puras, como as vistas anteriormente. Na verdade, essa dificuldade também se dá pela necessidade organizacional de conciliar suas necessidades perante um ambiente de crescentes complexidade e imprevisibilidade. Portanto é importante o uso de estruturas híbridas, que buscam tirar vantagens de características de estruturas diversas, evitando ao mesmo tempo seus pontos fracos. Empresas podem adotar estruturas de acordo com as necessidades de seus níveis organizacionais. Há áreas que, por exemplo, lidam melhor com uma estrutura matricial, enquanto outras, como as responsáveis pela elaboração de produtos, se adequam mais a uma estrutura funcional. Na figura a seguir é mostrado um exemplo de estrutura diferenciada em função dos níveis organizacionais. 96 Unidade II Presidência Divisão financeira Departamento de acessórios Setor qualidade Divisão de produção Departamento de motores Setor planejamento Divisão de marketing Departamento de linha branca Setor almoxarifado Seção de montagem Seção de pré-montagem Seção de embalagem Estrutura funcional Estrutura por processos Estrutura por produtos Estrutura funcional Figura 49 6.5 Estruturas: novas perspectivas A dinamicidade crescente da sociedade humana, com mudanças cada vez mais rápidas, regra a lógica de todas as atividades e tarefas organizacionais, abrindo-se espaço para pesquisas e desenvolvimentos que sugiram novas soluções estruturais. A tendência contemporânea para as organizações é a que prioriza a utilização de equipes e grupos de trabalho, rompendo com o paradigma individualista e com a lógica burocrática. A seguir, será realizada a análise detalhada das seguintes novas propostas de estruturação organizacional: • rede criativa; • estrutura circular; • estrutura invertida; • estrutura em teia de aranha; • estrutura tríplice. 97 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Rede criativa Estrutura invertida Estrutura circular Estrutura teia de aranha Figura 50 6.5.1 Rede criativa A rede criativa está relacionada à importância de um processo de inovação contínuo para o atendimento das demandas organizacionais. Além disso, propõe a dinâmica de colaboração com outras organizações em um sentido que ultrapassa o conceito de terceirização. De acordo com Conklin e Tapp (2003), as cadeias de suprimento de uma organização, por exemplo, podem ser impactadas por inovações nas comunicações e nos processos logísticos, afastando-se de um caráter unidirecional e aproximando-se de uma estrutura em rede permeada por inter-relacionamentos em vários sentidos. Os elementos essenciais para a mudança são nominados como PARTS: P – players: que são os participantes A – added value: que são os valores adicionados R – rules: constituem as regras T – tactics/perceptions: trata-se das táticas e percepções S – scope: é o escopo Conklin e Tapp (2003) ainda ressaltam a importância da inovação, que, ultrapassando o benefício individual para as empresas que a incentivam, pode acabar aumentando o valor agregado da rede, levando ganhos mais elevados para todos os atores que a compõem. Podemos elencar como atributos da rede criativa: • O foco é a inovação e o aprimoramento contínuos: buscando sempre o benefício dos processos produtivos da empresa e da rede como um todo. 98 Unidade II • Envolve uma análise dinâmica em vez de estática: no decorrer do tempo, as mudanças nas ações devem ser sempre levadas em conta. • Há colaboração contínua no processo de produção do grupo: os membros da organização devem competir e colaborar entre si, simultaneamente. • Existe um organizador central, coordenando as ações da rede: assim como nas cadeias de comando tradicionais, há uma coordenação geral que possui certa concentração de poder de decisão. • Os relacionamentos envolvem fluxos multidirecionais, devido à interdependência: tão importantes quanto os fluxos de decisão são os fluxos financeiros. Vantagens: • promoção da inovação e melhoria contínua, visando ao aumento do valor agregado para os membros da rede; • adoção de uma visão dinâmica do ambiente e de suas demandas; • trabalho em grupo e compartilhamento de esforços, otimizando a utilização de recursos. Desvantagens: • centralização de poder em uma organização central; • o poder centralizado pode diminuir a liberdade criativa das demais parceiras. Segue um exemplo de estrutura em rede criativa aplicada na Companhia Hering: Fios e tecidos lisos Máquinas e equipamentos Insumos químicos Insumos Agências de moda Empresa referência Parceiras fornecedoras Parceiras produtoras Parceiras de suporte Parceiras clientes Parceiras de P&D Logística de transporte Estilistas ServiçosBancos Lojas Lojas Lojas Figura 51 99 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS 6.5.2 Estrutura circular De acordo com Le Fauve e Hax (1993), o Projeto Saturno surgiu de uma necessidade produtiva da General Motors (GM) na década de 1970, após a crise causada pelo Primeiro Choque do Petróleo e da crescente concorrência dos veículos japoneses. Para enfrentar tal cenário, a empresa pensou em fabricar um veículo pequeno, de classe mundial e que fosse competitivo. No entanto, para implementar tal proposta, a GM teve que implementar uma nova estrutura organizacional. As mudanças foram tão intensas que a Saturno foi estruturada como uma companhia separada do grupo GM, com base em novos direcionamentos de ação e em um novo modelo de negócio, para apenas posteriormente ser incorporada ao grupo. As ideias que guiaram o projeto são apresentadas por Terra (1999 apud TOMAOKA, 2013). Os valores iniciais da empresa eram: • compromisso com o cliente; • compromisso com a excelência; • trabalho em equipe; • confiança e respeito pelo indivíduo; • melhoria contínua. No que se refere à dinâmica da estrutura circular, as equipes de trabalhos básicas possuem 15 pessoas, com cada uma dispondo de um líder e de duas outras pessoas alocadas temporariamente, representadas por um membro do sindicato e outro do management. Com o avanço do tempo, em torno de três anos, a função do líder acaba perdendo sentido e desaparece, criando-se uma equipe capaz de se autodirigir. As responsabilidades dessas unidades são diversas: programação da produção, orçamento, qualidade, housekeeping, segurança e higiene, manutenção, controle de inventário, treinamento, alocação de tarefas individuais, reparos, seleção de pessoal etc. No entanto é importante lembrar que cada membro passa por intenso treinamento comportamental (250 a 750 horas) antes de adentrar no grupo. O “círculo de decisão”, integrado por representantes das unidades e de áreas de suporte temporárias ou permanentes – possuem a função de aconselhar as unidades de acordo com o conhecimento especializado que dominam –, interliga
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