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HISTÓRIA E OS CONCEITOS HISTÓRICOS

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Prévia do material em texto

HISTÓRIA E OS 
CONCEITOS 
HISTÓRICOS 
 
 
 
 
 
RACHEL DUARTE ABDALA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA E OS CONCEITOS 
HISTÓRICOS 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Taubaté 
Universidade de Taubaté 
2014 
 
 
Copyright©2014.Universidade de Taubaté. 
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser 
reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. 
Administração Superior 
Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo 
Vice-reitor Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto 
Pró-reitor de Administração Prof. Dr. Arcione Ferreira Viagi 
Pró-reitor de Economia e Finanças Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano 
Pró-reitora Estudantil Profa. Ma. Angela Popovici Berbare 
Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof. Dr. Mario Celso Peloggia 
Pró-reitora de Graduação Profa. Dra. Nara Lúcia Perondi Fortes 
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dr. Francisco José Grandinetti 
Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro 
Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires 
Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino 
Coordenação Tecnológica Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga 
Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira 
Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques 
Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva 
Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti 
Coord. de Curso de Pedagogia 
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios 
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais 
Revisão ortográfica-textual 
Projeto Gráfico 
Diagramação 
Autor 
 Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino 
Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira 
Profa. Ma. Ana Paula da Silva Dib 
Profa. Ma. Nanci Aparecida de Almeida 
Me.Benedito Fulvio Manfredini 
Amanda Cortez Machado 
Rachel Duarte Abdala 
Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro 
Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 
Central de Atendimento:0800557255 
Polo Taubaté 
 
 
 
Polo Ubatuba 
 
 
 
Polo São José dos Campos 
 Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara 
Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 
Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 
Secretaria: (12)3625-4280 
Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 
Tel.: 0800 883 0697 
e-mail: nead@unitau.br 
Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h 
Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 
Parque Residencial Jardim Aquarius 
Tel.: 0800 883 0697 
e-mail: nead@unitau.br 
Horário de atendimento: 8h às 22h 
 
 
 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi 
Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU 
 
 
 
 
 
 
 
A135h Abdala, Rachel Duarte 
História e os conceitos históricos / Rachel Duarte Abdala. Taubaté: 
UNITAU, 2012. 
46p. : il. 
ISBN: 978-85-65687-99-7 
 
 Bibliografia 
1. História. 2. Conceitos históricos. 3. Pensamento histórico. 4. Análise 
histórica. I. Universidade de Taubaté. II. Título. 
 
 
 
1. História. 2. Conceitos históricos. 3. Pensamento histórico. 
4. Análise histórica. I. Universidade de Taubaté. II. Título. 
 
 
 v 
 
 
PALAVRA DO REITOR 
Palavra do Reitor 
 
 
Toda forma de estudo, para que possa dar certo, 
carece de relações saudáveis, tanto de ordem 
afetiva quanto produtiva. Também, de 
estímulos e valorização. Por essa razão, 
devemos tirar o máximo proveito das práticas 
educativas, visto se apresentarem como 
máxima referência frente às mais diversificadas 
atividades humanas. Afinal, a obtenção de 
conhecimentos é o nosso diferencial de 
conquista frente a universo tão competitivo. 
 
Pensando nisso, idealizamos o presente livro-
texto, que aborda conteúdo significativo e 
coerente à sua formação acadêmica e ao seu 
desenvolvimento social. Cuidadosamente 
redigido e ilustrado, sob a supervisão de 
doutores e mestres, o resultado aqui 
apresentado visa, essencialmente, às 
orientações de ordem prático-formativa. 
 
Cientes de que pretendemos construir 
conhecimentos que se intercalem na tríade 
Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de 
forma responsável, porque planejados com 
seriedade e pautados no respeito, temos a 
certeza de que o presente estudo lhe será de 
grande valia. 
 
Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa 
leitura. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
Prof. Dr. José Rui Camargo 
Reitor 
 
 
 
vi 
 
 
 vii 
Apresentação 
Este livro-texto aborda os Conceitos Históricos que são a base de todo o trabalho dos 
historiadores. Os conceitos são efetivamente as ferramentas a partir das quais os 
historiadores pensam e escrevem sobre os fatos e sobre a própria História. Desse modo, 
é fundamental refletir e conhecer os conceitos e a problemática que envolve a sua 
definição e a sua aplicação nas análises desenvolvidas na área de História. 
Além de serem aplicados nas análises historiográficas impreterivelmente, os conceitos 
também são, eles mesmos, alvo de intensa discussão no campo. 
Inicialmente, esse livro-texto apresenta a complexidade que envolve os conceitos, bem 
como as dimensões que ela abrange e que vão desde a língua, a linguagem e a linguagem 
científica até a própria definição do conceito. 
Basicamente, antes de aplicar uma ferramenta devemos conhecer o que ela faz, qual a sua 
capacidade. Assim também acontece com relação aos conceitos. Embora seja 
imprescindível para a análise em História, ou mesmo exatamente por esse motivo, precisa 
antes de ser aplicado, estudado. 
Em seguida vamos estudar os tipos e as funções dos conceitos históricos. Depois, o 
conceito de História. Sim, História também é um conceito. 
Por fim, foram escolhidos três conceitos para serem analisados de um modo mais 
aprofundado dada a sua importância na área de História. 
Com isso esperamos oferecer as ferramentas necessárias aos futuros historiadores e 
professores de História, pois como todos sabemos essas esferas são indissociáveis, para 
desenvolverem seus trabalhos e suas análises. 
 
 
 
 
viii 
 
 
 ix 
Sobre a autora 
 
RACHEL DUARTE ABDALA: bacharel e licenciada em História pela Universidade de 
São Paulo - USP. Mestre em História da Educação pela Faculdade de Educação da 
Universidade de São Paulo - FEUSP. Doutoranda pela mesma Instituição. Docente e 
coordenadora do curso de História da Universidade de Taubaté - UNITAU. Pesquisadora 
no Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em História da Educação - NIEPHE da 
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo -FEUSP. Pesquisadora do Núcleo 
Interdisciplinar de Pesquisas de Práxis Contemporâneas - NIPPC da Universidade de 
Taubaté - UNITAU. Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em História - NPH da 
Universidade de Taubaté - UNITAU. 
 
 
 
x 
 
 
 
 xi 
Caros(as) alunos(as), 
Caros(as) alunos(as) 
O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se 
como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais 
diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com 
profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência 
adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, por mais de 
35 anos de História e Tradição. 
Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. 
Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web 
interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a 
distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada 
especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. 
A estrutura internados livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e 
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como 
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e 
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e 
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo 
estudado. 
Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para 
a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de 
blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados 
ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. 
Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua 
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais 
atores desta formação. 
Para todos, os nossos desejos de sucesso! 
Equipe EAD-UNITAU 
 
xii 
 
 
 xiii 
Sumário 
 
Palavra do Reitor .............................................................................................................. v 
Apresentação .................................................................................................................. vii 
Sobre a autora .................................................................................................................. ix 
Caros(as) alunos(as) ........................................................................................................ xi 
Objetivos ........................................................................................................................... 3 
Introdução ......................................................................................................................... 4 
Unidade 1. A problemática e a função dos conceitos em História ............................. 6 
1.1 O conceito de conceito: o termo e a ideia ................................................................... 6 
1.2 A linguagem científica................................................................................................ 8 
1.3 Nomenclatura e classificação ................................................................................... 10 
1.4 A virada Linguística na História ............................................................................... 13 
1.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 16 
1.6 Para saber mais ......................................................................................................... 16 
1.7 Atividades ................................................................................................................. 17 
Unidade 2. Tipos e funções dos conceitos históricos .................................................. 18 
2.1 Jogo Aberto: você sabe ler e escrever? ..................................................................... 19 
2.2 Conceitos históricos .................................................................................................. 19 
2.3 Categorias de análise ................................................................................................ 23 
2.4 Conceitos ferramenta ................................................................................................ 26 
2.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 27 
2.6 Para saber mais ......................................................................................................... 27 
2.7 Atividades ................................................................................................................. 29 
Unidade 3. O conceito de História ............................................................................... 30 
 
xiv 
3.1 O termo História ....................................................................................................... 30 
3.2 Definições de História .............................................................................................. 32 
3.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 33 
3.4 Para saber mais ......................................................................................................... 33 
3.5 Atividades ................................................................................................................. 34 
Unidade 4. O conceito de História ............................................................................... 36 
4.1 Tempo: o conceito fundamental ............................................................................... 36 
4.2 Memória: o conceito desdobrado ............................................................................. 39 
4.3 Cultura: um conceito atual ........................................................................................ 40 
4.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 42 
4.5 Para saber mais ......................................................................................................... 43 
4.6 Atividades ................................................................................................................. 43 
Referências ..................................................................................................................... 46 
 
 
 
 
 
1 
 
 
História e os Conceitos 
Históricos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMENTA 
 
 
A História é uma ciência que se fundamenta em cinco pilares 
epistemológicos. O estudo desses pilares e de sua epistemologia auxilia a 
compreensão desta ciência. Apresenta e promove discussões 
epistemológicas sobre o conhecimento histórico. Este livro-texto discute o 
processo de definição do campo do conhecimento histórico e da 
historiografia. Incita a reflexão acerca dos diversos sentidos das formas de 
escrita da História e de seus conceitos fundamentais. 
 
 
ORGANIZE-SE!!! 
Você deverá usar de 3 
a 4 horas para realizar 
cada Unidade. 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Objetivo Geral 
 
Compreender, estudar e problematizar os conceitos fundamentais e as especificidades da 
História. 
 os 
Objetivos 
Objetivos Específicos 
• Iniciar os alunos no estudo e na reflexão dos conceitos da História e do 
pensamento histórico; 
• Indicar formas de aplicação dos conceitos históricos nas análises dos 
historiadores; 
• Estimular a reflexão e a percepção sobre a análise histórica. 
 
 
 
 
4 
 
Introdução 
Neste livro-texto, veremos a complexidade dos conceitos históricos e de sua aplicação 
nas análises desenvolvidas pelos historiadores. Veremos os diferentes tipos de conceitos. 
Na primeira Unidade, intitulada “A problemática e a função dos conceitos em História”, 
estudaremos a complexidade e as discussões que envolvem os conceitos. 
A segunda Unidade, intitulada “Tipos e funções dos conceitos Históricos”, examinaremos 
os três tipos de conceitos do campo da História e suas diferenças e especificidades. 
Na terceira Unidade, cujo título é “O conceito de História”, analisaremos as discussões 
em torno da definição de História e os motivos pelos quais o termo que denomina a 
ciência e o conjunto dos fatos realizados pelo homem é ele próprio também um conceito. 
É preciso antes de estudar outros conceitos começar pelo início estudando e 
compreendendo o conceito de História. 
Na quarta e última Unidade, intitulada “Aplicação dos conceitos”, estudaremos três 
conceitos que são essenciais para a História: tempo, memória e cultura. Chamamos o 
tempo de o conceito fundamental, porque além de ser visto dessa forma pelo senso 
comum e pelos próprioshistoriadores, o tempo é de fato um dos pilares epistemológicos 
da História. Memória denominamos de conceito desdobrado, pois é considerado como o 
complemento da História e, por fim, cultura é um dos mais debatidos conceitos no âmbito 
da História e foi, por esse motivo, escolhido para compor esse conjunto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
Unidade 1 
Unidade 1. A problemática e a função dos 
conceitos em História 
 
Nesta Unidade, vamos estudar a complexidade da conceituação em História que envolve 
a linguagem e a própria historicidade da História. 
 
1.1 O conceito de conceito: o termo e a ideia 
Conceituar é tarefa difícil, senão impossível, pois, toda conceituação é incompleta, 
imperfeita. Condensar em poucas palavras todo o conteúdo de ideias de um objeto ou de 
coisa torna-se tarefa quase impossível. Por esse motivo, todo conceito sofre limitações na 
essência e/ou na forma. Além disso, tanto para conceituar quanto para utilizar os conceitos 
é preciso considerar que os conceitos são dinâmicos, têm historicidade, ou seja, mudam 
ao longo do tempo. 
 
 
 
7 
 
O historiador francês Paul Veyne asseverou que “o único verdadeiro problema é o dos 
conceitos em História” (1987, p. 150). 
Mas o que é um conceito? 
As definições do dicionário e as mais correntes definem conceito como: representação de 
um objeto pelo pensamento, nas suas características gerais. Ação de formular uma ideia 
por meio das palavras, definição. Noção, ideia por meio de palavras, definição. Noção, 
ideia, concepção. Apreciação, julgamento, avaliação. Avaliação escolar. 
Como podemos ver o termo é utilizado com muitos sentidos e muitas aplicações, inclusive 
a de nomear as notas auferidas aos alunos nas avaliações escolares. 
Aqui, nos interessa perceber em primeiro lugar que um conceito é formado por duas partes 
distintas: o termo, a palavra e o sentido. Damos a essas duas dimensões os nomes de: 
denotação e conotação. 
A denotação é o termo, a palavra, o nome, formado pela língua e estudado pela 
etimologia. Esse é o sentido primeiro dado a partir da raiz etimológica à qual e do qual o 
termo se originou. Por exemplo, a palavra cronologia vem do grego como derivação de 
Cronos que é o Deus mitológico do tempo. Significa originalmente a ordem da datas e 
dos fatos. 
A conotação são os sentidos, os significados que foram sendo atribuídos ao termo 
original ao longo do tempo. Esses sentidos vão sendo acumulados ou substituídos de 
Paul Veyne (1930-) historiador e arqueólogo 
francês. Foi filiado ao Partido Comunista 
Francês. Em 1955 tornou-se membro da 
Escola Francesa de Roma. Após 1955, voltou 
para Aux-en-Provence como professor da 
Universidade de Provença. Em 1970 lançou 
seu livro de maior projeção: Como se 
escreve a História. Ensaio de 
epistemologia. Em 1975, tornou-se titular na 
cátedra de História Romana no College de 
France. Em 1978, acrescentou à obra Como 
se escreve a história, o ensaio Foucault 
revoluciona a história. 
 
Figura 1.1 – Paul Veyne. 
Fonte:http://www.babelio.com/users/AVT2_V
eyne_6535.jpeg 
Acesso em: 19 jun. 2011 
 
 
 
8 
 
acordo com a dinâmica histórica e o uso que vai sendo feito dos termos e conceitos e pode 
mudar de acordo com o contexto. 
Como afirma Jacques Le Goff (1990), os conceitos do historiador são metafóricos, 
articulam o concreto da palavra e o abstrato dos sentidos. 
 
1.2 A linguagem científica 
O filósofo austríaco naturalizado britânico, Ludwig Wittgenstein (1889-1951), sintetizou 
a importância da linguagem na frase: “Os limites da minha linguagem denotam os 
limites do meu mundo”. 
A linguagem é uma atividade humana que promove a comunicação e a integração entre 
os homens e, devido às várias dimensões que envolve, tem sido alvo de grandes 
discussões filosóficas. Considerando que as linguagens são criadas pelos homens, a 
relação entre linguagem e cultura é muito estreita. 
Os tipos de linguagem são muito mais abrangentes que exclusivamente o verbal (oral ou 
escrito) baseado nas palavras, que é o que nos interessa aqui, pois os conceitos são 
representados fundamentalmente em palavras. Existem muitos outros tipos de linguagem 
criados pelo homem, como por exemplo a linguagem dos sinais e gestos, as linguagens 
matemáticas, as artísticas, etc. 
Os tipos de linguagem que se relacionam com a discussão deste livro-texto são a 
linguagem verbal, a linguagem científica e a conceitual. 
Com relação à linguagem científica, cada ciência constitui a sua própria linguagem, 
composta por termos específicos especialmente criados para nomear as descobertas 
científicas. Esses termos especialmente criados compõem o que chamamos de jargão. As 
chamadas “ciências duras”, que são as ciências exatas, se baseiam também na linguagem 
matemática, além da verbal. 
 
 
 
9 
 
Para Gildo Magalhães (2005, p. 192), “se a linguagem do conhecimento quando se dirige 
para a ciência deveria ser a mais simples possível, é comum que se torne hermética, ao 
mesmo tempo que pretende ser objetiva e sem ambiguidades”. 
Para a filósofa brasileira Marilena Chaui (1997), a linguagem conceitual procura evitar, 
diferentemente da linguagem simbólica, a analogia e a metáfora, procurando atribuir às 
palavras um sentido direto e não figurado ou figurativo. Isso não significa que a 
linguagem conceitural seja exclusivamente denotativa. Pelo contrário, nela a conotação é 
essencial. “A linguagem conceitual procura diminuir a polissemia das palavras, buscando 
fazer com que cada palavra tenha um sentido próprio e que seus diferentes sentidos 
dependam do contexto no qual é empregada.” (CHAUI, 1997, p. 150). 
De acordo com Jacques Le Goff, a obra do historiador é uma forma de atividade 
intelectual simultaneamente poética, científica e filosófica. Desse modo, ao assumir-se 
como arte e como “filha” da Filosofia, a História consegue se tornar mais específica, 
técnica e científica e menos literária e filosófica. Nos seus primórdios, no período da 
cultura grega helenística, nada distinguia a História da Literatura. O Filósofo Aristóteles 
chegou a afirmar o caráter artístico da História. Atualmente alguns historiadores 
reivindicam para a história o estatuto de arte. Georges Duby afirma que: “A história só 
existe pelo discurso”. Paul Veyne defendeu durante muito tempo que a História seria uma 
narrativa, e, portanto, se aproximaria das características da Literatura. As concepções de 
Hayden White afirmam a lógica do trabalho histórico fundamentada em uma linearidade 
narrativa sem perder o caráter científico, a partir da articulação e aplicação de estratégias 
que resultam no “efeito explicativo” ou “estilo” Historiográfico. 
Hayden White conclui, sobre a ciência histórica no século XIX, que: 1. não há diferença 
entre História e Filosofia da História; 2. escolha das estratégias de explicação histórica é 
mais moral ou estética do que epistemológica; 3. a reivindicação de uma cientificidade 
da história não é mais que o disfarce de uma preferência por esta ou aquela modalidade 
de conceituação histórica. 
Voltamos à problemática do conceito em História sem ter saído dela. A História se vale 
de uma linguagem científica para afirmar o seu caráter como ciência. E, essa linguagem 
 
 
 
10 
 
tem a sua especificidade, como já vimos. No caso da História, além da especificidade 
inerente ao discurso científico assentado na linguagem conceitual, precisa lidar com 
problemas relativos à definição dos conceitos. E, como Ciência Humana não só aplica os 
conceitos, mas também os questiona e reflete sobre a sua aplicação. 
 
1.3 Nomenclatura e classificação 
Para Marc Bloch (2001), o problema da classificação é inseparável do problema da 
nomenclatura. 
De acordo com Bloch (2001, p. 135), “toda análise requer primeiro, como instrumento, 
uma linguagem apropriada”. E é justamente aí que se localiza o maior problema dos 
historiadores, pois,diferentemente do que vimos com relação às ciências que produzem 
jargões, a História não tem um jargão, o vocabulário do historiador é, em sua maior parte, 
proveniente do seu objeto de estudo, “não resulta do esforço severamente combinado dos 
técnicos”. Os documentos tendem a impor uma nomenclatura para o historiador. No 
entanto, como nos alerta Bloch, esse “decalque” da terminologia do passado carece que 
o historiador enfrente alguns desafios. Assim, o vocabulário dos documentos é um 
testemunho – como todo testemunho, imperfeito e sujeito à crítica. A nomenclatura 
empregada pelo historiador não é uma linguagem propriamente inventada, mas 
remanejada. Pode parecer um procedimento seguro, mas não se pode deixar de lado o 
contexto e as atualizações necessárias para a compreensão. Deve-se, portanto, considerar 
o contexto em que os termos foram empregados para que não se perca o seu sentido. 
Quando usamos só o termo, descontextualizado, pode-se incorrer em equívocos. Por 
exemplo, o termo carro já era usado na antiguidade para denominar os carros de guerra, 
mas contextualizando não podemos achar que os romanos quando utilizavam o termo 
carro falavam sobre os automóveis movidos à gasolina ou a álcool chamados hoje de 
carros. 
Há, de acordo com Bloch, um apego ao nome. Para ele, o homem não sente necessidade 
de mudar o “rótulo” só porque o seu sentido mudou. O próprio termo História, como 
 
 
 
11 
 
veremos adiante na Unidade 3, experimentou essa situação. Mudou o seu sentido, mas o 
termo foi mantido. 
Além do dinamismo histórico, o outro alerta que Bloch faz diz respeito ao dinamismo da 
própria linguagem. Ao longo do tempo algumas palavras deixam de ser utilizadas e 
desaparecem, outras mudam de sentido e de grafia. Há uma espécie de evolução da 
linguagem que nem sempre o historiador consegue acompanhar. Nesse sentido há o 
problema do uso pelo historiador do termo no original. Dependendo do termo e do uso, o 
historiador deve manter o original e em outros casos deve atualizá-lo. Mas como 
distinguir? 
Assim, apresenta-se um outro problema: É possível a exatidão na História? 
Para Paul Veyne (1987, p. 162), “o conceito é um obstáculo ao conhecimento histórico 
porque esse conhecimento é descritivo; a história não tem necessidade de princípios 
explicativos, mas de palavras para dizer como eram as coisas”. 
O historiador fala unicamente com palavras. E fala com palavras de seu país, ou seja, na 
sua língua materna que traz consigo referências culturais das quais o historiador não 
consegue se desvencilhar, ainda que o seu objeto de estudo seja algum fato ou fenômeno 
histórico de outro lugar que não o seu. 
Outra questão apontada por Marc Bloch diz respeito ao bilinguismo hierárquico praticado 
por muitas sociedades. Esse bilinguismo se refere à distinção entre a língua culta e a 
língua popular. Precisamos de suportes materiais para conhecer uma sociedade e sua 
cultura, e recorremos para isso fundamentalmente à escrita. O problema é que a escrita, 
na maioria das vezes, registra quase que exclusivamente a língua culta, excluindo assim 
termos e ideias da língua popular, bem como aspectos importantes da sua cultura. 
 
 
 
12 
 
E, em última instância, para finalizar a gama de problemas e obstáculos enfrentados pelo 
historiador no uso dos conceitos, nada mais difícil para um homem do que se exprimir a 
si mesmo. Não podemos nos esquecer de que o 
historiador é, ele próprio, um homem que fala, ao 
falar dos outros homens, sobre si mesmo. 
Desse modo, muitas vezes o historiador recorre 
ao uso de metáforas e de aproximações. Os 
termos mais usados são aproximações, pois o 
sentimento não pode ser nomeado porque ainda 
não tinha nome. Alguns exemplos desse processo 
são os termos empregados para denominar os 
conceitos de Renascimento e de Antigo Regime. 
Outro exemplo mais próximo da nossa realidade é o da denominação da América como 
Novo Mundo, o que passou, por oposição, a denominar a Europa como Velho Mundo. 
Isso só foi possível com a descoberta da América, pois, enquanto ainda não havia um 
outro mundo, um novo mundo, a Europa era considerada o “único”, portanto não poderia 
receber uma adjetivação. 
“O advento do nome é sempre um grande fato, mesmo se a coisa o havia precedido; pois 
marca a etapa decisiva da tomada de consciência”. (BLOCH, 2001, p. 142). Assim, como 
já vimos, o conceito está assentado em um termo. Não existe sem uma palavra que o 
denomine. Por esse motivo o nome é tão importante para a História, ou pelo menos 
deveria ser. Uma palavra vale menos por sua etimologia do que pelo uso que dela é feito. 
Ou seja, a etimologia é o ponto de partida, portanto não deve ser desconsiderada, mas os 
sentidos atribuídos a ela são talvez mais importantes do que ela própria. 
Retomando a questão acerca da precisão na História, devemos considerar que muitas 
palavras empregadas como conceitos pelo historiador são carregadas de sentimentos e 
 
Figura 1.2 - Retrato de Edward 
James. 
Fonte:http://www.culturabrasil.org/magri
tte.htm 
Acesso em 23 jun. 2012 
Reprodução Proibida (Retrato de Edward 
James), 1937, Roterdan, Museu Boymans-van 
Beuningen 
 
 
 
 
13 
 
suscitam emoções, inclusive no próprio historiador que é, como sabemos, um homem 
também. Os poderes do sentimento raramente favorecem a precisão da linguagem 
(BLOCH, 2001, p. 143). 
Essa é a latente questão da subjetividade na História. Subjetividade não significa juízo de 
valor, mas que o historiador ao escrever a História funciona como uma espécie de filtro 
cultural. Essa é uma das maiores questões das Ciências Humanas. Assim, no caso do 
emprego dos conceitos, cada historiador compreende o nome de um modo diferente de 
acordo com seus referenciais culturais. 
Por fim, ao tratar da nomenclatura é preciso reconhecer o seu caráter de didatização da 
História. Por exemplo, “a Idade média, na verdade, vive apenas de uma humilde vidazinha 
pedagógica: contestável comodidade de programas, rótulo, sobretudo de técnicas 
eruditas, cujo campo, a propósito, é bastante delimitado pelas datas tradicionais” 
(BLOCH, 2001, p. 149). 
Para finalizar, Marc Bloch (2002. 1150-153) assevera que: “A verdadeira exatidão 
consiste em se adequar, cada vez, à natureza do fenômeno estudado. [...] Cabe à prática 
introduzir em suas distinções uma exatidão e um discernimento crescentes.” 
 
1.4 A virada Linguística na História 
Caro aluno, como você pode acompanhar nesta Unidade, a dificuldade que envolve a 
Virada Linguística na História. 
A nova abordagem da História acontece a partir do momento que dois historiadores, Marc 
Bloch e Lucien Febvre, demonstram suas insatisfações sobre a história política e a 
superficialidade com que são analisadas. Para eles, os homens são muito mais complexos 
do que simples relações entre países e homens de poder. A História necessitava ser mais 
abrangente, ter em vista a nação, o todo, como disse Lucien Febvre, fazer uma outra 
história. 
 
 
 
14 
 
Essa outra História consiste em não só fundamentar-se em aspectos políticos e 
econômicos, mas também em questões culturais e sociais. Analisar o mesmo fato, 
acontecimento, de diferentes aspectos, trazer uma problemática à História, da qual ela 
seja sempre um processo contínuo e passível de mutação, assim como o seu objeto de 
estudo, os homens. 
Agora a História era auxiliada pela “aliança”, como chamou Lucien Febvre, com a 
Geografia, Sociologia, Psicologia, Economia, Literatura, Antropologia e outras áreas do 
conhecimento, como fez Braudel ao utilizar a Geografia para escrever O Mediterrâneo. 
Ao realizar essa revolução no estudo historiográfico os Annales criaram e incorporaram 
tantos outros conceitos à História, como o de longa duração. 
Ao transformarem a história tradicional, regrada pelos positivistas, em uma história 
problema, a linguística na história é totalmente reformulada. Para os historiadoresvinculados aos Annales, os acontecimentos não se baseiam somente em dados e 
documentos, resumindo-se somente a eles, a história agora retorna à sua vocação 
narrativa. A linguagem utilizada no fazer historiográfico tinha a função de um agente 
estruturador, sendo os acontecimentos do passado traduzidos e não escritos exatamente 
como ocorreram. 
Um fator responsável para essa mudança narrativa da História é a chamada Virada 
Linguística ocorrida em meados do século XX, também chamada de linguistic turn. Sua 
principal característica aparece na relação entre linguagem e Filosofia no âmbito da 
própria Filosofia e das humanidades. A questão de que a linguagem não seria um meio 
de pensamento transparente foi ressaltada em trabalhos feitos por Johann Georg Hamann 
e Wilhelm von Humboldt. 
Ludwig Wittgenstein é também considerado um dos idealizadores da virada linguística, 
já que em seus trabalhos coloca em questão uma falta de compreensão da lógica da 
linguagem e seus jogos na Filosofia. 
A questão em voga na virada linguística surge através do ponto de vista de que a 
linguagem faz parte da realidade é contrária à intuição. A visão tradicional sobre a 
linguagem era de que as palavras funcionavam como rótulos anexados ao conceitos. 
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Johann_Georg_Hamann&action=edit&redlink=1
 
 
 
15 
 
Porém, segundo o fundador do Estruturalismo, Ferdinand de Saussure, a definição dos 
conceitos não podem ser independentes da diferenciação das palavras, pois são essas 
diferenças que estruturam a nossa percepção. Portanto, o que nós pensamos como 
realidade nada mais é do que uma convenção de palavras e características que são 
apreendidas e articuladas pela linguagem. 
Em 1970, as Ciências Humanas como a História reconheceram que a linguagem tem um 
papel fundamental de agente estruturador do discursos científico. Dentre um dos teóricos 
que adotaram o movimento destaca-se Michel Foucault. 
A proposta da virada linguística trazida à História é de que o passado não existe fora das 
representações que são feitas pelos estudos dos historiadores, e que elas não podem ser 
separadas da “bagagem” ideológica que os historiadores trazem para eles. 
Marc Bloch escreveu em seu livro Apologia da História ou o ofício do historiador: “o 
historiador, por definição, está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos que 
estuda... Das eras que nos precederam, só poderíamos [portanto] falar segundo 
testemunhas... Em suma, em contraste com o conhecimento do presente, o do passado 
seria necessariamente “indireto (p.69). 
Peter Burke, ao analisar a história dos Annales em seu livro sobre esse movimento 
historiográfico, fez um breve estudo sobre a influência da narrativa para os historiadores 
franceses da época. Segundo Burke, houve um renascimento da narrativa entre os 
historiadores, que sofriam uma desilusão com o modelo determinista da explicação 
marxista para a história política. Dentre os que faziam essa “rejeição desdenhosa” estão 
Lucien Febvre, Fernand Braudel e Marc Bloch. Burke jamais censurou a história dos 
eventos, porém nunca escreveu algo que fosse baseado nela. O autor refere-se a Braudel 
da seguinte forma para definir o pensamento dos Annales quanto à narrativa histórica: 
“tanto denunciou quanto dela se utilizou. Mais precisamente, como já vimos, afirmava 
que a história dos acontecimentos é a superfície da história...Contudo, seu interesse 
residia no que podia revelar de “realidades mais profundas”(p.104). 
A História é uma ciência subjetiva, pois é escrita por alguém que a analisa, ou seja, sob o 
olhar do historiador sobre acontecimentos que por ele são interpretados e vinculados. O 
 
 
 
16 
 
historiador é filho de seu tempo, portanto é inevitável que, por mais imparcial e preciso 
que deva ser, considerando também seu compromisso com a verdade, ele faça 
considerações atuais sobre algum fato do passado. Por isso, podemos dizer que os textos 
e pesquisas que lemos hoje em dia escritos pelos historiadores predecessores têm o reflexo 
de seus pensamentos de acordo com o seu tempo. A partir dessas conclusões chegamos à 
historiografia, que é um campo que nos permite estudar a História das ideias; é a reflexão 
e a produção da escrita da História, para a qual já não mais basta a história dos eventos e 
sim a narrativa da História. 
 
1.5 Síntese da Unidade 
Caro aluno, você pôde acompanhar nesta Unidade a dificuldade que envolve definir um 
conceito. Não é simples, mas é necessário. Por esse motivo devemos nos preocupar com 
a precisão dos termos que utilizamos na escrita da História, pois fazer História não é só 
descobrir documentos e fatos, mas é também e talvez até, principalmente, escrever e 
discutir, e o historiador faz isso por meio de termos e conceitos. 
 
1.6 Para saber mais 
 
Livro 
Língua e realidade, de Vilém Flusser. Adepto da fenomenologia, esse influente filósofo, 
que viveu no Brasil e deu cursos na USP, se propôs demonstrar nesse livro que a língua 
se identifica com a estrutura do mundo, e o conhecimento da linguagem se dá por meio 
da filosofia, ciência, religião e arte. 
 
 
 
17 
 
A língua absolvida, de Elias Canetti. 
Nessa obra autobiográfica o autor narra sua infância e 
adolescência em diversos países da Europa e descreve suas 
descobertas sobre a linguagem e a literatura, demonstrando a 
dimensão cultural da linguagem de modo muito claro. Engloba 
o período entre 1905 e 1921 e as consequências dos conflitos 
europeus, principalmente da primeira Guerra Mundial. 
 
 
Sites 
http://www.museulinguaportuguesa.org.br 
Este é o endereço do Museu da língua Portuguesa inaugurado em 2006 em São Paulo; 
constitui-se como um museu interativo sobre a língua portuguesa, localizado na cidade 
com o maior número de falantes do idioma no mundo. 
 
 
1.7 Atividades 
 
1. Como vimos os conceitos são palavras que recebem sentidos ao longo do tempo. 
Pesquise e explique a historicidade do conceito de Renascimento. Quando ele 
passou a designar o período de três séculos de grande efervescência cultural 
principalmente na Itália? Para responder essa questão podemos indicar a obra 
Renascimento do historiador Nicolau Sevcenko. 
2. Depois do que estudamos nesta Unidade, explique a relação entre o conceito e a 
linguagem e por que os conceitos são tão importantes na área de História. 
 
 
 
18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 2 
Unidade 2. Tipos e funções dos conceitos 
históricos 
 
Aqui nesta Unidade, vamos estudar os três diferentes tipos de conceitos históricos e as 
especificidades de cada um deles, recorrendo a exemplos pontuais. 
 
 
 
19 
 
 
2.1 Jogo Aberto: você sabe ler e escrever? 
Como os conceitos são fundamentais na área de História são, portanto, muitos. Desse 
modo, para melhor estudá-los e compreendê-los é possível distinguir tipos. 
Na obra Dicionário de Conceitos Históricos os autores Kalina Vanderlei Silva e Maciel 
Henrique Silva propõem uma classificação dos conceitos históricos em três tipos 
fundamentais. Para esse estudo consideraremos essa classificação. 
1. Conceitos históricos stricto sensu – noções que só podem ser utilizadas para 
períodos e sociedades particulares. Ex. Absolutismo, Candomblé, 
Comunismo. 
2. Categorias de análise – conceitos mais abrangentes, que podem ser 
empregados para diferentes períodos históricos. Ex. Escravidão, Cultura, 
Gênero, Imaginário. 
3. Conceitos ferramentas – operacionais para o trabalho e para a escrita do 
historiador. Ex. Historiografia, Teoria, Interdisciplinaridade. 
A seguir examinaremos cada um desses três tipos a partir de aspectos teóricos e de 
exemplos. 
 
2.2 Conceitos históricos 
A principal característica dos conceitos históricos stricto sensu é que eles são datados, ou 
seja, se referem a fatos e fenômenos singulares, como denomina Jacques Le Goff (1990), 
pois eles só acontecem uma vez. Para ele,a contradição mais flagrante da História é que 
a singularidade de seu objeto (acontecimentos e personagens únicos) se contrapõe ao seu 
o objetivo, que é, como ciência, atingir o universal, o geral, o regular. 
 
 
 
20 
 
Assim, esses conceitos só podem ser aplicados para períodos e sociedades particulares. 
Como exemplo, podemos citar o caso da Revolução Francesa. Sim, essa expressão mais 
do que identificar um fato ocorrido na França passou a ser considerada como um conceito 
dada a abrangência das suas consequências e desdobramentos, inclusive na área teórica 
da História. Como afirma sobre isso e, especificamente sobre a Revolução Francesa, 
François Furet, um dos principais estudiosos da Revolução Francesa: “E a história que se 
escreve é também história dentro da história”. Assim, a seguir acompanharemos algumas 
dessas discussões cerca desse conceito. 
A Revolução Francesa foi o 
processo político de maior 
importância para toda uma 
época, que marca o 
nascimento da democracia 
moderna e transição da 
Idade Moderna para a Idade 
Contemporânea, como se 
convencionou. Enquanto a 
sociedade do Antigo 
Regime fundamentava-se 
na desigualdade, a 
revolução trazia o ideal de 
liberdade, igualdade e 
fraternidade, ou seja, a soberania do povo e os Direitos do Homem. O discurso da 
revolução na França teve uma repercussão mundial, já que seus ideais foram seguidos por 
muitos outros países, entre eles os da América Latina. 
As definições do conceito de Revolução Francesa são variadas por diferentes visões 
historiográficas. Segundo a definição marxista, a revolução foi política e burguesa, pois 
teria assumido o poder e construído a partir dela uma sociedade com ideologia liberal, 
inaugurando a ordem capitalista, considerando que, no Antigo Regime, a burguesia era 
uma classe excluída da política. O historiador Albert Soboul, também de formação 
 
Figura 2.1 – A liberdade guiando o povo, de Eugene Delacroix. 
Fonte:http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/revolucao-
francesa/revolucao-francesa-4.php 
Acesso em 23 jun. 2012 
 
 
 
 
21 
 
marxista, passou a caracterizar a revolução como campônio-burguesa. Para ele, a 
revolução jamais teria acontecido sem a forte participação das massas e que sem a sua 
participação jamais o Feudalismo teria sido abolido, podendo ser instalado o Capitalismo. 
Para o historiador Eric Hobsbawm, a Revolução Francesa está além de um abalo nas 
estruturas do Antigo Regime, ela foi uma revolução social de massa, pois a Nação é que 
deu uma linguagem política às transformações sociais e econômicas com a democracia e 
liberalismo. Isso não significa que a burguesia não tivesse seus interesses particulares, 
afinal, ela foi a maior beneficiária da revolução, porém para Eric Hobsbawm a Revolução 
Francesa é puramente uma revolução. 
Contra as interpretações clássicas da revolução, surgiram os revisionistas. Esses 
especialistas acreditavam que a transformação no século XVIII não gerou uma luta de 
classes entre nobreza e burguesia, mas sim uma fusão entre os seus superiores. Entendem 
que na verdade o Antigo Regime ruiu devido à crise financeira da monarquia e à crise 
econômica das más colheitas, concluindo que, na verdade, a crise tornou-se revolução. 
Outro ponto de diferentes interpretações entre revolucionistas e classicistas é a ideologia 
iluminista na revolução. Para os marxistas, o iluminismo é uma ideologia burguesa 
historicamente importante no desenvolvimento do pensamento burguês. Já os 
revisionistas afirmam que existia uma hostilidade ao ideário iluminista que partia de 
parcelas da burguesia e muitos nobres assumiam as ideias liberais. Portanto, não 
poderiam se fazer generalizações, como eram feitas por alguns pensadores marxistas. 
A Revolução Francesa não seguia uma única filosofia, não tinha um líder específico e não 
foi planejada e organizada. Assim, como podemos perceber e como os historiadores Furet 
e Ozouf afirmam, ela é aberta para um futuro ilimitado. 
O conceito de Absolutismo refere-se a uma forma de governo em que o poder é 
centralizado nas mãos de uma única pessoa, o monarca. Esse sistema aconteceu na Europa 
entre os séculos XVI e XVII. Desse modo, podemos perceber como esse conceito assim 
como o de Revolução Francesa também é datado e, portanto, um conceito histórico strictu 
sensu. 
 
 
 
22 
 
O seu surgimento ocorreu devido à unificação dos Estados Nacionais na Europa, com a 
centralização do poder nas mãos dos soberanos e criação de burocracias. Essa 
centralização está ligada com os conflitos entre nobreza e burguesia, além de disputas 
políticas entre a Igreja, que teve uma forte influência, e os príncipes. 
A política e a religião estão interligadas no sistema absolutista, pois o rei era uma figura 
sacralizada, um enviado de Deus para governar. Esse aspecto é enfatizado na França, com 
o Rei Luis XIV, o Rei Sol. Vigorava a ideia de que o poder absoluto do rei e a 
centralização dos Estados deviam-se a vontade de Deus, pois o próprio rei e sua linhagem 
eram por Ele escolhidas. 
O Absolutismo adquiriu diferentes características em outros Estados, como na Espanha, 
Rússia e Inglaterra. Na Espanha, o absolutismo foi legitimado através de contratos, como 
podemos encontrar em Maquiavel, em seu livro O Príncipe, em que apresenta a ideia de 
que o defensor do Estado nascia do contrato entre o povo e o príncipe, e na obra O 
Leviatã, em que Thomas Hobbes afirma que o Estado nasce do contrato entre os homens. 
Apesar das diferenças, as justificativas, tanto jurídicas como teológicas, tinham por 
objetivo explicar a centralização do poder na mão do rei. Apesar do caráter de 
centralização do poder, ela ainda era limitada pela tradição e costumes e, quando existia, 
ocorria pelos parlamentos e ministros com o poder de decisão. 
O historiador Perry Anderson defende que o Estado Absolutista era uma continuidade do 
Estado Feudal, pois o poder do soberano vem do poder da nobreza. Já para o historiador 
Fernand Braudel, o poder absoluto derivava da ascensão política da burguesia, apoiada 
pelo rei que diminuiria o poder da nobreza. 
A decadência do Estado Absolutista aconteceu no século XVIII, com as políticas 
burguesas e o processo da Revolução Francesa, através do liberalismo, que defendia um 
governo institucional, sem a interferência do Estado na economia. A queda do 
Absolutismo francês gerou movimentações liberais na Espanha e Portugal, que 
impuseram constituições a seus reis. 
Por fim, para compreendermos esse tipo de conceito é importante perceber que o principal 
método de explicação em história é dedutivo, o que implica que o significado da História 
 
 
 
23 
 
é contextual. As explicações da História são baseadas nos contextos e na singularidade 
dos fatos históricos que, mesmo que tenham relação entre si ou que possam ser 
considerados como semelhantes, como no caso da ideia de Revolução, há essa 
singularidade que explica e que produz conceitos, como vimos. 
 
2.3 Categorias de análise 
Em contraposição aos conceitos históricos, as categorias de análise são conceitos mais 
abrangentes, que não se restringem a um único período histórico. 
Esse tipo de conceito da História se baseia na historicidade, ou seja, muda de acordo com 
o período histórico e sociedade em que é empregado. 
Como exemplo, vamos estudar o conceito de Revolução. Existe uma problemática no 
conceito de revolução, pois muitas vezes é utilizado para se referir a golpes e reformas. 
Antes de chegarmos a essa problemática do conceito, precisamos ter definido o conceito 
de revolução. 
A palavra revolução surgiu no Renascimento, porém só com a Revolução Industrial 
adquiriu um significado político. Com a Revolução Francesa foi acrescentado ao conceito 
uma mudança estrutural. Entende-se por revolução na historiografia como um processo 
radical de mudanças nas estruturas sociais. Após a Revolução Francesa, ela também é 
definidacomo um fenômeno político-social radical de mudança na estrutura sociedade 
pela rapidez com que essas mudanças são processadas. Assim, podemos concluir que a 
revolução significa toda e qualquer mudança radical que transforma num curto espaço de 
tempo as estruturas de uma sociedade. 
A historiografia caracteriza revolução em diferentes aspectos: revolução política, cultural, 
tecnológica, e política, da qual é caracterizada em revoluções burguesas e proletárias. 
Para os historiadores Florenzano e Bruit, a revolução é um movimento de classes, ou seja, 
para haver uma revolução é necessário que exista um conflito de classes. Pela revolução 
burguesa podemos definir qualquer fenômeno no qual a burguesia é o principal agente ou 
 
 
 
24 
 
beneficiada, contextualizando essas características ao nascimento do capitalismo entre 
1770 e 1850. 
A definição mais usada de revolução é a de Karl Marx e Friedrich Engels, que é baseada 
na revolução do proletariado, que inevitavelmente aconteceria na sociedade capitalista, 
desencadeada pela dominação burguesa, ou seja, a revolução socialista só poderia 
acontecer se a revolução burguesa acontecesse. A tese de Marx e Engels influenciou 
desde o revolucionário Lenin até o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes. 
Vejamos agora o conceito de revolução empregado na América Latina. O 
desenvolvimento capitalista deu-se diferentemente da Europa; nele é difícil o emprego de 
revolução burguesa e proletária, já que nessa região houve o predomínio imperialista. 
Para Hector Buite, o imperialismo gerou revoluções anti-imperialistas, não burguesas ou 
proletárias. 
Para Florestan Fernandes, revolução é um fenômeno social e político de mudanças 
drásticas e rápidas na estrutura social, da qual a ordem vigente é alterada e nesse aspecto 
podemos notar a diferença entre golpe e revolução, no qual muitas vezes o primeiro é 
substituído de forma controvérsa pelo segundo. Um golpe de Estado acontece quando o 
poder vigente é alterado, sem afetar radicalmente a estrutura da sociedade. É necessário 
também que seja feita a diferenciação entre revolta e revolução. A revolta é caracterizada 
por manifestações de insatisfação popular, não chegando a alterar a estrutura social. A 
partir dessas análises podemos concluir que na América Latina aconteceram 
contrarrevoluções, reformas e golpes, e não revolução. 
Desse modo, o emprego do conceito de revolução só pode ser usado quando as estruturas 
sociais foram de fato alteradas por uma transformação radical, pois se empregado 
substituindo outro conceito, como o de golpe, podemos considerar como uma forma de 
ocultação e alteração da realidade histórica. 
Outro conceito que se constitui como uma categoria é o de Escravidão. Ao longo da 
história, por mais que a escravidão tenha assumido traços universais, ela precisa ser 
caracterizada em suas especificidades em um contexto temporal, ou seja, sua própria 
historicidade. Assim, podemos perceber que mesmo os conceitos categorias têm 
 
 
 
25 
 
historicidade, ou seja, as concepções mudam ao longo do tempo. A proposta de Claude 
Meillassoux é de que a escravidão, quanto ao seu modo de exploração, toma forma 
quando uma classe distinta de indivíduos se perpetua pela continuidade da exploração em 
um sistema social reintroduzido seja pelo comércio ou reprodução natural e que para que 
ela exista é necessária uma diferença de relações entre classes. Essa definição de 
Meillassoux nos leva a constatar que a escravidão mobiliza um todo econômico social e 
geograficamente extenso. 
A escravidão é definida através de um status jurídico. A diferença entre escravo, servo e 
trabalho compulsório está no aspecto jurídico de o escravo ser uma propriedade, sendo 
definido como coisa. Para David Brion Davis, o fato de o escravo ser definido como 
objeto não o faz deixar de ser um homem. Aristóteles dizia que não se podia falar em 
interesses partindo do escravo, pois ele não tinha faculdade deliberativa, portanto o seu 
interesse é o mesmo de seu senhor, sendo isso justificado pelo aspecto de posse, 
eliminando qualquer vestígio de sua humanidade. 
O objetivo das sociedades nas quais a escravidão era a base das suas relações sociais era 
o aspecto traçado por Aristóteles, ou seja, o ideal era aquele mais desumanizado possível, 
tornado o escravo uma não pessoa. Porém, se o ideal era escravo-coisa a partir de 
Meillassoux, na prática os escravos não eram utilizados como objeto, afinal eles 
realizavam tarefas nas quais era preciso empregar a inteligência, um traço humano. A 
escravidão e a identidade do escravo são aspectos diferentes em relação ao fato jurídico. 
Com a expansão da fé cristã, a escravidão foi interligada ao pecado. Embora o 
Cristianismo tenha pregado um tratamento mais humano aos escravos, não se prontificou 
a defender ideais abolicionistas até o século XIX. Para a Igreja medieval, o escravo era 
uma peça da ordenação do mundo e fazia parte da salvação divina dos homens. Porém, 
apesar de a escravidão ter o caráter de pecado para a Igreja, ela proporcionava a ele o ato 
do perdão divino e da salvação, igualando o escravo aos seus senhores. 
A escravidão perdeu o seu caráter de pecado a partir da Idade Moderna, dando lugar aos 
interesses escravistas dos Estados europeus, onde a escravidão era considerada um 
aspecto natural nas colônias. Porém, a partir do século XVII, nasceu o discurso 
antiescravocrata. Pensadores como Montesquieu, considerado conservador, criticava a 
 
 
 
26 
 
escravidão julgando-a contrária às leis naturais. Com o iluminismo, o abolicionismo foi 
inevitável, porém a escravidão somente deixou de existir quanto ao seu aspecto de 
propriedade com o advento do capitalismo iniciado na Revolução Industrial. 
 
2.4 Conceitos ferramenta 
Embora, como já vimos, todos os conceitos sejam fundamentais para o trabalho e a escrita 
do historiador para operacionalizar sua análise, há conceitos que são comuns a todos os 
historiadores, independentemente de seu objeto de estudo. Esses conceitos são como 
ferramentas, das quais nenhum historiador pode se furtar sem que haja prejuízo, ou, ainda, 
inviabilização de seu trabalho. 
Na próxima Unidade, estudaremos um deles, que é o próprio conceito de História. Aqui, 
para fundamentar a análise, tomaremos como exemplo o conceito de Teoria. 
A Teoria da História é um dos campos de estudo mais importantes da área. Para 
compreender a sua dimensão é necessário, no entanto, recorrer ao conceito de Teoria. 
“A mais simples definição de Teoria diz que ela é um conjunto organizado de princípios 
e regras para explicar uma série de fatos, na verdade, para explicar o mundo” (SILVA, e 
SILVA, 2006, p. 394). O estudo do conceito de teoria envolve a Filosofia, a Política e a 
História, pois, como vimos, todos os conceitos, inclusive os operacionais como este, têm 
historicidade. 
No campo da Filosofia, a Teoria do Conhecimento tornou-se uma disciplina específica da 
Filosofia somente com os filósofos modernos, no século XVII. John Locke foi o iniciador 
da teoria do conhecimento propriamente dita porque se propôs a analisar cada uma das 
formas de conhecimento que possuímos, a origem de nossas ideias e nossos discursos, a 
finalidade das teorias e as capacidades do sujeito cognoscente relacionadas com os 
objetos que ele pode conhecer. A Teoria do Conhecimento abrange: 1) a verdade, 2) a 
percepção, 3) a memória, 4) a imaginação, 5) a linguagem, 6) o pensamento 7) a 
consciência. Hoje, a Teoria do conhecimento é definida como a disciplina filosófica que 
 
 
 
27 
 
investiga as condições e problemas decorrentes da relação entre sujeito e objeto do 
conhecimento. 
A Teoria da História engloba a Filosofia da História e tem por premissa compreender e 
estudar os conceitos fundamentais da História, o processo de definição do campo do 
conhecimento histórico e as tendências da historiografia. 
 
2.5 Síntese daUnidade 
Como vimos, há diferentes tipos de conceitos históricos, embora haja também estreita 
relação entre eles. Perceber as diferenças e as semelhanças e, mais do que isso, 
compreender as especificidades dos conceitos, ou das ferramentas, auxilia o historiador 
na aplicação dos conceitos e, consequentemente, na análise dos fatos e processos 
históricos. 
 
2.6 Para saber mais 
 
Filmes 
Danton, o Processo da Revolução. 1982. Direção: Andrzej Wajda. 
Esse filme foca a situação da França quatro anos após a Revolução Francesa. A economia 
está totalmente abalada e cada cidadão é um suspeito em potencial, podendo ser 
sumariamente guilhotinado. Instala-se um cenário de medo e de tensão, agravado pela 
fome. Os mesmos revolucionários, que tinham proclamado a Declaração dos Direitos do 
Homem, implantam o Reino do Terror. Há uma espécie de radicalização da Revolução 
liderada por Robespierre que inicia um processo político baseado em manipulação de 
julgamentos, finalizados com a guilhotina. Danton, um dos líderes revolucionários, critica 
os rumos do movimento e acaba por tornar-se uma vítima da Revolução. Enquanto 
Danton tem o apoio do povo, Robespierre tem o poder. Os seus ideais contraditórios dão 
inicio a um complexo processo político retratado neste filme. 
 
 
 
28 
 
Vatel – Um Banquete para o Rei (Vatel) (2000) Direção: Roland Joffe 
O filme retrata o período em o rei Luís XIV, o Rei Sol, um dos ícones do Absolutismo 
francês, governava Versailles. Em 1671, no oeste da França, uma província está a beira 
da ruína. O Príncipe da província convida o rei para seu castelo no campo e um fim de 
semana de festas. O sucesso dos planos de reconquista da simpatia de Luís XIV depende 
do talento de Vatel, o homem que pode oferecer uma gastronomia suntuosa e o 
entretenimento para o rei. 
Amistad, 1997. Direção: Steven Spielberg 
Em 1839, dezenas de africanos a bordo do navio negreiro espanhol La Amistad matam a 
maior parte da tripulação e obrigam os sobreviventes a levá-los de volta à África. Porém, 
desembarcam na costa leste dos Estados Unidos, sendo acusados de assassinos e presos, 
iniciando um longo e polêmico processo. O período no qual se passa o filme é marcado 
pelas divergências entre o abolicionismo e a escravidão, caracterizando o início da Guerra 
de Secessão. 
Quilombo, 1984. Direção: Carlos Diegues 
No século XVII, numa região de difícil acesso denominada Palmares, em Pernambuco, 
escravos fugidos das plantações canavieiras constroem o Quilombo de Palmares. Este, 
liderado por Zumbi, torna-se a maior forma de resistência negra perante a escravidão na 
região.Por Palmares simbolizar a liberdade, tornou-se, na época, uma atração constante 
para novas fugas de escravos. Por sua organização social e política constituiu-se em uma 
sociedade onde prevalecia o negro, em um país de brancos. Palmares sobreviveu por 70 
anos. 
Livros 
Pensando a Revolução Francesa. 1989, de François Furet 
A obra é composta de duas partes: a primeira é uma síntese sobre como pensar um evento 
como a Revolução Francesa e a segunda uma apresentação das etapas da pesquisa 
realizada pelo autor focada no estudo das obras de dois historiadores franceses: Aléxis de 
 
 
 
29 
 
Tocqueville e Augustin Cochin. Furet é um crítico contumaz da historiografia clássica da 
Revolução Francesa, principalmente as fundamentadas na perspectiva marxista. Refuta 
nesta obra ideias cristalizadas em relação à Revolução Francesa, como por exemplo a que 
a classifica como uma revolução burguesa, apresentando uma apurada análise crítica 
dessas ideias. Após desconstruir explicações clássicas, propõe nesta obra um outro 
modelo explicativo para o estudo deste fenômeno revolucionário francês. 
Linhagens do Estado Absolutista. 1965, de Perry Anderson 
Nesta obra, que se tornou uma referência sobre o assunto, o autor defende a tese de que 
para compreender a passagem do feudalismo para o capitalismo na Europa é necessário 
compreender a natureza social do absolutismo. Além disso, para ele, o Absolutismo é o 
cerne da discussão acerca dos regimes políticos e da diferenciação entre eles. A partir de 
uma perspectiva de comparação entre o Estado Absolutista da Europa Ocidental e da 
Oriental, Anderson demonstra que durante os séculos XIV e XV, que foi um período de 
crise no modo de produção feudal, houve a ruptura com a soberania piramidal que viria a 
viabilizar o surgimento do Estado absolutista no Ocidente. As monarquias absolutas 
introduziram os exércitos regulares, uma burocracia permanente, o sistema tributário 
nacional, a codificação do direito e os primórdios de um mercado unificado. O autor 
discute também o caráter político do absolutismo e a situação da nobreza nesse regime 
político. 
 
 
2.7 Atividades 
1. Você compreendeu a diferença entre os tipos de conceitos? Para consolidar a 
compreensão estude o conceito histórico de Feudalismo, nos moldes em que 
estudamos o de Revolução Francesa, e o conceito categoria de Imaginário. Você 
poderá perceber que cada sociedade projetou um imaginário diferente (Eldorado, 
por exemplo), mas que havia traços em comum. 
 
 
 
 
30 
 
Unidade 3 
Unidade 3. O conceito de História 
 
Nesta Unidade, vamos estudar particularmente o conceito de História, pois História 
também é um conceito, além de designar uma disciplina e uma área do conhecimento. 
 
3.1 O termo História 
Como vimos nas Unidades anteriores, o conceito é formado, em primeiro lugar, por um 
termo. Como nos lembra Marc Bloch (2001, p. 85), “A palavra História é uma palavra 
velhíssima.” A palavra surgiu há mais de dois mil anos. Registra-se que surgiu na Grécia, 
pois é um termo grego. O historiador Jean Glenisson se dedicou a analisar o que chamou 
de “o conteúdo do termo História”, ou seja, as mudanças e sentidos que o termo foi 
ganhando ao longo do tempo. Como vimos na Unidade 1, apesar dessas mudanças 
manteve-se o termo. 
Originalmente, em grego o termo História significa aquele que sabe, testemunho, com o 
sentido de busca, de pesquisa. 
O grego Heródoto, considerado como “o pai da História” descreveu, em sua obra 
intitulada Histórias, as Guerras Médicas, entre gregos e persas. A obra foi reconhecida 
como uma forma de literatura, devido ao seu teor narrativo. 
É verdade que antes dele outros gregos haviam se dedicado a escrever para registrar 
aspectos do presente e do passado, mas parece ter sido Heródoto o primeiro a considerar 
a História como um problema filosófico ou uma ação que poderia revelar conhecimento 
sobre o comportamento humano. Desse modo, o termo que utilizou para intitular sua obra, 
Historie, que significava, como vimos, "pesquisa", tomou a conotação atual de 
"História". 
 
 
 
31 
 
Como outros aspectos culturais, Roma toma da 
Grécia o termo História. Entretanto há já nesse 
momento uma mudança do seu sentido, pois os 
romanos, como afirma Jean Glenisson, procuram 
distinguir a História da lenda e, assim, o sentido da 
palavra tende a se restringir. 
Do termo História, com o sentido que conhecemos hoje, derivaram outros termos: 
histórico, historicidade, historiador. 
É necessário ainda estudar a ambivalência do termo História. Ele designa ao mesmo 
tempo duas coisas distintas: “A história como realidade na qual o homem está inserido e 
o conhecimento e registro das situações e sucessos que assinalam e manifestam essa 
inserção” (AROSTEGUI, 2006, p.28). Em outras palavras, o termo História designa a 
realidade, os fatos, o vivido, que recebe a designação em latim de res gestae; e a ciência, 
a área do conhecimento, a rerum gestarum. Durante algum tempo, influenciados pela 
tradição pragmatista dos Estados Unidos, utilizou-se o termo Estória para designar as 
narrativas dos fatos e a ficção. Hoje, abandonou-se essa distinção por considerar-se que 
não há efetivamente uma distinção, pois a Literatura narra fatos que aconteceram ou que 
realmente poderiamacontecer e a História, por sua vez, tem um caráter inegavelmente 
narrativo, reconhecido por grande parte dos historiadores. 
O problema terminológico vem assim, de muito tempo: a palavra História 
designa, para dizê-lo de alguma forma, um conjunto ordenado de fatos 
históricos, mas designa também o processo das operações científicas que 
revelam e estudam tais fatos. Que a mesma palavra designa objeto e ciência 
pode parecer uma questão menor, mas na realidade acaba por ser embaraçosa 
 
Figura 3.1- Heródoto 
Fonte:http://www.flickr.com/phot
os. 
Acesso em 13 jun. 2011 
Heródoto (484 a.C.-420 a.C.). Historiador grego 
considerado precursor dos historiadores, pois foi o 
autor da primeira grande narrativa histórica do 
mundo ocidental antigo. Cícero talvez tenha sido o 
primeiro a chamá-lo de pai da história. Nasceu, 
provavelmente, em Halicarnasso, cidade grega da 
Ásia Menor, hoje Bodrum, na Turquia. Viajou 
muito, conheceu o Egito, a Líbia, a Síria, a 
Babilônia, a Lídia e a Frígia. Foi exilado de 
Halicarnasso e não se sabe ao certo onde morreu. 
 
 
 
32 
 
e abre espaço a dificuldades reais de ordem epistemológica. Daí o fato de que 
se tenha também ensaiado prontamente a adoção de um termo específico que 
designasse a pesquisa da História (AROSTEGUI, 2006, p. 29). 
Dessa citação de Júlio Arostegui podemos analisar dois aspectos: o primeiro é que a 
terminologia não é uma questão menor e, portanto, que possa ser desconsiderada, pois, 
como já vimos, tem consequências. Esse termo específico ao qual ele faz alusão é o termo 
Historiografia. Esse é outro termo e conceito da História bastante específico e complexo, 
mas que guarda estreitas relações com a problemática do termo História. 
Mas afinal, o que é História? Essa é uma questão quase tão antiga quanto o próprio 
homem. Desde que o homem começou a registrar seus feitos e começou a se perceber 
como sujeito histórico, ou seja, como um ser que promove ações e que é envolvido numa 
sequência de ações ao longo do tempo, começou a fazer questões sobre os motivos de sua 
existência. 
 
3.2 Definições de História 
Para o historiador Jean Glenisson, as definições de História mudam de acordo com o 
contexto histórico, com as referências e preocupações dos historiadores. Portanto, não há 
uma definição absoluta de História, apesar de designar uma ciência e, assim, haver a 
necessidade de uma certa estabilidade. 
O historiador francês Lucien Febvre afirma que “Não há história, há historiadores”. 
Devemos resignar-nos às incertezas da História, ou seja, de uma disciplina em plena 
evolução sempre em busca de seu caminho, empenhada nesta busca, enquanto houver 
historiadores na terra. 
Hoje há pelo menos um consenso: o de que a História é uma ciência. Essa é uma definição 
que parece hoje inquestionável, no entanto não é completa. Ciência do quê? Para Marc 
Bloch (1886-1944), “A História é a ciência dos homens no tempo”. Bloch chegou a essa 
definição na década de 1940, após o empenho realizado pelos historiadores positivistas 
em conquistar para a História o status de ciência, mas para eles era uma ciência do 
passado, como afirma o historiador alemão Leopold Von Ranke (1795-1886): “A história 
 
 
 
33 
 
atribuiu a si mesma a função de julgar o passado e de instruir as narrativas em benefício 
das gerações futuras”. 
Mesmo sendo contemporâneo a Marc Bloch e compartilhar com ele muitas ideias e 
posicionamentos com relação à História, para Lucien Febvre o foco seria o homem: 
“História, ciência do Homem, ciência do passado humano. E não, de modo algum, ciência 
das coisas, ou dos conceitos. As ideias, fora dos homens que as professam? As ideias, 
simples elementos entre muitos outros dessa bagagem mental feita de influências, de 
lembranças, de leituras e de conversas, que cada um de nós transporta consigo? As 
instituições, separadas dos que as fazem e que, embora respeitando-as, as modificam sem 
cessar? Não. No sentido mais lato, não há História a não ser a do Homem”. 
Para R. G. Collingwood (1889-1943), é “uma ciência cuja ocupação é estudar eventos 
não alcançáveis por nossa observação, e estudá-los conclusivamente, fundamentando-os 
com alguma coisa a mais que nossa observação possa alcançar, ao que o historiador 
refere-se como “evidência” para os eventos nos quais ele está interessado” (2006). 
 
3.3 Síntese da Unidade 
Nessa Unidade, estudamos especificamente o conceito de História e vimos que não há 
uma única definição porque, além do fato de que os conceitos mudam de acordo com o 
tempo e com o contexto, nesse caso há o papel dos historiadores e a própria vocação da 
História em refletir sobre a definição dos conceitos, inclusive o seu próprio. 
 
 
 
 
3.4 Para saber mais 
 
 
 
 
34 
 
Livros 
Que é História. Edwaer Hallet Carr. 
A obra composta por ensaios e conferências, do historiador e historiógrafo inglês E. Carr, 
provocou grande polêmica ao tentar responder a questão primordial do campo. O autor 
propõe uma resposta acusada de ser relativista por seus críticos. 
Sites 
www.s2.anpuh.org 
No site da Associação Nacional de História-ANPUH é possível encontrar discussões 
teóricas acerca da definição de História, da função do historiador e da profissionalização 
do historiador no Brasil. 
 
 
3.5 Atividades 
 
1. O que é História? De acordo com Jean Glenisson, a História não é, ela se faz ao 
longo do tempo. Com base nessa proposição, discorra sobre a discussão acerca da 
definição de História. 
 
http://www.s2.anpuh.org/
 
 
 
35 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
Unidade 4 
Unidade 4. O conceito de História 
 
Nesta Unidade, optamos por selecionar alguns dos conceitos fundamentais da História 
para realizar um estudo verticalizado, na impossibilidade de trabalhar todos os conceitos 
mobilizados pelos historiadores. 
 
4.1 Tempo: o conceito fundamental 
Tempo é provavelmente o conceito mais fundamental da História. Durante alguns 
séculos, a História foi identificada como o estudo do passado, uma dimensão do tempo. 
O tempo, junto com o espaço, o homem, os fatos e a Filosofia, constituem os cinco pilares 
que criam as condições de existência da História, considerados, portanto, os pilares 
epistemológicos da História. Hoje, de acordo com Marc Bloch, deve-se ampliar essa 
definição, como vimos, para “ciência dos homens no tempo”, pois a História não diz 
respeito somente ao passado; ela é escrita no presente e será legada ao futuro. Como 
afirmou Fernand Braudel, numa frase que ficou muito conhecida entre os historiadores: 
“O passado e o presente elucidam-se reciprocamente. Portanto, a história diz respeito ao 
presente tanto quanto diz respeito ao passado”. 
Além de o Tempo ser um dos pilares epistemológicos da História, há outras dimensões 
da relação entre Tempo e História: o Tempo na História, o Tempo da História, a História 
do Tempo, a História no Tempo. 
A primeira delas se refere à percepção de que a própria noção de tempo também tem uma 
historicidade, ou seja, como já vimos, os conceitos mudam; o de Tempo não é diferente. 
A Historicidade do pensamento antigo: o Tempo Mítico (sagrado profano). A concepção 
Judaico-Cristã do tempo e da História se estrutura a partir do estabelecimento do 
cristianismo como a religião histórica, pois o advento do cristianismo marca um ponto 
 
 
 
37 
 
zero a partir do qual a História teria um novo início. Promove a historicização do tempo 
profético e a explicitação do devir histórico sob o paradigma dos pressupostos dogmáticos 
do cristianismo, como a Santíssima Trindade. 
O tempo na História pode ser percebido como ritmo de organização da vida coletiva, 
ordenando e sequenciando, cotidianamente, as ações individuais e sociais. Por exemplo, 
os camponeses organizam suas ações a partir do "tempo de natureza", ou seja, o tempo 
que dura uma estação, o tempo que demora para que possa ser feita uma colheita, o tempo 
de gestaçãodos animais, etc. Já os operários se organizam pelo "tempo da fábrica": o 
tempo entre uma refeição e outra, o tempo padronizado, o tempo ordenado por apitos. 
Desse modo, o tempo é um elemento cultural, pois estabelece ritmos para as atividades 
humanas, de acordo com convenções coletivas. 
A memória, conceito que veremos a seguir, representa a dimensão psicológica do tempo, 
pois promove a recordação de um tempo revivido por meio de seleção. Pierre Nora afirma 
que os meios de comunicação promovem a aceleração do tempo; a perda de identidade e 
necessidade de criação de "santuários de memória”. 
Já o historiador inglês Eric Hobsbawm afirma que o século XX foi breve. Isso não 
significa que o século teve efetivamente, cronologicamente falando, menos que cem anos, 
mas que as mudanças operadas foram tão intensas e os fatos tantos, as máquinas 
causaram tanto impacto no seu início, que psicologicamente parece que o século passou 
muito rápido. 
No estudo da História, o tempo engloba uma complexidade que se fundamenta nas 
abrangências no campo da realidade natural e física e nas criações culturais humanas, 
concepções e produtos múltiplos sobre a concepção de tempo. Para o estudo da História, 
a noção de tempo é fundamental, mas a própria noção de tempo tem uma complexidade 
filosófica que se estende ao campo da História. O que é o tempo? Não podemos ver o 
tempo, só podemos ver a sua passagem pelos vestígios e marcas nas pessoas e nos objetos. 
O tempo tem uma caracterização abstrata difícil de ser compreendida. 
O tempo da História, ou o tempo histórico, é diferente do tempo cronológico, medido 
pelo relógio e pelos calendários. O tempo histórico opera como uma condição para a 
 
 
 
38 
 
existência dos fatos. O calendário é o resultado de um compartilhamento coletivo de uma 
mesma referência, promove uma ordenação e construção cultural do tempo que varia de 
acordo com a cultura. Por exemplo, na cultura ocidental cristã, o calendário adotado é o 
gregoriano. Assim, o calendário representa uma possibilidade de referência para 
localização dos acontecimentos em relação uns aos outros e a sua ordem. Então, a História 
usa o calendário para estabelecer a cronologia dos fatos. 
Mas, além do calendário, o tempo histórico opera também com a noção de duração. 
Duração pode ser definida como a dimensão do tempo a partir da identificação de 
mudanças e de permanências no modo de vida das sociedades. Há três diferentes 
dimensões de tempo com relação à sua duração: curta, média ou longa. 
O tempo da História é o tempo dos seres humanos organizados em sociedade, tempo da 
realidade social. Assim, o tempo dos historiadores alcança três dimensões: o tempo 
organizado como sequência (cronologia); o tempo organizado como lugar onde se 
desenrola (espaço); e o tempo organizado pelas transformações ou jogo de combinações 
(intensidade). Para Braudel: "o historiador não sai jamais do tempo da história: esse tempo 
agarra-se ao seu pensamento, como a terra à enxada”. 
A Ecole des Annales, movimento historiográfico, sobre o qual já falamos, postula tipos 
de temporalidade que se definem pela cronologia e pela forma como a análise histórica é 
realizada: a longa duração das estruturas, a média 
duração da conjuntura e a curta duração dos 
acontecimentos. 
O conceito de longa duração, diretamente 
relacionado ao de tempo, foi estruturado pelo 
historiador francês Fernand Braudel. Esse conceito 
contribuiu para a disseminação da percepção da 
História como um processo. A noção de longa 
duração se baseia nas estruturas mentais e 
representações coletivas. Evoca a percepção do 
tempo do modo subjetivo, classificado como 
Fernand Braudel (1902-1985) 
historiador francês e um dos mais 
importantes representantes da 
chamada “Escola dos Annales". 
Formado em História na Universidade 
de Sorbonne, começou sua carreira 
profissional na Argélia, onde 
permaneceu entre 1923 e 1932. Entre 
1935 e 1937 esteve no Brasil, junto 
com um grupo de intelectuais 
franceses, para colaborar na 
organização da Universidade de São 
Paulo. Durante a Segunda Guerra 
Mundial foi prisioneiro dos nazistas. 
Em 1947 finalizou a obra O 
Mediterrâneo, publicada em 1949. 
Nesse mesmo ano se tornou professor 
do “Collège de France” 
 
 
 
39 
 
cultural, ou seja, a diversidade de formas como em distintas épocas as sociedades 
conceberam a própria temporalidade. 
Por fim, a periodização, ou o recorte temporal, ou ainda a baliza cronológica, é a condição 
essencial e primordial do trabalho do historiador. “Todo o trabalho histórico decompõe o 
tempo passado e escolhe suas realidades cronológicas. Segundo preferências e exclusões 
mais ou menos conscientes.” (BRAUDEL, p. 9). Essa operação se constitui em 
determinar o início e o fim do período e/ou fato a ser analisado. Mesmo se afastando da 
concepção linear do tempo, o historiador deve organizar e delimitar seu trabalho por 
marcos que contém no seu cerne a ideia de temporalidade. 
 
4.2 Memória: o conceito desdobrado 
Só a partir da década de 70 é que a memória começou a ser estudada pelos historiadores 
da Nova História, ou seja, a terceira geração da École des Annales, responsáveis por uma 
revolução na História. Para os Annales, o fato deve estudado sob diferentes ângulos, e um 
dos recursos utilizados para a percepção dos acontecimentos é a memória. 
O conceito de tempo está intrinsecamente ligado ao de memória, e a História existe, 
também, para registrá-la, tornando-se assim a memória um dos alicerces da História. 
Apesar de serem distintas, estão correlacionadas. Segundo Antonio Montenegro, apesar 
de haver uma distinção entre memória e História, são também totalmente ligadas, pois se 
a História é a construção que busca o passado de uma abordagem social é também um 
processo que encontra paralelos por meio da memória. 
A memória é o que os homens guardam de seu passado, evitando que o tempo passado 
caia no esquecimento. A memória constitui o que é remetido na maior parte das vezes à 
lembrança, construindo ao mesmo tempo sua identidade; é o que faz o passado diferente 
do presente. Já a História é o registro da memória coletiva, é uma atualização do passado 
trazido pela memória que é registrado e integrado. A história traz o passado para o 
presente. 
 
 
 
40 
 
Para o historiador Pierre Nora, a memória e a História têm pontos fundamentais de 
diferença. Para ele, a memória só existe enquanto um grupo ainda existe e traz com ele 
as lembranças e tradições; a partir do momento em que esse grupo já não existe mais ou 
não pratica a tradição7, a memória deixa de existir e torna-se História, como registro. 
A memória tornou-se um objeto de estudo para a História, sendo uma fonte capaz de 
preencher fatos, completando o quebra-cabeça; e o campo principal utilizado pelos 
historiadores para trabalhá-la é a História Oral. 
Os estudos nesse campo não se dão apenas através da memória individual, mas também 
sobre a memória coletiva. A memória coletiva nada mais é do que as lembranças vividas 
ou repassadas, que podem ser consideradas como tradição de um grupo, tendo 
características específicas, entre elas o cotidiano, idealizando o passado. É também 
baseada na identidade de um grupo, dos quais fazem uma simplificação do tempo em 
“hoje em dia”, “antigamente”, sendo resgatada em fotos, monumentos, datas e 
comemorações. O esquecimento também faz parte dos estudos em memória, pois é 
considerado um aspecto para compreensão da identidade de um grupo, mostrando a 
vontade de ocultação de determinados fatos, o que muitas vezes é um ato voluntário. 
Para Jacques Le Goff, a memória coletiva não é apenas uma conquista, mas também um 
instrumento e objeto de poder; afinal, saímos apenas de uma história da memória coletiva 
seleta, que consta na historiografia, e entramos em uma história que se junta a uma nação. 
 
4.3 Cultura: um conceito atual 
Classificamos

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