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Bases da micorrizologia - Ecologia e fisiologia Prof. Osmar Klauberg Filho Definição: • O que são micorrizas? • De onde elas vieram? myco = fungo / rhiza = raiz Associação mutualística Fungo energia nutrientes 400 milhões de anos - Plantas terrestres: 462 e 352 milhões de anos. Processo evolucionário: - Indicações de relações evolucionárias com os líquens; - Indícios de que originaram-se de fungos saprofíticos obrigatórios. Histórico: 1842 1885 1970 1842 - Primeira descrição de uma associação fungo- raiz Karl Wilhelm von Nägeli Biólogo e botânico suíço Albert Bernhard Frank Botânico alemão 1885 – Primeira vez do termo ‘micorriza’ 1970 – Primeiro trabalho documentado sobre micorrizas no Brasil Quem faz a associação? • FUNGOS: • Filos: • Ascomycota; • Basidiomycota; • Zigomycota; • Glomeromycota. Mutualistas FACULTATIVOS X OBRIGATÓRIOS Fungos que estão no solo com distribuição ubíqua Maior acesso à água e nutrientes (poucos móveis no solo); Promove maior tolerância das plantas a condições de estresse. Quem faz a associação? • PLANTAS: • Briófitas; • Pteridófitas; • Angiospermas; • Gimnospermas. Fotossintatos hábitat Para os facultativos, pode ser interessante... Para os obrigatórios... O fungo tem capacidade de completar o seu ciclo de vida associado a um hospedeiro ou saprofiticamente; Só completa o seu ciclo de vida na presença de células vivas do hospedeiro. Todas as micorrizas são iguais? Ectomicorrizas x Endomicorrizas Ectomicorrizas (ECM) • Formadas, na sua grande maioria, por hifas septadas de Basidiomicetos; • Penetração intercelular do córtex radicular; • Formação de Rede de Hartig nos espaços intercelulares; • Intensas modificações morfológicas das raízes; • Formação de manto fúngico; • Típica em árvores de clima temperado como as coníferas. Fungos Ectomicorrízicos Fonte: Google Imagens Manto fúngico em raiz de castanheiro vista na lupa. Fonte: (Andrea Sousa). www.alvimicos.pt Microscopia de ectomicorriza. Fonte: Google Imagens Endomicorrizas • Colonização intracelular • E no mais... • Especificadade! Tipos de associações • Sete tipos reconhecidos: diferentes grupos de fungos do solo; diferentes plantas hospedeiras; padrões morfológicos distintos. 1. Ectomicorriza (ECM); 2. Micorriza orquidoide*; 3. Micorriza ericoide*; 4. Ectendomicorriza; 5. Micorriza arbutoide**; 6. Micorriza monotropoide**; 7. Micorriza arbuscular (MA)*; * Endomicorrizas ** Ectendomicorrizas 2. Micorrizas orquidoides • Plantas da família Orquidaceae (plantas terrestres, epífitas e lianas) - entre 17.000 e 30.000 espécies; • Fungos do gênero Rhizoctonia (Basidiomycota); • Colonização intracelular do córtex radicular com formação de enrolados de hifas típicos no interior das células, os pelotons; • No início o fungo fornece C para a orquídea até que ela se torne fotossintetizante. 3. Micorrizas ericoides • Fungo dos Filos Ascomycota e Basidiomycota; muito específicos quanto ao hospedeiro - Família Ericaceae; • Colonização intracelular e caracterizam-se pela presença de estruturas enroladas, localizadas sobretudo nas células epidérmicas; • Favorecem o crescimento das plantas e aumenta as concentrações de P e N, além de Fe quando este é limitante; A B C A. Calluna; B. Rhododendron; C. Mirtilo Fonte: Google Imagens 4. Ectendomicorrizas • Ocorrem entre membros das coníferas (p.ex. Pinus); • Fungos do gênero Tricharina (Ascomycota), principalmente; • Em Pinus, a ectoendomicorriza dá lugar à ectomicorriza quando as mudas desenvolvem-se (comum em viveiros). • Rede de Hartig grossa e alto grau de penetração intracelular (epiderme e córtex), especialmente nas partes mais velhas da raiz; Fonte: Google Imagens 5. Micorrizas arbutoides • Ocorre, nos gêneros Arbutos, Arctostaphylos e Pyrola – pertencentes à ordem Ericales; • Caracterizam-se pela presença de manto fúngico, de rede de Hartig e de hifas intracelulares que formam estruturas enroladas - os “arbutoides“; • Fungos Ascomycota e Basidiomycota, sem aparente especificidade. 6. Micorrizas monotropoides • Ocorrem na Família Monotropaceae, pertencentes a ordem Ericales; plantas aclorofiladas que crescem de florestas de coníferas; • Fungos ascomicetos e basidiomicetos; • Sementes dependem de suprimentos orgânicos fornecidos pelos fungos. • Usam suas micorrizas para obter minerais e nutrientes, mas também para aproveitar as fontes de carbono das plantas próximas através de suas raízes. Fonte: Google Imagens 7. Micorrizas arbusculares (MA) • Formadas por fungos da ordem Glomerales, Filo Glomeromycota (antes: Glomales, Filo Zigomycota): pouco mais de 200 espécies mundialmente conhecidas. • Fungos asseptados; • Colonizam plantas de quase todos os gêneros das Gimnospermas e Angiospermas, além de algumas Briófitas e Pteridófitas; • Fungos colonizam as células do córtex radicular inter e intracelularmente, formando estruturas especificas, denominadas arbúsculos. Pode haver a formação de mais de um tipo de micorriza na mesma planta? • Mais de 90% das espécies conhecidas apresenta pelo menos um tipo de micorriza e EM GERAL, cada espécie de planta forma apenas um tipo de associação micorrízica. • Os diferentes fungos ocorrem em diferentes porções da raiz ou estão presente em diversos momentos durante o ciclo de vida da planta. Algum tipo de micorriza é mais importante/relevante que os demais? Cerca de 80% das plantas vasculares, formam endomicorrizas do tipo arbuscular e por isso, o grupo de fungos que formam esse tipo de associação, denominados Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMAs) são especialmente importantes. • Vesículas: • Podem ser intra ou intercelulares; Intercalares ou terminais e são formadas em hifas dentro do córtex radicular; • Acumulam lipídeos; aparentemente possuem função de reserva; • Alguns fungos Glomaleanos não formam vesículas (Gigasporineae) ESTRUTURAS • Arbúsculos: • Denominados assim por Gallaud (1905) por seu aspecto de pequenas árvores; • São haustórios ramificados formados dentro das células do córtex radicular e são considerados os principais sítios de troca com a planta hospedeira; • Eles permanecem separados do citoplasma pela invaginação da membrana plasmática das células corticais; ESTRUTURAS • Hifas: • Hifas intra-radicais ou internas: crescem dentro do córtex radicular; • Hifas intercelulares: que crescem entre as paredes das células adjacentes; • Hifas intracelulares: que crescem dentro das células; • Hifas do solo ou extra radicais ou externas: sistema de hifas responsável pela aquisição de nutrientes e água, propagação da associação, formação de esporos, etc. ESTRUTURAS Quanto de micélio extra radicular pode haver no solo? Desenvolvimento intra e extra-radicular Representação dos tipos anatômicos de MA, Paris (A) e Arum (B): ap – apressório; he – hifa externa; hp – hifa penetrante; ar – arbúsculo; cc – células corticais; hi – hifa intercelular; hen – hifa enrolada; ha – hifa arbusculada. Desenvolvimento extensivo do micélio intracelular ‘enrolado’ e se espalha de célula a célula, intercalando com hifas arbusculadas. Ocorre frequentemente em espécies florestais; Tipo menos estudado e ainda pouco conhecido. Colonização e espalhamento rápido do córtex via hifa intercelular. Tipo mais comum, encontrado em raízes de crescimento rápido, como a maioria das herbáceas cultivadas. Esporos germinado. H = hifa; S = esporos; AV = célula auxiliar. Hifas externas Esporos • Distribuição ubíqua; • Formados como dilatações de uma ou mais hifas no solo ou na raiz; • Usualmente desenvolvem paredes espessas, que apresentam mais de uma camada; • Funcionam como propágulos do fungo; • Usados na definição de gêneros e espécies. Como se forma a associação? Sinais moleculares • Planta: exsudam substâncias que estimulam os propágulos de FMAs e a micorrização, como por ex.a formononetina e biocanina; • Fungo: reconhece responde positivamente os sinais; é capaz de produzir sinais que limitam expressões específicas nas raízes (por ex. gene que atua na síntese de parede celular). Esporos podem germinar mesmo sem a presença de um hospedeiro receptivo? Eventos: • Presença de propágulos (esporos, micélio e micorrizas); • Ativação dos propágulos; • Desenvolvimento de micélio independente da planta; • Contato (ponto de infecção) 0 – 12 h • Formação de apressórios 12 – 24 h • Desenvolvimento do micélio interno (consolidação da MA) 24 – 96 h • Desenvolvimento do micélio externo (MA funcional) 96 h – 7 dias Como se forma a associação? Mallmann, 2015. Adaptado de Sainz, M. J. Ocorrência das MAs • Ocorrência generalizada ≈ 250.000 espécies; nos mais variados ecossistemas; • Influenciada principalmente pela vegetação e ambiente; • Cultivo do solo provoca modificações na estrutura das comunidades fúngicas; • Ocorrência reduzida/ausente: - solos fumigados; - perturbados pela erosão; - de mineração; - áreas de construção civil; - longos períodos de pousio; - sob inundação; - espécie não hospedeira; - altas concentrações de poluentes. Como verificar a ocorrência? Algodão; Alho-poró; Batata; Cacau; Café; Cana de açúcar; Cebola; Cenoura; Ervas daninhas; Espécies florestais; Feijão; Frutas cítricas; Girassol; Maçã; Mandioca; Milho; Morango; Outros legumes; Pimentão; Pêssego; Soja; Tomate; Uva; Nabo; Mustarda; Canola; Repolho; Couve-Flor; Brócolis; Beterraba. Exemplos de plantas que se associam ou não com FMAs: Fonte: ( Muchovej, 2004; Moreira &Siqueira, 2006) Benefícios micorrízicos: • Estendem o sistema de raiz, aumentando a capacidade de absorção de nutrientes, principalmente de P pela planta; • Armazenam nutrientes temporariamente em sua biomassa fúngica e/ou raízes; • Rede de hifas interconecta o sistema radicular de plantas vizinhas; • Facilitam o acesso a umidade; • Estruturação do solo e estabilidade de agregados; • Ameniza os efeitos causados pelo pH, Al, Mn, metais pesados, salinidade, estresse hídrico, pesticidas e poluentes orgânicos e ataque de patógenos radiculares; • Aumentam o crescimento do hospedeiro. Toda vez que houver uma associação fungo-raiz, todos esses benefícios estarão presentes? • Disponibilidade de nutrientes; • pH; • Elementos tóxicos ; • Textura; • Estrutura; • Agregação; • Densidade; • Umidade; • Interação com a microbiota; Fatores que afetam os FMAs / MAs SOLO • Histórico da área; • Tipo de cultivo; • Mudança na vegetação; • Erosão; • Irrigação; • Fertilizantes e corretivos; • Biocidas • Luminosidade; • Temperatura; • Sazonalidade; • Precipitação / umidade; • Poluição; • Estresses diversos; AMBIENTE CARACTERÍSTICAS, USO E MANEJO DO SOLO Inter-relação PLANTA Disponibilidade de nutrientes: • MA’s favorecidas pela baixa fertilidade (colonização e esporulação máximas); • Dependente da exigência de P da espécie; Inibição/redução da colonização • Condições ótimas de P (para planta); • Adição de doses altas de P inibe micorrização. Estimulação da micorrização/colonização • Adição de doses baixas de P até ≈ 50 mg de P kg-1 de solo; • Exsudatos de plantas deficientes em P. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 20 40 60 80 100 120 P adicionado, ug/g de solo C o lo n iz a ç ã o Milho Soja Sorgo Efeitos de nutrientes na colonização de por FMAS (Dados de Miranda et al. , 1984. pH do solo • MA’s se expressam em solos com pH entre 3 e 10; • Tolerância diferenciada aos metais em concentração tóxica de solos ácidos (Al, Mn); Metais pesados Presença de metais tóxicos no ambiente pode: • Reduzir a germinação e o grau de colonização; • Reduzir o crescimento micelial e a esporulação. Biodisponibilidade está relacionada com o Ph do solo. Algumas espécies de FMAs são tolerantes a metais (Cd, Cu, Zn...) • Interessantes para revegetação de solos degradados; • plantas micorrizadas tem mais chance de sobrevivência. • Espécies; • Suscetibilidade à colonização; • Nutrição; • Idade; • Taxa de crescimento; • Sistema radicular; • Exsudação; • Senescência. Planta hospedeira ATENÇÃO! • FMAs = simbiontes obrigatórios; • Plantas # graus de dependência micorrízica Genoma do Fungo + Genoma da Planta Modelagem pelo Ambiente Sucesso da associação simbiótica depende: Dependência Micorrízica: grau que a planta depende da condição micorrízica para obter seu crescimento e produção máxima, em certo nível de fertilidade do solo (GERDEMANN, 1975); • micotróficas obrigatórias - não sobrevivem sem micorriza até a maturidade reprodutiva; • micotróficas facultativas - aquelas que são beneficiadas pela micorrização, em determinadas condições; porém, quando não micorrizadas, conseguem atingir a maturidade reprodutiva; • não micotróficas - sobrevivem sem a formação da micorriza até a maturidade reprodutiva (sistema radicular desenvolvido, com ramificações e abundantes pelos radiculares, além de dispor de mecanismos para facilitar a captação de P). Figura 2. Classificação da dependência micorrízica de diferentes culturas anuais, perenes e adubos verdes. Representação média do comportamento de diversas variedades/cultivares. Fonte: MIRANDA & MIRANDA, 2004. Dependência micorrízica: Eficiência: característica do simbionte em apresentar diferentes graus de eficiência (alta, média, baixa ou ineficaz); Responsividade: magnitude da resposta da planta a micorrização com determinado fungo e condição de crescimento. Conceitos importantes: RM Assimilados Nutrientes Propágulos Adaptabilidade Micélio Externo Eficiência simbiótica Micotrofia Dependência Sistema Radicular Exigência nutricional Fertilidade Organismos Uso e preparo Regime hídrico Solo Simbiotrofismo - Espécie - Melhoramento - Biocidas - Sistema de Cultivo - Tecnologia - Inoculação - Fungos indígenas (Manejo) R es p o st a Fósforo aplicado ao solo, mg kg-1 X1--------------------Faixa de mutualismo-------------------X2 -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- Benefício do P Crescimento de Stylosanthes e da Brachiaria com e sem micorriza (Glomus etunicatum) em função da disponibilidade de P nas solução do solo. (Siqueira & Moreira,2006). Modificações fisiológicas, bioquímicas e nutricionais na planta • Elevação da taxa fotossintética; • Aumento da síntese de proteínas; • Favorecimento da absorção, translocação e uso de nutrientes; • Plantas apresentam teores mais elevados de nutrientes; • Maior síntese de clorofila; • Maior produtividade de metabólitos secundários e substâncias de crescimento; • Aumento na atividade de enzimas; • Amenizam efeitos adversos como do pH e excesso de metais; • Aumentam o crescimento do hospedeiro; • Estabelecimento de redes de conexão entre as plantas No próximo capítulo... “Uso de micorrizas na agricultura” Uma produção de: Osmar Klauberg Filho, Dr. em Microbiologia e Bioquímica do solo Obrigada!
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