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Aula 20
Legislação Penal e Processual p/ Polícia
Federal (Delegado) - Pós-Edital
Autores:
Ivan Luís Marques da Silva, Vitor
De Luca
Aula 20
14 de Fevereiro de 2021
 
Sumário 
 
 
1 – Crimes falimentares..................................................................................................................................03 
2 – Crimes contra a economia popular...........................................................................................................20 
3 - Questões penais descritas no Estatuto do Índio.........................................................................................26 
4 - Lista de Questões sem comentários...........................................................................................................37 
5 - Lista de Questões com comentários...........................................................................................................40 
6 - Resumo......................................................................................................................................................45 
7 - Gabarito.....................................................................................................................................................48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
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1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 A Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005, também tratou de assuntos penais e processuais penais 
envolvendo a falência e a recuperação (judicial e extrajudicial). Tais temas foram tratados nos arts. 168/188 
da referida Lei. 
 
FRAUDE A CREDORES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Art. 168 da Lei 11101/05: Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação 
judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos 
credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem. 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
 Aumento da pena 
 § 1o A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente: 
 I – elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos; 
 II – omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveria constar, ou altera escrituração 
ou balanço verdadeiros; 
 III – destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em computador ou sistema 
informatizado; 
 IV – simula a composição do capital social; 
 V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escrituração contábil obrigatórios. 
Contabilidade paralel 
§ 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou movimentou recursos ou valores 
paralelamente à contabilidade exigida pela legislação. 
Concurso de pessoas 
§ 3o Nas mesmas penas incidem os contadores, técnicos contábeis, auditores e outros profissionais que, de 
qualquer modo, concorrerem para as condutas criminosas descritas neste artigo, na medida de sua culpabilidade. 
Redução ou substituição da pena 
§ 4o Tratando-se de falência de microempresa ou de empresa de pequeno porte, e não se constatando prática 
habitual de condutas fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 
2/3 (dois terços) ou substituí-la pelas penas restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores ou pelas de 
prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas. 
 
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 Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, isto é, o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito 
ativo. In casu, em regra, o crime somente pode ser praticado pelo devedor que faliu ou encontra-se na 
iminência de falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial. 
 Sujeito passivo: São os credores lesados com a fraude praticada antes ou depois da sentença que 
decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial. 
 Elementos objetivos do tipo: Praticar fraude significa induzir ou manter o credor em erro, criando 
uma situação que não corresponde com a realidade ou mantendo-o nessa situação irreal por um determinado 
período. Não há necessidade da ocorrência de prejuízo aos credores com tal prática fraudulenta, ou seja, basta 
que o prejuízo seja potencial. 
 Repare que essa fraude pode ser cometida tanto antes como depois da sentença que decretar a falência, 
conceder a recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial. 
 Questão: É possível a incidência desse tipo penal se existir apenas um credor? 
 A resposta é negativa. Afinal de contas, o tipo penal emprega o termo “credores” no plural. Assim, 
com base no princípio da legalidade, é fundamental que exista, ao menos, 2 credores. 
 Consumação: Cuida-se de crime formal. De tal arte, o crime de perfaz com a prática do ato 
fraudulento, independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo aos credores. 
 Elemento subjetivo do tipo: O crime em questão exige uma finalidade específica, qual seja, obtenção 
ou asseguramento de vantagem indevida, para si ou para outrem. Se, por acaso, não existir essa finalidade 
específica, o crime será o de estelionato (art. 171 do CP). 
De acordo com o art. 180 da Lei 11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a 
recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição 
objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. Como se vê, trata-se de 
condição objetiva de punibilidade, ou seja, da ocorrência desse evento futuro e incerto que 
condiciona a própria punibilidade. Vale dizer, o delito já existe e se perfez, todavia a sua punição 
necessita desse evento futuro e incerto (sentença que decreta a falência, concede a recuperação 
judicial ou homologa a recuperação extrajudicial). Sem tal condicionante, resta inviável a punibilidade. 
 Pena: A pena é de reclusão de 3 a 6 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 
ano, o sursis processual não é cabível. 
 Causas de aumento de pena: Em virtude da potencial gravidade da fraude, o legislador resolveu 
majorar a pena de 1/6 até 1/3, causa de aumento incidente na terceira fase do cálculo trifásico da reprimenda, 
nas seguintes hipóteses: 
 
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I – Elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos; Nessa situação verifica-se que os dados 
empregados para a elaboração da escrituração contábil ou do balanço patrimonial destoam da realidade. 
II – Omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveria constar, ou altera 
escrituração ou balanços verdadeiros; Cuida-se de uma conduta omissiva em sua primeira parte (omissão 
na escrituração contábil ou no balanço, de lançamento que deles deveria constar – a falsidade ocorre durante 
o lançamento) e de comportamento comissivo na parte final (alteração de escrituração ou balanço verdadeiro 
– a falsidade se perfaz após a conclusão da escrituração contábil ou do balanço patrimonial). 
III – Destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em computador ou sistema 
informatizado; Com a prática dessa conduta, esses dados ficarão inacessíveis de forma definitiva. 
IV – Simula a composição do capital social; Com a prática dessa conduta, o agente gera uma falsa impressão 
da situação financeira da pessoa jurídica aos seus contratantes. 
V – Destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escrituração contábil 
obrigatórios. Coma prática dessa conduta, o agente impede, de forma definitiva, a acessibilidade a esses 
documentos. 
Contabilidade paralela: Esse tipo penal também cuidou do indevido caixa dois, situação em que a 
contabilidade sofre substancial alteração para “ocultar” a verdadeira situação financeira, contábil e fiscal da 
pessoa jurídica. Configurada a contabilidade paralela, a pena sofrerá um aumento de 1/3 até ½ (majorante – 
aplicável na terceira fase do cálculo trifásico da pena). 
Minorante: Tratando-se de falência de microempresa ou de empresa de pequeno porte1, e não se constatando 
prática habitual de condutas fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de 1/3 
 
 
1 Art. 3º da Lei Complementar nº 123/2006: Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se 
microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa 
individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de 
janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro 
Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: 
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 
(trezentos e sessenta mil reais); 
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a 
R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 
(quatro milhões e oitocentos mil reais). 
 
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(um terço) a 2/3 (dois terços) ou substituí-la pelas penas restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores 
ou pelas de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas. OBS 1: A substituição da pena 
privativa de liberdade por restritivas de direitos é diversa da prevista no art. 44 do CP, pois, além de incidir 
exclusivamente na microempresa ou em empresas de pequeno porte, exige-se do falido apenas que não 
pratique de forma reiterada condutas fraudulentas, não sendo necessária a observância dos demais requisitos 
do Código Penal. OBS 2: Essa substituição somente pode ser feita por penas de perda de bens e valores ou de 
prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, não sendo possível a substituição por outras 
espécies de penas restritivas de direitos descritas no art. 43 do Código Penal. 
 
VIOLAÇÃO DE SIGILO EMPRESARIAL 
 
 
 
 
 Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum ou geral, pois pode ser cometido por qualquer pessoa. 
 Sujeito passivo: É o devedor, que é deveras prejudicado com essa violação de sigilo empresarial. 
 Elementos objetivos do tipo: Violar significa transgredir, devassar. Explorar é obter proveito com 
essa quebra de sigilo. Divulgar é dar publicidade desse segredo empresarial. 
 Repare que a mens legis dessa norma incriminadora foi preservar a continuidade da atividade 
empresarial de determinada pessoa jurídica que pode ficar severamente comprometida com a divulgação de 
dados confidenciais acerca de operações ou serviços ou de seu sigilo empresarial. Não configurará esse delito 
se tais dados foram devassados como justa causa (motivo relevante) ou se já forem de conhecimento de 
terceiros. 
 É um tipo penal misto alternativo, haja vista que o cometimento de mais de uma conduta descrita no 
tipo penal no mesmo contexto fático gera a responsabilidade por um único delito, em virtude do princípio da 
alternatividade. 
 OBS: Esse tipo penal é especial quando cotejado com o delito de violação de sigilo funcional (art. 325 
do Código Penal - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou 
facilitar-lhe a revelação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime 
mais grave.§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000); I - permite 
ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de 
pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; (Incluído 
Art. 169 da Lei 11101/05: Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados 
confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de 
inviabilidade econômica ou financeira: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
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pela Lei nº 9.983, de 2000); II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 
2000)§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº 
9.983, de 2000). Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa) 
Consumação: É um delito material. Assim, o crime se aperfeiçoa com a real efetivação da inviabilidade 
econômica em decorrência da violação se sigilo empresarial. 
Elemento subjetivo do tipo: É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciência de praticar o fato narrado 
no tipo penal. 
Pena: A pena é de reclusão de 2 a 4 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 ano, 
o sursis processual não é cabível. 
Por oportuno, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES FALSAS 
 
 
 
 Sujeito ativo: Trata-se de crime comum ou geral, pois pode ser cometido por qualquer pessoa. 
 Sujeito passivo: É o devedor em recuperação judicial, que é prejudicado com essa divulgação de 
informações falsas. 
 Elementos objetivos do tipo: Divulgar é dar publicidade desse segredo empresarial. Propalar é 
espalhar. A informação falsa, objeto de divulgação, deve ser relevante a ponto de encaminhar o devedor em 
recuperação judicial à falência ou gerar alguma vantagem ao agente criminoso. Esse tipo penal não tem 
incidência em relação ao falido e nem ao devedor em recuperação extrajudicial. 
 Consumação: É um delito formal. O crime se aperfeiçoa com o mero ato de propalar ou de divulgar 
a informação falsa. 
 Elemento subjetivo do tipo: O crime em questão exige uma finalidade específica, qual seja, o de levar 
à falência ou a obtenção de vantagem pelo sujeito ativo do delito. 
Art. 170 da Lei 11101/05: Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre devedor em 
recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter vantagem: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
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 Pena: A pena é de reclusão de 2 a 4 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 
ano, o sursis processual não é cabível. 
 Por oportuno, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
INDUÇÃO A ERRO 
 
 
 
 
 Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum ou geral, pois pode ser cometido por qualquer pessoa. 
 Sujeito passivo: É o Estado. 
 Elementos objetivos do tipo: Sonegar é esconder. Omitir é não entregar. Prestar é passar a 
informação. Nas 2 primeiras hipóteses o crimeé omissivo próprio e consuma-se com a mera omissão, ao passo 
que na última conduta o crime é comissivo e sua consumação se dá quando a informação falsa chega ao seu 
destinatário final. E razão disso, é correto dizer que esse crime se configura quando o agente sonegar ou omitir 
informações verdadeiras ou prestar informações falsas. 
 É um tipo penal misto alternativo, haja vista que o cometimento de mais de uma conduta descrita no 
tipo penal no mesmo contexto fático gera a responsabilidade por um único delito, em virtude do princípio da 
alternatividade. 
 OBS: Esse tipo penal é especial quando cotejado com o delito de falsidade ideológica (art. 299, caput, 
do Código Penal – Omitir, de documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele 
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, 
criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Pena: reclusão, de um a 5 anos, e multa, 
se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular). 
 
 Elemento subjetivo do tipo: O crime em questão exige uma finalidade específica, qual seja, o de 
induzir a erro o Juiz, o Ministério Público, os credores, a assembleia-geral de credores, o Comitê ou o 
administrador judicial. 
Art. 171 da Lei 11101/05: Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo de 
falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a erro o juiz, o 
Ministério Público, os credores, a assembleia-geral de credores, o Comitê ou o administrador judicial: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
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 Pena: A pena é de reclusão de 2 a 4 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 
ano, o sursis processual não é cabível. 
 Por fim, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
FAVORECIMENTO DE CREDORES 
 
 
 
 
 Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum ou geral, pois pode ser cometido por qualquer pessoa. 
 Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, isto é, o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito 
ativo. In casu, em regra, o crime somente pode ser praticado pelo devedor que faliu ou encontra-se na 
iminência de falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial. 
 Sujeito passivo: Os credores atingidos com esse favorecimento indevido pelo credor. 
 Elementos objetivos do tipo: Praticar ato de disposição ou oneração patrimonial ou gerador da 
obrigação. O agente atua para favorecer um ou mais credores em detrimento dos demais. Ato de disposição 
significa realizar ato de alienação. Ato de oneração patrimonial deve ser compreendido como ato de estabelecer 
um gravame no bem (ex: hipoteca e penhor). Ato gerador de obrigação significa contrair uma dívida 
(obrigação). Tal ato deve ser cometido antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a 
recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial. 
 Consumação: Cuida-se de crime formal. Assim, o delito se perfaz com o cometimento de ato de 
disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação, independentemente de favorecer um ou mais 
credores. 
 Elemento subjetivo do tipo: O crime em questão exige uma finalidade específica, qual seja, o de 
favorecer um ou mais credores em prejuízo dos demais. 
Art. 172 da Lei 11101/05: Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a 
recuperação judicial ou homologar plano de recuperação extrajudicial, no ato de disposição ou oneração 
patrimonial ou gerador da obrigação, destinado a favorecer um ou mais credores em prejuízo dos demais: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o credor que, em conluio, posso beneficiar-se de ato previsto 
no caput deste artigo. 
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Pena: A pena é de reclusão de 2 a 5 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 ano, 
o sursis processual não é cabível. 
Conduta equiparada: Nas mesmas penas incorre o credor que, em conluio, possa beneficiar-se de ato 
previsto no caput deste artigo (art. 172, parágrafo único, da Lei nº 11101/05). Na espécie, o sujeito ativo é o 
credor em conluio com o devedor. 
 Por derradeiro, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
DESVIO, OCULTAÇÃO OU APROPRIAÇÃO DE BENS 
 
 
 
 Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, isto é, o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito 
ativo. In casu, em regra, o crime somente pode ser praticado pela pessoa incumbida de zelar pelos bens do 
devedor sob recuperação judicial ou à massa falida. 
 Sujeito passivo: Os credores atingidos com essa indevida dilapidação de bens do devedor. 
 Elementos objetivos do tipo: Apropriar-se significa atuar como se dono fosse. Desviar ocorre quando 
se dá destino diverso do realmente previsto. Ocultar tem o sentido de esconder ou dissimular. Ex: O agente, 
por meio de dissimulação, vende um bem a testa de ferro para passar uma aparência lícita ao negócio jurídico. 
 A mens legis desse dispositivo legal foi justamente garantir a par conditio creditorum, isto é, assegurar 
a isonomia entre os credores de determinada categoria em relação ao devedor em situação de falência ou 
recuperação judicial. 
 É um tipo penal misto alternativo, haja vista que o cometimento de mais de uma conduta descrita no 
tipo penal no mesmo contexto fático gera a responsabilidade por um único delito, em virtude do princípio da 
alternatividade. 
 OBS: Esse tipo penal é especial quando cotejado com o delito de apropriação indébita (art. 168 do 
Código Penal – Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena – reclusão, de 
1(um) a 4(quatro) anos, e multa. 
 
Art. 173 da Lei 11101/05: Apropriar-se, desviar ou ocultar bens pertencentes ao devedor sob 
recuperação judicial ou à massa falida, inclusive por meio da aquisição por interposta pessoa: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
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 Consumação: Cuida-se de crime formal. Assim, o delito se perfaz com o cometimento de ato de 
apropriação, desvio ou ocultação de bens pertencentes ao devedor sob recuperação judicial ou à massa falida. 
 Elemento subjetivo do tipo: É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciência de praticar o fato narrado 
no tipo penal. 
 Pena: A pena é de reclusão de 2 a 4 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 
ano, o sursis processual não é cabível. 
Por oportuno, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
 
AQUISIÇÃO, RECEBIMENTO OU USO ILEGAL DE BENS 
 
 
 
 Sujeito ativo: Trata-se de crime comum ou geral, pois pode sercometido por qualquer pessoa. 
 Sujeito passivo: Os credores. 
 Elementos objetivos do tipo: Adquirir significa comprar. Receber é aceitar o bem. Usar é tirar 
proveito do bem. Influir é sugerir, influenciar. 
 A mens legis desse dispositivo legal foi justamente garantir a par conditio creditorum, isto é, assegurar 
a isonomia entre os credores de determinada categoria em relação ao devedor em situação de falência. 
 É um tipo penal misto alternativo, haja vista que o cometimento de mais de uma conduta descrita no 
tipo penal no mesmo contexto fático gera a responsabilidade por um único delito, em virtude do princípio da 
alternatividade. 
 OBS: Esse tipo penal é especial quando cotejado com o delito de receptação (art. 180 do Código 
Penal – Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser 
produto de crime, ou influir para que terceiro de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Pena – reclusão, de 1 a 4 
anos, e multa) 
 
Art. 174 da Lei 11.101/05: Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa falida 
ou influir para que terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou use: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
 
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 Consumação: Cuida-se de crime material. Assim, o delito se perfaz no instante em que o bem é 
incluído na esfera de disponibilidade do agente. No verbo usar o crime é permanente (a consumação se 
prolonga no tempo por vontade do agente). 
 Elemento subjetivo do tipo: Na primeira etapa do tipo penal (Adquirir, receber, usar, ilicitamente, 
bem que sabe pertencer à massa falida) admite-se apenas o dolo direto, ou seja, o agente deve ter ciência que 
o bem em questão pertence à massa falida. Na segunda etapa do tipo penal (influir para que terceiro, de boa-
fé, o adquira, receba ou use), o agente sugere para que terceiro de boa-fé adquira, recebe, ou use bem 
pertencente à massa falida). 
Pena: A pena é de reclusão de 2 a 4 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 ano, 
o sursis processual não é cabível. 
Por derradeiro, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
 
HABILITAÇÃO ILEGAL DE CRÉDITO 
 
 
 
 
 Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, isto é, o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito 
ativo no que se refere à conduta de apresentar relação de créditos, pois tal incumbência é do administrador 
judicial. Nos demais núcleos do tipo o crime é comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa. 
 Sujeito passivo: Os credores. 
 Elementos objetivos do tipo: Apresentar significa mostrar. Juntar é anexar o documento. Relação de 
crédito é uma tarefa atribuída ao administrador judicial que fica responsável por fazer um levantamento de 
créditos existente em desfavor do devedor. Habilitação de créditos é um ato subsequente à verificação de 
créditos. Assim, verificado o crédito, o administrador habilitará (inscreverá) o credor na falência, recuperação 
judicial ou extrajudicial. Por fim, a reclamação é a impugnação feita em relação a qualquer crédito por estar 
em desconformidade com o efetivamente devido na avaliação do credor. 
Art. 175 da Lei 11101/05: Apresentar, em falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial, 
relação de créditos, habilitação de créditos ou reclamações falsas, ou juntar a elas título falso ou 
simulado. 
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
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 A mens legis desse dispositivo legal foi justamente garantir a par conditio creditorum, isto é, assegurar 
a isonomia entre os credores de determinada categoria em relação ao devedor em situação de falência ou 
recuperação (judicial ou extrajudicial). 
 É um tipo penal misto alternativo, haja vista que o cometimento de mais de uma conduta descrita no 
tipo penal no mesmo contexto fático gera a responsabilidade por um único delito, em virtude do princípio da 
alternatividade. 
 Consumação: Cuida-se de crime formal. Assim, o delito se perfaz com a apresentação da relação de 
créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsa ou com a juntada do título falso ou simulado, 
independentemente de frustrar o par conditio creditorium. 
 Elemento subjetivo do tipo: É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciência de praticar o fato narrado 
no tipo penal. 
 Pena: A pena é de reclusão de 2 a 4 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 
ano, o sursis processual não é cabível. 
 Por derradeiro, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
EXERCÍCIO ILEGAL DE ATIVIDADE 
 
 
 
 Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, isto é, o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito 
ativo. In casu, em regra, o crime somente pode ser cometido por falido declarado inabilitado ou incapacitado 
mediante decisão judicial. 
 Sujeito passivo: O Estado. 
 Elementos objetivos do tipo: Exercer significa desempenhar atividade impedida por decisão judicial. 
 A declaração da falência ocasiona algumas consequências ao falido, segundo se infere dos arts. 102 e 
103 da Lei 11101/05, verbis: 
 
Art. 176 da Lei 11101/05: Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por decisão judicial, 
nos termos desta Lei: 
Pena: reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
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 Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação 
da falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1o do art. 181 desta Lei. 
 Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que 
proceda à respectiva anotação em seu registro. 
 Art. 103. Desde a decretação da falência ou do seqüestro, o devedor perde o direito de administrar os 
seus bens ou deles dispor. 
 Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as 
providências necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos 
processos em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo os 
recursos cabíveis. 
 Consumação: Cuida-se de crime formal. Assim, o delito se perfaz com o desempenho de atividade 
por meio do qual o falido foi considerado inabilitado ou incapacitado por decisão judicial, independentemente 
dessa atividade ocasionar algum prejuízo aos credores. 
 Elemento subjetivo do tipo: É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciência de praticar o fato narrado 
no tipo penal. 
 Pena: A pena é de reclusão de 1 a 4 anos, e multa. Considerando que a pena máxima não é superior a 
1 ano, o sursis processual é cabível. 
 Por derradeiro, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infraçõespenais da Lei de Falência. 
 
VIOLAÇÃO DE IMPEDIMENTO 
 
 
 
 
 Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, isto é, o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito 
ativo. In casu, o crime somente pode ser praticado pelas pessoas indicadas no tipo penal (juiz, membro do MP, 
administrador judicial, gestor judicial, perito, avaliador, escrivão, oficial de justiça ou leiloeiro. 
 Sujeito passivo: O Estado. 
Art. 177 da Lei 11.101/05: Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, 
o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por si por interposta 
pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recuperação judicial, ou, em relação a estes, entrar em 
alguma especulação de lucro, quanto tenham atuado nos respectivos processos: 
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
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 Elementos objetivos do tipo: Adquirir significa comprar. Entrar em alguma especulação de lucro é 
ingressar num negócio jurídico em que atuou no processo judicial com o escopo de obter lucro. 
 A mens legis desse dispositivo legal foi justamente atingir a lisura de todos os envolvidos no processo 
de falência ou de recuperação judicial, tipificando como delituosa a conduta de adquirir bens da massa falida 
ou do devedor em recuperação judicial ou de realizar especulação lucrativa com tais bens. Repare que a norma 
incriminadora veda também o emprego de terceiros (testas de ferro) empregados nesse negócio jurídico, com 
o nítido propósito de esconder o real interessado na transação. 
 É um tipo penal misto alternativo, haja vista que o cometimento de mais de uma conduta descrita no 
tipo penal no mesmo contexto fático gera a responsabilidade por um único delito, em virtude do princípio da 
alternatividade. 
 Questão: Estará configurada tal conduta delituosa se os bens atinentes a recuperação extrajudicial? 
 A resposta é negativa. Em prol do princípio da legalidade, o crime em estudo não abarca bens de 
recuperação extrajudicial, sendo, portanto, atípica a conduta. 
 Consumação: Cuida-se de crime formal. Assim, o delito se perfaz com a aquisição dos bens da massa 
falida ou de devedor em recuperação judicial, ou com o ingresso no negócio jurídico com a especulação de 
lucro, independentemente de gerar prejuízo aos credores. 
 Elemento subjetivo do tipo: É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciência de praticar o fato narrado 
no tipo penal. 
 Pena: A pena é de reclusão de 2 a 4 anos, e multa. Considerando que a pena máxima é superior a 1 
ano, o sursis processual não é cabível. 
 Por derradeiro, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
OMISSÃO DOS DOCUMENTOS CONTÁBEIS 
 
 
 
 
Art. 178 da Lei 11.101/05: Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que 
decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, 
os documentos de escrituração contábil obrigatórios: 
Pena: detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. 
 
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 Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, isto é, o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito 
ativo. In casu, o crime pode ser praticado pelo administrador da pessoa jurídica que pode ser atingida pela 
falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial. Também pode ser cometido pelo falido ou o 
administrado judicial quando tiver o dever de elaborar, escriturar ou autenticar os documentos de escrituração 
contábil obrigatórios. 
 Sujeito passivo: O Estado e os credores. 
 Elementos objetivos do tipo: Cuida-se de uma conduta omissiva em que o agente deixa de elaborar, 
escriturar ou autenticar os documentos de escrituração contábil obrigatório. Com isso, a transparência da saúde 
financeira da pessoa jurídica resta prejudicada. Como ressaltado no tipo penal, esse crime omissivo próprio 
pode ser tido praticado antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou 
homologar a recuperação extrajudicial. 
 
Como se vê do preceito secundário do tipo penal, o crime em estudo é expressamente 
subsidiário, ou seja, somente configurará o crime em tela se o fato não constitui crime mais 
grave. 
 
 É um tipo penal misto alternativo, haja vista que o cometimento de mais de uma conduta descrita no 
tipo penal no mesmo contexto fático gera a responsabilidade por um único delito, em virtude do princípio da 
alternatividade. 
 Consumação: Cuida-se de mera conduta. Assim, o delito se consuma com a mera omissão do agente. 
 Elemento subjetivo do tipo: É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciência de praticar o fato narrado 
no tipo penal. 
 Pena: A pena é de reclusão de 1 a 2 anos, e multa. Por ser um crime de menor potencial ofensivo, é 
compatível com os institutos despenalizadores da transação penal e da suspensão condicional do processo. 
 Por fim, como qualquer outro delito falimentar, lembre-se que, de acordo com o art. 180 da Lei 
11.101/05, a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a recuperação extrajudicial de 
que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais da Lei de Falência. 
 
 
 
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EQUIPARAÇÃO AO DEVEDOR OU AO FALIDO 
 De acordo com o art. 179 da Lei 11101/05, na falência, na recuperação judicial e na recuperação 
extrajudicial de sociedades, os seus sócios, diretores, gerentes, administradores e conselheiros, de fato ou de 
direito, bem com o administrador judicial, equiparam-se ao devedor ou falido para todos os efeitos penais, 
na medida de sua culpabilidade. 
 
EFEITOS SECUNDÁRIOS EXTRAPENAIS DA CONDENAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Estamos diante dos efeitos secundários extrapenais da condenação. De tal forma, tais efeitos devem 
constar expressamente da sentença, não sendo automáticos. O tempo de duração será de até 5 anos após a 
extinção da punibilidade, podendo encerrar antes desse prazo por meio de reabilitação criminal. 
 Com o trânsito em julgado, é feita a notificação ao Registro Público de Empresa de forma a impedir 
que o falido realmente exerça qualquer atividade empresarial de modo lícito. 
 Quais são esses efeitos da condenação? 
1) inabilitação para o exercício de atividade empresarial. Se o falido foi o responsável pela decretação 
da falência da pessoa jurídica do qual era administrador, ele ficará impedido de exercer qualquer atividade 
empresarial pelos próximos 5 anos. 
Art. 181 da Lei 11101/05: São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei: 
 I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial; 
 II – o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou 
gerência das sociedades sujeitas a esta Lei; 
 III – a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. 
 § 1o Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados 
na sentença, e perdurarão até 5 (cinco) anos após a extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar 
antes pela reabilitação penal. 
 § 2o Transitada em julgado a sentença penal condenatória,será notificado o Registro Público de 
Empresas para que tome as medidas necessárias para impedir novo registro em nome dos inabilitados. 
 
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2) Impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou 
gerência das sociedades sujeitas a Lei 11101/05. 
3) Impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. 
 Vale ainda destacar que tais efeitos podem ser aplicados de forma cumulativa. 
 
PRESCRIÇÃO NOS CRIMES FALIMENTARES 
 
 
 
 
 
 A regra geral é a que a Lei 11101/05 determina a aplicação das disposições do Código Penal sobre o 
tema prescrição. 
 Contudo, o termo inicial do prazo prescricional é diverso para os crimes falimentares. Ao invés de ser 
aplicável a regra delineada no art. 111 do Código Penal, o termo prescricional nos crimes falimentares tem 
início com a data da decretação da falência, da concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano 
de recuperação extrajudicial. 
 Questão: E se o crime falimentar for praticado após a decretação da falência? 
 Nessa situação não há que se falar na aplicação do art. 182 da Lei nº 11101/05, pois a sentença que 
decreta a falência antecede a prática criminosa. Em razão disso, para essas situações o termo inicial do prazo 
prescricional será o do art. 111 do CP, ou seja, da consumação do delito. 
 Quando ocorrer a concessão da recuperação judicial ou extrajudicial, o prazo prescricional 
inicia a sua fluência. Todavia, se posteriormente ocorrer a decretação da falência, o prazo 
prescricional será interrompido a contar da data da falência, recomeçando em sua íntegra. 
 
 
 
 Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger-se-á pelas disposições do Decreto-Lei 
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia da decretação da falência, 
da concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano de recuperação extrajudicial. 
 Parágrafo único. A decretação da falência do devedor interrompe a prescrição cuja contagem tenha 
iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a homologação do plano de recuperação 
extrajudicial. 
 
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COMPETÊNCIA CRIMINAL PARA PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES FALIMENTARES 
 O órgão jurisdicional competente para processar e julgar um crime falimentar é do Juízo criminal de 
onde houver sido decretada a falência ou concedida a recuperação judicial ou extrajudicial, segundo preconiza 
o art. 183 da Lei 11101/05. 
 
AÇÃO PENAL NOS CRIMES FALIMENTARES 
 
 
 
 Todos os crimes falimentares são de ação penal pública incondicionada, ou seja, são promovidas 
pelo Ministério Público, independentemente de qualquer condicionante. 
 Também é cabível a ação penal privada subsidiária da pública ante a inércia do MP para promover a 
ação no prazo legal. Todavia, os legitimados para tanto são o credor habilitado ou o administrador judicial. 
 
PROCEDIMENTO 
 
 
 Recebida a peça acusatória, o procedimento a ser adotado é o sumário, expressamente descrito nos 
arts. 531/540 do Código de Processo Penal. 
 Questão: A decisão que recebe a peça acusatória necessita ser fundamentada? 
 A resposta está contida na súmula 564 do STF: A ausência de fundamentação do despacho de 
recebimento de denúncia por crime falimentar enseja nulidade processual, salvo se já houver sentença 
condenatória. 
 
Art. 184 da Lei 11101/05. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. 
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1o, sem que o representante do Ministério 
Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação 
penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses. 
 
Art. 185 da Lei 11101/05. Recebida a denúncia ou a queixa, observar-se-á o rito previsto nos arts. 531 a 
540 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal. 
 
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 Cabe ainda destacar que o administrador judicial, segundo estabelece o art. 22, III, “e”, da Lei 
11101/05, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, na falência, deve apresentar, no prazo de 40 dias, contado 
da assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e 
circunstâncias que conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos 
envolvidos, observado o disposto no art. 186 da Lei 11101/052. Como se vê, esse relatório do administrador 
judicial funciona como notitia criminis de determinados ilícitos penais, porém não vincula a atuação do 
Ministério Público. 
 
 
 
 
 
 
 
 Torna-se necessária a intimação da sentença que decreta falência ou concede a recuperação judicial, 
pois tal ato processual figura como condição objetiva de punibilidade, nos exatos termos do art. 180 da Lei 
11101/05. Assim, a partir desse momento, o Ministério Público pode deflagrar a competente ação penal pela 
prática de um crime falimentar. O prazo para o oferecimento da denúncia será o previsto no art. 46 do CPP, 
ou seja, será de 5 dias se o réu estiver preso e de 15 dias se o acusado estiver solto ou afiançado. Nessa última 
hipótese, se ocorrer devolução do inquérito à autoridade policial, o prazo será contado a partir da data em que 
 
 
2 Art. 186. No relatório previsto na alínea e do inciso III do caput do art. 22 desta Lei, o administrador judicial 
apresentará ao juiz da falência exposição circunstanciada, considerando as causas da falência, o procedimento 
do devedor, antes e depois da sentença, e outras informações detalhadas a respeito da conduta do devedor e de 
outros responsáveis, se houver, por atos que possam constituir crime relacionado com a recuperação judicial 
ou com a falência, ou outro delito conexo a estes. 
 Parágrafo único. A exposição circunstanciada será instruída com laudo do contador encarregado do 
exame da escrituração do devedor. 
 
Art. 187 da Lei 11101/05. Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recuperação judicial, 
o Ministério Público, verificando a ocorrência de qualquer crime previsto nesta Lei, promoverá 
imediatamente a competente ação penal ou, se entender necessário, requisitará a abertura de inquérito 
policial. 
§ 1o O prazo para oferecimento da denúncia regula-se pelo art. 46 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de 
outubro de 1941 - Código de Processo Penal, salvo se o Ministério Público, estando o réu solto ou 
afiançado, decidir aguardar a apresentação da exposição circunstanciada de que trata o art. 186 desta Lei, 
devendo, em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias. 
§ 2o Em qualquer fase processual, surgindo indícios da prática dos crimes previstos nesta Lei, o juiz da 
falência ou da recuperação judicial ou da recuperação extrajudicial cientificará o Ministério Público. 
 
 
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ocorrer o retorno dos autos no MP. Em caso de dispensa de inquérito policial, o prazo para o oferecimento da 
denúncia será contado a partir do recebimento das peças de informação ou da representação. 
 Por fim, aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Penal à Lei 11.101/05, naquilo em que não 
existir incompatibilidade (art. 188 da Lei 11.101/05).Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
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2 - CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR 
 Atualmente os crimes contra a economia popular são tratados pela Lei nº 1521/51, diploma legal que 
surgiu na época do governo de Getúlio Vargas, que visa inibir atos que atentam contra a livre concorrência, à 
manipulação de preços e à tendência de mercado. Nas palavras do professor Nelson Hungria, o crime contra 
a economia popular é “todo o fato que represente um dano efetivo ou potencial ao patrimônio de um número 
indeterminado de pessoas”. Cuida-se, portanto, de um diploma legal que integra o Direito Penal Econômico, 
que tutela bens e interesses relacionados à política econômica estatal. 
 A primeira observação a ser feita sobre a Lei nº 1521/51 é que vários de seus dispositivos legais foram 
revogados tacitamente pela Lei 8137/90. 
 Esses crimes costumar ter como sujeitos ativos o proprietário e o diretor de estabelecimento 
empresarial. É crime próprio, pois exige uma qualidade especial do agente, in casu, ser responsável pela 
tomada de decisão em nome da empresa. OBS: O empregado não figura como sujeito ativo ante a ausência de 
poder decisório da empresa, situação que afasta a sua responsabilidade por esses crimes contra a economia 
popular. 
 São crimes vagos, pois o sujeito passivo é a coletividade, que tem seus interesses difusos atingidos, 
pois os agentes em suas relações econômicas visam obter lucros desproporcionais e exorbitantes à custa da 
coletividade. 
 Os crimes descritos na Lei 1.521/51 são cometidos à título de dolo, ou seja, vontade livre e consciente 
de obter lucros desproporcionais em detrimento da coletividade. A vantagem ilícita advém de fraude 
empregada contra o povo. 
 As condutas criminosas estão elencadas a contar do art. 2º da Lei nº 1.521/51. Vamos a essas 
condutas. 
 Art. 2º da Lei nº 1521/51: 
 I - recusar individualmente em estabelecimento comercial a prestação de serviços essenciais à 
subsistência; sonegar mercadoria ou recusar vendê-la a quem esteja em condições de comprar a pronto 
pagamento (revogado); 
 
 A primeira parte desse dispositivo legal diz respeito a recusa de prestação de um serviço individual. Vale dizer, 
em conformidade com o art. 2º, parágrafo único, da Lei 1521/51, ocorre uma recusa de prestação de serviço de gêneros, 
artigos e mercadorias de primeira necessidade e indispensáveis à subsistência do indivíduo em condições higiênicas e 
ao exercício normal de suas atividades. Estão compreendidos nessa definição os artigos destinados à alimentação, ao 
vestuário e à iluminação, os terapêuticos ou sanitários, o combustível, a habitação e os materiais de construção. A 
consumação ocorre com a recusa da prestação desse serviço individual no interior do estabelecimento empresarial. 
 
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 Já a segunda parte desse dispositivo legal refere-se à modalidade de sonegação de estoques, que foi revogada 
pelo art. 7º, VI, da Lei nº 8137/90 (art. 7º da Lei 8137/90: Constitui crime contra as relações de consumo: VI – sonegar 
insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-
los para o fim de especulação). 
 
 II - favorecer ou preferir comprador ou freguês em detrimento de outro, ressalvados os sistemas de 
entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores; (revogado) 
 Esse delito foi revogado pelo artigo 7.º, I, da Lei 8.137/90 (art. 7º da Lei nº 8137/90: Constitui crime contra 
as relações de consumo: I - favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os 
sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores). 
III - expor à venda ou vender mercadoria ou produto alimentício, cujo fabrico haja desatendido a 
determinações oficiais, quanto ao peso e composição; (revogado) 
 
Esse delito foi revogado pelo artigo 7.º, II, da Lei 8.137/90 (Art. 7° Constitui crime contra as relações de 
consumo: II - vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição 
esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial); 
IV - negar ou deixar o fornecedor de serviços essenciais de entregar ao freguês a nota relativa à prestação 
de serviço, desde que a importância exceda de quinze cruzeiros, e com a indicação do preço, do nome e endereço 
do estabelecimento, do nome da firma ou responsável, da data e local da transação e do nome e residência do 
freguês; (revogado) 
Esse delito foi revogado pelo artigo 1.º, V, da Lei 8.137/90 (Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária 
suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: V – 
negar ou deixar de fornecer, nota fiscal ou documento equivalente, relativa à venda de mercadoria ou prestação 
de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação). 
V - misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, expô-los à venda ou vendê-los, como puros; 
misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para expô-los à venda ou vendê-los por preço marcado 
para os de mais alto custo; (revogado) 
Esse crime foi revogado pelo artigo 7.º, III, da Lei 8.137/90 (Art. 7° Constitui crime contra as relações de 
consumo: III - misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como 
puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço 
estabelecido para os de mais alto custo); 
VI - transgredir tabelas oficiais de gêneros e mercadorias, ou de serviços essenciais, bem como expor à 
venda ou oferecer ao público ou vender tais gêneros, mercadorias ou serviços, por preço superior ao tabelado, 
assim como não manter afixadas, em lugar visível e de fácil leitura, as tabelas de preços aprovadas pelos órgãos 
competentes; (revogado) 
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Esse crime foi revogado pelo artigo 6.º, da Lei 8.137/90. Por sua vez, o art. 6º da Lei nº 8.137/90 foi revogado pela 
Lei 12.259/11 (Lei que estrutura o sistema brasileiro de defesa da concorrência). 
VII - negar ou deixar o vendedor de fornecer nota ou caderno de venda de gêneros de primeira necessidade, 
seja à vista ou a prazo, e cuja importância exceda de dez cruzeiros, ou de especificar na nota ou caderno - que 
serão isentos de selo - o preço da mercadoria vendida, o nome e o endereço do estabelecimento, a firma ou o 
responsável, a data e local da transação e o nome e residência do freguês; (revogado) 
Esse crime foi revogado pelo artigo 1.º, V, da Lei 8.137/90 (Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária 
suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: V – 
negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa à venda de 
mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação). 
VIII - celebrar ajuste para impor determinado preço de revenda ou exigir do comprador que não compre 
de outro vendedor; 
Nesse inciso há dois tipos penais. O primeiro tipo penal diz respeito à imposição de preço, situação existente, em 
regra, quando há prévia combinação entre empresas do mesmo setor de negócios, permitindo a indevida implantação 
de quartel, de forma a inviabilizar a livre concorrência, com a consagração do monopólio do mercado. A consumação 
ocorre com a mera celebração do acordo, sendo despicienda a execuçãodo ajuste. Já o segundo tipo penal versa sobre 
a cláusula de exclusividade, com o objetivo de obter o monopólio e consuma-se com a simples exigência. 
IX - obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas 
mediante especulações ou processos fraudulentos ("bola de neve", "cadeias", "pichardismo" e quaisquer outros 
equivalentes); 
Esse crime cuida da exploração fraudulenta de credulidade pública. Não há dúvidas de que a boa-fé, a ingenuidade 
e a ignorância são fatores que facilitam a concretização desse ilícito penal. 
Exemplos dessa modalidade criminosa: 1) Cambista - pessoa que vende ingressos por valores acima do preço 
real; 2) Bola de Neve – é um golpe em que ocorre a compra de um objeto de maior valor pagando apenas uma parcela 
menor. Para tanto, o agente consegue arrebanhar parceiros para pagar as demais e, estes, por sua vez procederão do 
mesmo modo em relação à outras pessoas; 3) Pirâmide/Pichardismo – a pessoa é enganada a entregar determinada 
quantia em dinheiro com a falsa promessa de retorno financeiro no futuro. Enfim, é uma modalidade de uma organização 
engenhosa, que beneficia apenas os primeiros organizadores, ou seja, aqueles que estão no topo dessa pirâmide, pois 
num determinado momento ela se mostra insustentável sob o prisma econômico, trazendo prejuízos aos participantes. 
OBS: As hipóteses fraudulentas citadas no tipo penal não são taxativas, pois outras modalidades de fraude poderão 
ocorrer, acarretando prejuízo a um número indeterminado de pessoas. 
Questão: Qual é a diferença do crime em estudo com o estelionato? 
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A diferença recai sobre o número de vítimas atingidas. Se o crime atingir um número 
indeterminado de pessoas estará caracterizado o delito contra a economia popular. Por outro 
lado, se a vítima for pessoa identificada, o delito será de estelionato. A mera tentativa de 
obter ganhos ilícitos em detrimento de número indeterminado de pessoas já configura o 
crime de pichardismo. Dito isso, conclui-se que o recebimento da vantagem configura mero exaurimento do 
crime. 
X - violar contrato de venda a prestações, fraudando sorteios ou deixando de entregar a coisa vendida, sem 
devolução das prestações pagas, ou descontar destas, nas vendas com reserva de domínio, quando o contrato for 
rescindido por culpa do comprador, quantia maior do que a correspondente à depreciação do objeto. 
É importante destacar que se o ofendido desse crime for individualizado haverá o crime de estelionato ou 
apropriação indébita. Todavia, se houver um número indeterminado de vítimas, exsurge o crime contra a economia 
popular. 
XI - fraudar pesos ou medidas padronizados em lei ou regulamentos; possuí-los ou detê-los, para efeitos de 
comércio, sabendo estarem fraudados. 
 Essa modalidade criminosa pode ser praticada de 2 formas: a) fraude no peso ou medida com o objetivo de 
enganar o consumidor; b) posse ou detenção de material fraudado. É comum o cometimento desses delitos com a 
alteração de equipamentos para obter a indevida vantagem econômica. Ex: Inserir imã em balanças; colocar dispositivo 
oculto em taxímetro para majorar o preço da corrida; 
 Pena do art. 2º da Lei 1.521/51: Detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa de dois mil a cinquenta mil cruzeiros. 
 Art. 3º da Lei 1521/51: São também crimes desta natureza: 
 
 I - destruir ou inutilizar, intencionalmente e sem autorização legal, com o fim de determinar alta de 
preços, em proveito próprio ou de terceiro, matérias-primas ou produtos necessários ao consumo do povo; 
 O termo destruir significa fazer desaparecer. Inutilizar significa torna um objeto (produto ou matéria-prima) sem 
qualquer finalidade ao consumo do povo. 
 II - abandonar ou fazer abandonar lavoura ou plantações, suspender ou fazer suspender a atividade de 
fábricas, usinas ou quaisquer estabelecimentos de produção, ou meios de transporte, mediante indenização paga 
pela desistência da competição; 
 O comportamento criminoso consiste em pagar para que o outro desista da competição. Com tal fato, ambos 
agentes auferem vantagens e ainda prejudica terceiros concorrentes. 
III - promover ou participar de consórcio, convênio, ajuste, aliança ou fusão de capitais, com o fim de impedir 
ou dificultar, para o efeito de aumento arbitrário de lucros, a concorrência em matéria de produção, transportes 
ou comércio; (revogado). 
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IV - reter ou açambarcar matérias-primas, meios de produção ou produtos necessários ao consumo do povo, 
com o fim de dominar o mercado em qualquer ponto do País e provocar a alta dos preços; (revogado); 
V - vender mercadorias abaixo do preço de custo com o fim de impedir a concorrência. (revogado) 
 Esses delitos foram revogados pelo art. 4º da Lei nº 8137/90 (Art. 4° Constitui crime contra a ordem 
econômica: I - abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a 
concorrência mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas; II - formar acordo, convênio, ajuste 
ou aliança entre ofertantes, visando: a) à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas; 
b) ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de empresas; c) ao controle, em detrimento da 
concorrência, de rede de distribuição ou de fornecedores. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa). 
 VI - provocar a alta ou baixa de preços de mercadorias, títulos públicos, valores ou salários por meio de 
notícias falsas, operações fictícias ou qualquer outro artifício; 
 Espalhar notícia falsa, efetuar operações fictícias ou valer-se de qualquer outro meio enganoso com o escopo de 
provocar a alta ou baixa de preços de mercadorias, títulos públicos ou salários atinge em cheio a economia popular. Para 
a consumação desse delito não é necessária a efetiva modificação dos preços, bastando o emprego de artifícios para 
atingir essa finalidade. 
 VII - dar indicações ou fazer afirmações falsas em prospectos ou anúncios, para fim de substituição, 
compra ou venda de títulos, ações ou quotas; (revogado) 
 Esse delito foi revogado pelo artigo 67 da Lei 8.078/90 (Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou 
deveria saber ser enganosa ou abusiva. Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa). 
 VIII - exercer funções de direção, administração ou gerência de mais de uma empresa ou sociedade do 
mesmo ramo de indústria ou comércio com o fim de impedir ou dificultar a concorrência; 
 Repare que nesse delito o agente, ao assumir a direção de 2 ou mais empresas, visa obstar a livre concorrência, 
com prejuízo imediato à coletividade. 
 IX - gerir fraudulenta ou temerariamente bancos ou estabelecimentos bancários, ou de capitalização; 
sociedades de seguros, pecúlios ou pensões vitalícias; sociedades para empréstimos ou financiamento de 
construções e de vendas e imóveis a prestações, com ou sem sorteio ou preferência por meio de pontos ou quotas; 
caixas econômicas; caixas Raiffeisen; caixas mútuas, de beneficência, socorros ou empréstimos; caixas de 
pecúlios, pensão e aposentadoria; caixas construtoras; cooperativas; sociedades de economia coletiva, levando-
as à falência ou à insolvência, ou não cumprindo qualquer das cláusulas contratuais com prejuízo dos 
interessados; 
 Esse dispositivo legal foi parcialmente revogado pelo art. 4º da Lei 7.492/86 (Art. 4º. Gerir fraudulentamente 
instituição financeira: Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa. Parágrafo único. Se a gestão é 
temerária: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa). Assim, esse crime remanesce apenas para 
empresasnão financeiras. 
 
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 X - fraudar de qualquer modo escriturações, lançamentos, registros, relatórios, pareceres e outras 
informações devidas a sócios de sociedades civis ou comerciais, em que o capital seja fracionado em ações ou 
quotas de valor nominativo igual ou inferior a um mil cruzeiros com o fim de sonegar lucros, dividendos, 
percentagens, rateios ou bonificações, ou de desfalcar ou de desviar fundos de reserva ou reservas técnicas. 
 Esse delito seria uma espécie de falsidade ideológica contra o patrimônio de inúmeras pessoas que compõem 
o quadro societário por quotas ou ações. 
 Art. 4º da Lei 1.521/51: Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando: 
a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por 
lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, 
emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial de crédito; 
 A alínea “a” do art. 4º da Lei 1.521/51 versa sobre a usura pecuniária, ou seja, a obtenção de lucros exorbitantes, 
por meio de juros cobrados por empréstimos ou por contratos que tenham por finalidade negócios pecuniários. 
b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade 
de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida. 
 A alínea “b” do art. 4º da Lei 1.521/51 versa sobre a usura real, ou seja, nota-se uma desproporção acentuada 
entre o preço justo e o lucro a ser auferido pelo agente. É um típico contrato leonino, em que o desiquilíbrio da avença 
é fruto do desespero de uma das partes. 
 
RECURSO DE OFÍCIO 
 Dispõe o art. 7º da Lei 1521/51: 
 
 
 
 Inicialmente, cabe apontar que o art. 7º da Lei 1521/51 diz respeito ao recurso ex officio, também conhecido 
como reexame necessário. Assim, haverá o reexame obrigatório da decisão que ordena, a pedido do MP, o arquivamento 
de inquérito policial que tenha investigado crimes contra economia popular ou saúde pública, bem como no tocante à 
sentença absolutória em processo criminal que tenha abordado essas espécies criminosas. Trata-se, na verdade, da 
imposição obrigatória ao duplo grau de jurisdição para que a decisão atinja o trânsito em julgado. Essa é a redação da 
súmula 423 do STF: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ‘ex officio’, que se considera 
interposto ‘ex lege’. 
 
Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em processo por crime, contra 
a economia popular ou contra a saúde pública, ou quando determinarem o arquivamento dos autos do 
respectivo inquérito policial. 
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3 – QUESTÕES PENAIS DESCRITAS NO ESTATUTO DO ÍNDIO 
 Inicialmente é importante pontuar que o índio, também denominado de indígena ou silvícola, em 
virtude de suas peculiaridades, recebeu um tratamento diferenciado pelo legislador. No plano 
infraconstitucional, indígenas são tratados na Lei 6001/73, diploma legal que visa a preservação dessa cultura 
e sua integração à comunhão nacional. 
 Quem é o índio? 
 De acordo com o art. 3º, I, da Lei nº 6001/73, Índio ou Silvícola é todo indivíduo de origem e 
ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas 
características culturais o distinguem da sociedade nacional. 
 Por sua vez, comunidade indígena ou grupo tribal é um conjunto de famílias ou comunidades índias, 
quer vivendo em estado de completo isolamento em relação aos outros setores da comunhão nacional, quer 
em contatos intermitentes ou permanentes, sem contudo estarem neles integrados. 
 
 Segundo estabelece o art. 4º da Lei nº 6001/73, o índio pode ainda ser dividido em 3 espécies: 
 
Isolados - Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes através 
de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional; 
Em via de integração - Quando, em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, conservam 
menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de existência 
comuns aos demais setores da comunhão nacional, da qual vão necessitando cada vez mais para o próprio 
sustento; 
Integrados - Quando incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos 
civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura. 
 
 É correto afirmar que os índios devem obediência às normas penais e processuais penais. Dessa forma, 
os índios podem ser presos em flagrante delito ou outra espécie de prisão cautelar, julgados pelo Poder 
Judiciário, bem como devem cumprir a reprimenda em caso de condenação. Contudo, a legislação brasileira, 
por levar em consideração os costumes, tradições e as peculiaridades indígenas, resolveu dar um tratamento 
distinto aos índios. 
 
 Vejamos o previsto no art. 56 do Estatuto do Índio: 
 
 
 
 
Art. 56 do Estatuto do Índio: No caso de condenação do índio por infração penal, a pena deverá ser 
atenuada e na sua aplicação o juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola. 
Parágrafo único. As penas de reclusão e de detenção serão cumpridas, se possível, em regime especial 
de semiliberdade, no local de funcionamento do órgão federal de assistência aos índios mais próximos 
da habitação do condenado. 
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 Como se vê, a atenuação da pena ao índio pela prática de infração penal é obrigatória. Por 
oportuno, não custa lembrar que a atenuante é circunstância legal incidente na segunda fase do cálculo trifásico 
da pena e incapaz de reduzir a pena abaixo do mínimo legal, consoante determina a súmula 231 do STJ (A 
incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal). 
 Questão: Qual foi o critério eleito pela lei para a fixação do quantum da atenuante? 
 Foi justamente a maior ou menor compreensão da cultura circundante (grau de integração do silvícola). 
Quanto maior for a integração, menor será a atenuação. 
 De acordo com o professor Edilson Vitorelli, “ há também divergências acerca da obrigatoriedade ou 
não da confecção de laudo antropológico nas causas penais que envolvem índios. O laudo antropológico é 
uma prova pericial, produzida por profissional que tenha particular conhecimento da cultura de um 
determinado povo indígena ou outra comunidade culturalmente diferenciada, com o objetivo de 
contextualizar o fato em estudo na cultura distinta. O antropólogo é, portanto, um tradutor cultural, que 
buscará demonstrar como a situação problemática se apresenta aos olhos da cultura minoritária. Embora 
muito utilizado em matéria penal, o laudo antropológico não está restrito a essa questão, sendo cabível sua 
produção em matéria cível, em qualquer situação em que se verifique que a diferença cultural exerce papel 
relevante. O trabalho antropológico tem como objetivo orientar o membro do Ministério Público e o juiz na 
formação da convicção acerca do papel desempenhado pelas especificidades culturais em determinada 
situação que, no contexto penal, é o cometimento do delito. Os que defendem a obrigatoriedade da confecção 
do laudo antropológico afirmam que, para levar em consideração, de modo adequado, os costumes dos povos 
indígenas, é necessário que o juiz se apoie em instrumento técnico capaz de aferir, por meio de pesquisada 
organização social, as instituições e as peculiaridades da respectiva etnia.3” Contudo, para a 
jurisprudência, o laudo antropológico é dispensável nos litígios penais, podendo o magistrado verificar a 
integração do índio por outros dados (ex: grau de escolaridade, título de eleitor, entendimento do idioma 
nacional, etc). Se o índio for considerado integrado não haverá dúvidas quanto à sua imputabilidade penal. 
Vejamos um julgado do Superior Tribunal de Justiça e outro do Supremo Tribunal Federal: 
 
 
CRIMINAL. HC. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PORTE 
ILEGAL DE ARMA. ÍNDIO.NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. FALTA DE PERÍCIA 
ANTROPOLÓGICA. DISPENSABILIDADE. RÉU INDÍGENA INTEGRADO À SOCIEDADE. 
PLEITO DE CONCESSÃO DO REGIME DE SEMILIBERDADE. ART. 56, PARÁGRAFO ÚNICO 
 
 
3 VITORELLI, Edilson. Estatuto dos Índios. Salvador, Editora Juspodvm, 3ª ed., 2016, p.329. 
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DA LEI N.º 6.001/73. IMPOSSIBILIDADE. CONDENAÇÃO POR CRIME HEDIONDO. ORDEM 
DENEGADA. 
I. Hipótese em que o paciente, índio Guajajara, foi condenado, juntamente com outros três co-réus, pela prática 
de tráfico ilícito de entorpecentes, em associação, e porte ilegal de arma de fogo, pois mantinha plantio de 
maconha na reserva indígena Piçarra Preta, do qual era morador. 
II. Não é indispensável a realização de perícia antropológica, se evidenciado que o paciente, não obstante ser 
índio, está integrado à sociedade e aos costumes da civilização. 
III. Se os elementos dos autos são suficientes para afastar quaisquer dúvidas a respeito da inimputabilidade do 
paciente, tais como a fluência na língua portuguesa, certo grau de escolaridade, habilidade para conduzir 
motocicleta e desenvoltura para a prática criminosa, como a participação em reuniões de traficantes, não há 
que se falar em cerceamento de defesa decorrente da falta de laudo antropológico. 
IV. Precedentes do STJ e do STF. 
V. Para a aplicação do art. 56, parágrafo único, da Lei n.º 6.001/76, o qual se destina à proteção dos silvícolas, 
é necessária a verificação do grau de integração do índio à comunhão nacional. 
VI. Evidenciado, no caso dos autos, que paciente encontra-se integrado à sociedade, não há que se falar na 
concessão do regime especial de semiliberdade previsto no Estatuto do Índio, o qual é inaplicável, inclusive, 
aos condenados pela prática de crime hediondo ou equiparado, como ocorrido in casu. Precedentes. 
VII. Ordem denegada. (HC 30.113/MA, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 
05/10/2004, DJ 16/11/2004, p. 305) 
 
HABEAS CORPUS. CRIMES DE TRÁFICO DE 
ENTORPECENTES, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E 
PORTE ILEGAL DE ARMA PRATICADOS POR ÍNDIO. LAUDO 
ANTROPOLÓGICO. DESNECESSIDADE. ATENUAÇÃO DA 
PENA E REGIME DE SEMILIBERDADE. 
1. Índio condenado pelos crimes de tráfico de entorpecentes, associação para o tráfico e porte ilegal de arma 
de fogo. É dispensável o exame antropológico destinado a aferir o grau de integração do paciente na sociedade 
se o Juiz afirma sua imputabilidade plena com fundamento na avaliação do grau de escolaridade, da fluência 
na língua portuguesa e do nível de liderança exercida na quadrilha, entre outros elementos de convicção. 
Precedente. 
2. Atenuação da pena (artigo 56 do Estatuto do Índio). Pretensão atendida na sentença. Prejudicialidade. 
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3. Regime de semiliberdade previsto no parágrafo único do artigo 56 da Lei n. 6.001/73. Direito conferido 
pela simples condição de se tratar de indígena. Ordem concedida, em parte. (HC 85198, Relator: Min. EROS 
GRAU, Primeira Turma, julgado em 17/11/2005, DJ 09-12-2005) 
OBS: A 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal entende que o laudo 
antropológico é fundamental para todos os casos envolvendo delitos cometidos por indígenas, sob pena de 
nulidade do processo criminal. 
 Como regra geral estabelecida no Código Penal, sabemos que a pena de reclusão pode ser cumprida 
em regime fechado, semiaberto ou aberto, enquanto que a pena de detenção se efetiva em regime semiaberto 
ou aberto. Todavia, a Lei nº 6001/73, por ser lei especial, estatui regras diversas para o cumprimento de pena 
privativa de liberdade por indígena. Vale dizer, as penas de reclusão e de detenção serão cumpridas, se 
possível, em regime especial de semiliberdade (regime muito similar ao aberto do Código Penal), no 
local de funcionamento do órgão de assistência (FUNAI) mais próximo da habilitação do condenado. 
Repare que índio não cumpre pena em regime especial de semiliberdade no estabelecimento prisional, mas 
sim na FUNAI. 
 Questão: Qual é a consequência para o cumprimento da pena se o índio já estiver plenamente integrado 
à civilização do branco? 
 Nessa situação afasta-se a situação do art. 56, parágrafo único, do Estatuto do Índio, como vimos no 
julgado do STJ acima, in verbis: 
 
 
CRIMINAL. HC. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PORTE 
ILEGAL DE ARMA. ÍNDIO.NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. FALTA DE PERÍCIA 
ANTROPOLÓGICA. DISPENSABILIDADE. RÉU INDÍGENA INTEGRADO À SOCIEDADE. 
PLEITO DE CONCESSÃO DO REGIME DE SEMILIBERDADE. ART. 56, PARÁGRAFO ÚNICO 
DA LEI N.º 6.001/73. IMPOSSIBILIDADE. CONDENAÇÃO POR CRIME HEDIONDO. ORDEM 
DENEGADA. 
I. Hipótese em que o paciente, índio Guajajara, foi condenado, juntamente com outros três co-réus, pela prática 
de tráfico ilícito de entorpecentes, em associação, e porte ilegal de arma de fogo, pois mantinha plantio de 
maconha na reserva indígena Piçarra Preta, do qual era morador. 
II. Não é indispensável a realização de perícia antropológica, se evidenciado que o paciente, não obstante ser 
índio, está integrado à sociedade e aos costumes da civilização. 
 
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III. Se os elementos dos autos são suficientes para afastar quaisquer dúvidas a respeito da inimputabilidade do 
paciente, tais como a fluência na língua portuguesa, certo grau de escolaridade, habilidade para conduzir 
motocicleta e desenvoltura para a prática criminosa, como a participação em reuniões de traficantes, não há 
que se falar em cerceamento de defesa decorrente da falta de laudo antropológico. 
IV. Precedentes do STJ e do STF. 
V. Para a aplicação do art. 56, parágrafo único, da Lei n.º 6.001/76, o qual se destina à proteção dos silvícolas, 
é necessária a verificação do grau de integração do índio à comunhão nacional. 
VI. Evidenciado, no caso dos autos, que paciente encontra-se integrado à sociedade, não há que se falar na 
concessão do regime especial de semiliberdade previsto no Estatuto do Índio, o qual é inaplicável, inclusive, 
aos condenados pela prática de crime hediondo ou equiparado, como ocorrido in casu. Precedentes. 
VII. Ordem denegada. (HC 30.113/MA, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 
05/10/2004, DJ 16/11/2004, p. 305) 
 Como pode ser observado, de acordo com o STJ, a mera condição de índio não obriga a concessão do 
regime de semiliberdade, existindo a possibilidade de o juízo da execução levar em conta as circunstâncias do 
fato e as características do acusado para aplicar as regras gerais do Código Penal. OBS: Por sua vez, a 6ª 
Câmara de Coordenação e Revisão do MPF entende que o regime de semiliberdade tem aplicabilidade para 
todos os casos envolvendo indígenas, por entender que tal cumprimento de pena tem como objetivo manter o 
índio em contato com sua cultura tradicional. 
 
 Enfim, indígena integrado não é considerado índio para efeitos penais e merece receber

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