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DESNUTRIÇÃO INFANTIL Conjunto de condições patológicas que resulta da deficiência concomitante de calorias e de proteínas. Desequilíbrio entre suprimento e demanda de energia do organismo. Maior frequência em lactentes e pré- escolares, geralmente associada à infecções repetidas e a outros déficits nutricionais. Por ser associada às precárias condições socioeconômicas, sanitárias e ambientais, a desnutrição é uma doença social, d e t e r m i n a d a p e l o m o d e l o d e desenvolvimento econômico, político, social e cultural de um país. Apesar da redução da prevalência no Brasil, nas duas últimas décadas, continua sendo um sério problema de saúde pública: principalmente em áreas rurais e regiões mais pobres. Atualmente, há predomínio de formas leves e moderadas da doença, que, por se manifestarem apenas por déficit de p e s o e / o u a l t u r a , s ã o m e n o s diagnosticadas e valorizadas. P a r a c a d a d e s n u t r i d o g r a v e , diagnosticado pela presença de variadas manifestações clínicas, há dezenas de “magrinhos" e “baixinhos”, que passam imperceptíveis aos olhos dos profissionais de saúde, e que são igualmente susceptíveis aos agravos da doença. ‣ Diminuição do peso é uma das respostas iniciais à carência proteico- energética. ‣ Desencadeia respostas adaptativas com alterações no metabolismo ‣ Seguem-se a desaceleração do crescimento, as alterações hormonais, e n z i m á t i c a s e d a r e s p o s t a imunológica. SITUAÇÕES DE RISCO • Privação socioeconômica • Desnutrição materna • Desmame precoce • Baixo peso ao nascer • Gemelaridade • Internações hospitalares repetidas • Outros casos de desnutrição na família • Irmão falecido antes dos 5 anos de idade • Episódios repetidos de diarréia nos primeiros meses de vida • Ganho de peso inferior a 500g por mês no primeiro trimestre • Ganho de peso inferior a 250g por mês no segundo trimestre • Baixa escolaridade materna • Fraco vínculo mãe-filho • História de maus-tratos na família. IDENTIFICAÇÃO / CLASSIFICAÇÃO 1. Há desnutrição? 2. Como classificar a desnutrição em relação à gravidade? 3. Como classificar desnutrição em relação à etiopatogenia? INDICADORES • Peso para Idade (P/I) • Altura para Idade (A/I) • Peso para Altura (P/A) Desnutrido atual / agudo: Comprometimento do peso, porém estatura normal Este dado ind ica a presença de deficiência nutricional recente, uma vez que não houve alteração na estatura da criança. Classificação da desnutrição de acordo com o índice peso/idade. Inclinação da curva de peso e sinais clínicos. • Peso para idade entre percentil 10 e 3: a criança é normal ou está em situação de risco para desnutrição. • Peso para idade entre o percentil 3 e 0,1: desnutrição moderada (peso baixo para a idade) • Peso para a idade menor que o percentil 0,1 e/ou sinais de emagrecimento acentuado e/ou edema em ambos os pés: desnutrição grave (peso muito baixo para a idade) • Diminuição da inclinação da curva de peso para a idade: ganho de peso insuficiente - processo de desnutrição em andamento. • C u r v a h o r i z o n t a l i z a d a : p e s o estacionário, sinal de perigo • Curva descendente: perda de peso, sinal de grande perigo. Desnutrido Pregresso: Apresenta comprometimento da estatura, mas possui atualmente o peso adequado para a estatura. Este dado indica que a criança foi desnutrida, mas recuperou sua estatura. Em saúde pública essa classificação reflete a presença de desnutrição intrauterina ou presença de desnutrição crônica. Desnutrido Crônico ou Evolutivo: Apresenta baixo peso e estatura Estes dados indicam que a criança apresenta características da desnutrição pregressa e crônica. ETIOPATOGENIA Desnutrição Primária: diminuição da oferta de alimentos Causada pela ingestão inadequada de nutrientes. • Marasmo • Kwashiokor Marasmo • Restrição crônica e severa de calorias globais • Perda de gordura e massa muscular • Hipotrofia severa • Face simiesca • Deficiência de micronutrientes (Vitamina A e D) ‣ Diarreia ‣ Infecção respiratória ‣ Parasitoses ‣ Tuberculose ‣ Mais ansioso do que apático. Kwashiokor • Acentuada limitação na ingestão de PROTEÍNAS • Retardo no crescimento • Edema depressível • “Face de lua” • Hepatomegalia • Alterações mentais e do humor ✤ Lesões de cabelo: despigmentações ✤ L e s õ e s d e p e l e : d e r m a t o s e s descamativas ✤ Anorexia ✤ Diarréia ✤ Deficiências de micronutrientes Desnutrição Secundária: situações em que a ingestão, absorção ou utilização de n u t r i e n t e s o c o r r e m d e m a n e i r a i n s a t i s f a t ó r i a , a p e s a r d e h a v e r disponibilidade e oferta de alimentos. • Obst ruções mecân icas do tubo digestivo, estados hipercatabólicos, pa ras i toses in tes t ina is , défic i t s enzimáticos ou alterações psíquicas. Desnutrição Mista: decorrente da ação concomitante dos dois processos, uma vez que a desnutrição primária acaba por desencadear uma série de alterações que impedem a ingestão e o aproveitamento do pouco alimento disponível, com o estabelecimento de um círculo vicioso e comprometimento progressivo da saúde do indivíduo. PONTOS IMPORTANTES NA INVESTIGAÇÃO DA DESNUTRIÇÃO INFANTIL • Verificar a presença de situações de risco para desnutrição • Pesar e medir a criança • Investigar a dieta Nos lactentes, é importante verificar: • Aleitamento materno - se mama e como mama • Desmame - época da introdução de outros alimentos, inclusive de água, chás ou sucos que possam estar substituindo o leite • Uso de leite de vaca ou de outro leite - frequência, volume, diluição, acréscimos de farinha e açúcar, origem do leite e tempo de fervura • Uso de alimentos sólidos - composição, frequência, volume e diluição das refeições • Uso de carne e ovo • Uso de alimentos industrializados, substituição de frutas por sucos artificiais • Uso de polivitamínicos e sais de ferro • Quem cuida da criança, quem é o responsável pelo preparo dos alimentos Nos pré escolares, é importante verificar: • Composição, volume e frequência das refeições • Uso de proteína (carne, ovo, leite, soja, feijão) • Uso de frutas, legumes e verduras • Uso de alimentos muito diluídos como sopas e caldos • Substituição das refeições por alimentos sem valor nutricional como chá, café, sucos artificiais ou outros • Quem cuida da criança, quem é o responsável pelo preparo dos alimentos Investigar história, sinais e sintomas procurando excluir outras doenças: • Episódios repetidos de pneumonia • Tosse crônica • Asma de difícil controle • História familiar de tuberculose • Palidez • Vômitos frequentes • Diarreia crônica • Febre persistente • História de infecção urinária • Internações hospitalares • Mãe HIV positivo Pedir exames complementares, se a criança apresenta sinais ou sintomas de outras doenças associadas, tais como anemia, parasitoses intestinais, infecção urinária e outras infecções: • Hemograma completo • Exame de urina • Parasitológico de fezes • Glicemia Podem ser úteis para o diagnóstico de doenças concomitantes. Outros exames deverão ser solicitados de acordo as indicações individuais. DIAGNÓSTICO Anamnese: história e exame físico Determinação de gravidade: índice de massa corporal (IMC), medidas de albumina sérica, contagem total de linfócitos, linfócitos CD4+, transferrina sérica As classificações antropométricas mais utilizadas e que se mantem ao longo do tempo são: Gomez Classificação: crianças menores de 2 anos Nessa faixa etária, o peso é o parâmetro que tem maior velocidade de crescimento, variando mais em função da idade do que do comprimento da criança, o que o torna mais sensível aos agravos nutricionais, sendo o primeiro a modificar-se nestas circunstâncias. Waterlow - 1973 Índices de estatura/idade (E/I) e peso/ estatura (P/E) Crianças de2 a 10 anos de idade - crescimento mais lento e constante Agravos nutricionais serão melhor avaliados pela relação E/I, seguida de P/E. OMS Colocar na curva da OMS de crescimento para a idade e jogar na tabela de classificação de desnutrição segundo a OMS. Desnutrição Proteico Energética leve: falência do crescimento (peso - altura) Desnutrição Proteico Energética grave: Kwashiorkor e Marasmo TRATAMENTO Fase I Tratar ou prevenir hipogl icemia e hipotermia (gl icemia < 54mg/dl e temperatura axilar < 35ºC) Tratar ou prevenir desidratação / choque e restaurar o equilíbrio eletrolítico SRO - 1 pacote / 2L água + 50g sacarose. Fase I e II Tratamento inicial: Começar a alimentar a criança com restrição de proteínas, gordura e sódio, além de ricos em carboidratos, potássio e magnésio em pequenos volumes e frequentemente. Proteínas de alto valor biológico: 1 a 2g/ kg/dia Calorias: 80 a 100 cal/kg/dia Alimentação por SNG se necessário Tratar infecção Identificar e tratar outros problemas, incluindo deficiência de vitaminas, anemia severa, ICC, dermatoses. Fase II Aumentar a alimentação para recuperar o peso perdido (crescimento rápido) Calorias: 150-200 cal/kg/dia Proteínas: 3-4 g/kg/dia Estimular o desenvolvimento emocional e sensorial JALEKO INTRODUÇÃO À DESNUTRIÇÃO INFANTIL Desnutrição: engloba os dois extremos - a subnutrição quanto o sobrepeso. SUBNUTRIÇÃO Primeiros 1.000 dias Inicia na vida intraútero e se manifesta pelo baixo peso ao nascer Causas principais: • Prematuridade - países ricos • Restrição do crescimento fetal - países pobres A subnutrição tem diversos efeitos na vida da criança podendo afetar: • Saúde • Desenvolvimento cerebral • Inteligencia • Aprendizado • Produtividade Classificação • Primária: carência de alimentos • Secundárias: proveniente de algumas doenças que aumentam a necessidade energética proteica do organismo. Como cardiopatias congênitas, e pneumopatias. Deficiência de micronutrientes • Vitamina A • Iodo • Ferro • Zinco Vitamina A Deficiencia por baixa de ingesta, levando a xeroftalmia. No quadro subc l ín ico é poss íve l diagnost icar com ret inol em uma concentração < 0,70 µmol/L A hipovitaminose da Vit. A é a principal causa de cegueira evitável na infância. Iodo A deficiência dele está associado a perda fetal e a danos permanentes no SNC na gestação. E no pós natal, está envolvido no comprometimento mental dessas crianças e no crescimento das mesmas. A deficiência de iodo é a principal causa de retardo mental previsível na infância Ferro A deficiência dele pode levar a uma anemia ferropriva, a principal anemia da infância. Essa deficiência ocorre por baixa ingesta ou por absorção prejudicada por doenças e infestações parasitárias As mulheres são grupo de risco para a anemia ferropriva, principalmente por conta do período menstrual e a perda de sangue mensal e também pela gestação que exige uma maior quantidade de ferro Zinco A deficiência do zinco está associada a um aumento da mor ta l idade por infecções, principalmente por diarreias e pneumonias E sua deficiência também está associada a uma redução do crescimento linear. FISIOPATOLOGIA E QUADRO CLÍNICO • Ingestão insuficiente • Leva a mudanças fisio lógicas e metabólicas • Com o objetivo de tentar conservar energia -> Adaptação redutiva • Redução da atividade física e do crescimento • Redução do metabolismo basal • Redução da resposta inflamatória e imune Essas reduções tem consequências diferentes em cada órgão. FÍGADO Essa redução vai causar um quadro de hipoglicemia, além disso ocorrerá uma redução na produção de proteínas (albumina, transferrina e outras) RIM A redução da taxa de filtração renal vai cursar com a redução da capacidade de excretar líquidos e Na. CORAÇÃO Também vai ocorrer uma redução de função, acompanhada de bradicardia e redução do débito cardíaco. TGI Redução da produção de ácido gástrico e enzimas digestivas e, também, uma redução da motilidade do TGI. Levando a uma pior absorção e digestão dos alimentos. Além disso essa redução de motilidade pode causar uma translocação bacteriana no intestino dessas crianças. SISTEMA IMUNE Redução de função, principalmente com a queda da imunidade celular. Crianças muito propícias a terem infecções graves. Com a redução da resposta imune / inflamatória, pode ocorrer infecções graves mesmo na ausência de sintomas. SISTEMA HEMATOLÓGICA O c o r r e u m a r e d u ç ã o d a m a s s a eritrocitária e com isso vai ocorrer uma l i b e r a ç ã o d e F e , q u e d e v e s e r transformado em ferritina, o que leva ao gasto de glicose e aminoácidos, que pode contribuir com o risco de hipoglicemia e distúrbios de aminoácido. O F e l i v r e p o d e c a u s a r u m a hiperproliferação bacteriana METABOLISMO Redução de função, gerando uma diminuição da produção de correr, levando a um risco de hipotermia nessas crianças. ELETRÓLITOS Disfunção da bomba Na/K, levando a um acúmulo de sódio no meio intracelular (hiponatremia plasmática). Além disso, a perda de músculo vai levar a uma redução de potássio (K) e magnésio nessas crianças. MICRONUTRIENTE Deficiência de micronutrientes vai levar a redução da capacidade de eliminar radicais livres. DESNUTRIÇÃO ENERGÉTICO PROTEICA (DEP) Formas clínicas: • Marasmo • Kwashiorkor • Kwashiorkor marasmático (misto) MARASMO Forma de desnutrição não edematosa, a criança não apresenta edema. Ela classicamente é descrita por uma forma de desnutrição que apresenta um déficit global de nutrientes, ou seja, falta energia e proteína. É possível perceber pele frouxa, enrugada por perda de tecido subcutâneo. Evidenciado nas pernas, coxas, braços, costelas. A face pode não se r acomet ida inicialmente, mas com o tempo ocorre a perda das bolas gorduras de Bichat (bochechas), levando a um aspecto de fase senil de idoso. Também, pode apresentar olhos fundos por perda da gordura retroorbital. Essas cr ianças podem apresentar distensão abdominal, por conta da m u s c u l a t u r a a b d o m i n a l e s t a r enf raquecida e associada com a proliferação bacteriana intestinal, acaba produzindo muitos gases e, com isso, ocorre a distensão abdominal. Essas crianças em geral são irritadas, e famintas. Costumam apresentar grande irritação. KWASHIORKOR D e s n u t r i ç ã o e d e m a t o s a , c r i a n ç a apresenta edema. Classicamente descrita com deficiência de proteína. A cr iança apresenta desnutrição proteica e não calórica e por isso cursaria por edema. Porém, já é sabido que não é apenas a baixa de proteína que causa esse edema, existem outros fatores que contribuem para o mesmo, como por exemplo, a exacerbação do estresse oxidativo que ocorrer nessas crianças, que vai levar a um aumento da permeabilidade vascular e assim contribuindo com o edema. Edema geralmente começa pelo membro inferior (pé). Mas em alguns casos pode ocor rer de forma genera l i zada e rapidamente. A pele é bri lhante, marcada com presenças de dermatite e alterações de pigmentação da pele e cabelos. Essa alteração da pigmentação pode ocorrer em faixas, definido como sinal da bandeira. Essas crianças também podem ter distensão abdominal, principalmente pela presença de hepatomegalia, associada a esteatose hepática. O comportamento dessas crianças costumam ser de apatia, não querem comer, não reagem. KWASHIORKOR MARASMÁTICO Q u a n d o a c r i a n ç a a p r e s e n t a características dos dois tipos clínicos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Graus de gravidade, dependem de alguns fatores individuais: • Duração da inadequação • Alimentos consumidos - falta algum a l imen to espec í fico , ou é uma deficiência global. • Necessidade individual • Infecções coexistentes - criança desnutrida tem maior risco de adquirir infecções, uma vez infectada, a criança piora o quadro de desnutrição, formando um ciclo vicioso. Face: • Fácies lunar - caracter íst ica do Kwashiorkor • Fácies senil - característica do marasmo Olhos: • Secos • Fundos • Manchas de Bitot - característica da hipovitaminose A • E d e m a p e r i o r b i t a l - c a s o s d a desnutrição edematosa (Kwashiorkor) Boca: • Queilite / Glossite - evidenciando a h i p o v i t a m i n o s e e f a l t a d e micronutrientes • Gengivas esponjosas - típicas da hipovitaminose C • Dentes - alterações na esmaltação e atraso global na dentição dessas crianças Cabelo: • Esparso • Quebradiço • A l t e r a ç ã o d e p i g m e n t a ç ã o - Kwashiorkor (sinal da bandeira) Pele: • Frouxa / enrugada - Marasmo • Brilhante / edemaciara - Kwashiorkor • Dermatites - Kwashiokor • A l t e r a ç ã o d e p i g m e n t a ç ã o - Kwashiorkor Musculatura: • Perda de massa muscular importante, evidenciada em nádegas e coxas. Esquelético: • D e f o r m i d a d e s , p r i n c i p a l m e n t e associada a falta de cálcio, vitamina D e C Abdome: • Distensão - infecções / gases • Hepatomegalia com esteatose • Ascite em crianças que apresentam quadro com edema Cardiovascular: • Bradicardia • Redução de débito cardíaco • Vasculopatia de pequenos vasos Neurológico: • Atraso global do desenvolvimento • Perda dos reflexos - principalmente joelhos e tornozelos. Hematológico: • Palidez • Petéquias • Hemorragias Comportamento: • Letárgica / Apática - Kwashiorkor • Irritada - Marasmo AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL Avaliado pela antropometria. Utilizar as curvas da OMS. Gráfico de altura para a idade: mostra se há uma pa rada do c resc imento . Evidenciando se a criança sofre ou sofreu uma desnutrição crônica. Esse gráfico também é útil para avaliar a situação nutricional das populações. Outro gráfico que podemos utilizar é o gráfico de peso para a estatura, que mostra • Definhamento • Desnutrição aguda Gráfico de peso para a idade foi utilizado por muito tempo por ser uma ferramenta mais fácil de utilizar. • Índice mais comumente utilizado • Significado clínico limitado, pois não consegue fazer diagnóstico diferencial entre desnutrição aguda e crônica. Circunferência braquial: ferramenta de triagem, principalmente em emergências humanitárias. Não precisa plotar em gráficos, com o valor encontrado já é possível avaliar se a criança tem algum grau de desnutrição ou não. Gráfico de Índice de Massa Corporal - Ferramente de triagem IMC = Peso (kg) / Altura (m2) Nas crianças, o IMC não tem um valor fixo como nos adultos, tem que plotar no gráfico e avaliar o escore Z da criança. Se a criança estiver acima do Z-score + 2 = obesidade Se a criança estiver entre o Z-score +1 e +2 = sobrepeso Se a criança estiver abaixo do Z-scores -2 = magreza De acordo com os dados antropométricos colhidos, podemos utilizar algumas classificações para tentar caracterizar melhor a desnutrição. CLASSIFICAÇÃO DE GOMEZ Peso para a idade Peso / Peso ideal para a idade 90-75% - Grau 1: Leve 75-60% - Grau 2: moderado <60% - Grau 3: grave Exemplo: Menino, 4 meses - 5kg Peso ideal para a idade = 7kg Portanto: 5/7 = 0,71 Logo, Grau 2 - Moderado. CLASSIFICAÇÃO DE WATERLOW • Peso para Estatura • Estatura para Idade P e s o p a r a e s t a t u r a a v a l i a o emagrecimento dessa criança: • 90 - 80% = Emagrecimento leve • < 70% = Emagrecimento grave Também é possível calcular verificando estatura para a idade: • 95-90% = Nanismo leve • 90-85% = Nanismo moderado • < 85% = Nanismo grave CLASSIFICAÇÃO DA OMS Leva em consideração o peso para estatura e a estatura para a idade. Nessa classificação, temos a opção de utilizar a medida de circunferência braquial. Peso para estatura • -2 a -3 DP = Emagrecimento moderado • < -3 DP = Emagrecimento grave Não precisa comparar com o gráfico ideal, simplesmente plotar os dados no gráfico já é suficiente para avaliação Estatura para a idade • < -2 a > -3 DP = Nanismo moderado • < -3 DP = Nanismo grave Da mesma forma, apenas plotar os dados no gráfico e ver em qual classificação a criança se encontra. Circunferência braquial • 115 - 125mm = Emagrecimento moderado • < 115mm - Emagrecimento grave Essa medida só pode ser utilizada na faixa etária de 6 a 59 meses. Tanto na classificação de Waterlow, quando da OMS, deve-se comparar o peso para estatura e estatura para idade para conseguir classificar essa criança: Desnutrição Aguda = Peso baixo / Altura normal Desnutrição crônica = Peso baixo / Altura baixa Desnutrição pregressa = Peso normal / Altura baixa TRATAMENTO O tratamento da desnutrição é dividido em 3 fases: • Estabilização - objetivo de reparar a homeostase da criança e prevenir a morte imediata. • Reabilitação - objetivo de restaurar o tecido, conseguir um crescimento de recuperação • Acompanhamento - fase ambulatorial, após a alta. Medidas iniciais adotadas no D1, assim que a criança chega (Estabilização) • Preven i r e t r a ta r h ipog l i cem ia , hipotermia e desidratação • Começar a corrigir distúrbio eletrolítico. • Começar o tratamento de infecções • Corrigir deficiência de micronutrientes sem o ferro nessa etapa • Iniciar alimentação • Estimulação emocional / física FASE DE ESTABILIZAÇÃO HIPOGLICEMIA Prevenção deve ser adotada para todas as crianças independente de sintomas. 1. Alimentar imediatamente 2. Dieta 3/3h 3. Não atrasar dietas 4. Manter aquecido 5. Tratar infecções Hipoglicemia: Glicemia < 54mg/dl Tratamento Consciente: 1. SG 10% (50ml) OU Uma colher de chá de açúcar via oral 2. Dieta de 2/2h Inconsciente: 1. Fazer 5ml/kg SG 10% IV 2. Dieta 2/2h Criança com desnutrição pode não fazer quadros de hipoglicemia como sudorese, por isso devemos sempre dosar para acompanhar a glicemia. HIPOTERMIA Axilar < 35ºC Retal < 35,5ºC (mais precisa) Prevenção - deve ser adotada para todas as crianças, independente se apresentar ou não hipotermia. 1. Agasalhar 2. Manter quarto quente 3. Trocar roupa molhada 4. Não dar banho 5. Alimentar 6. Tratar infecção Tratamento 1. Método canguru 2. Cobertor aquecido 3. Aquecedor 4. Monitorar de 1/1h até temperatura retal chegar a 36,5ºC DESIDRATAÇÃO Devemos prevenir a desidratação em todas as crianças, através da reposição da perda fecal. Depois de todo episodio diarreico, oferecer terapia de reidratação - ReSoMal (específica para crianças desnutridas) Tratamento • 5 ml/kg 30 em 30 min - primeiras 2h • 5 - 10 ml/kg 2 em 2h - próximas 10h Fazer preferencialmente por via oral, intravenosa apenas em caso de choque e com muito cuidado. Realizar monitoração horária, para sempre verificar sinais de sobrecarga: 1. Aumento da FC (25bpm) 2. Aumento da FR (5 irpm) 3. Aumento do edema 4. Ingurgitamento jugular Manter hidratação, até conseguir observar os sinais de hidratação 1. Criança menos sedenta 2. Urina clara abundante 3. Sinal da prega desaparece mais rapidamente 4. Olhos menos fundos com presença de lágrimas 5. Boca molhada 6. Melhora da FC e FR ELETRÓLITOS Começar a reposição logo no D1. Indicada reposição de potássio e magnésio. K: 3-4 mmol/kg/dia - VO Mg: 0,4 - 0,6 mmol/kg/dia - VO Sódio não é indicado para ser reposto. INFECÇÕES Tr a t a r T O D A S a s c r i a n ç a s c o m desnutrição, mesmo que não tenha nenhum sinal de infecção. Sem complicação: • Amoxicilina VO - 5dias Com complicação: • Gentamicina - 7 dias - via parenteral • Ampicilina - 2 dias - via parenteral • Depois dos 2 dias, introduz amoxicilina por 5 dias VO e retira a ampicilina. MICRONUTRIENTES Vitamina A: < 6 meses: 50.000 UI 6 - 12 meses: 100.000 UI > 1 ano: 200.000 UI Se a criança apresentar algum sintoma sugestivo de hipovitaminose A, com alteração ocular, fazer tratamento completo da hipovitaminose A. Além dessa dose no D1, receber também no D2 e depois, no D14,fechando o tratamento. Ácido Fólico: D1: 5mg/dia e depois 1mg/dia Zinco: 2mg /kg /dia Cobre: 0,3 mg/kg/dia Ferro: não entra na fase inicial. Só suplementa ele na fase de recuperação. ALIMENTAÇÃO INICIAL Objetivo Fornecer energia suficiente para a criança manter processos fisiológicos. Para conseguir manter a criança viva. A via indicada, preferencialmente, será sempre a oral. A duração costuma depender da criança, de forma geral, 3 dias. Volume: 120-140 ml/kg/dia Taxa calórica: 100 kcal/kg/dia Proteína: 1-1,5 g/kg/dia Durante a alimentação inicial, sempre monitorar a ingesta da criança e para isso, devemos realizar gráficos de ingestão. Sempre anotar o quanto a criança aceitou da dieta, se aceitou inteira ou se deixou alguma sobra e quanto sobrou. Se for comum a deixa de sobras, tentar estimular a criança a comer o que deixou ou oferecer depois. Se mesmo assim, a aceitação da criança for < 80% por VO, é indicação de passagem de sonda. Monitorar ganho ponderal, deve ser pesada todos os dias e plotar no gráfico. Quando ocorre a melhora do edema e o retorno do apetite, passamos para a fase de reabilitação. FASE DE REABILITAÇÃO Objetivo de recuperar ganho ponderal da criança. ALIMENTAÇÃO INTENSIVA Transição da fórmula F75 para F100, realizada da seguinte forma: Inicialmente pega o mesmo volume de F75 e passa dar na fórmula de F100. Nas próximas dietas, vai aumentando de 10 em 10ml até a criança começar a deixar sobras, o que geralmente ocorre em torno de 200ml/kg/dia. Taxa calórica: 150 - 220 kcal/kg/dia Proteína: 4-6g/kg/dia Objetivo: ganho ponderal de 10g/kg/dia ESTIMULAÇÃO EMOCIONAL / FÍSICA Crianças com desnutrição tem um atraso no desenvolvimento e precisam ser estimuladas PREPARAÇÃO PARA ALTA Quando ver que o paciente está recuperando dentro do esperado, começar a preparar a família para alta. CONSEQUÊNCIAS DA DESNUTRIÇÃO 1. Morte prematura 2. Infecções 3. Desnutrição materna 4. Doença crônica em adultos - HAS, DM, AVE 5. Alteração no desenvolvimento 6. Consequência econômicas SÍNDROME DE REALIMENTAÇÃO Pode ocorrer durante o tratamento da desnutrição. Ocorre quando a criança passa por uma alimentação excessiva, esse paciente não aguenta receber uma quantidade excessiva de alimentos e nutrientes repentina, pois o corpo se adaptou com o pouco. Se seguir os passos conforme as or ientações, raramente a cr iança desenvolve a síndrome. Caracterizada pela alta ingestão de carboidratos que consequentemente aumenta a insulina sérica, que acaba causando disfunções eletrolíticas na c r i a n ç a s c o m o a h i p o c a l e m i a , hipomagnesemia e hipofosfatemia Manifestações clínicas • Cardíacas - hipotensão, arritmias • Respiratórias - dispneia, disfunção do diafragma • Gastrointestinais • Musculares - rabdomiolise, necrose muscular • Hematológicas • Neurológicas
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